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Material de apoio Aulas Quinta - Noite (Liberdade) Matéria – Teoria dos Contratos Introdução 1) Noções gerais Vamos falar um pouco sobre a Teoria Geral dos Contratos? É uma das principais fontes para estabelecimento de uma obrigação. São fontes: a lei (Ex: dever de prestar alimentos, pagar IPVA, etc), os contratos, os atos ilícitos (Ex: indenização por sinistro), as declarações unilaterais de vontade (promessa de recompensa, etc. - art. 854 e ss do CC/02), títulos de crédito, etc. Contrato é um negócio jurídico por excelência. Negócio Jurídico: é um ato – ou uma pluralidade de atos entre si relacionados entre uma ou várias pessoas – cujo fim é produzir um efeito jurídico no âmbito do Direito Privado, isto é, uma modificação nas relações jurídicas entre os particulares. A própria vida em sociedade pressupõe a ideia de contrato, compra, venda, locação, transporte, comodato, doação, etc. O CC/2002 não estabelece um conceito de contrato, mas podemos definir inicialmente que “é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos 2 declarações de vontade [bilateral ou plurilateral], cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres.” Em suma, “são todos os tipos de convenção ou estipulação que possa ser criado pelo acordo de vontade.” (Flávio Tartuce). Curiosidade: O CC/2002 traz 23 contratos típicos, procurando regular ao menos os contratos mais conhecidos e sacramentados pelos usos e costumes. Tantas e tão variadas formas surgem que muitas delas são disciplinadas em leis especiais (Ex: contrato de franchising – Lei nº 8.955/1994, locação de imóveis – Lei nº 8.245/1991, contrato de honorários advocatícios – Lei nº 8.906/1994) e outras permanecem atípicas e inominadas (Ex: contrato de outsourcing), como é permitido (art. 425, CC). Breve explicação de outsourcing: uma empresa procura uma fonte no exterior que possa trabalhar uma área do negócio de forma mais eficiente, obtendo desta forma mais tempo para se concentrar nos aspectos fulcrais da gestão empresarial. O outsourcing está intimamente relacionado com a subcontratação de serviços e na grande maioria dos casos, é capaz de tornar uma empresa mais rentável, porque a contratação de empresas externas especializadas pode representar uma grande vantagem para a empresa contratadora. O outsourcing confere uma maior visibilidade dos custos e coloca mais recursos humanos e tecnologia ao dispor da empresa. 2) Desenvolvimento histórico Hoje, as expressões convenção, contrato e pacto são empregadas como sinônimas, embora os contratos acessórios sejam normalmente denominados como “pacto” (Ex: pacto antenupcial, etc.). A ideia de um contrato com predominância da autonomia da vontade, em que as partes discutem livremente as suas condições em situação de igualdade, deve-se aos conceitos traçados para o contrato nos Códigos francês e alemão. Entretanto, essa espécie de contrato, essencialmente privado e paritário (discutido), representa atualmente uma pequena parcela do mundo negocial, pois a grande maioria é celebrado com pessoas jurídicas de grande capital (S.A’s, em sua maioria) e com o Estado. Art. 423, CC e art. 54 do CDC A década de 1990 é significativa no âmbito do Direito, pois a abertura de mercado proporcionou uma mudança de comportamento da sociedade, inclusive no que diz respeito ao acesso de produtos de consumo (cartão de crédito, telefonia, veículo, mercado da moda, avanço tecnológico, etc.). Com os direitos apresentados na CF/88 e a valorização de direitos coletivos e difusos, a legislação reclamava uma revisão pautada em um novo contexto social. Obs.: o Projeto de Lei do CC/2002 é de 1976. A economia de massa exige contratos impessoais e padronizados (contratos-tipo, de massa ou standard), que não mais se coadunam com o princípio da autonomia da vontade. O Estado intervém, constantemente, na relação contratual privada, para assegurar a supremacia da ordem pública (ANS em relação aos planos de saúde; ANATEL em relação as operadoras dos planos de saúde, ANEEL em relação as Companhias de Energia, etc.), relegando o individualismo a um plano secundário. O contrato está presente não só no direito das obrigações, mas também no direito empresarial (contrato social, por exemplo), direito das coisas (hipoteca, usufruto, por exemplo), direito de família (casamento, por exemplo), no direito público, etc. 3) Elementos essenciais ao contrato: a) a capacidade das partes (art. 1º, art. 3º, art. 4º, CC); Menores: compra (representado ou assistido) e venda (autorização judicial – art. 1.691, CC) Deficiência (relativamente incapaz): autorização judicial para alguns atos (art. 1.774 e art. 1.750, CC) b) consentimento (vontade); c) objeto lícito (Ex: cocaína), possível (Ex: venda do Cristo Redentor, herança de pessoa viva), determinado ou determinável (gênero e quantidade, por exemplo); d) forma prescrita (solenidade, por exemplo) ou não defesa (proibida) em lei. Exemplo de solenidade: para imóvel acima de 30 salários mínimos há obrigatoriedade de escritura pública. Observância das normas públicas (o CC/2002 dispõe a possibilidade do contrato atípico, mas devo observar o ordenamento jurídico como um todo); 4) Igualdade, solidariedade e interesse social A elaboração do conteúdo das avenças por apenas uma das partes não favorece o aderente/contratante, pelo contrário, tão somente viabiliza a expansão das atividades do empresário, ao facilitar a multiplicação das relações contratuais do fabricante com a massa de trabalhadores e adquirentes dos bens com a padronização do conteúdo do negócio jurídico. Prof. Senise: “Um sistema jurídico que possui como principal preocupação a circulação dos bens e a proteção do patrimônio individual, colocando a tutela da dignidade pessoal em plano secundário, destina-se à preservação das formas de distribuição de renda delineadas por uma política de manutenção das estratificações sociais existentes e de favorecimento das classes econômicas mais privilegiadas, dificultando a ascensão social e contribuindo com a desigualdade contratual.” O equilíbrio na relação é primordial! Ex: estratificação de classes na Índia (castas) Por influência do Código Francês de 1804 e decorrência da Revolução Francesa em 1789 com os seus ideários de igualdade, liberdade e fraternidade, a CF/1988 estabeleceu como diretriz o art. 3º, inciso I. Com a finalidade de obter maior igualdade nas relações contratuais o legislador (CC/2002) estabeleceu cláusula gerais de contratação, as quais devem incidir de forma cogente (obrigatória) sobre as relações jurídicas, não podendo ser afastadas nem mesmo por deliberação conjunta de ambos os contratantes. O Prof. Carlos Roberto Gonçalves define como “normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir.”. Ou seja, são cláusulas genéricas e abstratas, possibilitando que valores (jurídicos, sociais, morais, econômicos, etc.) sejam preenchidos pelo juiz ao analisar a discussão. Por entender ser insuficiente, o legislador ainda criou mecanismos de defesa da coletividade diante de abusos praticados, como a Ação Civil Pública (art. 1º, Lei 7.347/1985), a legitimidade do MP para discutir a abusividade de cláusula contratual em contratos de consumo (art. 51, §4º, CDC), a legitimidade de Sindicatos na defesa dos interesses de seus sindicalizados. 5) Função social do contrato O CC/2002 procurou afastar-se da concepção individualista que norteou o diploma anterior (CC/1916 – Código Beviláqua), valorizando assim a socialização dodireito. Esse sentido SOCIAL do contrato está amparado em valores Constitucionais, sobretudo na solidariedade social (art. 3º, inciso I, da CF/1988), refletindo assim a prevalência dos valores coletivos sobre os individuais. Art. 421 do CC/2002 – Leitura por um aluno A concepção social do contrato é um dos pilares da teoria contratual, guardando total intimidade com o princípio constitucional da função social da propriedade. O art. 421 do CC subordina a liberdade contratual à sua função social, ou seja, limitada será a autonomia da vontade quando em confronto com o interesse social. Mas o que vem a ser esse interesse social? Podemos dizer que é o interesse da coletividade sobre o contrato! Função social do contrato é: conjugar o bem comum dos contratantes e da sociedade. Tanto o bom, como o mau contrato repercutem socialmente, produzindo efeitos sobre a economia. Pode ser que um contrato satisfaça as partes contratantes, mas ofenda o interesse metaindividual, difusos ou coletivos. O Prof. Carlos Roberto Gonçalves dispõe que: “a função social do contrato somente estará cumprida quando a sua finalidade — distribuição de riquezas — for atingida de forma justa, ou seja, quando o contrato representar uma fonte de equilíbrio social”. Ex: contrato coletivo de plano de Saúde – função social do contrato Acórdão nº 1000542-12.2016.8.26.0108 – 2ª Câmara de Dir. Privado . Planos de saúde (Lei nº 9.656/98) Conceito: “Plano de saúde é contrato de execução cativa por meio do qual a operadora ou administradora de plano privado de assistência à saúde se obriga a intermediar ou diretamente prestar uma série de serviços oferecidos por terceiros (médicos, hospitais, laboratórios) ou por ela própria, em favor do aderente titular do plano de saúde e de seus beneficiários, mediante o pagamento da mensalidade de manutenção.” (Roberto Senise Lisboa) Mais do que qualquer outro, deve cumprir sua função social, concretizando princípios constitucionais de grande envergadura, tais como a dignidade da pessoa humana (inciso III, art.1º); da solidariedade (inciso I do art.3º) e da justiça social (art. 170 caput, CF). Súmula 302, STF: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado. Súmula 92, TJSP: É abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita o tempo de internação do segurado ou usuário. Proibida suspensão unilateral (art. 13, parágrafo único, II) A função social do contrato é, a bem da verdade, uma cláusula geral/aberta, cabendo a doutrina e a jurisprudência identificá-las e definir o seu sentido de alcance, aplicando- as ao caso concreto, de acordo com as circunstâncias A boa-fé objetiva, que veremos na próxima aula, também é um exemplo de cláusula geral/aberta. O enriquecimento sem causa (art. 884) também é exemplo de cláusula geral. 1) Vulnerabilidade e hipossuficiência A preocupação com a tutela do economicamente mais fraco se justifica já na época da industrialização pelo fato de que a coletividade em geral era (e ainda é) integrada por pessoas pobres e que, em regra, submetem-se à padronização contratual determinada pelos economicamente mais abastados. Assim, como não há uma verdadeira igualdade entre as partes contratantes no pós- modernismo (sociedade contemporânea), o sistema buscou criar mecanismos para privilegiar o economicamente mais débil/frágil. Com essa ideia, o legislador busca combater a desproporção e reequilibrar as relações contratuais. Diferenciar a vulnerabilidade da hipossuficiência (não se confundem!). Vulnerabilidade (art. 4º, I, CDC): é uma característica que apresenta variações de acordo com o grau cultural, econômico, etc., mas intrínseca a condição de consumidor. O Prof. Sérgio Cavalieri defende que a vulnerabilidade pode ser técnica (como o consumidor pode aferir a qualidade da velocidade da internet que lhe é entregue ou a peça do veículo, especificidade técnica de um produto), jurídica (o consumidor não detém conhecimento jurídico para interpretar cláusulas contratuais) ou econômica (capacidade econômica). Todo consumidor é vulnerável, mas não necessariamente hipossuficiente. Case: Acórdão do Rio de Janeiro (Apelação 0001938-89.2009.8.19.0008) Contrato de seguro de vida (cláusula limitadora para câncer in situ – lesões pré- neoplásica) Vulnerabilidade técnica quanto aos termos médicos e limitação da proteção, falha no dever de informar. Hipossuficiência (art. 105, CPC; art. 6º, VIII, CDC): pode ser econômica (dificuldades financeiras) ou processual (quando o consumidor encontra dificuldade de fazer prova em juízo – AR de multa de trânsito/gravação telefônica). Exemplos: a) O CC/2002 dispõe no art. 423 a proteção do aderente (vulnerabilidade); b) O CPC/2015 dispõe no art. 98 a gratuidade da justiça (hipossuficiência); c) A lei de locações (Lei 8.245/91): art. 4º (possibilidade de devolução apenas ao locatário mediante pagamento de multa), art. 71 (ação renovatória); d) aos trabalhadores – o art. 7º, CF aponta diversos direitos sociais; e) O CDC aponta diversas condições de proteção ao vulnerável e hipossuficiente: i) inversão do ônus da prova – art. 6º, VIII, CDC (hipossuficiência); ii) interpretação favorável de cláusulas contratuais – art. 47, CDC (vulnerabilidade); iii) rol exemplificativa de práticas abusivas (art. 39, CDC) e cláusulas abusivas (art. 51, CDC); iv) limitação de multa de mora (cláusula penal) em contratos de outorga de crédito (art. 52, §º, CDC); v) destaque para cláusulas que limitam direito do consumidor (art. 54, §4º, CDC). Hoje já se defende até a hipervulnerabilidade, como idosos (plano de saúde), crianças (publicidade, transporte aéreo, etc.) e deficientes, por exemplo – Acórdão. Atenção: Reforma trabalhista (afronta a vulnerabilidade) – fortalecimento das negociações coletivas (maior liberdade ao empregador em detrimento do empregado) - Artigo Artigo 8º, parágrafo 3º da Lei 13.467, de 13 de julho de 2017, que promoveu a reforma trabalhista: “No exame de convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a Justiça do Trabalho analisará exclusivamente a conformidade dos elementos essenciais do negócio jurídico, respeitado o disposto no art. 104 da Lei 10.406, de 10/01/2002 (CC), e balizará sua atuação pelo princípio da intervenção mínima na autonomia da vontade coletiva.” Ex: discussão de PPR proporcional em acordo coletivo. 2) Princípios A tendência pós-moderna é de elaboração de sistemas jurídicos abertos (cláusulas gerais de contratação) e dotados de maior carga principiológica, conferindo-se ao julgador um papel mais relevante que o de um simples aplicador de normas jurídicas. Assim como o CC/2002, o CPC/2015 também valoriza princípios, como dignidade da pessoa humana, boa-fé (art. 5º), duração razoável do processo (art. 4º), etc. Os princípios são abstraídos das normas jurídicas, costumes, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, sociais e econômicos. Ex: princípio da afetividade no dir. de família, o qual não é expresso no CC/2002 – Condenação no STJ por abandono afetivo, em acórdão de relatoria da Min. Nancy Andrighi. 2.1) autonomia privada ou autonomia da vontade (liberdade de negociar) Tradicionalmente, desde o direito romano, as pessoas são livres para contratar. Essa liberdade abrange o direito de contratar se quiserem, com quem quiserem e sobre o que quiserem, ou seja, o direito de contratar e de não contratar, de escolher a pessoa com quem fazê-lo e de estabelecer o conteúdo do contrato. É inquestionável a importância da vontade das partes quando se analisa o instituto dos contratos, especialmente quandoconsideramos ser este um negócio jurídico por excelência. Inicialmente, observa-se no mundo negocial uma plena liberdade para a celebração de pactos e avenças, que constitui a liberdade que a pessoa tem para regular os próprios interesses. É justamente esse princípio que fundamenta a celebração dos contratos atípicos, o que a bem da verdade representa uma autorregulamentação de interesses. No entanto, vimos que essa autonomia não é absoluta, encontrando limitações em normas de ordem pública e nos princípios sociais (art. 2035, parágrafo único, CC). Lembrar: função do contrato – plano de saúde coletivo/por adesão Nesse sentido o Enunciado 23 do Conselho da Justiça Federal na I Jornada de Direito Civil: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.” O Prof. Carlos Roberto Gonçalves aponta alguns exemplos que evidenciam essa limitação: fornecimento de alguns serviços públicos (água e luz), o licenciamento de um veículo que está condicionado ao seguro obrigatório (DPVAT), o fornecedor que não pode recusar atendimento às demandas de seus consumidores (art. 39, II, CDC – Ex: Decolar, Locadora de Veículos, etc.), venda de imóvel de ascendente a descendente (art. 496, CC). No mais, diante da predominância dos contratos de adesão ou contratos standard (padronizados), a vontade tem agora um papel secundário quanto ao conteúdo, resumindo-se muitas vezes a um SIM ou NÃO como resposta a uma proposta de contratação. Assim, em situações de dúvida entre a proteção da liberdade da pessoa humana e os interesses patrimoniais, deve prevalecer a primeira. 2.2) a função social do contrato (art. 421); Em meio a massificação dos contratos, torna-se imperioso analisar o cumprimento dos fins econômicos e sociais do contrato, especialmente aqueles de adesão. Não se deve mais interpretar os contratos somente de acordo com aquilo que foi assinado pelas partes, mas sim levando-se em conta a realidade social que os circunda. 2.3) consensualismo; Segundo o princípio, basta, para o aperfeiçoamento do contrato, o acordo de vontades, contrapondo-se ao formalismo e ao simbolismo que vigoravam em tempos primitivos. Decorre ele da moderna concepção de que o contrato resulta do consenso, do acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. Ex: A compra e venda, quando pura, torna-se perfeita e obrigatória, desde que as partes acordem no objeto e no preço (art. 482, CC). O contrato já estará perfeito e acabado desde o momento em que o vendedor aceitar o preço oferecido pela coisa, independentemente da entrega desta. O pagamento e a entrega do objeto constituem outra fase, a do cumprimento das obrigações assumidas pelos contratantes (art. 481, CC). Brocardo: palavra dada deve ser cumprida. No direito brasileiro, em regra, a forma de contratar é livre, podendo as partes celebrar o contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei, para dar maior segurança e seriedade ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular (art. 107, CC). O consensualismo, portanto, é a regra, e o formalismo, a exceção. O contrato de depósito, por exemplo, só se aperfeiçoa depois do consenso e da entrega do bem ao depositário (art. 627, CC). 2.4) Força obrigatória dos contratos (pacta sunt servanda); Decorrente da ideia clássica da autonomia da vontade, a força obrigatória dos contratos preconiza que tem força de lei o estipulado pelas partes na avença, compelindo assim os contratantes ao cumprimento do conteúdo completo do negócio jurídico. O princípio representa a força vinculante das convenções. O CC/2002 não prevê expressamente o princípio, mas denota essa obrigatoriedade nos art. 389, 390 e 391. O Prof. Carlos Roberto Gonçalves aponta 2 fundamentos de existência do princípio: a) Segurança jurídica dos negócios – não haveria segurança alguma se os contratantes pudessem não cumprir a palavra empenhada, gerando a balbúrdia e o caos. O investidor sempre procura território que goze de segurança jurídica. b) Imutabilidade do contrato – o acordo de vontade (contrato) não pode ser alterado nem pelo juiz. Qualquer modificação ou revogação terá de ser, também, bilateral (ação judicial). No direito romano, o contrato não podia ser revisto ou extinto, sob pena de acarretar insegurança jurídica ao sistema. Dentro de uma nova realidade (mundo capitalista e pós-moderno), o princípio não consta mais como regra geral. Especialmente após a 1ª Guerra Mundial, constatou-se que o poder econômico acarretava a exploração dos economicamente mais fracos pelos poderosos, ocasionando verdadeiro desequilíbrio. Ele foi relativizado/mitigado pelos princípios da função social e boa-fé objetiva. O Prof. Flávio Tartuce e o Prof. Nelson Nery Jr. mencionam que o princípio atualmente está mais próximo da denominação “Princípio da Conservação”. Nesse sentido, temos que o Estado-Juiz deve sempre privilegiar a manutenção e continuidade do contrato, sendo a sua revisão ou extinção exceção à regra. Ex: Acórdão 1.0024.03.163299-5/001 – Belo Horizonte, 16ª Câmara Cível, j. 07.03.2007. (Caso do contrato de locação – ajuste tácito de aluguel). 2.5) boa-fé objetiva/probidade (art. 422 e art. 113) Diz respeito a boa-fé das partes nas relações negociais e contratuais. O que é boa-fé objetiva? Ela é presumida, ou seja, caso você não demonstre a má-fé, a ideia originária é de que as partes agiram com probidade, honestidade e lealdade de costume a negociação. É um padrão de conduta aceito no tempo e no espaço. O contratante não pode já iniciar um contrato com o intuito de não cumpri-lo. A regra da boa-fé é uma cláusula geral para a aplicação do direito obrigacional, a qual está pautada em princípios da socialidade, eticidade e operabilidade, dando maior liberdade ao julgador. O Enunciado nº 170 do CJF corrobora o art. 422 do CC: “A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.” O CDC já apontava no art. 4º, III a boa-fé como elemento na contratação, seguindo uma tendência dos Códigos português, alemão e italiano. É OBJETIVA pois é determinada mediante padrões sociais aceitáveis. Casos práticos: Fase pré-contratual – REsp 1.051.065/AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas, j. 21.02.2013 (Caso parceria BMW) A parte que abandona inesperadamente as negociações já em adiantado estágio, depois de criar na outra parte a expectativa da celebração de um contrato para o qual se preparou e efetuou despesas, ou em função do qual perdeu outras oportunidades, deve indenizar. Ex: BRL x Rio Mais (utilização antes da assinatura do contrato). Fase contratual – Súmula 308 do STJ: “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.” A constituição da hipoteca é muito comum em contratos de construção e incorporação imobiliária, visando a um futuro condomínio edilício. Como muitas vezes o construtor não tem condições econômicas para levar adiante a obra, celebra um contrato de empréstimo de dinheiro com um terceiro (agente financeiro ou agente financiador), oferecendo o próprio imóvel como garantia, o que inclui toda as suas unidades do futuro condomínio. A súmula visa proteger o consumidor, restringindo os efeitos da hipoteca àspartes contratantes (construtora e banco), uma vez que o consumidor pagou pontualmente as suas parcelas à incorporadora. Ex: Embracon (análise de crédito preliminar e não outorga da carta de crédito) Fase pós-contratual – Súmula 548 do STJ: “Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito.” REsp 953.389/SP, Rel. Min. Fátima Nancy Andrighi, j. 23.02.2010 (Caso da locadora de veículos – manutenção do valor da diária) a) Proibição de venire contra factum proprium Conceito correlato a boa-fé, o qual tem função integrativa. Significa exercer uma posição jurídica contraditória com o comportamento assumido anteriormente. A conduta deve ser coerente com seus próprios atos anteriores. Ex: escritor que celebra contrato com rede de televisão, quando preexistente e em vigor outro contrato por ele firmado com a concorrência, no qual há cláusula de exclusividade na realização de trabalhos literários. REsp 332.048/SP, Rel. Min. Homildo Amaral de Mello Castro, j. 22.09.2009 b) Suppressio, surrectio e tu quoque Suppressio: um direito não exercido durante determinado lapso de tempo não poderá mais sê-lo, por contrariar a boa-fé. Ex 1: Caberia a locadora notificar o locatário assim que devolvido uma parte da frota, cientificando-o de que o preço da diária não seguiria o contrato TF, mas sim o preço de balcão. Ex 2: O comprador que deixa de retirar as mercadorias não pode obrigar o vendedor a guardá-las por tempo indeterminado. Surrectio: consiste na continuada prática de certos atos sem resistência. Ex: a duradoura distribuição de lucros da sociedade comercial em desacordo com os estatutos/contrato social pode gerar o direito de recebê-los do mesmo modo, para o futuro Tu quoque: o instituto veda que alguém faça contra o outro o que não faria contra si mesmo. Ex: o condômino que viola a regra do condomínio e deposita móveis em área de uso comum, ou a destina para uso próprio, não pode exigir do outro comportamento obediente ao preceito (norma). 2.6) princípio da confiança Segundo o Prof. Senise o princípio compreende a legítima expectativa de conduta dos contratantes. Possui linha tênue em relação a boa-fé. Essa expectativa pode ser subdividida em: Expectativa de esclarecimento, assumindo o infrator os deveres de conselhos, advertência e informação; Ex: violação do dever de advertência a omissão do hotel em sinalizar adequadamente sobre a profundidade da piscina de acesso livre aos hóspedes. REsp 287.849/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 17.04.2001 Expectativa de conduta; Ex: escritor que celebra contrato com rede de televisão, quando preexistente e em vigor outro contrato por ele firmado com a concorrência, no qual há cláusula de exclusividade na realização de trabalhos literários. REsp 332.048/SP, Rel. Min. Homildo Amaral de Mello Castro, j. 22.09.2009 2.7) princípio da relatividade dos efeitos contratuais O contrato, como típico instituto de direito pessoal, em regra gera efeitos inter partes, ou seja, entre as partes contratantes, àqueles que manifestaram a sua vontade. No entanto, o princípio busca afirmar que o contrato também pode gerar efeitos perante terceiros. Um exemplo típico é o que ocorre no contrato de seguro de vida, em que consta terceiro como beneficiário. Esse contrato é celebrado entre segurado e seguradora, mas os efeitos atingem um terceiro que consta do instrumento, mas que não o assina. O próprio princípio da “função social” dos contratos reforça esse “efeito externo”. Enunciado 21 do CJF: “A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.” - Hipóteses que excepcionam o cumprimento do contrato 1) Noções gerais A revisão judicial dos contratos é tema de grande importância na atual realidade dos negócios jurídicos, pois muitas vezes as discussões são levadas ao Judiciário para uma solução. O direito trabalha com a premissa da conservação do contrato, sendo os acordos de vontade devidamente cumpridos. No entanto, fatores externos e supervenientes (posteriores) podem ocasionar o desequilíbrio contratual entre as partes. A extinção do contrato deve ser a última alternativa, buscando as partes o seu cumprimento ou revisão para adequação à realidade. Segurança jurídica das relações contratuais. A principal forma de extinção do contrato é o pagamento (cumprimento da obrigação), pagar quantia certa, obrigação de fazer e não fazer ou entregar coisa certa/incerta. A revisão, como exceção, busca o reequilíbrio contratual. Eventual revisão deverá pautar-se no CC ou CDC. 2) Exceção do contrato não cumprido (art. 476, CC) Leitura do art. 476, CC O artigo está pautado na equidade, privilegiando uma execução simultânea de obrigações. Segundo a leitura do artigo, aquele que não satisfez a própria obrigação (pagar, por exemplo) não pode exigir o implemento da do outro (entregar a coisa). A exceção em apreço constitui uma defesa indireta, a qual não é voltada para resolver (desconstituir) o vínculo obrigacional e isentar-se do dever de cumprir a prestação, mas serve como um modo de oposição temporária à exigibilidade do cumprimento da prestação. Ex: A deveria entregar 5 veículos a B, mas deixa de cumprir com a remessa de 1 dos automóveis. Não pode B se recusar a pagar o todo, amparado na inexecução de 1/5 da obrigação, pois não é razoável. Justo seria a recusa do pagamento na medida proporcional. O efeito prático da exceção de contrato não cumprido não é resolver, isto é, extinguir a obrigação, mas suspender sua exigibilidade, ou seja, suspender a eficácia do contrato. Trata-se, portanto, de uma questão afeta ao plano da eficácia e não ao plano da validade. O intuito é impedir a procedência do pedido veiculado pelo autor-contratante, justamente para demonstrar que este é inadimplente e, por isso, não houve cumprimento da parte incumbida ao réu. Para que ocorra tal hipótese, é necessário que o contrato seja bilateral e as prestações sejam simultâneas (ao mesmo tempo). REsp 1193739/SP – Min. Massami Uyeda – j. 03.05.2012 3) Teoria da imprevisão (art. 317, CC) A teoria surgiu ao final da 1ª Guerra Mundial (1918), quando os efeitos nocivos da guerra repercutiram em elevados índices inflacionários em decorrência da destruição de muitas localidades. A teoria constitui exceção ao princípio da inalterabilidade do negócio jurídico, buscando a conservação da avença mediante a busca do equilíbrio contratual originário. Estabelece a possibilidade de revisão contratual por fato superveniente diante de uma imprevisibilidade. A teoria da imprevisão se distingue da antiga “cláusula rebus sic stantibus”, porque exige a presença de um fato imprevisível que modifica a relação contratual. A cláusula rebus, originada ainda na Idade Média, estabelecia que o cumprimento do contrato pressupõe a inalterabilidade da situação de fato. Assim, um fato extraordinário justificaria a alteração/revisão contratual na cláusula rebus. Desfavorável: Apelação 1000719-12.2015.8.26.0269 – 25ª Câmara do TJSP Favorável: Apelação 1041519-85.2014.8.26.0053 – 25ª Câmara do TJSP (p. 5) 4) Teoria da onerosidade excessiva (art. 478) – execução continuada A teoria surgiu no decorrer da 2ª Guerra Mundial (1942), com o objetivo de preservar as empresas italianas prejudicadas com a Guerra. A onerosidade ocorre quando a obrigaçãose torna mais gravosa no momento de seu cumprimento do que se poderia esperar, quando da celebração do contrato, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis (+ onerosidade). O acontecimento (fator externo) gera um desequilíbrio na relação contratual. O CC/2002 indica a RESOLUÇÃO do contrato por onerosidade excessiva, levando o leitor a ideia de rescisão contratual. No entanto, se for possível a conservação do contrato e, havendo pedido nesse sentido por parte do interessado, o vínculo contratual não será extinto judicialmente, conservando-se a avença e procedendo-se à revisão. Tanto no pedido de revisão como no pedido de resolução, o réu pode aceitar modificar o contrato para preservação do pacto (art. 479, CC). REsp 1.321.614/SP – Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino – j. 16.12.2014 (relação civil). 5) Requisitos necessários à revisão judicial Diante dos dispositivos do CC/2002, majoritária doutrina trabalha com os seguintes requisitos para a revisão judicial do contrato quando diante de relação civil (CC): i) o contrato, em regra, deve ser bilateral (exceção no art. 480, CC); ii) o contrato deve ser oneroso, com prestação e contraprestação, para que eventual onerosidade excessiva esteja presente; iii) o contrato deve ser de execução diferida (o cumprimento ocorre no futuro) ou de trato sucessivo (repetidamente, Ex: financiamento), ou seja, gerar efeitos no tempo (art. 478, CC); iv) motivo imprevisível e extraordinário. A “imprevisibilidade” guarda alto grau de subjetividade em uma sociedade pós-moderna/ globalizada como a nossa, sendo possível sustentar que são previsíveis o aumento do dólar, o desemprego ou a escala inflacionária. v) para a revisão judicial por fato imprevisível, deve estar presente a onerosidade excessiva. Para fundamentar essa “onerosidade”, não há necessidade da prova de que uma das partes auferiu vantagens, bastando a prova do prejuízo e do desequilíbrio negocial; vi) parte da doutrina defende como requisito para a revisão judicial do contrato a ausência da mora, fundamentando sua posição na jurisprudência Súmula 380 do STJ: “A simples propositura da ação de revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor.” REsp 1.061.530/RS – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 22.10.2008 O Prof. Flávio Tartuce discorda que seja um requisito, pois por vezes o valor abusivo inevitavelmente provoca essa mora do devedor, o qual precisa da revisão justamente para demonstrar a sua abusividade. Enunciado 354 do CJF da IV Jornada de Dir. Civil: “A cobrança de encargos e parcelas indevidas ou abusivas impede a caracterização da mora do devedor.”. No entanto, o CPC/15 dispõe em seu art. 330, §2º e 3º a exigência de discriminação das parcelas controversas, além de impor o pagamento do valor incontroverso, nos moldes contratados. 6) A revisão contratual por fato superveniente no CDC No âmbito das relações de consumo, o CDC inseriu a regra da onerosidade excessiva no art. 6º, V, do CDC. Não há no sistema a teoria da imprevisão, mas tão somente o conceito de onerosidade excessiva (hipótese mais flexível). Referido dispositivo é denominado na doutrina como teoria da equidade contratual ou teoria da base objetiva do neg. jurídico e foi aplicado na histórica revisão dos contratos de arrendamento mercantil (leasing) atrelados à variação cambial na década de 1990. Com a alta do dólar frente ao real em janeiro de 1999, tais negócios ficaram excessivamente onerosos aos consumidores, adotando o STJ tal teoria. Ex: cliente aeronauta demitido e admitido com salário reduzido. REsp 374.351/RS – 3ª Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 24.06.2002 (relação de consumo). Apelação 1002816-07.2016.8.26.0606 – 24ª Câmara do TJSP REsp 136.1182/RS – Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze – j. 19.09.2016 - Classificação dos contratos A matéria interessa muito quando são estudados os contratos em espécie. A doutrina apresenta algumas divisões, havendo pequenas diferenças. 1) Quanto aos direitos e deveres das partes envolvidas O contrato, como negócio jurídico, pode ser classificado como: a) Unilateral: é aquele em que apenas um dos contraentes assume deveres em face do outro. Ex: doação pura e simples. Há 2 vontades (doador e donatário), mas no concurso de vontades surgem deveres apenas para o doador, o donatário apenas auferirá vantagens. Não há contraprestação. b) Bilateral: os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo o negócio direitos e deveres para ambos os envolvidos, de forma proporcional. Também é denominado de sinalagmático, pela presença da sinalagma, que é a proporcionalidade das prestações. Ex: compra e venda, locação, etc. c) Plurilateral: envolve várias pessoas, trazendo direitos e deveres para todos os envolvidos, na mesma proporção. Ex: seguro de vida em grupo, plano de saúde coletivo, consórcio, etc. 2) Quanto ao sacrifício patrimonial das partes a) contrato oneroso: aquele que traz vantagem para ambos os contratantes, pois estes sofrem o mencionado sacrifício patrimonial (ideia de proveito alcançado). Ambas as partes assumem deveres obrigacionais. Ex: compra e venda (pagar o valor acordado, entregar a mercadoria especificada). b) contrato gratuito ou benéfico: aquele que onera somente uma das partes, proporcionando à outra uma vantagem sem qualquer contraprestação. Ex: doação pura e simples. Em regra, o contrato oneroso é bilateral, e o gratuito é unilateral. No entanto existem exceções, como é o caso do mútuo feneratício (dinheiro sujeito a juros), em que há obrigação de restituir a quantia emprestada (unilateral) mediante o pagamento de juros (oneroso). 3) Quanto ao momento de aperfeiçoamento do contrato a) contrato consensual: aquele que tem aperfeiçoamento pela simples manifestação de vontade das partes envolvidas. Ex: compra e venda, locação, mandato, etc. b) contrato real: apenas se aperfeiçoa com a entrega da coisa de um contratante para o outro. Nessas figuras contratuais, antes da entrega da coisa tem-se apenas uma promessa de contratar e não um contrato perfeito e acabado. Ex: comodato (entrega do bem móvel), depósito (entrega do veículo), etc. Não confundir o aperfeiçoamento do contrato (plano da validade) com o seu cumprimento (plano da eficácia). A compra e venda, por exemplo, gera efeitos a partir do momento em que as partes convencionam sobre a coisa e seu preço (art. 482, CC). O registro da compra e venda no cartório de imóveis está no plano de eficácia quanto a propriedade perante terceiros. 4) Quanto aos riscos que envolvem a prestação a) contrato comutativo: aquele em que as partes já sabem quais são as prestações, ou seja, essas são conhecidas ou pré-estimadas. Ex 1: na compra e venda o vendedor sabe qual o preço a ser pago e o comprador qual é a coisa a ser entregue. Ex 2: Na locação, o locador sabe o bem que será cedido e o locatário sabe o valor do aluguel a pagar. b) contrato aleatório: a prestação de uma das partes não é conhecida com exatidão no momento da celebração do negócio jurídico pelo fato de depender da sorte, da álea, que é um fator desconhecido. Alguns negócios são aleatórios devido à sua própria natureza, caso dos contratos de seguro e de jogo e aposta. Em outros casos, o contrato é aleatório em virtude da existência de um elemento acidental, que torna a coisa ou o objeto incerto quanto à sua existência ou quantidade, como no caso de compra e venda de uma colheita futura. Obrigação condicional: são aquelas cujo efeito está subordinado a um evento futuro e incerto (art. 121, CC). Condição é oacontecimento futuro e incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico. Ex: contrato de exploração de petróleo, contrato de garimpo, colheita, etc. Enunciado 440 do CJF - LER b.1) aleatório emptio spei (alto risco): um dos contratantes toma para si o risco relativo à própria existência da coisa, sendo ajustado um determinado preço, que será devido integralmente, mesmo que a coisa não exista no futuro, desde que não haja dolo ou culpa (art. 458, CC). Ex: você propõe a um pescador a compra aleatória de peixes, pagando R$ 1mil por qualquer quantidade obtida em 1h no mar, inclusive se nada for pescado. b.2) aleatório emptio rei speratae (risco menor): se o risco versar somente em relação à quantidade da coisa comprada, pois já fixado pelas partes um mínimo como objeto de negócio (art. 459, CC). Nesse caso, a parte terá direito a todo o preço, desde que de sua parte não tenha concorrido com culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. Mas, se a coisa não vier a existir, alienação não haverá, devendo o alienante devolver o preço recebido (parágrafo único, art. 459, CC). Ex: você propõe a um pescador a compra aleatória de peixes, pagando R$ 1mil por 1h no mar, mas fixa uma quantidade mínima de 100 peixes que devem ser pescados. 5) Quanto à previsão legal a) contrato típico: aquele com uma previsão legal mínima. Ex: compra e venda, doação, locação, prestação de serviço, empreitada, comodato, franchising, etc. (são 23 contratos típicos no CC/2002). b) contrato atípico: não há previsão legal mínima. O art. 425, CC estabelece que é lícita a criação de contratos atípicos, desde que observados os preceitos gerais do ordenamento jurídico e os princípios da função social do contrato e da boa-fé objetiva. O dispositivo privilegia a existência do Princípio da Autonomia Privada (autonomia da vontade) – Enunciado 582 do CJF. O contrato atípico exige uma minuciosa especificação dos direitos e obrigações de cada parte, por não terem uma disciplina legal. Ex: contrato de outsourcing (relacionados a TI), contrato de publicidade, uso e licença de software, etc. 6) Quanto à negociação do conteúdo pelas partes a) contrato de adesão: aquele em que uma parte, o estipulante, impõe o conteúdo negocial, restando à outra parte, o aderente, duas opções: aceitar ou não o conteúdo desse negócio. O art. 424 do CC reforça bem tal fato. O art. 54 do CDC (LER) define o que é contrato de adesão, o qual, no entanto, não será necessariamente de consumo. Destaque para o parágrafo 4º (seguro do Itaú Vida). Ex: o contrato de franchising, em regra, é contrato de adesão, pois o pretenso franqueado recebe toda a estrutura do franqueador, assim como muitos contratos de locação. b) contrato paritário ou negociado: aquele em que o conteúdo é plenamente discutido entre as partes, o que constitui raridade no atual momento contratual. 7) Quanto à presença de formalidades ou solenidades a) contrato informal: não exige qualquer formalidade, constituindo regra geral pelo sistema civil brasileiro, pelo que consta do art. 107 do CC, o qual consagra o princípio da liberdade das formas. Ex: prestação de serviço (contar caso do Lima e Takashima), mandato (art. 656, CC), compra e venda de bala na vendinha. b) contrato formal: aquele que exige qualquer formalidade, como por exemplo a forma escrita. Ex: o contrato de fiança deve ser formalizado por escrito (art. 819, CC). c) contrato solene: aquele que exige solenidade pública. O art. 108 do CC estabelece que a escritura pública somente é necessária para os negócios de alienação de imóvel com valor superior a 30x o maior salário mínimo vigente no país. Se o imóvel tiver valor inferior, dispensa-se a escritura, mas é fundamental a forma escrita. 8) Quanto à independência contratual a) contrato principal ou independente: existe por si só, não havendo qualquer relação de dependência em relação ao outro pacto. Ex: contrato de locação de imóvel urbano regido pela Lei nº 8.245/91. b) contrato acessório: aquele cuja validade depende de um outro negócio, o contrato principal. Ex: contrato de fiança, que depende de outro, como, por exemplo, um contrato de locação de imóvel urbano. Diante da máxima “o acessório segue o principal”, tudo o que ocorre no contrato principal repercute no acessório. Eu chamo de “contrato parasita”. Assim, sendo nulo o contrato principal, nulo será o acessório, mas o inverso não é uma realidade (art. 184, CC - LER). Quanto maior o desenvolvimento da vida econômica, mais cresce o número de novas figuras contratuais. O Prof. Flávio Tartuce e o Prof. Carlos Roberto Gonçalves destacam a existência dos contratos coligados ou conexos, os quais são intermediários entre os contratos principais e os acessórios. Para os doutrinadores há certa independência nos contratos coligados, mas há também dependência justamente no elo que os liga. Trata-se de uma natureza híbrida, em que há uma relação de interdependência. É um contrato relacionado ao outro, por se referirem a um negócio complexo. Embora distintos, estão ligados por uma cláusula acessória, implícita ou explícita. Ex: locação de equipamento de TI (comprado para o cliente) e prestação do serviço; locação de imóvel e contrato de reforma do imóvel; contrato de trabalho com caseiro que permite a moradia no local (comodato). STJ – CCC 34.504/SP – Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 16.06.2003 STJ – REsp 1.141.985/PR – 4ª Turma – Rel. Min Luis Felipe Salomão, j. 11.02.2014 Enunciado 421 do CJF: “Os contratos coligados devem ser interpretados segundo os critérios hermenêuticos do Código Civil, em especial os dos arts. 112 e 113, considerada a sua conexão funcional.” 9) Quanto ao momento do cumprimento a) contrato instantâneo ou de execução imediata: aquele que tem aperfeiçoamento e cumprimento imediato. Ex: compra e venda à vista (compra a camisa e já sai com dela da loja). b) contrato de execução diferida: tem o cumprimento previsto de uma vez só no futuro. Ex: compra e venda pactuada com pagamento em 45 dias ou com a entrega do cachorro em 60 dias. c) contrato de execução continuada ou de trato sucessivo: tem o cumprimento previsto de forma sucessiva ou periódica no tempo. Ex: financiamento, compra e venda diretamente com a Construtora por tabela própria em 120 meses, locação, etc. 10) Quanto à pessoalidade a) contratos pessoal ou personalíssimo: aqueles em que a pessoa do contratante é elemento determinante de sua conclusão. Tal contrato não pode ser transmitido por ato inter vivos ou mortis causa diante da sua natureza personalíssima. Ex: contrato de fiança, uma vez que a condição de fiador não se transmite aos herdeiros, mas somente as obrigações vencidas e não pagas enquanto era vivo o fiador e até os limites da herança (art. 836, CC e art. 1.792, CC). Contrato de prestação de serviço (apresentação musical) com o Michel Teló. Contrato de prestação de serviço de artista plástico. Devo analisar se houve culpa ou não! Caso haja impossibilidade SEM CULPA do devedor, a obrigação será considerada resolvidas (status a quo das partes) – art. 248, CC. Ex: Luan Santana fica impossibilitado de apresentar-se após acidente a que não deu causa. O cantor devolve eventual dinheiro adiantado e não há pagamento de perdas e danos. Caso, porém, haja RECUSA VOLUNTÁRIA (com CULPA) do devedor, este deverá indenizar a parte contrária (art. 247 e art. 248, segunda parte, CC). Quando personalíssima, o credor poderá: i) exigir o cumprimento forçado da obrigação por meio de tutela específica, inclusive com a aplicação das denominadasastreintes (multas periódicas) para “forçar” o cumprimento da obrigação (artigos 497, 536, caput, §1º (título judicial) e 814 (título extrajudicial) do CPC). O art. 821 do CPC aponta a conversão em perdas e danos quando a obrigação de fazer for infungível (personalíssima) e o devedor não a cumpre no prazo assinalado. ii) não interessando mais a obrigação de fazer, exigir perdas e danos (art. 247, CC). b) contrato impessoal: aquele em que a pessoa do contratante não é juridicamente relevante para a conclusão do negócio. Nas relações de consumo normalmente temos o contrato impessoal. Ex: compra e venda de uma calça ou mesmo imóvel. 11) Quanto à definitividade do negócio a) contrato preliminar ou pré-contrato: trata-se daquele contrato que antecede a celebração de outro no futuro (art. 462 a 466, CC). Em regra, ele objetiva dar mais segurança às partes, principalmente no que diz respeito ao preço convencionado. Ele exige os mesmos requisitos essenciais do contrato definitivo (art. 462, CC). Ex: compromisso de compra e venda. b) contrato definitivo: não tem qualquer dependência futura, no aspecto temporal. Ex: compra e venda. - A formação do contrato pelo Código Civil No presente momento, analisaremos as fases de formação do contrato. O Prof. Carlos Roberto Gonçalves divide em: 1) Manifestação da vontade, 2) negociações preliminares, 3) A proposta, 4) A aceitação, 5) Momento da conclusão do contrato, 6) Lugar da celebração e 7) Formação dos contratos pela internet. O Prof. Flávio Tartuce divide em: 1) Manifestação da vontade, 2) negociações preliminares ou puntuação, 3) Fase de proposta, policitação/oblação, 4) Fase de contrato preliminar e 5) Fase de contrato definitivo. 1) Manifestação da vontade A manifestação da vontade é o primeiro e mais importante requisito de existência do negócio jurídico. A vontade humana se processa inicialmente na mente das pessoas. É o momento subjetivo, psicológico, representado pela própria formação do querer. O momento objetivo é aquele em que a vontade se revela por meio da declaração. Somente nesta fase ela se torna conhecida e apta a produzir efeitos nas relações jurídicas. O contrato é um acordo de vontades que tem por fim criar, modificar ou extinguir direitos. A manifestação da vontade pode ser expressa ou tácita. Poderá ser tácita quando a lei não exigir que seja expressa (art. 111, CC). Expressa é a exteriorizada verbalmente, por escrito, gesto ou mímica, de forma inequívoca. Algumas vezes a lei exige o consentimento escrito como requisito de validade da avença. Não havendo na lei tal exigência, vale a manifestação tácita (art. 432, CC), que se infere da conduta do agente. Ex: fornecedor que mensalmente envia material de escritório e o comprador apenas paga a nota. O comprador deverá manifestar a recusa quando não tiver mais interesse, pois a conduta era sempre de aceitação. 2) Fase de negociações preliminares ou de puntuação Essa é a fase em que ocorrem debates prévios, entendimentos, tratativas ou conversações sobre o contrato preliminar ou definitivo. A expressão puntuação tem origem no italiano puntazione, que significa antecontrato, declaração. Essa fase não está prevista no CC/2002, sendo anterior à formalização da proposta, podendo ser também denominada fase de proposta não formalizada, como por exemplo uma carta de intenções (ou memorando de entendimentos) em que as partes apenas manifestam a sua vontade de celebrar um contrato futuro. Ex: modelo de negócios para a exploração de cassiterita e ouro (artigo de opinião) Por não estar regulamentado no CC/2002, não se pode dizer que o debate prévio vincula as partes, como ocorre na proposta (art. 427, CC), não havendo responsabilidade civil contratual nessa fase do negócio como defende Maria Helena Diniz, por exemplo. Entretanto, significativa parcela da doutrina (Prof. Flávio Tartuce, Prof. Carlos Roberto Gonçalves e ) defende ser possível a responsabilização nessa fase do negócio jurídico pela aplicação do princípio da boa-fé objetiva, um dos fundamentos do CC/2002. Enunciado 25 do CJF: “O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-contratual.” Por tal caminho, aquele que desrespeita a boa-fé objetiva na fase de debates pode cometer abuso de direito (art. 187, CC), o que gera o seu dever de indenizar. O Prof. Carlos Roberto Gonçalves enfatiza que não estamos falando de inadimplemento contratual, mas sim de responsabilidade aquiliana. O mesmo doutrinador ainda destaca alguns elementos necessários a essa responsabilização, como: a) expectativa da celebração de um contrato; b) despesas; c) perda de oportunidades de outros negócios (terceiros). Acórdão Apoiado nos Enunciados 37 e 24 do CJF, o Prof. Flávio Tartuce sustenta que a responsabilidade desse “violador” da boa-fé é OBJETIVA, ou seja, independe da análise de culpa. Enunciado 37: “A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.” Enunciado 24: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.” No entanto, a natureza (subjetiva ou objetiva) da responsabilidade civil pela quebra das negociações ainda não é pacífica na doutrina. 3) Fase de proposta, policitação ou oblação 3.1) Noções gerais A fase de proposta constitui a manifestação da vontade (definitiva) de contratar, por uma das partes, que solicita a concordância da outra. Trata-se de uma declaração unilateral de vontade, que só produz efeitos ao ser recebida pela outra parte (art. 427, CC – LER). A proposta vincula o proponente, gerando o dever de celebrar o contrato definitivo sob pena de responsabilização pelas perdas e danos. O artigo traz ainda a possibilidade do proponente estabelecer cláusula que a proposta NÃO vincula, como exemplo: “proposta sujeita a confirmação” ou “não vale como proposta”. Nestes caso, o próprio aceitante, ao recebê-la, já a conhece e sabe da sua não obrigatoriedade. A vinculação ainda existe quando a promessa é realizada por meio de oferta ao público (art. 429, CC), quando a proposta apresentar os requisitos essenciais do contrato (preço, quantidade, tempo de entrega, forma de pagamento, etc.). São partes da proposta: a) Policitante, proponente ou solicitante: aquele que formula a proposta, estando a ela vinculado, em regra. b) Policitado, oblato ou solicitado: aquele que recebe a proposta e, se a acatar, torna- se aceitante, o que gera o aperfeiçoamento do contrato. Sobre a manifestação da vontade na proposta e na aceitação: a) Proposta ou oferta: deve ser clara, precisa e definitiva (art. 427, CC); b) Aceitação: deve ser pura e simples (art. 431, CC). Para tratar da proposta, se torna necessário entender os conceitos “entre presentes” e “entre ausentes”. Entre presentes: quando houver uma facilidade de comunicação entre as partes para que a proposta e a aceitação sejam manifestadas em curto período de tempo. Impacto das novas tecnologias (Skype, videochamada do whatsapp, etc.). Para o Prof. Silvio Venosa somente pode ser reputada entre presentes a proposta quando cada pessoa se utiliza de seu computador/celular de forma simultânea e concomitante, como se ocorresse uma conversa normal, com remessa recíproca de dados: “remetemos a proposta, o destinatário está à espera, lê-a no monitor/tela de celular e envia a aceitação ou rejeição, ou formula contraproposta”. Entreausentes: quando não houver facilidade de comunicação entre as partes, o que ocorria quando a proposta era formulada por carta, via Correio (e-mail). 3.2) Da não obrigatoriedade da proposta O art. 428 do CC estabelece hipóteses em que a proposta deixa de ser obrigatória: Inciso I – proposta sem prazo entre presentes Destaque para a proposta realizada por telefone, Skype, videoconferência ou whatsapp, que são consideradas entre presentes; Inciso II - proposta sem prazo entre ausentes O prazo (“tempo suficiente”) deve ser analisado caso a caso pelo juiz (art. 113, CC), observando-se a distância entre eles. Inciso III - proposta entre ausentes quando não houver resposta dentro do prazo assinalado; Inciso IV - se antes da proposta ou simultaneamente a ela chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente. Em caso de aceitação de uma proposta fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, haverá nova proposta (art. 431, CC), de forma a inverterem-se os papéis entre as partes, a conhecida contraproposta (exemplo típico na hipótese do inciso III do art. 428, CC). 3.3) Aceitação e Teorias O estudo da aceitação impacta diretamente na obrigatoriedade/vinculação da proposta. Aceitação: deve ser pura e simples (art. 431, CC). Caso o negócio seja formado entre presentes, a proposta ou oferta pode ou não estipular prazo para a aceitação. Se não houver prazo, a aceitação deverá ser manifestada imediatamente. Porém, se houver prazo, deverá ser pronunciada no termo concedido, sob pena de reputar-se não aceita, ressalvados os casos de aceitação tácita. O problema se dá na hipótese de negociação entre ausentes, quando a doutrina trabalha com 3 teorias: teoria da expedição, teoria da recepção e teoria da confirmação. a) teoria da expedição Se a formação ocorrer entre ausentes, o contrato deve ser reputado como concluído a partir do momento em que a aceitação for expedida (regra geral – art. 434, caput, CC). b) teoria da recepção No caso da formação do contrato eletrônico celebrado entre ausentes, como é o caso da contratação por e-mail, prevalece a aplicação da teoria da recepção, o que pode ser extraído do Enunciado 173 do CJF: Enunciado 173: “A formação dos contratos realizados entre pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo proponente.” c) teoria da confirmação O Projeto de Lei nº 281/2012 pretende alterar o CDC inserindo a teoria da confirmação (origem europeia – teoria do duplo clique), em que o contrato eletrônico é formado com a confirmação do recebimento da aceitação pelo proponente originário (art. 45- E). É o caso do e-mail que confirma a compra no site. Está na Câmara dos Deputados desde nov/2018. O cenário da assinatura digital (criptografada por certificado) influenciará essas teorias, pois é possível apurar o momento (data, hora e minuto em tempo real). 3.4) A oferta no CDC O CDC também estabelece a vinculação da oferta em seus arts. 30 a 35. Entretanto, no âmbito do CDC a oferta é mais ampla, dirigindo-se a pessoas indeterminadas. Em conformidade com o art. 30 do diploma consumerista, toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos ou serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor, integrando o contrato. A oferta deve ser clara, precisa, veiculada em língua portuguesa e de fácil entendimento (art. 31). Se uma Construtora menciona na propaganda das unidades habitacionais à venda que estas são dotadas de determinado acabamento (azulejos, metais e pisos de determinada marca ou qualidade, p. ex.), tais informações erigem-se à condição de verdadeiras cláusulas contratuais. A proposta aberta ao público, por meio de exibição de mercadorias em vitrines, catálogos, anúncios nos diversos meios de divulgação etc., vincula o ofertante. O art. 35 do CDC dispõe que, se o fornecedor recusar dar cumprimento a sua oferta, o consumidor poderá exigir, alternativamente, o cumprimento forçado da obrigação, um produto equivalente ou ainda a rescisão do contrato + perdas e danos. Cuidado: o erro perceptível na oferta/anúncio NÃO vincula o comerciante. Ex: Iphone 10 anunciado por R$ 1.499,00, enquanto o preço médio de mercado é de R$ 6.599,00. 3.5) Local da proposta O Código Civil diz que o direito aplicável aos contratos em geral é aquele do lugar de onde emanou a proposta (art. 435). O art. 9º, § 2º, da LINDB, assim prescreve também: “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente.” Tal dispositivo aplica-se aos casos em que os contratantes residem em países diferentes e assumiu maior importância com os contratos formados pela Internet. Se um brasileiro faz a aquisição de algum produto oferecido pela Internet por empresa estrangeira (AliExpress, do Grupo Alibaba), o contrato então celebrado rege-se pelas leis do país do contratante que fez a oferta ou proposta. Ainda que o art. 51, I do CDC considere abusiva e não admite a validade de cláusula que reduza, por qualquer modo, os direitos do consumidor (cláusula de não indenizar). O internauta brasileiro, ao aderir a uma proposta de empresa ou comerciante estrangeiro, domiciliado em país cuja legislação admita tal espécie de cláusula, não terá como evitar a limitação de seu direito. Exceção será possível quando houver representante no Brasil (Ex: Enterprise, RentalCars, Booking, etc.). Acórdão – Teoria da aparência (TJSP) 4) Fase de contrato preliminar O contrato preliminar ou pré-contrato encontra-se previsto entre os arts. 462 a 466 do CC/2002. Essa fase não é obrigatória entre as partes, sendo dispensável. Na prática é muito comum na compra e venda de imóvel, conhecido compromisso de compra e venda, que busca dar mais segurança às partes, especialmente quanto ao valor e forma de pagamento. Os requisitos para a sua validade são os mesmos exigidos para o contrato definitivo (art. 462, CC - LER), exceto quanto à forma. É preciso, assim, que o objeto do contrato seja lícito, possível, determinado ou determinável (requisito objetivo: CC, art. 104, II). No entanto, o dispositivo coloca uma pá de cal na discussão a respeito do requisito formal do contrato preliminar, não exigindo que seja celebrado com observância da mesma forma exigida para o contrato definitivo a ser celebrado (permite instrumento particular). O Prof. Carlos Roberto Gonçalves destaca que se o contrato preliminar não admitir arrependimento é possível valer-se de execução específica (adjudicação compulsória), nos termos do art. 463 e art. 1.418, ambos do CC. Para o Prof. Flávio Tartuce, a ausência de registro do compromisso na matrícula do imóvel gera uma obrigação de fazer, enquanto o registro na matrícula gera direito real de aquisição (adjudicação compulsória). Enunciado 30 do CJF 5) Fase de contrato definitivo A última fase de formação do contrato é a fase do contrato definitivo, quando o encontro de vontades se aperfeiçoa, gerando consequências no campo da responsabilidade civil contratual o seu inadimplemento (art. 389 a 391, CC). - Garantias contratuais 1) Vícios redibitórios (art. 441 a 446, CC) 1.1) Noções gerais Os vícios redibitórios podem ser conceituados como sendo os defeitos que desvalorizam a coisa ou a tornam imprópria para o uso. Os vícios podem ser aparentes ou ocultos no termo do CC/2002 (art. 445, CC). Fala em contratos comutativos, ou seja, aqueles em que há um conhecimento prévio das prestações recíprocas. Atenção: Parte da doutrina clássica, como Carlos RobertoGonçalves, Nelson Rosenvald, Roberto Senise Lisboa e Maria Helena Diniz, indica que tais vícios são sempre ocultos. O art. 441 assim menciona, mas o art. 445 apresenta prazos diferentes. Definição de Carlos R. Gonçalves: “defeitos ocultos existentes na coisa alienada, objeto de contrato comutativo, não comuns às congêneres, que a tornam imprópria ao uso a que se destina ou lhe diminuem sensivelmente o valor, de tal modo que o ato negocial não se realizaria se esses defeitos fossem conhecidos, dando ao adquirente ação para redibir o contrato ou para obter abatimento no preço.” Para a doutrina clássica, sendo o vício de fácil constatação, presume-se que houve desídia do adquirente quando da contratação. Assim, o comportamento de questionar em juízo seria incompatível com a sua conduta originária (venire contra factum proprium - A conduta deve ser coerente com seus próprios atos anteriores – Ex: escritor de novelas). Acórdão Nesse momento, importante diferenciar o vício redibitório do vício de consentimento (erro, dolo, coação e estado de perigo), especialmente o erro. No vício redibitório o problema atinge o objeto do contrato, ou seja, a própria COISA. Quando o comprador adquire a COISA acredita que ela contém as qualidades que todos esperam, comum a coisas da mesma espécie. Porém, àquela coisa em específico falta uma dessas qualidades, um defeito oculto, não comum as demais coisas da espécie. Ex: compra uma casa (relação entre particulares), mas depois observa o surgimento de graves rachaduras no imóvel, defeitos que são consequência de falha na fundação (estacas/colunas). No erro (vício de consentimento) a falha ocorre no campo da VONTADE, pois a pessoa se engana sozinha em relação a um elemento do negócio jurídico (art. 138 a 140, CC). No erro o declarante tinha em mente algo diverso ao emitir a declaração. Ex: ao comprar uma travessa prateada acredita ser de prata, mas não passa de aço inox. Não há defeito na coisa, mas sim no consentimento/vontade, o qual é defeituoso. Nos casos de erro, o comprador não quer comprar a coisa que afinal adquiriu; nos de vícios redibitórios, ele deseja adquirir exatamente a coisa comprada, mas não imagina que ela apresenta uma imperfeição não comum entre suas congêneres e não perceptível em um simples e rápido exame exterior. Exemplo de diferença entre os vícios: Se alguém, por exemplo, adquire um relógio que funciona perfeitamente, mas não é de ouro, como o adquirente imaginava (e somente por essa circunstância o comprou), trata-se de erro quanto à qualidade essencial do objeto. Se, no entanto, o relógio é mesmo de ouro, mas não funciona por causa do defeito de uma peça interna, a hipótese é de vício redibitório. 1.2) Requisitos para a caracterização dos vícios redibitórios a) que a coisa tenha sido recebida em virtude de contrato comutativo ou de doação onerosa; Em razão da natureza dos contratos comutativos, deve haver correspondência entre as prestações das partes, de sorte que o vício oculto, que inviabilizaria a concretização do negócio se fosse conhecido por acarretar um desequilíbrio nos efeitos da relação negocial, prejudica a manutenção do ajuste nos termos em que foi celebrado. b) que os defeitos existam no momento da celebração do contrato e que perdurem até o momento da reclamação; Não responde o alienante, com efeito, pelos defeitos supervenientes, mas somente pelos contemporâneos à alienação, ainda que venham a se manifestar só posteriormente. Os supervenientes presumem-se resultantes do mau uso da coisa pelo comprador. c) Que os defeitos sejam graves; Apenas os defeitos revestidos de gravidade a ponto de prejudicar o uso da coisa ou diminuir-lhe o valor podem ser arguidos nas ações redibitória e quanti minoris, não os de somenos importância. Como assinala Serpa Lopes, “os vícios e defeitos ocultos devem ser tais a ponto de tornar a coisa inapta ao uso a que é destinada, ou importar em diminuir-lhe notavelmente o seu valor. Não ocorre tal circunstância, se a coisa for unicamente menos excelente, menos bela, menos agradável.” 1.3) Ações cabíveis diante do vício redibitório Pela teoria do inadimplemento contratual o alienante (quem vendeu) é, de pleno direito, garante/garantidor dos vícios redibitórios. Ao transferir ao adquirente coisa de qualquer espécie, por contrato comutativo, tem o dever de assegurar-lhe a sua posse útil, equivalente ao preço recebido. a) rejeitar a coisa e rescindir o contrato (art. 442, CC) Poderá o adquirente requerer a resolução do contrato, quando devolverá a coisa defeituosa e receberá de volta a quantia paga + despesas contratuais (Ex: registro do Cartório de Imóveis, transferência no Detran), sem prejuízo de perdas e danos. O meio adequado é a ação redibitória. Para pleitear as perdas e danos, deverá o adquirente comprovar a má-fé (ciência) do alienante, ou seja, que o mesmo tinha conhecimento dos vícios redibitórios (art. 443, CC). Vale lembrar o Princípio da Conservação do Contrato, sendo oportuno entender que a resolução do contrato é o último caminho a ser percorrido. b) conservar a coisa e pleitear abatimento proporcional no preço (art. 442, CC) Poderá o adquirente, por meio de ação quanti minoris ou ação estimatória requerer o abatimento no preço proporcional ao defeito apresentado. O adquirente poderá não exercer essa opção na hipótese do art. 444 do CC, quando ocorre o perecimento da coisa em razão do defeito oculto. • Recurso Cível 2007.06.1.004531-8 – Acórdão 339.162 – 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais – Rel. Juiz Jesuíno Rissato - TJDF Obs.: E no caso de erro? O erro enseja a anulatória do negócio jurídico. 1.4) Prazos para propositura das ações As referidas ações recebem a denominação de edilícias, em alusão a aediles curules, que por volta do Século II a.C regulamentou a questão com o objetivo de evitar fraudes praticadas pelos vendedores no mercado romano (com muitos estrangeiros que tinham por hábito dissimular os defeitos das coisas que vendiam), em questões referentes à resolução do contrato ou ao abatimento do preço. Cabe ao credor (comprador) optar pela redibição ou pela diferença de preço. Os prazos para o ajuizamento das ações edilícias (redibitória e quanti minoris) são decadenciais (art. 445 do CC e Enunciado 28 do CJF). a) vício aparente (art. 445, caput, CC): Nas hipóteses de vício que pode ser percebido mais rapidamente. i) 30 dias, se relativas a bem móvel, contado da entrega efetiva (tradição); ii) 1 ano, se relativas a bem imóvel, contado da entrega efetiva (imissão na posse). Se já estava o adquirente na posse do bem, o prazo conta-se da alienação da coisa, reduzido à metade (15 dias para bem móvel e 6 meses para bem imóvel). Ex: locatário que adquire o bem, havendo uma continuidade da posse. b) vício oculto (art. 445, §1º, CC): Quando o vício, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde. O prazo inicia no momento em que dele tiver ciência, sendo: i) 180 dias, se relativas a bem móvel; ii) 1 ano, se relativas a bem imóvel. • Apelação 617.558.4/4 – TJSP – 2ª Câmara de Dir. Privado – Rel. Des. Norato de Andrade, j. 03.03.2009 (aplica a diferenciação dos prazos). • Recurso controverso: REsp 1.095.882-SP, STJ – 4ª Turma – Rel. Min. Maria Isabel Gallotti - j. 09.12.2014. Movél – 180 dias (art. 445, §1º, CC) + 30 dias Imóvel – 1 ano (art. 445, §1º, CC) + 1 ano Enunciado 174 do CJF c) Venda de animais (art. 445, §2º, CC) Até o momento não existe lei especial que trata do tema. Sendo assim, caso a venda represente uma relação de consumo (Ex: pet shop), aplica- se o CDC ao caso. • Apelação71000962233 – TJRS – 1ª Turma Recursal Cível – Rel. Ricardo Torres Hermann – Porto Alegre. Não sendo o caso de CDC (relação de consumo), devem ser aplicados os usos e costumes locais (art. 113, CC). Em última análise, será observado o disposto no §1º do art. 445, CC. d) Garantia convencional (art. 446, CC) Haverá cumulação de prazos, fluindo primeiro o da garantia convencional (contratual) e, após, o da garantia legal. Garantia contratual + Garantia legal Se, no entanto, o vício surgir no curso do primeiro, o prazo para reclamar se esgota em 30 dias seguintes ao seu descobrimento. Significa dizer que, mesmo havendo ainda prazo para a garantia, o adquirente é obrigado a denunciar/notificar o defeito nos 30 dias seguintes ao em que o descobriu, sob pena de decadência do direito. 1.5) Alternativas do CDC Nas relações de consumo, o fornecedor pode vir a ser responsabilizado pela existência de vícios nos seus produtos ou serviços. Nele é suficiente o vício que gere a INADEQUAÇÃO do produto, ou seja, qualquer frustração a legítima expectativa do consumidor. Ex: um particular que adquira de outro uma geladeira usada poderá discutir o vício decorrente do motor que não funciona. Já o consumidor que adquire a geladeira nova em determinada loja poderá até mesmo discutir o excesso de tempo de congelamento, mesmo que o produto funcione normalmente. Esses vícios podem ser ocultos ou aparentes (de fácil constatação). O CDC estabelece uma divisão entre fornecedor de produtos (art. 18) e serviços (art. 20). No que diz respeito ao vício de produto, a intenção do legislador é que o vício seja sanado no prazo de 30 dias, mas caso esse não seja possível, poderá o consumidor optar por um dos incisos do art. 18, §1º do CDC (ações). O prazo decadencial para reclamar também é diferenciado (art. 26, CDC): a) 30 dias p/ produtos não duráveis (alimentos, por exemplo); b) 90 dias p/ produtos duráveis (eletrônicos, eletrodomésticos, etc.) O termo inicial do prazo também divide-se, sendo: a) data de entrega do produto ou conclusão do serviço, para a hipótese de vício aparente; b) data em que o defeito foi evidenciado (descoberto) o vício oculto. Obs.: no caso de vício na compra de imóvel, o prazo do CC/02 se apresenta mais vantajoso do que o CDC. 2) Evicção (art. 447 a 457, CC) 2.1) Noções do instituto A evicção é uma garantia legal em relação a perda da coisa objeto do negócio jurídico celebrado que pode atingir o adquirente em virtude de decisão favorável a terceiro estranho à relação contratual. O terceiro demonstra a anterioridade de seu direito, por deter a condição de real proprietário ou possuidor do bem. Evicção é a perda da coisa diante de uma decisão judicial ou de um ato administrativo que a atribui a um terceiro – Prof. Flávio Tartuce O Prof. Tartuce destaca que o STJ já reconheceu ser possível a evicção mesmo sem o trânsito em julgado da decisão judicial. REsp 1.332.112/GO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j.21.03.2013 Evicção é a perda de um direito real sobre um bem, por força de decisão judicial transitada em julgado – Prof. Roberto Senise Ex 1: João vende a Luiz determinado imóvel. No decorrer do uso e gozo, Luiz descobre que o imóvel é objeto de decreto de desapropriação anterior ao negócio jurídico, o qual não foi informado no momento da venda. Ex 2: João vende a Luiz determinado imóvel. Todavia, este bem é de Michel, que ingressa com ação reivindicatória (discute propriedade) em face de Luiz reivindicando o imóvel. Ao ser citado, Luiz denuncia à lide João, pois este, ao vender um imóvel que não lhe pertence, automaticamente se torna “garante” do direito de Luiz caso ele venha a perdê-lo (art. 125, I, CPC). Ex 3: Operadora de Plano de Saúde vende veículo a colaborador. No decorrer do uso e gozo, ao tentar transferir o veículo, o colaborador descobre que o veículo possui restrição administrativa imputada pela ANS antes da venda, o qual não era de conhecimento do vendedor e comprador. Ex 4: João vende a Luiz determinado imóvel (situado em São Paulo). Posteriormente, é proferida decisão declaratória da ineficácia da alienação do imóvel reconhecendo fraude à execução na venda em execução fiscal ajuizada pelo Estado de Goiás. No caso de evicção de imóvel adquirido em Hasta Pública (leilão judicial), a responsabilidade imediata é do devedor (réu), pois é ele o primeiro beneficiado com a arrematação. A doutrina fala em responsabilidade subsidiária do credor da ação. São partes da evicção: Alienante – aquele que transfere a coisa viciada, de forma onerosa. Evicto ou adquirente – aquele que perde a coisa adquirida. Evictor ou terceiro – tem a decisão judicial ou a apreensão administrativa a seu favor. A evicção pode ser total ou parcial, sendo que, neste caso, o interessado sofrerá prejuízo em parte daquilo que desembolsou para obter a coisa. 2.2) Responsabilidade do transmitente Nos contratos onerosos, o alienante responsabiliza-se pela evicção perante a outra parte (adquirente), desde que não se dê a previsão expressa da exoneração da responsabilidade (art. 448, CC). Mesmo excluída a responsabilidade pela evicção, se esta ocorrer, o alienante responde pelo preço da coisa caso o evicto (quem perdeu) não sabia do risco da evicção ou não assumiu o encargo (art. 449, CC). Assim, somente se o adquirente sabia do risco de evicção e o aceitou expressamente é que o alienante estará isento de toda e qualquer responsabilidade. Cláusula de isenção + ciência do risco c/ aceite Privilegia a boa-fé do adquirente (evicto) – Importância, por exemplo, de se obter certidões antes da compra do imóvel. Poderá o evicto prejudicado pleitear do alienante (art. 450, CC): a) a restituição integral do preço pago, considerando-se o valor da coisa à época em que se perdeu (§ único); b) a indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir ao terceiro; c) despesas dos contratos e eventuais danos emergentes e lucros cessantes; d) custas judiciais e honorários advocatícios; e) indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis. 2.3) Denunciação da lide Vale observar que o CPC/2015 revogou o art. 456 do CC/2002, o qual em conjunto com o antigo art. 70, I do CPC/1973, obrigava o evicto a utilizar-se da denunciação da lide para exercer seu direito. No atual CPC, a denunciação da lide continua sendo o caminho processual adequado (art. 125, I, CPC), mas não impõe a denunciação como o único meio, admitindo o art. 125, §1º o direito de regresso por meio de ação autônoma. Esse entendimento já permeava a jurisprudência (Enunciado 434 do CJF) e doutrina. - Efeitos sobre terceiros Terceiro é todo sujeito de direito que não celebrou o contrato e pode vir a sofrer os efeitos da avença, sejam eles benéficos ou prejudiciais. 1) Estipulação em favor de terceiro (art. 436 a 438, CC) 1.1) Considerações gerais Em regra, o contrato só produz efeitos em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu patrimônio. São comuns nos seguros de vida, em que a convenção beneficia quem não participa da avença (art. 794, CC), nas separações judiciais consensuais, nas quais se inserem cláusulas em favor dos filhos do casal (transferência de imóvel aos filhos) e na constituição de renda, em que o promitente recebe do estipulante um capital e obriga- se a pagar a terceiro uma renda por tempo certo ou pela vida toda. Nessas modalidades, uma pessoa convenciona com outra que concederá uma vantagem ou benefício em favor de terceiro, que não é parte no contrato.
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