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A29 FALSIDADE IDEOLÓGICA

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FALSIDADE IDEOLÓGICA
1. CONCEITO
O Art. 299 do CP descreve a conduta do crime de falsidade ideológica como omitir em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. 
O tipo prevê pena de 1 a 5 anos de reclusão e multa se o documento é público e pena de 1 a 3 anos de reclusão e multa, se o documento é particular.
2. FALSIDADE MATERIAL E FALSIDADE IDEOLÓGICA
O falso material adultera o documento em sua forma, em seu aspecto exterior. O documento não é autêntico ou foi alterado extrinsecamente.
No falso ideológico a ideia constante no documento é falsa, ou seja, o documento é formalmente expedido por quem de direito a quem cabia legalmente a função de elaborá-lo e assiná-lo. A falha está no conteúdo, esse sim, falseado para criar uma ilusão jurídica.
A falsidade material deixa vestígios, portanto, a sua comprovação exige perícia técnica, ao contrário da falsidade ideológica, uma vez que não é possível rastrear sensivelmente, uma mentira.
3. OBJETO JURÍDICO
A fé pública.
4. ELEMENTARES DO TIPO
É crime de ação múltipla ou de conteúdo variado.
As ações nucleares são: 
a) Omitir declaração: quem omite, neste caso, é a própria pessoa que forma o documento;
b) Inserir declaração falsa: a pessoa que confecciona o documento insere declarações inverídicas no documento;
c) Inserir declaração diversa da verdadeira: a informação inserida no documento não é a que devia constar dele, ainda que verdadeira;
d) Fazer inserir declaração falsa: aqui um terceiro induz a pessoa que confecciona o documento a inserir declaração falsa.
e) Fazer inserir declaração diversa da que deveria ser escrita: da mesma forma, a informação inscrita no documento pode até não ser falsa, mas não corresponde a de que dele devia constar.
A falsidade deve recair sobre elemento essencial do documento público ou particular. A informação omitida ou inserida indevidamente deve afetar a substância do ato e não constituir mera irregularidade que, em sua essência, não chega a lesar o direito de ninguém.
Na lição de Magalhães Noronha, a inverdade sobre informação irrelevante, leva à configuração de fato atípico.
5. SUJEITO ATIVO
É crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa.
É possível o concurso de pessoas entre o funcionário público responsável pela confecção do procedimento e o particular.
Questiona-se se as testemunhas que presenciaram a declaração são consideradas partícipes, configurando-se essa hipótese apenas se tinham consciência da falsidade e dela tomaram parte.
6. SUJEITO PASSIVO
O Estado e o particular que venha a sofrer prejuízos decorrentes da falsa declaração.
7. ELEMENTO SUBJETIVO
O dolo, imbuído da vontade livre e consciente de praticar as condutas que falseiam a realidade.
O tipo exige o elemento subjetivo consistente na finalidade de lesar direito, criar obrigação ou alterar a verdade de fato juridicamente relevante.
Também é necessária a consciência da falsidade.
8. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
É crime formal que se consuma com a omissão ou a inserção da declaração falsa ou diversa da que deveria constar.
Não é fundamental, portanto, que a omissão ou a declaração chegue a causar um prejuízo efetivo, basta a potencialidade para tal.
A tentativa é possível nas condutas comissivas, na omissiva é impossível.
9. FORMAS
9.1. Simples: está prevista no caput.
9.2. Majorada: 
O parágrafo único prevê um aumento de 1/6 se o crime é praticado por funcionário público que se prevalece do cargo para sua prática.
A segunda hipótese de majoração recai sobre a falsificação ou alteração de assentamento de registro civil.
Esta hipótese é disciplinada pela Lei 6015/73, que, em seu artigo 29 manda registrar no Registro Civil de Pessoas Naturais, os nascimentos, óbitos, as emancipações, as interdições, etc...
Cumpre ressaltar que o art. 241 que prevê o delito de proceder a registro de nascimento inexistente é especial em relação ao delito previsto no Art. 299 do CP.
Da mesma forma, incide a norma prevista no Art. 242 que prevê como uma de suas formas típicas registrar filho alheio como seu e não a norma da falsidade ideológica.
OBS: Questiona-se se o preenchimento de folha de papel em branco assinada configura falsidade material ou ideológica. Ao questionamento responde-se que se a folha em branco é entregue espontaneamente por quem assinou, trata-se de falsidade ideológica. Se, por outro lado, a folha foi obtida por meio de conduta fraudulenta ou decorrente da prática de outro crime, trata-se de falsidade material, pois, neste caso, a formação do documento é falsa porque o agente não tinha autorização para preenchê-lo.
OBS²: Questiona-se se o negócio simulado, decorrente de um conluio entre os contratantes que buscam efeito diverso daquele que aparenta, configura o delito de falsidade ideológica, e a doutrina responde que sim, desde que ele produza efeitos jurídicos que afetem terceiros. (Ver Art. 167 do CC – VÍCIOS DO CONSENTIMENTO).
Obs³: Na hipótese que a informação inserida no documento e prestada pelo particular depender da verificação de seu conteúdo por um funcionário público, considera-se que não configura falsidade ideológica, mesmo que as informações prestadas tenham sido falsas.
10. CONCURSO DE CRIMES
Pode ocorrer concurso material entre a falsidade e a bigamia, posto que, é necessária a apresentação de documentação para a fase de habilitação. 
Não há concurso entre o crime de falsidade ideológica e uso de documento falso se quem usa o documento é o próprio falsário, constituindo-se o uso, mero exaurimento do delito.
OBS: Constitui crime previsto no Código Eleitoral (Lei 4737/65) Art. 315: Alterar nos mapas ou nos boletins de apuração a votação obtida ou lançar nesses documentos votação que não corresponda ás cédulas apuradas. Pena- reclusão, até 5 anos, e pagamento de 5 a 15 dias-multa.
11. AÇÃO PENAL
É crime de ação penal pública incondicionada.
Se a falsificação ofender bens, serviços ou interesses da União, a competência é da Justiça Federal.
É cabível a aplicação da suspensão condicional do processo, uma vez que, tanto na falsidade ideológica de documento público quanto na de particular, a pena mínima prevista é de 1 ano.

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