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Teoria Burocrática Kelly Aparecida Torres Introdução O sóciologo Max Weber (2004) apresentou uma nova abordagem para a administração das organizações, sob a perspectiva da burocracia. Na sua obra, a eficiência é alcançada por meio das regras e dos procedimentos lógicos. Nesta aula, estudaremos os conceitos desenvolvidos por Weber e a importância da Teoria Burocrática. Vamos lá? Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • conhecer as principais contribuições de Weber para a Teoria Burocrática; • identificar as contribuições da Teoria Burocrática para a evolução do pensamento administrativo e as principais críticas a este modelo. 1 O modelo teórico de Weber O economista, sociólogo e jurista Max Weber (1864-1920), durante a maior parte da sua vida, tra- balhou como docente na área de Economia. Em seus estudos, procurou analisar as mudanças sociais que se desenvolviam em função da Revolução Industrial. Figura 1 – Teoria Fonte: Wittayayut/Shutterstock.com No conceito apresentado por Weber (2004 apud Chiavenato, 2011), a burocracia zela pela eficiência da organização por meio da análise, com antecedência, de todos os detalhes formais relacionados a ela. Evita, assim, que interferências pessoais atrapalhem seu desenvolvimento. Segundo Motta e Vasconcelos (2009), estudando as relações entre a Economia e a socie- dade, Weber também fundamentou o exercício e definiu as diversas formas de autoridade, exis- tentes naquela época. FIQUE ATENTO! Os tipos de autoridade apresentados por Weber fundamentam os aspectos de do- minação que, atualmente, ainda estão presentes na realidade organizacional. Tipos de autoridade apresentadas por Weber: • tradicional - baseada nos costumes e tradições de uma cultura; • carismática - baseada em características individuais; • racional-legal - baseada nas regras e normas estabelecidas por um regulamento reco- nhecido e aceito por todos os membros de uma comunidade. EXEMPLO Como exemplo de autoridade tradicional, temos o senhor de escravos; de autoridade carismática, Lampião, o Rei do Cangaço; e de autoridade racional-legal, qualquer go- vernante eleito. SAIBA MAIS! O artigo “O conceito de dominação em Max Weber: um estudo sobre a legitimidade do poder”, de Daniel da Rosa Eslabão, oferece mais detalhes sobre os tipos de autoridades apresentados na Teoria Burocrática. Disponível em: <http://cifmp.ufpel. edu.br/anais/2/cdrom/mesas/mesa5/04.pdf>. 2 Organizações orgânicas e mecanicistas Max Weber defendia que o trabalho deveria ser fracionado e segmentado. Cada empregado ficaria responsável por uma determinada atividade. Nesse caso, a organização burocrática se assemelhava a uma máquina. Figura 2 – Mecanicismo Fonte: Sapunkele/Shutterstock.com O conceito de divisão do trabalho defendido por Weber favorecia alguns aspectos, tais como: • especialização do empregado; • papéis e tarefas determinados; • padronização; • hierarquização; • centralização; • controle organizacional. Os conceitos relacionados à divisão do trabalho foram sendo redesenhados e as organiza- ções passaram a centralizar suas ações em: • comunicação horizontal entre todos os subsistemas da empresa; • conhecimento do início-meio-fim dos processos; • formação de equipes multidisciplinares; • implementação de rodízio nas funções; • horizontalização e flexibilização das estruturas organizacionais, tornando a empresa mais ágil; • melhor agrupamento das atividades; • sinergia. EXEMPLO Os trabalhadores de algumas franquias na area de alimentação (sanduicherias) sentem o impacto de uma organização com uma estrutura mecanizada, onde não é possível criar e inovar. As estruturas organizacionais evoluíram e o administrador deve se adaptar a novas realidades. SAIBA MAIS! No artigo “Organizações mecanicistas X orgânicas”, de Douglas Caccianiga, é possível aprender um pouco mais sobre esse aspectos organizacionais. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/organizacoes-mecanicistas- x-organicas/26330/>. 3 Contribuições da Teoria Burocrática Para Max Weber, a burocracia ideal deveria garantir a estabilidade, a previsibilidade e a padro- nização de comportamentos, buscando a eficiência a partir das seguintes dimensões: • normas e regulamentos; • divisão do trabalho; • hierarquia da autoridade; • relações impessoais; • especialização da administração; • formalismo das comunicações; • rotinas e procedimentos; • profissionalização do participante; • previsibilidade do funcionamento; • competência técnica. FIQUE ATENTO! Nesse momento, é importante você entender quais são as dimensões da Teoria Burocrática apresentadas por Weber. Figura 3 – Somando para melhorar Fonte: alphaspirit/Shutterstock.com Weber também enfatizava que o poder da autoridade manifestava-se nos cargos ocupados pelas pessoas de acordo com a sua área de competência. Já os cargos deveriam ser distribuídos de acordo com o princípio hierárquico, garantindo assim o estabelecimento de autoridade dentro das faixas de cada chefia. O pensador Max Weber menciona três fatores essenciais para o desenvolvimento da burocracia: • evolução da economia monetária; • crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno; • superioridade técnica do modelo burocrático. Weber apontou muitas razões que justificavam a defesa da burocracia: racionalidade em rela- ção ao alcance dos objetivos da organização; precisão na definição do cargo a ser ocupado pelo empregado; rapidez nas decisões; univocidade de interpretação, já que a informação deveria ser direcionada aos que iriam recebê-la; uniformidade de rotinas e procedimentos; continuidade da organização através da manutenção do cargo independente de quem o ocupasse; redução de atrito entre as pessoas; constância nas decisões; confiabilidade, já que os negócios são condu- zidos com regras; benefícios para as pessoas, já que, na hierarquia formalizada, o trabalho seria dividido de maneira ordenada entre todos os empregados. (CHIAVENATO, 2012). 4 Disfunções burocráticas e críticas à Teoria Burocrática 4.1 As disfunções da burocracia Na perspectiva de Weber, a burocracia é uma organização que busca a eficiência a partir do controle (previsibilidade) de seu funcionamento. Porém, ao estudar as consequências previstas, Merton (1966) descobriu as consequências imprevistas que levavam justamente à ineficiência e imperfeições na organização. A estas consequências imprevistas Merton deu o nome de disfun- ções da burocracia. Vamos conhecer as disfunções da burocracia apontadas por Merton (1966 apud Chiavenato, 2012): • internalização das regras e apego aos regulamentos - as normas ganham mais rele- vância na burocracia; • excesso de formalismo e de papelório - a burocracia prioriza a necessidade de documen- tos e formalizações para que todas as comunicações sejam testemunhadas por escrito; • resistência às mudanças - a burocracia é desenvolvida dentro de rotinas e padroni- zações que acabam por engessar o processo, fazendo com que os funcionários se tornem resistentes a qualquer proposta de mudança; • despersonalização do relacionamento - a impessoalidade é uma das características fundamentais da burocracia, por isso ela enfatiza os cargos e não as pessoas. Esta forma de atuação faz com que ocorra a diminuição das relações personalizadas entre as pessoas, assim elas passam a ser reconhecidas pelos cargos que ocupam; • categorização como base do processo decisório - a burocracia possui uma base hie- rárquica de autoridade rígida; ou seja, em qualquer situação, as decisões serão toma- das pela pessoa que ocupar o cargo mais elevado na hierarquia; • superconformidade às rotinas e aos procedimentos - as rotinas e procedimentossão bem vistos na burocracia porque são formas de garantir que os funcionários façam exatamente o que se espera deles; • exibição de sinais de autoridade - com o objetivo de enfatizar o sistema hierárquico, a burocracia utiliza de alguns sinais claros para demonstrá-la como, por exemplo, uniformes; • dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público - na burocracia o funcionário está mais focado nas normas e regulamentos internos da organização, visando uma boa avaliação de seu superior hierárquico, do que no cliente. 4.2 Críticas à Teoria Burocrática Como em todas as teorias, a burocracia tem defensores e opositores; porém, é inegável sua característica de promover a organização das pessoas e das atividades de forma racional para que os objetivos sejam alcançados. Figura 4 – Fatores de oposição Fonte: michaeljung/Shutterstock.com Segundo Chiavenato (2012), as principais críticas à Teoria Burocrática são: • excesso de racionalismo - autores como Katz e Kahn consideram as organizações burocráticas super-racionalizadas, por isso tendem a não considerar as condições do ambiente ao seu redor; • mecanismo e limitações da Teoria da Máquina - assim como Taylor e Fayol, Weber focou sua teoria apenas nas estruturas internas da organização; • conservantismo - a burocracia é um processo extremamente conservador por ser tão fiel às normas e regulamentações. Este processo não favorece a inovação e nenhum tipo de mudança radical no comportamento administrativo e no comportamento das equipes; • sistema fechado - é voltado para as certezas e, por isso, não tende a absorver as novas tecnologias; • apresenta uma abordagem descritiva explicativa - a Teoria Burocrática se limita a des- crever, analisar e explicar a organização para que o administrador possa fazer as melho- res escolhas, mas não ressalta como o administrador deve lidar com a organização. FIQUE ATENTO! A Teoria da Máquina está relacionada com o tipo de produção realizada pelos em- pregados que, considerando a divisão das tarefas e as atividades rotineiras, se as- semelhava a uma máquina. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: • conhecer um pouco mais sobre o modelo teórico de burocracia e os tipos de autoridade apresentado por Max Weber; • aprender sobre as diferenças entre organizações mecanicistas e orgânicas; • identificar as principais contribuições da Teoria Burocrática para o desenvolvimento do pensamento administrativo; • conhecer a definição de disfunções burocráticas e as principais críticas à Teoria Burocrática. Referências ANDRADE, Rui Otavio Bernardes de; AMBONI, Nerio. Teoria geral da administração. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. BERNARDES, Cyro; MARCONDES, Reynaldo Cavalheiro. Teoria geral da administração. São Paulo: Saraiva, 2006. CACCIANIGA, Douglas. Organizações mecanicistas X orgânicas. Comunidade Adm. 2008. Dispo- nivel em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/organizacoes-mecanicistas-x-or- ganicas/26330/>. Acesso em: 31 jan. 2017. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução a teoria geral da administração. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. ESLABÃO, Daniel da Rosa. O conceito de dominação em Max Weber: um estudo sobre a legiti- midade do poder. Anais UFPEL. Disponível em: <http://cifmp.ufpel.edu.br/anais/2/cdrom/mesas/ mesa5/04.pdf>. Acesso em 31 jan. 2017. MERTON, Robert. Estrutura burocrática e personalidade. In: Campos, Edmundo – org. Sociologia da burocracia. Rio de Janeiro, Zahar. 1966. MORGAN, Gareth. Imagens da Organização. São Paulo: Atlas, 2013. Edição Executiva. MOTTA, Fernando Cláudio Prestes; VASCONCELOS, Isabela. Teoria Geral da Administração. 3. ed. São Paulo: Thomson, 2013. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças de. Teoria geral da administração: uma abordagem prática. 3. ed.. São Paulo: Atlas, 2012. RIBEIRO, Antonio de Lima. Teorias da Administração. São Paulo: Saraiva, 2003 WEBER, Max. Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 2. Trad. Regis Barbosa e Karen lsabe Barbosa. São Paulo: Editora UnB, Imprensa Oficial, 2004.
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