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Apostila - História e Linguagens - UNIMES

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História e Linguagens
Aula: 01 
Temática: Uma nova História 
Nessa unidade iniciaremos um estudo aprofundado da chamada “Nova História Cultural”, uma escola historiográfica que teve início nas primeiras décadas do século XX e que tinha como proposta principal revolucionar os estudos e análises históricas em que havia a necessidade de uma história abrangente e totalizante. Para isso, a “nova história” surgiu com uma nova possibilidade de redescobrir o papel do homem nas suas realizações utilizando para isso as ciências sociais como respaldo.
A narrativa utilizada pela “Nova História” a aproximou das outras ciências humanas, como a antropologia, a sociologia, a geografia, a economia etc. Essa nova forma de escrever historiograficamente propunha novas explorações de linguagem e pensamentos diferentes das histórias totalizantes e dos grandes fatos impostos pelos vencedores. Tal abordagem queria dar voz à grande massa de anônimos, então marginalizados, o que lhes daria uma importante função na História. Analisemos a citação seguinte e a crítica à antiga forma de narrativa histórica: 
A forma dominante, porém, tem sido a narrativa dos acontecimentos políticos e militares, apresentada como a história dos grandes feitos de grandes homens – chefes militares e reis. Foi durante o Iluminismo que ocorreu, a primeira vez, uma contestação a esse tipo de narrativa histórica. (BURKE, 1990, p. 17)
Tal citação demonstra que a história possui estruturas em constante movimento e que não deve ser apenas preocupada com uma apologia de reis ou generais em seus feitos singulares e com a história política, mas deve ater-se à sociedade como um todo, associando a narrativa histórica das vozes mudas e marginalizadas dos personagens que são inerentes a ela e buscando trazer à tona uma “história-problema”. O que isso significa? Significa suscitar novos temas e novas abordagens a serem trabalhadas. 
A História não é constituída linearmente em seu desenvolvimento, mas, sobretudo, por imbricações durante seu percurso. Não segue uma linha cronológica harmoniosa, ao contrário, segue uma linha de conflitos e tensões que precisam ser vislumbrados e analisados. Ao longo de seu trajeto a História teve muitas mudanças e novos enfoques, um desses novos olhares se deu com o surgimento HISTÓRIA E LINGUAGENS 13 UNIMES VIRTUAL do movimento chamado Escola dos Annales que inseriu novas abordagens e novos questionamentos no campo historiográfico. Por meio deste olhar foi dada maior atenção às chamadas: História Oral, História das Mentalidades, Micro-história, História das Idéias, História Cultural, História da Vida Privada, História das Imagens, etc., dando um maior impulso à historiografia contemporânea. 
Para empreender essa análise o historiador terá de se enveredar em territó- rios até então inacessíveis e inóspitos e recorrer às ciências humanas para nortear seu rumo e servir como apoio, bem como dialogar com a literatura, a sociologia, a psicologia, a antropologia, a lingüística e a iconografia. Concluímos que a “Nova História” utiliza um caminho alternativo para interpelar história construída e idealizada por uma narrativa simplista que tem como objeto o informal. Para tanto, ela utilizará uma análise que apresente um caminho alternativo para a pesquisa histórica. 
A contribuição que esse novo olhar historiográfico proporcionará será ultrapassar o foco exclusivo na economia e na política, abrindo espaço para a inserção da história cultural e suas diferentes heterogeneidades nas diferentes sociedades onde ela se apresenta.
 Na próxima aula daremos continuidade à explanação sobre a Escola dos Annales, movimento que surge na França de importante influência que revolucionou os alicerces da então historiografia dominante e que tem como principais figuras os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre.
Aula: 02 
Temática: A Escola dos Annales 
Em 1929, os historiadores franceses Marc Bloch e Lucien Febvre criaram a revista Anais de História Econômica e Social. Essa revista propunha uma ruptura com a então corrente historiográfica atual, além de defender uma liberdade nova e a crítica à história política e factual atuando com um novo espírito crítico e utilizando a interdisciplinaridade. Devemos ter consciência de que o processo histórico não se movimenta de forma compassada em um mesmo ritmo como muitas vezes é apresentada, mas em um compasso sempre na mesma velocidade, algo que não pode ser demarcado como contínuo, estável. 
Os historiadores ligados ao grupo dos Annales partiram da premissa de que a História deveria ser entendida nos seus pormenores, não aceitando pressupostos históricos pré-estabelecidos e imutáveis em determinados períodos temporais estabelecidos principalmente por relações de poder. O que estava sendo proposto era “quebrar” com dogmas e barreiras metodológicas utilizando, para isso, novos suportes de pesquisa que abrangessem um maior território do entendimento empírico. A proposta principal da revista e de seu grupo envolvido era relacionar e interagir as ciências humanas possibilitando compreender as complexas relações sociais, econômicas e culturais de diferentes agentes e sua participação no fazer histórico suscitando novas situações e problemáticas.
Entre os muitos historiadores que participaram e colaboraram com os Annales podemos destacar alguns nomes - de gerações diferentes - devido à grande importância de seus trabalhos e contribuições para Nova História como Lucien Febvre e Marc Bloch (os principais nomes), Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goffr e Le Roy Ladurie. Tais pensadores foram responsáveis por uma verdadeira “revolução” na historiografia. 
Os Annales foram definidos por alguns historiadores como tendo três gerações estabelecidas desde sua fundação, porém, apesar de ser considerada uma “escola historiográfica”, ela não possui uma linha pré-estabelecida, pelo contrário, a sua constante busca por novas variedades do entender histórico vem denotando a importância de suas pesquisas no labor sociocultural:
HISTÓRIA E LINGUAGENS 15 UNIMES VIRTUAL Esse movimento pode ser dividido em três fases. Em sua primeira fase, de 1920 a 1945, caracterizou-se por ser pequeno, radical e subversivo, conduzindo uma guerra de guerrilhas contra a história tradicional, a história política e a história dos eventos. Depois do establishement histórico. Essa segunda fase do movimento, que mais se aproxima verdadeiramente de uma “escola”, com conceitos diferentes e novos métodos, foi dominada pela presença de Fernand Braudel. Na história do movimento, uma terceira fase se inicia por volta de 1968. É profundamente marcada pela fragmentação. A influência do movimento, especialmente na França, já era tão grande que perdera muito das especificidades anteriores. Era uma “escola” unificada apenas aos olhos de seus admiradores externos e seus críticos domésticos, que perseveravam em reprovar-lhe a pouca importância atribuída à polí- tica e à história dos eventos. (BURKE, 1990, p.13) 
A experiência dos Annales constituiu uma guinada ao pensar em fazer História em relação aos seus profissionais, pois reformulariam práticas até então habituais e estáticas por outras móveis e flexíveis. Devemos nos ater para o fato de que a chegada desse movimento trouxe um novo ânimo e renovou uma energia na análise do saber histórico e seus complexos entendimentos. 
A partir da década de 1960, devido à forte influência dos Annales, uma corrente de historiadores influenciados principalmente pela sociologia, etnografia, antropologia e psicanálise irão criar abordagens que serão intituladas de “Nova Histórica Cultural”, abordando temáticas que até então não eram atribuídas ao historiador. Durante os anos 1970, esses pesquisadores ganharam notoriedade e agiram com forte influência sobre a comunidade historiográfica. Foi neste período que surgiram trabalhos relacionados às mentalidades, às idéias, à loucura, aos sonhos, às imagens e à literatura entre uma gama de novas possibilidades. Os historiadores“colonizaram” áreas até então alheias ao seu campo de análise dialogando e contribuindo com outras disciplinas sociais. 
Durante principalmente a década de 1980, os historiadores brasileiros se aproximaram aos estudos relacionados à Nova História, influenciados pelos trabalhos pioneiros de Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freire, além da corrente historiográfica do seu tempo influenciada pelos Annales. O modo antigo de imaginar a História seria superado e abriria-se um caminho fecundo a ser explorado pelo pesquisador e o leitor de História.
A nova forma de conceber a História, ensejada pelo movimento dos Annales, corroborou para um novo entendimento metodológico do campo historiográfico. A maior contribuição trazida por ela foi não se apegar a pressupostos estabelecidos e inertes, mas sempre buscar possibilidades de análise interagindo com as outras disciplinas das ciências humanas, procurando novos caminhos e objetos a serem explorados, além de investigar novas veredas na sua constante busca do saber.
Aula: 03 
Temática: História das Mentalidades 
A História das Mentalidades impõe-se pelas suas orientações e perspectivas. Podemos dizer que alguns dos seus mais recentes desenvolvimentos colocam a atenção do historiador para o espaço aberto e difuso do cotidiano; exploram gestos e saberes socializados que aproximam os homens, independentemente da sua condição social; valorizam as categorias do espaço e do tempo; questionam as formas de comunicação que estabelecem entre sensibilidades e padrões de culturas diferenciadas dentro de uma mesma sociedade; tendem a delimitar as tensões entre a conservação e a mudança nas fronteiras dos diversos imaginários sociais. Resumidamente, colocam em destaque o que é concebido e sentido no campo da inteligência e do afetivo. 
Esse objeto de estudo da Nova História tem trazido muitas contribuições para o universo do historiador, desfazendo equívocos, criando novos problemas e abrindo caminho ao estudo dos traços mais profundos das sociedades. Traços forjados da intimidade, envoltos em segredo e captados no limiar do público e do privado, do sagrado e do profano, da norma e do conflito. Com alguma nitidez são eles que preenchem o essencial das Histórias do corpo, da doença, da morte, da sexualidade, da infância, da mulher, das celebrações, da leitura, da crença, da superstição, da fantasia, do medo, da infâmia, da alimentação e de muitos outros campos significantes da nossa cultura. 
Como é o procedimento para o estudo da História das Mentalidades? 
O estudo de história das mentalidades é um trabalho com elementos inertes, obscuros, inconscientes de uma determinada visão de mundo. As sobrevivências, a afetividade, irracionalidade, entre outros, delimitam o campo específico da história das mentalidades, distinguindo-a com muita clareza de disciplinas paralelas e hoje consolidadas como são os casos da história das idéias ou a história da cultura. Podemos entender as mentalidades como uma história de representações coletivas, representações mentais ou mesmo ilusões coletivas. 
As mentalidades podem ser pesquisadas como se esta fosse um microcosmo de um estrato social inteiro em um determinado período histórico.
Podemos estudar, por meio das mentalidades, os comportamentos coletivos, imaginações e gestos a partir de objetos precisos, tais como livros e instituições de sociabilidade. Toda essa gama variada de possibilidades reúnem-se no campo da história das mentalidades. Um exemplo que podemos utilizar é a pesquisa da cultura produzida ou imposta às classes populares em um dado momento histórico. 
A fonte utilizada pelas mentalidades é bem variada. Podem ser utilizados como fontes almanaques, canções, imagens, religiões, literatura e registros orais. Ao utilizarmos outros tipos de fontes na reconstrução das mentalidades, não usamos apenas como forma de alargar a narrativa histórica a outros agentes, mas de alargar a sua história não apenas na identificação exclusiva do documento escrito, mas utilizar-se também de um conjunto de todos os tipos de documentos disponíveis. 
A documentação utilizada pode nos fornecer a oportunidade e os subsídios de reconstruir não só as massas indistintas como também personalidades individuais, pois não podemos conceber uma mentalidade homogênea dentro de um círculo social, ou seja, não devemos nos esquecer da singularidade do sujeito histórico. Apesar das mentalidades estarem circunscritas dentro de algumas sociedades, não quer dizer que todos os seus indivíduos as aceitem de forma passiva. 
Gostaria de finalizar essa aula lembrando que não podemos identificar as coordenadas mentais de uma temporalidade histórica, pois, como já foi dito, não existe uma mentalidade homogênea onde todos os sujeitos interiorizam determinados valores e os aceitam como seus, passivamente, sem imbricações e contestações.
Aula: 04 
Temática: A Nova História Política 
O fenômeno político, atacado pelo movimento dos Annales na sua primeira geração, iria retornar com uma abordagem mais ampla e crítica por parte dos historiadores contemporâneos, principalmente a partir da década de 1980. Hoje em dia, o político também pode ser um objeto do conhecimento científico assim como um fator de explicação de outros fatos além de si mesmos. A história política havia perdido seu prestígio perante os historiadores e foi chamada muitas vezes de obsoleta, além de estar tanto tempo em constante desuso. 
As profundas transformações ocorridas na Europa e as perspectivas de sua unificação no final dos anos 1980 e início dos 1990, foram fatores que recolocaram na ordem do dia a revalorização da história política como instrumento adequado e apto para perceber e analisar as questões colocadas na efetivação da União Européia. 
Para começarmos a abordar o tema devemos estar cientes das diferenças que existem entre a história próxima e a história política. O interesse pelo político não é próprio da história recente e o político não está exclusivamente ligado à proximidade no tempo.
Deve ser destacada nesse movimento de renovação a relação da história com outras disciplinas como a ciência política, a sociologia, a linguística e a psicanálise, com as quais foi possível abrir novos campos. Utilizando a interdisciplinaridade, foi possível ampliar conceitos e técnicas na sua investigação, construindo assim, novos objetos e novas problemáticas. 
A história política tem trazido contribuições sobre estudos de processos eleitorais, partidos políticos, opiniões públicas, mídias, relações internacionais etc. Uma das inovações que pode nos servir como exemplo é o estudo empreendido a respeito do imaginário político, focando a importância dos mitos e mitologias políticas como suportes para se descobrir e entender o movimento longo das sociedades. 
A nova concepção do estudo político não estaria ligada à brevidade dos acontecimentos sobre os quais ele direciona o seu enfoque. A história política incluiria o estudo das estruturas e os fenômenos da cultura política que só podem ser compreendidos em uma perspectiva de longa duração.
Nos dias de hoje temos de nos ater ao fato de que qualquer sistema, por mais esclarecedor que possa ser, é incompleto, pois a realidade é mais rica e complexa que todos os sistemas. Se estamos interessados pelo político é porque temos consciência que a política tem sua importância.
Devemos nos interessar pelos fatos políticos como se estes fossem um prolongamento dos fatos culturais, revelando desse modo coisas mais profundas que possam contribuir para nosso entendimento do presente e do processo histórico.
 O que se analisa não é a mesma história política usada e criticada pela geração dos Annales. Esta não tem como protagonistas apenas os vencedores e grupos detentores de poder, não é a mesma abordagem que se pretende, nem tão pouco a mesma “Política”. Os estudos propostos por essa Nova História são uma renovação, ampliando o debate e incluindo novos agentes históricos. Precisamos ter a convicção de que a política temuma existência própria e não é uma simples expressão reflexa da ação estrutural das forças econômicas.
Aula: 05 
Temática: História das Idéias 
As pesquisas relacionadas à História das Idéias Científicas procuram compreender, a partir das relações culturais, a formação dos conceitos e das idéias que caracterizam as teorias científicas em seus diversos contextos. Nesse sentido, não se trata de tomar idéias e conceitos científicos por eles mesmos, mas de compreender como os determinantes culturais desempenham um importante papel na formação dessas idéias e conceitos e na elaboração das teorias científicas. 
A História das Idéias Políticas empenha-se em sistematizar de modo claro as principais doutrinas que marcaram o desenvolvimento do pensamento político, agrupadas em capítulos cujos títulos são significativos das emergências conceituais que desempenharam papel decisivo no dever político das sociedades. Uma das grandes interrogações que os homens se interpelam é acerca da organização da sociedade e da natureza do poder político. Temos de nos ater ao fato de que as teorias ou doutrinas políticas do passado sempre deixam marcas perenes na história das idéias. 
A história das Idéias Políticas ainda não acabou, embora, na atual conjuntura, o peso das ideologias tenha cada vez menor influência sobre os governos das nações. O espírito humano sempre se demonstra criativo na procura incessante de novas formas de atuar sobre a organização das sociedades e que, mesmo quando estas parecem estáveis e equilibradas, existem no seu interior forças e ideais reais que, a qualquer momento, podem manifestar-se e levar a uma nova mudança. 
A História das Idéias empenha-se em sistematizar de modo claro as principais doutrinas que marcaram o desenvolvimento do pensamento político nas mais variadas temporalidades. Seu estudo procura demonstrar os significados das chamadas emergências conceituais que desempenharam papel decisivo no devir político das sociedades históricas. 
O trabalho de interpretação das realidades contemporâneas facilmente nos leva às conclusões de que, tanto ao nível individual como ao nível do grupo social, os homens produzem fórmulas teóricas e sistemas conceituais de organização da realidade que merecem freqüentemente os nomes de ideologias e de utopias. 
Podemos entender dessa forma que hoje é impossível o estudo das realidades sociopolíticas, culturais, religiosas e científicas sem um aprofundado debate das orientações ideológicas ou utópicas que operam em todas as regiões em que se pretenda exercer um trabalho teórico consistente. Podemos selecionar e classificar, portanto, três territórios de estudo: o território político-social, o território cultural e o território reportado à história das ciências. 
As ideologias e as idéias estão presentes em todo meio social sendo inevitavelmente o confronto ideológico, afinal está incrustado em toda a história humana. Por isso, torna-se tão importante a abordagem reflexiva dos sistemas políticos, dos canais de comunicação que constroem e transmitem opiniões públicas e suas correspondentes fórmulas sociais para se legitimar e justificar. É também de fundamental importância que o domínio valorativo-cultural seja submetido a um filtro crítico comparável ao que deve ser aplicado ao domínio político-social. 
Para finalizar essa aula, gostaria de falar sobre o papel da ciência contemporânea constituída por uma quantidade indeterminada de ciências particulares em que se juntam, dessa maneira, como uma grande ideologia e a suprema utopia dos nossos dias. Ela se identifica tão completamente com a contemporaneidade que bem se poderá declarar que hoje a ciência não é vista como o prolongamento do comum “bom senso” e sim passará a dizer que o “bom senso” é o prolongamento da ciência.
Aula: 06 
Temática: Georges Duby: um exemplo da Nova História 
Georges Duby, nascido em Paris em 1919, foi um dos grandes historiadores que seguiram a escola dos Annales e contribuiu com importantes trabalhos relacionados à “Nova História Cultural”. Inicialmente, interessou-se pela geografia, mas acabou dedicando-se à História medieval. Foi reconhecido como um dos maiores medievalistas do século XX. Seu trabalho é marcado por utilizar uma gama variada de temas e fontes para escrever sua narrativa historiográfica. Analisaremos seu método de trabalhar com a pesquisa histórica. 
Seu método historiográfico 
Sua maneira de observar a História tem como atenção as sociedades. O sujeito histórico ocupa o lugar que é atribuído aos grandes vultos em outros enfoques e sua preocupação com o cotidiano ganha destaque mais importante do que datas que marcam grandes acontecimentos. Em suas pesquisas o autor trabalha, de forma eclética, desvinculado de qualquer amarra historiográfica e não se fecha em uma só metodologia. Isso não quer dizer que não vá utilizar nenhum referencial teórico, mas busca ter liberdade e utilizar aquela que melhor sirva para produzir um conhecimento historiográfico. 
Sua obra intitulada A História Continua tem por objetivo fazer um balanço próprio, não só seu, mas de toda uma geração de historiadores. Tal obra demonstra que o ofício do historiador é trabalhar com temas mais abrangentes e não de forma excludente. Utiliza, para isso, as ciências humanas e faz análises mais sofisticadas a respeito da vida privada e das relações humanas. Essa sua obra seria uma autobiografia cujo personagem central é o historiador. Dessa forma, apresenta como exemplo sua própria vivência histórica e seu método de trabalho. Por meio do seu ecletismo, o autor consegue ampliar sua visão de mundo, ou seja, não se restringe a apenas um campo de pesquisa. 
Duby faz questão de lembrar a importância do ato de escolher seus meios de análise histórica. Para ele, o ato da escolha significa ter diante de si op- ções para serem analisadas e discutidas, isto é,, o sustentáculo principal para o trabalho historiográfico. A História tem de encontrar sempre uma nova erudição, uma narrativa que se faça transmitir de forma que seja compreendida e seja atrativa para o público que almeja seu conhecimento. 
Um saber que se faça expressar com significado, não um conhecimento que não tenha vínculo nenhum com o mundo contemporâneo que certas correntes historiográficas produzem ou produziram. 
Devemos ressaltar a importância da imaginação no processo historiográfico, também da capacidade interpretativa do pesquisador. Desse modo, as mentalidades ganham destaque, principalmente nas obras de Duby, pois fazer História é ter diante de nós os vestígios e indícios. Dessa forma, é preciso saber somá-los para obter resultados convincentes por meio de elos e associações, o que significa que sem a imaginação não existe a história. 
Vale a pena lembrar que, em suas obras, Duby destaca a importância da história investigativa e interpretativa como caminhos que devemos percorrer para atingir uma História com alto valor analítico, trazendo assim um maior número de respostas plausíveis a determinadas questões levantadas pelo labor científico e deixando de lado a forma simplista de construir e narrar os fatos históricos. 
Além de mudar as práticas metodológicas devemos mudar também os objetos, ou seja, a História deve se preocupar em abranger os vários campos da ação humana e não apenas os tradicionais. Duby propõe uma história global para a qual possamos seguir estas orientações e termos também de usar o ecletismo cultural e epistemológico para que possamos responder às várias questões inerentes à História, utilizando, para tanto, o conhecimento disponível nas outras disciplinas humanas.
Aula: 07 
Temática: Terminologias e Linguagens utilizadas na Nova História 
A chamada Nova História trouxe uma nova terminologia histórica, principalmente devido à variedade dos objetos e suas especificidades. Vamos conhecer algumas delas para que possamos nos familiarizar e empregá-las conforme a nossa necessidade. Os termos usados na Nova História possuem características próprias usadas por historiadores conformea natureza de seu objeto.
 Usaremos como base, para melhor expor, o livro do historiador inglês Peter Burke que é de fácil entendimento e possui uma melhor definição, pois abrange termos bastante significativos: 
Etnohistória: O termo Etnohistória foi empregado pela primeira vez, de forma ocasional, no início do século XX, mas só na década de 40 começou a ser usado de forma sistemática por alguns antropólogos culturais, arqueólogos e historiadores norte-americanos para denominar suas pesquisas e publicações sobre a história dos povos indígenas no Novo Mundo. Nos últimos anos, Etnohistória passou a significar o estudo histórico de qualquer povo não-europeu. Esses estudos tentam reconstruir a história das sociedades pré-letradas, antes e depois do contato com o europeu, utilizando fontes escritas, orais e arqueológicas, além dos conceitos e critérios da antropologia cultural e social. Os etnohistoriadores combinam suas fontes históricas com o trabalho de campo etnográfico realizado nas sociedades cujo passado eles pretendem reconstruir. 
História episódica: Um termo depreciativo, para a história dos acontecimentos, lançado por Braudel no prefácio de sua obra Mediterrâneo. 
História Global: Um ideal formulado por Braudel. “Globalidade não é querer escrever uma história completa do mundo... é simplesmente o desejo, ao nos defrontarmos com um problema, de ir sistematicamente além de seus limites” (BRADUDEL, 1978, p. 245). O próprio Braudel estudou o seu mar Mediterrâneo no interior do contexto de um “Mediterrâneo maior” que ia do Saara ao Atlântico.
História do Imaginário: Um termo recente empregado por Duby e Corbin que, de forma geral, corresponde à velha história das representações coletivas. 
História imóvel: Algumas vezes traduzida como “história sem movimento” ou “história imóvel”, expressões usadas por Le Roy Ladurie numa referência sobre o ecossistema do início da França moderna muito criticada por ter sido entendida como uma negação da existência de mudança na história. 
História quantitativa: O termo se refere não à história quantitativa em geral, mas à história macroeconômica, ou seja, à história do Produto Nacional Bruto, no passado. Alguns tipos de história quantitativa são conhecidos na França como história serial. 
História serial: Um termo para se referir às tendências de longa duração pelo estudo das continuidades e descontinuidades. Tal classificação se insere no interior de séries relativamente homogêneas de dados (preços de cereais, data das safras de vinho, nascimentos anuais etc.). 
História total: Febvre gostava de falar em história total em oposição à história econômica, social ou política. O antropólogo Marcel Mauss, porém, gostava de empregar o adjetivo total com o objetivo de caracterizar o tipo de abordagem de sua ciência. 
História das Mentalidades: Termo usado para se referir às representações mentais ou ilusões coletivas. 
Longa duração: Esta frase transformou-se num termo técnico depois de ter sido utilizado por Braudel em um famoso artigo. Uma concepção semelhante percorreu seu Mediterrâneo. Nesse livro, porém, ele escreveu uma história quase imóvel e uma história lentamente ritmada (para mudanças ocorridas em apenas um século ou dois).
Aula: 08 
Temática: A Micro-história 
Abordaremos aqui alguns aspectos da micro-história, uma vez que esta é um desdobramento teórico estritamente ligado ao surgimento da Nova História Cultural. O maior representante do método que merece destaque é o italiano Carlo Ginzburg que, em 1976, lançou a obra que deu origem a esse tipo de pesquisa. 
A micro-história vem se popularizando nos estudos historiográficos abordando a história de personagens até então desconhecidos. Surgiu como uma nova possibilidade de investigação histórica fazendo parte do elenco de mudanças epistemológicas que acompanharam a emergência da Nova História Cultural. O surgimento da Micro-História tem a ver com o debate intelectual e historiográfico das décadas de 1970 e 1980 e se deve também à questão da crise do paradigma marxista e outros modelos de história totalizante. 
O trabalho da micro-história tem se centralizado na busca de uma descri- ção mais realista do comportamento humano ao empregar um modelo de ação que possa dar voz a sujeitos históricos que, de outra maneira, estariam fadados ao esquecimento. 
A micro-história tem como objeto estudar personagens marginalizados e histórias aparentemente sem nenhum interesse. Seu objeto de análise não são sujeitos célebres da história ou grandes fatos e processos gerais da sociedade. Devido a isso foi criticada por grande parcela de historiadores que diziam se tratar de um fenômeno que tendia a acabar com a história por romanceá-la ou transformá-la em ficção literária. 
Qual é o verdadeiro enfoque da Micro-história? 
O que a micro-história tem para oferecer é um modo alternativo de pesquisa histórica que tem como proposta o fato de que enredos pequenos podem ser tão importantes quanto os grandes para a análise do passado. A micro-história tem como objetivo prestar seus serviços à História Geral utilizando um exemplo particular e único. Não nega nem desqualifica as explicações gerais, mas enfoca o personagem singular e a trama minúscula. Segundo o historiador Ronaldo Vainfas, seria “como examinar o passado através de um microscópio”.
A micro-história, como outros ramos do saber historiográfico, utiliza-se de vastíssimos documentos, como registros cartoriais, inventários, testamentos, testemunhos orais e diários. Para isso, depende de uma pesquisa documental minuciosa, pois tudo está ao alcance da micro-análise. 
A configuração da micro-história encontra explicação em fatores inerentes à disciplina e exteriores a ela. Grosso modo, pode-se afirmar que as análises são empreendidas sob a orientação de diferentes correntes do pensamento, como o positivismo e o marxismo, ou ainda em termos historiográficos inspiradas na escola dos Annales. 
A micro-história caracteriza-se por ser uma das possíveis respostas que enfatizaram a redefinição de conceitos e uma análise aprofundada dos instrumentos e métodos existentes. Outra “solução proposta” foi o relativismo exacerbado que, para resumir em uma expressão, identifica história e ficção, enfatizando as limitações das mediações que subsidiam o saber histórico e, sobretudo, da narrativa que faria da história uma construção textual sem uma correspondência real.
Aula: 09 
Temática: Micro-história e a metodologia 
Embora não exista uma metodologia que, por si só, caracterize a micro-história, a adoção dessa perspectiva desemboca em questões recorrentes exigindo do pesquisador uma reflexão que certamente não estará isenta de implicações metodológicas: 
Estas então, são as questões e posições comuns que caracterizam a micro-história: a redução de escala, o debate sobre a racionalidade, a pequena indicação com um paradigma científico, o papel do particular (não, entretanto, em oposição ao social), a atenção à capacidade receptiva e à narrativa, uma definição específica do contexto e a rejeição do relativismo. (LEVI, 1992, p. 141) 
Tais pontos são aspectos fundamentais que evitam posturas ingênuas como demarcar a importância e pertinência da redução de escala para tratar de um determinado problema? A diferença de escala não garante o entendimento total do real. Seja o micro ou o local, o fundamental aqui é o estudo de problemas que os ultrapassem, não na perda de sua especificidade, mas por considerar que o particular questiona as evidências das macro-realidades. Nas palavras de Ginzburg, “em nenhum caso a micro história poderá limitar-se a verificar, na escala que lhe é própria, regras macro-históricas (ou macro-antropológicas) elaboradas noutro campo”.(GINZBURG, 1991, p. 178) 
Além disso, os estudos de um grupo social ou mesmo de um indivíduo, não devem ficar reduzidos a uma mera explicação de uma realidade local, mas, ao contrário, devem dialogar com realidades outras, inclusive macrosociais, sendo, ao mesmo tempo, compreendida por diferentes sujeitose fornecendo subsídios para a compreensão desse outro. A opção pela micro-análise tem como objetivo debruçar-se sobre problemas, os quais, dessa perspectiva, permitiriam captar a síntese das ações humanas, ou seja, aquelas mudanças que ocorrem por meio de estratégias e escolhas minuciosas e infinitas que operam nos intervalos de sistemas normativos contraditórios. Disso resultam que são as questões hipotéticas e/ou as derivadas da análise que legitimam a redução da escala. Ao mesmo tempo, essa noção implica em preocuparem-se mais com a possibilidade de confirmar, ou não, hipóteses, construir novos problemas ou ainda colocar em xeque concepções e conceitos homogeneizados na escolha do objeto.
Assim sendo, deve-se atentar para os espaços em que atua o sujeito biografado, seus propósitos, tradições e o modo como pensavam sobre seu mundo, apropriando-se de categorias “emprestadas” do social. Daí o caráter fundamental assumido pela noção de contexto que permitirá ao pesquisador estabelecer um diálogo profícuo entre o indivíduo e o campo social em que se insere. Some-se a isso a afirmação de que há sempre um espaço concreto em que os sujeitos se movimentam dentro do qual realizam suas práticas, o que torna imprescindível sua caracterização. 
Em síntese, a biografia se configura como um estudo rico em possibilidades, sem esquecer dos seus limites, uma vez que permite verificar o caráter intersticial – todavia importante – da liberdade de que dispõem os agentes e para observar como funcionam concretamente os sistemas normativos que jamais estão isentos de contradições. A importância da biografia é permitir uma descrição das normas e de seu funcionamento efetivo sendo este considerado não mais o resultado exclusivo de um desacordo entre regras e práticas, mas também de incoerências que autorizam a multiplicação e a diversificação das práticas. 
As fontes encontradas estabelecem os limites, os níveis em que podemos nos aprofundar na vida de uma pessoa. Se for difícil estabelecer os fatos, dada a existência de diferentes versões, o importante é contrapô-las.
Aula: 10 
Temática: Reflexões sobre a História Cultural 
No decorrer das aulas abordamos a importância da História Cultural e os caminhos que possibilitaram ao conhecimento historiográfico, em que o historiador enveredou em outras áreas das ciências humanas e ampliou seu alcance e criticidade para uma melhor abordagem e entendimento do passado. Devemos muito disso às contribuições trazidas pelos historiadores ligados à escola francesa dos Annales que deram um novo norte ao fazer histórico e que vem se ampliando até os dias de hoje. Procuraremos nessa aula discutir os resultados acerca do tema que vem ajudando a legitimar o trabalho e o ofício de se fazer História. 
Primeiramente, não podemos ignorar o rigor científico próprio da história e das ciências em geral ao lidarmos com as nossas fontes. Devemos ter a premissa de que a finalidade de se conhecer o passado justifica-se, principalmente, pela compreensão do presente, e, por meio dele, aferir e interpretar o futuro. O historiador precisa ter a consciência de que através de seus instrumentos científicos e metodológicos tem condição de analisar e construir parâmetros para se entender e avaliar a História. 
Os problemas conceituais, quando se trabalha com a história cultural, são muitos. Por isso devemos interpelar os objetos a serem estudados de formas separadas conforme suas especificidades. Trabalhar com a história cultural é estabelecer diálogos prováveis com a história das mentalidades, a história das idéias e a história da literatura, respeitando sobretudo seus limites. 
Por meio da discussão conceitual o historiador adquire e se municia de instrumentos metodológicos para serem usados no campo da história cultural. Os objetos e recortes temporais que o pesquisador escolhe, por identificação, concentram um universo de possibilidades que podem ser trabalhadas, mas, todavia, com certa cautela para que não percamos o norte e possamos cair em total banalidade e contradição. 
Vale a pena mais uma vez lembrarmos que a História Cultural quer se aproximar e dar destaque aos personagens anônimos da História, ou seja, dar voz àqueles que, de certa forma, foram colocados à margem do discurso historiográfico. Podemos entender que a História Cultural revela-se com uma especial afeição pelo informal, pelas análises historiográficas que apresentam caminhos alternativos para a investigação histórica, local onde abordagens tradicionais não foram.
O trabalho com a escrita 
No que diz respeito ao trabalho da escrita historiográfica devemos, sobretudo, comprometermo-nos em sermos historiadores escritores para que não corramos o risco de ser o contrário. Tal se faz necessário, porque isso implicaria em um risco que corremos em cair na completa prolixidade e irresponsabilidade com o saber historiográfico, pois não teria compromisso com o documento, com o trabalho científico e com o objeto, tornando-se um texto vulgar com a premissa descompromissada com a verdade. 
O historiador escritor tem compromisso com o documento, os testemunhos, a bibliografia, ou seja, sua responsabilidade pela coerência com o trabalho com as fontes. Deve ser elaborado um texto que seja sucinto e direto, policiando-se para que a imaginação não o atrapalhe. Não que a imaginação não seja importante, pois é a partir dela e da elucubração intelectual que descobrimos nossa vocação e identificação com um dado objeto. Contudo, temos de estar conscientes da seriedade do rigor científico. 
Uma probabilidade é de o historiador escritor se perder em vista do rigorismo científico que se eleva na historiografia atual. Nós, pesquisadores do social, devemos ter compromisso com nosso objeto científico ao escrever uma pesquisa, um trabalho, uma resenha, uma monografia. Devemos pensar em um público mais amplo, que não se restrinja apenas ao academicismo, mas também ao leitor comum. Nosso trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da ciência histórica na interpretação do mundo contemporâneo para que possamos refletir sobre nosso passado, presente e futuro que são temporalidades que se confluem mutuamente em um constante diálogo.
Aula: 11 
Temática: Iconografia: valores e usos 
A iconografia começou a ser usada pelos historiadores da arte e ganhou destaque em 1929, quando foi sistematizada por um grupo de estudiosos de Hamburgo que tinha como principal destaque Erwin Panofsky (1892-1945). Esse grupo formulou uma nova metodologia de interpretação iconográfica. Para eles as imagens não serviam simplesmente ou unicamente para serem observadas, mas, sobretudo, para serem “lidas”. Portanto, a iconografia seria a descrição, classificação e interpretação das imagens. 
Ao trabalhar com a iconografia como fonte de evidência histórica devemos considerar, principalmente, os riscos e perigos que esse tipo de objeto pode oferecer. Muitas vezes, são tratadas de forma reducionista em alguns trabalhos acadêmicos, utilizando a imagem como mera ilustração ou suporte estético sem nenhum comentário e análise mais apurada, legada, assim, a um papel secundário de ilustrar uma conclusão de que o autor chegou utilizando outro meio, deixando de suscitar e abordar questões mais pertinentes. 
Pretendemos demonstrar, no final dessa unidade, a importância da iconografia e como a imagem vem adquirindo espaço em diversos trabalhos acadêmicos, ou seja, seus usos e riscos. A iconografia como fonte histórica vem sendo muito trabalhada pela História Cultural, aferindo desse modo seu caráter de documento e testemunho histórico, contribuindo como instrumento da análise da cultura material, das mentalidades e do imaginário de uma determinada época. 
A iconografia não deve ser analisada como uma representação fidedigna da realidade, mas comparada a outros tipos de fontes – textos e testemunhos orais, por exemplo – afirmando, assim, sua veracidade e o objetivo de sua criação. Para o historiador inglês Peter Burke, a iconografia nos possibilitaria refletir, dediversas formas, sobre o passado e o seu reflexo no presente por meio dos seus indícios: 
[...] tomemos a história do corpo, por exemplo. Imagens constituem um guia para mudanças de idéias sobre doença e saúde são ainda mais importantes como evidência de padrões de beleza em mutação, ou da história da preocupação com a aparência tanto de homens quanto de mulheres. (BURKE, 2004, p. 11)
Para interpretar uma imagem – tanto pinturas, esculturas, fotografias, monumentos, etc – devemos ter a consciência de que elas são um produto de um determinado grupo social e possuem um objetivo determinado. Podem ser trabalhadas como testemunho de um dado tempo histórico. Por conta disso, temos de nos ater aos motivos intrínsecos, por exemplo, o objetivo e o que representaria os afrescos da Capela Sistina para a religião Católica em seu tempo e a importância que a iconografia tem para a arte nos dias de hoje ou, então, como seria a história do Egito Antigo sem os testemunhos dos desenhos e pinturas nos túmulos. 
Nesse sentido, devemos estar atentos ao fato de que as imagens nos mostram caminhos que muitas vezes nos levam a interpretações errôneas e que não condizem com a verdade. Por conta disso, devemos ter algumas precauções durante sua análise. Vale lembrar que esse objeto de pesquisa é tratado com preconceito e uma demasiada vulgarização por uma parcela de historiadores que procuraram desqualificar esse tipo de documento. Esse tipo de abordagem não condiz com as novas abordagens metodológicas de pesquisa que não se utilizam como mera ilustração, nem tão pouco como confirmação muda dos acontecimentos produzidos a partir de outras fontes, como simples indução estética em reforço ao corpo do texto. O seu uso deve refletir-se como documento de evidência histórica e de abrangência multidisciplinar, imputando toda uma gama de processos para sua interpretação e decodificação para não ser usada na construção de idéias e pensamentos inverossímeis. 
Em suma, a importância desse tipo de fonte será aprofundada nas próximas aulas. A iconografia se apresentará como instrumento do conhecimento e ensino histórico, ganhando destaque em diversos trabalhos acadêmicos e tornando-se um manancial profícuo para futuros pesquisadores.
Aula: 12 
Temática: Problemas e sugestões 
Nesta aula vamos ressaltar os riscos e os problemas ao trabalhar com esse tipo de fonte e o melhor modo de serem usadas na pesquisa e no ensino de História. Buscaremos explorar o potencial do documento iconográfico como ferramenta para a reconstrução histórica. 
A análise iconográfica nos fornece informações que podem ser verdadeiras ou falsas. É por isso que devemos lê-las ou interpretá-las de uma forma que ela nos revele seus valores e segredos. A relação do produtor (artista) e do receptor (público em geral) deve ser ampliada, ou seja, não ver as imagens em apenas um passar de olhos e ater-se a um simples questionamento estético. Elas têm o objetivo de remeter a um passado com um valor específico, saber por quais foram seus objetivos na sua realização e para qual público específico elas foram feitas. O historiador inglês Peter Burke nos dá um bom exemplo disso: 
É desnecessário dizer que o uso do testemunho de imagens levanta muitos problemas incômodos. Imagens são testemunhas mudas, e é difícil traduzir em palavras o seu testemunho. Elas podem ter sido criadas para comunicar uma mensagem própria, mas historiadores não raramente ignoram essa mensagem a fim de ler as pinturas nas “entrelinhas” e aprender algo que os artistas desconheciam estar ensinando. Há perigos evidentes nesse procedimento. Para utilizar a evidência de imagens de forma segura, e de modo eficaz, é necessário, como no caso de outros tipos de fonte, estar consciente das suas fragilidades. A “crítica da fonte” de documentos escritos há muito tempo tornou-se uma parte essencial da qualificação dos historiadores. Em comparação, a crítica de evidência visual permanece pouco desenvolvida, embora o testemunho de imagens, como o dos textos, suscite problemas de contexto, função retórica, recordação (se exercida pouco, ou muito, tempo depois do acontecimento), testemunho de segunda mão etc. Daí porque certas imagens oferecem mais evidências confiáveis do que outras (BURKE, 2004. p. 18) 
O historiador dispõe-se de uma variedade de imagens a serem pesquisadas e trabalhadas como é o caso dos monumentos, quadros, desenhos, esboços, fotografias, além das imagens em movimento do cinema, televisão e mais recentemente as imagens virtuais. Como a maioria dos documentos, elas possuem valores a serem explorados, pois não são possuidoras de verdades explícitas. Por conta disso, devemos interrogá-las de modo que expressem seus valores ulteriores. O objetivo da pesquisa com fontes visuais seria tratá-las como objetos detentores de valores, historicidade e de elevado interesse cognitivo. 
Muitas vezes, a imagem serve como instrumento ideológico perante a sociedade civil usada como suportes para exaltar pessoas, figuras e momentos históricos de determinados locais. Como se explica a exaltação de figuras, como a de Napoleão Bonaparte, sem as grandes dimensões dos quadros históricos utilizados inicialmente na Revolução Francesa produzidos durante seu império e exploradas até os dias de hoje? Ou, então, os quadros e monumentos que exaltam nossas figuras históricas, como no caso os bandeirantes, que estão espalhados por diversos museus brasileiros? 
Por meio dessas perspectivas, devemos analisar o papel da imagem no imaginário de um povo, imagens que muitas vezes não condizem com a veracidade histórica e tornam-se verdades cristalizadas no tempo. Essas imagens, utilizadas até os dias de hoje, continuam sendo encontradas ainda em muitos livros didáticos e usadas como apoio estético. 
A utilização das imagens em trabalhos acadêmicos ampliou-se nos últimos anos, tornando-se um campo profícuo para as ciências humanas. Nesse sentido, a imagem deve proporcionar uma leitura iluminadora, levar-nos a um compromisso e a um confronto. A iconografia apresenta um conjunto de novas possibilidades promissoras, uma nova área da interdisciplinaridade. 
No decorrer dessa unidade, iremos discutir as implicações e a disseminação do uso da imagem e as suas funções no mundo contemporâneo, seu valor, os diversos meios de produção e reprodução visual e outros temas de interesse e questionamentos que são trabalhados pela historiografia atual. 
Iremos focar nosso trabalho nas imagens como documentos históricos que foram produzidas por uma dada sociedade e que influenciaram, em sua construção, contribuindo, dessa forma, para a sua importância em uma interpretação consciente para análise histórica.
Aula: 13 
Temática: As imagens e o ensino de História 
A iconografia foi apresentada nas aulas anteriores como um grande manancial de possibilidades na interpretação e análise histórica. Demonstramos ainda os riscos e problemáticas que podem surgir em estudos superficiais e reducionistas. A partir desta aula iremos abordar as diversas variedades que a imagem proporciona em diversos trabalhos acadêmicos e no ensino da História. 
No ensino da História as imagens são recorrentes e têm presença constante em livros didáticos dos mais variados. São usadas pinturas e desenhos como representações de determinadas épocas, como uma imagem de uma cidade européia do século XVI e acontecimentos históricos. A imagem é usada muitas vezes como instrumento pedagógico perante a população, pois possui uma transmissão rápida e eficaz. Contribui ainda para isso seu alto poder evocativo. 
Não podemos esquecer de que em muitos livros didáticos que são utilizados ainda hoje não há uma reflexão histórica. As imagens são vislumbradas como testemunhas verossímeis de um dado momento histórico como se fosse uma janela atemporal a qual podemos aferir a uma narrativa visual verdadeira. Como exemplo temos alguns quadros históricos como “Primeira missa do Brasil” e “Independência ou morte”. 
Contudo, devemos sempre lembrar de que existe a necessidade deuma reflexão histórica; não esqueçamos de que os documentos – nesse caso as imagens – são fontes que devem ser questionadas e analisadas em seus pormenores, já que não são constituídas de verdades absolutas. Desse modo, podem ser usadas pelo historiador para desmistificar narrativas visuais construídas e cristalizadas na História sendo um campo fecundo a ser explorado. 
Um exemplo da utilização ideológica que é utilizada ainda em alguns livros didáticos é a vasta produção iconográfica feita em São Paulo no início do século XX que pretendia narrar uma História do Brasil tendo São Paulo como o maior empreendedor da unidade nacional, devido, principalmente, ao pioneirismo dos bandeirantes. Essa narrativa imagética pode ser encontrada em vários monumentos em diversas cidades do interior do estado e no vasto acervo de pinturas que se encontram no Museu Paulista.
Muitas imagens são produzidas com o objetivo de narrar a história dos vencedores, privilegiando um determinado segmento social – no caso a elite paulista – e outros setores são colocados às margens dos acontecimentos – como a presença negra e indígena. Tal história é excludente e transmitida de forma harmoniosa sem a existência de conflitos. A imagem histórica muitas vezes atende à necessidade de materializar apenas a memória dos grandes eventos. 
Nos dias de hoje, podemos utilizar diversos meios de comunicação para disponibilizarmos materiais iconográficos (livros, vídeos, slides, internet), auxiliando, dessa maneira, a transpor certas dificuldades como distância e disponibilidade das fontes, podendo, assim, ser útil no trabalho de transmissão de conhecimento e na pesquisa histórica. Todavia, devemos levar em consideração que, ao ir a museus, centros de documentação e exposições particulares é sem dúvida nenhuma mais produtivo para o espectador/receptor, pois nenhum veículo de comunicação pode transmitir a sensação de estar em frente a obra original. O sentimento de analisar diretamente um quadro histórico de grandes dimensões em um museu é muito diferente de vê-lo retratado na parte inferior de um livro. 
Podemos usar no ensino de História várias experiências e referências como exemplo para fazer uma análise de como a imagem está presente em nossa sociedade, em nossa mentalidade e em no nosso passado. Para isso, basta analisarmos a arquitetura local/regional e que período ela representa; o significado de alguns monumentos e qual o objetivo de sua representação; além, é claro, das imagens que estão presentes em nosso repertório cultural. 
O ensino utilizando as imagens é de grande valia quando usada corretamente, pois amplia o censo crítico e reflexões acerca do documento devem ser utilizados em contextos mais amplos, de modo que possam estimular questões pertinentes e não usá-las apenas como reforço estético acerca de algumas conclusões. 
Algumas questões pertinentes devem ser feitas como: quem as produziu? A que público ela é direcionada? Qual o contexto histórico que elas pertencem? As influências artísticas? Qual o tipo de arte ela expressa? Segue alguma linha ideológica? Quais seus valores simbólicos? Entre outras possibilidades.
Resumo - Unidade I 
Por meio desta unidade buscamos ampliar o saber cientí- fico e a criticidade dos alunos, de modo que você venha a ter contato com as novas possibilidades do conhecimento e com debates histórico-contemporâneos. Nós nos propusemos a demonstrar, de modo simplificado, as tendências teórico-metodológicas da chamada “Nova História”, um campo que vem ampliando e vislumbrando uma nova gama de tendências do fazer e do conceber o saber historiográfico. 
Indicações de Leitura 
TETART, Philippe. Pequena História dos historiadores. São Paulo: EDUSC, 2000. 
BURKE. Peter. Variedades de História Cultural. Trad. Aldo Porto. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. 
BURKE, Peter. A escola dos Annales: a revolução francesa da historiografia. São Paulo: Editora Unesp, 1990. 
Referências Bibliográficas 
BURKE, Peter. Testemunha Ocular: história e imagem. Bauru: Editora EDUSC, 2004. 
BURKE, Peter. Variedades de História Cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
 DUBY, Georges. A História Continua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. 
FURET, François. A oficina da História. Lisboa: Grandiva, [s.d.]. 
GINZBURG, Carlo. A micro-história e outros ensaios. Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1991. 
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
Glossário 
Epistemologia: Estudo da ciência, de seus métodos e princípios à luz de um enfoque científico e filosófico. Reflexão sobre o valor da ciência. 
Dialética: Arte da discussão e da argumentação que visa sintetizar progressivamente teses e antíteses num único discurso. 
Hermenêutica: Arte de interpretar os textos sacros e antigos. Em filosofia, teoria da interpretação dos signos como elementos simbólicos de uma cultura. 
Historicidade: Caráter do que é histórico. 
Historicizante: Que considera a história como uma disciplina que se limita ao estudo dos acontecimentos e de seus encadeamentos. 
Positivismo: Enfoque filosófico ou científico que reduz o conhecimento do universo unicamente aos fenômenos estudados mediante a experiência.
Aula: 14 
Temática: Imagem e Cultura Material 
Continuando as aulas sobre o valor das imagens em trabalhos historiográficos, vamos demonstrar a grande valia que elas têm na análise da cultura material de um dado período e como podem auxiliar na reflexão de um processo cognitivo. A cultura material nada mais é do que o conjunto de objetos (tecidos, utensílios, ferramentas, artes, tecnologias, adornos, meios de transporte, moradias, armas, indumentária etc) de um dado momento histórico e do seu conjunto social. 
Por meio de determinadas imagens já há possibilidade de aferir acerca da reconstrução da cultura cotidiana de pessoas, formas de habitação e arquitetura, a vida privada, produtos artesanais e diferentes modos de vida. Um exemplo que podemos utilizar são os diversos desenhos, aquarelas e esboços do artista francês Jean Baptiste Debret durante o século XIX. São obras que demonstram a vida urbana e privada do Rio de Janeiro e outros locais do país como ambulantes nas ruas, objetos, interiores de casas, castigos corporais a escravos, celebrações etc. 
A construção iconográfica produzida pelos viajantes constitui um novo campo de estudo que vem se ampliando dentro da disciplina histórica. Suas obras criaram representações de códigos de vestimentas, do cotidiano, da etnografia e paisagens de ambientes totalmente alheios ao seu. Nesse sentido, gostaria de salientar a importância de trabalhos que analisam a produção iconográfica feita por viajantes estrangeiros no Brasil no século XIX, pois têm trazido importantes contribuições para a historiografia atual. 
Uma grande vantagem que o testemunho das imagens possibilita é a sua rápida comunicação. Por meio delas podemos ter subsídios para analisar processos de produção de alguns produtos e a tecnologia empregada como moinhos e aparelhos utilizados na produção de açúcar, plantas arquitetônicas, meios de transporte e uma vasta produção artesanal. Desse modo, por meio do exame dessas fontes podemos, muitas vezes, contemplar a evolução tecnológica de determinados produtos que estão presentes ainda nos dias de hoje. 
A paisagem das cidades aparece como outra possibilidade de estudo, pois vai dar pistas importantes sobre sua aparência, arquitetura (que muitas vezes não existem mais), a geografia de determinadas regiões e seu desenvolvimento e crescimento urbano. A citação seguinte sintetiza muito bem a importância e a melhor forma de explorar todo o potencial imagético: 
No caso de vistas externas de cidade, os detalhes de determinadas imagens algumas vezes possuem especial valor como evidência. A velha cidade de Varsóvia, literalmente arrasada em 1944, foi reconstruída após a Segunda Guerra Mundial com base no testemunho de materiais impressos e também de pinturas de Bernardo Belloto. Historiadores da arquitetura fazemuso regular de imagens a fim de reconstruir a aparência de prédios antes de sua demolição, ampliação ou restauração: a velha catedral de São Paulo em Londres (antes de 1665), a antiga prefeitura em Amsterdã (antes de 1668) etc. (BURKE, 2004, p. 104) 
No Brasil, um exemplo que podemos citar é o caso do pintor paulista José Wasth Rodrigues (1891-1957), que foi considerado um renomado documentarista, principalmente por usar em suas obras uma temática que representava construções, igrejas e a arquitetura colonial. 
Como alertado nas primeiras aulas, o uso de imagens como testemunho histórico pode ter alguns riscos. Muitos artistas podem usar e recorrer a alguns “truques” visuais, adaptações arquitetônicas. As cidades podem ter sido embelezadas esteticamente ou simplesmente limpas, pintores retratistas poderiam usar-se de certas técnicas para melhor apresentar seus modelos. É como hoje em dia utilizamos a tecnologia do computador para fazer esse tipo de trabalho. Podemos utilizar como base para nossas interpretações o seguinte conselho: 
Como se poderia esperar, o emprego das imagens como evidência dessa forma não deixa de ter seus perigos. Pintores e tipógrafos não trabalhavam tendo em mente futuros historiadores e o que os interessava, e a seus clientes, podia não ser a exata representação de rua de uma cidade. (BURKE, 2004, p. 105) 
Ao se fazer as reconstituições históricas utilizando as imagens devemos usar a interação com outros tipos de fontes para que possamos chegar a um resultado mais aprazível. Podemos utilizar, para isso inventários, testamentos, materiais impressos e narrativas textuais. Com isso, podemos ter maior confiança em estudos que trabalhem com arquitetura de edifica- ções, interiores domésticos, indumentária de épocas, vistas de cidades, ritos religiosos e mentalidades.
A reconstituição da cultura material não é um terreno apenas dos estudiosos da História é também um campo que vem sendo trabalhado há muito tempo pelos arqueólogos, mas também pelos antropólogos, etnógrafos, arquitetos, estudiosos da arte, sociólogos e publicitários. 
Para nós historiadores a utilização de imagens na análise da cultura material vem ampliando nos últimos anos, não apenas em reconstituições de períodos distantes, mas também sobre nossa contemporaneidade. Dessa forma, está posto um novo caminho a ser explorado para os estudiosos das ciências humanas.
Aula: 15 
Temática: A imagem do outro: a busca do novo e do exótico 
Durante o século XIX o Brasil recebeu um grande número de viajantes estrangeiros, muito deles pintores. Estes artistas produziram muitas representações a respeito do país. Por meio de suas imagens podemos analisar seus olhares a respeito da cultura material, da sociedade escravocrata, os códigos de vestimentas, o cotidiano e o social. A vinda da corte portuguesa e a abertura dos portos brasileiros às nações amigas em 1808 possibilitaram a entrada desses viajantes. Muitos participaram e realizaram expedições científicas pelo país, pois tinham como objetivo explorar e conhecer as suas especificidades. A partir de uma visão intelectual reflexiva que se anunciava desde o século XVI, com prolongamento no século XIX, tais artistas engendraram uma cultura simultaneamente artística e científica. 
Esses viajantes analisaram e aferiram sobre ambientes e culturas diferentes das suas, criaram e constituíram conceitos a respeito de suas visões de mundo, auto-imagens, estereótipos étnicos, sociais e geográficos, de ambientes alheios aos seus. O Brasil foi o destino de vários viajantes e de expedições de cunho científico, suscitando uma espécie de redescoberta e revisionismo do Brasil pelos viajantes. 
Alguns compunham suas obras usando um olhar preconceituoso e estereotipado, principalmente com relação às populações nativas. Segundo suas análises impetradas, elas viveriam em um certo atraso e barbárie com relação a eles, uma vez que resistiam ao trabalho disciplinado e à noção de um tempo linear postulado pela concepção capitalista. Disso resultaria a necessidade de disciplinar e conduzir essas populações a um nível mais civilizado, ou seja, conforme os padrões europeus. O tempo cíclico e irregular das classes subalternas deveria ser substituído pelo tempo linear, abstrato e contabilizável, passando a relacionar a obtenção do seu sustento ao duro e continuado esforço do labor. 
A busca pelo conhecimento científico 
Em suas análises diversos viajantes utilizaram de uma antropologia crítica que procurava adaptar o sistema classificatório das ciências naturais à análise etnográfica. Esses olhares e estereótipos eram pautados na desqualificação e homogeneização de populações nativas, principalmente a sua história e cultura. 
Muitos viajantes produziram representações visuais externando, muitas vezes, uma crítica reducionista acerca das populações locais, associando definitivamente o novo ao exótico. As imagens produzidas sugerem que alguns artistas utilizaram em suas representações adaptações, estereótipos mentais e clichês apropriados em suas criações. 
A construção iconográfica produzida por esses viajantes constitui um novo campo de estudo que vem se ampliando dentro da disciplina histórica. Suas obras criaram representações de códigos de vestimentas, da cultura material, do cotidiano, da etnografia e paisagens de ambientes totalmente alheios ao seu. Nesse sentido, temos que salientar a importância de trabalhos que analisam a produção pictórica por viajantes estrangeiros no Brasil no século XIX. Como exemplo podemos citar alguns artistas viajantes que produziram diversas obras relacionadas ao país como Debret, Thomas Ender, Hercules Florence, Nicolas Taunay, etc. 
Formas de Análise 
As representações visuais dos viajantes que dizem respeito ao pitoresco vão situar parâmetros distintos que se entrelaçam como, por exemplo, uma visualidade que se relaciona com o conhecimento científico e outra que misturam com a arte e a beleza natural. Uma das possíveis formas que podemos analisar são as motivações pictóricas desses artistas utilizando para isso uma “hermenêutica visual”, ou seja, uma interpretação que revele os códigos mentais e visuais que o artista inseriu em sua obra. 
A paisagem brasileira evocou em diversos artistas estrangeiros motivos imaginários em suas obras como o arcaico, o paradisíaco e o exótico. Esses valores sempre aparecem em descrições da paisagem tropical acompanhando a linha do academicismo francês que era ponto de referência na época. Não podemos analisar as obras desses artistas como se houvesse uma relação passiva entre eles e as paisagens, pois existe sempre um objetivo intrínseco em sua produção. 
A imagem não deve ser analisada como registro fiel da realidade, pois o artista observou mais do que foi transmitido por ele na sua representação. Contudo, ao sabermos decifrar os códigos das imagens não nos transmitirão informações falsas e, nesse sentido, podemos utilizar para isso outros tipos de fontes como relatórios, testemunhos orais, documentos textuais e análises contemporâneas.
Construções visuais feitas no Brasil devem ser examinadas com certa cautela, pois estes homens procuraram por meio de seu olhar o exótico e o inusitado, ou seja, aquilo que desconheciam. O trabalho com imagens desse tipo requer os mesmos cuidados que tem que se ter com outros tipos de fontes. É muito importante lembrarmos que é necessário decodificar o discurso presente nas representações desconsiderando-se a possibilidade de tomá-las como retratos fiéis da realidade. 
A iconografia surge como uma fonte de análise histórica de determinadas temporalidades distintas dialogando com descrições textuais tratando, desse modo, a imagem como ferramenta importante no ofício do historiador que tem que abarcar todo seu potencial de testemunho e instrumento de manipulação ideológica como parte integrante de um determinado tempo e reflexo de uma sociedade que a construiu. 
Parece-nos oportuno ressaltar a importância que a imagem se apresenta em seus diversos campos culturais, as possibilidadesque elas revelam por meio da análise dos motivos intrínsecos na sua criação e nas informações que procuram transmitir. Tal veículo que interage com o campo social da sua época, mas que também ressoam e influenciam outras gerações.
Aula: 16 
Temática: A fotografia e o seu testemunho 
Com o surgimento da fotografia no século XIX esse novo meio de comunicação visual vem sendo usado como um instrumento no auxílio do estudo da História, principalmente a social, por diversos pesquisadores contemporâneos em diversos trabalhos acadêmicos. O testemunho fotográfico nos dias de hoje vem sendo por outros veículos de informação como jornais, revistas e televisão, por exemplo, e seu conteúdo amplamente difundido. 
As fotografias são um produto de um dado momento histórico. Na sua criação, elas têm como objetivo uma função específica, ou seja, lembrar, comemorar, exaltar, comunicar ou até mesmo forjar um falso testemunho. Elas, como objetos detentores de uma historicidade própria, possuem uma carga de informação a ser decodificada, compreendendo, assim, a proposta inerente em sua criação. Qual a transmissão visual que pretendeu o seu produtor (fotógrafo), na constituição de um produto (fotografia) para ser transmitidas a um (ns) receptor (es)? Tais questões podem ser muitas vezes solucionadas em uma análise mais profunda do objeto, isto é, o contexto histórico, quem foi o fotógrafo, a que público foi direcionada a imagem, ou seja, tratá-la como a maioria das fontes em um sentido mais amplo. 
O suporte fotográfico tem a função de transmitir uma informação. Ela detém um vestígio do real, permitindo, assim, uma construção de discursos que podem estar explícitos, ou não, legitimando e valorizando dessa forma o importante trabalho de um intermediário, no caso do fotógrafo, que expõe uma expressão de realidade. No caso do pesquisador - que é um dos papéis do historiador - sua função seria trazer à tona a narrativa construída e os valores ocultos no registro visual. Por meio do recorte temporal, o fotógrafo demonstra seu olhar em meio de muitas possibilidades de registro, optando por uma categoria específica. Nesse sentido, devemos nos ater que fotografar nunca é um ato neutro do produtor, ou seja, existe sempre um objetivo intrínseco na sua realização. A fotografia nada mais é que um resultado cultural e estético construído pelo fotógrafo na sua elaboração visual que pode muitas vezes utilizar-se de meios que explicitem em seus produtos determinados tipos de emoções ou dramas. 
O suporte fotográfico carrega consigo uma carga de informações que vai desde a ação do fotógrafo até o público que se busca atingir. Por conta disso, devemos sempre avaliar os verdadeiros valores que estão envoltos nessa transmissão. As imagens e as narrativas nos revelam um determinado tempo histórico que, assim como os documentos escritos, devem-se aprender as “chaves de leitura” para um maior entendimento. Para isso, devemos levantar algumas questões: o que está sendo representado? Como foi aceita a sua produção pelos vários receptores? Todavia, cada receptor tem uma interpretação diferente e singular do outro, ou seja, nesse caso devemos analisar as aproximações em suas análises. 
Trabalhando com a fotografia como fonte de evidência histórica, deve-se, primeiramente, questioná-la de forma que nos revele seus valores intrínsecos no momento da sua criação. Uma dica é confrontar com outros tipos de fontes como orais, escritas, documentos administrativos e privados, buscando, assim, extrair contribuições valorosas que esse tipo de objeto pode transmitir na análise e na interpretação histórica. 
A fotografia tem sido muito útil de várias maneiras, principalmente nos trabalhos relacionados com a arquitetura, com crescimento urbano, padrões estéticos, cultura material, exaltação ideológica, registro de personagens ilustres etc. Um dos grandes valores atribuídos à imagem fotográfica é o seu valor testemunhal, principalmente relacionados a eventos e situações como no caso das guerras, conflitos, migrações, abandono social, pobreza, fome, revoluções etc. Desse modo, a imagem enquadrada pela câmera se torna uma espécie de “memória viva”, um momento congelado no tempo aonde podemos refletir, apesar de um certo distanciamento sobre nosso passado e futuro. 
Para termos como referencial, podemos citar alguns fotógrafos famosos brasileiros e como seus trabalhos contribuíram e contribuem muito para a análise e interpretação histórica como Militão Augusto de Azevedo, que atuou na capital paulista na segunda metade do século XIX; Marc Ferrez, que registrou principalmente vários pontos do Rio de Janeiro no final do Segundo Império e início da Primeira República; e, já na nossa contemporaneidade, as fotografias produzidas por Sebastião Salgado. 
Com o aumento da procura por parte de diversos pesquisadores ligados às ciências humanas a fotografia vem ganhando destaque no meio acadêmico, contribuindo assim, para um maior investimento na organização, restauração, aquisição e disponibilização para a pesquisa com a organização de banco de dados em diversas instituições públicas e privadas.
Devemos ter atenção para o seguinte fator: a fidelidade que é imposta à fotografia permitiu, e permite, que ela seja manipulada. Tal manipulação, principalmente nos dias de hoje, pode ser feita com o auxílio da tecnologia cada vez mais avançada. Citando o impacto das imagens dos flagelados da seca no Nordeste que perduram e se renovam há mais de um século nos recai uma outra problemática: o perigo de sermos entretidos ou nos acostumarmos com a disseminação das imagens desta população carente, como é o caso também da violência exposta pela TV explorada nos dias de hoje. Dessa forma, constrói-se uma “hiper-realidade” que vem sendo produzida pelos veículos de comunicação e consumida por uma parcela da sociedade sem uma discussão crítica sobre o assunto.
Aula: 17 
Temática: A Propaganda na análise histórica 
Diante das diversas formas de expressão visual a propaganda se apresenta como umas das muitas possibilidades de análise de alguns períodos históricos. Por serem produtos de expressão de um dado tempo, além de serem registros de uma memó- ria social que emanam valores a serem transmitidos, são produtos de uma prática social eminentemente urbana que têm como produtores profissionais ligados à cultura letrada e intelectual. 
A propaganda surge na Europa no final do século XVIII em um periódico alemão que usou imagens para vender seus produtos. No Brasil surgiu nos primeiros jornais em 1808 com a chegada da Corte portuguesa na então colônia. Os primeiros anúncios publicados nos jornais da época davam conta, principalmente, da venda de imóveis, de livros, assuntos ligados ao comércio e o relato da fuga de escravos. Logo após a Proclamação da Independência, em 1822, surgiram novos jornais e conseqüentemente o impulso ao aumento da publicidade na capital do Império. Serviam para anúncios de profissionais liberais (advogados, lojistas, cabeleireiros etc.), negócios de compra e venda, funcionamento de leilões, roubos, viagens, entre muitas outras possibilidades. Como a imagem detém uma maior rapidez na transmissão de informações ela dialoga com a narrativa textual de um modo que atrai a um grande número de consumidores de seus produtos e pode também externar idéias e propostas ideológicas. 
Com o aumento do número de periódicos que surgiram, a propaganda vai cada vez mais ganhando impulso na imprensa nacional, tornando-se um veículo de visões sociais e políticas de muitos artistas no final do século XIX. Durante a crise da monarquia no Segundo Império, Dom Pedro II foi duramente criticado pela imprensa da época. Contribuiu para isso um grande número de charges que debochavam do então imperador. No início da República, o então presidente Prudente de Moraes também era constantemente atacado em tiras e charges da época. Desse modo, podemos perceber que a narrativa literária, e também a visual, servia como um espaço para disseminar conceitos e valores para o seupúblico consumidor. 
A ajuda da narrativa escrita contribuiu de forma importante para o crescimento da propaganda no país. Muitos literatos contribuíram para a publicidade de diversos produtos utilizando frases de efeito, poemas e retóricas contundentes. Essas duas formas de transmitir informações (visual e textual) foram responsáveis pelo aumento do consumo de diversos produtos, além de expressar suas idéias e criar um censo crítico comum perante a população. No início do século XX, a publicidade passou por grandes transformações, devido ao desenvolvimento tecnológico e o aumento da industrialização no país surgindo, assim, diversas gráficas, novos jornais e revistas. 
No Brasil, em 1930, iniciava-se o uso da publicidade na propaganda polí- tica, como foi o caso de Júlio Prestes, e, posteriormente, Getúlio Vargas. A propaganda no âmbito político foi responsável pelo crescimento e surgimento dos mais terríveis regimes totalitários como é o caso dos regimes nazistas e fascistas. Tanto Mussolini quanto Hitler utilizaram em larga escala a propaganda para angariar seguidores e, mais tarde, assumirem o poder de forma ditatorial, organizando dentro da esfera política órgãos de controle e censura da publicidade durante os seus regimes. Com o golpe do Estado Novo no Brasil Getúlio copiou a forma fascista para controlar e se beneficiar da publicidade para legitimar seu governo para a população. A criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) foi o meio de submeter os meios de comunicação à censura de forma autoritária. 
A imagem política durante todo o século XX, produzida pela publicidade estatal, foi responsável pela sustentação de vá- rios regimes, principalmente pela criação do culto à personalidade, como foram os casos de Mussolini, Hitler, Stalin, Mao Tse-Tung, Sadan Hussein e outros ditadores. No Brasil temos o caso de Getúlio Vargas e mais recentemente a do regime militar no Brasil. Desse modo, a publicidade surge como um veículo ideológico de regimes e formas políticas. 
Outro modo de expansão da publicidade foi por meio das campanhas publicitárias criadas por profissionais especializados que tinham como apoio a psicologia e as mensagens subliminares envoltas em seus produtos: eletrodomésticos, roupas, carros, cigarros, medicamentos, produtos de beleza etc. Tomemos as palavras de um estudioso do tema: 
Entretanto, foi no século 20, que os publicitários voltaram-se para a psicologia “profunda” a fim de apelar ao inconsciente dos consumidores, fazendo uso das chamadas técnicas “subliminares” de persuasão por associação. Na década de 1950, por exemplo, flashes de duração de segundos de publicidade de sorvete eram mostrados durante a apresentação de filmes nos Estados Unidos. A platéia não se dava conta de que havia visto essas imagens, mas, apesar disso, o consumo de sorvete aumentava. (BURKE, 2004, p. 116)
Por meio da pesquisa e análise da publicidade como um dos muitos campos de trabalho do historiador, podemos remontar formas de pensar e se expressar de períodos distintos. Temos de refletir sobre como somos atingidos nos dias de hoje pela publicidade em nossas vidas. Elas influenciam o modo de pensar, vestir, agir e consumir determinados produtos. No campo político é imprescindível um profissional desta área para alavancar e impulsionar campanhas. Devemos ter em mente que esse novo campo de estudo tem trazido contribuições valiosas em estudos contemporâneos principalmente sobre construções ideológicas e ufanistas.
Aula: 18 
Temática: A imagem como memória 
Um monumento tem sua construção ligada a um determinado grupo social, isto é, tem como principal função lembrar, evocar, exaltar e legitimar certos momentos, períodos ou personagens históricos, devendo ser entendido como uma espécie de narrativa. Para compreender seu conteúdo e as informações a serem transmitidas devemos ter um compromisso, interpretá-lo como um texto que traz consigo vários significados que dependem da interpretação dos receptores para o qual ele foi criado. A imagem edificada serve como um lembrete e aviso, uma espécie de mecanismo que nos remete a um momento em que temos de refletir e pensar, o objetivo da sua existência. 
Existem monumentos que abordam vários temas como momentos de consagração de uma sociedade, personagens, revoluções, marcos de fundação, a morte, cultura popular, religião e como lembrança de períodos trágicos que devem ser lembrados para refletirmos sobre um momento a não ser repetido. Como se estivessem sempre ali para nos alertar e constantemente recordar em nossa memória de forma automática como no caso do Holocausto e das vítimas de Hiroshima e Nagasaki. 
O monumento de fato desperta nossa emoção, registra um momento medonho em um tempo de horror implacável e é feito para honrar as vítimas. Mas nem começa a tocar no horror da deportação de determinado indivíduo. Nada pode fazê-lo. Aquele horror não pode, em toda sua magnitude, ser “lido”. O acontecimento em si é seu próprio monumento. (MANGUEL, 2004, p. 277) 
A construção da memória do mal levanta várias questões. Por que essa construção e qual o motivo de erguer um monumento para lembrá-la? A representação de um momento terrível e nefasto serve muitas vezes para assumirmos nossos erros para que não venham a se repetir, uma forma também de homenagear suas vítimas e isentá-las de culpas e elegendo seus verdadeiros culpados. 
A função de um monumento é o de evocar um passado, voluntária ou involuntariamente, das sociedades históricas, perpetuando, assim, sua recordação. O monumento possui dois sentidos distintos: o de uma obra comemorativa de arquitetura ou de escultura, por exemplo, o arco do triunfo, coluna, troféu, pórtico etc.; e o de um monumento funerário destinado a perpetuar a recordação de uma pessoa no domínio em que a memória é particularmente valorizada. 
Seguindo esse raciocínio, o monumento poderá ser analisado como documento, pois é um produto de uma determinada sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder. Somente identificando o monumento como documento poder-se-á elucidar questões que arrolam perante os verdadeiros motivos da sua criação “permitindo à memória coletiva recuperá-lo e ao historiador usá-lo cientificamente, isto é, com pleno conhecimento de causa” (LE GOFF, 1996, p. 545). 
Podemos pensar que é um processo de socialização em que indivíduos aceitam uma série de valores interiorizando-os como sendo seus. Desta maneira, parte-se para a análise do modo como a iconografia monçoeira se insere no período citado, constatando suas apropriações e utilizações dentro de um contexto mais amplo. 
O trabalho do historiador é o de refutar e aferir o documento/monumento e entender o esforço das diversas sociedades históricas em impor um futuro, de forma voluntária ou involuntária de si própria, utilizando e aferindo de forma correta os mais diversificados tipos de fontes, afastando-se de simplificações e análises superficiais. 
A proposta fundamental de um monumento ou da escultura é o de se constituir como produto que evoca o passado e conduz a uma determinada leitura histórica, construindo ligações entre diferentes espaços temporais de forma que leve a uma identificação com um passado histórico de forma consciente ou inconscientemente. 
O monumento tem sua função inerente à memória, agindo sobre um coletivo social de forma que este se identifique com sua história por laços de afetividade e identidade olhando e recordando o passado, e, muitas vezes, apegando-se a alegorias visuais criadas no presente que nos remete ao passado longínquo. 
O passado trazido à tona pelo monumento é privilegiado, ou seja, é um passado localizado e selecionado que tem fins vitais, contribui dessa forma para manter e preservar a identidade de uma comunidade. Tal processo muitas vezes vai ocorrer como forma de afirmar uma nova identidade impetrada por um determinado grupo, a fim de conseguir incrustar pressupostos culturais em um coletivo social de modo que possa atender seus objetivos.
Resumo

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