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Capítulo 3: Mecanismo SN1 Alberdan Silva Santos MECANISMO DAS REAÇÕES ORGÂNICAS Belém-2016 Reação de Substituição, Nucleofílica, unimolecular: SN1 Quando o cloreto de terc-butila reage com hidróxido de sódio em uma mistura de água e acetona, os resultados cinéticos são bem diferentes! A taxa de formação de álcool terc-butílico depende da concentração do cloreto de terc-butila, mas é independente da concentração do íon hidróxido. Assim, a equação da velocidade para esta reação de substituição é de primeira ordem no que se refere ao cloreto de terc-butila e de primeira ordem global. Podemos concluir, portanto, que os íons hidróxido não participam no estado de transição da etapa que controla a velocidade da reação, e que apenas moléculas de cloreto de terc-butila são envolvidas. Essa reação é chamada de unimolecular. Denominamos esse tipo de reação de reação SN1 (Substituição, Nucleofílica, unimolecular). Um Mecanismo para a Reação SN1 O estado de transição importante para a reação do cloreto de terc-butila e a água é o estado de transição da etapa determinante da velocidade [TS(1)]. Nele a ligação carbono-cloro do cloreto de terc-butila está em grande parte rompida e os íons começam a se desenvolver. O solvente (água) estabiliza, por solvatação, esses íons em desenvolvimento. Carbocátions Muita evidência experimental indica que a estrutura dos carbocátions é plana triangular, igual a do BF3. Da mesma forma que se explica a estrutura do BF3 pela hibridização sp 2, também se explica a estrutura plana triangular do carbocátion. Grande quantidade de evidência experimental indica que as estabilidades relativas dos carbocátions se referem ao número de grupos alquila ligados ao átomo de carbono trivalente carregado positivamente. Carbocátions terciários são os mais estáveis, e o cátion metila é o menos estável. A ordem global de estabilidade e a seguinte: A figura a seguir ilustra como um grupo metila ajuda a estabilizar a carga positiva de um carbocátion. O deslocamento da carga e a ordem da estabilidade dos carbocátions acompanham o número de grupos metila ligados ao carbono. A estabilidade relativa dos carbocátions é 3o 2o 1o metila. A Estereoquímica das Reações SN1 Como a estrutura de um carbocátion formado na primeira etapa de uma reação SN1 é plana triangular quando reage com um nucleófilo, ele tanto pode reagir pelo lado da frente quanto pelo lado de trás. A reação que transforma um composto opticamente ativo em uma forma racêmica é uma reação que procede com a racemização. A racemização ocorre sempre que a reação provoca a conversão das moléculas quirais em intermediários aquirais. Exemplos deste tipo de reação são as reações SN1, nas quais o grupo retirante se desliga de um estereocentro. Essas reações quase sempre resultam em racemização extensiva e às vezes completa. Por exemplo, ao aquecer o (S)-3-bromo-3-metilexano opticamente ativo com acetona aquosa resulta na formação de 3-metil-3-hexanol na forma racêmica. O mecanismo desta reação justifica a observação experimental. Solvólise A solvólise é uma substituição nucleofílica na qual o nucleófilo é uma molécula do solvente (solvente + lise; clivagem pelo solvente). Exemplos de reações de solvólise. Todas essas reações envolvem a formação inicial de um carbocátion e a reação subseqüente daquele cátion com uma molécula do solvente. Mecanismo proposto para a reação com o ácido fórmico: Fatores de Afetam as Velocidades das Reações SN1 e SN2 Experiências têm mostrado que um número de fatores afeta as velocidades das reações SN1 e SN2. Os fatores mais importantes são: (a) a estrutura do substrato; (b) concentração e reatividade do nucleófilo (apenas para reações bimoleculares); (c) efeito do solvente e (d) a natureza do grupo retirante. O Efeito da Estrutura do Substrato Reações SN2: Haletos de alquila simples mostram a seguinte ordem geral da reatividade nas reações SN2: A tabela a seguir fornece as velocidades relativas das reações SN2 típicas. Velocidades Relativas das Reações dos Haletos de alquilas via SN2 Obs: O fator importante por trás dessa ordem de reatividade é o efeito estérico. O tipo de efeito estérico é chamado de bloqueio estérico. A figura a seguir retrata os efeitos estéricos na reação SN2. Reações SN1: O fator primário que determina a reatividade de substratos orgânicos em uma reação SN1 é a estabilidade relativa do carbocátion que se forma. Exceto para aquelas reações que ocorrem na presença de ácidos fortes, os únicos compostos orgânicos que sofrem uma reação pelo caminho SN1 a velocidades razoáveis são aqueles capazes de formar carbocátions relativamente estáveis. A formação de um carbocátion relativamente estável é importante em uma reação SN1, pois significa que a energia livre de ativação para a etapa lenta da reação será baixa o bastante para que a reação global ocorra a uma velocidade razoável. Obs: O estado de transição para uma etapa que ocorre com crescimento de energia deverá mostrar uma grande semelhança com o produto dessa etapa (Postulado Hammond-Lefler). O Efeito da Concentração e da Força do Nucleófilo Reações SN1: As velocidades dessas reações não são afetadas nem pela concentração nem pela força dos nucleófilos. Reações SN2: As velocidades dessas reações são afetadas tanto pela concentração como pela força dos nucleófilos. Um bom nucleófilo é aquele que reage rapidamente com um substrato dado. Um nucleófilo ruim é aquele que reage lentamente com o mesmo substrato sob as mesmas condições de reação. O íon métoxido, por exemplo, é um bom nucleófilo. O metanol, por outro lado, é um nucleófilo ruim. Sob as mesmas condições, ele reage muito lentamente com o iodeto de metila. As forças relativas dos nucleófilos podem ser correlacionadas com duas características estruturais: (1) Um nucleófilo com carga negativa é sempre um nucleófilo mais reativo que seu ácido conjugado. (2) Em um grupo de nucleófilos, no qual o átomo nucleofílico é o mesmo, a força dos nucleófilos acompanha as basicidades respectivas. Por exemplo: Efeitos do Solvente sobre as Reações SN2 As forças relativas dos nucleófilos nem sempre acompanham suas basicidades quando os átomos nucleofílicos não são iguais. RSH ROH e RS RO Esse efeito se relaciona à força das interações entre o nucleófilo e a camada que o cerca de moléculas solventes. Uma molécula de um solvente, tal como a água, ou um álcool, chamado de solvente prótico, possui um átomo de hidrogênio ligado a um átomo de um elemento fortemente eletronegativo. Essas moléculas podem formar ligações hidrogênio com os nucleófilos. Um pequeno nucleófilo, tal como o íon fluoreto, por ter sua carga mais concentrada é mais fortementesolvatado que um nucleófilo maior. As ligações hidrogênio com um átomo pequeno são mais fortes do que aquelas com um átomo maior. Outro fator associado a esse efeito é a polarizabilidade dos átomos. As nucleofilicidades relativas de alguns nucleófilos comuns em solventes próticos são as seguintes: Solventes Polares Apróticos: são aqueles cujas moléculas não possuem um átomo de hidrogênio ligado a um átomo de um elemento fortemente eletronegativo. Exemplos: Todos esses solventes dissolvem os compostos iônicos e solvatam os cátions muito bem, orientando suas extremi-dades negativas em volta do cátion e doando pares de elétrons não compartilha- dos para os orbitais vazios do cátion. Entretanto, como não conseguem formar ligações hidrogênio e porque seus centros positivos são bem blindados contra qualquer interação com ânions, os solventes apróticos não solvatam ânions até certo ponto. Esses ânions “nus” são muito reativos tanto como bases quanto como nucleófilos. No DMSO, por exemplo, a ordem relativa da reatividade dos íons haletos é a mesma que suas basicidades: As velocidades das reações SN2, em geral, aumentam muito quando ocorrem em solventes próticos polares. O aumento pode chegar a um milhão de vezes! Exercícios Efeitos do Solvente sobre as Reações SN1 Devido à sua capacidade de solvatar cátions e ânions tão eficazmente, o uso de um solvente polar prótico irá aumentar em muito a velocidade da ionização de um haleto de alquila em qualquer reação SN1. Isso acontece porque a solvatação estabiliza o estado de transição que leva ao carbocátion intermediário e ao íon haleto mais do que os reagentes; assim a energia livre de transição é mais baixa. Uma pequena indicação da polaridade de um solvente é uma quantidade chamada constante dielétrica. Essa constante é uma medida da capacidade do solvente de isolar cargas opostas umas das outras. As atrações e as repulsões eletrostáticas entre os íons são menores nos solventes que possuem constantes dielétricas mais elevadas. A tabela a seguir fornece as constantes dielétricas de alguns solventes comuns. Constantes Dielétricas dos Solventes Comuns ____________________________________________________________ ___ ____________________________________________________________ ___ A Natureza do Grupo Retirante Os melhores grupos retirantes são aqueles que se tornam os íons mais estáveis depois que se desprendem. Como a maioria dos grupos retirantes se desprende como um íon negativo, os melhores grupos retirantes são aqueles que estabilizam uma carga negativa mais eficazmente, ou seja, as bases mais fracas. A estabilização da carga negativa em desenvolvimento, no grupo retirante, estabiliza o estado de transição (diminui sua energia livre); isso diminui e energia livre de ativação, e portanto aumenta a velocidade da reação. Nos halogênios, a ordem de saída é o oposto da basicidade! Exemplos de outras bases fracas que são bons grupos retirantes. O íon trifluormetanossulfonato, normalmente chamado íon triflato, é um dos melhores grupos retirantes conhecido pelos químicos. É o ânion do ácido trifluormetanossulfônico (CF3SO3H), mais forte que o ácido sulfúrico. Os íons muito básicos raramente atuam como um grupo retirante. O íon hidróxido, por exemplo, é uma base forte e portanto reações, como a mostrada a seguir, não ocorrem: Entretanto, quando um álcool é dissolvido em um ácido forte, ele pode reagir com o íon haleto. Bases muito poderosas, tais como os íons hidreto e íons alcanido, quase nunca atuam como grupos retirantes. Exemplos: Resumo: SN1 contra SN2 Reações de haletos de alquila por um mecanismo SN1 são favorecidas pelo uso de substratos que podem fornecer carbocátions relativamente estáveis, pelo uso de nucleófilos fracos (moléculas do solvente) e pelo uso de solventes muito ionizantes. Se quisermos favorecer a reação de um haleto de alquila por um mecanismo SN2, devemos usar um haleto de alquila relativamente desbloqueado, um nucleófilo forte, um solvente polar aprótico e uma alta concentração do nucleófilo. Esses fatores estão resumidos na tabela abaixo: Transformação de Grupos Funcionais Usando Reações SN2 As reações SN2 são muito úteis na síntese orgânica, pois permitem converter um grupo funcional em outro. Exemplos: Exemplo de uma reação de substituição nucleofílica biológica: Na biossíntese da colina, por exemplo, a S-adenosilmetionina transfere seu grupo metila a um átomo de nitrogênio nucleofílico do 2-(N,N- dimetilamino)etanol: Um outro aspecto das reações SN2, que é de grande importância em síntese, é sua estereoquímica. As reações SN2 sempre ocorrem com inversão de configuração no átomo que carrega o grupo retirante. Por exemplo, suponhamos que precisamos de uma amostra da nitrila ao lado com configuração (S). Tendo o (R)-2-bromobutano disponível, podemos efetuar a seguinte síntese: Exercícios ____________________________________________________________ ______ ____________________________________________________________ _______
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