Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APOSTILA 1 TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO Crédito: relação de confiança entre dois sujeitos – credor (concedente) e devedor (se beneficia). Conceito de título de crédito Clássico: art. 887, CC. Específico: documento que constitui a prova de que certa pessoa é credora de outra. Arts. 887 a 926, CC – Teoria Geral. Atributos dos títulos de crédito - Negociabilidade ou cambiaridade: possibilidade de fazer circular o crédito; provar a existência de um débito e de seu credor correspondente (finalidade primária); permitir que esse credor possa mudar de titular (finalidade secundária); mesmo antes do vencimento da obrigação, pode o credor fazer uso do crédito. - Variabilidade subjetiva do crédito: mudança da titularidade ativa (credor). - Executividade: títulos executivos extrajudiciais – celeridade na execução – dispensa ação de conhecimento. A emissão do título de crédito e seus efeitos jurídicos = saque. Ato jurídico unilateral. É uma afirmação feita pelo emitente de que existe uma obrigação jurídica de pagar ou entregar determinada coisa. As obrigações representadas por um título de crédito podem ter origem extracambial (compra e venda e mútuo) ou cambial (aval): Efeito da emissão de título: a) entrega do título pro soluto: a entrega resolve a obrigação originária; como o pagamento; adimple o negócio através da novação (o devedor contrai nova dívida com o credor para extinguir ou substituir a anterior). b) pro solvendo: não resolve a obrigação originária; apenas garante o pagamento que ainda será realizado. Não há uma regra geral pra se dizer se uma emissão é dessa ou daquela forma, o que vale é o combinado entre as partes ou, caso não haja acordo, qual era o seu ânimo (art. 361, CC). Princípios gerais do Direito Cambiário a) Princípio da Cartularidade: instrumento representativo de crédito (pequeno documento). O direito representado no título de crédito só pode ser exercido por quem tenha a posse do documento. Trata-se de garantia de que não haverá enriquecimento indevido de quem, tendo sido credor da obrigação declarada no título, posteriormente, o colocou em circulação. Quem paga obrigação constante de título de crédito deve, por uma cautela necessária em tempos modernos, exigir que lhe seja devolvida a cártula por duas razões: a) retirada do título de circulação – busca-se evitar que, mesmo tendo sido pago, o título de crédito volte a circular, obrigando o emitente a saldá-lo quando novamente for apresentado a pagamento por terceiro de boa-fé; b) possibilitar ao pagador agir em regresso – somente com a posse do título é que o sujeito que efetuou o pagamento do título de crédito poderá demandar em regresso contra outros devedores da obrigação. Exceção: duplicatas mercantis e de prestação de serviço (pode haver exercício de direito cambiário sem a posse do documento). b) Princípio da literalidade: valem exatamente a medida neles declaradas. Os atos lançados em documentos apartados, mesmo sendo considerados válidos entre as partes diretamente envolvidas, não produzirão efeitos quanto ao portador do título. c) Princípio da autonomia das obrigações cambiais: as obrigações representadas por um mesmo título de crédito são independentes entre si. c.1.) princípio da abstração: o título de crédito, quando posto em circulação, se desvincula do negócio primitivo que lhe originou. c.2.) princípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: o executado em virtude de um título de crédito não pode alegar, em seus embargos, matéria de defesa estranha à sua relação direta com o exequente, salvo provando a má-fé dele. APOSTILA 2 Requisitos genéricos dos títulos de crédito a) agente capaz: absolutamente incapaz – nulidade absoluta; relativamente capaz – anulável. Apenas a emissão de título exige a plena capacidade. A incapacidade do beneficiário do TC não vicia a obrigação. O emitente deve exarar declaração unilateral que o obriga livre de qualquer vício de consentimento. O TC pode ser emitido por representante legal (art. 115, CC). b) objeto lícito, possível e determinado: devem obediência às regras (depósito de produtos roubados, p. ex.); fisicamente possível (valores astronômicos, moedas antigas, personagens fictícios); certeza e liquidez da obrigação. c) forma prescrita em lei: quantidade mínima de informações exigidas de todos os títulos; caso não possua os requisitos mínimos do caput do art. 889, CC, o regime passará a ser o ordinário das obrigações civis, e não o cambial. Deve conter a data de emissão (caso o beneficiário receba sem data, cumpre a ele data-lo), principalmente para efeito de prescrição cambial (a data de vencimento não é requisito necessário!). O crédito só passa a ser exigível quando da chegada da data de vencimento. Devem estar indicados todos os direitos conferidos (princípio da literalidade), ou seja, tudo aquilo que compuser o universo da relação obrigacional (ver art. 890 – cláusulas não escritas). A assinatura, por qualquer tipo de material (caneta, lápis), lançada pelo próprio punho ou de procurador, também é um requisito obrigatório, por se tratar de declaração unilateral de vontade. Não se admite a aposição do polegar, assinatura a rogo ou qualquer outro para suprir a assinatura do analfabeto (este deve constituir procurador para tanto). O TC que for sacado mediante a aposição de uma falsa assinatura, equipara-se ao título sem assinatura (o risco é do terceiro, que recebe o título). Emissão do TC com partes em branco: não é no momento da emissão que o TC deve conter todos os requisitos indispensáveis (art. 891), mas o da exigência de seu cumprimento (súmula 387, STF). Caso, por via judicial, o TC esteja em branco, extinguir-se-á a ação por carência de execução por falta de título regular. A autorização implícita para o preenchimento não é absoluta (ajustes estabelecidos pelas partes) – em caso de abuso de preenchimento, poderá o emitente opor exceção pessoal ao credor, desde que não esteja na posse de terceiro de boa-fé (estando na posse deste, mesmo que de forma abusiva, o prejuízo recairá sobre o emitente, pois assumiu o risco) – pode tentar demonstrar em juízo que o terceiro conhecia ou deveria conhecer o defeito. Erros e rasuras na grafia do TC: deve ser livre e isenta de qualquer dúvida; um simples erro ortográfico que não põe em dúvida a obrigação, não retira do título a certeza do quantum devido pelo emitente (deis, secenta, hum etc.). Perde sua força executiva se o erro colocar em dúvida o quantum. Quanto à rasura, a análise deve ser mais profunda – a simples borradura não é considerada nulidade; caso feita em elemento essencial do TC, acarreta a invalidade (inserção de Jr. ou Filho no final do nome com caneta/cor diferente). Classificação dos TCs a) Quanto ao modelo: livre (sua forma não observa padrão - cumprir apenas os requisitos em lei – letra de câmbio e nota promissória); vinculado (requisitos + padrão previsto – cheque e duplicata mercantil). b) Quanto à estrutura: ordem de pagamento (quem ordena – sacador; a quem se destina a ordem – sacado; e a do beneficiário da ordem – beneficiário ou tomador – letras de câmbio, cheque, duplicata); promessa de pagamento (a de quem promete pagar e a do beneficiário da promessa – nota promissória). c) Quanto ao prazo: à vista (vencimento indeterminado, deve ser pago imediatamente – cheque); à prazo (pago na data previamente estabelecida – nota promissória c/ vencimento futuro). d) Quanto às hipóteses de emissão: causal (hipótese de ocorrência do fato que a lei elegeu como causa possível de sua emissão – duplicata mercantil); não-causal (abstrato) (criado por qualquer causa para obrigação de qualquer natureza(letra de câmbio, cheque, nota promissória). e) Quanto à circulação: ao portador (não identifica o beneficiário do TC, transferido por mera tradição – art. 904 e 905); nominativo (identifica o beneficiário; à ordem – tradição + endosso; não à ordem – tradição + cessão civil de crédito). APOSTILA 3 TÍTULOS DE CRÉDITOS PRÓPRIOS LETRA DE CÂMBIO Quase não é adotado no Brasil. Conceito Ordem de pagamento que o sacador dirige ao sacado para que este pague a importância consignada a um terceiro, denominado tomador ou beneficiário. Três situações jurídicas: a do (a) sacador – aquele que ordena que seja feito o pagamento de certa quantia por uma pessoa a outra; (b) a do sacado – aquele que deverá pagar a quantia mediante determinadas condições; (c) a do tomador – o beneficiário da ordem de pagamento, o credor. Pode uma mesma pessoa ocupar mais de uma dessas três situações jurídicas (duas pessoas com três situações distintas). Requisitos indispensáveis Requisitos mínimos (art. 889) + art. 1º do Dec. 2.044/08 (câmbio é uma ordem de pagamento e deve conter requisitos, lançados, por extenso, no contexto: I. A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na língua em que for emitida. II. A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda. III. O nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser inserida abaixo do contexto. IV. O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao portador e também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O sacador pode designar-se como tomador. V. A assinatura do próprio punho do sacador ou do mandatário especial. A assinatura deve ser firmada abaixo do contexto) Caso falte algum deles, a cártula serve apenas como instrumento para reconhecer a obrigação, não podendo circular como título de crédito. O nome do sacado deve vir sempre com elemento de identificação (CPF etc.). Não se considera obrigatório o lugar do pagamento – uma vez ausente, o pagamento da LC deve ser feito no lugar do saque. Aceite A obrigação cambial do sacado somente nasce com a aposição e concordância na própria cártula (aceite). Denominação: aquele que consigna o aceite no TC é denominado aceitante – devedor principal da obrigação cambial. Natureza: facultativa – o sacado acata a ordem se quiser. Forma: assinatura do sacado + expressão “aceito” ou equivalente (princípio da literalidade). Peculiaridades: o tomador deve procurar imediatamente o sacado a fim de que este concorde com a ordem de pagamento; caso não concorde, opera-se o vencimento antecipado do título, podendo o tomador exigir o seu pagamento diretamente do sacador – nesse caso, nada pode ser exigido do sacado, que recusou e não nasceu para ele nenhuma obrigação cambial. Recusa parcial: a) aceite limitativo – o sacado reduz o valor da obrigação que ele assume; b) aceite modificativo – o sacado apõe mudanças nas condições de pagamento do TC (data de vencimento ou praça, p. ex.). - nessas hipóteses também se opera o vencimento antecipado do título, porém, o aceitante se vincula nos termos do seu aceite. Cláusula não-aceitável: evita a antecipação no vencimento da LC pela recusa do sacado, porém, não exonera o sacador de sua responsabilidade – cláusula que proíbe a apresentação da LC antes do seu vencimento. Endosso Ato pelo qual o credor de um TC transfere seus direitos creditórios a outra pessoa (endossante – credor que transfere o TC e endossatário - pessoa transferida). O endossante é o tomador da primeira obrigação. Pode ser à ordem (implícito nos TCs) ou não à ordem. Efeitos: a) transferência do título ao endossatário e b) vinculação do endossante ao seu pagamento. Cláusula sem garantia: quando o endossante não assume a responsabilidade pelo pagamento do TC, desde que concorde o endossatário (“pague-se, sem garantia, a Fulano”). Nesse caso, o TC só terá dois devedores: o aceitante (sacado) e o sacador (caso contrário, haveria o sacado, o sacador e o endossante). Tipos (art. 910): em branco (a transferência não identifica o endossatário – pode circular por simples tradição – pode se dar com a assinatura do credor no verso do título ou no verso ou anverso do título com a expressão “pague-se” ou equivalente; ou em preto (o ato de transferência indica o endossatário – assinatura do credor no verso ou anverso sob a expressão “pague-se a Fulano”. São três as formas de transferência do TC: pode transformar o endosso em branco para o preto; pode endossar novamente, em P ou B; pode transferi-lo sem novo endosso. Art. 913. Endosso modal: não se admite o endosso que condicione o pagamento do TC a qualquer termo (respeito à circulabilidade). Art. 912. Caso haja condição, ele não será considerado mais TC – o que não acarreta na perda do direito de exigir o pagamento nele transcrito (poderá servir como prova em ação ordinária). Endosso impróprio: existem hipóteses em que é possível o endosso do TC sem que haja a transferência do crédito. - endosso-mandato: endossatário como mandatário do endossante – investir a terceiro a tarefa de cobrar crédito (“pague-se por procuração a Fulano”) – art. 917. - endosso-caução: endossatário como credor pignoratício do endossante – poderá recair sobre bens móveis – “pague-se, em garantia, a Fulano”. Art. 918. O endossatário, nas hipóteses do endosso impróprio, poderá exercer todos os direitos decorrentes dos TCs, exceto transferir-lhe a titularidade, uma vez que não é credor do TC. As empresas, quando se relacionam com os bancos, costumam fazer uso dos 3 tipos de endosso: próprio ou translativo; endosso-mandato e o endosso-caução. AVAL: uma pessoa é chamada a garantir o pagamento de uma obrigação assumida por outra, sem, no entanto, beneficiar-se de qualquer forma pela atitude de risco, pois se trata de promessa de prestação sem contraprestação, uma vez que o credor da obrigação não oferece absolutamente nada ao terceiro garantidor. Portanto, aval é ato jurídico da espécie “declaração unilateral de vontade” em que uma pessoa (avalista) se compromete a pagar título de crédito nas mesmas condições que um devedor desse título (avalizado). Trata-se de uma garantia suplementar exigida pelo credor quando não sente segurança em relação à solvabilidade do devedor do título. Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de pagar soma determinada, pode ser garantido por aval. Parágrafo único. É vedado o aval parcial. Obs.: o parágrafo único do art. 897 do CC proíbe o aval parcial, ou seja, a garantia parcial da obrigação. No entanto, no caso específico da LETRA DE CÂMBIO, o art. 30 da LU admite aval parcial. Inadimplemento do avalizado: concretiza a obrigação do avalista, pois o que antes era somente uma promessa torna-se exigível. Avalista e avalizado passam a ter uma relação de solidariedade passiva, ocupando mesma posição diante do credor. O ingresso em juízo pelo credor contra um ou alguns dos devedores não imposta em renuncia da solidariedade entre eles, permanecendo, ainda, todos solidários pelo pagamento do restante da obrigação insatisfeita. Pela própria natureza do AVAL não há de se falar no beneficio de ordem. O avalista que paga a obrigação no lugar do avalizado tem, contra este e contra os demais coobrigados anteriores, direito de regresso, na forma do que dispõe o §1°, do art. 899, do CC. Características: a) autonomia – a obrigação assumida pelo avalista perante o credor do título é autônoma, ou seja, independente daquela assumida pelo devedor principal; b) equivalência – a obrigação assumida é equivalente àquela do avalizado. Forma: em respeito ao Princípio da Literalidade, para que produza os efeitos jurídicos de aval, aassinatura do avalista deve ser lançada no corpo do título. De igual forma ao endosso, o aval pode ser branco (não há identificação do avalizado. A assinatura do avalista é lançada no anverso do titulo acompanhada de qualquer expressa, ou no verso ou anverso do título, acompanhada da expressão “por aval”) ou preto (há identificação do avalizado). A assinatura do avalista é lançada no verso ou anverso do título. O aval em branco é conduta desaconselhável, haja vista a circularidade dos títulos de crédito, cabendo à lei estabelecer o critério de identificação. Autorização conjugal: o aval da pessoa casada em comunhão parcial ou universal de bens, exige a autorização do cônjuge, sob pena de ser considerado inválido. Avais simultâneos: mais de um avalista assumem responsabilidade solidária (entre eles) em favor do mesmo devedor; Avais sucessivos: o avalista presta aval em favor de um devedor, e tem a sua própria obrigação também garantida por aval. É o aval do aval. AVAL x FIANÇA: AVAL FIANÇA Ato regulamentado pelo Direito Cambial Regulamentado pelo Direito Civil Somente permitido no próprio título. Pode ser feito em instrumento separado Inoponibilidade das exceções pessoais. Pode o devedor opor ao fiados as exceções pessoais que tinha contra o afiançado. Não existe benefício de ordem O fiador tem o direito de ser cobrado apenas se o afiançado não pagar PAGAMENTO: é o meio normal de extinção das obrigações. Por ele, extinguem-se uma, algumas ou todas as obrigações representadas em um título de crédito. Deve ser feito no dia do vencimento do título ou no dia útil seguinte, caso o vencimento recaia em dia não útil. Diz-se que o vencimento é ordinário quando se verifica em razão do decurso do tempo eleito pelas partes para a ocorrência do fato jurídico que torna exigível o crédito cambiário. Por sua vez o vencimento é extraordinário, no caso da LC, quando há recusa do aceite pelo sacado e na hipótese de declaração de falência do aceitante. Cautelas necessárias: a) o devedor deve exigir que lhe seja entregue o título após o pagamento (Princípio da Cartularidade); b) o devedor deve exigir que seja dada a quitação do pagamento no próprio título (Princípio da Literalidade), sob pena de ser compelido novamente ao pagamento, caso tenha o título sido endossado a terceiro de boa-fé; neste caso, o devedor poderá reaver o que pagou indevidamente através de ação própria. O direito do devedor é somente pagar a obrigação representada pelo título de crédito mediante a sua devolução e a declaração de quitação em documento escrito, a recusa do credor em devolver a cártula ou em firmar declaração de quitação caracteriza a sua mora, oportunizando ao devedor manejar ação em consignação em pagamento. Obrigação Cambial \= Obrigação Quesível: cabe ao credor de obrigação cambial a iniciativa para a satisfação do seu crédito, procurando o devedor para receber o valor representado no título, ou avisando-o do local onde poderá ser realizado o pagamento. Justa causa para o não pagamento de uma LC: quem paga tem a intenção de desobrigar-se perante o seu credor. Em alguns casos, efetuando o devedor o pagamento, ainda assim não estará desobrigado: a) extravio da LC; b) falência do credor da LC; c) incapacidade do portador. Ordem entre os coobrigados: não há dúvida que o devedor principal de uma obrigação representada em uma LC é o aceitante. Se ele paga no vencimento, extinguem-se todas as obrigações que o título representava. Caso o devedor principal não pague a obrigação, os coobrigados serão chamados a responder. Neste caso, a cadeia de anterioridade-posterioridade dos devedores cambiais obedece três critérios: a) o devedor principal; b) o sacador e os endossantes, obedecido o critério cronológico, e c) o avalista como devedor imediatamente posterior ao seu avalizado. PROTESTO: protesto cambial é o ato formal e solene pelo qual se demonstra a impontualidade do devedor quanto ao descumprimento de obrigação originada em títulos de crédito. No caso da LC, essa impontualidade pode se dar pelos mais variados motivos. São eles: a) falta de aceite – extraído contra o sacador, pois este teve rejeitada a sua ordem de pagamento. Apesar de não poder haver o protesto do sacado, haja vista que não se obrigara pelo aceite, mesmo assim será este intimado a comparecer em cartório a fim de aceitar a LC; b) falta de data do aceite; c) falta de pagamento. Deve ser ressaltado que o protesto é facultativo em relação ao devedor principal e seus avalistas, uma vez que a obrigação consta do próprio título, sendo condicionada apenas ao vencimento da data aprazada. Já quanto aos coobrigados, tendo em vista que sua responsabilidade pelo pagamento do título não é direta, mas condicionada à inadimplência do devedor principal e seus avalistas, o protesto é necessário. Cancelamento do protesto: processa-se administrativamente perante o próprio Cartório de Protesto, entregando-se o título protestado. Caso não possa ser o título apresentado, uma vez que foi registrado em meio magnético, cancela-se o protesto através de apresentação de anuência do credor originário. APOSTILA V – TÍTULOS DE CRÉDITO PRÓPRIOS (continuação) 2 . NOTA PROMISSÓRIA É uma promessa de pagamento que uma pessoa (devedor) faz em favor de outra (credor). Com o seu saque nascem duas situações jurídicas distintas: a daquele que promete o pagamento (sacador, emitente ou subscritor) e a daquele que se beneficia com a promessa (beneficiário ou tomador). Título de crédito de modelo livre, da espécie promessa de pagamento, não causal e que pode ser emitido à vista ou a prazo, sendo disciplinado pelo Decreto n.° 2.044/1908 e pela LU, os mesmo que regulamentam a LC. Aplicam-se às NP todas as regras anteriormente estudadas em relação às LCs, tais como: endosso, aval, vencimento, pagamento e protesto; a exceção diz respeito, apenas, ao aceite e, consequentemente, ao vencimento antecipado do título por recusa do aceite, a cláusula não aceitável, e demais disposições inerentes ao aceite. Requisitos essenciais: art. 75, da LU: 1 - Denominação "Nota Promissória" inserta no próprio texto do título e expressa na língua empregada para a redação desse título – como ato jurídico da espécie declaração unilateral de vontade, a vontade do sacador em emitir um NP deve ser indubitável, não devendo pairar qualquer dúvida. 2 - A promessa pura e simples de pagar uma quantia determinada – não se pode admitir o condicionamento do pagamento à realização de eventos futuros e incertos; 3 - A época do pagamento; 4 - A indicação do lugar em que se deve efetuar o pagamento; 5 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga; 6 - A indicação da data em que e do lugar onde a nota promissória é passada; 7 - A assinatura de quem passa a nota promissória (subscritor). Obs.: o protesto de NP é facultativo para o exercício do direito de crédito contra o emitente; o exercício desse direito prescreve em 03 (três) anos a contar do vencimento. 3. CHEQUE Trata-se de um título de crédito de modelo vinculado, não causal e da espécie ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco, em razão de provisão que o emitente possui junto ao sacado, proveniente essa de contrato de depósito bancário ou de abertura de crédito. No cheque, o sacador será sempre o correntista do banco sacado. TÍTULO DE CRÉDITO. CHEQUE. CARACTERIZAÇÃO. O cheque constitui-se título de crédito, ordem de pagamento à vista, líquido, certo, exigível, autônomo. Desgarrando-se do ato unilateralde quem o emite, passa a ter vida própria tal como ocorre com o filho após o parto em relação à mãe, só perdendo as suas características se estiver eivado de vícios ex vi do art. 147, II, do CC (TJ-CE - Ac.unân. da 3ª Câm. Cív. - Ap. 27.622-Capital - Rel. Des. Edgar Carlos de Amorim; in ADCOAS 8151137). Características: a) título de crédito de modelo vinculado, ou seja, só pode ser emitido no papel fornecido pelo banco sacado (em talão ou avulso), ao contrário da NP e da LC que podem ser emitidas em qualquer papel; b) será sempre uma ordem de pagamento à vista, independentemente de acordo entre as partes; c) Não admite aceite, ao contrário da LC; d) o endosso deve ser puro e simples, não condicionado a qualquer requisito, sendo vedado o endosso parcial e o do sacado. OBS: Cabe destacar que a jurisprudência tem se manifestado no sentido de reconhecer como ilícito o ato de apresentação do título antes da data que as partes convencionaram como data de apresentação. Requisitos essenciais do cheque: Art . 1º O cheque contêm: I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua em que este é redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado); IV - a indicação do lugar de pagamento; V - a indicação da data e do lugar de emissão; VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais. Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica ou processo equivalente. OBS1: Na verdade, o lugar do pagamento e o da emissão não são requisitos essenciais, pois, na falta destes, o lugar do pagamento será aquele indicado ao lado do nome do banco/sacado, enquanto o da emissão será aquele indicado ao lado do nome do emitente. OBS2: O cheque de valor superior a R$100,00 deve, necessariamente, adotar a forma nominativa, indicando expressamente o nome do beneficiário da ordem. Pode conter, também, a cláusula “à ordem” ou “não à ordem”. Tipos de cheque: a) cheque ao portador: é aquele que não indica o beneficiário, ou, que tenha em seu lugar a expressão “ao portador”. Porém, estando em branco o campo destinado à identificação do beneficiário do cheque, considera-se este ao portador. b) Cheque nominal ou nominativo: indica expressamente o nome do seu beneficiário, somente podendo a este ser pago. c) Cheque visado: é aquele em que o banco sacado lança em seu corpo declaração de suficiência de fundos, atendendo ao pedido do emitente ou do portador legitimado. Somente o cheque nominativo e ainda não endossado pode ser sujeito à essa certificação. Haja vista que o visamento não obriga o banco ao pagamento do título independentemente de provisão de fundos em conta. A obrigação que decorrer deste ato diz respeito à reserva que o sacado deve providenciar na conta corrente do emitente, em beneficio do credor, de quantia equivalente ao valor do cheque, durante o prazo de apresentação, sob pena de, não o fazendo, responsabilizar-se (o banco) pelo pagamento do cheque ao credor. d) Cheque administrativo: é aquele sacado pelo banco contra qualquer um dos seus estabelecimentos. Somente pode ser emitido nominativamente. A espécie mais conhecida de cheque administrativo é aquele usualmente utilizado em viagens internacionais, evitando, assim, que o viajante precise levar consigo dinheiro em espécie. e) Cheque cruzado: tem como finalidade possibilitar, a qualquer tempo, a identificação da pessoa em favor de quem foi liquidada a ordem de pagamento. O cruzamento pode ser: I – em branco ou geral: os dois traços transversais são opostos em face do titulo sem que se faça qualquer menção quanto ao banco em que deverá o titulo ser depositado em conta corrente; II – em preto ou especial: no interior dos dois traços transversais apostos na face do título, designa-se um determinado banco onde deverá ser feito o depósito em conta corrente. f) Cheque para se levar em conta: destina-se a identificar a pessoa em favor de quem o cheque foi liquidado. Neste caso, deve ser lançada no verso do titulo a expressa “para ser creditado em conta”; desta forma, está o banco sacado impossibilitado de pagar aquele valor em dinheiro, somente permitindo a sua liquidação por lançamento contábil por parte do sacado. Pagamento: meio normal de extinção da obrigação representada pelo cheque. A sua apresentação para pagamento deve obedecer aos seguintes critérios: a) 30 dias a contar da emissão – se cheque da mesma praça; b) 60 dias a contar da emissão – se cheque de praças distintas. OBS: não importa o lugar onde efetivamente foi o cheque emitido, mas sim aquele que está expressamente consignado no título, para efeito de definição do prazo de apresentação. Consequência da não apresentação do cheque no prazo legal: a) perda do direito de executar os coobrigados do cheque (endossantes e avalistas de endossantes); b) perda do direito de executar o emitente do cheque se, no prazo de apresentação, havia fundos, deixando estes de existir após o termino deste prazo, por culpa não-imputável ao correntista. Ex: falência do banco ou confisco do governo. OBS: mesmo não tendo sido apresentado no prazo legal, um cheque pode ser pago pelo sacado, desde que o título não esteja prescrito e desde que haja suficiente provisão de fundos em conta. Sustação do pagamento do cheque: a) Revogação (contra-ordem): somente pode ser ordenada pelo emitente do cheque através de aviso epistolar ou notificação judicial ou extrajudicial, onde deverão ser detalhadas as razoes do ato; b) Oposição: pode ser ordenada pelo emitente ou pelo legítimo portador do cheque através de aviso escrito, devendo ser detalhada uma relevante razão de direito, tal como: extravio ou roubo do título, falência do credor etc. Enquanto na revogação o ato somente produz efeito após decorrido o prazo de apresentação, na oposição os efeitos são imediatos, tal logo a instituição tenha conhecimento da revogação, não deverá acatar aquela ordem de pagamento. c) Cancelamento: é a medida indicada para caso de perda ou extravio do talonário de cheque ainda não assinados. Pede, o emitente/correntista, que a instituição bancária desconsidere como formulários aptos ao saque as folhas de cheque de números X e Y. EX: perda, extravio, desapossamento etc. Cheque sem fundos: o pagamento realizado através de cheque tem efeito pro solvendo, ou seja, ate que seja liquidado, não se extingue a obrigação a que se refere. No entanto, as partes podem convencionar que o pagamento de determinada obrigação tenha caráter pro soluto, o que implica dizer que, na hipótese de devolução do cheque por insuficiência de fundos, restará ao credor da obrigação somente um direito cambial. OBS: A doutrina tem assinalado que, uma vez emitido de forma pós- datada, o não pagamento do cheque por insuficiência de fundos não se caracteriza em estelionato por fraude no pagamento por meio de cheque, haja vista que o título se desnatura de ordem de pagamento à vista para promessa de pagamento. APOSTILA VI - 4. DUPLICATA Da espécie ordem de pagamento, de modelo vinculado, causal e que pode ser emitido para pagamento à vista ou à prazo. Emerge, sempre, de uma compra e venda mercantil ou de uma prestação de serviços. Não é a fatura um título de crédito, mas tão somente um documento unilateralmente emitido pelo vendedor e que demonstra contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços.“Nota fiscal-fatura”: instrumento único de efeitos comerciais e tributários. Sendo assim, o comerciante deve emitir em cada operação que realizar uma relação de mercadorias vendidas, sendo que esta produz seus efeitos comerciais de fatura mercantil, bem como seus efeitos tributários de nota fiscal. Obs: o empresário que adota o modelo de “nota fiscal-fatura” fica obrigado a emiti-la em todas as operações que realizar, inclusive nas vendas à vista, e também em relação aqueles que explorem prestação de serviços, ou seja, a sua emissão passa a ser definitivamente obrigatória. É justamente dessa nota fiscal-fatura que o vendedor pode extrair um título de crédito denominado DUPLICATA. É certo que a emissão de fatura pode ser obrigatória ou facultativa (dependendo da natureza da venda), enquanto a nota fiscal-fatura sera sempre obrigatória; porém, quanto à possibilidade de emitir DUPLICATA, esta será sempre facultativa, pois ao vendedor não é imposta a obrigação de sacar o título em nenhuma situação. Características: a) Título causal: decorre do contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. b) De modelo vinculado: somente pode ser lançada em impresso próprio do devedor; c) Obrigatoriedade de escrituração de livro especial: Livro Registro de Duplicatas. OBS: A DUPLICATA não pode ser emitida em representação a mais de uma fatura ou nota fiscal-fatura, entretanto, sendo o preço da venda parcelado, pode o vendedor optar pelo saque de uma única duplicata, sendo discriminados os diversos vencimentos, ou pela emissão de uma duplicata para cada um das parcelas. Nesse caso, as duplicatas devem ter o mesmo número de ordem. Espécies de duplicata: a) Duplicata Mercantil: corresponde a uma compra e venda mercantil; b) Duplicata de prestação de serviços: de caracteres idênticos à Duplicata Mercantil, distinguindo-se desta somente quanto ao fato de que decorre de uma prestação de serviços; c) Conta de serviços: pode ser emitida pelo profissional liberal e pelo prestador de serviços eventual. Requisitos necessários: A duplicata conterá: I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem; II - o número da fatura; III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador; V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI - a praça de pagamento; VII - a cláusula à ordem; VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial; IX - a assinatura do emitente. Crime de duplicata simulada: é título de crédito que emerge de uma Nota Fiscal/Fatura. Assim, não é licita a emissão de Duplicata sem que corresponda ao uma operação de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços. Aceite da duplicata: uma vez recebida a duplicata do vendedor, poderá o comprador agir das seguintes formas: a) assiná-la e devolvê-la ao vendedor no prazo de 110 dias, a contar do recebimento (aceite ordinário); b) devolvê-la ao vendedor sem assiná-la; c) devolvê-la ao vendedor sem assiná-la, apresentando declaração escrita das razoes que motivaram sua recusa em aceitá-la; d) Comunicar ao vendedor o seu aceite, porém, sem devolver o título, desde que autorizado por eventual instituição financeira cobradora (aceite por comunicação); e) Não devolver o título, simplesmente. Qualquer que seja o comportamento adotado pelo comprador, a sua responsabilidade cambial subsiste, haja vista que a Duplicata é título de crédito de aceite obrigatório, ou seja, independe da vontade do sacado (comprador). Art . 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de: I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues por sua conta e risco; II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias, devidamente comprovados; III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados. Tem que são três tipos de aceite de Duplicata: a) aceite ordinário – resultado da assinatura do comprador aposta no local apropriado do título de crédito; b) aceito por comunicação: resultado da retenção da Duplicata pelo comprador, comunicando ao vendedor o seu aceite, desde que autorizado por eventual instituição financeira cobradora; c) aceite por presunção – resultado do recebimento das mercadorias pelo comprador, desde que não tenha havido causa legal modificadora de recusa, com ou sem devolução do título ao vendedor. Protesto: a Duplicata pode ser protestada por falta de aceite, de devolução ou de pagamento. Na primeira e na ultima hipótese, o protesto se fará mediante a apresentação de título ao Cartório de Protesto. Já quanto a segunda, uma vez que o comprador não devolveu o título ao vendedor, o protesto dar-se-á mediante indicações do credor ao Cartório (exceção ao Princípio da Cartularidade). Deve ser efetuado na praça de pagamento constante no título e no prazo de 30 dias a contar de seu vencimento. Se não manejado no prazo, o credor perde o direito creditício contra os coobrigados (endossantes e avalistas), mas não o perde frente ao devedor principal (comprador) e seu avalista. Execução de Duplicata: a) no caso de aceite ordinário: basta o título de crédito para a constituição do título executivo, seu protesto pode ser necessário (quanto aos coobrigados) ou facultativo (quanto ao devedor principal). b) No caso de aceite por comunicação: o titulo executivo sera a própria carta enviada pelo comprador ao vendedor, onde consta a informação de que o título ficou retido, mas que houve o seu aceite. c) No caso de aceite por presunção: o comprador não assina a duplicata, mas recebe a mercadoria adquirida, devolvendo ou não o título. A constituição do título executivo depende da reunião dos seguintes elementos: I- protesto cambial: deve a duplicada ser protesta, seja com a exibição do titulo, seja por indicações; II – comprovante de entrega da mercadoria: em sendo aceite presumido, a constituição do título executivo compreende, obrigatoriamente, a prova escrita de recebimento da mercadoria pelo comprador. A ação de execução de Duplicata prescreve em 03 anos contra o devedor principal e seus avalistas, a contar do vencimento do título; em 01 ano contra os coobrigados, a contar da data do protesto; e, em 01 ano para o exercício do direito de regresso.
Compartilhar