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Sociedade, Comunicação e Cultura Aula 06 Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho Este material é parte integrante da disciplina oferecida pela UNINOVE. O acesso às atividades, conteúdos multimídia e interativo, encontros virtuais, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser feitos diretamente no ambiente virtual de aprendizagem UNINOVE. Uso consciente do papel. Cause boa impressão, imprima menos. Aula 06: Contracultura Objetivo: Ampliar o conhecimento sobre a contracultura, movimento de contestação, de caráter social e cultural surgido na década de 1960 e que tem seus reflexos até os dias atuais. Entender como esse movimento mexeu com os pilares da sociedade e mudou uma concepção de mundo. Contracultura O movimento de contracultura teve início nas décadas de 1950 e 1960, após a saída dos Estados Unidos da Segunda Guerra Mundial. O país saiu da guerra fortalecido economicamente e ditando regras de consumo para o mundo todo por meio de uma indústria cultural que teve rápida ascensão por causa da baixa competitividade, pois nesse período os países europeus ainda estavam se recuperando dos desastres da guerra. Na contramão do discurso de ascensão social e de elogios cegos ao poderio dessa nação, surgiu uma geração de jovens que resolveu apontar o dedo para os problemas gerados pela sociedade capitalista embalada pelos Estados Unidos. Conhecidos como a Beat Generation, os beatniks eram jovens intelectuais, membros da elite norte-americana, estudantes, artistas e escritores que assumiram uma postura contra o otimismo pós-guerra dos norte-americanos, o consumismo, o anticomunismo e a falta de pensamento crítico da sociedade, confortavelmente assegurada pelos lucros adquiridos por intermédio das instituições financeiras. O movimento, conhecido em todo o mundo como movimento hippie, incitou milhares de jovens em todo o mundo a cultuarem o amor livre, a libertação dos falsos valores morais impostos pela sociedade, o desprendimento às convenções e a busca de uma nova sociedade como alternativa à cultura dominante. Apesar de ser considerado um movimento com características fortemente culturais, as principais bandeiras de luta do movimento incluem relevantes questões políticas e sociais como: A valorização da natureza. A vida comunitária. A luta pela paz e contra as guerras, conflitos e qualquer tipo de repressão. O vegetarianismo: busca de uma alimentação natural. O respeito às minorias raciais e culturais. A experiência com drogas psicodélicas. A liberdade nos relacionamentos sexuais e amorosos. O anticonsumismo. A aproximação das práticas religiosas orientais, principalmente com o budismo. A crítica aos meios de comunicação de massa, por exemplo, a televisão. A discordância com os princípios do capitalismo e da economia de mercado. O movimento foi embalado por jovens artistas que fizeram da sua música o porta-voz da contestação, tendo como ícones a cantora Janis Joplin, os músicos Jim Morrison e Jimi Hendrix, cujas letras das canções e estilo fugiam totalmente do convencional e dos padrões estabelecidos pela cultura de massa vigente na época. O movimento musical iniciado por eles teve uma relevância incontestável, pois com sua exuberância ajudaram a estabelecer um questionamento sobre as ideias da cultura dominante e a despertar os jovens apáticos às transformações vigentes. Entre os ícones que também influenciaram a geração dos anos de 1960, está a banda The Beatles, cujo líder John Lennon era uma importante figura entre os beatniks. As manifestações promovidas nessas duas décadas exerceram forte pressão na sociedade e deram início à formação de grupos de contestação em todo o mundo, forçando governos a tomarem atitudes para garantir os direitos humanos e promover políticas de igualdade. Foi a partir desse momento que se passou a trabalhar com o conceito de contracultura, ou seja, de um conjunto de práticas e manifestações que tem como objetivo criticar, debater e questionar tudo o que é visto como vigente e determinante num contexto sócio-histórico, forçando mudanças, conforme os principais movimentos de contracultura expressaram. Woodstock É impossível falar de contracultura sem falar do Festival Woodstock, que ocorreu nos Estados Unidos em 1969. Ele é o marco de maior expressão da contracultura. A ideia do festival partiu de quatro jovens – Artie Kornfeld, Michael Lang, John Roberts e Joel Rosenman – que tiveram a ideia de organizar um grande festival de música para marcar a história da contracultura. Não foi por um acaso que esses jovens se reuniram, era um momento de grandes mudanças na sociedade norte-americana e os jovens estavam em busca de novos ideais. Roberts e Roseman eram jovens ricos que queriam uma ideia que os lançasse como empresários e se reuniram com Kornfield, que trabalhava na Capitol Records; e com Lang, que era um promotor de shows. Juntos fundaram, em março de 1969, a Woodstock Ventures Inc. (WVI) para organizar o evento. O festival chamado de Woodstock Music and Art Fair aconteceu de 15 a 17 de agosto de 1969, num campo de 600 acres da fazenda de Max Yasgur, em Bethel, N.Y. e tinha como slogan "Três dias de paz e música". O evento marcou a Primeira Exposição Aquariana e contou com a participação de quase meio milhão de pessoas. Símbolo da rebeldia da juventude de 1969, entrou para a história como a revolução jovem da geração “paz e amor”. Sexo, droga e muito rock and roll são as marcas registradas desse movimento que carregou a bandeira da contracultura e revelou inúmeras bandas e cantores para o mundo. O Tropicalismo O movimento hippie se propagou por todo o mundo e o Brasil não saiu impune. Jovens como Gilberto Gil e Caetano Veloso se inspiraram nesse movimento de contestação e no furor da ditadura militar que imperava no Brasil entre os anos de 1967 e 1968 e que deram início ao chamado Tropicalismo, movimento de ruptura que mexeu com o ambiente da música popular e da cultura brasileira. Entre seus principais expoentes, além de Caetano e Gil, encontramos vários músicos, compositores e poetas, como Gal Costa, Nara Leão, Maria Bethania, o cantor Tom Zé, da banda Mutantes, o maestro Rogério Duprat, o letrista Capinan e Torquato Neto, o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte, entre outros intelectuais da época que ousavam ir à contramão do encrudecimento do regime ditatorial. O Tropicalismo surgiu num momento em que o país apresentava uma tendência cada vez maior a posições tradicionais e ao nacionalismo dos movimentos ligados à esquerda, que reforçavam uma concepção de estado nacional que propagava um discurso de igualdade e na prática seguia uma política de manutenção das desigualdades. Foi nesse contexto que os baianos levantaram a bandeira da contracultura e lutaram ao lado de seus colaboradores contra essa tendência, tendo como arma a música e a arte. O grupo, cada vez com mais adeptos, procurava universalizar a linguagem da MPB, agregando a ela elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia e a guitarra elétrica, que deu vida e força ao Woodstock. A Tropicália seguiu o que já havia de melhor na tradição musical brasileira. Os jovens músicos somaram à Bossa Nova novas tendências e referências de seu tempo, renovando radicalmente a letra das músicas num repertório musical que misturou a MPB, o rock,o samba, o bolero, o baião e outros ritmos com letras que traziam a crítica e a revolta à acidez do cinismo do discurso oficial. A cultura hippie se fez presente na rebeldia dos jovens por meio da aparência, com a adoção da moda com vestidos longos, calças largas de algodão, dos cabelos longos e encaracolados, do colorido efusivo das roupas, adereços rústicos, no estilo faça você mesmo, no gosto pela liberdade e na linguagem contra a repressão, em que era, conforme Caetano Veloso defendeu em sua música, É proibido proibir. O movimento que durou pouco mais de um ano, entre 1967 e 1968, marcou profundamente a cultura brasileira em todos os sentidos, tanto na música, quanto na política. Simbolicamente seu fim foi marcado pela prisão de Gil e Caetano em 1968, que foram para o exílio. Os grandes festivais de música são marcos desse período, como os festivais da TV Record, em 1968, em que participaram jovens músicos, como Tom Zé, Rita Lee, Geraldo Vandré, Gonzaguinha, entre outros, e muitos também experimentaram o exílio forçado pelo governo militar. No entanto, uma coisa é certa, podemos afirmar que o cenário cultural brasileiro nunca mais foi o mesmo depois da ousadia desses jovens tropicalistas. Considerações finais Como pudemos ver, a contracultura surgiu como um movimento de contestação à cultura vigente, e como as desigualdades, a violência e as guerras ainda continuam a imperar em todo o mundo, ela ainda é um recurso utilizado pelos jovens para combater esses males. Vale a pena prestarmos atenção a esses movimentos juvenis que surgem na atualidade com um olhar menos preconceituoso, procurando entender o que está além do que os nossos olhos veem. A contracultura não morreu com seus ícones, como muitos insistem em propagar, ela ainda é preservada nos dias de hoje, e no Brasil ela pode ser observada em movimentos iniciados pelos jovens da periferia dos grandes centros urbanos, que desafiam a sociedade com um gênero musical que retrata as mazelas da sociedade em que vivem, como a miséria, a violência, a abordagem policial, a falta de educação e de direitos fundamentais. Protagonizam verdadeira revolução nos usos e costumes embalados pela “beat” eletrônica com letras ácidas, danças e modas reprováveis aos olhos do público, como o funk, o hip hop, o pancadão. É em razão dessa realidade que surgem também os diversos projetos sociais, para dar conta da cultura e educação dessa parcela da população. Saiba mais 1. Aconteceu em Woodstock (2009 – EUA – Direção: Ang Lee): em 1969, o jovem Elliot Tiber (Demetri Martin) abandonou sua carreira em Nova York para ajudar os pais a administrar o pequeno hotel da família no interior, que estava falido e prestes a ser confiscado pelo banco. Ao ouvir boatos de que um festival de música hippie teve sua licença cassada numa cidade vizinha, Elliot decide oferecer a propriedade aos produtores para salvar os negócios da família. Três semanas depois, meio milhão de pessoas apareceriam para uma celebração que definiria os rumos de uma geração e influenciaria a cultura popular de forma definitiva. 2. Tropicália (Brasil, 2012 – Direção: Marcelo Machado): uma análise sobre o importante movimento musical homônimo, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil no final dos anos de 1960. O documentário resgata uma fase na história do Brasil em que a cena musical fervilhava e os festivais revelavam vários novos talentos. Ao mesmo tempo, o Brasil sofria com a ditadura dos generais no poder, o que fez com que Caetano e Gil fossem exilados do país. Vale a pena conferir Vale a pena conferir sobre a Tropicália, os músicos e outras informações do movimento. Acesse o site em que estão postados vídeos, críticas, livros e depoimentos. Disponível em: <http://tropicalia.com.br/>. Acesso em: 03 abr. 2013. Agora vamos acessar o AVA para desenvolver as atividades. Não hesite em procurar a ajuda dos professores, caso tenha alguma dúvida. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. * O QR Code é um código de barras que armazena links às páginas da web. Utilize o leitor de QR Code de sua preferência para acessar esses links de um celular, tablet ou outro dispositivo com o plugin Flash instalado. REFERÊNCIAS CHAUÍ, Marilena. Unidade 8: O mundo da prática. Cap. 1: A cultura. In: Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1995. MARQUES, Roberto. Contracultura, tradição e oralidade. São Paulo: Annablume, 2004. PEREIRA, Carlos A. M. O que é contracultura. São Paulo: Brasiliense, 1988. SANTOS, José Luiz dos. A cultura em nossa sociedade. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2003.
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