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RESUMO
A presente pesquisa, teórico reflexiva (discursiva), prismada no mundo da vida (o Direito Agrário) tem, como tema central, a Função Social da Propriedade, assunto que, na hodiernidade representa, não apenas o mais candente deles, mas, mais que isso: o mais altaneiro, de maior enlevo e significado, como é de ver-se, quando se está, a passos largos, já no terceiro milênio. Na investigação, procurou-se localizar a evolução do tema, após auscultada a sua gênese, com o objetivo de situar o pensamento jusagrarista em paradigmas de referencial fixo e de conteúdo axiológico/principiológico, com os valores e bens jurídicos constitucionais, vale dizer: rumada à hermenêutica constitucional constitutiva das correntes do pensamento jurídico atual. O trabalho demonstrou o fim visado, sem arredar-se do mundo existencial, mesmo diante de considerações do mundo teórico-reflexivo e rico da axiologia constitucional . Isso pode ser vislumbrado, ao longo do texto, de modos que o seu fecho está consubstanciado em um provimento judicial, não identificado, que, porventura, açambarca, no mundo da doxa, a idéia principal do conteúdo teórico, como a demonstrar que, a Ética, nos dias hodiernos, dá balizamento ao Direito, sobretudo o Direito Constitucional Agrário, já que o grande e maior papel da teoria (onde se discorreu sobre o enlevo da função social da propriedade), é orientar a prática, de modo a unir os dois mundos, do dever ser e do ser ( i. e, o que é pensado pela razão, no mundo ético, e o que de fato existe, no mundo existencial), com vista a responder, com efetividade, os questionamentos, minimizando (senão eliminando), as dicotomias, os dualismos e as cisões. Enfocou-se, trazendo a lume, questões inéditas, com igual originalidade, v.g., colisões candentes entre os Direitos Fundamentais (Função Social da Propriedade e Reforma Agrária) sob o prisma do Sistema Constitucional Agrário, onde não há mais lugar à senecta afirmação de imóvel produtivo do artigo 185, II, da Lei Fundamental, apenas por possuir GUT de 80% e GEE de 100 %, sob o prisma econômico, sem ater-se ao verdadeiro cumprimento da função social (hipoteca social que gravita ao redor) da propriedade, de modos que a produtividade enganosa do artigo 185, II, só terá sentido em consonância com o artigo 186, da mesma Constituição, tudo a imperar-se que, mesmo com os índices superiores ao exigido, a propriedade não adimple a sua função social; in exemplis, quando há impacto ambiental, com o inadimplemento da função ambiental da propriedade, espécie do gênero função social, ou trabalho escravo, dentre outras incidências subsumíveis aos incisos I a IV, do mesmo dispositivo. Outras questões originalíssimas e assaz inéditas, eclodiram, a saber (neste resumo enunciativamente): a perda do princípio ativo da propriedade, de modo a empecer o desforço imediato, bem como a concessão de liminar; a xifopagia entre Direitos Fundamentais e Deveres Fundamentais resultantes da Função Social da Propriedade; a exclusão do Direito Fundamental de Propriedade da Garantia Constitucional pelo descumprimento da Função Social; a importância da presença do Juiz, nos conflitos campesinos, dentre outros aspectos nunca lembrados pela literatura.
1. FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Direitos e Deveres Fundamentais decorrentes
Juiz como intérprete autêntico
Origens do instituto
É difícil definir claramente onde se encontram os fundamentos basilares da função social da propriedade. De certa forma o seu conceito e história confunde-se com os conceitos historicamente adotados pela propriedade.
Tendo por base a Antigüidade, ali já veremos os filósofos gregos, dentre os quais destaca-se Aristóteles, dedicando-se à leitura de que os bens possuem uma imanência social; ou seja, embora apropriados pessoalmente fazem parte de um processo interativo que mais tarde Max Weber veio a chamar de ação social – ou seja, a produção de fenômenos sociais que têm a sua significação baseada na existência do "outro" (termo que encontra amparo também na psicanálise).
Sem dúvida que o pensamento de Santo Tomaz de Aquino muito influenciou a construção dos regramentos jurídicos, dentro dos quais se batizou de jus naturalismo – onde a defesa da posse dos bens materiais está colada ao exercício da garantia da mantença, sem, contudo desprezar o aspecto social imanente aos bens oriundos da ação da natureza. De certa forma advém do tomismo a idéia de bem comum, mais tarde revigorada pelas teorias do Estado moderno.
Muitos são os pensadores que se dedicam, sob as mais diversas concepções ideológicas, a analisar o fenômeno da apropriação pelo homem da terra, quer sob o formato de mera posse, quer sob a feição de propriedade. Por razões pragmáticas vou passar ao largo da extensa discussão que envolve as teorias sobre a posse e a propriedade, permitindo-me apenas chamar a atenção para o fato de que a Revolução Francesa fortaleceu a tese de que a propriedade privada da terra não pode assumir uma feição absoluta, posto que a ação do homem sobre ela importava inclusive aos que não a possuíam. A partir do Código de Napoleão passamos inclusive a vislumbrar um mecanismo de desapropriação que, por um lado protege a propriedade privada, mas por outro submete a mesma ao interesse público. Aliás, quando sucumbiu-se na Batalha de Waterloo, ante o Gen. Wellington, já tinha no “prelo” um Código Agrário a ser trazido a lume, com todas as nuanças sobre a função social da propriedade.
Segundo Benedito Ferreira Marques� o grande impulso à doutrina da função social da propriedade se deve a Duguit (Professor de Direito Constitucional na Faculdade de Direito de Bordéus, na França) ao proferir palestra, em 1911, na Faculdade de Direito de Buenos Aires, na Argentina, posto que para ele "a propriedade não era um direito subjetivo, mas a subordinação da utilidade de um bem a um determinado fim, conforme o direito objetivo".
Sem dúvida a presença eclesial na discussão sobre o uso da terra não parou com Tomaz de Aquino. Prosseguiu com as Encíclicas Rerum Novarum (Leão XIII – 1891), Quadragésimo Anno (Pio XII – 1931) e Mater et Magistra (João XXIII – 1962), todas asseverando, em algum momento, acerca da importância da inclusão social via trabalho e distribuição das riquezas. Sem dúvida que o Concílio Vaticano II e mais tarde a Teologia da Libertação deram forte impulso a discussão acerca do uso da terra e do tributo social que sobre ela repousa.
No Brasil o princípio da função social da propriedade é introduzido, na prática, a partir da Emenda Constitucional nº 10, de 19 de novembro de 1964 à Constituição de 1946.�
No âmbito do Direito Comparado, assevera Octavio Mello Alvarenga:
A Constituição irlandesa, de 25/3/1942, determina no art. 10 que todas as riquezas naturais, incluindo o ar e todas as formas potenciais de energia, dependem da jurisdição direta do Parlamento e do Governo. O art. 37 da Constituição turca, de 1960, ordena que a distribuição de terras não poderá ter por conseqüência diminuição alguma de riqueza florestal ou diminuição de qualquer outra riqueza da terra. No México, desde 5/2/1917, dispõe a Constituição que ‘a nação terá, a qualquer tempo, o direito de impor à propriedade privada as modalidades que ditem o interesse público, tanto o de regular o aproveitamento dos elementos naturais susceptíveis de apropriação para fazer uma distribuição eqüitativa da riqueza pública e para cuidado de sua conservação’.�
Como se pode observar em determinadas situações a presença da função social da propriedade confunde-se com a defesa do meio ambiente e das riquezas naturais; o que chama a atenção para o aspecto público da terra.
2 Considerações preliminares
Paulo Torminn Borges cita Antonino C. Vivanco para definir a função social da propriedade ao dizer:
La función social es ni más ni menos que el reconocimiento de todo titular del dominio, de que por ser un miembro de la comunidad tiene derechos y obligaciones con relacióna los demás miembros de ella, de manera que si él ha podido llegar a ser titular del dominio, tiene la obligación de cumplir con el derecho de los demás sujetos, que consiste en no realizar acto alguno que pueda impedir u obstaculizar el bien de dichos sujetos, o sea, de la comunidad.
El derecho a la cosa se manifiesta concretamente en el poder de usarla y usufructuarla. El deber que importa o comporta la obligación que se tiene con los demás sujetos se traduce en la necesidad de cuidarla a fin de que no pierda su capacidad productiva y produzca frutos en beneficio del titular e indirectamente para satisfacción de las necesidades de los demás sujetos de la comunidad (Teoría de derecho agrario, v. 2, p. 472-5) .�
 Uma das grandes questões acerca da função social está na sua vinculação ou não ao termo propriedade. Afinal, quem detém a função social, a terra ou a propriedade? No dizer de Alcir Gursen de Miranda�, com quem concordo, a função social é atributo da terra, senão vejamos:
Função social da terra, pode-se afirmar que constitui o princípio central do D. A., do qual a função social da propriedade da terra é um subtema, bem como todo e qualquer princípio ou instituto que tenha como objeto a terra.
A Conferência das Américas sobre a Carta da Terra, realizada em Cuiabá, em 1998, albergou acalorada discussão acerca da inclusão da denominação "função sócio-ambiental da terra", querendo demonstrar a necessidade contemporânea de explicitar a relação existente entre a terra enquanto ecossistema e meio de produção. Pessoalmente considero que a pretensão é pleonástica, posto que o cumprimento da função social da terra (ou da propriedade, como muitos referem) só se consolida com o respeito a preservação do meio ambiente.
A história da propriedade no Brasil exigiria uma longa reflexão, para a qual não dispomos de tempo no momento, porém pode-se observar que, embora freqüentemente descumprido, todas as normas que vigiram no País – das Capitanias Hereditárias à Lei de Terras de 1850 – sempre houve referência à necessidade pragmática de utilização da terra pelo seu possuidor; como forma de efetivação do domínio.
O conceito de imóvel rural no Brasil congrega longuíssima discussão teórico-legislativo-jurisprudencial acerca de sua definição. Considero que, excetuando o ângulo tributário, a questão está parcialmente pacificada, nos termos do art. 4º, I, da Lei n. 8.629/93, que define o imóvel rural pela sua destinação. Nesse sentido, a função social da propriedade – aplicada ao imóvel rural – tem o caráter de regularização econômica e ambiental do uso da terra, numa perspectiva de bem estar social.
Se analisarmos o art. 2º, § 1º do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504/64) e o art. 186 da Constituição Federal observaremos profunda identidade entre a redação de ambos; enfatizando-se a necessidade de simultaneidade no cumprimento das medidas ali elencadas para que se considere cumprida a função social da propriedade.
A analise da função social da propriedade, como é nomeada no País, não pode passar ao largo de duas questões:
a) quem se coloca como meio de produção é a terra, sendo a propriedade um atributo conferido a esta;
b) o desenvolvimento humano e o respeito ao meio ambiente deve sempre ser considerado privilegiadamente em relação ao direito de propriedade.
Por vezes confundiu-se a exigência de cumprimento da função social da propriedade com comunismo ou socialismo. Ledo engano. A função social da propriedade é um instrumento capitalista, que entre outras coisas preserva o direito de propriedade.
Por outro lado, a função social da propriedade não é um artifício para a realização da Reforma Agrária. Não, este instituto é resultado do processo civilizatório da humanidade, com o intuito de considerar a terra com um bem básico e coletivo; embora particularmente, apropriado segundo o sistema econômico de cada cultura.
Em sintonia com o art. 5º, XXII da Constituição Federal é garantido o direito de propriedade, mas de forma a que se atenda sua função social. Neste sentido assevera Paulo Torminn Borges:
Proprietário, sim: proprietário com titularidade garantida; proprietário com direitos assegurados; mas proprietário com deveres sociais, justamente pelo fato de ser proprietário.�
Proprietário que precisa trabalhar a terra, ou fazê-la trabalhada.
Proprietário que tem responsabilidade pelo bem-estar dos que, com ele, labutam na terra.
Proprietário que faça a terra produzir como mãe dadivosa e fértil, mas sem a exaurir, sem a esgotar, porque as gerações futuras também querem tê-la produtiva.
É famoso o contra-senso entre os arts. 185, II e 186 da Constituição Federal. Enquanto o segundo artigo elenca as condições para cumprimento da função social, o primeiro coloca a propriedade produtiva no pedestal da insuscetibilidade de desapropriação por interesse social para fins de Reforma Agrária. A interpretação desses artigos devem ser feitas em sintonia com a análise histórica do processo constituinte que produziu a Constituição em vigor. Os dois artigos refletem o embate entre as forças conservadoras (Oligarquia rural – Centrão) e as forças progressistas (Igreja Católica – Universidades/ONGs – Partidos de "esquerda").
Ora, não é preciso ser um grande hermeneuta para saber que há situações em que o cumprimento da função social da propriedade já se faz de todo impossível – trabalho escravo, descumprimento contumaz das leis trabalhistas, agressão irremediável ao meio ambiente, exploração de parceiros outorgados e arrendatários nos contratos agrários. Os prejuízos sócio-ambientais não podem ser maquiados com reparações cosméticas, posto que as chagas psico-sociais e a agressão ambiental não podem ser simplesmente corrigidas, pois suas marcas são por vezes perenes ou, no mínimo duradouras.
2.1 Direitos e deveres fundamentais em matéria de propriedade
A propriedade privada foi concebida, desde a fundação do constitucionalismo moderno, como um direito humano, cuja função consiste em garantir a subsistência e a liberdade individual contra as intrusões do Poder Público. Sob esse aspecto, reconheceu-se que ao lado do direito de propriedade havia também um direito à propriedade.
A evolução sócio-econômica contemporânea estendeu o conceito constitucional de propriedade privada, bem como alargou funcionalmente o instituto. Doravante, a proteção da liberdade individual e do direito de subsistência já não dependem, unicamente, da propriedade de bens materiais, mas abarcam outros bens de valor patrimonial, como os direitos trabalhistas e previdenciários. 
Por outro lado, o direito contemporâneo passou a reconhecer que todo proprietário tem o dever fundamental de atender à destinação social dos bens que lhe pertencem. Deixando de cumprir esse dever, o Poder Público pode expropriá-lo sem as garantias constitucionais que protegem a propriedade como direito humano. Ademais, perde o proprietário, em tal hipótese, as garantias possessórias que cercam, normalmente, o domínio. 
No campo penal, a querela sobre a existência do crime de esbulho possessório deve ser julgada, também, à luz do dispositivo constitucional que impõe o dever de atender à função social da propriedade.
Há um paradoxo histórico com o direito de propriedade privada. Embora tendo sido declarada, no início do constitucionalismo moderno, direito fundamental da pessoa humana e garantia inviolável e sagrada da liberdade individual, sem a qual não há constituição, a propriedade passou a ser analisada e discutida na teoria jurídica, a partir do movimento de codificação civil do século passado, exclusivamente como um instituto de direito privado, estranho, portanto, à organização política do Estado.
A explicação para esse aparente paradoxo só se revela quando a propriedade privada, tal como a família e o contrato, é recolocada no complexo de instituições sociais que compõem a civilização moderna. E a especificidade desta última só cobra sentido quando a comparamos com as que a precederam, notadamente com a civilizaçãogreco-romana, cuja importância decisiva para a formação de nossa consciência jurídica é bem conhecida.
2.2 Função social da propriedade como direito fundamental – reforma agrária – gênese e evolução
Entrementes os Direitos Humanos Fundamentais foram vislumbrados por aquele povo que residia entre o Tigre e o Eufrates e cultivava, até com certo gáudio e prestígio, os Direitos Humanos Fundamentais, já com considerável destaque à dignidade da pessoa humana, trazidos então, a lume, em razão da presença imarcescível de Direitos Humanos Fundamentais na distribuição das terras, como dantes mencionado, já nos idos do período Sumeriano dos quinto e quarto milênios, da Mesopotâmia de outrora (3500 a 2000 a.C.), com suas cidades hegemônicas – Babilônia e Assur (2000 ao século XVI, a.C.) –, aquela com seus Jardins Suspensos (tomada por Ciro, no ano 539, a.C. e conquistada por Alexandre, no ano 332, a.C.), passando, sucessivamente, por Selêucida, Parta, Sassânida e, finalmente, mais precisamente com os Árabes.
Abnóxio não seria, como é de ver-se, trazer a lume tema que muito interessou, inclusive aos filósofos pré-socráticos, no sistema cosmológico (quando não se referia ao homem, mas, tão só à natureza) ao período compreendido de Platão a Hegel. Registra-se que o próprio Demóstenes, grande tribuno ateniense, já defrontava com questões relativas ao direito de propriedade na mudança da titularização das terras – isso mesmo, mudança (redistribuição) na titularidade da terra, condição, sine qua não há de haver reforma agrária, quando ali, como alhures, o homem nascia, crescia, vivia e morria sob tal égide, cujo exame dos principais regramentos legais vê-se oportunizado.
Conquanto a reforma agrária, a fortiori, seja espécie integrante do Direito Agrário, força será convir que não haveria ensejo para o estudo epistemológico de toda a legislação vertida para os povos orientais, os povos helênicos, ou mesmo os romanos, bastando que se debruce sobre a legislação editada nos séculos XIX e XX, com base na maioria das quais diversos países, ainda que episódica e transitoriamente, procederam à distribuição de terras, v.g., Alemanha, Áustria, Estônia, Iugoslávia, Polônia e Tchecoslováquia, nos idos de 1919, Hungria e Grécia, no final da segunda década, dentre multifários outros, bem ainda a legislação pátria, adiante colacionada, não empecendo, contudo, a título de implemento, ilustrar-se com pelo menos três famosas leis agrárias romanas, além da Lei das XII tábuas, respeitosamente considerada por muitos como representativa do primeiro Código Agrário experimentado pela humanidade – direito humano fundamental dos romanos –, essas em seqüência cronológica, mais precisamente as Lei Licínia Agrária, editada no ano de 367, a.C.; Lei Semprônia Agrária, do ano de 133, a.C.; bem como a Lei Júlia Agrária Campana do ano 61, d.C. Interessa, particularmente, ao Direito pátrio a legislação portuguesa, tanto mais em razão de ter sido caudatário dela, desde quando era aplicada ao Brasil, mesmo antes do descobrimento, por força da Bula Inter Coetera, expedida por Alexandre VI em 3 de maio de 1493, retificada no dia subseqüente.
Em verdade, ressalte-se que, mesmo antes do seu descobrimento, o Brasil, cujas terras então eram, por questão de justiça material, legitimamente dos índios – posição que harmoniza com o pensamento dos agraristas Paulo Torminn Borges� e Pinto Ferreira� no que contraria o posicionamento de Ismael Marinho Falcão,� injustamente, já estava, sob o ponto de vista exclusivamente jurídico, legalmente sujeitas aos ditames de Portugal, por força dos mandamentos contidos na susomencionada Bula Inter Coetera, com base na qual pactuou-se o Tratado de Tordesilhas, em 7 de junho de 1494, que imperava serem todas as terras existentes no globo terrestre pertencentes ao Papa, Grão-Mestre da Ordem de Cristo, da qual os reis católicos de Portugal e Espanha eram fiéis escudeiros e vassalos, com os quais o mundo, então, fora dividido, decorrendo daí que o Brasil, desde as épocas mais vetustas, fosse tido como potencial colônia que seria achada – não descoberta – por Portugal, posto que já lhe pertencia, segundo enlevada e perene observação de Messias Junqueira, em seus ensinamentos.�
Urge registro que, a gênese da reforma agrária no Brasil, cujos fatos concorreram para a sua formação, experimentou a evolução legislativa, em um grande percurso (o País ainda não havia sido descoberto, ou “achado”) desde o comando legislativo lusitano instituído no ano de 1375, na era D. Fernando, conformado para as Ordenações Afonsinas, como é de ver-se do Livro IV, Titulo 81, § 1º, então sustentáculo do Sistema Sesmarial brasileiro, evidentemente após o seu descobrimento, quando a colônia deixou de ser homízia, mais precisamente – não com a chegada de Pedro Álvares Cabral –, mas no ano de 1504, quando o pacto de Tordesilhas fora confirmado pela Bula Ea Quae, situação que perdurou até 17 de julho de 1822, por resolução do Príncipe Regente, Dom Pedro I, ao fazer justiça a um humilde posseiro e habitante das Gerais, mais precisamente Manuel José dos Reis, morador do Vale do Rio das Mortes, erigindo o seu direito fundamental à propriedade, então inexistente, em suplicado apelo no sentido de ver garantida a sua posse nas terras que cultivava, quando, em razão de Resolução baixada, decorrente daquele episódio, foram suspensas, sumariamente, todas as concessões de sesmarias, "até a convocação da assembléia geral constituinte". 
Tal resolução do Príncipe Regente, diga-se, in a fast by pass, austera, porém justa, diante do caso concreto narrado, conseqüentizou em experimentar-se, à ausência de outra lei de terras, no regime empírico, porque extralegal, da simples tomada de posse, perdurando até o advento da conhecida, a sabendas, Lei das Terras (que não haverá de ser confundida com o Estatuto da Terra – Lei n. 4.504, de 30/11/1964 –, nem muito menos com a law of the land), mais precisamente a Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850, a partir de quando dúvidas não mais subjaziam, quanto à maneira de aquisição das terras públicas – muito embora sobejassem as controvérsias relativas à fase sesmarial, eis que o título de sesmaria não representava título idôneo que tivesse o condão de dar ao sesmeiro a qualidade de senhor e possuidor, detentor do jus dominii, ou jus in re, translativo do domínio pleno da propriedade, que, até os dias atuais, geram as mais intrincadas demandas, com reflexos indesjungíveis nos processos de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, a experiência do dia-a-dia o demonstra, no bojo dos quais não apenas ocasionalmente, parfois, mas freqüentemente, se depara com dúvidas relativas ao domínio, mesmo em imóveis com evolução sesquicentenária da cadeia dominial, mormente, e tanto mais, após o ingresso na fase republicana, como é de ver-se adiante, inclusive como desvendar o emblemático enigma, via prescrição imemorial única exceção autorizativa da interrupção da cadeia dominial.
2.2.1 A propriedade no mundo greco-romano
A idéia de propriedade privada, em Roma ou nas cidades gregas da antigüidade, sempre foi intimamente ligada à religião, à adoração do deus-lar, que tomava posse de um solo e não podia ser, desde então, desalojado. A casa, o campo que a circundava e a sepultura nela localizada eram bens próprios de uma gens ou de uma família, no sentido mais íntimo, ou seja, como algo ligado aos laços de sangue que unem um grupo humano.�
Na língua latina, aliás, dominus e dominium vêm de domus, significando, respectivamente, o chefe da casa e o poder próprio deste sobre todos os bens familiares. Que o sentido jurídico de dominium se vincule originalmente à casa de família nos é confirmado pela definição de Ulpiano no Digesto (50, 16, 195, § 2): paterfamilias appellatur qui in domo dominium habet.
Na civilização greco-romana, a propriedade privada – assim como a família e a religião doméstica – faziam parte da constituição social, da organização institucional da sociedade, que não podia, em hipótesealguma, ser alterada, quer por deliberação popular, quer por decisão dos governantes. 
Na organização da cidade antiga, aliás, as instituições que diziam respeito à vida privada eram mais sólidas e estáveis que as formas de governo, e distinguiam, mais do que estas, uma cidade da outra. Não é de admirar, portanto, que o ponto de partida de Aristóteles, em sua pesquisa sobre a constituição ideal da polis, tenha sido a classificação dos regimes de propriedade: a comunhão total, a ausência absoluta de comunhão, e a comunhão ou condomínio de certas coisas, juntamente com a propriedade individual de outras.� A noção de politéia em Atenas, como foi reconhecido em primorosa tese acadêmica,� engloba a vida privada. Para Aristóteles, é a forma de organização dos cidadãos de um Estado,� a própria comunidade dos cidadãos,� ou, de modo ainda mais sugestivo, um certo modo de vida de uma sociedade política.� Não há aí, portanto, nenhuma possibilidade de dissociação nem mesmo de distinção, nesse particular, entre a esfera pública e a privada.
Seja como for, o núcleo essencial da propriedade, em toda a evolução do Direito privado ocidental, sempre foi o de um poder jurídico soberano e exclusivo de um sujeito de direito sobre uma coisa determinada. No Direito romano arcaico,� este poder fazia parte das prerrogativas do paterfamilias sobre o conjunto dos escravos e bens (familia pecuniaque), que compunham o grupo familiar. Prerrogativas soberanas, porque absolutas e ilimitadas, imunes a qualquer encargo, público ou privado, e de origem sagrada, por força de sua vinculação com o deus-lar.� 
Por aí se percebe como seria absurdo falar, no direito antigo, de deveres do cidadão, enquanto proprietário, para com a comunidade. A propriedade greco-romana fazia parte da esfera mais íntima da família, sob a proteção do deus doméstico. Por isso mesmo, o imóvel consagrado a um lar era estritamente delimitado, de forma que cometia grave impiedade o estranho que lhe transpusesse os limites sem o consentimento do chefe da família.
2.2.2 A propriedade privada na civilização burguesa
A propriedade moderna desvinculou-se totalmente dessa dimensão religiosa das origens e passou a ter marcadamente, com o advento da civilização burguesa, um sentido de mera utilidade econômica. O Direito burguês, segundo o modelo do Código Napoleão, concebeu a propriedade como poder absoluto e exclusivo sobre coisa determinada, visando à utilidade exclusiva do seu titular (eigennützig, como dizem os alemães).
Ademais, na concepção prevalecente em todo o século XIX, a propriedade figurou como o instituto central do Direito privado, em torno do qual gravitariam todos os bens, em contraposição às pessoas. Na distribuição sistemática das matérias do Código Napoleão, promulgado no dealbar do século, o livro primeiro é dedicado às pessoas, o livro segundo cuida dos bens e das diferentes modificações da propriedade, e o livro terceiro, das diferentes maneiras pelas quais se adquire a propriedade. Nesse último livro, vêm reguladas a sucessão, as doações entre vivos e por causa de morte, bem como todos os contratos, inclusive o "contrato de casamento".
Por outro lado, a civilização burguesa estabeleceu a nítida separação entre o Estado e a sociedade civil, entre o homem privado, como indivíduo (de onde a expressão "direitos individuais", para indicar os direitos humanos da primeira geração, os quais dizem respeito a todos, independentemente de sua nacionalidade) e o cidadão, como sujeito da sociedade política. Nesse esquema dicotômico, a propriedade foi colocada inteiramente no campo do direito privado, e essa dicotomia foi o alvo preferido da crítica socialista. Marx, em particular, considerou a separação entre as esferas pública e a privada da vida social como simples discurso ideológico, pois o Estado acabava sendo também apropriado (no sentido técnico) pela classe proprietária.
Ora, havendo perdido o sentido religioso das origens, sobre que outra base de ordem ética poderia a propriedade ser justificada no direito moderno?
Os inspiradores do constitucionalismo liberal, em particular John Locke, não hesitaram em fundar, doravante, o direito de propriedade privada na exigência natural de subsistência do indivíduo, e na especificação por ele dada a determinada coisa pelo seu trabalho, enquanto força emanada do seu corpo, que representa o que há de mais próprio em cada pessoa.
No curso do século XVIII, essa justificativa da subsistência individual e familiar transformou-se na garantia fundamental da liberdade do cidadão contra as imposições do Poder Público. Cuidou-se, doravante, de resguardar a esfera pessoal de cada indivíduo contra as intrusões de outrem, não mais pela religião, mas pelo direito natural, ou pela idéia de contrato social.
Rousseau foi, nesse particular, malgrado uma certa contradição nas idéias, o grande maître à penser de sua geração. No Discurso sobre a economia política, publicado na Encyclopédie, considerou certo que o direito de propriedade é o mais sagrado de todos os direitos dos cidadãos e mais importante, de certa forma, que a própria liberdade. É preciso relembrar aqui, insistiu, que o fundamento do pacto social é a propriedade, e sua primeira condição que cada qual se mantenha no gozo tranqüilo do que lhe pertence. Em outro escrito, incluído entre os seus Fragmentos Políticos, o grande genebrino chegou mesmo a afirmar que, fundando-se todos os direitos civis sobre o de propriedade, assim que este último é abolido nenhum outro pode subsistir. A justiça seria mera quimera, o governo uma tirania, e deixando a autoridade pública de possuir um fundamento legítimo, ninguém seria obrigado a reconhecê-la, a não ser constrangido pela força.�
Os documentos políticos do final do século consagraram essa visão de mundo. Tanto o Bill of Rights de Virgínia, de 12 de junho de 1776, em seu primeiro parágrafo, quanto a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, adotada pela Assembléia Nacional francesa em 1789, em seu art. 2º, apresentam a propriedade, juntamente com a liberdade e a segurança, como "direitos inerentes" a toda pessoa, ou "direitos naturais e imprescritíveis do homem".
Sob esse aspecto de garantia da liberdade individual, a propriedade passou a ser protegida, constitucionalmente, em sua dupla natureza de direito subjetivo e de instituto jurídico. Não se trata, apenas, de reconhecer o direito individual dos proprietários, garantindo-os contra as investidas dos demais sujeitos privados ou do próprio Estado. Cuida-se, também, de evitar que o legislador venha a suprimir o instituto, ou a desfigurá-lo completamente, em seu conteúdo essencial. É o que a elaboração teórica da doutrina alemã denominou uma garantia institucional da pessoa humana.
Importa assinalar, aliás, que a propriedade privada, enquanto instituição jurídica, representou o elo de comunicação entre as duas esferas, nitidamente separadas, do Estado e da sociedade civil, pelo estabelecimento do sufrágio censitário. A transição do absolutismo político ao governo representativo foi assegurada pela classe proprietária. O nascimento no país e a idade madura, sustentou Benjamin Constant em 1815, 
não bastam para conferir aos homens as qualidades próprias ao exercício dos direitos de cidadania. (...) É preciso uma outra condição, além do nascimento e da idade prescrita pela lei. Essa condição é o lazer indispensável à aquisição das luzes, à retidão do julgamento. Só a propriedade assegura esse lazer: só a propriedade torna os homens capazes de exercer os direitos políticos.�
Seja como for, é dentro dessa perspectiva institucional que se pôs, já no bojo do constitucionalismo liberal, a questão do direito de todo indivíduo à propriedade, ou seja, o direito à aquisição dos bens indispensáveis à sua subsistência, de acordo com os padrões de dignidade de cada momento histórico. A lógica do raciocínio tornou incoercível o movimento político reivindicatório. Se a propriedade privada era reconhecida como garantia última da liberdade individual,tornava-se inevitável sustentar que a ordem jurídica deveria proteger não apenas os atuais, mas também os futuros e potenciais proprietários. O acesso à propriedade adquiria pois, insofismavelmente, o caráter de direito fundamental da pessoa humana.�
2.2.3 Transformações funcionais da propriedade na era contemporânea
A evolução sócio-econômica ocorrida a partir de fins do século passado veio, porém, alterar o objeto dessa garantia constitucional. Doravante, a proteção da liberdade econômica individual e do direito à subsistência já não dependem, unicamente, da propriedade de bens materiais, segundo o esquema do ius in re, mas abarcam outros bens de valor patrimonial, tangíveis ou intangíveis, ainda que não objeto de um direito real.
Antes de mais nada, o advento da civilização industrial expandiu enormemente as relações de trabalho assalariado e gerou demandas crescentes de proteção do emprego e de seguridade social, demandas essas que autores e tribunais assimilaram, sob o aspecto funcional, à propriedade do passado. 
Há aí, sem dúvida – é o caso de dizê-lo – uma certa impropriedade conceitual, pois o direito a uma prestação positiva, gerador de pretensão contra um sujeito determinado, não pode ser confundido com o direito de uso, gozo e disposição de uma coisa, sem intermediação de quem quer que seja. Mas o sentido prático da extensão conceitual é bem claro: trata-se de atribuir àqueles direitos pessoais a mesma força jurídica reconhecida, tradicionalmente, à propriedade. Mesmo nos sistemas jurídicos onde os direitos trabalhistas e de seguridade social foram alçados no nível constitucional, como ocorre no Brasil, a ressurgência de um capitalismo anti-social agressivo, que procura reduzir ou suprimir na prática tais direitos, quando não alterar o texto constitucional para esse efeito, veio demonstrar toda a importância de se recorrer, também aqui, ao velho conceito de propriedade, para garantia das condições mínimas de uma vida digna.
Por outro lado, a rápida e maciça concentração populacional urbana, durante este século, aliada à destruição de grandes cidades por efeito de sucessivas guerras, obrigou o Estado, em vários países, a intervir legislativamente nas relações de inquilinato, reforçando os direitos dos locatários e limitando a autonomia negocial dos locadores. Ao direito tradicional de propriedade desses, opôs-se o direito pessoal dos inquilinos à moradia própria e familiar, o qual passou, sob muitos aspectos, a gozar de uma proteção constitucional semelhante à daquele, enquanto não se constrói, nos diferentes sistemas jurídicos, um autônomo direito fundamental à habitação, tal como preconizado na II Conferência das Nações Unidas sobre assentamentos humanos, realizada em Istambul em junho de 1996.
Ademais, a expansão desregulamentada do movimento de concentração capitalista, nas últimas décadas, tornou sempre mais precária a situação dos pequenos e médios empresários, esmagados pelo poder econômico das macroempresas. Contra os excessos dos teóricos da Escola de Chicago, foi preciso reconhecer que se estava diante de direitos patrimoniais indispensáveis à subsistência individual, e que mereciam, por conseguinte, uma proteção constitucional semelhante à dispensada tradicionalmente à propriedade.
2.2.4 O estatuto constitucional da propriedade privada
O reconhecimento constitucional da propriedade como direito humano liga-se, pois, essencialmente à sua função de proteção pessoal. 
Daí decorre, em estrita lógica, a conclusão – quase nunca sublinhada em doutrina – de que nem toda propriedade privada há de ser considerada direito fundamental e como tal protegida. 
Algumas vezes, o Direito positivo designa claramente determinada espécie de propriedade como direito fundamental, ligado diretamente aos nascidos de mulher (segundo os italianos), atribuindo-lhe especial proteção. 
É o caso, por exemplo, no Direito brasileiro, da pequena e da média propriedade rural. A Constituição (art. 185) as declara insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária e determina que a lei lhes garanta tratamento especial. A pequena propriedade rural, ainda, como tal definida em lei, desde que trabalhada pela família do proprietário, não pode ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, além de gozar, por lei, de condições favorecidas de financiamento (art. 5º, inc. XXVI). 
Mas a proteção constitucional não se limita à propriedade já existente. Garante-se, ainda, o acesso à propriedade a todos os que dela dependam como meio de subsistência, por meio do usucapião extraordinário dos arts. 183 e 191.
Tirante essas hipóteses, claramente definidas na Constituição, é preciso verificar, in concreto, se se está ou não diante de uma situação de propriedade considerada como direito humano, pois seria evidente contra-senso que essa qualificação fosse estendida ao domínio de um latifúndio improdutivo, ou de uma gleba urbana não utilizada ou subutilizada, em cidades com sérios problemas de moradia popular. Da mesma sorte, é da mais elementar evidência que a propriedade do bloco acionário, com que se exerce o controle de um grupo empresarial, não pode ser incluída na categoria dos direitos humanos.
Escusa insistir no fato de que os direitos fundamentais protegem a dignidade da pessoa humana e representam a contraposição da justiça ao poder, em qualquer de suas espécies. Quando a propriedade não se apresenta, concretamente, como uma garantia da liberdade humana, mas, bem ao contrário, serve de instrumento ao exercício de poder sobre outrem, seria rematado absurdo que se lhe reconhecesse o estatuto de direito humano, com todas as garantias inerentes a essa condição, notadamente a de uma indenização reforçada na hipótese de desapropriação.
É preciso, enfim, reconhecer que a propriedade-poder, sobre não ter a natureza de direito humano, pode ser uma fonte de deveres fundamentais, ou seja, o lado passivo de direitos humanos alheios.
2.2.5 Ccnsiderações específicas sobre a função social da propriedade
É, justamente, à luz dessa consideração da propriedade como fonte de deveres fundamentais que se deve entender a determinação constitucional de que ela atenderá à sua função social (art. 5º, inc. XXIII). No mesmo sentido, dispõem a Constituição italiana (art. 42, segunda alínea) e a Constituição espanhola (art. 33, 2).
Não se está, aí, de modo algum, diante de uma simples diretriz (Leitlinie, Richtschnur) para o legislador, na determinação do conteúdo e dos limites da propriedade, como entendeu uma parte da doutrina alemã, a propósito do disposto no art. 14, segunda alínea, da Lei Fundamental de Bonn: A propriedade obriga. Seu uso deve servir, por igual, ao bem-estar da coletividade (Eigentum verpflichtet. Sein Gebrauch soll zugleich dem Wohle der Allgemeiheit dienen).� Como bem salientou um autor, a responsabilidade social incumbe não só ao Estado, como aos particulares; Estado Social significa não apenas obrigação social da comunidade em relação aos seus membros, como ainda obrigação social destes entre si e perante a comunidade como um todo.
De qualquer modo, essa exegese da função social da propriedade como mera recomendação ao legislador, e não como vinculação jurídica efetiva, tanto do Estado quanto dos particulares, é de ser expressamente repelida nos sistemas constitucionais que, a exemplo do alemão e do brasileiro, afirmam o princípio da vigência imediata dos direitos humanos. A Constituição brasileira de 1988, com efeito, declara que as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata (art. 5º, § 1º). 
Importa não esquecer que todo direito subjetivo se insere numa relação entre sujeito ativo e sujeito passivo. Quem fala, pois, em direitos fundamentais está, implicitamente, reconhecendo a existência correspectiva de deveres fundamentais. Portanto, se a aplicação das normas constitucionais sobre direitos humanos independe da mediação do legislador, o mesmo se deve dizer em relação aos deveresfundamentais.
Mas qual o conteúdo do dever fundamental ligado à função social da propriedade?
A Constituição brasileira, especificamente em relação à propriedade rural e à propriedade do solo urbano, explicita-o como sendo a adequada utilização dos bens, em proveito da coletividade. O art. 182, § 2º dispõe que a propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor, sendo que uma lei específica poderá exigir do proprietário de terreno não-edificado, subutilizado ou não-utilizado, incluído em área abrangida pelo plano diretor, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena de aplicação sucessiva de três sanções (§4º). No art. 186, dispõe-se que
a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Como se vê, em ambas as disposições a Constituição convoca o legislador para definir o conteúdo da função social da propriedade. À falta de específica lei reguladora, estarão os proprietários dispensados de dar cumprimento à norma constitucional? 
De modo nenhum. Como foi salientado, os deveres fundamentais contrapõem-se, logicamente, aos direitos fundamentais. Ius et obligatio correlata sunt. A existência de alguém como sujeito ativo de uma relação jurídica implica, obviamente, a de um sujeito passivo, e vice-versa. Não se pode, pois, reconhecer que alguém possui deveres constitucionais, sem ao mesmo tempo postular a existência de um titular do direito correspondente. Em conseqüência, quando a Constituição reconhece que as normas definidoras de direitos fundamentais têm aplicação imediata, ela está implicitamente reconhecendo a situação inversa; vale dizer, a exigibilidade dos deveres fundamentais é também imediata, dispensando a intervenção legislativa. É claro que o legislador pode, nesta matéria, incorrer em inconstitucionalidade por omissão, mas esta não será nunca obstáculo à aplicação direta e imediata das normas constitucionais. 
No caso específico do art. 182, a falta de lei municipal específica pode obstar à aplicação regular das sanções cominadas no § 4º. Mas não impede, por exemplo, que a Administração Pública, quando de uma desapropriação, ou o Poder Judiciário, no julgamento de uma ação possessória, reconheçam que o proprietário não cumpre o seu dever fundamental de dar ao imóvel uma destinação de interesse coletivo, e tirem desse fato as conseqüências que a razão jurídica impõe.
Se, nessas hipóteses, a Constituição brasileira é explícita ao ligar ao direito de propriedade um dever fundamental de atendimento às necessidades sociais, tal não significa que, em todas as demais situações de propriedade não se deva atender à função social do instituto. O que ocorre é que esse dever decorre, por assim dizer, da própria natureza do bem, de sua destinação normal. É por essa razão, a meu ver, que a chamada "propriedade de empresa" não comporta deveres de prestação de serviços sociais, incompatíveis com a própria natureza da empresa, em nosso sistema econômico, em sua qualidade de entidade direcionada, primariamente, à produção de lucros. Constitui, aliás, uma aberrante falácia do discurso neoliberal sustentar que o Estado fica dispensado, doravante, de cumprir seus deveres próprios de prestar serviços de natureza social – notadamente educação, saúde, previdência e moradia popular – porque tais serviços podem e devem ser prestados pelas empresas privadas.
2.2.6 A responsabilidade pelo descumprimento dos deveres fundamentais, ligados à propriedade
Observe-se, antes de mais nada, que o respeito aos deveres fundamentais, ligados à propriedade privada, não resulta apenas da iniciativa do particular ofendido – o titular do direito fundamental de acesso à propriedade, por exemplo –, mas constitui objeto de uma política pública, constitucionalmente obrigatória. 
Com efeito, quando a Constituição declara como objetivos fundamentais do Estado brasileiro, de um lado, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e, de outro lado, a promoção do desenvolvimento nacional, bem como a erradicação da pobreza e da marginalização, com a redução das desigualdades sociais e regionais (art. 3º), é óbvio que ela está determinando, implicitamente, a realização pelo Estado, em todos os níveis – federal, estadual e municipal – de uma política de distribuição eqüitativa das propriedades, sobretudo de imóveis rurais próprios à exploração agrícola e de imóveis urbanos adequados à construção de moradias. A não-realização dessa política pública representa, indubitavelmente, uma inconstitucionalidade por omissão.
Instrumento clássico para a realização da política de redistribuição de propriedades é a reforma agrária, ainda mais efetiva quando procedida mediante desapropriação por interesse social. Ora, essa espécie de expropriação não representa o sacrifício de um direito individual às exigências de necessidade ou utilidade pública patrimonial. Ela constitui, na verdade, a imposição administrativa de uma sanção, pelo descumprimento do dever, que incumbe a todo proprietário, de dar a certos e determinados bens uma destinação social. Por isso mesmo, é antijurídico atribuir ao expropriado, em tal caso, uma indenização completa, correspondente ao valor venal do bem mais juros compensatórios, como se não tivesse havido abuso do direito de propriedade. A Constituição, aliás, tanto no art. 5º – XXIV, quanto no art. 182, § 3° e no art. 184, não fala em indenização pelo valor de mercado, mas sim em justa indenização, o que é bem diferente. A justiça indenizatória, no caso, é obviamente uma regra de proporcionalidade, ou seja, adaptação da decisão jurídica às circunstâncias de cada caso. Ressarcir integralmente aquele que descumpre o seu dever fundamental de proprietário é proceder com manifesta injustiça, premiando o abuso.
Com relação aos demais sujeitos privados, o descumprimento do dever social de proprietário significa uma lesão ao direito fundamental de acesso à propriedade, reconhecido doravante pelo sistema constitucional. Nessa hipótese, as garantias ligadas normalmente à propriedade, notadamente a de exclusão das pretensões possessórias de outrem, devem ser afastadas. Como foi adequadamente salientado na doutrina alemã, a norma de vinculação social da propriedade não diz respeito, tão só, ao uso do bem, mas à própria essência do domínio. Quem não cumpre a função social da propriedade perde as garantias, judiciais e extrajudiciais, de proteção da posse, inerentes à propriedade, como o desforço privado imediato (Código Civil, art. 1210, §1º) e as ações possessórias. A aplicação das normas do Código Civil e do Código de Processo Civil, nunca é demais repetir, há de ser feita à luz dos mandamentos constitucionais, e não de modo cego e mecânico, sem atenção às circunstâncias de cada caso, que podem envolver o descumprimento de deveres fundamentais.
É também à luz das normas constitucionais sobre a propriedade que deve ser julgada, no foro criminal, a querela de esbulho possessório (Código Penal, art. 161, § 1º, II). O comportamento da vítima, aqui, não é apenas um fator a ser levado em consideração na fixação da pena (art. 59), mas pode ser tido como uma excludente de antijuridicidade. Com efeito, se, conforme as circunstâncias do caso, o juiz se convence de que a suposta vítima deixou de atender à função social do imóvel, e de que os réus, embora agrupados, agiram sem violência ou grave ameaça à pessoa, achando-se todos injustamente privados de propriedade para garantia de subsistência própria e de suas famílias, deve-se reconhecer, conforme o caso, a justificativa do estado de necessidade, ou do exercício regularde direito (art. 23, incisos I e III). 
Por outro lado, tratando-se, como se trata, de direito fundamental da pessoa humana, exercido perante aquele que descumpre o dever fundamental de dar à propriedade uma destinação social, não parece acertado entrever no fato o crime de exercício arbitrário das próprias razões.� A excludente de criminalidade, prevista na parte final do art. 345 do Código Penal ("salvo quando a lei o permite") deve se aplicar, com maioria de razão, quando se está diante de um direito humano, declarado na Constituição.
A integrante circunstancial modal de execução, consistente no concurso de mais de duas pessoas, ao contrário do que deixa entender Nelson Hungria,� não é semelhante à hipótese de roubo qualificado, definida no art. 157, § 2º, II do Código Penal, porque ela não vem necessariamente acompanhada de violência ou grave ameaça. A sua vinculação mais próxima é com o crime de quadrilha ou bando (Código Penal, art. 288). Mas, justamente, a ocupação de imóvel por pessoas que exerçam o direito fundamental de acesso à propriedade dele se diferencia, nitidamente, uma vez que o objetivo ou dolo específico do agente não existe no caso: o grupo de mais de três pessoas não se associa "para o fim de cometer crime".
2.3 Perfil constitucional da função social da propriedade
2.3.1 Intróito
A propriedade sempre constituiu um foco constante de tensões sociais e econômicas, instabilizando relações jurídicas, causando acirrados conflitos entre as pessoas e, estas e o Estado, enfim, tem fortes repercussões em todas as esferas sociais.
O Direito sempre procurou criar instrumentos e meios que pudessem defendê-la e pacificá-la, no sentido de superar as violentas controvérsias que explodem ao seu redor. Hodiernamente, identificamos um objetivo que as pressões sócio-econômicas produziram para o operador jurídico: efetivar e concretizar a função social da propriedade. Não apresentaremos aqui um conceito acabado e claro do que seja a função social da propriedade e nem temos tal pretensão neste trabalho. O que procuramos é oferecer um ponto de partida do qual pode ser edificada uma nova concepção dogmática para o direito de propriedade e de sua função social. 
A sociedade, após um longo e doloroso processo de lutas e convulsões, assumiu o compromisso de redistribuir a riqueza por ela produzida, ou seja, integrar aquelas camadas marginalizadas pela concentração abusiva de renda, transformar a massa em cidadãos. Entretanto, as camadas que detêm os meios e bens de produção, a elite composta pelos grandes latifundiários e conglomerados empresariais, impõem resistências a esse escopo e aferram-se às suas posses de modo intransigente e, muitas vezes, violento, num esforço cego e inconseqüente. E esse fenômeno se reproduz com bastante freqüência nas classes sociais baixas, não sendo portanto privativo da elite dirigente. Da bicicleta ao automóvel, da pequena gleba rural ao latifúndio, da pequena empresa à grande corporação industrial, ninguém se dispõe a renunciar ao direito de propriedade em prol desse interesse coletivo.
Existe no direito positivo brasileiro todo um sistema integrado por institutos de direito material e processual para a propriedade e todas as suas manifestações. Tem a propriedade um regime jurídico constitucional e infraconstitucional onde se faz sempre presente um rígido e cauteloso cuidado para com o direito de propriedade. Nunca o operador jurídico se ressentiu da ausência de meios legais para garantir a posse e a propriedade individual, haja vista o conjunto dos poderosos interesses que surgem em sua defesa. O que se reivindica hoje do Direito, são soluções pacíficas e legais para a posse e propriedade sociais.
2.3.2 Natureza constitucional da propriedade
A inserção da instituição da propriedade no art. 5º da Lei Maior deve ser estudada com cuidado. A Constituição reflete as várias faces desse instituto, que estão em constante tensão.
Ao estabelecer o constituinte (art. 5º, caput, in fine) que a propriedade constitui uma garantia inviolável do indivíduo, elevou-se a instituição da propriedade à condição de garantia fundamental. Contudo, a posição da garantia fundamental da propriedade no texto constitucional não deve ser interpretada necessariamente como uma matéria restrita à esfera privada.
No inciso XXII, no mesmo dispositivo, declara que "é garantido do direito de propriedade", e, logo mais, "a propriedade atenderá a sua função social". A propriedade não pode ser mais vista como um direito estritamente individual nem como uma instituição de direito privado.
No capítulo que se refere aos "princípios gerais da atividade econômica", a Constituição assim estatui:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I – omissis
II – propriedade privada;
III – função social da propriedade;
[...].
Inicialmente o direito de propriedade foi concebido como direito absoluto, natural e imprescritível (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789), seja como uma relação entre uma pessoa e uma coisa, seja como entre um indivíduo e um sujeito passivo universal, dentro da visão civilista. Predomina atualmente o entendimento de que a propriedade compreende um complexo de normas jurídicas de direito privado e de direito público, cujo conteúdo é determinado pelo direito positivo.
O regime jurídico da propriedade não se restringe às normas de direito civil, compreendendo sim todo um complexo de normas administrativas, ambientais, urbanísticas, empresariais, e, evidentemente, civis, fundamentado nas normas constitucionais. Cabe ao direito civil disciplinar as relações jurídicas civis decorrentes do direito de propriedade. A Constituição confere à propriedade uma concepção mais ampla, determinando juridicamente a sua limitação positiva (até onde vai o conteúdo) e, a sua limitação negativa (até onde vêm ou podem vir as incursões dos outros), procurando orientá-la como um instrumento de bem-estar social. O atual Código Civil Brasileiro tende a aproximar-se da visão social da propriedade prevista na Lei Fundamental.
O direito de propriedade não é superior ao direito à vida, claro, sendo este, efetivamente, direito constitucional fundamental. É a lei que "hierarquiza os valores socialmente protegidos, e ao interesse de um antepõe o direito de outro. Em nosso ordenamento jurídico positivo, encimado pela Constituição, tem supremacia o direito à vida, mesmo porque é esse direito – em grau mais próximo ou remoto – que explica a existência dos demais" (Cunha, 1994: 53; grifo nosso).
Para se identificar o caráter jurídico da propriedade, é preciso antes distinguir claramente os direitos fundamentais e das garantias fundamentais, segundo a nossa Constituição.
Os direitos fundamentais são direitos constitucionais (individuais, sociais, econômicos, políticos e ambientais), baseados na norma constitucional (princípios e regras constitucionais), que têm existência jurídica incondicionada e inviolável, gozando de supremacia jurídica sobre os demais direitos constitucionais e infraconstitucionais. Sua concreção não pode estar condicionada por normas remissivas ou programáticas, sob pena de paralisia constitucional (Saraiva, 1993: 30; cf. CRFB, art. 5º, § 1º).
As garantias fundamentais compreendem as garantias constitucionais e as garantias institucionais, destinadas à viabilizar à concretização dos direitos fundamentais.
As garantias constitucionais consistem em instrumentos jurídicos postos à disposição do cidadão para a concretização dos direitos consagrados no texto constitucional (Saraiva, 1993: 45).
As garantias institucionais compreendem, por sua vez, no reconhecimento constitucional de determinadas instituições jurídicas como fundamentais para o desenvolvimento pacífico das relações jurídicas de uma dada sociedade, submetida a uma determinada Constituição. Podemtanto se referir a instituições político-jurídicas (como o município, os sindicatos, os partidos políticos), como a instituições jurídicas originariamente concebidas como da seara do direito privado (contrato, família, propriedade).
Carl Schmitt é apontado como o criador da distinção entre "direitos fundamentais" e "garantias institucionais". Aqueles caracterizariam como direitos incondicionados, típicos do indivíduo e invioláveis pelo Estado; já estas, nas palavras de Nicolau Pérez Serrano (1984: 674), 
son derechos que se reconocen a determinadas instituciones, como ya el proprio nome indica, y no afectan a los Individuos, o a lo sumo repercuten oblicua e indirectamente en ellos; no pueden valer contra el Estado, sino para su adecuado funcionamento; no se conciben antes ni por encima del Estado, sino dentro de él, y no implican órbita previa de competencia ilimitada, sino radio de acción, más o menos amplio, marcado por la Constituición; se trata, en suma, de protección especial dispensada por el poder constituyente a instituciones que no conviene dejar entregadas a veleidades de la Ley ordinaria.
Pontes de Miranda (1987: 396/397; ver tb. Canotilho & Moreira, 1991: 110 e 163) ensina-nos que a liberdade pessoal não é instituição estatal que exija garantias. É direito fundamental, supra-estatal, que os Estados não podem desrespeitar. Quanto à propriedade privada, "é instituição, a que as Constituições dão o broquel da garantia institucional". Inexiste um conceito fixo da propriedade e "nem seria possível enumerar todos os direitos particulares em que se pode decompor, ou de que transcendentemente se compõe, porque da instituição apenas fica, quando reduzida, a simples e pura patrimonialidade". Está vedado apenas ao legislador extinguir o instituto jurídico, como o direito de propriedade. Lembra o jurista alagoano que o direito de propriedade é garantido quanto ao sujeito, que o tem, já que assegura, em caso de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou interesse social, a pretensão à indenização prévia; sendo o seu conteúdo e os seus limites suscetíveis de mudança em virtude de legislação, assim como o seu exercício.
A idéia de um direito supra-estatal deve ser encarada com cautela. Embora se possa afirmar que os direitos podem se consolidar historicamente como "fundamentais", somente com o seu reconhecimento pela Constituição, é possível considerá-lo formalmente positivado. Se uma Constituição é feita com "os faróis voltados para trás", como costuma dizer José Gláucio Veiga, ela é condenada pela história e pela sociologia, não pelo direito. Isso não significa dizer que o jurista deva ignorar a história ou a sociologia, pois do contrário, tudo o que estuda torna-se passível de inutilidade. Levada a sério, a Constituição pode ajudar concretamente a evolução da sociedade. Embora não se deva esquecer que um interesse jurídico supra-estatal do primeiro mundo tende a ser mais "supra-estatal" que um interesse jurídico supra-estatal latino-americano...
A propriedade consiste no anteparo constitucional entre o domínio privado e o público, havendo a sua tutela constitucional em razão da limitação imposta ao Estado no campo econômico, pois a apropriação particular dos bens econômicos não pode ser sacrificada. Tanto que a mutação subjetiva que a desloque do particular para o Estado somente pode ocorrer mediante desapropriação nos termos da lei, conforme a necessidade de utilidade pública ou interesse social, após prévia indenização (cf. art. 5º, XXIV). "O Texto Constitucional, ao dar independência à proteção da propriedade, tornando-a objeto de um inciso próprio e exclusivo, deixa claro que a propriedade é assegurada por si mesma, erigindo-se em uma das opções fundamentais do Texto Constitucional, que assim repele modalidades outras de resolução da questão dominial como, por exemplo, a coletivização estatal" (Bastos, 1989: 193).
A garantia institucional da propriedade pode ensejar a criação de direitos e deveres para o indivíduo e para a sociedade (cf. Serrano, 1984: 675). Inexiste propriamente compartimentos estanques e incomunicáveis entre os direitos e garantias fundamentais. O direito é dinâmico e não se prende apenas ao que foi expressamente exposto no Texto Constitucional, como ele mesmo reconhece no seu art. 5º, § 2º, ao determinar que os "direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".
2.3.3 Função social da propriedade como base constitucional da propriedade privada
A norma constitucional não consegue abranger todas as formas nas quais a instituição da propriedade se manifesta, até pela própria dinâmica do sistema capitalista. Mas a instituição da propriedade é uma só, incidindo sobre tudo o que for economicamente apreciável e apropriável pelo indivíduo (em sentido contrário, ver Grau, 1990: 248).
A propriedade tem duas faces. Tem-se as propriedades estáticas e as propriedades dinâmicas.
As propriedades estáticas referem-se às propriedades imobiliárias, os créditos e as relações jurídicas delas derivadas para os seus titulares, que são regidas eminentemente pelo Código Civil (Vaz, 1993: 145). Já as propriedades dinâmicas estão relacionadas com as atividades econômicas, industriais e comerciais, que se destinam "a produzir e promover a circulação, a distribuição e consumo de bens", estando sua regulamentação parcialmente assentada em outros diplomas legais (Vaz, 1993: 145). Estas tratam diretamente dos bens de produção, e, enquanto que aquelas, dos bens de consumo.
E lembra Isabel Vaz (1993: 151):
Retirar o capital, os bens de produção do estado de ócio (aspecto estático), consiste, pois, em utilizá-los em qualquer empresa proveitosa a si mesma e à comunidade. É dinamizá-los para produzirem novas riquezas, gerando empregos e sustento aos cooperadores da empresa e à comunidade. É substituir o dever individual, religioso, de dar esmola pelo dever jurídico inspirado no compromisso com a comunidade, de proporcionar-lhe trabalho útil e adequadamente remunerado.
Há um núcleo mínimo de propriedade privada, essencial à preservação da dignidade humana e do acesso material aos bens da educação, cultura, segurança, moradia etc. (Vaz, 1993: 48). Nesse caso, configura-se um direito fundamental à propriedade, consagrado no art. 5º, caput, da nossa Constituição. A Constituição preserva assim, o acesso do indivíduo à propriedade, como instrumento de manutenção de sua sobrevivência mínima. E, ao mesmo tempo, reconhece a garantia institucional da propriedade.
Já o direito de propriedade, configurado no art. 5º, inciso XXII, estabelece um direito individual, que confere soberania (bastante relativa) ao indivíduo ao dispor, usufruir e gozar das comodidades dos bens que legitimamente possuir. In casu, inexiste uma inviolabilidade e um caráter sacro no direito de propriedade, podendo ou não estar limitado pela legislação infraconstitucional. O seu exercício é extremamente condicionado pelas leis do Estado, que esvaziaram em muito a plenitude do art.524 e seguintes do Código Civil, de então.
No art. 5º, inciso XXIII, declara expressamente a existência do princípio constitucional fundamental da função social da propriedade, pois, na descrição da função social da propriedade, a mesma recobre-se pela disposição cabente no art. 170, III, como princípio constitucional, porém não fundamental, elencado entre os princípios da ordem econômica. Como já dissemos, em outra oportunidade, os princípios constitucionais expostos no art. 5º são princípios constitucionais fundamentais, plenamente eficazes e vinculantes da conduta do indivíduo e do Estado.
Segundo Eros Roberto Grau (1990: 247), enquanto a propriedade é encarada como instrumento, como uma garantia da subsistência individual e familiar, tem uma função individual, isenta da função social, limitada tão somente pelo poder de polícia estatal, que estaria relacionadacom o art. 5º, inciso XXII, da Carta Magna. Estando a propriedade relacionada com os bens de produção, teríamos não um direito de propriedade, mas uma propriedade-função, perdendo sua condição de direito e passando a de dever, estando assentada no texto constitucional no art. 170, inciso III, da Constituição. Lembra ainda o jurista (Grau, 1990: 247):
[...] quanto à inclusão do princípio da garantia da propriedade privada dos bens de produção entre os princípios da ordem econômica, tem o condão de não apenas afetá-los pela função social – conúbio entre os incisos II e III do art. 170 – mas, além disso, de subordinar o exercício dessa propriedade aos ditames da justiça social e de transformar esse mesmo exercício em instrumento para a realização do fim de assegurar a todos existência digna.
Não há, segundo Eros Roberto Grau (1990: 244), possibilidade em se considerar o princípio da função social da propriedade como elemento isolado da propriedade privada, pois afinal, a "alusão à função social da propriedade estatal qualitativamente nada inova, visto ser ela dinamizada no exercício de uma função pública".
Isabel Vaz (1993: 154) não aceita o critério proposto por Grau para se identificar juridicamente a incidência do princípio da função social da propriedade. E assim se manifesta:
O direito subjetivo do proprietário dos bens de produção, da "propriedade dinâmica, ao contrário do que afirma Eros Grau, não pode ser considerado abolido simplesmente porque a empresa privada tem uma função social a cumprir. Esta função impõe compromissos e deveres ao acionista controlador, conforme o artigo 170, caput, e inciso III da Carta vigente e ainda nos termos do parágrafo único do artigo 116 da Lei 6.404/76, mas não lhe retira a qualidade de titular de direitos subjetivos sobre os lucros ou os dividendos resultantes da atividade empresarial. Caso contrário, não se justificariam a inserção da ‘livre iniciativa’ no caput do citado artigo 170 nem do princípio da ‘propriedade privada’ no inciso II do mesmo dispositivo.
Assim nos posicionamos quanto à questão.
O tratamento constitucional das propriedades estáticas e dinâmicas não seguem, evidentemente, o mesmo ritmo. Mas destacar a função social da propriedade das propriedades estáticas não nos parece acertado. Alerta Isabel Vaz (1993: 153):
A interpretação mais adequada, a nosso ver, seria considerar tanto a propriedade estática quanto a dinâmica submetidas ao preceito da função social, que não acarreta, em nenhuma das hipóteses, a supressão do princípio constitucional garantidor do direito à propriedade privada. Existem, evidentemente, limitações ‘de direito privado’ e limitações de ‘direito público’, conceituadas como gênero, das quais as espécies ‘restrições’ limitam o seu caráter absoluto; as ‘servidões’ limitam o caráter exclusivo e as ‘desapropriações’, o caráter perpétuo do direito de propriedade.
A função social é intrínseca à propriedade privada. As concepções individualistas sucumbiram ante à força das pressões sociais em prol de sua democratização. Pode-se dizer que não basta apenas o título aquisitivo para conferir-lhe legitimidade: é preciso que o seu titular, ao utilizar o feixe dos poderes – absolutos, amplos ou restringidos – integrantes do direito de propriedade, esteja sensibilizado com o dever social imposto pela Constituição Federal (França, 1995: 10).
Sem o atendimento da função social que lhe foi imposta pela Constituição, a propriedade perde sua legitimidade jurídica e o seu titular, no nosso entender, não pode mais argüir em seu favor o direito individual de propriedade, devendo se submeter as sanções do ordenamento jurídico para ressocializar a propriedade.
A inclusão do direito individual de propriedade entre os direitos fundamentais, no texto constitucional foi um grave equívoco do constituinte. Somente o direito à propriedade tem natureza compatível com os direitos fundamentais, por ser inviolável e incondicionado. O disposto no art. 5º, XXII, deve ser interpretado como uma especificação complementar e acessória de um dos aspectos da garantia institucional da propriedade, estabelecida no caput do dispositivo constitucional supra citado.
O princípio fundamental da função social da propriedade constitui, no nosso entender, o alicerce constitucional do regime jurídico-constitucional da propriedade, estando todos os demais princípios e regras constitucionais a ele submetidos, inclusive o princípio da propriedade privada estabelecido no art. 170, II, da Lei Maior. Se o constituinte desejasse colocar o princípio da apropriação privada dos bens econômicos como superior ao da função social, deveria tê-lo posto como princípio constitucional fundamental, o que se seria histórica e sociologicamente irreal. Como nos ensina J.J. Gomes Canotilho e Vital Moreira (1991: 49), os "princípios são núcleos de condensação nos quais confluem os bens e valores constitucionais, i. é, são expressão do ordenamento constitucional e não fórmulas apriorísticas contrapostas às normas".
Não vemos no art. 5º da Carta Magna uma inserção do princípio da propriedade privada, mas sim da instituição da propriedade, submetida ao princípio da função social da propriedade. Somente se insistirmos numa concepção individualista da propriedade, fulminada pela Constituição e pelos fatos, é possível se admitir que a função social constitui um elemento acessório da propriedade privada. Nem se fale que ao inserir a instituição da propriedade, o constituinte pôs no núcleo fundamental da Constituição o princípio da propriedade privada. A propriedade privada e a função social da propriedade, quando encaradas como princípios, se postos no mesmo patamar hierárquico, produzem uma contradição sem solução. Um ou outro assume um caráter acessório, no nosso entender. Optamos em colocar a função social da propriedade como princípio superior ao da propriedade privada, já que é justamente aquela o núcleo de sustentação e estabilidade da instituição da propriedade nos dias atuais. "A grande contradição dialética das Constituições na área das propriedades está em resolver, por adjetivos o que pede solução através de substantivos. (...) Na abóbada constitucional a chave que sustenta esta cúpula é a propriedade privada que dia a dia torna-se menos individual e mais social, menos privada e mais associativa" (José Gláucio Veiga, em parecer gentilmente prestado em razão de consulta por nós formulada sobre o tema que estamos a discorrer).
Mas a relativização e alteração do núcleo normativo tradicional empreendido pelo texto constitucional não implica numa abolição da propriedade, ou numa tendência em prol de sua coletivização.
O princípio da função social tem como objetivo conceder legitimidade jurídica à propriedade privada, tornando-a associativa e construtiva (cf. França, 1997b: 485), e, por conseguinte, resguardar os fundamentos e diretrizes fundamentais expostos nos arts. 1º e 3º da Carta Magna, bem como os demais fundamentos e diretrizes constitucionais relacionados com a matéria (cf. França, 1997a: 475 e 478).
Cabe ao princípio da função social, enfim, dar a estabilidade necessária à propriedade privada, tutelando sua integridade jurídica e procurando tornar sua existência sensível ao impacto social do exercício dos poderes concedidos ao titular do domínio. A função social da propriedade informa, direciona, instrui e determina o modo de concreção jurídica de todo e qualquer princípio e regra jurídica, constitucional ou infraconstitucional, relacionada à instituição jurídica da propriedade.
Imputar uma função social à propriedade não significa estabelecer um direito ou um dever ao bem. "O capital não é sujeito de direitos e deveres, que apenas mediatamente lhes podem ser impostos como funções ao cumprir, através do reconhecimento e da imposição de direitos e deveres ao seu titular" (Vaz, 1993: 149).
Segundo Celso Ribeiro Bastos (1989: 194), a função social da propriedade "nada mais é do que o conjunto de normas da Constituição que visa, por vezes atécom medidas de grande gravidade jurídica, a recolocar a propriedade na sua trilha normal". Para o jurista, há o predomínio do critério econômico no conteúdo da função social da propriedade, abrangendo a mesma as sanções determinadas e aceitas na Constituição ao uso deturpado e degenerado, no que vai de encontro à Ordem Jurídica. Tais sanções referem-se às decorrentes do atentado das normas do poder de polícia, ou então à perda da propriedade na forma da Constituição Federal. A função social da propriedade careceria de um regime único haja vista a diversidade de domínios nos quais se manifesta a propriedade, dependendo sua eficácia de uma rígida e expressa regulamentação constitucional e infraconstitucional.
Por esses critérios teríamos a função social da propriedade como um elemento acessório, expresso e corretor. Uma retificação dos desvios tomados por sua utilização excessivamente individualista e não conciliada com o interesse social. Um fator que determina claramente o que se considerará danoso à coletividade no exercício do feixe de poderes decorrentes do direito de propriedade. Enfim, mais um instrumento de harmonização da propriedade privada, como "direito fundamental", com a sua destinação social, não servindo, na sua ausência, como uma justificativa que lhe retire sua legitimidade. Nesse sentido, somente o Direito Agrário teria conseguido regulamentar a função social da propriedade no direito positivo (França, 1995: 11).
Todavia, entendemos (cf. França, 1995: 11) que a função social da propriedade não pode ser confundida com os sistemas de limitação de propriedade, ou seja, a afetação de seus caracteres tradicionais (direito absoluto, exclusivo e perpétuo). Dizem sim respeito ao exercício do direito, ao proprietário, e, não à estrutura interna do direito à propriedade, estando sim subordinados à função social da propriedade, como bem leciona José Afonso da Silva (1991: 294):
[...] a função social da propriedade se modifica com as mudanças na relação de produção. E toda vez que isso ocorrera, houvera transformação na estrutura interna do conceito de propriedade, surgindo nova concepção sobre ela, de tal sorte que, ao estabelecer expressamente que a propriedade atenderá a sua função, mas especialmente quando o reputou princípio da ordem econômica, ou seja: como um princípio informador da constituição econômica brasileira com o fim de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170, II e III), a Constituição não estava simplesmente preordenando fundamentos às limitações, obrigações e ônus relativamente à propriedade privada, princípio também da ordem econômica, e, portanto, sujeita, só por si, ao cumprimento daquele fim. Pois, limitações, obrigações e ônus são externos ao direito de propriedade, vinculando simplesmente a atividade do proprietário, interferindo tão-só com o exercício do direito, os quais se explicam pela simples atuação do poder de polícia.
A norma constitucional que dispõe sobre a função social da propriedade possui aplicabilidade imediata, pois "tem plena eficácia, porque interfere com a estrutura e o conceito da propriedade, valendo como regra que fundamenta um novo regime jurídico desta, transformando numa instituição de direito público, especialmente, ainda que nem a doutrina nem a jurisprudência tenham percebido o seu alcance, nem lhe dado aplicação adequada, como nada tivesse mudado" (1991: 250). Entretanto, os princípios esculpidos na Lei Maior precisam materializar-se de modo mais consistente no direito positivo.
Apesar de a Constituição Federal ter vinculado a propriedade à sua função social, é preciso que o operador jurídico se disponha a construir meios para a consecução do escopo fundamental da República que é o bem-estar social. Nada vale existência do formal sem o material (cf. Souto, 1992: 17).
3. Propriedade e Reforma Agrária – Colisões de direitos fundamentais
Tanto um tema, quanto o outro, está ligado aos direitos humanos fundamentais dos quais decorrem. Registre-se, no sistema constitucional brasileiro a propriedade é um direito fundamental, mais precisamente um direito humano reconhecido como tal pelo ordenamento jurídico, especialmente a lei fundamental. Contudo, como se viu, nem toda a propriedade é direito fundamental. Há nítida distinção a respeito, conquanto tenha sido obscurecida nas escolas de direito, não aparecendo, com clareza, dos debates judiciários. Como todo direito fundamental, a propriedade, também, tem o seu objetivo, uma função, sendo essa função a apropriação de bens indispensáveis à subsistência da pessoa humana, ou da família, em condições dignas de vida.
Há, na constituição, o sistema constitucional agrário específico (menor), como parte do sistema constitucional geral (maior), como se verá, adiante, cuja reforma agrária, direito humano fundamental que é, ao lado do direito de propriedade, também revestido, em certos casos (apenas em certos casos, porque, nem sempre a propriedade pode ser tida como direito humano fundamental, o que, aliás, constitui um dos pontos inauditos, vislumbrados neste trabalho), da mesma virtualidade, faz parte de tal SISTEMA, devendo a reforma agrária ser interpretada de modo sistemático, levando-se em conta o giro da espiral hermenêutica constitucional, mormente sob o aspecto jusfundamental, ao qual deve estar ligada a compreensão do direito humano fundamental relativo ao partilhamento das terras, mudança na titulação da propriedade rural, mais precisamente, a reforma agrária, eis que o direito, por definição, se apresenta como um sistema.
Et pour causae, não se mostra razoável considerar que a propriedade de um latifúndio, a não ser por uma extrema aberração jurídica, seja direito fundamental, ou mais: que a propriedade de um pacote de ações que dão o controle acionário para um grupo industrial, ou um grupo financeiro, seja direito fundamental. Não há dúvida, é um direito de propriedade, sendo de ser registrado que, fundamentalmente, quando se fala em direito de propriedade que não é fundamental, ele está regulado no capítulo da ordem econômica, não no capítulo de direito fundamental. Sempre que a propriedade revestir-se da pretensão da pessoa humana, mister se faz auscultar a sua finalidade que é a apropriação de bens indispensáveis à subsistência da pessoa, ou da família.
Destarte, a garantia constitucional constante do art. 5º, XXIV, da C.R., referente à desapropriação, ela aplica-se à propriedade, só que enquanto a propriedade represente direito fundamental. Esta distinção é bastante cristalina, clara qual a luz solar em dias ensolarados, mas que, paradoxalmente, não está assinalada na literatura, não a tendo visto em nenhum livro de doutrina, seja no Brasil, ou em qualquer outra parte do mundo, salvo uma observação feita pelo jurista e professor da USP., Fábio Konder Comparato, quando conferenciava com juízes federais no XII encontro nacional de juízes federais, realizado no Rio de Janeiro em 08/10/98. Constitui-se, por isso mesmo, caso inaudito (inédito) até quando pesquisava e escrevia o livro desapropriação reforma agrária e meio ambiente, de autoria do signatário, conhecido no País e no exterior, mas que é decorrência lógica da colocação das premissas, eis que o capítulo da constituição que trata dos direitos fundamentais tem o escopo de proteger a pessoa humana, ligado à dignidade da pessoa humana, não o de proteger o poder econômico enquanto tal, razão pela qual não se pode falar em garantia diante da desapropriação, a não ser enquanto se esteja diante da propriedade como direito fundamental.
A propriedade mostra-se revestida da qualificação de direito fundamental, quando ela tem por objeto os instrumentos de trabalho, sendo salutar registrar-se que o direito ao trabalho é declarado no pacto internacional sobre direitos econômicos sociais e culturais de 1.966, em seu art. 6º, tendo sido ratificado pelo Brasil. Isso significa que o seu regramento, as normas, os direitos nele previstos fazem parte do direito pátrio (direitointerno brasileiro) por força do que dispõe o art. 5º, § 2º, da Lei Fundamental, sendo certo que o direito ao trabalho implica um reconhecimento do direito à propriedade, mais precisamente dos instrumentos necessários ao exercício da atividade laboral, o que constitui o cerne da reivindicação por uma reforma agrária, mais precisamente o acesso à propriedade para que se realize o direito ao trabalho, que não se confunde com os direitos trabalhistas objeto de regulação numerosa e multifária no ordenamento jurídico pátrio. Seria, segundo Fábio Comparato uma mutilação, falar-se em direito à propriedade sem direito ao trabalho. 
Paradoxalmente, o direito ao trabalho é totalmente excluído do sistema de capitalismo financeiro que ora domina o mundo. Toda a análise marxista foi elabora no sentido de que o trabalho era indispensável à produção. Contudo, hoje, a realidade insuspeitada e terrível é no sentido de que, pode-se produzir com cada vez menos parcela de contribuição laboral, sendo, inclusive, possível lucrar sem produzir, no capitalismo financeiro atual. 	
3.1 Direitos Fundamentais versus Deveres Fundamentais dos Proprietários – Xifópagos – Função social da propriedade como divisor de águas
Outra grande novidade, no que toca à presença perene dos direitos fundamentais na aplicação do direito e, com ênfase, in casu, para a reforma agrária, está em que, paralelamente aos direitos fundamentais existem deveres fundamentais. Isto, também, é assaz negligenciado nos estudos jurídicos, sendo o sistema jurídico sempre de co-relação. Nesta co-relação a cada direito fundamental corresponde a um dever fundamental, ou seja, aqueles deveres e situações passivas que não podem ser eliminados por lei, talqualmente os direitos fundamentais não podem ser eliminados por lei. No caso da propriedade, o dever fundamental é o de dar à coisa, objeto da propriedade, a sua destinação social correspondente à sua própria natureza, de acordo com o art. 5º, inciso XXIII, da Constituição, jus et obligatio correlata sunt, a saber: direitos e obrigações são coisas correlatas.
Tal norma, como se vê, além de exprimir um dever fundamental, ela é também um princípio jurídico. A teoria jurídica atual tem apontado a importância dos direitos fundamentais, que são, inclusive e, até mesmo, de observância impostergável e de aplicação imediata, via princípios jurídicos, sendo de ser registrado, como o signatário tem feito observar sempre, que: muito mais grave que violar uma lei é violar um princípio. Tais princípios garantidores dos direitos fundamentais exercem, sobretudo por intermédio da atuação do magistrado, que é intérprete autêntico, uma função genética e interpretativa do sistema jurídico, uma função genética em razão da formulação geral do princípio, o âmbito de aplicação do princípio é tal que, não havendo norma específica de concreção do princípio, o juiz está autorizado e tem, até mesmo, o dever de aplicar o princípio, criando, no caso particular a norma específica de concreção.
Além dessa função genética, o princípio jurídico – na hodiernidade está em voga, como sempre havia de ter estado, a teoria principiológica – tem uma função interpretativa do maior alcance, não sendo possível (ou convinhável) aplicar o direito de maneira contraditória, sim harmonizar o conjunto do sistema jurídico, do que se encarregam toujours os direitos fundamentais de aplicação imediata (art. 5º, § 1º, da Lei Fundamental) não sendo possível aplicar-se o direito de maneira contraditória, não sendo possível, do mesmo modo, aplicar-se o Código de Processo Civil, ou o Código Civil, ou quaisquer das disciplinas mencionados no capítulo VII, de modo a abarcá-la pelo conjunto das normas do sistema jusfundamental constitucional, sendo isso um princípio jurídico. Ora, quando a constituição impera sobre o cumprimento da função social, deve atender à função social, está ela exprimindo um princípio jurídico (jusfundamental), sendo certo que, com base nele, as causas (os conflitos, ou colisões) de interesse devem ser solucionados.
Registre-se que as sanções para o descumprimento desse dever fundamental são, em primeiro lugar: a expropriação por interesse social (geral ou para fins de reforma agrária). Existe nítida distinção entre esta e a desapropriação por utilidade pública, com conseqüências manifestas, registrando-se ser este outro ponto não explorado pela doutrina. Neste caso, o proprietário não deu causa ao inadimplemento da função social, não tendo descumprido o seu dever fundamental, outra face da moeda jus et obligatio correlata sunt. Naqueloutro, houve flagrante descumprimento ao dever fundamental de dar à propriedade o cumprimento da função social, havendo uma sanção para o descumprimento desse dever fundamental.
As conseqüências susomencionadas são visíveis e nítidas (manifestas), verbi gratia, nos casos de se fixar a indenização, não se pode fixar o valor como no caso de indenização daquele proprietário que não descumprira a função social (na desapropriação por necessidade ou utilidade pública). No entanto, à ausência de dar cumprimento às normas jusfundamentais todos aqueles que estão, de qualquer modo, envoltos na interpretação/aplicação do Direito Agrário, descurando-se dos princípios jurídicos decorrentes dos direitos fundamentais/deveres fundamentais, já que a justa indenização prevista na constituição não poderá superar o valor venal, de mercado do bem expropriado, sendo este (ao contrário da desapropriação por necessidade e/ou utilidade pública) o limite máximo para tal indenização, eis que não se pode premiar aquele que descumpre um dever fundamental imposto pelas normas jusfundamentais constantes da própria constituição. 
A propósito: 
• A busca sempre incauta de um critério dogmático para o justo preço – A justa indenização, ou o justo preço, como é de ver-se, não é conceito de fácil compreensão ou locução que seja definida de maneira exauriente, a conseqüentizar o encontro dos fundamentos para aquilo que julgam ser verdadeiro, nem que possa ser assimilado ou efeitizado (sob o aspecto prático) mediante a adoção de um critério autoritário, revestido de regras estanques e imutáveis – dogmas –, sendo de ser registrado que, com relação ao aferimento do justo preço, nenhum regramento infraconstitucional chegou a perfectibilizar o preceito constitucional previsto na Constituição de 5/10/1998, desde que o art. 12, seus parágrafos e incisos da Lei n. 8.629 de 25/2/1993, mostrou-se despiciendo ao mencionar, v.g., a “indenização que permita ao desapropriado a reposição, em seu patrimônio, do valor do bem que perdeu por interesse social”, dentre outras menções que serão abordadas após a transcrição dos artigos dos regramentos dantes mencionados.
Constituição Federal de 1988
‘Art. 5.º [...]
[...]
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição...’
‘Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. 
§1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro...’�
Para Santiago Dantas, 
‘não basta a expedição de um ato legislativo formalmente perfeito para preencher o requisito do due process of law. Se assim fosse, a cláusula seria inoperante como o limite do arbítrio legislativo, pois o requisito constitucional estaria atendido com a simples existência de lei formal. Seria o mesmo que o legislador constituinte dizer ao legislador ordinário: you shall not do wrong, unless you choose to do (Cooley).’
Tem-se, pois, que qualquer critério que fosse utilizado pelo legislador ordinário para definiro valor da indenização justa, constitucionalmente prevista, seria destituído de qualquer valor intrínseco, desde que a própria Constituição Federal, que garante o justo preço, coarcta a que o cidadão perca a sua propriedade sem a observância do substantivo devido processo legal – substantive due process –, e que qualquer posição, pois mais dogmática que pudesse ser adotada, haveria de ceder lugar à justiça material, que deve revestir as decisões judiciais de modo a, ao menos, aproximá-las da verdade. Frise-se que tal conceito ‘verdade’ (justeza) deve ser uno, não se falando em ‘as verdades’, mas sim em ‘a verdade’, o que tem o condão de afastar qualquer exegese, por mais conservadora ou dogmática possível, de modo que será justo aquele critério que for revestido de racionalidade, razoabilidade, tudo a demonstrar plausível o entendimento, de modo a preponderar as teorias americanas, denominadas racionality and reasonableness, desde que, refrise-se, deve aplicar-se, in casu, o art. 5º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 10/12/1948, extraída daquela decorrente da queda da Bastilha, editada em 26/10/1789, mais precisamente, La Declaration des Droits de L’Homme e Du Citoyen, adiante transcrito, coincidente com o que fora contido na Constituição Imperial de 1824, que adotou a teoria quadripartidária dos Poderes, de Benjamin Constant, em seu art. 179, II, a seguir transcrito.
Art.5º La loi n’a le droit de defendre que les actions nuisibles a la societé
‘Art. 179, II. Nenhuma lei será estabelecida sem utilidade pública.’�
– Aspecto pragmático – Síntese conclusiva consectária da Função Social
À guisa de conclusão, pertinentemente à investigação do justo preço, visto sob o prisma prático e procedimental, registre-se que, dentro da tipicidade trina da desapropriação – por isso explica-se o fato de ser mencionada a desapropriação por utilidade pública, a desapropriação por interesse social geral e a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária –, algumas conclusões, nemo non videt, podem ser extraídas, eis que a justa indenização pode ser galgada, enlevando-se o conceito do justo, a oportunizar a realização de justiça material, com a observância de padrões mínimos a seguir explicitados, tais sejam:
1º) A legislação que alterou a redação do art. 12 da Lei n. 8.629, de 25/2/1993 – Medidas Provisórias n. 1.577/97, 1.632/97, 1.658/98, 1.703/98, 1.774/98, 1.901/99, 1.997/99, 2.027/2000 e 2.183/2001 –, que estabelece o modus operandi, deve ser vista como referencial para a fixação do preço da indenização, sempre que o caso concreto – pela multivocidade de circunstâncias, ou pela incidência de pormenores – nela subsumir-se.
2º) O próprio art. 12 da Lei n. 8.629, de 25/2/1993, com a sua redação primitiva, em certos casos, não faz justiça às partes litigantes que estiverem inexando a lide, em qualquer dos pólos, eis que, somados – após regular avaliação devidamente homogeneizada e, às vezes, submetida ao abominável saneamento (mesmo após o processo de homogeneização) em geral efeitizado –, os itens terra nua, cobertura florística e benfeitorias, o valor final poderá alcançar um quantum muito superior ao valor de mercado (que não seria justo para o Instituto Expropriante), ou muito aquém de tal valor, para o imóvel vendido de porteira fechada, como vinha ocorrendo em épocas de inflação a percentuais elevados, de maneira a causar injustiça ao expropriado.
3º) Em todos os casos, quer sob a égide das prefaladas Medidas Provisórias n. 1.577/97, 1.632/97, 1.658/98, 1.703/98, 1.774/98, 1.901/99, 1.997/99, 2.027/2000 e 2.183/2001, seja sob a vigência da Lei n. 8.629/93, ambas as duas partes (válida a redundância) são prejudicadas, i.e., o Instituto, por sujeitar-se ao pagamento da indenização em preço superior ao de mercado, ou, no mínimo, igual, como quer, expressamente a medida provisória e como induz, por inferência, a mencionada lei, ao passo que, na desapropriação nelas prevista, mais precisamente por interesse social para fins de reforma agrária, qualquer valor acima do preço de mercado constitui superavaliação; e o expropriado por sujeitar-se, como ocorre sob o prisma pragmático, a indenizações ínfimas, quer pela absorção (inclusive da cobertura florística) prevista na medida provisória, seja em razão de altos índices inflacionários.
4º) Somente na desapropriação por utilidade pública a indenização deverá revestir-se de justo preço como, no mínimo, o preço de mercado do imóvel, podendo sê-lo até mesmo em valor muito superior, em virtude de que poderá ter valor muito mais elevado do que o seu preço, e da inconfundibilidade traçada pela economia para ambos os conceitos.
5º) No caso do art. 182, § 2º – propriedade urbana que não cumpre a sua função social – e do art. 184 – propriedade rural que, também, não cumpre a sua função social –, pelo descumprimento de dever fundamental, perderá o proprietário o direito fundamental à indenização, devendo esta ser conformada com o fato de ser desapropriação-penalidade, ou desapropriação-sanção, como é também conhecida, exsurgindo-se desse mesmo fato a necessidade de penalizar o inadimplente, que não compreenderia enriquecê-lo, pela sua omissão, i.e., no descumprimento de dever fundamental que a Constituição lhe impõe, ius et obligatio correlata sunt.
6º) A ausência total de pagamento de qualquer valor (art. 243, da Constituição de 5/10/1988, nos casos de expropriação/confisco, sem qualquer indenização ao proprietário, dos imóveis onde forem localizadas plantas psicotrópicas, dada a hediondez da conduta, pela atitude hórrida há de representar, peculiarmente, o justo preço a ser suportado pelo responsável pela ofensa a bem jurídico assaz relevante.� 
Outra conseqüência, da sanção pelo descumprimento do dever fundamental de dar um aproveitamento social ao bem objeto da propriedade, que também evidencia a presença sempre constante dos direitos fundamentais na aplicação do Direito Agrário, onde amalgamam-se, com os direitos fundamentais, o direito constitucional, agrário, civil e processual, é que o proprietário, inadimplente de tal dever, perde as garantias possessórias, sendo que sua propriedade perde o aspecto ativo da propriedade, que é vinculado à posse, tornando-se passiva. O proprietário não tem direito, nem ao desforço imediato do art. 1.210, §1.º do CCB, nem de obtenção de liminar em ação possessória. Neste caso o art. 928, do CPC deve ser analisado de acordo com as normas jusfundamentais, inadmitindo-se a liminar initio litis, inaudita altera parte, abrindo-se a instância probatória para que a final possa, sossegadamente, ser apreciado se estaria havendo descumprimento da função social.
Do texto do art. 186, e seus incisos da C. R. de 05.10.88, força é convir que os conceitos exploração econômica e exploração racional não se confundem, nem se identificam, não guardando identidade, sendo de ser lembrado que a PROPRIEDADE PRODUTIVA de que fala o art. 185, II, deve submeter-se às exigências dos incisos I, II, III e IV do art. 186 da Constituição, dentro do qual deve ser vista, saliente-se, a disposição constante do inciso II e parágrafo único do art. 185 da mesma Constituição, ou melhor dizendo, sem rebuços, não é produtiva a propriedade que, embora tendo exploração econômica, não o faz seguindo, em números clausus, os mencionados incisos do art. 186. Basta que se interprete a Constituição sistematicamente, talqualmente se está fazendo, cum permissa.
Se no plano econômico, um imóvel mostrou-se produtivo (art. 185, II da C.R. de 05.10.88), isso só não basta, mister se faz que também adimpla a função social, sob todos os aspectos do artigo 186, da mesma Lei Fundamental, mais precisamente a produtividade vista dentro do Sistema Constitucional Agrário, Sistema esse, infelizmente, não tisnado e/ou vislumbrado, de modo percuciente, por nenhum jus-agrarista, quer do Direito Pátrio, seja do Direito Comparado (pelo menos até os idos de 2001, até o lançamento do livro Desapropriação, Reforma Agrária e MeioAmbiente – Aspectos Substanciais e Procedimentos - Reflexos no Direito Penal. Ed. Mandamentos, Belo Horizonte, 2001, pelo jusagrarista Weliton Militão dos Santos).
3.2 Direito humano fundamental de propriedade, exclusão da garantia constitucional fundamental pelo inadimplemento da função social
O direito de propriedade, visto em antanhos, sob o prisma privatista do Direito, como direito absoluto, com o evolver dos tempos sofreu as mais reflexivas mutações, sendo relativizado, a exemplo da Constituição de 5/10/1988, que lhe assentam sob os auspícios da função social que for emprestada à propriedade, bastando, para a sua desconsideração, que o proprietário descumpra o seu dever fundamental de dar à terra a sua função social, eis que, a cuja legitimidade, para o exercício dos direitos decorrentes da propriedade, reside na conjugação entre os interesses do proprietário e o interesse da sociedade em que vive.
Fábio Konder Comparato� explicita, em síntese substancial, com toda eloqüência:
A propriedade privada foi concebida, desde a fundação do constitucionalismo moderno, como um direito humano, cuja função consiste em garantir a subsistência e a liberdade individual contra as intrusões do Poder Público. Sob esse aspecto, reconheceu-se que ao lado do direito de propriedade havia também um direito à propriedade. A evolução socioeconômica contemporânea estendeu o conceito constitucional de propriedade privada, bem como alargou funcionalmente o instituto. Doravante, a proteção da liberdade individual e do direito de subsistência já não dependem, unicamente, da propriedade de bens materiais, mas abarcam outros bens de valor patrimonial, como os direitos trabalhistas e previdenciários. Por outro lado, o Direito contemporâneo passou a reconhecer que todo proprietário tem o dever fundamental de atender à destinação social dos bens que lhe pertencem. Deixando de cumprir esse dever, o Poder Público pode expropriá-lo sem as garantias constitucionais que protegem a propriedade como direito humano. Ademais, perde o proprietário, em tal hipótese, as garantias possessórias que cercam, normalmente, o domínio. No campo penal, a querela sobre a existência do crime de esbulho possessório deve ser julgada, também, à luz do dispositivo constitucional que impõe o dever de atender à função social da propriedade.
Relativamente à interpretação sobre a nova idéia de propriedade trazida pela Lei Fundamental de 5/10/88 (inclusive sua fundamentalidade material), tema dantes enfrentado à saciedade, embora já houvesse sido vislumbrada a partir da era tomista, bem ainda pelas encíclicas papais, realçando a argumentação anterior, sobre a propriedade e reforma agrária, de índole jusfundamental, há um caso interessante (ação reintegratória), que assustaria, sobremodo, os conservadores, que estão sempre acometidos de senectude e misoneísmo, trazido para o mundo da praxis, como se vê.
3.2.1 Função social da propriedade vista na prática 
	Enquanto no mundo ético as leis morais não se inspiram na conduta, mas sim no que é pensado, para o direito o mundo do ser deve estar sempre presente, cuja interpretação feita pelo Juiz, como intérprete autêntico do direito, em razão de sua interpretação vinculante ou qualificada, como o direito deve ser pensado, em razão da práxis social (Joseph Esser, Hans Georg Gadamer, Peter Häberle, Habbermas, Ronald Dworkin), insta, por objetividade e concretude, se colacione:	
“PROCESSO N...
Trata-se de Ação de Reintegração de Posse ajuizada por P.P.V., M.P.V., M.PV., PG.V. e PS.P.V. em face da A.T.S.T.C.S.R., com o propósito de serem liminarmente, reintegrados na posse de imóvel rural Fazenda Santa Engrácia Periperi, localizado no Município de Bocaiúva.
Como fundamento de sua pretensão, alegaram os requerentes que o referido imóvel, passou à propriedade dos mesmos em maio de 2002, tendo sido vistoriado pelo INCRA no mês seguinte e, em março deste ano teria sido invadido por integrantes da Associação dos Trabalhadores Sem Terra daquela região. Aduziram, ademais, sem nenhuma comprovação, ou mesmo indícios, que teriam expulsado os empregados da Fazenda, matado alguns animais, demarcado 2000 ha do imóvel, ocupando até mesmo a casa sede, bem ainda estariam praticando atos lesivos ao meio ambiente, tais quais as queimadas indiscriminadas e a retirada para comércio ilegal, de madeiras nobres.
À exordial foram acostados os documentos de fls. 07 usque 59, que não desincumbiram os requerentes do ônus probatório que era seu (art. 333, I, do CPC).
É o breve relatório.
Passo à decidir (art.93, IX, da C.R.).
Está devidamente comprovada a titularidade do domínio pelos Requerentes. Isso só não basta, contudo, data venia. Imprescindível, pois, a comprovação de outros elementos, como v.g., o adimplemento da função social da propriedade (art. 186, da C.R. de 5/10/88), a propósito da qual devem ser interpretados os art. 924, 926 e 928, todos do CPC. 
‘Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: 
I – aproveitamento racional e adequado;
II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente;
III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho;
IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.’
Seria o caso de designação de audiência de justificação (art. 928, caput, parte final do CPC), por isso mesmo. Tudo isso, em razão de os casos de invasão/ocupação de propriedades, por grupos massivos de sem terra, dizer respeito ao Direito de Propriedade, visto sob o prisma publicista do Direito, desgarrando-se do Direito Privado que, ainda hoje, vê o Direito de Propriedade elevado a um grau, nemo non videt, absoluto (frise-se, somente pelo olhar privatista e desarrazoado, data venia).
Contudo, há prova pré-constituída sobre o não cumprimento, pelos proprietários, da função social da propriedade, que é grande e improdutiva (laudo de fls. 55, item 12.1, apud acta), de modo a tornar adiáfora tal medida.
Inexiste, pois, INVASÃO no caso vertente, sim, OCUPAÇÃO de terra improdutiva, permissa venia, como é de ver-se (laudo de vistoria pela improdutividade).
Em razão do descumprimento do dever fundamental do proprietário, como haveria de ser, perde as garantias possessórias, independentemente da indenização total prévia e justa, mais precisamente o princípio ativo da propriedade, que é relativo à posse, registrando-se que, em tais casos, o proprietário que descumpre o seu dever fundamental de dar à propriedade a sua função social decorrente da sua própria natureza não tem o direito ao desforço imediato do art. 502 do Código Civil, de então, nem do art. 1.210, § 1º, do atual C.C.B., já que o § 2º do mencionado artigo, conformado para a função social da propriedade, vislumbrada na hodiernidade (C.R. de 5.10.88), infere não ser o jus in re suficiente, a contrario sensu, para manutenção ou reintegração liminar em alçada possessória, cuja interpretação do art. 928 do Código de Processo Civil, que diz ‘estando a petição inicial devidamente instruída o juiz decidirá liminarmente’, até mesmo neste caso tal artigo deve ser interpretado com os preceitos constitucionais, quando, em regra, não haverá de haver liminar reintegratória ou mesmo para manutenir a posse, initio litis inaudita altera parte, mas tão-somente após a regular instrução, quando teria a certeza de que a propriedade não estaria desviada em sua função social.
Inconfundível, pois, que no Direito romano a propriedade era tida e havida como direito absoluto com veemente aguçamento após a Revolução Francesa, quando os privilégios das classes então dominantes – realeza, nobreza e clero – foram barganhados, pelos ‘ricos novos’, integrantes da classe dominadora – burgueses, comerciantes e industriais –, a demonstrar a real solidez do direito de propriedade, a exemplo do Código Civil francês,em seu art. 544, onde pode ser constatado como um direito plus absolut, embora já na era tomista, segundo essa tradição, a propriedade tenha sido concebida como um direito dirigido aos fins humanitários, como ocorrera, outrossim, com as encíclicas papais. É de consignar que no Direito brasileiro, como é de ver-se adiante, desde as Ordenações do Reino, até mesmo sob a égide constitucional, as Leis Excelsas de 1824 (quadripartidária de Benjamin Constant), de 1891 (dos poderes constitucionais tripartidos de Montesquieu), a propriedade era vista como direito absoluto, tal qual consta do Código Civil Brasileiro de 1916 – incompatível com o hodierno regramento constitucional –, em seus arts. 524 e seguintes, diferentemente do que passou a ser experimentado a partir do advento da Reforma Constitucional de 1926 e da Constituição de 1934, de quando todas as demais, mesmo aquelas elaboradas a manu militari, v.g., aquela de 1937 e aqueloutra de 1967, com a Emenda Constitucional n. 01, de 1969, sobre a qual incidiram várias outras emendas, revestiram-se de atributos, inequivocamente, de interesse social, ou coletivo, bem-estar social decorrente da justa distribuição da propriedade com igual oportunidade para todos, conforme previsão contida na CR de 1946. Tudo, desde então, caminhou, a passos largos, rumo à necessidade de cumprir, a propriedade, a sua função social, de maneira imperativa, haja vista o verbo no futuro compulsório,...’ a propriedade atenderá a sua função social’ (art. 5º, XXXIII, da CR de 5/10/1988), bem, ainda, de maneira extremamente minuciosa, a disposição constante do art. 186, da mesma Lei Fundamental, sobre a maneira de implementar a condição relativa ao cumprimento da função social da propriedade, como que açambarcando o pensamento da doutrina experimentada acá, no Direito pátrio, e alhures, vislumbrada no Direito Comparado.
Para Ismael Marinho Falcão, no Direito pátrio, o princípio constitucional da função social da propriedade, na modernidade, teve seus contornos modificados, eis que:
‘Função social da propriedade
2.1. Origem e fundamento jurídico
O princípio da função social da propriedade, no Brasil, foi introduzido no ordenamento jurídico a partir da Emenda Constitucional n. 10, de novembro de 1964 à Constituição Federal de 1946, modificando, completamente, o conceito de propriedade até então vigente, muito embora noutros países houvesse sido adotado com bastante antecedência. A conseqüência imediata na inovação promovida por essa Emenda Constitucional foi o advento do Estatuto da Terra, que em seu art. 20 preceituou:
‘Art. 2º. É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra condicionada pela sua função social, na forma prevista na lei.’
O estudo desse tema, sem dúvida, exige um posicionamento dúplice: primeiro, atendendo ao posicionamento e à orientação que a seu respeito nos dá o Direito Agrário e, segundo, tendo presente a concepção de posse agrária, mesmo porque ela é, sem dúvida, um instrumento sumamente valioso para realização dos fins econômicos e sociais da propriedade e, também, para a transformação das estruturas agrárias nacionais.
Temos que o princípio da função social não é o caminho aberto para a socialização das terras rurais por parte do Estado, mas, sem dúvida, a fórmula encontrada pela Lei Maior a fim de realizar a reforma agrária sem, no entanto, ferir de morte o princípio secular do direito de propriedade. Limitar esse direito, sim, é conveniência que toda a sociedade exige, por isso, Duguit, enfatizava:
‘... a propriedade não é um direito, é uma função social. O proprietário, é dizer, o possuidor de uma riqueza tem, pelo fato de possuir esta riqueza, uma 'função social' a cumprir; enquanto cumpre essa missão, seus atos de propriedade estão protegidos. Se não os cumpre, ou deixa arruinar-se sua casa, a intervenção dos governantes é legítima para obrigar-lhe a cumprir sua função social de proprietário, que consiste em assegurar o emprego das riquezas que possui conforme seu destino.'
Daí verificarmos que a doutrina da função social da propriedade trás consigo o objetivo primordial de dar sentido mais amplo ao conceito econômico da propriedade, encarando-a como temos afirmando até aqui, como uma riqueza, que se destina à produção de bens, para satisfação das necessidades sociais do seu proprietário, de sua família e da comunidade envolvente, em franca oposição ao velho e arcaico conceito civilista de propriedade. Vê-se, pois, que o conceito de função social está diretamente ligado ao conceito de trabalho, logo, o trabalho erige-se em esteio preponderante para solidificação da propriedade no Direito Agrário, trazendo-nos para a realidade de 'que a terra deve pertencer a quem a trabalhe’.’
Na mesma esteira de entendimento, entoando vozes indiscrepantes, como que afinadas em um mesmo diapasão, estão os juristas:
José Afonso da Silva:
‘... A função social da propriedade não se confunde com os sistemas de limitação da propriedade. Estes dizem respeito ao exercício do direito, ao proprietário; aquela, à estrutura do direito mesmo, à propriedade.
A funcionalização da propriedade é um processo longo. Por isso é que se diz que ela sempre teve uma função social. Quem mostrou isso expressamente foi Karl Renner, segundo o qual a função social da propriedade se modifica com as mudanças na relação de produção. E toda vez que isso ocorrera, houvera transformação na estrutura interna do conceito de propriedade, surgindo nova concepção sobre ela, de tal sorte que, ao estabelecer expressamente que a propriedade atenderá a sua função, mas especialmente quando o reputou princípio da ordem econômica, ou seja: como um princípio informador da constituição econômica brasileira com o fim de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social (art. 170, II e III), a Constituição não estava simplesmente preordenando fundamentos às limitações, obrigações e ônus relativamente à propriedade privada, princípio também da ordem econômica e, portanto, sujeita, só por si, ao cumprimento daquele fim. Pois limitações, obrigações e ônus são externos ao direito de propriedade, vinculando simplesmente a atividade do proprietário, interferindo tão-só com o exercício do direito, os quais se explicam pela simples atuação do poder de polícia.
A norma que contém o princípio da função social da propriedade incide imediatamente, é de aplicabilidade imediata, como o são todos os princípios constitucionais. A própria jurisprudência já o reconhece. Realmente, afirma-se a tese de que aquela norma ‘tem plena eficácia, porque interfere com a estrutura e o conceito da propriedade, valendo como regra que fundamenta um novo regime jurídico desta, transformando-a numa instituição de Direito Público, especialmente, ainda que nem a doutrina nem a jurisprudência tenham percebido o seu alcance, nem lhe dado aplicação adequada, como se nada tivesse mudado’.’
...
José Cretella Jr.:
‘Com a evolução dos tempos, 'hoje a propriedade deixa de ser o direito subjetivo do indivíduo e passa a ser a função social do detentor dos capitais mobiliários ou imobiliários’ (BUZAID, Alfredo. Da ação renovatória, p. XXII, 1958).
Antigamente, bem diversa era a situação. A propriedade, eixo em tomo do qual girava todo o direito das coisas, caracterizava-se pelo seu feitio nitidamente individualista; tratava-se, então, de relação jurídica puramente privada e individual, de caráter sagrado e absoluto. Gradativamente, porém, modificou-se essa concepção egoística e individualista, que logo se tomou obsoleta, graças às tendências fundamentais da civilização atual, que reconheceu e proclamou, urbi et orbi, o predomínio do interesse público sobre o interesse privado (MONTEIRO, Washington de Barros. Direito das coisas. 2. ed., 1955, p. 7-8).
Por um lado, os Códigos Civis proclamam a intangibilidade do domínio; por outro, o direito administrativo rói e devora os direitos do proprietário. Daí, os embaraços torturantes do juristana dedução das fórmulas sobre a realização do direito de propriedade. ‘
...
Celso Ribeiro Bastos:
‘O nosso regime filia-se de forma desenganada ao primado da propriedade. Contudo a sua fruição tem de compatibilizar-se com fins sociais mais amplos. Não é simples estabelecer-se qual a aptidão que um determinado bem possui para a prossecução de interesses sociais. De qualquer sorte o interesse coletivo passa desse modo a fazer parte integrante do regime da propriedade individual. Veja-se a respeito a opinião de Luís de Moncada: 'No conteúdo respectivo enxerta-se o interesse coletivo, bem longe das consecuções que ligavam a proteção da propriedade ao desenvolvimento da personalidade individual, perante a qual a lei constitucional só admitia limites externos tipificados, alheios porém ao seu regime liberal normal. Naturalmente que o peso dos interesses coletivos não é o mesmo para todos os bens sobre que a propriedade incide, mais intenso pois nuns casos do que noutros, como se verá (Direito econômico. 2. ed., Coimbra Editora, p. 153).’
Antônio C. Vivanco, definindo a função social da propriedade,
‘La función social es ni más ni menos que el reconocimiento de todo titular del dominio, de que por ser un miembro de la comunidad tiene derechos y obligaciones con relación a los demás miembros de ella, de manera que si él ha podido llegar a ser titular del dominio, tiene la obligación de cumplir con el derecho de los demás sujetos, que consiste en no realizar acto alguno que pueda impedir u obstaculizar el bien de dichos sujetos, o sea, de la comunidad.
El derecho a la cosa se manifiesta concretamente en el poder de usarla y usufructuarla. El déber que importa o comporta la obligación que se tiene con los demás sujetos se traduce en la necesidad de cuidarla a fin de que no pierda su capacidad productiva y produzca frutos en beneficio del titular e indirectamente para satisfacción de las necesidades de los demás sujetos de la comunidad.’
Louis Josserand, ‘estabelecendo divisor de águas entre, os denominados bens móveis (consumo), portanto renováveis, e os bens imóveis e a praticidade na utilização das diversas categorias de bens, toda voltada para o interesse social, leciona:
Cada categoría de bienes implica una forma de apropiación especial para ella; no se tienen sobre una finca rústica los mismos derechos ilimitados que se ejercen sobre el mobiliario, un libro, un sombrero, un traje; la propiedad de una obra artística es cosa completamente distinta que la de una casa o un cargo; el dominio público del Estado obedece a otros estatutos que los patrimonios privados [...] No hay propiedad, hay propiedades, porque el interés de la sociedad exige que la apropiación de los bienes se sujete a estatutos en armonía con los fines perseguidos, los cuales varían mucho; el derecho de propiedad es uno de los más flexibles y de los más variables que figuran en las diferentes categorías jurídicas; su plasticidad es infinita.’
Raymond Malézieux, fazendo considerações sobre a evolução do conceito de propriedade, a respeito da co-relação entre o direito de propriedade e o dever fundamental para com a propriedade, escreveu:
‘Dans sa conception classique, le droit de propriété confiérait essentiellement des prérogatives à son titulaire. D’importantes transformations conduisent peu à peu à une notion assez différente en vertu de laquelle le propriétaire a non seulement des droits mais également des devoirs. On a pu dire que la propriété, envisagée à l’origine comme une liberté individuelle s'est peu à peu transformée en fônction sociale.’
Domingos Sávio Dresch da Silveira observa a respeito:
...
[...]
3. A efetividade da função social da propriedade
Assentado que a função social da propriedade integra como elemento essencial o conceito jurídico de propriedade, cumpre indagar se tal princípio é auto aplicável ou depende de regulamentação. Por outro lado, impõe-se também a indagação sobre a possibilidade de sua integração através da atuação do Poder Judiciário. Inegavelmente a Função Social da Propriedade é um conceito jurídico com termos indeterminados. Mas tal característica ao contrário de ser um fator de limitação à sua aplicação, constitui-se em elemento de potencialização do instituto.’
Entrementes, na mesma linha de pensamento, nesse pórtico, seguindo a alfombra dantes revestida e perfilada por respeitáveis juristas do mais alto padrão intelectual, de acá e de alhures, vistos no Direito Comparado, Edson Pereira Nobre Júnior, de maneira científico-pragmática, a demonstrar profundo conhecimento do objeto relativo ao tema escolhido, mais precisamente sobre a mudança, na conceituação do que seja direito de propriedade, em síntese histórica, com argumentos revestidos de grande autoridade persuasiva, assim assinalou:
‘Um dos institutos jurídicos que, com o evolver dos tempos, sofreu grande vicissitude foi o da propriedade.
...
Porém, os influxos ditados pelos imperativos da via gregária, voltados à boa utilização do domínio, forçaram a relativização deste direito, traçando-lhe limitações.
Sintonizado com esta tendência, o constituinte de 1988, ao proclamar o bill de direitos do cidadão, além de repetir a fórmula clássica 'é garantido o direito de propriedade' (art. 5º XXII), vinculou, no inciso seguinte, a sua efetividade ao atendimento da respectiva função social (art. 5º XX1II), dito que, mais adiante, tomou a repetir ao cuidar dos postulados da ordem econômica (art. 170, CRFB).’
Mais: o nobre jurista, enlevando o direito de propriedade, com tino certeiro, afirma:
‘Vê-se que não é mais o interesse particular do dominus a peça necessária ao asseguramento da intocabilidade do jus proprietatis. Antes dele, subjaz a supremacia do interesse da coletividade, bússola do Direito Público hodierno.
A legitimidade do exercício do direito de propriedade assenta-se na conjugação entre os interesses do proprietário e os reclamos da sociedade. É preciso, portanto, que a propriedade, para permanecer na mão do seu dono, satisfaça a sua missão social, hoje expressamente indicada pela Constituição em pontos distintos para os imóveis urbanos (art. 182, § 2') e rurais (art. 186, 1 e IV). Olvidando o proprietário a realização da função social do bem que lhe pertence, encontra-se passível de sofrer a intervenção do Estado, titular do domínio eminente sobre todas as coisas existentes em seu território, cuja forma mais drástica consiste na desapropriação, por afetar a essência do direito de propriedade, retirando-a do particular remisso.’
A propósito:
‘6.2.3. Direito fundamental em face do dever fundamental.
Relativamente à cláusula ius et obligatio correlata sunt e à eficácia plena, não somente dos direitos fundamentais, mas, do mesmo modo, os deveres fundamentais, Fábio Konder Comparato salienta:
‘Importa não esquecer que todo direito subjetivo se insere numa relação entre sujeito ativo e passivo. Quem fala, pois, em direitos fundamentais, está, implicitamente, reconhecendo a existência correspectiva de deveres fundamentais. Portanto, se a aplicação das normas constitucionais sobre direitos humanos independe de mediação do legislador, o mesmo se deve dizer em relação aos deveres fundamentais.
Mas qual o conteúdo do dever fundamental ligado à função social da propriedade?’
Continua o mestre elucidando sobre o cumprimento da função social das propriedades rural e urbana:
‘A Constituição brasileira, especificamente em relação à propriedade rural e à propriedade do solo urbano, explicita-o como sendo a adequada utilização dos bens, em proveito da coletividade. O art. 182, § 2º, dispõe que a propriedade urbana cumpre função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade, expressas no plano diretor, sendo que uma lei específica poderá exigir do proprietário de terreno não-edificado, subutilizado ou não-utilizado, incluído em área abrangida pelo plano diretor, que promova seu adequado aproveitamento,sob pena de aplicação sucessiva de três sanções (§ 4º). No art. 187, dispõe-se que a função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I – aproveitamento racional e adequado; II – utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III – observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV – exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.’ (SANTOS, Weliton Militão dos. Desapropriação, reforma agrária e meio ambiente: aspectos substanciais e procedimentos – Reflexo no Direito Penal. – Belo Horizonte: Mandamentos, 2001, p. 77/8). 
Tal mutação, experimentada no Direito brasileiro, em conformidade com o Direito Comparado, mais precisamente no que pertine ao dever fundamental, imposto pelo Texto Excelso no sentido de o direito de propriedade estar condicionado ao cumprimento da função social da propriedade, por aquele que dela se assenhorou, teve reflexos multifários em todos os campos do conhecimento, inclusive do Direito, notadamente no Direito Civil – dentre todos os demais ramos do Direito –, cujos conceitos privatistas remontam, do Direito romano ao Código de Napoleão, de 1808, onde se via o direito de propriedade como, em verdade, quase que absoluto, a depreender-se dos arts. 502 e 524 e seguintes do Código Civil brasileiro, o de então, o primeiro relativo ao desforço imediato, objurgado pelo dever fundamental do cumprimento da função social da propriedade, portanto, hodiernamente, abnóxio, no caso do inadimplemento do dever fundamental; já o referido art. 524 e seguintes da Lei Substantiva, então vigente, como é de ver-se, com preceitos assaz cediços, tal qual o jus utendi, fruendi, abutendi e da reivindicatio, autorizativos de que o proprietário pudesse usar o seu bem como melhor lhe conviesse, aliená-lo e reavê-lo do poder de quem o detivesse, ilegalmente, tais dispositivos encontram-se diante do Direito Constitucional atual, de aplicação condicionada ao uso adequado da propriedade nos lindes do art. 186 da Lei Fundamental, condição sine qua, não poderão ser exercidos. Na atualidade, o novo C.C.B. coerente com a disposição constitucional, sobre a propriedade, acrescentou 0 § 2º, ao art. 1.210 (correspondente ao art. 502), imperando não ser a propriedade o bastante para empecer a reintegração, ou manutenção, de modos que, por óbvio, também não o será, para, per se, justificar a concessão de liminar initio litis inaudita altera parte, data venia.
O direito de propriedade, visto em antanhos, sob o prisma privatista do Direito, como direito absoluto, com o evolver dos tempos sofreu as mais reflexivas mutações, sendo relativizado, a exemplo da Constituição de 5/10/1988, que lhe assentam sob os auspícios da função social que for emprestada à propriedade, bastando, para a sua desconsideração, que o proprietário descumpra o seu dever fundamental de dar à terra a sua função social, eis que, a cuja legitimidade, para o exercício dos direitos decorrentes da propriedade, reside na conjugação entre os interesses do proprietário e o interesse da sociedade em que vive.
Fábio Konder Comparato explicita, em síntese substancial, com toda eloqüência:
A propriedade privada foi concebida, desde a fundação do constitucionalismo moderno, como um direito humano, cuja função consiste em garantir a subsistência e a liberdade individual contra as intrusões do Poder Público. Sob esse aspecto, reconheceu-se que ao lado do direito de propriedade havia também um direito à propriedade. A evolução socioeconômica contemporânea estendeu o conceito constitucional de propriedade privada, bem como alargou funcionalmente o instituto. Doravante, a proteção da liberdade individual e do direito de subsistência já não dependem, unicamente, da propriedade de bens materiais, mas abarcam outros bens de valor patrimonial, como os direitos trabalhistas e previdenciários. Por outro lado, o Direito contemporâneo passou a reconhecer que todo proprietário tem o dever fundamental de atender à destinação social dos bens que lhe pertencem. Deixando de cumprir esse dever, o Poder Público pode expropriá-lo sem as garantias constitucionais que protegem a propriedade como direito humano. Ademais, perde o proprietário, em tal hipótese, as garantias possessórias que cercam, normalmente, o domínio. No campo penal, a querela sobre existência do crime de esbulho possessório deve ser julgada, também, à luz do dispositivo constitucional que impõe o dever de atender à função social da propriedade.
Em razão do exposto, urge fique compreendido que:
‘5. AÇÃO POSSESSÓRIA (MANUTENÇÃO/REINTEGRAÇÃO) – SERIA CABÍVEL? – LIMINAR (IMPOSSIBILIDADE?)
Contundentes têm sido as batalhas judiciais travadas a respeito. Tais ações representam, como é de salientar-se, verdadeiro bálsamo para os proprietários de terras ocupadas por grupos massivos de trabalhadores rurais sem terra. É que, estes últimos são tratados, com raras exceções, como simples invasores, numa visão privatista do direito, bastando a exibição de documento comprobatório do domínio, para que seja concedida liminar reintegratória. Os ocupantes sustentam a inocorrência de invasão, ou de qualquer injustiça no ato de ocupação, mormente em caso de inadimplemento da função social da propriedade. Há controvérsia sobre o cabimento de tais ações possessórias pelos proprietários de grandes latifúndios improdutivos, já que, sendo eles senhores e possuidores dos imóveis nos quais é pretendida a manutenção, ou a reintegração, em razão de título de domínio, portanto detentores de jus in re, a estes assistiria direito público subjetivo à reivindicatio¸ de modo a vergastar o direito ao manejo de ação possessória, à ausência de posse direta decorrente do abandono. Acirrados debates foram vislumbrados, outrossim, no que pertine à exceptio dominii, após o advento da Lei 6.820/80, que revogou a Segunda parte do art. 923, do Código de Processo Civil, mormente em razão de semelhante Segunda parte do art. 505 do Código Civil Brasileiro, a respeito do que foi editada a Súmula n. 487 do Pretório Excelso, espancando a problemática trazida a calvo.
Conquanto houvesse, em antanhos, acesas controvérsias, provocadas por acirradas discussões em doutrina e jurisprudência, dúvidas não mais subjazem, mormente no sentido de que o detentor do jus dominii também poderá utilizar os meios assecuratórios da posse, mais precisamente ações possessórias, pelo menos, quando atingido em sua posse direta. Há, pois, dúvida se ao possuidor indireto, que não acumule à posse indireta, decorrente do domínio, aqueloutra (direta) poderia utilizar as ações possessórias, inclinando a jurisprudência a não fazer nenhuma distinção, quandoque acompanhada pela literatura.’ (Obra citada, p. 494/5)
‘Situação especial – Tratamento peculiar
Urge, pois registro com tintas, não apenas indeléveis, mas vermelhas, cum permissa, o fato de que a situação trazida a lume, vista nos dias hodiernos, de modo a varar as fronteiras do País e espalhar para o mundo, não pode ser tratada como uma simples ‘invasão’ de um empregado de um lindeiro à propriedade contígua, ou contínua, do vizinho, tudo a fazer crer, à evidência, mesmo sem maiores esforços, que, até pelo critério utilitário, haveria de dar azo ao princípio – maior da Justiça (hoje consagrado como o da igualdade), para considerar a ocupação por grupos que lutam pela terra,..., como caso típico de perda (perene) da posse, de modo a inviabilizar o perdedor e a ter, na melhor das hipóteses, que aguardar regular processamento do feito pelos sossegados e ordinários tramites da ação cognitória, tudo isso a levar à conclusão inequívoca de que, em casos de grita candente pela terra, comprovada em cada caso específico, nemo non videt, não haverá de mostrar-se cabível a concessão de liminar, em ação reintegratória, initio litis, inaudita altera parte, ainda quando seja cabível esta ação, caso contrário estar-se-iaa descumprir preceitos do devido processo legal.’
(Obra citada – p. 498/9)
Não se está, cum permissa, diante de nenhuma invasão, conquanto poder-se-ia admitir que a grande propriedade improdutiva esteja ocupada, sem qualquer possibilidade de se admitir que a conduta de grupos massivos de sem terra com a ocupação de terra improdutiva pudesse subsumir-se à hipótese de incidência criminal prevista no art. 161, § 1º, II, do C.P., eis que:
‘... nunca a repressão desordenada,..., ou mesmo os ataques inopinados de ‘capatazes vigilantes’, nem de ‘pistoleiros’ mascarados de ‘colonos’, ou de ‘vigias’, podem ser aceitos, já que ao Estado compete manter a ordem, sem necessitar, com isso, de agredir Direitos Fundamentais. Nem se diga que o proprietário poderia fazê-lo – usando do desforço imediato – já que o retrógrado permissivo legal (art. 1.210, § 1.º do Código Civil Brasileiro), não mais haverá de prevalecer, na fase atual, a hipótese de incidência criminal (tipicidade) do art. 161, § 1º, II, CP, (esbulho possessório) – posição que vem de ser consolidada pelo STJ – em face do novo conceito de propriedade contido na atual Constituição, erigido a partir da era tomista, inclusive nas encíclicas papais, e nela consolidado.’
(Obra citada, p. 484-485)
FUNDAMENTOS PELOS QUAIS, hei por bem indeferir a liminar pedida, tudo como argumentado retro. Ordeno, pois, o adimplemento dos arts. 930 e 931, do Digesto.”
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� Institutos básicos de direito agrário, p. 46.
� Curso de direito agrário, p. 107.
� Direito agrário brasileiro, p. 38.
� As Terras devolutas na reforma agrária, p. 61.
� Cf. como assinalou p clássico Fustel de Coulanges, “há três coisas que, desde os tempos antigos, se encontram fundadas e estabelecidas solidamente nas sociedades grega e italiana: a religião doméstica, a família e o direito de propriedade” (A Cidade Antiga, livro segundo, cap. VI, 8. ed., Lisboa, p. 84).
 
� Política, livro I.
� BORDES, Jacqueline. Politéia dans la pensée grecque jusqu’à Aristot, p. 437.
� Política, 1274b, 1.
� Política, 1276b, 25.
� Política, 1295b 1-2.
� Cf. KASER, Max. Das Römische Privatrecht. Primeira Parte, das altrömische, das vorklassische und Klassische Recht apud TEIJEIRO, Jose Santa Cruz. Derecho Romano Privado, p. 125-127.
� Cf. BONFANTE, Pietro. Corso di diritto romano. La proprietà, v. 2, p. 243 e ss.
� ROSSEAU, Jean-Jacques. Oeuvres complètes, III, p. 483.
� CONSTANT, Benjamin. Príncipes de Politique. Cap. VI. In: Oeuvres. Gallimard: Bibliothèque de la Pléiade, 1957. p. 1.146/1.147.
� A constituição italiana de 1947 reconheceu esse direito fundamental, ao dispor que a lei regulará a propriedade com a finalidade de torná-la acessível a todos. (art. 42, 2ª alínea).
� BADURA. p. 655-656; NUSSGENS, Karl; BOUJONG, Karlheinz. Eigentum, Sozialbindung, Enteignung, n. 141.
� Em sentido contrário: HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal, v. 7, n. 40.
� HUNGRIA, Nelson. Comentários ao código penal, v. 7, n. 40.
� SANTOS, Weliton Militão dos. Desapropriação, reforma agrária e meio ambiente: aspectos substanciais e procedimentos – Reflexo no Direito Penal, p. 352-353.
� SANTOS, Weliton Militão dos. Desapropriação, reforma agrária e meio ambiente: aspectos substanciais e procedimentos – Reflexo no Direito Penal, p. 364-365.
� SANTOS, Weliton Militão dos. Desapropriação, reforma agrária e meio ambiente: aspectos substanciais e procedimentos – Reflexo no Direito Penal, p. 367-369.
� COMPARATO, Fábio Konder. Direitos humanos: conquistas e desafios.
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