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A Essência da Constituição (1)

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FACULDADE FOTIUM
LEANDRO PEREIRA LIMA LOPES
A ESSÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO – FERNANDO LASSALE
FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO – KONRAD HESSE
Brasília
2018
LEANDRO PEREIRA LIMA LOPES
FACULDADE FOTIUM
LEANDRO PEREIRA LIMA LOPES
A ESSÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO – FERNANDO LASSALE
FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO – KONRAD HESSE
Resenha como requisito de avaliação da Graduação em Direito da Faculdade Fortium da disciplina Teoria da constituição, ministrado pelo profº Marcio Maia.
Brasília
2018
LEANDRO PEREIRA LIMA LOPES
A ESSÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO - FERDINAND LASSALLE
Esta obra explica, basicamente, o que vem a ser a constituição em seus dois conceitos: a constituição real e a constituição escrita. E, principalmente, Lassalle ensina como entender a diferença e as contradições entre uma e outra quando não estão sincronizadas, ou melhor, coerentes entre si.
Para explicar melhor, Lasselle faz uma comparação entre a constituição e a lei. Para assim, conseguirmos entender que a primeira é uma lei fundamental da nação e a segunda é uma lei comum, e, logo adiante, entender que éfundamental por prover de uma necessidade básica, sendo mutável em sua complexidade, e diretamente ligada à realidade da qual se insere.
Na idéia do autor, a constituição não pode ser imposta por um rei (referindo-se à Prússia na época da monarquia), nem imposta por nenhum dos poderes que constituem uma sociedade organizada, sendo ela a união de interesses dos poderes que regem um país.
Estes poderes, segundo ele, são o rei (o governante que detém o poder político e, com ele, o exército), a aristocracia (os nobres que detém o poder capital), a grande e pequena burguesia (que detém o comércio e as indústrias), os banqueiros (que funcionam como um sistema financeiro de crédito a um país) e a classe operária (a mão-de-obra que compõe a massa) determinam os “fatores reais do poder que regem uma nação” (p.32).
Mas, se a constituição é um conjunto de interesses dos poderes podemos dizer que a constituição da qual nos referimos é a mesma constituição jurídica, impressa em um papel? Segundo Lasselle, sim ou não. A primeira é considerada a Constituição Real e a segunda a Constituição Escrita. Quando a primeira é repassada ao papel, trona-se o verdadeiro direito, sendo passível de punição a quem se opuser à ela.
Lasselle discorre sobre como este sistema funciona e porque um poder está implicitamente submetido ao outro, sem que um se sobreponha, de maneira muito radical, nos termos da constituição real. Apesar disto, algumas classes têm mais privilégios do que as outras, mesmo quando estão em minoria.
Sendo levados em consideração, nestes casos, aqueles que possuem poder financeiro e que, em conseqüência disto demonstram maior influência no Estado daqueles que compõe a maioria da população mas que, em contrapartida, são desprovidos de riquezas.
Já, para explicar o poder que o rei possui sobre uma nação por meio do exército e, ao mesmo tempo, a impotência deste mesmo diante outros poderes reunidos em um só interesse, Lasselle caracteriza-os como o poder organizadoe o poder inorgânico. 
O exército está sob o comando do rei e pode ser acionado a qualquer momento, estando sempre pronto para a repressão. Já o poder que assume a sociedade unida não dispõe de organização, nem mesmo de estratégia quando há uma iminente batalha corporal, o que a deixa enfraquecida por não possuir os canhões do exército, apesar destes serem pagos e aperfeiçoados pelo próprio povo.
Assim, algumas nações são reprimidas por anos em uma constituição que não diz respeito à vontade da maioria. Mas, apesar de desorganizada, esta situação pode se reverter com a revolta da sociedade e com uma possível revolução.
Assim, a constituição real existe desde a época medieval, antes mesmo de pensarem em fazê-la por escrito. Ela não pode ser considerada uma invenção dos tempos modernos. Para referir-se a esta idéia, Lasselle nos lembra do século XVIII, quando o rei da França determinou que os agricultores não mais iriam trabalhar gratuitamente em construções de vias públicas e que todos, incluindo a nobreza, iriam pagar impostos para as tais realizações. Com isso, subitamente veio reação do parlamento, negando tal imposição e referindo-se à uma constituição que nem mesmo o rei poderia alterar.
Porém, nesta época, não existia um papel que expressasse aquilo que o parlamento se referia como constituição. O que demonstra os fatores reais do poder implícitos nas normas da França Medieval, um retrato da submissão do povo aos poderes reais da nação. Isto que eles consideram como lei fundamental, são precedentes, um legado deixado pelos antecessores como uma cultura implícita, uma tradição da qual o povo era sempre submisso. Considerada pelo autor, como a base constituinte do Direito Constitucional, as vezes expressas em pergaminhos, posteriormente levantando foros, as liberdades, os privilégios e os fatores reais que regiam aquele país.
Portanto, a constituição real sempre existiu, a diferença daquela época para a situação normativa dos países de hoje é a constituição escrita nas folhas de papel. E assim se deu pela constante transformação das necessidades e relações de poderes dentro de um país, pois, do contrário, bastava apenas reunir as normas pré-existentes em uma Carta Constitucional.
Assim, podemos entender que a constituição obedece e se adapta aos poderes existentes que se sobressaem. Num país pouco povoado da Idade Média, Lasselle explica que é instituída a constituição feudal, quando a nobreza ocupa a maior parte territorial fazendo o poder governamental de umpríncipe ser submetido às vontades da classe. Exemplo que se adéqua, segundo ele, à maioria dos Estados da idade Média e à constituição prussiana.
Quando ocorre o contrário, numa Constituição Absolutista, da qual o príncipe detém o poder militar sem a instituição de uma norma escrita, da qual a nobreza não tem influência com a ascensão da burguesia em caminhos opostos à ela, dando força ao governo, é instaurado no país o “estado militar”.
Com a crescente urbanização causada pelo amadurecimento da burguesia, consequentemente a riqueza da mesma, esta percebe que está em maioria e que detém também um poder político. Assim, ela reflete sobre a necessidade de ser levada em consideração também e de não ser submetida às vontades do governo, querendo participar da governabilidade daquele país, em consenso com o príncipe. Assim surge a revolução burguesa, como aconteceu na Prússia, em 1848.Portanto, entendemos que as normas impostas em uma constituição escrita só tem êxito por longos períodos quando está em consenso com a constituição real . Do contrário, ela não funcionará por muito tempo em desacordo com as forças vitais da nação. Visto todos estes aspectos propostos pelo autor, chega-se a uma idéia de constituição, que deve ser previamente pensada e analisada e não apenas redigida sobre pressão, que é alheia aos problemas de direito e sim dos poderes. Assim, ao ser levado em consideração a realidade do país, justificando-se pelos fatos reais e efetivos do poder, é obtido o respeito da nação por esta constituição. Estes são os critérios dos quais devemos saber sobre a criação de uma constituição verdadeira e coerente ás necessidades de um país.
O texto Força Normativa da Constituição de Konrad Hesse, contrapõe às concepções de Lassalle, e busca demonstrar que o desfecho do conflito entre os fatores reais de Poder e a Constituição não necessariamente implica na derrota da mesma. 
 Mesmo reconhecendo o significado dos fatores históricos, políticos e sociais para a força normativa da Constituição, Hesse enfatiza que a Constituição transforma-se em força ativa se existir a disposição de orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se fizeram-se presentes, na consciência geral (especialmente na consciência dos principaisresponsáveis pela ordem constitucional), não só a vontade de poder, mas também a vontade de Constituição. 
A constituição para Hesse, deve atendera as necessidades e anseios da sociedade, considerando tanto seu aspecto político, quanto jurídico e social. O mesmo enfoca, em síntese, que a constituição jurídica está condicionada pela realidade histórica. Assim para se adquirir uma "pretensão" a eficácia da constituição, só ocorrerá se a realidade histórica for levada em conta. Em caso 
de conflito com a realidade histórica concreta de seu tempo, a constituição não deve ser considerada, a parte mais fraca. Existem vertentes realizáveis que, mesmo em caso de confronto, permitem assegurar a força normativa da constituição. Hesse chama a atenção para o verdadeiro valor da Constituição nos momentos de crise em que o texto pode se r usado como um instrumento mediador. A constituição não pode ser vista de modo a separar a ordenação jurídica da realidade, fazendo perder seu real sentido .
 Hesse então conclui informando que, não se deve esperar que as tensões entre ordenação constitucional e realidade política e social venham a deflagrar um conflito. Assim, para Hesse, o pensamento de Lassalle é limitado e nega o Direito Constitucional enquanto ciência ao restringir a Constituição a circunstâncias momentâneas de poder.

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