Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fatores motivacionais que incentivam os funcionários a participarem do programa de sugestão de melhoria contínua auxiliando no aumento da qualidade e competitividade Carla Mayumi Issonura – carlamayumi@gmail.com Orientador: Carlos Eduardo Sanches da Silva Universidade Federal de Itajubá, IEPG Cx. P. 50 – 37500-000 – Itajubá, MG, Brasil – cadusanches@uol.com.br Resumo Entre as estratégias adotadas visando a sobrevivência de empresas, a melhoria continua se destaca por demandar baixo investimento e proporcionar a elevação da qualidade e produtividade. Entretanto, sua manutenção se torna desafiadora, uma vez que depende de fatores humanos. Para que ela se sustente, deve ser constantemente alimentada por idéias e o canal de comunicação utilizado para isso, no caso estudado, é a caixa de sugestões, que provê facilidade e qualidade de comunicação. Este artigo busca identificar os fatores que levam os funcionários a participarem de programas de sugestão de melhoria contínua, analisando teorias dedicadas a esclarecer os fatores que motivam o ser humano a realizar tarefas. Também é realizado um estudo de caso real, analisando dados coletados e confrontando os elementos identificados com a fundamentação destas teorias. Sua análise leva à conclusões à respeito de fatores importantes para se atingir objetivos e de quanto este aspecto pode evoluir nas organizações nacionais. Palavras-chave: Melhoria contínua, Kaizen, Fatores motivacionais. 1. INTRODUÇÃO. Com a expansão comercial, empresas que anteriormente competiam em âmbito nacional, enfrentam hoje empresas estrangeiras, destacando-se os produtos chineses. Para sobreviver nesta realidade altamente competitiva, alguns setores industriais precisam incorporar em seus processos, a flexibilidade para se ajustar rapidamente às mudanças do mercado, adquirindo visão para acompanhar e/ou antecipar as constantes atualizações tecnológicas. Visando a própria sobrevivência, empresas têm se fundido, tornando-se cada vez maiores, na busca de obter vantagem competitiva, assegurando a manutenção e até mesmo a ampliação do mercado. Outras procuram alternativas menos bruscas, adotando estratégias que visam conquistar e fidelizar seus clientes, através da superação das expectativas dos mesmos, de modo a melhorar cada vez mais seu posicionamento no mercado. Uma infinidade de estratégias vem sendo adotada, entre elas, a melhoria contínua, preconizada nos movimentos da qualidade total e pela filosofia do Just-in-time, muito difundidas nas empresas. O termo também é conhecido como “kaizen”, palavra de origem japonesa que significa: mudar (kai) para melhor (zen). Imai (1994) define Kaizen como o “contínuo melhoramento na vida pessoal, na vida domiciliar, na vida social e na vida do trabalho. Quando aplicado ao local de trabalho, kaizen significa contínuo melhoramento envolvendo todos, desde os gerentes até os operários”. Verificamos na definição de Imai que o Kaizen é um comportamento. Com a comunicação se tornando mais deficiente devido ao aumento do tamanho das empresas, sustentar o processo de melhoria contínua é um desafio que demanda um grande esforço. Baseado nesta preocupação, uma ferramenta de coleta e estímulo das sugestões de melhoria tem sido adotada: as caixas de sugestões. Tal ferramenta, muito utilizada no Japão, tem como objetivo desenvolver a autodisciplina e a participação dos operadores na busca constante por melhorias no sistema produtivo (MARCHIORI e MIYAKI, 2001). O comportamento humano é uma das áreas mais complexas de estudo, pois ele é influenciado por diferentes fatores, atuando diferenciadamente em cada indivíduo e em situações distintas. Este artigo tem como finalidade, identificar e avaliar em um estudo de caso os fatores que motivam os funcionários utilizarem as caixas de sugestão. A estrutura desta pesquisa é descrita na figura 1. Figura 1 – Estrutura da pesquisa. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Relação entre o Processo de melhoria contínua e as caixas de sugestões Com o crescente interesse na implementação do processo de melhoria contínua, as caixas de sugestões também se tornaram muito populares no Japão. Surgiram antes da segunda guerra mundial, porém ganharam força com o movimento da qualidade total. A melhoria contínua pode ser entendida como a capacidade de resolver problemas através de pequenos passos, alta freqüência e ciclos curtos de mudança. Precisa ser gerenciada como um processo estratégico, com foco no longo prazo, pois sua base de sustentação são as pessoas, que estão diretamente ligadas ao sistema produtivo, sendo capazes de diagnosticar falhas ou gargalos nos processos, sugerindo as melhorias mais significativas. Desta forma, deverá haver uma intensa comunicação com os operadores, conscientizando-os de seu papel e importância para o sucesso e a sobrevivência da empresa, procurando motivá-los a ajudar (Attadia e Martins, 2002). Como o próprio nome sugere o processo não tem fim, é contínuo e cíclico, envolvendo identificação das causas, decisões, planejamento e padronização da solução e por fim, a realimentação da melhoria, ou seja, a repetição destas etapas até que se atinja a solução esperada (meta). Para uma melhor compreensão, o processo pode ser ilustrado pelo ciclo do PDCA, conhecido também como roda de Deming. O PDCA consiste em uma sequência de procedimentos que se repetem de maneira cíclica com o propósito de otimizar um processo. O ciclo inicia-se com a etapa P ( plan, do inglês, planejar). O planejamento é considerado importante por ser a base. Nesta fase são realizadas as principais análises e tomadas de decisões. Através da coleta de dados, define-se o processo ou a área-problema que será o foco, e em seguida, formula-se um plano de ação. Nesta etapa, é muito importante que se defina corretamente as variáveis a serem medidas e se disponha de um sistema de medição capaz de aquisitar com precisão os dados desejados, de modo a reproduzir a realidade, pois o procedimento de otimização se orientará através destes resultados. A próxima etapa, seguindo o ciclo, é o D (do, do inglês, fazer). É o estágio da implementação e execução do plano definido na etapa anterior. Logo em seguida vem a letra C (check, do inglês, checar) onde a solução implementada é avaliada para verificar se houve o melhoramento esperado no desempenho. A última etapa, do ciclo, é a letra A (act, do inglês, agir) a mudança é medida e se foi bem sucedida, será consolidada e padronizada movimentando outro ciclo, conhecido como o SDCA ou ciclo de padronização que serve para manter o patamar alcançado pelo PDCA, estabilizando o processo atual deixando-o pronto para que um novo padrão seja fixado, mantendo o ciclo em funcionamento (SLACK, CHAMBERS e JOHNSTON, 2002). Para que o ciclo do PDCA continue em constante funcionamento, é necessário que uma fonte o alimente com novas idéias de melhorias. A caixa de sugestão é uma das ferramentas que possui essa função, visando incentivar, através da premiação das sugestões implementadas, o envolvimento dos funcionários na busca de melhoria contínua. Com essa ferramenta consegue-se estimular os funcionários a estarem constantemente alertas para melhorias nos processos dentro da fábrica, além de incentivar a criação do hábito da eliminação dos desperdícios e atividades que não agregam valor. Cada empresa possui sua própria estrutura de captação e premiação, porém basicamente, o funcionário anota a sugestão em um formulário e entrega em um local especificado. As informações são analisadas; As que forem aprovadas são implementadas e o autor da sugestão recebe a premiação, enquanto nos casos em que haja reprovação, o autor da sugestão é informado do porque da rejeição.Uma das vantagens desse sistema é a facilidade e a qualidade da comunicação, pois a informação chega diretamente, sem distorções. 2.2. Definição da motivação humana Na visão atual, pós Taylorista, as pessoas não são mais vistas apenas como meios de produção, mas sim como indivíduos dotados de habilidades, capacidades, destrezas e conhecimentos necessários para administrarem suas próprias tarefas, ou seja, ganharam um papel de fundamental importância nas empresas (CHIAVENATO, 1997). Constituem a base de sustentação do processo de melhoria contínua, fornecendo idéias, para manter o sistema em funcionamento (MARCHIORI e MIYAKI, 2001). Cientes disso, as organizações têm dado especial atenção aos estudos realizados para compreender os mecanismos que influenciam as atitudes humanas. O homem é influenciado por uma enormidade de fatores, podendo ser internos (personalidade, aprendizagem, motivação, percepção, valores, etc.) ou externos (ambiente organizacional ou familiar, regras, culturas, política, recompensas, etc.) (CHIAVENATO, 1997). A motivação, tema de estudo desse trabalho, é um fator interno que quando estimulado em um indivíduo, é capaz de liberar todo o potencial, maximizando sua eficácia e por isso, o conhecimento deste mecanismo é de extrema importância. Porém seu estudo torna-se complexo devido a sua variabilidade, podendo variar de individuo para indivíduo e num mesmo indivíduo em situações diferentes. O termo motivação, de acordo com Lopes (1980) é oriundo do latim moreve, que significa mover e pode ser entendido como uma força interna que dá energia, tornando ativo ou movendo o organismo a dirigir o comportamento para um objetivo e motivo é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma. A motivação é um fator de extrema importância para a realização de toda a ação individual, relaciona-se intimamente com a personalidade do ser humano e com seu desenvolvimento mental, emocional, profissional e social incitando as pessoas a se superarem e a tenazmente persistirem na consecução do objetivo a que visam (Weiss, 1991). 2.2 Ciclo Motivacional De acordo com Lopes (1980) a motivação é cíclica, ou seja, o indivíduo sai do estado de equilíbrio interno, onde todas suas necessidades estão satisfeitas, e entra em um estado de desequilíbrio fisiológico ou psicológico, surgindo uma deficiência ou necessidade, que para ser satisfeita, gera estímulos a fim de aliviar a tensão e retornar ao estado inicial. Porém, nem sempre consegue-se extinguir essa tensão, podendo gerar frustração, que normalmente é liberada através da agressividade, mal humor, insonia, etc. Outras vezes, a intensidade dessa tensão é diminuída com a satisfação parcial dessa necessidade, onde outra solução (não ideal, mas satisfatória) é encontrada. A Figura 1 expõe o ciclo motivacional. Fonte: CHIAVENATO, Idalberto, Recursos humanos, edição compacta, p.85 Figura 1- Ciclo Motivational (modificado) Quando as pesquisas destinadas ao levantamento dos fatores motivacionais de maior influência no comportamento humano são bem conduzidas, retornam um conhecimento valioso, auxiliando a organização a tomar decisões mais efetivas, que aproveitem com maior eficácia seus resultados. Desta forma, a empresa é capaz de corrigir possíveis desvios e falhas em seus processos, de forma a melhor atender seus clientes internos e assegurar a satisfação dos trabalhadores, através de um clima organizacional saudável, com melhor qualidade de vida, ganhando desta forma, boa produtividade e maior propensão ao envolvimento nas atividades de melhoria da empresa, permitindo que o trabalho seja realizado com satisfação (LOPES E FILHO, 2003). Diversos são os estudos, pesquisas e abordagens realizadas para explicar os processos e fatores da motivação humana, uns tiveram maior impacto que outros, porém muitos contribuíram de forma relevante. Dentre os principais podemos destacar: Teoria da hierarquia das necessidades humanas de Maslow, teoria bifatorial de motivação/higiene de Herzberg, teoria das necessidades secundárias de McClelland, teoria X/Y de McGregor, teoria de maturidade/imaturidade de Chris Argris, modelo contingencial de motivação de Vroom, teoria de expectação de Lawler III entre outros. Uma das teorias mais conhecidas é a de Abraham H. Maslow, a chamada hierarquia de necessidades humanas e baseia-se na idéia de que quando um determinado nível de necessidade é satisfeito, a motivação só é ativada pelo desejo de atender as necessidades colocadas no nível imediatamente superior em ordem ascendente e se por algum motivo as necessidades mais baixas deixarem de ser satisfeitas por algum tempo, ela torna-se imperativa. Para melhor compreensão a figura 3 ilustra essa teoria. Enquanto Maslow fundamenta sua teoria em fatores internos do indivíduo, Herzberg alicerça no ambiente externo. Para ele, a motivação depende de dois fatores, os higiênicos que se referem às condições em que o funcionário trabalha tais como: políticas da empresa, condições físicas e ambientais, que funcionam como agentes de insatisfação e os fatores motivacionais, que são aqueles referentes ao conteúdo do cargo, tais como: delegação de responsabilidade, promoção, enriquecimento do cargo, que são considerados fatores motivadores numa direção positiva. Essas duas teorias estão intimamente ligadas tendo suas comparações demonstradas na Figura 2. Fonte: CHIAVENATO, Idalberto, Recursos humanos, edição compacta, p.92 Figura – 2 Comparação dos modelos de motivação de Maslow e Herzberg. Outra teoria importante é a teoria da instrumentalidade de Vroom, onde ele afirma que todo ato gera uma conseqüência, que pode ser alta ou baixa, dependendo do empenho empregado na realização da tarefa. As pessoas fazem escolhas conscientes se querem atingir parcialmente ou totalmente os objetivos. Através disso, definem a maneira e intensidade que deverão trabalhar para chegar até o estabelecido (LOPES, 1980). Das principais teorias relacionadas com a motivação, foi possível destacar alguns fatores motivacionais responsáveis por influenciar na tomada de decisão de um funcionário em aderir ao programa de melhoria continua. Esses fatores estão demonstrados na Tabela 1. Existem mais fatores além dos apresentados, porém, estes são os mais frequentemente observados. FATORES DESCRIÇÃO Dinheiro É um meio que permite a satisfação de múltiplas necessidades pessoais Aprovação Social Ser aceito no meio social como um membro respeitado e capaz Reconhecimento Receber atenção, ser notado, sair do anonimato, apreciado ou respeitado por outros Prestígio (Status) Pode ser definido como uma posição de prestígio ocupada por uma pessoa em um grupo Segurança Sentir-se seguro para viver, estabilidade no emprego, financeira. Senso de realização Satisfação em alcançar um objetivo Desafio Oportunidade de utilizar conhecimentos e habilidades para resolver problemas complexos Criatividade Ter capacidade, desejo e liberdade de desenvolver inovar, criar, resolver problemas Crescimento Avançar, expandir, amadurecer pessoal e profissionalmente Senso de capacidade Sentir -se capaz de atingir objetivos desafiadores Conhecimento Perseguir e querer aprender assuntos novos Tabela 1 – Importantes fatores motivacionais 3. ESTUDO DE CASO 3.1 Escolha da empresa para o estudo A escolha da empresa para o estudo de caso se deu de acordo com alguns critérios pré- estabelecidos, que são: • Existência de um programa de caixa de sugestões para coleta de informações de melhoria contínua; • O programa de sugestões deve possuir uma estrutura com critérios de premiação e fluxo das sugestões bem definido; • O programa de sugestões deve estar em regime a mais de umano; • Acesso autorizado para coleta de informações (entrevistas, registros e observações da pesquisadora). 3.2 Empresa estudada A empresa escolhida é uma multinacional fabricante de componentes elétricos para a indústria automotiva. Possui o programa de caixa de sugestões desde 1998, passando por uma reestruturação no final do ano de 2002. As etapas desse programa foram extraídas do documento de procedimento da fábrica e seus passos serão explicitados a seguir, desde o registro da idéia até sua implantação. Através desse programa a empresa conseguiu uma economia de 60.000 dólares, levando em consideração apenas um dos vetores, o financeiro. As etapas descritas no prcedimento (Figura 3) são: Figura 3 – Fluxo do processo de caixa de sugestão da empresa (fornecido pela empresa) a) Registrar a Idéia - A empresa possui um formulário próprio, onde as idéias podem ser registradas tanto em grupo quanto individualmente. Todos os funcionários podem registrar suas sugestões, porém as pessoas que têm a busca de melhoria como atribuição do cargo, como gerentes e engenheiros, não recebem a premiação. Após o preenchimento dos formulários, estes são colocados em caixas espalhadas pela fábrica, em seguida são recolhidos e cadastrados no sistema. b) Analisar a Viabilidade - Todas as sugestões passam pela análise de uma equipe que irá verificar se ela é viável ou não podendo ser aprovada ou reprovada, em ambos os casos, a pessoa ou o grupo que sugeriu a melhoria recebe um retorno do resultado. Somente recebem a premiação aquelas sugestões que forem aprovadas e implantadas. c) Premiar - Obedece uma escala de pontuação e é calculada dependendo do vetor que a melhoria atingir podendo ser em processos, segurança, desperdícios, meio ambiente, etc. Porém a pontuação máxima somente é conseguida quando se atinge diretamente o vetor financeiro, ou seja, uma melhoria que retorna em dinheiro para a empresa. Os pontos são convertidos em valores financeiros e o pagamento é retirado no RH da empresa. Tabela 1 – Pontuação para premiação das sugestões Economia Líquida (em R$) Instantânea Permanente De 25 a 1.000 3 pontos 5 pontos De 1.001 a 3.000 5 pontos 10 pontos De 3.001 a 4.999 10 pontos 20 pontos Vetor Financeiro Maior que 5.000 2,5% Limite: R$ 4.000 5% Limite R$ 4.000 Demais Vetores (Não se aplica) 3 pontos 3 pontos Ao final de cada mês é feito um levantamento do número de sugestões aprovadas (implantadas ou esperando implantação), reprovadas e em análise para se medir o andamento do programa. São gerados relatórios que são apresentados à gerência. Deste documento foram retiradas algumas informações sobre o programa de sugestões. Essas informações estão ilustradas nos gráficos 1 e 2. Evolução do Programa desde 2003 0 500 1000 1500 2000 2003 2004 2005 AN O Sugeridas Aprovadas Reprovadas Evolução mensal de 2005 0 20 40 60 80 100 120 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set M ÊS Sugeridas Aprovadas Reprovadas Gráfico 1- Evolução das sugestões desde 2003 Gráfico 2 –Evolução das sugestões em 2005 O gráfico 1 mostra a evolução dos resultados do programa por ano desde a reestruturação. Já o gráfico 2 mostra a evolução das sugestões do ano de 2005 estratificado mensalmente. Verifica-se no gráfico 1 uma queda do número de sugestões de 2003 a 2005. Os motivos foram descritos verbalmente, através de entrevista, pelo Gerente de Produção: “Foi 1998, foi implantada uma versão preliminar do programa de sugestões, porém, com o tempo foram identificadas graves falhas na estrutura de premiação deste programa, que acabou criando uma cultura de facilidade de obtenção de prêmio, pois haviam brechas que permitiam que fossem premiadas soluções que não impactavam financeiramente na fábrica. Diante deste quadro, viu-se a necessidade de reformulação do programa. Após a reformulação, a estrutura de análise das sugestões, tornou-se mais sensata em relação aos objetivos da empresa, passando a premiar apenas as idéias que realmente agregavam valor. Isso gerou muita insatisfação e desmotivação, o que se refletiu no número de sugestões à partir do ano de 2004, o que pode-se verificar no Gráfico 1”. Fazendo-se uma conta simples para obter o número de sugestões por funcionário a cada mês, temos que no ano de 2005 é de 0,095. Quando comparado com as indústrias japonesas cuja média é superior a 1 sugestão registrada por funcionário (SOUZA e YONAMINE, 2002), percebe-se que a empresa estudada, atinge apenas por volta de 10% desta média, ou seja, existe uma margem enorme para melhoria do programa. No Gráfico 2, observa-se que o numero de sugestões aumentou bruscamente à partir do mês de julho. Isso ocorreu, principalmente, devido ao marketing realizado pela empresa. Foram realizados sorteios de prêmios para incentivar o envolvimento do funcionário no programa e fornecidas mais informações sobre o funcionamento do programa reestruturado e para incentivar o envolvimento do funcionário no programa realizou-se sorteios de prêmios. Com o objetivo de manter o crescimento do patamar de sugestões, é necessário conhecer mais profundamente os fatores que influenciam as atitudes do ser humano, para que se consiga sempre motivá-lo a encontrar melhorias e participar do programa, pois, de acordo com Maslow, uma necessidade satisfeita não é mais motivadora de comportamento (Chiavenato, 1997). 3.1.2 Análise da Pesquisa Foi realizada uma pesquisa de opinião com objetivo de avaliar o programa de sugestões. Cerca de 350 questionários foram distribuídos entre os funcionários e 329 retornaram preenchidos. As questões foram de múltipla escolha, das quais, em alguns casos poderiam ser marcadas mais de uma alternativa. Escolheu-se utilizar um questionário para a pesquisa devido a algumas vantagens oferecidas, tais como, permitir o anonimato do pesquisado para que ele se sentisse à vontade para expor seus pontos de vista, possuir praticidade de aplicação e pela facilidade de coletar os resultados possibilitando a comparação com modelos teóricos. Para que a interpretação dos resultados seja confiável, serão utilizadas como suporte, algumas das principais teorias sobre motivação humana, fazendo-se uma comparação da prática com a teoria. Os resultados obtidos da pesquisa mostram que 49% dos funcionários avaliam como ótimo e bom o programa enquanto que 45% consideram ruim e regular, ou seja, existe uma considerável margem para o aprimoramento do programa. Quando se perguntou do porquê dessa insatisfação, 43% apontaram o atraso na análise das sugestões como principal falha, enquanto 17% se queixaram de não terem informação das sugestões que realizaram, ou seja, a falta de um retorno (feedback) e 38% não assinalaram nada. Uma deficiência constatada é o não cumprimento de regras fundamentais do programa, tais como: fornecer retorno sobre a situação da sugestão, atender os prazos estabelecidos e dar fluidez na analise, pois o descumprimento destas regras leva à insatisfação, desmotivação e descrédito por parte do funcionário. De acordo com Herzberg, os fatores associados a essa desmotivação podem ser considerados como higiênicos, sendo assim, o simples cumprimento dessas regras por si próprio não é suficiente para gerar motivação, porém é necessário para manter a credibilidade no programa (WEISS, 1991). Um fator responsável por essa insatisfação pode ser compreendido pela teoria da instrumentalidade de Vroom onde ele diz que o indivíduo é motivado pela obtenção de uma recompensa, porém, ela por si só não é suficiente para transformar o desejo em comportamento (LOPES, 1980). O indivíduo precisa perceber quea situação de obtenção da recompensa realmente acontece. Quando o funcionário percebe que a análise das sugestões é lenta e não há feedback sobre o status da sugestão, ele passa a ver o programa como incapaz de fornecer o que ele deseja, ou seja, a recompensa não irá mais motivá-lo. Quando se perguntou quais os fatores que os motivam a participar do programa a maioria respondeu que é devido a premiação, que neste caso é concedida em dinheiro. Este resultado já era esperado, uma vez que de acordo com Maslow, o ser humano precisa satisfazer suas necessidades básicas para a completa satisfação e realização. O dinheiro além de satisfazer as necessidades fisiológicas e de segurança, dá condições para satisfazer as necessidades sociais, de estima e auto-realização (LOPES, 1980). Uma grande parcela identificou que é suficiente para motivá-los, o simples fato de contribuir com uma boa idéia, outros disseram que preferem ser reconhecidos como autor das idéias pelos seus superiores e amigos. Outra parte significativa respondeu que participa para concorrer à premiação de melhor sugestão do ano, ou seja, analisando este fator, identifica-se que o funcionário busca com isso obter reconhecimento, aprovação social, reputação, realização, desafio, status e senso de capacidade. Os fatores motivacionais relacionados da teoria expostos na Tabela 1 foram em sua maioria encontrados na prática, uns foram explicitados pelo operador outros estava implícito na resposta. Notou-se que a maioria dos fatores tem a ver com a necessidade de auto- realização. 4. CONCLUSÃO O caso analisado permite deduzir que o fatores identificados ao longo do estudo de caso que consolidam bons resultados dos programas das caixa de sugestão são: • Existência de um procedimento difundido que estabelece o registro, análise e premiação. O procedimento tem como principal função estabelecer uma sistemática confiável de comunicação; • Formulário padronizado e de fácil acesso aos colaboradores para coleta das sugestões. • Existência de um indicador sistemático coletado e analisado mensalmente que mensura o número de sugestões recebidas, aprovadas e reprovadas. Bem como as economia anuais obtidas com o programa de sugestões; • Ações de marketing para incentivar o programa de sugestões, tais como sorteio de prêmio aos participantes; • Incorporação das diretrizes estratégicas como meio de orientar as sugestões de melhoria; • Comprometimento da administração (gerentes) demonstrada principalmente através das respostas para os funcionários sobre suas sugestões; • Análise sistemática do programa de sugestões com a respectiva incorporação de ações de aperfeiçoamento. Observou-se que, devido ao descumprimento das regras do programa, sua credibilidade é abalada, levando à diminuição do número de sugestões. Neste quadro, não adianta incentivar o funcionário, sem antes corrigir estas deficiências, pois o funcionário enxerga essa falta de compromisso como uma barreira que os impede de atingir as recompensas. Então, por melhor que seja essa recompensa se a pessoa sente que o canal de obtenção é difícil, ela não se sentirá motivada ou até poderá sentir um certo desejo, mas não ira gerar um comportamento para a obtenção. Verificou-se na empresa estudada, que deveria ter sido criado desde o início, uma cultura de valorização de outras formas de premiação, que não somente a financeira, como principalmente, o reconhecimento, além de estabelecer uma cultura de premiação financeira por mérito, nos funcionários, de modo que estes esperem receber premiação correspondente aos benefícios gerados e não utilizando o programa apenas para a obtenção da recompensa, dessa forma seria alcançado um atendimento melhor da filosofia da melhoria contínua. Pois após a reformulação do programa, o sistema esta melhor estruturado visando atender a filosofia, porém encontra uma barreira muito grande devido a cultura antiga. 4.1 Recomendações para trabalhos futuros Este trabalho identificou os fatores motivacionais que influenciam os funcionários a participar do programa de melhoria contínua utilizando o programa de sugestões. Percebeu-se que estes, em sua maioria, estão situado no degrau das necessidades de auto-estima da pirâmide de necessidades de Maslow, ou seja, pode-se dizer que se o funcionário tiver as necessidades mais baixas (fisiológicas, de segurança e sociais) satisfeitas, estará mais propenso a participar do programa, buscando a realização das necessidades dos níveis superiores, que é onde foi identificada a maior parte dos fatores. Reconhecendo isso, recomenda-se um aprofundamento no estudo da satisfação dos funcionários na empresa, medindo-se o clima organizacional, buscando identificar os fatores que satisfazem as necessidades mais baixas (fisiológicas, de segurança e sociais) para que aja o surgimento das necessidades mais elevadas, contribuindo para que o programa de sugestões atinja patamares mais elevados de sugestões mensais por funcionário. 5. REFERÊNCIAS ATTADIA, Lesley Carina L. e MARTINS, Roberto A. A medição de desempenho como base para uma evolução da melhoria contínua: um estudo teórico. Artigo ENEGEP, outubro 2002. CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos, edição compacta, 4º edição, São Paulo, Atlas, 1997. IMAI, M. Gemba Kaizen. São Paulo: Instituto IMAM, 1994. LOPES, Mônica Cristina e FILHO, Gilsée Ivan Regis. Fatores motivacionais em serviços e saúde pública. Artigo ENEGEP, outubro 2003. LOPES, Tomás de Vilanova Monteiro. Motivação no trabalho. Rio de Janeiro, FGV, 1980. MARCHIORI, Nilton L. e MIYAKE, Dario I. Sustentação de processos de melhoria contínua. Artigo ENEGEP, novembro 2001. SLACK, Nigel, CHAMBERS Stuart e JOHNSTON Robert. Administração da produção. São Paulo, Atlas,2002. SOUZA, Almaisa e YONAMINE, Juliana Silva G. Os impactos de um programa de sugestão de melhorias para a lucratividade do negócio e motivação dos funcionários: Um estudo de caso. Artigo ENEGEP, outubro 2002. WEISS, Donald. Motivação e resultados. São Paulo, Nobel, 1991.
Compartilhar