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0 DIREITOS REAIS – PROPRIEDADE – Trabalho da disciplina Direito das coisas; do curso de Direito, 5º período, polo Serra Talhada. Docente: Hélio Júnior Discentes: Ana Cláudia Alves de Barros - MATRÍCULA 01477778; Gabriela Cláudia de Moura Lima – MATRÍCULA 01495383; Ially keyla de Souza Carvalho - MATRÍCULA 01471464; Ilka Gieselle Pereira Gonçalves de Lima - MATRÍCULA 01432361; Ivanessa Jakeliny Cordeiro - MATRÍCULA 01477422; Jamily Kawany Alves Beserra, - MATRÍCULA 01512743; Kivia Kawanny da Silva Souza - MATRÍCULA 01431838; Maria Gizelma Silva Pereira Magalhães - MATRÍCULA 01486786; Vitória Régia dos Santos Franklin - MATRÍCULA 01471145. Serra Talhada - PE Maio – 2023 1 SUMÁRIO PROPRIEDADE ▪ Conceito ------------------------------------------------------2 ▪ Fundamentos Jurídicos -----------------------------------3 ▪ Elementos Constitutivos ---------------------------------11 ▪ Características ----------------------------------------------16 ▪ Evolução do direito de propriedade -------------------19 ▪ Função Social ------------------------------------------------23 ▪ Limitação ao exercício do direito de propriedade --25 ▪ Referências ---------------------------------------------------32 2 DIREITOS REAIS DA PROPRIEDADE EM GERAL CONCEITO DE PROPRIEDADE: A propriedade é um direito real, sendo o mais completo dos direitos das coisas. Trata-se de um direito fundamental, protegido no Art. 5º inc. XXII da Constituição Federal de 1988. Esse direito é um bem resguardado pela Constituição em que a intervenção estatal deverá ser mínima, contundo, existe casos em que o poder público se utilizará do seu poder de comando, principalmente em casos em que a sociedade não cumprir com sua função social. Definido pela maior editora de dicionários do mundo, a Oxford Languages designa a propriedade como substantivo feminino, qualidade inerente aos seres, atributo especial; faculdade, caráter, característica, pertença ou direito, legal de possuir (algo), porção considerável de terra com tudo que existe nela, pertencente a um dono; fazenda, herdade, quinta, imóvel pertencente a alguém, coisa possuída com exclusividade, direito de usar, gozar e dispor de um bem, e de reavê-lo do poder de quem ilegalmente o possua. Seguindo o mesmo raciocínio, o conceito de propriedade sempre foi objeto de estudo dos civilistas das diversas gerações, abaixo temos alguns trechos de doutrinadores civilistas: Segundo Maria Helena Diniz define a propriedade como sendo o direito que a pessoa física ou jurídica tem dentro dos limites normativos, de usar, gozar e dispor de um bem corpóreo ou incorpóreo, bem como de reivindica-lo de quem injustamente o detenha. Segundo Clóvis Beviláqua conceitua a propriedade como sendo o poder assegurado pelo grupo social à utilização dos bens da vida física e moral. Dando sentindo amplo ao conceito, Álvaro Vilaça Azevedo afirma que: “A propriedade, é, assim, o estado da coisa, que pertence, em caráter próprio e exclusivo, a determinada pessoa, encontrando-se em seu patrimônio e à sua 3 disposição”. O direito de Propriedade é a sujeição do bem à vontade do proprietário, seu titular. Mas, o que de fato é uma Propriedade? Propriedade é o direito real que dá a uma pessoa o domínio de um bem, em todas as suas relações, expandido também ao direito de usar, gozar e dispor. Ao proprietário também é dado o direito de reaver a coisa caso alguém venha a tomar posse de forma injusta. Função social da propriedade e direito a cidadania. Atualmente o código civil brasileiro, define Propriedade conforme o art. 1.228: “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. ” FUNDAMENTOS JURI'DICOS DA PROPRIEDADE: Ao estabelecer o constituinte (art. 5º, caput) que a propriedade constitui uma garantia inviolável do indivíduo, elevou-se a instituição da propriedade à condição de garantia fundamental. O inciso XXII do mesmo artigo, por seu turno, preceitua: é garantido o direito de propriedade. O art. 170, ainda, insere a propriedade privada entre os princípios da ordem econômica. 4 Leal (2012) pontua que, mesmo assim, a exemplo de diversos direitos fundamentais, o direito de propriedade comporta limitações e abrandamentos em sua aplicação em nome de outros valores também tutelados pelo texto constitucional. Desse modo, eventual abrandamento, restrição ou privação da propriedade somente é admissível se houver inequívoco fundamento na Constituição. No direito positivo brasileiro, a propriedade possui um regime jurídico constitucional e infraconstitucional integrado por institutos de direito material e processual para a propriedade e todas as suas manifestações. Destaca França (2001) que: O regime jurídico da propriedade não se restringe às normas de direito civil, compreendendo sim todo um complexo de normas administrativas, ambientais, urbanísticas, empresariais, e, evidentemente, civis, fundamentado nas normas constitucionais. A literatura brasileira moderna, com base na doutrina alemã, defende que o conceito de propriedade não deve ser visto de forma estrita, ou seja, abrangendo apenas a propriedade móvel e imóvel, mas também a abranger as relações patrimoniais como um todo, incluindo, assim, hipotecas, penhores, direitos autorais, de marcas e patentes, previdenciários, sejam relações fruto do direito privado, ou mesmo, do direito público. Para Gilmar Mendes (2008), o direito de propriedade, ao contrário do direito à vida ou à liberdade de ir e vir, por exemplo, não pertence à natureza do ser humano, tendo na ordem jurídica a instituição direta e expressa do seu âmbito de proteção. É a Constituição Federal que dá a tal direito o status de garantia institucional, sendo uma norma auto executável, mas cujo conteúdo está definido em lei. 5 Com o passar dos anos, diante de todos os anseios sociais por uma justa distribuição de riquezas e, ainda, pela necessidade social de que o Estado interviesse nessas questões, norteando toda a legislação infraconstitucional, o direito de propriedade deixou de ser absoluto para se tornar relativo, foi o que demonstrou o Código de 2002, que trouxe ao direito de propriedade conotações diferentes, impregnadas de noções de sociabilidade e solidariedade. Além de fenômeno natural e social a propriedade apresenta fundamentação legal como explanado anteriormente, a priori na Constituição Federal de 1988, e posteriormente no Código Civil e Código Penal. Uma das mais significativas alterações promovidas pelo novo Código Civil, no âmbito do direito da propriedade, refere-se à forma de aquisição estabelecida nos §§ 4° e 5° do art. 1.228, que não encontra paradigma na legislação pátria anterior. Cuida-se de modalidade aquisitiva absolutamente sui generis, pela qual certo número de pessoas (possuidores), preenchendo os requisitos da lei, passa a ter “direito de adquirir” imóvel alheio mediante pagamento de justa indenização, sempre sob a necessária e imprescindível intervenção judicial. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa- fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas,e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. 6 Dessa forma, toda a legislação também fora adaptada à nova realidade, de forma que o direito de propriedade ficasse sempre delimitado pelo cumprimento da função social, conforme se depreende da leitura do art. 1.228, §§1º e 2º do CC: Art. 1.228. (...) § 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. § 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las. Este novo tipo de direito real, que recebeu a denominação de Direito de Laje, está relacionado a um bem imóvel e ao uso do espaço aéreo sobre ele, mas não se limita apenas a esta característica básica, pois é obrigatório para sua configuração que possua acesso independente para a via pública. De fato, este novo direito sobre imóvel, de modo algum se confunde com qualquer outro tipo, principalmente com o maior de todos, a propriedade plena. O artigo 1229 do Código Civil, ao definir com absoluta precisão o alcance e os limites do direito de propriedade é especialmente esclarecedor sobre o tema em análise. A propriedade imóvel corresponde a uma garantia jurídica sobre uma 7 fração específica da superfície do planeta, um espaço físico delimitado no solo, mas que a ele não se limita. O proprietário do imóvel também possui direitos garantidos sobre o subsolo e o espaço aéreo, mas com as limitações impostas pelo referido dispositivo legal. Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial. Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a outrem. 8 Os artigos a seguir nos falam do fenômeno da descoberta e, por consequência, da recompensa, prevista em Seção específica do Código Civil dentro do Livro III, o qual trata do “direito das coisas”, compreendendo os artigos 1.233 a 1.237 do aludido ato codificado. Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor. Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a coisa achada à autoridade competente. O artigo 1.233 do Código Civil de 2002 é bem explícito em seu caput quando expõe que “quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor”, lembrando, em seu parágrafo único, que o descobridor, para assim ser reconhecido, deve procurar o dono ou possuidor da coisa; não o encontrando, deve entregá-la à autoridade competente. Tartuce, lembra que o descobridor é guiado pela boa-fé para realizar estes passos em busca do real dono ou possuidor do bem. A presente legislação civil, entretanto, realizou uma alteração e retirou deste instituto o caráter de aquisição de propriedade da coisa, visto que, “descoberta não é modo de adquirir a propriedade, uma vez que o descobridor não pode conservar para si o objeto extraviado, tendo a obrigação de restituí-lo”. Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. 9 Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de ambos. A todo aquele que, nos moldes do já citado artigo 1.233 do Código Civil, for descobridor de coisa alheia, restituindo-a a seu dono ou possuidor ou entregando- a à autoridade competente para restituir, faz jus, caso o possuidor ou dono não opte por abandoná-la, a uma recompensa no valor mínimo de 5% (cinco por cento) do valor total da coisa restituída, bem como imbui-se no direito de cobrar os valores gastos com a conservação e transporte do bem achado, conforme dispõe o caput do artigo 1.234 do Código Civil de 2002. Tartuce, inclusive, lembra que “a recompensa deve ser fixada com equidade, cabendo análise caso a caso pelo juiz da causa onde ela será fixada”. Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo. Conforme disposição normativa do artigo 1.235 do Código Civil, o descobridor da coisa perdida será responsabilizado pelos prejuízos gerados ao proprietário ou possuidor legítimo do bem, desde que tenha agido com dolo. A configuração deste elemento é indispensável para que a culpa possa ser atribuída ao descobridor, sendo a imprudência, negligência ou imperícia insuficientes para responsabilizar o restituidor da coisa. Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. 10 Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e, deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido. Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou. O Código penal também trouxe considerações resguardando a propriedade mediante responsabilização criminal de quem atenta contra a titularidade dos bens imóveis. O Código Penal destina espaço próprio, justamente no Título Dos Crimes Contra o Patrimônio, dentro deste, há destaque à defesa da propriedade imobiliária no artigo 161 do Código Penal, que inaugura o Capitulo Da Usurpação ao estabelecer criminosa a conduta de “suprimir ou deslocar”, total ou parcialmente, tapumes, marcos ou sinais indicativos de linhas divisórias de coisa imóvel alheia. O ato de suprimir se materializa com a conduta de retirar, de apagar, de eliminar, sendo o de deslocar a ação de mover, levar a outro local, mudar demover. São considerados tapumes as sebes vivas, cercas aramadas ou de madeira, enquanto o marco pode ser considerado um objeto ou um acidente geográfico empregado na identificação dos limites de um território, de uma propriedade imobiliária. Ao final o legislador também trata de admitir o indevido manejo de qualquer outrosinal indicativo da extensão ou limites da propriedade, como suficiente para a configuração do crime. 11 Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em parte, de coisa imóvel alheia: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS: Os elementos constitutivos da propriedade correspondem aos direitos essenciais que integram a relação jurídica que se estabelece entre o proprietário e a coisa, quais sejam usar, gozar, dispor e reivindicar, conforme dispõe o art. 1.228, caput, do Código Civil de 2002. • DIREITO DE USO DA COISA (jus utendi): Art. 1.412. O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. § 1 o Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. § 2º As necessidades da família do usuário compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu serviço doméstico. Art. 1.413. São aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. 12 Faculdade de usar: Esta faculdade de usar da coisa é atrelada ao efetivo proveito que o proprietário tem em relação a coisa, ou seja, o usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. Tal poder concerne ao proprietário a faculdade de servir-se da coisa e utilizar da maneira que entender mais conveniente, sem, no entanto, alterar a substância. O direito de uso pode constituir-se sobre qualquer tipo de bem suscetível de uso, seja móvel, imóvel, material ou imaterial. Podem ser titulares do direito de uso tanto pessoas físicas como jurídicas. É um direito personalíssimo, que não pode ser alienado nem arrendado, nem pode ser objeto de hipoteca. Nisso, o direito de uso é mais limitado que o usufruto, pois o usuário pode servir-se dos frutos (tudo aquilo que pode ser produzido a partir de uma coisa, sem alterar nem diminuir-lhe a substância) no limite das suas necessidades e de sua família e somente de maneira direta. Um usufrutuário pode ceder, alugar ou arrendar a coisa, enquanto que o usuário não pode fazê- lo. • DIREITO DE GOZAR OU USUFRUIR (jus fruendi): Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. § 1o O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pessoa_jur%C3%ADdica https://pt.wikipedia.org/wiki/Aliena%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Arrendamento https://pt.wikipedia.org/wiki/Hipoteca https://pt.wikipedia.org/wiki/Usufruto https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cess%C3%A3o&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Loca%C3%A7%C3%A3o 13 § 2o São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. § 3o O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público iminente. § 4o O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. Faculdade de gozar: Esta faculdade significa que o proprietário tem o direito de fruir da coisa para o seu divertimento econômico. Importante ressaltar que o direito de propriedade não exige o uso. O uso é uma faculdade. Mesmo que o proprietário não use, não se perde a propriedade. Gozar: significa que o proprietário pode retirar da coisa as suas utilidades econômicas, como, por exemplo, os frutos naturais, industriais e civis, além dos produtos. Os direitos reais de gozo ou fruição são situações reais em que há a divisão dos atributos relativos à propriedade ou domínio (propriedade restrita ou limitada). Como o próprio nome indica, transmite-se a outrem o atributo de gozar ou fruir a coisa, com maior ou menor amplitude. Vale ainda dizer que os direitos de usar, fruir e dispor integram o domínio e se transmitem a terceiros, apesar da propriedade remanescer com o seu titular. 14 • DIREITO DE DISPOR DA COISA (IUS DISPONENDI): Trata-se da faculdade que abrange os atos de vender, doar, testar, hipotecar, alienar fiduciariamente, até jogar fora ou picar em pedacinhos, enfim. Ressalte- se que nem sempre é possível ao proprietário abandonar o bem ou destruí-lo, uma vez que estas condutas podem caracterizar atos antissociais. Em suma, dispor da coisa é a faculdade de transferir a coisa, gravá-la de ônus e aliená- la a outrem a qualquer título. • DIREITO DE REIVIDICAR A COISA (ius vindicandi): Direito de reivindicar a coisa contra quem injustamente a possua ou a detenha. Esse direito será exercido por meio de ação petitória, fundada na propriedade, sendo a mais comum a ação reivindicatória, principal ação real fundada no domínio (rei vindicatio). Nessa demanda, o autor deve provar o seu domínio, oferecendo prova da propriedade, com o respectivo registro e descrevendo o imóvel com suas confrontações. A ação petitória não se confunde comas ações possessórias, sendo certo que nestas últimas não se discute a propriedade do bem, mas a sua posse. Prevalece o entendimento de imprescritibilidade dessa ação (por todos: STJ, REsp216.117/RN, 3.ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 03.12.1999, DJ 28.02.2000, p.78). O caput do art. 1.228 do CC possibilita expressamente que a ação reivindicatória seja proposta contra quem injustamente possua ou detenha a coisa. O exemplo típico envolve a ação proposta contra um caseiro, que ocupa o imóvel em nome de um invasor (injusto possuidor). Pois bem, levando-se em conta os seus atributos, didaticamente, a propriedade pode ser entendida como um recipiente cilíndrico, ou como uma garrafa, a ser preenchido por quatro camadas, que são os atributos de Gozar, Reaver, Usar, Dispor. São quatro atributos que estão presos ou aderidos à propriedade, o que justifica a utilização do acróstico GRUD. 15 O desenho a seguir demonstra bem essa simbologia: Nota-se pela simbologia que se determinada pessoa tiver todos os atributos relativos à propriedade, terá a propriedade plena (G + R+ U + D). Se tiver pelo menos um dos atributos, haverá posse. 16 CARACTERISTICAS DA PROPRIEDADE: A propriedade apresenta algumas características que são enumeradas de forma uniforme pela doutrina, ou seja, trata-se de um direito: a) absoluto; b) exclusivo; c) perpétuo; d) ilimitado. a) Caráter absoluto: A propriedade é um direito absoluto na medida em que o proprietário tem o mais amplo poder jurídico sobre aquilo que é seu. Nela estão insertos todos os atributos dos direitos reais. Se assim o é, a partir dela surgem todos os demais direitos reais, conforme dito alhures. Como a propriedade é o direito real de usar, gozar, dispor e reivindicar a coisa, todos os outros direitos podem ser extraídos do direito de propriedade,onde se concentram os atributos. De fato, destacados, passam a configurar outro direito real, como, por exemplo, o usufruto, que é o direito de uso e gozo extraído do direito de propriedade, despido, entretanto, dos atributos da disposição e da reivindicação. b) Caráter exclusivo: A propriedade possui, também, a característica de ser um direito real exclusivo já que a propriedade de um afasta a propriedade do outro, sendo que uma coisa não comporta dois proprietários por inteiro. O condomínio não elide a exclusividade. Essa característica significa que não são admitidas duas pessoas 17 proprietárias, autonomamente e ao mesmo tempo, da inteireza da coisa. Todavia, o direito de propriedade pode ser exercido em relação a partes ideais – em condomínio – e o direito que recai sobre a coisa é apenas um, não maculando a característica sub exame. c) Caráter perpétuo: A propriedade é considerada, também, um direito perpétuo, o que se afirma em razão de só se extinguir pela vontade do dono ou de disposição legal. De fato, a propriedade existirá independentemente do seu exercício por quem de direito. Tornando-se proprietário, o direito do titular só deixará de existir no caso de constituição de uma situação geradora de um benefício a outrem, benefício esse que deve ser entendido como um ato de aquisição. Por exemplo: se houver uma invasão, e o invasor possuir o imóvel pelo prazo suficiente para usucapi-lo (que varia de acordo com a modalidade), haverá uma situação nova, geradora de um direito que concorre em benefício de outrem, sendo este um ato de aquisição (prescrição aquisitiva). Não é a inércia do titular, por si só, que leva à perda da propriedade, mas, sim, a inércia associada à ação de um terceiro. Nem sempre a propriedade é perpétua, o que se afirma na medida da existência da propriedade perpétua e da propriedade resolúvel. A propriedade perpétua é aquela que não possui termo final e só se extingue caso ocorra uma situação geradora de um benefício a outrem, benefício este que deve ser entendido como um ato aquisitivo, ou então em face da lei. A propriedade resolúvel, por outro lado, é aquela que se resolve, ou seja, tem um dia certo de término por exemplo, essa data pode ser estabelecida pelas partes no caso da retrovenda, cláusula inserta nos contratos mediante a qual defere-se ao vendedor, em prazo não superior a três anos, direito de readquirir a coisa; entretanto, após o termo a quo sem o exercício da opção, a propriedade passa a ser perpétua. 18 É o caso também da alienação fiduciária de bem imóvel, regulada pela Lei 9.514/1997, que torna a propriedade do credor resolúvel, ou seja, o credor é proprietário até que o devedor pague a dívida. Com o pagamento, a propriedade do credor se resolve. A alienação fiduciária vem tratada em capítulo específico ao qual remetemos o leitor. d) Caráter ilimitado: Mas também se diz que a propriedade é um direito real ilimitado porquanto permitiria ao proprietário fazer com a coisa que lhe pertence o que bem entender e o que melhor lhe aprouver. É que a propriedade pode ser plena ou limitada e, demais disso, está pautada pela função social. Diz-se que é plena quando estiverem concentrados todos os atributos da propriedade (uso, gozo, disposição e reivindicação), ou seja, quando o proprietário enfeixa em suas mãos todas as prerrogativas que constituem o conteúdo do direito. Será limitada aquela despida de algum ou alguns dos seus atributos ou que sofra limitações a esses atributos. Supondo, para ilustrar, que o proprietário retire o uso e o gozo (fruição) e transfira-os ao seu filho. Embora continue sendo proprietário, o será de forma limitada (nu-proprietário). Manterá o direito de alienar a coisa e de reivindicá-la de terceiros, e o seu filho terá o usufruto (uso e fruição), que não se extinguirá com a eventual alienação. O nu-proprietário tem a posse indireta e o usufrutuário, a posse direta. Sendo assim, ao nu-proprietário tanto se admite o interdito possessório em face da posse indireta, quanto a ação reivindicatória em razão de sua propriedade, embora limitada. 19 Por outro lado, o usufrutuário somente poderá invocar os interditos possessórios além da legítima defesa da posse (com os requisitos do desforço imediato e meios necessários). Todavia, se decorrer ano e dia, o eventual esbulhador adquire a posse, que passa a ser justa e, nesse caso, só o proprietário poderá ingressar com o interdito (no exemplo, reintegração de posse), sem possibilidade de reintegração liminar, ou então optar pela ação reivindicatória fundamentada na propriedade que mantém, embora limitada. O caráter ilimitado ou pleno da propriedade decorre, portanto, de suas características, posto que, se o direito é ilimitado, o é porquanto exclusivo perpétuo e principalmente absoluto. Ocorre que hoje a lei restringe este direito, em tese ilimitada, seja em razão de limitações específicas, seja através da função social da propriedade. EVOLUÇÃ O DO DIREITO DE PROPRIEDADE: Dentre os direitos reais, o direito de propriedade é o mais completo e importante, visto que o proprietário possui a faculdade de usar, gozar, dispor e ainda reivindicar a coisa de quem injustamente a detenha. A raiz histórica da propriedade encontra-se no direito romano, segundo o qual a propriedade estava ligada a três instituições: a família, a religião doméstica e o direito de propriedade. Acerca do tema, Nader (2016, p. 127), aborda que: cada família possuía o seu próprio deus, instalado em altar para ser adorado em caráter permanente. Havia uma relação muito forte entre a família, o seu deus e o solo ocupado, não se cogitando de mudança de lugar, salvo por motivos excepcionais. O imóvel era considerado propriedade da família e não de qualquer um de seus membros. O culto aos deuses se fazia no recesso dos lares e apenas pelos membros das famílias. Como nenhum estranho podia presenciar a adoração, as casas eram separadas por muros de pedras, paliçadas ou sebes. Quanto aos túmulos, igual cuidado era dispensado. Os membros de uma família deviam ser enterrados no mesmo local, enquanto que a área ocupada se tornava inalienável e imprescritível. 20 ➢ CURIOSIDADES A propriedade do solo só podia ser adquirida por cidadão romano, em razão dos rituais religiosos e dos cultos aos mortos, uma vez que as famílias cultuavam seus antepassados (FIUZA, 2016, p. 562). Com a Revolução Francesa, em 1798, o direito à propriedade passou a ser natural, ilimitado e individualista. Entretanto, no século XX, com o avanço do socialismo, o exercício ao direito à propriedade passou a se subordinar ao atendimento da função social, deixando de ser um direito individual e egoísta para se adequar ao interesse público. No ordenamento jurídico brasileiro, a propriedade é protegida como direito fundamental desde a Constituição do Império até a Carta Magna de 1937. Foi a partir da Constituição Federal de 1946 que a propriedade foi condicionada ao bem-estar social. Nas Constituições Federais de 1967, 1969 e na atual, de 1988, a propriedade tem o cunho social, e o exercício do direito à propriedade é limitado, ou seja, ao mesmo tempo em que a Constituição protege a propriedade, determina que seu uso atenda à função social. A lei das Sesmarias vingou no Brasil no século XVI após a ocupação territorial por meio das Capitanias Hereditárias. Trata-se de um documento no qual determinava quais eram os critérios para a divisão dessas terras e como iriam ser os impostos cobrados a partir dela. Toda essa distribuição de terras passava pela legitimação da Igreja, que por ventura também era responsável por registrar certidões de nascimentos, casamentos e registros de compra e venda de qualquer propriedade. Essa foi uma forma de assegurar que os territórios que foram concedidos eram em nome deDeus e se acaso não quisessem mais permanecer neles, seriam entregues novamente à Igreja, que nessa época era vinculada à politica e à coroa portuguesa. Normalmente essas terras eram oferecidas a pessoas ligadas à alta burguesia, nobreza, funcionários administrativos portugueses, militares ou banqueiros. O intuito era proteger o país de invasões externas (franceses no Sul e holandeses no Norte) estabelecer o poder militar e estimular a exportação dos produtos agrícolas que eram produzidos. https://www.infoescola.com/historia/capitanias-hereditarias/ https://www.infoescola.com/sociologia/burguesia/ 21 A Lei das Sesmarias foi elaborada em 28 de maio de 1375, mas foi mais aplicada no século XVI na América portuguesa para complementar alvarás e aperfeiçoar regulamentações. A divisão desses espaços era a partir de medições por léguas de comprimentos e larguras. Assim que repartidas, os meios se comprometiam a cumprir todas as exigências vigorantes. Esse regulamento das Sesmarias era muito rigoroso, havendo quase vinte artigos. A maior exigência era que os colonizadores deveriam plantar nas terras a todo custo e não podiam ficar sem mão-de-obra. Para manter esse sistema escravizaram várias pessoas, sendo essas maioritariamente importadas da África. • Extinção das Sesmarias Entre os principais problemas enfrentados pela Coroa para regulamentar as sesmarias estava a obrigatoriedade do cultivo e o estabelecimento de limites territoriais, muitas vezes desobedecidos pelos posseiros. Considera-se, por certo, que a Constituição Imperial Brasileira de 1824 disciplinava, de forma liberal, a propriedade, muito mais como um meio de reduzir os ânimos do povo brasileiro, insuflados pelas ideias liberais difundidas, do que, realmente, prestigiar a plenitude do Direito de Propriedade. Em 18 de setembro de 1850, o imperador dom Pedro II assinou a Lei de Terras, por meio da qual o país oficialmente optou por ter a zona rural dividida em latifúndios, e não em pequenas propriedades. 22 • Objetivos da Lei de Terras O governo imperial pretendia arrecadar mais impostos e taxas com a criação da necessidade de registro e demarcação de terras. Esses recursos tinham como destino o financiamento da imigração estrangeira, voltada para a geração de mão-de-obra, principalmente, para as lavouras de café. No Brasil, o Código de Bevilaqua de 1916 atribuiu à propriedade um caráter absoluto, ou seja, inatingível, sem limitações ou quaisquer restrições ao seu exercício, pois o proprietário era considerado senhor da coisa e dela poderia implementar o tratamento que bem entendesse. A Constituição Federal de 1988 instituiu um direito de propriedade que efetiva os interesses da sociedade de forma expressa, através de princípios e regras. Insta salientar que a propriedade foi regida pelo texto constitucional no art. 5º, XXII a XXXI, que aborda os direitos e garantias individuais, bem como no art. Para todos os efeitos, esta Lei, denominada Estatuto da Cidade, estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem- estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental. Em linhas gerais, o Estatuto da Cidade trouxe para o ordenamento jurídico nacional a democratização do acesso à terra urbanizada. A legislação dispõe sobre a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar distorções que possam influenciar a retenção especulativa e a gestão inadequada do solo urbano. 23 FUNÇÃ O SOCIAL DA PROPRIEDADE: No Brasil, a função social da propriedade foi mencionada pela primeira vez na Constituição de 1934, esta se apresenta como uma condição ao direito de propriedade. A acima referida determina que a propriedade urbana ou rural deverá, além de servir aos interesses do proprietário, atender às necessidades e interesses da sociedade. A Constituição Federal de 1988 dispôs no artigo 5º, inciso XXIII, que a propriedade atenderá a sua função social, traz também em seu artigo 186, encontrado no Título VII, Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo III, Da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, que essa função social se dá com o aproveitamento racional e a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei. Salienta-se ainda que embora o inciso XXIII estabeleça que a propriedade deve atender a sua função social, este não descreve os critérios para que isto ocorra. Os critérios para o cumprimento da função social são apresentados em outros trechos da Constituição, e diferem para cada tipo de propriedade. No Artigo 184 da mesma Constituição Federal encontramos que compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. Já o Código Civil de 2002, expressa em seu artigo 1.228, inciso 1º, que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/155571402/constitui%C3%A7%C3%A3o-federal-constitui%C3%A7%C3%A3o-da-republica-federativa-do-brasil-1988 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111983995/c%C3%B3digo-civil-lei-10406-02 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653373/artigo-1228-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10653343/par%C3%A1grafo-1-artigo-1228-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002 24 A Lei Nº 4.504, de 30 de Novembro de 1964, em seu artigo 13, que dispõe sobre o Estatuto da Terra, e dá outras providências, expressa que o Poder Público promoverá a gradativa extinção das formas de ocupação e de exploração da terra que contrariem sua função social. A função social consiste na utilização da propriedade, seja esta urbana ou rural, em consonância com os objetivos sociais de uma determinada cidade. A função social impõe limites ao direito de propriedade, para garantir que o exercício deste direito não seja prejudicial ao bem coletivo. Ela é uma condição ao direito de propriedade no Brasil. Ela está presente na Constituição Federal de 1988 como um princípio da ordem econômica, com o objetivo de assegurar a justiça social e uma existência digna a todos. Ela é um instrumento que visa evitar as desigualdades sociais provocadas pela desigual distribuição das terras rurais e urbanas. A Constituição demonstra um entendimento de que a justiça social deve reger a ordem econômica do país. Entretanto, o exercício do direito de propriedade está condicionado à observância dos interesses sociais; qualquer ação ou omissão contrária aos interesses sociais e ambientais é considerada abuso do direito de propriedade, já que viola o princípio da função social desta. Diante da abusividade do exercício do direito de propriedade, torna-se necessária a intervenção do Poder Público com vistas à adequação do referido imóvel no que diz respeito ao cumprimento legítimo de seus fins sociais, sejam estes fins sanitários, urbanísticos ou ambientais. Os direitos fundamentais previstos na Constituição Federal a respeito do direito à Propriedade têm como objetivo assegurar uma vida digna, livre e igualitária a todos os cidadãos do país. O princípio da função social parte do entendimento de que não é benéfico para a sociedade ter propriedades de terra sem utilidade alguma. E adesapropriação funciona como uma sanção constitucional imposta ao descumprimento da função social da propriedade, que objetiva dar consequência aos compromissos assumidos pelo Estado na ordem econômica e social. O direito de propriedade deve estar condicionado ao respeito pelo bem coletivo. http://hebiamachado.jusbrasil.com.br/artigos/111895858/a-funcao-ambiental-da-propriedade 25 LIMITAÇÕ ES AO EXERCI'CIO DO DIREITO DE PROPRIEDADE: As limitações ao direito de propriedade privada são restrições impostas ao seu exercício e a sua extensão, contudo, não acarretam diminuição do patrimônio de quem às suporta ou enriquecimento daquele que delas aproveite. De acordo com Cunha Gonçalves, podem ser classificadas em: limitações de interesse público, que visam beneficiar a coletividade em detrimento de eventual abuso por parte do proprietário, e limitações de interesse privado, que tem por escopo conciliar interesses entre particulares. Por sua vez, as limitações de interesse privado são divididas em limitações de mero interesse privado e limitações de interesse semi-público. Nas limitações de mero interesse privado, estão envolvidas questões de caráter, eminentemente particular. Por outro lado, pelas limitações de interesse semi-público, visa-se atenuar os conflitos entre vizinhos, bem como proteger o interesse comum dos prédios contíguos. • LIMITAÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL O direito de propriedade é garantido como direito fundamental desde a Constituição de 1.824, flagrantemente influenciada pela doutrina liberal, sendo assegurado em todas as Constituições vigentes no Brasil até os dias de hoje. Afinal, trata-se de um direito basilar da ordem econômica, uma vez que constitui um dos elementos que garante a circulação de riquezas. Portanto, atualmente, é, ainda, um direito individual e inviolável, conforme estabelecido no artigo 5º, caput e inciso XXII, da Constituição de 1.988. Constitui, ainda, princípio geral da atividade econômica de acordo com o artigo 170, inciso III, da Constituição da República. Entretanto, apesar de preservado o direito de propriedade do indivíduo, reconheceu-se o interesse público em sua utilização. 26 Afinal, a partir do século XIX a doutrina do individualismo perde força, tendo em vista a revolução industrial e as doutrinas socializantes. Mais recentemente, em face do empobrecimento geral das nações e do aumento populacional, a utilização da propriedade de maneira a atender as demandas da coletividade tornou-se um desafio para o Estado. Neste contexto, determina o artigo 5º, inciso XXIII, da Constituição da República que “A propriedade atenderá a sua função social”, constituindo esta, portanto, uma grande limitadora do direito de propriedade. Contudo, não há uma definição precisa do conceito de função social, salvo em relação a determinadas matérias. Por exemplo, a própria Constituição da República, em seu artigo 186 e respectivos incisos, estabelece, expressamente, as hipóteses nas quais a função social da propriedade imóvel rural é cumprida, ou seja, quando existe: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e trabalhadores. De acordo com Stefano Rodotà, é possível a limitação interna do direito de propriedade mediante: 1) subtração de certas faculdades ao proprietário pela lei; 2) estabelecimento legal de um complexo de condições para o exercício das faculdades atribuídas; tais condições são pressupostos da validade dos atos do proprietário; 3) deveres jurídicos de exercitar determinadas faculdades. 27 • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE NO CÓDIGO CIVIL De acordo com o artigo 1.228, parágrafo primeiro, do Código Civil vigente, o direito de propriedade deve ser exercido “em consonância com a sua finalidade econômica e social e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas.” • LIMITAÇÕES À PROPRIEDADE NO DIREITO DE VIZINHANÇA As limitações do direito de propriedade na esfera da vizinhança possuem razões de ordem pública e particular. Nesse sentido, os direitos da vizinhança decorrem são direitos decorrentes da convivência próxima ou da interferência entre prédios, contíguos ou não. Sendo assim, o as limitações da propriedade derivadas do direito de vizinhança visam a harmonização social, respeitando-se as finalidades do direito de propriedade. Contudo, deve-se ressaltar que as ações que tutelam o direito do vizinho cabem a este, nesta qualidade. Portanto, podem ser intentadas pelo proprietário, mas também pelo detentor ou possuidor do bem. E da mesma forma ocorre em relação ao molestador. • LIMITAÇÃO DA PROPRIEDADE E A SUA EXTENSÃO VERTICAL. LIMITAÇÕES DO ESPAÇO AÉREO E DO SUBSOLO Dispõe o artigo 1.229 do Código Civil de 2002: Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e a do subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-los. Nesse 28 sentido, existe uma limitação ao direito de propriedade, uma vez que não é permitido ao proprietário opor-se a intromissões de terceiros em altura ou profundidades tais que não poderia delas tirar qualquer proveito e, por isso não tem interesse em proibir. • LIMITAÇÕES URBANAS As limitações urbanas estão, intimamente, ligadas a planos urbanísticos traçados pelo Estado que regulamentam, principalmente, o chamado “direito de construir”, limitando, sobremaneira, o direito de propriedade em prol do cumprimento de sua função social. Nesse sentido, estabelece o artigo 1.299 do Código Civil: Art. 1.299. O proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regulamentos administrativos. • LIMITAÇÕES DO DIREITO DE PROPRIEDADE NO CONDOMÍNIO Relevante limitação ao direito de propriedade refere-se ao direito de preferência do condômino de coisa indivisível na aquisição da coisa comum, estabelecido nos artigos 1.322 e 504 do Código Civil. De acordo com o artigo 1.322, caso os consortes não queiram adjudicar a coisa a um só condômino, mediante indenização, a coisa deve ser vendida, repartindo-se o produto da alienação. Entretanto, ressalta o artigo que o condômino tem preferência na aquisição em caso de concorrer em condições iguais de oferta com terceiro. Entre os condôminos, prevalecerá aquele que tiver benfeitorias mais valiosas no bem. Caso nenhum condômino seja responsável por benfeitorias, adquirirá o bem aquele que possuir maior quinhão da coisa. 29 • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE NA DOAÇÃO Reza o artigo 548 do Código Civil que é vedada a doação da totalidade dos bens sem que sejam reservados bens ou renda suficientes para a subsistência do doador. Em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, não se admite que, pela doação, o doador seja reduzido à situação de penúria. Portanto, esta liberalidade é nula mesmo que, na doação, haja sido imposto encargo ao donatário correspondente ao dever de subsistência do doador. Entretanto, encontra-se, em julgados, exceção ao regramento estabelecido pelo artigo 548 quando o doador estabelece a seu próprio favor usufruto de bens dos quais possa auferir meios para seu sustento. Pelo artigo 549 veda-se, ainda, a doação inoficiosa, sob pena de nulidade, compreendida como aquela que supera a metade dosbens do doador, no momento da disposição, caso haja herdeiros necessários. Busca-se, dessa forma, resguardar a legítima. Por fim, artigo 550 determina, também, a anulabilidade de doações efetuadas por doador casado pelo seu cônjuge ou herdeiros até dois anos após a dissolução da sociedade conjugal. • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE E O TESTAMENTO Relevante limitação imposta ao testador, estabelecida pelo artigo 1.846 do Código Civil, refere- se à legítima. Trata-se de porção da herança que será destinada, obrigatoriamente, aos herdeiros necessários. Há, ainda, limitação estabelecida em face da parcela disponível por testamento, ou seja, que não integra a legítima, segundo o artigo 1.801, inciso III. De acordo com referido dispositivo legal, o testador casado é vedado de deixar bens para sua concubina, salvo se estiver, sem sua culpa, separado do cônjuge, de fato, há mais de 5 anos. 30 • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE E AS SERVIDÕES PREDIAIS As servidões são direitos reais de gozo, estabelecidos pela vontade das partes ou pela Lei, que se impõem sobre bem imóvel alheio serviente em benefício de bem dominante. Para que se configure a servidão, é necessário o preenchimento de determinados requisitos. Primeiramente, é necessário que exista um ônus a ser suportado pelo proprietário, como a obrigação de tolerar ato por parte do possuidor do prédio dominante ou não praticar determinada conduta. Deve-se ressaltar, contudo, que o encargo serve à coisa e não ao dono. Em segundo lugar, exige-se que haja uma relação entre prédios, em que um tenha uma relação de serviência em relação ao outro. Por fim, é preciso que os prédios sejam de propriedade de pessoas distintas. • LIMITAÇÕES À PROPRIEDADE E O CONDOMÍNIO EDILÍCIO De acordo com o Código Civil, artigo 1.335, III, os condôminos devem usar as partes comuns em conformidade com a sua destinação e de modo a não excluir a utilização pelos demais possuidores. Além disso, são impostos deveres legais ao condômino que, claramente, limitam o exercício do direito de propriedade. Entre eles, pode-se citar o dever de não alterar a cor das fachadas, partes e esquadrias externas, bem como o de abster-se de realizar obras que comprometam a segurança da edificação, bem como a obrigação de não utilizar o bem de modo a prejudicar o sossego, a salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes. Além dos deveres legalmente impostos, proprietários e possuidores, pelo bem da convivência harmoniosa, devem respeitar as cláusulas estipuladas pela convenção condominial e regulamento interno. 31 Atualmente, destacam-se, ainda, novas modalidades de condomínios, não previstos, especificamente, em Lei, como é o caso do time-sharing. Nessa forma de condomínio, existe um único bem, todavia, uma pluralidade de condôminos que se revezam, em períodos, para usufruir do imóvel. • LIMITAÇÕES VOLUNTÁRIAS A limitação ao direito de propriedade pode dar-se por ato de vontade de seu próprio titular e, geralmente, ocorre pela constituição de outro direito real sobre o bem. Pode ocorrer, portanto, pela instituição de um direito de superfície. Trata-se de direito real pelo qual o proprietário concede a outrem o direito de plantar em sua propriedade, por prazo certo, mediante escritura pública registrada em Cartório de Registro de Imóveis. Também pode haver limitação voluntária pelo usufruto, direito real transitório que concede ao seu titular o poder de usar e gozar por determinado tempo, sob determinada condição ou vitaliciamente de bem pertencente à outra pessoa. Modalidade mais simples de usufruto é o uso, também direito real sobre coisa alheia, mas que concede ao titular apenas o direito de usar a coisa e perceber seus frutos conforme sua necessidade e de sua família. 32 REFERÊ NCIAS: • ÁLVARO, Manoel Rosindo Bourguignon – 2007 • BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. 55. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. • BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código civil. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ano 139, n.8, p. 1-74, 11 jan. 2002. • BRASIL. Lei nº 4.504, de 30 de novembro de 1964. Dispõe sobre o estatuto da Terra, e dá outras providências. 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LIMITAÇÕES DO ESPAÇO AÉREO E DO SUBSOLO • LIMITAÇÕES URBANAS • LIMITAÇÕES DO DIREITO DE PROPRIEDADE NO CONDOMÍNIO • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE NA DOAÇÃO • LIMITAÇÃO AO DIREITO DE PROPRIEDADE E O TESTAMENTO • LIMITAÇÕES À PROPRIEDADE E O CONDOMÍNIO EDILÍCIO • LIMITAÇÕES VOLUNTÁRIAS