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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS IV LICENCIATURA EM HISTÓRIA – HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDIGENA; 2º PERIODO. Hortência Lima Silva1 Lei 11645/08 Resultante dos movimentos sociais da década de 70 e dos Esforços de causas negras da década de 80, quando o déficit de alunos negros chamou a atenção de alguns pesquisadores, em razão da falta de representatividade de temáticas Afrocêntricas, surge a lei 10639/03 modificando a lei 9394/96 para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira , alguns anos mais tarde a lei foi novamente alterada para a lei 11645/08, que agrega a “História E Cultura Indígena” ao currículo. A historiografia tradicional no tocante a colonização retrata uma imagem destorcido de negros e índios. Os índios, chamados também de gentios, bárbaros, selvagens, negros da terra, e uma gama de expressões ofensivas, foram considerados durante o período colonial e imperial, homens de intelecto atrasado e inferior, sem fé, sem rei e sem lei. Povos que viviam da barbárie, brigando um com os outros, e até mesmo devorando uns aos outros. Como já se sabe, em meio a esta visão decadente e bárbara, os indígenas, foram escravizados, perseguidos, raptados, massacrados, convertidos, tanto em seus hábitos, costumes, línguas e religiões. Infelizmente esse pensamento discriminatório vem se perpetuando até a atualidade. Mesmo diante de uma intensa miscigenação entre europeus, africanos e indígenas e uma série de mudanças sociais, ainda há, de forma velada e evidente, a propagação do padrão europeu/eurocêntrico, que historicamente é considerado/construído como superior aos indígenas e afrodescendentes, a serem alvos de preconceitos e discriminação. 1 Discente do curso de História, Universidade do Estado da Bahia. Infelizmente o racismo e o preconceito estão presentes no nosso cotidiano e, é objetivando sanar/amenizar este problema, diminuir as ideias preconceituosas e estereotipadas em relação as comunidades indígenas e aos afro-brasileiros no ambiente escolar que a lei foi criada. É importante ressaltar que ela apresenta a necessidade de uma construção da história étnica de nosso povo destacando a variedade dos povos e as ações culturais existentes que a influenciou. Assim sendo, as escolas deverão introduzir em seus currículos, os conhecimentos, saberes, modos de vida e organização social dos povos indígenas e dos afro-brasileiros, desse modo, sendo capazes de educar cidadãos conscientes de suas origens étnico-racial. A Lei Federal nº 11.645/2008 trata/aborda a obrigatoriedade de implantar na Educação Básica brasileira esses conteúdos visando à valorização do patrimônio histórico cultural afro-brasileiro e dos povos indígena, com a inserção de uma educação comprometida com a eliminação da discriminação étnico-racial nas escolas e com a transformação, com protagonismo do negro e do índio na construção historiográfica do Brasil. A lei propõe um olhar de divulgação e valorização sobre as culturas indígenas e africanas. Buscando reconstruir nos educadores e educandos uma imagem positiva sobre esses povos. A lei traz o seguinte texto: Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)2 Atualmente o índio ainda é, para muitos, considerado um ser mitológico. Não é considerado um cidadão, tendo sua cultura ignorada e imagem de pessoas que andam nuas, vivem em ocas e que não são “civilizados”. Esse conceito é constantemente reafirmado pela escola quando em datas comemorativas, como Dia Do Índio - e Consciência Negra – os alunos são instruídos a se fantasiarem de índios ou personagens que remetam a esse perfil distorcido do mesmo. Isso é consequência de uma historiografia baseada no padrão eurocêntrico de civilização, na qual os livros didáticos retratam os europeus como seres superiores aos quais as demais raças – que por eles foram colonizadas - deviam submissão e essa imagem deturpada de negros e índios. “A centralização das aulas no livro didático é outro dos problemas constatados, já que considerando que o livro didático é material principal de apoio utilizado pelos professores. Nos livros a abordagem da figura do negro e do índio acontecem de forma pejorativa, quando não são invisibilizados, tanto de forma verbal quanto nãoverbal” (SÁ, 2010, p.16-17). Embora teoricamente a lei seja uma “coisa linda de se ler”, na pratica não é esse mar de rosas. Sua implementação caminha a passos lentos, posto as dificuldades em cumpri-la. A falta de estrutura é um dos fatores. Ainda não há – um número considerável - de trabalhos interdisciplinares que abordem essa questão, as questões raciais ainda são consideradas à parte do currículo e são abordadas apenas em datas específicas. A falta de tempo para discussão e elaboração de projetos que abordem o tema; falta de capacitação dos docentes em virtude do pouco tempo em que a lei entrou em vigor e a defasagem na grade curricular do curso de licenciatura em história também são razões e empecilhos no cumprimento da lei. Vale ressaltar também, a falta de interesse por parte do corpo docente e a pouca relevância que muitos profissionais dessa e de outras áreas do ensino dão a temática. Além da escassez de materiais que aborde o assunto e a pouca divulgação e incentivo por parte do estado. “Um dos grandes problemas em trabalhar com essa e outras temáticas dentro das aulas de história é que muitas vezes no currículo da disciplina predomina principalmente uma gama de conteúdos eurocêntricos. Outro fator que 2 Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República. dificulta o trabalho com esse tema é que há, por parte de alguns professores, um desconhecimento da cultura indígena.” (ALMEIDA,2010, p. 50)3 Embora após a promulgação tenha sido lançado cursos de aperfeiçoamento e reciclagem em torno disso, lamentavelmente muitos profissionais não buscam estar atualizados. Desde a elaboração da Lei 10.639/03, houve uma serie de ofertas de cursos de aperfeiçoamento e de especialização a respeito da História da África e da cultura afro-brasileira nos mais diversos estados brasileiros. No entanto, ainda não foram mapeados os resultados obtidos por estas experiências, principalmente o impacto sobre os egressos (AMÂNCIO; GOMES, 2008, p.20). A implementação da lei é um processo moroso- no tocante a atualização de materiais -. Infelizmente os educadores contam com livros didáticos ainda muito carentes desses conteúdos. A expectativa era se trabalhar com livros didáticos que abordassem a temática de forma positiva e verídica, dando destaque a pluralidade cultural e valorizando a história e luta desses povos, mas o que ocorre é que mesmo tendo se passado uma década após a Lei 10.639/03 entrar em vigor e quatro anos depois da instituição da Lei 11.645/08, pouco progresso é constatado em relação à coletânea de textos presente nos livros didáticos que privilegiem tais temáticas. Desse modo, embora houvesse, mesmo que escassamente, a referência às temáticas da história e cultura dos negros e dos índios, esta ocorreu de maneira superficial, havendo a predominância das abordagens de estereotipagem e tergiversação. Não se pode negar que houve um avanço – mesmo que a passos lentos - com a lei 11.645/08 abrindo um leque de possibilidades na história nacional ensinada nas escolas, de ser reescrita e nela ser incluído e dar destaque ao protagonismo das populações indígenas e afros na construção de nossos antepassados e de nossa realidade atual. A lei, no entanto, não é garantia de que esse ensino realmente irá acontecer e que o professor terá o suporte necessários para informar aos seus alunos os conhecimentos sobre a História e Cultura Indígena. Com bases fundamentadas sobre os direitos e deveres da oferta da disciplina História e Cultura Indígena, reiterando que é dever e direito dos estados de promover e proporcionar cursos de formação continuada, oficinas, palestras e seminários, a fim de ampliar o debate sobre o referido tema e obter conhecimentos 3 Almeida em Santiago de Compostela, no 32° congresso internacional de IBBY no ano de 2010 apresentou os dados de sua pesquisa qualitativa realizada com educadores do Rio de Janeiro. específicos acerca do tema estudado e que, o governo fomente e valorize pesquisas voltadas as temáticas da História e Cultura Indígena nas escolas. Referencias ALMEIDA, A.M.G. Literatura afro-brasileira e indígena na escola: a mediação docente na construção do discurso e da subjetividade. 32° Congresso Internacional de IBBY. AMÂNCIO, I. M. C; GOMES, N. L; JORGE, M. L. S. Literaturas africanas e afro- brasileira na prática pedagógica. 1. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: Lei 11.645, de 10 de Março de 2008. SÀ, W.S.M de. A presença do negro no livro didático de história do ensino fundamental: uma primeira análise / Wellington Santana Moraes de Sá. – 2010. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Formação de Professores.
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