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Necessidades setoriais de financiamento José Tadeu de Almeida Introdução Nesta aula, você estudará um importante agente macroeconômico: o Estado. Ele tende a ser analisado somente como uma fonte de gastos. Agora, você verificará as dinâmicas que condicio- nam o seu funcionamento. Você verá também uma distinção que faremos entre as variáveis macroeconômicas nomi- nais e reais e seus impactos sobre a formulação de políticas econômicas. Objetivos de aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • Aprender sobre os agregados – renda disponível, impostos e poupança; • Entender a diferença entre variáveis nominais e reais. 1 O que forma e para onde vai a renda disponível Quando analisamos a geração de produto e renda, sempre é preciso levar em conta se essas economias são abertas ou fechadas, ou seja, se mantêm relações com o exterior. Estas relações ocorrem, por exemplo, através do fluxo de exportações e importações de bens e capitais. FIQUE ATENTO! No mundo real, praticamente todas as economias são abertas, ainda que da forma mais limitada possível, como a da Coreia do Norte, cujo principal parceiro comercial é a China. E necessário verificar se nessas economias há ou não um governo representado pelo Estado eque consome bens e serviços para manter-se como agente de controle da sociedade, bem como para prover bens e serviços que são indispensáveis a ela – como justiça e segurança pública (PAULANI; BRAGA, 2013). SAIBA MAIS! Na área da Microeconomia, que estuda as relações de produção e consumo de empresas e indivíduos, os bens públicos são entendidos como fornecidos pelo Estado aos seus habitantes para a garantia de seu bem-estar. Esses bens, em geral, não são oferecidos pela iniciativa privada por conta dos altos investimentos necessários ou por interesse nacional. Figura 1 – Forças Armadas, financiadas pelo Estado Fonte: BPTU/Shutterstock.com O Estado é representado por duas identidades: a de gerador de gastos e de arrecadador de impostos. Os impostos são taxas, expressas por valores monetários, que os cidadãos devem pagar ao Estado em troca do bem-estar que este ente deve proporcionar. SAIBA MAIS! Você pode obter mais informações a respeito da política tributária no Brasil Colonial no artigo de Luciano Raposo de Almeida Figueiredo, “Derrama e política fiscal ilustrada”. Disponível em: <www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/ Derrama_e_politica_fiscal_ilustrada.PDF>. Figura 2 – Impostos drenam parte da renda dos agentes Fonte: ivector/Shutterstock.com A discussão a respeito dos impostos sempre leva em consideração se eles são justos e se são eficientes. Impostos justos devem incidir: • sobre os agentes que podem pagar mais; • igualmente sobre pessoas de mesma capacidade de pagamento, sendo assim universais; • sobre os que utilizam os serviços da nação. Por sua vez, a eficiência nos impostos é dada pelo seguinte: • devem ser cobrados de maneira eficiente, ou seja, evitando a sonegação e o mau uso do dinheiro; • devem maximizar o bem-estar da população; • devem gerar o menor nível possível de distorção no mercado, evitando queda de inves- timento e da demanda de mão-de-obra. FIQUE ATENTO! Um Governo fixa a sua carga tributária conforme as suas necessidades de financia- mento. Sem entrarmos na discussão se essa carga tributária, no Brasil, é compatí- vel com os bens e serviços que o Governo nos oferece, vamos focar nossa atenção nos efeitos dos impostos. Considerando-se que uma economia é formada por um agregado de agentes, o pagamento de taxas ao Estado reduz o volume de renda decorrente da remuneração desses fatores de produ- ção (mão-de-obra, serviços, etc.) que fica “nas mãos” destes agentes, que podem, ainda, receber alguns subsídios do Governo (como auxílios, bolsas de estudo e outros), que configuram as cha- madas transferências governamentais (PAULANI; BRAGA, 2013). Assim, temos o conceito de renda disponível, ou renda pessoal disponível, que é a renda mantida pelos cidadãos (dada por Yd) após o pagamento de seus impostos diretos (TD) e o rece- bimento de eventuais transferências do governo (TR), de acordo com a seguinte equação: renda pessoal disponível = renda pessoal – impostos + transferências governamentais. Como desdobramento, temos outra equação que mostra que a renda disponível para a eco- nomia, como um todo, depende dos tributos pagos, e das rendas enviadas ao exterior (rl): Yd = Y - T– rl Sendo T = TD – TR, ou seja, o montante de impostos T é dado pelo saldo dos tributos diretos pagos (TD), diminuídas as transferências (TR). EXEMPLO Se os cidadãos receberam uma renda de R$ 1 bilhão, pagaram R$ 300 milhões em tributos, receberam R$ 50 milhões de transferências do Governo, e enviaram R$ 100 milhões ao exterior, temos que a renda disponível é: Yd= 1 bilhão – 300 milhões + 50 milhões – 100 milhões = R$ 650 milhões. A renda disponível pode ser utilizada pelos agentes econômicos conforme suas conveniên- cias, seja para consumo ou para ser poupada em parte (PAULANI; BRAGA, 2013). Figura 3 – A poupança como parte da renda Fonte:Licvin/Shutterstock.com FIQUE ATENTO! Os conceitos de poupança, enquanto identidade macroeconômica, e de caderneta de poupança são diferentes! O primeiro termo diz respeito à parcela da renda que não foi destinada ao consumo dos agentes. O segundo é um dos diferentes tipos de investimento que esses agentes podem realizar. Assim, os agentes, ao receberem sua renda e após pagarem seus impostos, obtendo sua renda disponível, optam por consumi-la ou gerar poupança. O somatório do consumo e da pou- pança, deste modo, corresponde ao total da renda. Considerando-se a igualdade entre os princi- pais agregados macroeconômicos, em que o produto é igual à renda, você observa que a renda disponível é formada pelo somatório de consumo (C) e poupança (S), através da seguinte equação: Yd = C + S Podemos, ainda, ampliar esse raciocínio para as chamadas necessidades setoriais de financiamento. Por uma das identidades fundamentais da Macroeconomia, temos que o produto (Y) é gerado pela soma do consumo (C), do investimento (I), do gasto público (G) e dos saldos das relações com o exterior através da balança comercial (X-M, com X e M representando, respectivamente, exportações e importações), conforme esta equação: Y = C + I + G + (X-M) Recuperando a segunda equação apresentada e colocando-a em função de Yd, temos que: Y = C + I + G + (X-M) E que: Yd = Y + TR-TD Logo, Y + TR – TD= C + S. Assim, C + I + G + (X-M) + tr –td = C + S. Portanto, I – S + G + tr –td + (X-M) = 0 Separando as variáveis, temos: (I-S) + (G+ TR –TD) + (X-M) = 0 (esta equação separa os três setores da economia, quais sejam, o setor privado, o setor público e o setor externo). A partir da última equação, visualizamos as chamadas necessidades setoriais de financia- mento. A identidade (I-S) representa a necessidade de financiamento do setor privado, ou seja, os recursos aplicados na geração de produto através do investimento e da quantidade de poupança. Efetivamente, a poupança financia o investimento: os recursos que foram poupados pelos agen- tes, como parte de sua renda, serão utilizados para a aquisição financiada de bens de capital, destinados à produção de outros bens. A identidade (G + TR– TD) representa as chamadas necessidades de financiamento do setor público (NFSP). Observe que a soma dos gastos com as transferências deve ser menor que o total dos tributos para que o Governo possa ter poupança (PAULANI; BRAGA, 2013). Quando os juros e as amortizações da dívida do Governo (que são parte de seu gasto) são agregados a esse cálculo e se essa soma for negativa, o Governo estará gastando mais do que arrecadando, gerando o chamado déficit nominal e podendo trazer a necessidade de cortes de gastose/ou aumento de impostos. Figura 4 – Deficits podem gerar corte de gastos Fonte: Jeff Wilber/Shutterstock.com EXEMPLO Segundo o Banco Central do Brasil, em nota de 27 de dezembro de 2016, o déficit nominal da economia até o mês de novembro era de R$ 581,4 bilhões, equivalentes a 9,28% do PIB. Por fim, a identidade (X-M), representando a balança comercial, demonstra as chamadas necessidades de financiamento do setor externo. Se as exportações, dadas por X, forem maiores que as importações M, há um superávit comercial, e um déficit quando as importações suplanta- rem as exportações. Observamos, assim, uma ligação entre os setores da economia, nos âmbitos privado, público e externo. Como estes setores se interligam a partir da geração de produto, um setor pode finan- ciar suas despesas através de empréstimos “tomados” a outros setores. Um déficit nominal, por exemplo, pode ser financiado através de remessas de recursos gerados pelo superávit externo. 2 Variáveis nominais e reais Uma economia moderna possui diferentes quantidades de bens produzidos, cada um deles a certo preço. Há, porém, ao longo do tempo, um aumento dos preços desses bens, em vista da inflação, dos aumentos dos preços das matérias-primas etc. Deste modo, tratamos as variáveis como nominais quando elas estão expressas a preços correntes, a preços de mercado – o preço que está sendo praticado no momento em que as vari- áveis são observadas. Variáveis reais, por sua vez, são observadas quando são descontados os efeitos da inflação, do aumento de preços sobre uma determinada cesta de bens que são produ- zidos nessa economia. As variáveis nominais não podem ser comparadas, pois expressam grandezas diferentes (preços correntes variam ao longo do tempo, de modo que, para uma análise comparativa, preci- samos utilizar variáveis reais). Vale destacar, ainda, que as variáveis nominais são representadas por letras maiúsculas e as reais por letras minúsculas. Por exemplo, se uma economia fechada e sem governo produz apenas batatas para seus habitantes consumirem, ao preço de R$ 100 pelo saco de 60kg, e cem mil sacos de batata são produzidos, logo, temos que o total do produto a preços correntes é de 100.000*100 = 10 milhões de reais. Este é o produto nominal, aos preços correntes. Considere que houve uma inflação de 10% no segundo ano, de novos 10% no terceiro ano, e sempre de 10% até o décimo ano, com a produção constante de batatas. Calculando-se (1,1)9=2,35, ou seja, o saco de batatas estará cotado no décimo ano a 235 reais. O valor do produto, por sua vez, será de 23,5 milhões de reais. Este será o produto nominal no décimo ano. Porém, se descon- tarmos a inflação desses dez anos, você verá que a produção permaneceu a mesma, e o valor dela também. Então, veja que, a preços reais, o produto dessa economia permaneceu o mesmo pelos dez anos (PAULANI; BRAGA, 2013). Fechamento Nesta aula, você teve oportunidade de: • compreender que a renda disponível dos agentes é avaliada após o pagamento dos tributos e impostos ao Governo; • entender as relações entre consumo, renda e poupança; • conhecer as diferenças entre variáveis nominais e reais, a partir de sua dissociação com o aumento de preços. Referências BANCO CENTRAL DO BRASIL. Política Fiscal – Nota para a imprensa. Disponível em: <https:// www.bcb.gov.br/htms/notecon3-p.asp>. Acesso em: 02 jan. 2017. FIGUEIREDO, Luciano Raposo de Almeida. Derrama e política fiscal ilustrada. In: Revista do Arquivo Público Mineiro.Dossiê. Disponível em: <www.siaapm.cultura.mg.gov.br/acervo/rapm_pdf/ Derrama_e_politica_fiscal_ilustrada.PDF>. Acesso em: 02 jan. 2017. GARCIA, Manuel Enriquez; VASCONCELLOS, Marco Antonio Sandoval de. Fundamentos de econo- mia. São Paulo: Saraiva, 2014. PAULANI, Leda Maria; BRAGA, Márcio Bobik. A nova contabilidade social – uma introdução à Macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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