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Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 1 Introdução às Ciências Ambientais Direito reservado ao Posead. Brasília-DF, 2010. In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 2 Elaborado por: Melina Martha Baumgarten Produção: Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração VERSÃO 1_2008 Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 3 Apresentação ............................................................................................................................................ 04 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa .................................................................................... 05 Organização da Disciplina ....................................................................................................................... 06 Introdução ................................................................................................................................................. 07 Unidade I – Ecologia .................................................................................................................................. 09 Capítulo 1 – Matéria e Energia ......................................................................................................... 09 Capítulo 2 – Conceitos Básicos de Ecologia ...................................................................................... 12 Capítulo 3 – Ecossistemas ............................................................................................................... 15 Capítulo 4 – Biodiversidade ............................................................................................................... 18 Unidade II – Problemática Ambiental ...................................................................................................... 21 Capítulo 5 – Breve Histórico sobre a Problemática Ambiental ........................................................... 21 Capítulo 6 – Desenvolvimento Sustentável ....................................................................................... 23 Capítulo 7 – Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kyoto ................................................................ 26 Capítulo 8 – Responsabilidade Social ................................................................................................ 28 Capítulo 9 – Considerações Éticas .................................................................................................... 30 Referências ............................................................................................................................................... 31 Sumário In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 4 Apresentação Caro aluno, Bem-vindo à disciplina Introdução às Ciências Ambientais. Este é o nosso Caderno de Estudos e Pesquisa, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos. Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade. A carga horária deste módulo é de 40 (quarenta) horas, cabendo a você administrar o tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há um prazo para a conclusão da disciplina, incluindo a apresentação ao seu tutor das atividades avaliativas indicadas. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do curso; serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina. Lembre-se de que, apesar de distantes, podemos estar muito próximos. A Coordenação do PosEAD Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Apresentação: Mensagem da Coordenação do PosEAD ao cursista. Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e carga horária das unidades. Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido pelo aluno na disciplina, indicando a importância desta para a sua formação acadêmica. Ícones utilizados no material didático: Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática e seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina. Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina, para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre aqui a sua visão, sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho. Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões, para apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico. Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com a sua contribuição pessoal. Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões. Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem. Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir na reflexão. Referências: Bibliografia citada para a elaboração do curso. In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 6 Organização da Disciplina Ementa: Conceitos básicos de ecologia, ecossitemas, diversidade biológica e fluxo de energia nas cadeias alimentares. Princípios gerais da sustentabilidade, qualidade de vida, racionalidade e ética ambiental, preservação, utilização dos recursos naturais e a responsabilidade social. Objetivos: • Obter conhecimentos básicos relacionados ao meio ambiente. • Conceituar ecologia, biodiversidade, ecossistemas e fluxo de energia. • Conhecer os princípios gerais de sustentabilidade, qualidade de vida, racionalidade e ética ambiental, preservação, utilização dos recursos naturais e a responsabilidade social. Unidade I – Ecologia Carga horária: 25 horas Conteúdo Capítulo Matéria e Energia 1 Conceitos Básicos de Ecologia 2 Ecossistemas 3 Biodiversidade 4 Unidade II – Problemática Ambiental Carga horária: 15 horas Conteúdo Capítulo Breve Histórico sobre a Problemática Ambiental 5 Desenvolvimento Sustentável 6 Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kyoto 7 Responsabilidade Social 8 Considerações Éticas 9 Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 7 Introdução A disciplina Introdução às Ciências Ambientais objetiva formar uma base de conhecimentos relativos ao meio ambiente. Mais do que nunca, é preciso haver a conscientização ecológica das comunidades. Daí a importância da Educação Ambiental. No nosso estudo, durante os fóruns, algumas leituras complementares serão sugeridas. Sabendo, porém, que este Caderno de Estudos é um guia e não substitui a leitura nas fontes. As atividades avaliativas, solicitadas no corpo deste Caderno, devem ser entregues nas datas combinadas ao longo da disciplina. É necessário que todos os trabalhos contenham a informação sobre a fonte de pesquisa (livro ou internet). In tr od uç ão à s Ci ênci as A m bi en ta is 8 Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 9 Ecologia Capítulo 1 – Matéria e Energia Principais Ideias Abordadas – A matéria é feita de elementos e compostos que, por sua vez, são constituídos de átomos, íons ou moléculas. – Quando ocorre uma alteração física ou química, nenhum átomo é criado ou destruído. Este é o princípio da lei de conservação da matéria. – Primeira lei da termodinâmica: não é possível criar ou destruir energia quando ela é convertida de uma forma para outra em alterações físicas ou químicas. – Segunda lei da termodinâmica: todas as vezes que a energia é alterada de uma forma para outra, terminamos sempre com menos energia utilizável do que quando começamos. Matéria e energia são os componentes do Universo. Pelo menos, a ciência não encontrou nenhum outro componente até hoje. A matéria inclui os materiais presentes no Universo: a água, o ar, a rocha e tudo o que é vivo. Tudo que é sólido, líquido ou gasoso é matéria. Uma boa maneira de obtermos um conceito para matéria é utilizarmos as propriedades que a descrevem. Uma definição frequentemente utilizada para matéria é: “matéria é qualquer coisa que tenha massa”. A massa de uma substância é a medida da quantidade de matéria nela contida. As medidas de massa são baseadas no quilograma/massa, depositado no Bureau Internacional de Pesos e Medidas, na França. A massa de uma substância não varia com a temperatura, pressão ou localização no espaço. A matéria é feita de elementos químicos, que são as unidades de construção, e de compostos, que são dois ou mais elementos diferentes unidos em proporções fixas através de ligações químicas. Os símbolos químicos representam cada elemento por uma ou duas letras. Como exemplos: hidrogênio (H), carbono (C), sódio (Na) e assim por diante. A matéria é formada por átomos (unidade básica da matéria), íons (átomos ou combinação de átomos carregados eletricamente) e compostos (substâncias que contêm átomos ou íons de mais de um elemento unidos por ligações químicas). Os compostos são representados pelas fórmulas químicas, como H20 (água) e C6H12O2 (glicose). Ecologia Unidade IUnidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 10 Ecologia Podemos classificar a matéria como de alta ou baixa qualidade. Tal classificação depende da sua utilidade para nós como recurso, com base na sua disponibilidade e concentração. Por exemplo: o carvão é uma matéria de alta qualidade. Pode ser extraído com facilidade e é concentrado. Por outro lado, a emissão de gases oriundos da queima de carvão em indústrias é matéria de baixa qualidade, por ser mais difícil de extrair e mais dispersa que a matéria de alta qualidade. A matéria pode sofrer alterações químicas e físicas. Nas alterações físicas, as características químicas não são modificadas. Quando a água muda de estado, por exemplo, não acontecem alterações na sua composição química. Já em uma alteração química, as composições químicas são alteradas. Deste modo, quando o carvão é queimado, o carbono sólido (C) no carvão combina-se com o gás oxigênio (O2) da atmosfera para formar o dióxido de carbono (CO2). Além das alterações físicas e químicas, a matéria também pode sofrer a alteração nuclear. São três os tipos de alteração nuclear: decaimento radioativo natural, fissão e fusão nuclear. Quando ocorre alguma alteração física ou química, nenhum átomo é destruído ou criado. Este é o princípio da lei da conservação da matéria. Qualquer problema ambiental envolve este princípio. Tudo o que é descartado num processo industrial, por exemplo, continua no ambiente de alguma forma. Um exemplo interessante é o caso do inseticida DDT. Na década de 1960, nos Estados Unidos, a pesquisadora Rachel Carson publicou um livro que teve grande repercussão, alertando quanto aos perigos do DDT. O livro tinha como objetivo incentivar as pessoas a reagirem ao uso abusivo de pesticidas químicos. Obviamente, os agricultores se opuseram fortemente ao livro na época. Eles argumentaram que seria economicamente impossível sobreviver à perda na produção devido às pragas da lavoura sem o uso do inseticida. A autora defendia o uso de controles biológicos das pragas. Com o livro, o Senado dos EUA foi levado a proibir quase totalmente a utilização do DDT. Anos mais tarde, cientistas detectaram a presença da substância nos ursos polares e em baleias em altas latitudes do Hemisfério Norte que estavam muito distantes das zonas agrícolas onde o pesticida tinha sido utilizado. Apesar da lei da conservação da matéria, existem maneiras de tornarmos o ambiente um local mais limpo e converter algumas substâncias químicas potencialmente prejudiciais em formas físicas ou químicas menos nocivas. Três fatores determinam a severidade dos efeitos prejudiciais: sua natureza química, sua concentração e sua persistência. A persistência é a medida de quanto tempo o poluente permanece no ar, na água, no solo ou no corpo. Neste sentido, eles podem ser classificados em: poluentes degradáveis ou não persistentes, poluentes biodegradáveis, poluentes lentamente degradáveis ou persistentes (estes demoram décadas para degradar como, por exemplo o DDT e a maioria dos plásticos) e poluentes não degradáveis (elementos tóxicos como mercúrio, chumbo e arsênio). Energia, o que é? Não é nada simples definir energia. Ela não tem peso e só pode ser medida quando está sendo transformada, ou ao ser liberada ou absorvida. Por isso, a energia não possui unidades físicas próprias, sendo expressa em termos das unidades do trabalho que realiza. Podemos dizer que energia é a capacidade de realizar trabalho e transferir calor. Temos energia na forma de energia elétrica, energia mecânica, energia química etc. Esses tipos de energia podem ser classificados em energia cinética (ou energia de movimento) e energia potencial (ou energia armazenada). Além disso, podemos classificar a energia dependendo da sua utilização como recurso. Neste sentido, ela pode ser de baixa ou de alta qualidade. A energia de baixa qualidade é dispersa e tem pouca capacidade de realizar trabalho. Um grande rio, por exemplo, apresenta calor disperso nas moléculas em movimento em uma grande quantidade de matéria, apresentando desta forma uma temperatura baixa. A energia de alta qualidade é concentrada e pode realizar trabalho. A eletricidade e a energia química armazenada no carvão são exemplos de energia de alta qualidade. Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 11 Ecologia Leis da termodinâmica As leis da termodinâmica governam as transformações físicas e químicas nos sistemas biológicos. São regras básicas da natureza. A primeira lei da termodinâmica (ou lei da conservação da energia) diz que: “em todas as alterações físicas ou químicas, a energia não é criada nem destruída, embora possa ser convertida de uma forma em outra”. Em outras palavras, não podemos obter mais energia de um sistema do que podemos fornecer. Apesar de a primeira lei da termodinâmica declarar que não é possível criar nem destruir energia, quando ligamos uma lanterna com lâmpada incandescente (e de pilha comum) e a utilizamos até apagar, observamos que algo se perdeu. Perdeu-se justamente a qualidade da energia, ou seja, a quantidade de energia disponível que pode realizar trabalho útil. Muitos experimentos mostraram que, quando a energia muda de uma forma para outra, ocorre uma diminuição na capacidade da energia de realizar trabalho útil. Isso nos leva à segunda lei da termodinâmica: “quando uma energia muda de uma forma para outra, alguma quantidade de energia útil sempre se degrada em energia de mais baixa qualidade, mais dispersa e menos útil”. No exemplo da lâmpada da lanterna, a energia dos elétrons em movimento flui através dosfilamentos da lâmpada e transforma-se em cerca de 5% de energia útil e 95% de calor de baixa qualidade que flui no ambiente. Em sistemas vivos, ao longo das cadeias tróficas, como veremos mais adiante, a energia do sol é convertida em energia química e depois em energia mecânica. Durante cada conversão, a energia de alta qualidade é degradada e se dispersa no ambiente na forma de calor de baixa qualidade. Por esta razão, entendemos, através da segunda lei da termodinâmica, que não podemos reciclar ou reutilizar energia de alta qualidade para realizar trabalhos úteis. Uma vez que a energia concentrada em um alimento, num combustível ou num pedaço de carvão é liberada, degrada-se em calor de baixa qualidade que é disperso no ambiente. A produtividade de energia é a medida da quantidade de trabalho útil realizada por uma entrada particular de energia em algum sistema. E existem muitas possibilidades de se melhorar a eficiência da energia. Estima-se que menos de 20% da energia utilizada nos Estados Unidos é efetivamente transformada em trabalho útil. Os 84% restantes são desperdiçados devido à segunda lei da termodinâmica (41%) ou gastos desnecessariamente (43%) (segundo Miller Jr., 2007). A lição: uma forma rápida e barata de obter mais energia é não desperdiçar mais da metade da energia que utilizamos. Pense no que você faz para diminuir este desperdício. Pequenas atitudes fazem, sim, a diferença! Ainda segundo Miller Jr. (2007), a economia dos países cresce convertendo os recursos globais em bens e serviços e gerando resíduos, poluição e calor de baixa qualidade no ambiente. A maioria dos países industrializados apresenta economias de alta produtividade (e também alto desperdício). Como consequência, o consumo dos recursos deverá exceder a capacidade de o ambiente diluir e degradar a matéria residual e absorver o calor residual. Uma maneira de diminuir a velocidade do uso dos recursos e reduzir o impacto ao ambiente, em uma economia de alta produtividade, é praticar uma economia de reciclagem e reaproveitamento da matéria. Sem esquecer que as leis da termodinâmica determinam que a reciclagem e o reaproveitamento dos recursos requerem sempre a utilização da energia de alta qualidade, que não é reciclável. Se nós conseguirmos diminuir o desperdício de matéria e energia, incorporarmos um pouco de simplicidade nas necessidades cotidianas, incentivarmos a reciclagem e o aproveitamento da matéria e controlarmos o crescimento da população, estaremos no caminho de uma economia de baixa produtividade e sustentável. Unidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 12 Ecologia Capítulo 2 – Conceitos Básicos de Ecologia Principais Ideias Abordadas – O que é ecologia? – Conceitos de população, comunidade, ecossistema. – O que sustenta a vida na Terra? – Princípios gerais da ecologia (segundo Ricklefs, 1993): “sistemas ecológicos funcionam de acordo com as leis da termodinâmica; o meio ambiente físico exerce uma influência controladora na produtividade dos sistemas ecológicos; a estrutura e a dinâmica das comunidades ecológicas são reguladas pelos processos populacionais; através das gerações, os organismos respondem às mudanças no meio ambiente pela evolução dentro das populações.” O que é ecologia? Ecologia (do grego oikos, “casa” ou “lugar para morar”; e logos, “estudo de”) é a ciência que estuda como os organismos interagem entre si e com o meio ambiente. Em outras palavras, podemos dizer que ecologia é a ciência que investiga as conexões da natureza. Níveis de organização A unidade fundamental da ecologia é o organismo. Um organismo pode ser definido como qualquer forma de vida. A estrutura e funcionamento do organismo são determinados por um conjunto de instruções genéticas herdadas de seus pais e por influências do meio ambiente nos quais o organismo vive. Todo organismo troca energia e matéria com seu meio. O seu sucesso depende dele ter um balanço positivo de energia e matéria que sustentem a sua manutenção, crescimento e reprodução. Ao longo de suas vidas, os organismos transformam energia e matéria à medida que metabolizam, crescem e se reproduzem. Deste modo, eles modificam as condições do ambiente, utilizando e controlando a quantidade de recursos, e contribuem para o fluxo de energia e para a reciclagem de elementos na natureza. Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 13 Ecologia Os organismos se classificam em espécies que são grupos de organismos semelhantes dentre os quais fluem genes sob condições naturais. Isso significa que todos os indivíduos normais e fisiologicamente aptos são capazes de procriar com indivíduos do sexo oposto que pertençam à mesma espécie. Este é o conceito biológico de espécie e serve bem para a maioria dos animais e para alguns tipos de plantas. Mas para os organismos nos quais ocorre alguma hibridização, ou onde a reprodução sexual foi substituída por autofertilização ou partenogênese, o conceito tem que ser substituído por divisões mais arbitrárias. Muitos organismos de uma mesma espécie que interagem e ocupam uma área específica constituem uma população. O conjunto de populações de diferentes espécies de organismos, vivendo e interagindo em uma mesma área, forma uma comunidade. Um ecossistema é o resultado da interação entre as comunidades e elementos abióticos de uma determinada área, funcionando como uma unidade. Os ecossistemas podem variar de tamanho e podem ser naturais ou artificiais (criados pelo homem, como plantações, lagos artificiais, etc). O conjunto de todos os ecossistemas terrestres forma a biosfera. O que sustenta a vida na Terra? A vida na Terra depende principalmente de três fatores interligados: o fluxo de energia unidirecional de alta qualidade proveniente do Sol, o ciclo da matéria (átomos, íons ou componentes necessários para a sobrevivência dos organismos vivos) e a gravidade, que permite que o planeta retenha a sua atmosfera e possibilita o movimento dos elementos químicos entre o ar, a água, o solo e os organismos nos ciclos da matéria. A energia solar que chega à Terra é aproximadamente a bilionésima parte da emitida pelo Sol. Grande parte da radiação solar que consegue atravessar a atmosfera é degradada em radiação infravermelha. Essa radiação encontra os gases de efeito estufa (vapor de água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio) na troposfera. À medida que essa radiação interage com as moléculas gasosas, aumenta a energia cinética desses gases, auxiliando no aquecimento da troposfera e da superfície terrestre. Sem isso a Terra seria fria demais para que a vida, como conhecemos, existisse. A Terra favorece a vida. A composição da atmosfera, a variação de temperatura do nosso planeta, a distância em relação ao sol, o seu tamanho, entre outros fatores, propiciam a vida na Terra como a conhecemos. A vida no nosso planeta depende da água. Aliás, por esta razão, os cientistas e a mídia fizeram ampla divulgação da notícia que havia fortes indícios que poderiam significar a presença de água líquida em Marte. Evolução biológica e seleção natural De acordo com evidências científicas, os atributos dos indivíduos mudam ao longo do tempo através de um processo chamado evolução. Populações de organismos se adaptam a mudanças nas condições ambientais e mudam a sua composição genética ao longo de sucessivas gerações. Segundo a teoria da evolução proposta por Darwin no final do século XIX, todas as espécies são descendentes de espécies antigas, ancestrais. Essa teoria científica é amplamente aceita e explica como a vida tem mudado e por que é Unidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 14 Ecologia tão diversificada hoje. Segundo ela o processo de mudança aconteceatravés da seleção natural, que nada mais é do que a sobrevivência diferencial de indivíduos. Em outras palavras, a seleção natural ocorre quando alguns indivíduos de uma população apresentam características determinadas geneticamente que aumentam as suas chances de sobrevivência e sua capacidade de produzir descendentes com as mesmas características. Existem três condições necessárias para a evolução de uma população através da seleção natural. Primeiro, a existência de variabilidade genética para uma característica na população. Segundo, essa carcterística deve ser hereditária (capaz de ser transmitida de uma geração para outra). E, por último, deve permitir que os organismos que possuem a característica vantajosa deixem mais descendentes que os outros membros da população. Os biólogos utilizam o termo microevolução para descrever pequenas mudanças genéticas que ocorrem em uma população. E empregam o termo macroevolução para designar mudanças evolutivas em larga escala e de longo prazo, pelas quais novas espécies surgem. O processo de microevolução pode ser resumido da seguinte maneira: os genes sofrem mutação ao acaso, os indivíduos são selecionados e as populações evoluem. Sugestão de leitura O gene egoísta de Richard Dawkins. Algumas palavras sobre ecologia humana O enorme consumo dos recursos naturais e produção de rejeitos, por parte da nossa espécie causou principalmente dois problemas interligados de dimensões globais. O primeiro é o impacto das atividades humanas nos sistemas naturais (incluindo a interrupção de processos ecológicos e a exterminação de espécies). O segundo é a firme deterioração do meio ambiente humano à medida que nós cruzamos os limites do desenvolvimento sustentável. A compreensão dos princípios ecológicos é essencial para lidar com esses problemas. O homem, muitas vezes, mete os pés pelas mãos na tentativa de resolver os problemas sem levar em consideração conceitos básicos de ecologia. Vejamos o exemplo, comentado por E. Wilson em seu livro “A diversidade da vida”, dos peixes ciclídeos no lago Vitória. Há vários anos, a perca do Nilo (uma espécie de peixe de carne saborosa) foi introduzida neste lago situado no leste da África. Isto foi feito com o propósito bem intencionado de proporcionar comida adicional para os moradores da região e uma receita adicional para a balança comercial. O resultado foi a virtual destruição de toda a pesca do lago. Até a introdução da espécie exótica, o lago Vitória sustentava peixes endêmicos de várias espécies, em sua maioria ciclídeos (peixes pertencentes à família Cichlidae, os quais se alimentavam principalmente de plantas e detritos. A perca do Nilo é piscívora (come peixes). E como veremos mais adiante, quando comentarmos sobre o funcionamento do ecossistema, peixes predatórios não podem ser produzidos numa taxa tão alta quanto as espécies herbívoras. Antes da introdução da perca do Nilo, a pesca no lago já estava superexplorada. Contudo, a solução apropriada teria sido um melhor gerenciamento dos ciclídeos, e nunca a introdução de um predador eficiente sobre eles. Com a crise de um desenvolvimento populacional muito rápido e uma aceleração da deterioração do meio ambiente terrestre, a ecologia assumiu importância extrema. A administração dos recursos bióticos, de uma forma que sustente uma razoável qualidade de vida humana, depende da sábia aplicação de princípios ecológicos, não meramente para resolver ou prevenir problemas ambientais, mas também para instruir nossos pensamentos e práticas econômicas, políticas e sociais. R.E. Ricklefs. Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 15 Ecologia Capítulo 3 – Ecossistemas Principais Ideias Abordadas – O que acontece com a energia em um ecossistema? – O que são solos e como são formados? – O que acontece com a matéria em um ecossistema? Energia no ecossistema A vida existe na Terra em sistemas terrestres denominados biomas e em zonas de vida aquática nas águas doces e nos oceanos. As espécies vivem sob condições físicas distintas, e a sua tolerância em relação às variações do ambiente também variam de espécie para espécie. Neste sentido, o que determina a abundância e distribuição das espécies é essa tolerância em relação às características físicas e químicas, além das interações entre as espécies e a disponibilidade de recursos. Além disso, fatores hídricos também podem influenciar a ocorrência ou não de determinadas espécies em um ambiente. Muitas espécies podem não ocorrer em determinadas regiões simplesmente por nunca terem conseguido chegar lá. Como vimos, os ecossistemas são o resultado das interações entre as comunidades e os elementos abióticos de uma área específica. Os fatores abióticos são a quantidade de energia solar, a temperatura, o ar, clima, quantidade de recursos hídricos, características do solo, etc. Dois fatores de extrema importância na ecologia são o fluxo de energia e a circulação de nutrientes nos ecossistemas. Para entender como a energia e os nutrientes se movimentam através do ecossistema é preciso entender como os organismos vivem. Os organismos produzem ou consomem alimentos. Os produtores, também chamados de autótrofos, fabricam seu próprio alimento utilizando compostos obtidos no meio ambiente. As plantas verdes são a maioria dos produtores. Transformam a energia solar em energia química, formando compostos complexos como a glicose através da fotossíntese. A reação geral da fotossíntese pode ser resumida da seguinte forma: Dióxido de carbono + água + energia solar glicose + óxigênio (6CO2 + 6H2O + energia solar C6H12O2 + O2) Pelo processo da quimiossíntese, bactérias especializadas são capazes de converter, sem a luz solar, simples compostos do ambiente em compostos de nutrientes mais complexos. Os demais organismos do ecossistema são consumidores, também chamados de heterótrofos, e obtêm energia e nutrientes alimentando-se de outros organismos ou restos orgânicos. Os decompositores são consumidores especializados que reciclam matéria orgânica nos ecossistemas. São em sua maioria fungos e bactérias que decompõem material orgânico morto ou detrito para obter nutrientes. Essa atividade libera compostos inorgânicos no ambiente que serão utilizados pelos produtores, completando o ciclo. Produtores, consumidores e decompositores utilizam a energia química armazenada na glicose e em outros compostos orgânicos para manter seus processos vitais. Na maioria das células, essa energia é liberada pela respiração aeróbica, Unidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 16 Ecologia que utiliza o oxigênio para converter os nutrientes orgânicos novamente em dióxido de carbono e água. Veja a representação da reação química: Glicose + oxigênio dióxido de carbono + água + energia (C6H12O2 + O2 6CO2 + 6H2O + energia) Em resumo, o solo e os corpos de água são reservatórios de nutrientes para os produtores. Os compostos inorgânicos passam de um organismo para o outro à medida que um organismo se alimenta do outro. Com a morte dos produtores e consumidores, os decompositores utilizam os detritos como fonte de alimento e os decompõem em nutrientes inorgânicos, devolvendo-os aos reservatórios da natureza. Essa é a maneira com que ocorre a circulação dos nutrientes e o fluxo de energia, através dos organismos, nos ecossistemas. Existe uma dissipação de energia na forma de calor nesse fluxo de energia, conforme a segunda lei da termodinâmica. Por esta razão o ecossistema pode ser visto como uma gigantesca máquina termodinâmica que continuamente dissipa energia em forma de calor. E assim a vida está organizada, através da produção, consumo e reciclagem. A transferência de matéria e energia de um organismo para outro chama-se cadeia alimentar. Os produtores estão no primeironível trófico dessa cadeia, seguidos dos consumidores primários (herbívoros), depois dos consumidores secundários, e assim por diante. No final da cadeia estão os decompositores. Uma vez que os ecossistemas na natureza são complexos e muitas espécies participam de distintas cadeias alimentares, os organismos formam uma rede de cadeias alimentares denominada teia alimentar. Os solos O solo, base de vida na Terra, é formado de uma complexa mistura de rocha erodida, nutrientes minerais, matéria orgânica em decomposição, ar, água e bilhões de organismos vivos. O solo é um recurso renovável, entretanto a sua renovação acontece muito lentamente. O solo fornece um grande volume de nutrientes necessários para o crescimento das plantas. Se pararmos para pensar, nós mesmos somos feitos principalmente de nutrientes que vêm do solo através dos alimentos que ingerimos. Além disso, o solo purifica a água, auxilia na decomposição e na reciclagem de resíduos biodegradáveis e é o principal componente dos processos de reciclagem e armazenamento de água do planeta. Um alerta: desde o início da agricultura, as atividades humanas têm ocasionado a erosão dos solos, o que pode converter esse recurso renovável em não renovável. Historicamente, civilizações inteiras já desapareceram por terem negligenciado a superfície do solo que sustentava suas populações. Ciclos dos nutrientes Todos os organismos estão interligados por sistemas globais de reciclagem, conhecidos como ciclos de nutrientes ou ciclos biogeoquímicos. Os nutrientes inorgânicos circulam pelos ecossistemas na atmosfera, nos oceanos, no solo, nas rochas (litosfera) e nos organismos vivos. Estes ciclos interligam a vida do passado, presente e futuro. É interessante nos darmos conta de que alguns dos átomos de carbono que formam o nosso corpo, por exemplo, podem ter sido parte de uma concha ou de uma folha no passado. Os ciclos biogeoquímicos incluem o ciclo do carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo e água. Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 17 Ecologia ATIVIDADE Faça uma pesquisa sobre os ciclos biogeoquímicos. Pense e dê exemplos de como o homem afeta estes ciclos. Unidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 18 Ecologia Capítulo 4 – Biodiversidade Você sabe quantas espécies existem no nosso planeta? Esta pergunta ainda não tem uma resposta precisa. Até os dias de hoje, aproximadamente 1,4 milhões de espécies vivas foram descritas. Destas, 750 mil são insetos, 41.000 são vertebrados e 250.000 são plantas. No entanto, não sabemos a que porcentagem estas espécies já descritas equivalem em relação ao número do total de espécies existentes atualmente. E. Wilson, em seu livro Biodiversidade (1988), estima que o número de espécies existentes esteja entre 5 e 30 milhões de espécies. Certamente, encontrar e descrever um número tão grande de espécies requer muito trabalho por parte dos cientistas. Além disso, muitas espécies irão desaparecer antes mesmo de serem encontradas ou reconhecidas. As maiores ameaças à diversidade biológica que resultam da atividade humana são: a destruição, a fragmentação, a degradação do habitat, superexploração das espécies, introdução de espécies exóticas e o aumento de ocorrência de doenças. Estas ameaças são causadas pelo uso crescente dos recursos naturais por uma população humana em expansão exponencial. A grande destruição de comunidades biológicas ocorreu durante os últimos 150 anos, quando a população humana cresceu de 1 bilhão em 1850, para 2 bilhões em 1930, chegando a 6 bilhões estimados em 1998. O que é diversidade biológica? A definição de diversidade biológica dada pelo Fundo Nacional para a Natureza (1989) é “a riqueza da vida na Terra, os milhões de plantas, animais e microrganismos, os genes que eles contêm e os intrincados ecossistemas que eles ajudam a construir no meio ambiente”. Por esta definição, a diversidade biológica deve ser considerada em três níveis: no nível das espécies (diversidade de espécies), na variação genética dentro das espécies (diversidade genética) e no nível das comunidades e ecossistemas (diversidade ecológica). Todos os níveis da diversidade biológica são necessários para a sobrevivência das espécies e das comunidades naturais. Por que conservar a biodiversidade? Os processos ecológicos garantem a biodiversidade na Terra e estão por trás de todos os serviços que a natureza nos presta. Mas que serviços são esses? Vamos responder a esta pergunta utilizando um exemplo aplicado por alguns autores na literatura sobre biodiversidade. Imagine que você tem a oportunidade de ir morar em outro planeta e ter uma boa vida por lá. Para simplificar, este novo planeta possui atmosfera e clima similar ao nosso, aqui na Terra. Você está arrumando a sua mudança e agora precisa escolher quais, entre as milhões de espécies existentes, levará consigo. Sendo pragmático, você começa a sua lista escolhendo espécies que podem ser diretamente exploradas e que fornecerão alimentos, fibras, madeira e remédios. Neste ponto, sua lista já pode ter centenas de espécies. Mas, refletindo um pouco mais, você perceberá que precisa adicionar à sua lista espécies que garantam a sobrevivência daquelas que você já escolheu. Mas que espécies são essas? Não há uma resposta para esta pergunta. Ninguém sabe quais e quantas espécies são necessárias para sustentar a vida humana. Você poderia tentar outro enfoque para a sua lista de espécies a levar para o planeta enumerando quais os serviços ambientais que você imagina precisar no seu novo planeta, tais como: purificação da água, ciclagem de nutrientes, geração e manutenção da fertilidade do solo, decomposição do lixo, polinização de espécies utilizáveis na alimentação, controle de pragas e doenças, dispersão de sementes e proteção contra os raios ultravioletas. Quantas espécies seriam necessárias para garantir esses serviços? Quantas espécies, por exemplo, são necessárias para a manutenção da fertilidade do solo? Em um metro quadrado de solo, podemos encontrar espécies de protozoários, algas, fungos, bactérias, insetos, minhocas, entre outras. Que espécies levar? A esta altura, parece que o melhor mesmo é continuar aqui na velha e boa Terra… Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 19 Ecologia Desde o início da humanidade, temos utilizado os serviços da natureza. Com o desenvolvimento do conhecimento e o domínio de novas tecnologias poderíamos nos perguntar se alguns destes serviços conseguiriam ser substituídos por alternativas tecnológicas. Atualmente, por exemplo, métodos de purificação da água foram desenvolvidos e utilizamos agrotóxicos na ausência de controle biológico de pragas. No entanto, há certamente um limite para isso. Muitos serviços naturais envolvem complexos ciclos naturais de escala global (como os ciclos biogeoquímicos, por exemplo), que não podem ser substituídos por tecnologias. Apenas os serviços ambientais derivados de processos de escala mais limitada podem ser supridos por novas tecnologias. Um outro aspecto ainda a ser considerado é o custo financeiro de se usar a tecnologia. No caso da água, por exemplo, se os processos ecológicos envolvidos da purificação da água forem comprometidos, o tratamento da água passa a ser caro e complexo. E uma água mais cara significa a exclusão de uma parcela da população ao uso da água encanada. Imagine os danos à saúde dessa população. Neste sentido, verificamos a existência de uma ligação entre a conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais com a exclusão social. Unidade I In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 20 Ecologia Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 21 Problemática AmbientalProblemática Ambiental Unidade IUnidade IIUnidade II Capítulo 5 – Breve Histórico sobre a Problemática Ambiental Quanto desenvolvimento tecnológico aconteceu nos últimos 300 anos! Inúmeras descobertas feitas pela ciência geram uma capacidade enorme de produção e controle de elementos naturais. O homem, assim como qualquer organismo, está sujeito à seleção natural. Contudo, a diferença está na nossa capacidade de detectar a seleção sobre nós mesmos e de eliminar (ou, pelo menos, diminuir bastante) essa pressão seletiva. O homem, com a sua capacidade de raciocínio e consciência, possui uma enorme capacidade de adaptação. Nossa espécie vive nos mais distintos ambientes do planeta, sempre modificando o ambiente de modo a satisfazer as nossas necessidades de vida. No entanto, se não modificarmos a maneira como utilizamos o meio, esse “avanço”, pode nos levar à extinção. Ao longo da história, o homem aprendeu a superar suas limitações. Começou a criar ferramentas que multiplicavam as suas capacidades, ao mesmo tempo em que compreendeu que a sua sobrevivência era aumentada com a formação de grupos, que organizados em torno de um objetivo multiplicavam as suas capacidades individuais. Então surgiu a necessidade da organização das atividades para que os objetivos fossem alcançados. Deste modo, se desenvolveu um processo de organização do trabalho, ligado à distribuição de funções e tarefas. Este aumento da capacidade de trabalho do homem gerou impactos sobre o ambiente. O homem passou a construir bons abrigos, aperfeiçoou os métodos de caça e pesca e foi modificando lentamente o ambiente por milhares de anos. As sociedades humanas viviam em constante movimento, caçando animais selvagens e mudando de um lugar para outro em função das estações do ano, coletando frutos e grãos para sua alimentação. Por volta de 10.000 anos atrás, os homens começaram a domesticar animais e plantar sementes, o que permitia colheitas ao longo do ano. Estas atividades levaram a uma revolução na história da humanidade, a revolução agrícola. A revolução agrícola permitiu a fixação das pessoas e o surgimento de pequenas vilas e cidades. O homem passou a produzir os alimentos que necessitava e aumentou a divisão do trabalho. As sociedades ficaram mais complexas, com a necessidade de cooperação entre os indivíduos para a manutenção da qualidade de vida. Nesse momento, a manutenção ou o aumento da qualidade de vida já se dava em detrimento do ambiente natural. Com a agricultura (e o sedentarismo) o homem mudou a relação que tinha com a natureza, pois a atividade agrícola exige a criação de um meio artificial para o cultivo de plantas e animais. Surgiu então a sociedade privada. O aumento das aglomerações humanas aumenta a destruição do ambiente natural e provoca a adaptação de outros organismos que passam a conviver com os homens como pragas. Algumas dessas pragas transmitem doenças e, de fato, temos exemplos de grandes epidemias durante a Idade Média que provocaram a morte de milhões de pessoas na Europa. No século XVIII, ocorreu outra grande revolução, a revolução industrial. Ela começou na Inglaterra e se espalhou pelo mundo com o passar do tempo, provocando alterações profundas no meio ambiente. Promoveu o crescimento econômico, gerou riquezas e trouxe uma melhor qualidade de vida às pessoas. Por outro lado, a revolução industrial trouxe vários problemas ambientais como: altas taxas de concentração populacional, consumo acelerado dos recursos naturais (muitos deles não renováveis), poluição do ar, água e solo, desmatamento, entre outros. In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 22 Problemática Ambiental Unidade II Um dos problemas mais visíveis causados pela industrialização é a destinação dos resíduos gerados na produção, que afetam a saúde do homem e do meio ambiente. Nas últimas décadas, ocorreram grandes acidentes industriais, e a contaminação gerada por eles acabou chamando a atenção da opinião pública para a gravidade. Adicionalmente, o avanço do conhecimento científico, nas mais variadas áreas, deu suporte para as denúncias dos problemas envolvendo o meio ambiente e a sustentabilidade. Problemas ambientais tornaram-se assunto global e começou a formação de uma conscientização dos problemas causados por má gestão. Atualmente, a preocupação com o meio ambiente faz parte de muitos encontros internacionais e muitas empresas estão empenhadas em melhorar suas gestões em prol do meio ambiente. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 23 Problemática Ambiental Unidade II Capítulo 6 – Desenvolvimento Sustentável A sustentabilidade é a capacidade dos diversos sistemas da Terra, incluindo as economias e sistemas culturais humanos de sobreviverem e se adaptarem às condições ambientais em mudança. O desenvolvimento sustentável norteia o atual debate sobre a questão ambiental em qualquer setor das atividades humanas. Quase todos os ecossistemas naturais alcançam a sustentabilidade de longo prazo de duas maneiras: utilizam a energia solar (que é renovável) como fonte de energia e reciclam os nutrientes que os organismos necessitam para sobreviver e reproduzir. Temos que aprender com a natureza! Vivemos em uma era exponencial. Atualmente, a população humana está crescendo a uma taxa de 1,2% ao ano. Entre 1950 e 2005, a população mundial aumentou de 2,5 bilhões para 6,5 bilhões. Estima-se que em 2010 a população humana esteja ente 8 e 10 bilhões de pessoas. O crescimento econômico é a capacidade de um país em fornecer bens e serviços às pessoas. Apesar de o crescimento econômico ter se multiplicado por oito de 1950 a 2005, a pobreza assola bilhões de pessoas. O conceito de desenvolvimento sustentável é complexo e começou a ser formado a partir da década de 1960. A primeira definição mais elaborada surgiu no relatório produzido pelo informe Brundtland (Nosso Futuro Comum) da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD), que era presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Segundo o relatório, o desenvolvimento sustentável é “um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”. O conceito de desenvolvimento sustentável é amplamente utilizado mas existem diferentes interpretações sobre ele. Para algumas pessoas, alcançar o desenvolvimento sustentável é obter o crescimento econômico através de um manejo mais racional dos recursos naturais e da utilização de tecnologias mais eficientes e menos poluentes. Para outras, o desenvolvimento sustentável é antes de tudo um projeto social e político para acabar com a pobreza, melhorar a qualidade de vida e satisfazer às necessidades básicas da humanidade utilizando os recursos naturais de uma maneira sustentável. Entretanto, é princípio básico do desenvolvimento sustentável, o desenvolvimento que atende as gerações atuais e futuras. Em outras palavras, deve-se a todo custo utilizar os recursos de forma que as gerações futuras não sejam prejudicadas. Da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida como ECO-92, resultaram alguns documentos, entre eles a Agenda 21. Este documento é um programa internacional que estabelece parâmetros para que se obtenha o desenvolvimento sustentável nas vertentes econômica, social e ambiental. Posteriormente, outros encontros aconteceram e procuraram reavaliar e dar diretrizes para a construção de um desenvolvimento sustentável. O Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável participou da organização da temática empresa e meio ambiente na ECO-92. O conselho elaborou um documento sobre o desenvolvimentosustentável voltado para o meio empresarial. In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 24 Problemática Ambiental Em 1998, no Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) publica a sua Declaração de Princípios da Indústria para o Desenvolvimento Sustentável. Observa-se uma maior intenção, por parte das empresas, de integrar economia e meio ambiente. Ainda que o desenvolvimento sustentável nas empresas seja mais voltado para a eficiência na gestão interna e práticas ecoeficientes do que para a conscientização de um amplo desenvolvimento econômico sustentável, é certamente um grande avanço. As empresas têm uma grande responsabilidade sobre o esgotamento dos recursos naturais e são poucas aquelas que assumem uma postura de responsabilidade social ambiental. A maioria age em resposta a exigências de órgãos governamentais no que se refere a procedimentos ecologicamente mais eficientes. No entanto, as empresas geram empregos e produzem muitos produtos que melhoram a nossa qualidade de vida. O papel das empresas é inegável, e somente com o avanço da adoção de sistemas de gestão por parte delas teremos a perspectiva de atingirmos um desenvolvimento minimamente sustentável. Nos processos industriais, os recursos naturais são utilizados e, devido a ineficiências internas dos processos, geram resíduos de vários tipos que contaminam o meio ambiente. Existem diversos fatores externos que provocam uma resposta das empresas no sentido de diminuir a contaminação: o Estado, através de uma legislação coerente seguida de uma boa fiscalização; a comunidade local, que faz um tipo de fiscalização informal uma vez que as pessoas que moram perto das indústrias são as primeiras a sofrer consequências da poluição; os mercados, que podem preferir empresas que agridam menos o meio ambiente durante os seus processos produtivos; e por último, os fornecedores das empresas. Existem vários benefícios financeiros que podem ser obtidos pelas empresas ao diminuir a quantidade de resíduos lançados no meio ambiente. Entre eles estão: menores gastos com matéria-prima, energia e disposição dos resíduos, com menor dependências de instalações para o tratamento e destinação final de resíduos; redução dos custos futuros decorrentes de processos de despoluição de resíduos ou contaminação; economia em multas ambientais; menores custos operacionais e de manutenção e, por fim, menores riscos às pessoas e, consquentemente, menos despesas. Em muitos casos, a redução da contaminação ocorre sem a necessidade de grandes investimentos por parte das empresas, apenas com a melhoria da gestão e das práticas adotadas ao longo do processo de fabricação. A gestão ambiental tem por objetivo conseguir que os efeitos ambientais não ultrapassem a capacidade de carga do meio onde se encontra a empresa, buscando dessa forma a sustentabilidade. O processo de gestão ambiental nas empresas está profundamente vinculado a normas elaboradas pelas instituições públicas sobre o meio ambiente. Estas normas fixam os limites aceitáveis de emissão de substâncias poluentes, definem a maneira de lidar com os resíduos, proíbem a utilização de substâncias tóxicas, definem a quantidade de água a ser utilizada, volume de esgoto a ser lançado, etc. Há diversas razões para uma empresa adotar métodos de gestão ambiental. Internamente, na empresa, existe a necessidade de redução de custos, aumento da qualidade do produto, melhoria da imagem da empresa, necessidade de inovação (diferenciação de seus concorrentes), sensibilização dos funcionários e, por fim, aumento da responsabilidade social. Externamente à empresa, existe a demanda do mercado com exigências ambientais, a concorrência, a legislação ambiental e a imagem da empresa perante a sociedade. Em muitos casos, as certificações ambientais têm se tornado um estímulo de peso para as empresas. Clientes de países desenvolvidos muitas vezes exigem uma certificação internacionalmente reconhecida, como é o caso da norma ISO 14000, para alguns produtos. Os sistemas de gestão ambiental, como mencionado, constituem processos onde se controlam e minimizam os impactos ambientais negativos de uma empresa. Para se obter a cerificação de um modelo de gestão ambiental da série ISO 14000, a empresa deve implementar ferramentas para monitorar as atividades, produtos ou serviços que podem interagir com o meio ambiente, e desenvolver programas ambientais que promovam a redução ou eliminação do impacto eventualmente produzido. Unidade II Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 25 Problemática Ambiental ATIVIDADE Pesquise e exemplifique práticas ecologicamente corretas por empresas, apontando os benefícios revertidos a essas empresas e ao meio ambiente. Unidade II In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 26 Problemática Ambiental Capítulo 7– Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kyoto No final dos anos 1980 foi dado um alerta ao mundo sobre o aquecimento global devido ao efeito estufa e seus perigos para o planeta. Desde então, o problema tem se agravado tanto pelo aumento das temperaturas médias quanto pelo avanço da tecnologia, que consegue demonstrar com maior precisão o que realmente está acontecendo com o clima global devido à atividade humana. O efeito estufa é um fenômeno natural que ocorre a partir da concentração de gases na atmosfera, tais como o dióxido de carbono (CO2), o ozônio (O3), o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4), entre outros, que absorvem uma quantidade maior de radiação infravermelha, provocando o aumento da temperatura da Terra. A vida no planeta depende disso. O problema é que a queima de carvão natural, petróleo e derivados lançam quantidades excessivas desses gases na atmosfera, provocando um aquecimento anormal do planeta. Está ocorrendo um aumento da concentração, principalmente de CO2 (produzido pela queima de combustíveis fósseis), que não está sendo absorvido em quantidade suficiente pela vegetação existente. A Convenção da Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto são esforços para desenvolver formas globais de controle das emissões e regular a utilização da atmosfera como um bem público global. Em 1998, estabeleceu-se o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPPC) pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA), com o objetivo de reunir todas as evidências das alterações climáticas devido as ações do homem. O IPPC reúne mais de 2 mil especialistas climáticos de 70 países. Em 2000 o IPPC publicou o seu primeiro relatório afirmando que a mudança climática representava de fato uma ameaça à humanidade. Veja o documentário Uma verdade inconveniente (2006), do diretor Davis Guggenheim, apresentado pelo ex-presidente americano Al Gore. O Protocolo de Kyoto foi resultado da terceira Conferência da Partes, órgão encarregado de revisar a implementação da Convenção das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, assinada por 155 países, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambeinte e Desenvolvimento (CNUMAD), em junho de 1992. Segundo o protocolo, os países industrializados deveriam cortar suas emissões para abaixo dos níveis de 1990. Leia mais sobre o Protocolo de Kyoto <http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4006.html> O Protocolo de Kyoto oferece a muitas empresas e aos países em desenvolvimento uma oportunidade de novos negócios que podem ser realizados tendo como base o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Este mecanismo representa Unidade II Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 27 Problemática Ambiental uma forma de cooperação, através do comércio de emissões, permitindo que países desenvolvidos cumpram as suas metas de redução na emissão de gases, através de financiamentode projetos em países em desenvolvimento. Estes projetos incluem conservação de áreas naturais protegidas, reflorestamento, eficiência energética, etc. O Brasil apresenta grande potencial para participar deste mercado mundial de carbono, pois possui grandes extensões territoriais propícias ao aumento da taxa de crescimento vegetal, através de reflorestamento ou conservação de áreas naturais, o que propicia níveis elevados de captação de carbono. Nesse contexto, o mecanismo para o desenvolvimento limpo pode oferecer financiamento, tecnologia, cooperação e capacitação para projetos ambientais. ATIVIDADE Pesquise como funciona o mercado de carbono. Explique esse mercado e exemplifique. Unidade II In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 28 Problemática Ambiental Capítulo 8 – Responsabilidade Social Um aspecto extremamente importante do movimento gerado em torno da questão ambiental nos últimos anos é a responsabilidade social tanto de indivíduos quanto de organizações. A responsabilidade social em questões ambientais se traduz na adoção de práticas que extrapolam os deveres básicos tanto do cidadão quanto das organizações. Constituem- se, em sua maioria, em ações voluntárias que implicam em um comprometimento maior que a simples adesão formal de normas em virtude de obrigações legais. A responsabilidade social empresarial promove uma conduta por parte da empresa que integra elementos sociais e ambientais que não estão necessariamente contidos na legislação, mas que atendem às expectativas da sociedade em relação à empresa. Na cúpula Mundial de Desenvolvimento Sustentável, mais conhecida como Rio+10 definiu-se a responsabilidade social empresarial como: “O compromisso da empresa de contribuir ao desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando com os empregados, suas famílias, a comunidade local e a sociedade em geral para melhorar a qualidade de vida”. A empresa, deste modo, possui um novo papel na sociedade, extrapolando o âmbito do mercado, criando normas que fogem do âmbito exclusivamente econômico. Além disso, é vista também como um sistema social, formado por um conjunto de pessoas que estabelecem objetivos éticos para orientar suas atividades. Desta forma, os empresários estão se conscientizando de que a empresa não é apenas uma unidade de produção de bens e serviços, mas deve atuar de acordo com uma responsabilidade social que se baseia no respeito aos direitos humanos, na melhoria da qualidade de vida e na preservação do meio ambiente. As discussões sobre a responsabilidade social tomaram um novo rumo com o lançamento do Pacto Global pelas Nações Unidas em 1999, quando o então secretário-geral da ONU, Kofi Annan, apelou para que as empresas do mundo todo assumissem uma globalização mais humanitária. O pacto tem dez princípios universais, envolvendo os direitos humanos, direitos do trabalho, proteção ambiental e princípios contra a corrupção. Educação Ambiental – princípios Genebaldo Dias, após analisar a evolução do conceito de Educação Ambiental, diz: “Acredito que a Educação Ambiental seja um processo por meio do qual as pessoas aprendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade”. A maioria dos ambientalistas acredita que aprender a viver de maneira sustentável requer educação ambiental. Veja alguns objetivos da educação ambiental descritos por Miller (2007). – Desenvolver o respeito a todas as formas de vida. – Entender o máximo possível como a Terra funciona e se sustenta e usar esse conhecimento para guiar nossas vidas, comunidades e sociedades. – Buscar conexões dentro da biosfera e entre ela e nossas ações. – Usar o raciocínio crítico. – Avaliar a nossa visão de mundo ambiental e entendê-la como um processo de longa duração. – Aprender a avaliar as consequências boas e ruins para o planeta, de nossas escolhas de estilo de vida, hoje e no futuro. – Fomentar o desejo de fazer do mundo um lugar melhor e agir para tanto. Unidade II Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 29 Problemática Ambiental A educação ambiental hoje tem um papel fundamental na conscientização de que o ser humano é parte do meio ambiente, tentando superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza. Essa área de formação surgiu a partir do crescente interesse do homem sobre questões ambientais devido às grandes catástrofes naturais que têm assolado o mundo nas últimas décadas. No Brasil, em 27 de abril de 1999, a educação ambiental foi inserida na legislação por meio da Lei nº 9.795 – Lei da Educação Ambiental, que em seu Art. 2° afirma: “A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. Neste sentido, o intuito é formar educandos com uma consciência crítica sobre a problemática ambiental, para que as gerações que estão nas escolas já aprendam valores e atitudes que permitam a utilização do ambiente de forma sustentável. Unidade II In tr od uç ão à s Ci ên ci as A m bi en ta is 30 Capítulo 9 – Considerações Éticas Que fatores levam os humanos a agir de maneira destrutiva? A degradação do ambiente ocorre basicamente por razões econômicas. A nossa floresta é desmatada para que seja explorada e comercializada a madeira e também para que a área sirva para o plantio de soja, por exemplo. Espécies são introduzidas em novas áreas, de maneira acidental ou propositadamente, sem qualquer consideração com o resultado. A economia moderna prevê que uma transação ocorre quando é benéfica para ambas as partes envolvidas. Um dos principais desafios dos biólogos conservacionistas é assegurar que todos os custos e benefícios da transação sejam levados em conta. As empresas ou pessoas envolvidas em atividades que resultam em danos ecológicos, geralmente, não arcam com todos os custos de suas atividades. Quando existe algum acidente ecológico como o vazamento de óleo ou de algum produto químico para o ambiente por exemplo, o custo é pago por toda a população, não somente por quem está envolvido na transação de compra e venda do óleo ou do produto químico. A ampla distribuição do custo econômico de uma atividade somado ao fato do benefício estar concentrado em pequenos grupos cria um conflito econômico/ecológico. Por esta razão, nem todos os homens devem arcar com os resultados da degradação. Neste contexto, surge a economia ambiental, disciplina que integra economia, ciência ambiental e política pública. Uma justificativa econômica para a preservação da diversidade biológica pode ser um argumento extremamente forte para que os governos e iniciativas privadas diminuam os impactos causados pela nossa sociedade, ao meio ambiente natural. Mas será que o surgimento da economia ambiental não mostra uma submissão ao atual sistema econômico mundial? Sistema esse onde morrem milhões de pessoas anualmente vítimas da desnutrição? Certamente, muitas mudanças têm que ser feitas nesse sistema. Muitos argumentos e questionamentos éticos, além dos econômicos, podem ser feitos para justificar a proteção do meio ambiente. Primeiramente, todas as espécies têm o direito de existir. Este argumento apresenta o homem como parte de uma comunidade biótica maior (como de fato o é), na qual respeitamos todas as espécies. Um outro argumento é que todas as espécies são interdependentes. E por esta razão a perda de uma espécie pode ter consequências para outras espécies da comunidade. Os humanos devem viver dentro das mesmas limitações em que vivem as outras espécies. Afinal, todas as outras espécies vivem dentro da capacidade de suportebiológico de seu ambiente. A sociedade tem a responsabilidade de proteger o planeta. Se degradarmos os recursos naturais do ambiente, proporcionando a extinção de muitas espécies, as gerações futuras pagarão o preço pois terão uma qualidade de vida inferior. O respeito pela vida humana deve ser o mesmo em relação à diversidade biológica. Esforços para diminuir a pobreza, a criminalidade e promover a paz entre as nações, por exemplo, beneficiarão as pessoas e a diversidade biológica. Esses problemas sociais têm efeitos deletérios sobre a biodiversidade. A natureza tem valor estético e espiritual. Em geral o homem aprecia a vida selvagem e a natureza, e muitas pessoas consideram a Terra como criação divina, que deve ser respeitada. Pense nos seus argumentos éticos para a preservação do meio ambiente. Certamente, todos eles são importantes. Você acha que temos jeito? Considerações Éticas Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 31 BENSUSAN, N. (Org.). Seria melhor mandar ladrilhar? Biodiversidade como, para quê, por quê. Brasília: Editora UnB, 2002, 251p. CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1968. DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9. ed. Editora Gaia. 2004, 549p. DIAS, R. Gestão Ambiental, Responsabilidade Social e Sustentabilidade. São Paulo: Atlas. 196 p. 2007. MILLER JR., G. T. 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