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Resumo Preservação e Valorização da Prova Aula 01 a 05

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AULA 01
Noções de Investigação Criminal.
Introdução:
A investigação, na verdade, consiste em uma pesquisa, e a atividade de um investigador de Polícia tem muito mais a ver com a de um pesquisador. A ética e os direitos humanos permeiam todas as fases da investigação criminal, devendo, por isso mesmo, sempre nortear as ações do investigador. Por fim, devemos observar que a investigação criminal reúne conceitos de diferentes áreas de conhecimento (a jurídica e a policial, por exemplo), sendo, naturalmente, objeto de muitas polêmicas e discussões. A lavratura do termo circunstanciado pela Polícia Militar em alguns estados e a legitimidade ou não do Ministério Público para investigar, por exemplo, merecem atenção especial.
O que você entende por investigação criminal?
Quando falamos em investigação criminal, vêm à nossa mente, de forma intuitiva, os filmes e seriados policiais a que assistimos na TV ou no cinema. 
Esses filmes e seriados, no entanto, em geral estrangeiros, retratam uma realidade jurídica e sociocultural bem diferente da nossa.
Além disso, como sabemos, tudo é “acertado” para que, no final, os “mocinhos” se deem bem e os “bandidos”, mal.
Sabemos que, na realidade, diferentemente do que ocorre na ficção, o sucesso da investigação não é garantido. 
A incolumidade e até a vida daqueles que protagonizam a investigação das vítimas e dos suspeitos podem estar expostas a muitos riscos. 
Na vida real, o sucesso e a segurança dependem, entre outros fatores, da técnica e do planejamento da equipe de investigação.
A prática da investigação criminal corresponde muito mais a uma pesquisa, em que o investigador-pesquisador busca, por meio da prova, estabelecer a verdade real. Assim como o pesquisador, o investigador deve observar procedimentos, métodos e técnicas, devendo evitar o empirismo, ou seja, o método da tentativa e erro.
Afinal, o que é investigação criminal?
No dicionário, podemos encontrar as seguintes definições para o verbo “investigar”:
Seguir os vestígios de; 
(...) pesquisar (...); 
Examinar com atenção (...) 
(FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. Edição eletrônica. Versão 5.0. Curitiba: Positivo, 2005).
Percebemos que a primeira definição, “seguir os vestígios de”, remete-nos ao caráter operacional da investigação. Ao mesmo tempo, as definições seguintes, “pesquisar” e “examinar com atenção”, denotam o caráter metódico e científico que se espera de uma investigação.
Em se tratando de uma investigação de natureza criminal, o objeto dessa pesquisa será, naturalmente, um crime que foi praticado. Então, podemos definir investigação criminal, de forma preliminar, como uma pesquisa acerca de uma infração penal.
Dito isso, voltemos à versão eletrônica do dicionário Aurélio para ver o que nos diz sobre “pesquisa”:
Ato ou efeito de pesquisar; (...); 
Investigação e estudo, minudentes e sistemáticos, com o fim de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um campo qualquer do conhecimento.
Agora, refinada nossa definição preliminar, podemos dizer que:
Investigação criminal é a pesquisa minuciosa e sistematizada de uma infração penal.
De acordo com o que vimos, entenda, agora, o conceito de:
Investigação criminal:
É uma atividade atribuída constitucionalmente às polícias judiciárias (Polícia Federal e polícias civis). 
O art. 144, §1º, I (Polícia Federal), e §4º de nossa Constituição (polícias civis) estabelece para esses órgãos, entre outras atribuições, “apurar infrações penais” dentro de suas respectivas competências.
Uma definição muito apropriada pode ser retirada do artigo de Granzotto (2007): 
A investigação criminal é um procedimento administrativo pré-processual, de cognição sumária, cujo objetivo imediato é averiguar o delito e sua autoria, fornecendo elementos para que o titular da ação penal proponha o processo (oferecimento da peça exordial) ou o não processo (arquivamento). Podemos observar que essa definição contempla não apenas o aspecto conceitual como também as finalidades imediata e mediata da investigação. A primeira é de cunho operacional, qual seja, apurar a autoria e as circunstâncias do delito; e a segunda visa fornecer ao Ministério Público, titular da ação penal, elementos que permitam propô-la em juízo. Importante: caso se trate de infração de menor potencial ofensivo, assim definido pela Lei 10.259/01, a investigação criminal não instruirá um inquérito policial, mas um termo circunstanciado. 
Se unirmos então o conceito e a finalidade da investigação criminal, podemos então defini-la de forma mais completa como:
Pesquisa minuciosa e sistematizada de uma infração penal, realizada por policiais ― agentes, peritos e delegados ―, com o intuito de determinar a autoria, comprovar a materialidade e esclarecer as circunstâncias, produzindo provas para instruir o inquérito policial ou o termo circunstanciado.
Inquérito policial:
O resultado da investigação criminal é formalizado, por escrito, no inquérito policial.
Ação penal:
O inquérito policial servirá de subsídio para que o Ministério Público promova a ação penal com vistas à punição do autor do fato, pronuncie-se pelo arquivamento ou ainda retorne os autos à unidade de Polícia Judiciária requisitando novas diligências.
Objetivo imediato da investigação criminal:
Objetivo operacional: 
Apurar, por meio da produção de provas, as circunstâncias, a autoria e a materialidade de um delito.
E se ampliarmos nossa visão? E se vislumbrarmos além das instituições policiais que efetivamente desenvolvem a investigação criminal? 
Se levarmos em consideração que a Polícia interage com outras instituições, como o Ministério Público e a Justiça, podemos concluir então que o objetivo mediato  da investigação criminal seria:
Objetivo processual: 
O fornecimento de subsídios ao Ministério Público para a propositura da ação penal.
Será que essa definição nos satisfaz? Será que a Polícia existe tão somente para fornecer ao Ministério Público elementos que tornem possível a propositura de uma ação penal? Será que a Polícia e o Ministério Público são o tipo de instituição que representa um fim em si mesmo? Naturalmente que não.
O que chamaríamos de “sistema de justiça criminal” entre nós seria representado pela Justiça Penal, pelo Ministério Público e pelas polícias (federal e estaduais). 
O objetivo comum dessas instituições não é punir por punir, cercear direitos e liberdades.
Na verdade, quando um crime é cometido, alguém desobedeceu a uma regra convencionada pela sociedade por meio de seus mandatários. Em virtude dessa desobediência, dessa transgressão, alguém ou alguma instituição teve seus direitos violados.
Então, de forma ainda mais ampla, mais abrangente, podemos definir o objetivo da investigação criminal como:
Objetivo social: 
A defesa dos direitos e das garantias do cidadão por meio da aplicação da lei penal.
As etapas de uma investigação criminal:
Podemos classificar a investigação criminal de acordo com:
A natureza profissional do(s) investigador(es):
Cartorária:
Quando realizada por profissionais diretamente subordinados à autoridade policial (delegado de Polícia) ― inspetores, detetives, escrivães, entre outros.
Técnico-Científica:
Quando os profissionais envolvidos são mais ligados à atividade pericial e laboratorial; por exemplo, os peritos e técnicos que não têm subordinação direta à autoridade policial.
O momento em que a investigação ocorre:
Preliminar:
É aquela realizada logo após a infração penal, no local do fato e adjacências. Consiste, sobretudo, na coleta de vestígios, feita pela polícia técnico-científica, e na coleta de informações (entrevistas informais), que deve ser feita pela autoridade policial ou por seus agentes.
De Seguimento:
Ocorre, em um momento posterior, com a oitiva formal de testemunhas e envolvidos, e a realização de diligências como busca e apreensão, interceptações telefônicas, entre outras.
Princípios gerais da administração pública:
A investigação criminalé, antes de tudo, um conjunto de atos administrativos. Sendo assim, está sujeita ao art. 37 da Constituição da República Federativa do Brasil, que dispõe:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...).
Princípio da Legalidade:
É o que mais expresse o paradigma do estado de direito. É a expressão da supremacia da lei. 
Esse princípio tem duas faces: uma em relação à administração pública e outra em relação ao cidadão. Para o investigador ― que representa a administração pública ―, esse princípio expressa uma relação de submissão restritiva, em que ele só pode fazer o que a lei determina, tendo muito pouca discricionariedade. 
Em sentido diverso, o cidadão, nesse princípio, tem a garantia de liberdade, uma vez que pode fazer tudo o que a lei não proíbe e não pode ser obrigado a fazer o que não estiver previamente expresso em lei.
Princípio da impessoalidade:
As ações do investigador, além de serem limitadas pela lei, devem ser norteadas pelo interesse público a fim de buscar a verdade real dos fatos. 
O investigador deve abster-se de ações que, embora legais, busquem, na verdade, o atendimento de interesses pessoais, promoção pessoal, benefícios ou prejuízos de quem quer que seja.
Princípio da moralidade:
É a expressão da ética no serviço público.
Não é suficiente que os atos do investigador sejam pautados pela legalidade e visem tão somente ao interesse público. 
Devem também adaptar-se aos valores morais e sociais vigentes, como honestidade, equidade e justiça.
Princípio da publicidade:
É o corolário da transparência na administração pública. 
Esse princípio busca atender aos princípios democráticos, permitindo que os atos administrativos possam ser controlados pelos diversos órgãos da administração pública (Ministério Público, Justiça) e pela sociedade civil (imprensa e cidadão). 
Observe que nenhum princípio ou direito é absoluto: o princípio da publicidade, que é a regra, também está sujeito a exceções, como nos casos de investigação sigilosa, devendo essas exceções serem previstas em lei.
Veja um exemplo retirado do Código de Processo Penal:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à instauração de inquérito contra os requerentes. (Redação dada pela Lei 12.681, de 2012) (BRASIL. Decreto-Lei 3.689/41 ― Código de Processo Penal. Rio de Janeiro: 1941).
Princípio da eficiência:
Acrescentado ao texto constitucional pela Emenda Constitucional 19/1998, que impõe ao administrador zelar pelos recursos de que dispõe. 
Semelhante ao administrador da iniciativa privada, ele deve vislumbrar a relação custo/benefício de seus atos para a administração pública buscando sempre alcançar o melhor resultado com o menor gasto de recursos públicos, sendo esses recursos humanos ou materiais.
ATENÇÃO:
Esses princípios não devem ser analisados isoladamente, mas sim em conjunto, vislumbrando-se a interação harmônica entre eles. É assim que, ao mesmo tempo, um complementa e limita o outro. 
Vejamos um exemplo: o princípio da publicidade visa garantir a transparência dos atos da administração pública para que possam ser fiscalizados. Essa fiscalização e cobrança implicarão mais eficiência. Por outro lado, se concebêssemos uma publicidade absoluta, ilimitada, a Polícia deveria, por exemplo, divulgar de antemão suas ações e estratégias, o que permitiria a adoção, por parte dos criminosos, de contramedidas que frustrariam a investigação criminal e comprometeriam sua eficiência.
Princípios específicos da investigação criminal:
Estudamos, anteriormente, os princípios gerais da administração pública. São também chamados de “princípios constitucionais da administração pública”, uma vez que têm seu fundamento em nossa carta magna. Por serem de ordem constitucional, são aplicáveis a todos os atos administrativos, em todos os setores da administração pública. 
No entanto, além desses princípios constitucionais, cada setor da administração pública tem seus princípios específicos, que naturalmente não devem se sobrepor aos constitucionais. No caso da investigação criminal, temos os seguintes princípios específicos, também denominados:
Princípio da compartimentação sigilosa:
Dependendo do caso e da complexidade, a investigação pode exigir a atuação de diversos investigadores nos mais variados ambientes. Nessa condição, o risco de vazamento de informações aumenta consideravelmente. 
Um investigador pode, por exemplo, ter suas informações devassadas por acidente ou ato criminoso ou ainda ser capturado por criminosos que, mediante emprego de técnicas de dissuasão e tortura, poderiam extrair informações do investigador capturado.
Outra possibilidade seria o vazamento fraudulento e intencional por parte do próprio investigador. Em todos esses casos, quanto maior o conhecimento acerca da investigação, maior o prejuízo. 
A compartimentação consiste então em dividir a investigação e as informações inerentes a esta, entre grupos de investigadores sob a coordenação da autoridade policial.
Princípio do imediatismo:
Está diretamente relacionado ao princípio constitucional da eficiência. Diante da notícia de uma infração penal, a investigação criminal deve ser desencadeada o mais brevemente possível, levando-se em conta a volatilidade e a precariedade de muitos vestígios que perdem-se caso não sejam recolhidos logo após a infração.
Esse princípio demanda agilidade, e não imprudência. Exatamente por isso é complementado e, ao mesmo tempo, limitado pelo princípio da oportunidade.
Princípio da oportunidade:
Equilibra-se com o princípio do imediatismo por conferir eficiência à investigação criminal. Dentro da brevidade que se exige para o início das investigações, o investigador deve escolher o momento mais oportuno, que lhe permitirá, de forma ágil e, ao mesmo tempo, segura, iniciar os procedimentos investigativos.
Vejamos o que dispõe, por exemplo, o art. 2º, II, da Lei 9.034/95: Em qualquer fase de persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, os seguintes procedimentos de investigação e formação de provas: (Redação dada pela Lei 10.217, de 11.4.2001) (...) II ― a ação controlada, que consiste em retardar a interdição policial do que se supõe ação praticada por organizações criminosas ou a ela vinculado, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz do ponto de vista da formação de provas e fornecimento de informações; (...) (BRASIL. Lei 9.034/95 ― Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Brasília: 1995).
A transversalidade da ética e dos direitos humanos na investigação criminal:
A investigação criminal é uma ação invasiva por natureza. O investigador altera a rotina e constrange o investigado, as testemunhas e a própria vítima, repercutindo, muitas vezes, na família e nos amigos dos envolvidos.
Conforme vimos ao longo desta aula, em última análise, o objeto maior da investigação criminal é a defesa dos direitos e das garantias do cidadão por meio da aplicação da lei penal. 
Assim, não seria razoável que a defesa desses direitos e garantias passasse pelo desrespeito a eles.
Por outro lado, também observamos que investigar significa pesquisar, examinar, buscar vestígios. 
Isso nos traz um paradoxo:
Respeitar a individualidade, a privacidade e a intimidade das pessoas ou violar essas garantias em favor do interesse coletivo da aplicação da lei penal?
Se examinarmos com atenção o texto constitucional e os tratados internacionais sobre o tema dos quais o Brasil é signatário, conseguiremosequacionar o problema e chegaremos à conclusão de que a liberdade é a regra, e o cerceamento a exceção.
Essa exceção deve estar prevista em lei, como é o caso das interceptações telefônicas (Lei 9.296/96), da quebra de sigilo bancário (Lei 4.595/64, art. 38), do mandado de busca (Código de Processo Penal, art. 240), do mandado de condução (Código de Processo Penal, art. 260), entre outras medidas.
É notório que interceptações telefônicas, quebra de sigilo bancário, busca domiciliar e condução coercitiva são medidas invasivas e constrangedoras, mas, ao mesmo tempo, indispensáveis em alguns casos. 
É para esses casos que a lei prevê exceções, não podendo, obviamente, o investigador valer-se dessas medidas no intuito de prejudicar ou constranger o investigado.
Considerando o princípio da impessoalidade, conforme estudamos, as ações do investigador devem ser norteadas sempre pelo interesse público, nunca pelo interesse pessoal.
EXEMPLO:
CASO OBAMA E ESCUTA TELEFÔNICA
“Não se pode ter 100% de privacidade e 100% de segurança“.
Barack Obama
Fundamentação legal e limites da investigação criminal:
A investigação criminal é um conjunto de atos administrativos. Estudamos ainda que os atos da administração pública são restritos à previsão legal (Princípio da legalidade).
Sendo assim, você saberia apontar que dispositivos legais disciplinam a investigação criminal?
As ações do investigador são previstas, majoritariamente, no Código de Processo Penal a partir do art. 6º e ainda pela legislação especial; por exemplo, as leis 9.034/95 (lei de repressão às organizações criminosas) e 9.296/96 (lei das interceptações telefônicas).
Por outro lado, essas ações encontram limites na Constituição da República, nos tratados internacionais em que o Brasil seja parte e na legislação infraconstitucional (leis ordinárias e especiais). Por tratar especificamente dos direitos e das garantias individuais, é o art. 5º de nossa Constituição o principal limite às ações do investigador:
Além da Constituição, a investigação criminal é limitada por normas como a Lei 4.898/65, que trata do abuso de autoridade, tipificando em seus arts. 3º e 4º as condutas que representam crime de abuso de autoridade e, no art. 6o, as sanções administrativas, cíveis e penais a que o investigador estará sujeito nesses casos.
A investigação criminal é ainda limitada por normas internacionais que foram recepcionadas pelo direito pátrio (veja art. 5o, §§ 2o e 3o, da Constituição da República).
O Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei (CCEAL) foi adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas por meio da Resolução 34/169 de 17/12/1979.
O CCEAL e algumas normas O CCEAL vem complementar e ratificar o que já havia sido aprovado em normas anteriores, como: 
Carta das Nações Unidas (1945). 
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). 
Pacto de San José da Costa Rica (1969). 
Outra norma, de caráter mais operacional, que também limita as ações do investigador são os “Princípios básicos sobre o uso da força e das armas de fogo pelos encarregados de aplicação da lei”.
AULA 02
A Prova na Investigação Criminal.
Introdução:
Como já vimos o objetivo mediato da investigação criminal é a produção de provas que instruirão o inquérito policial.
Nesta aula, definiremos o conceito de prova propriamente dito, mas, antes, vejamos uma abordagem histórica.
Abordagem Histórica:
Nas sociedades primitivas, os conflitos eram solucionados pela chamada “lei do mais forte”, não existindo a figura do Direito. Além da injustiça e dos danos irreparáveis, esse método costuma levar à desagregação social, uma vez que a parte vencida, ou na iminência de sê-lo, pode buscar alianças contra o mais forte, que, por sua vez, utilizando-se do mesmo artifício, pode conseguir o domínio de bandos, gangues e milícias. Com a evolução da sociedade e, sobretudo, com a formação e a consolidação dos estados, fez-se necessária a criação de mecanismos de estruturação e administração da sociedade tendo um de seus pilares na composição judiciária dos conflitos. No entanto, se não era mais a força, o que então passa a ser determinante para a solução dos conflitos? Se ao juiz era dado decidir a sorte dos litigantes, que critérios deveria adotar? Não existe uma resposta “fechada” para essa pergunta. Os critérios que norteiam as decisões dos juízes variam em função da época e do local. Na Antiguidade, por exemplo, quando Direito e religião se confundiam, o “sistema das ordálias” ou “juízo de Deus” foi largamente utilizado. Vejamos, a seguir, algumas modalidades desse sistema que unia a incerteza de uma loteria à crueldade das provas: 
Prova do fogo: o acusado devia caminhar sobre um ferro em brasa ou tocá-lo com a língua. Se demonstrasse dor, era culpado. 
Prova das serpentes: o acusado era lançado em meio a serpentes venenosas. Se fosse picado, era considerado culpado. 
Prova do duelo: também chamada de “combate judiciário”, era a mais famosa e utilizada das ordálias. Consistia em um duelo no qual quem sobrevivesse era considerado inocente. 
Como você deve ter percebido, a noção de prova no Direito antigo tinha muito mais uma conotação física do que jurídica. Hoje temos, intuitivamente, a noção jurídica do que seria uma prova em nosso Direito. Você conseguiria, por meio dessa noção intuitiva, formular um conceito de prova?
Agora compare o conceito que você formulou com outros.
Etimologicamente, o vocábulo “prova” tem origem na palavra latina probatio, derivada do verbo probare, que significa persuadir pela demonstração.
O dicionário Michaelis define prova como:
Aquilo que serve para esclarecer uma verdade por verificação ou demonstração.  
Indício, mostra, sinal. (...)
(Michaelis: dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008).
Então, podemos dizer que a prova, no processo penal, pode ser definida como:
Um elemento que o juiz ou qualquer uma das partes traz ao processo no intuito de comprovar a veracidade de um fato ou alegação ou ainda a existência de algo.
Finalidade da prova no processo penal:
Você deve ter percebido que o conceito de prova criminal está diretamente ligado à sua finalidade; grosso modo, demonstrar um fato ou afirmação.
O desembargador Camargo Aranha nos traz uma definição importante dessa finalidade quando destaca a natureza reconstrutiva da prova:
“A função da prova é essencialmente demonstrar que um fato existiu e de que forma existiu ou como existe e de que forma existe. É, portanto, uma tarefa reconstrutiva.” (Aranha, 2004)
É fácil compreender a importância vital que representa a prova para toda a persecução penal.
É com base nas provas que, ao final, o juiz proferirá sua sentença. Assim dispõe o Código de Processo Penal (decreto-lei 3.689/41):
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008) 
Após analisar as definições doutrinárias e o próprio texto legal, podemos concluir que:
A finalidade da prova é formar o convencimento do julgador por meio da demonstração de um fato, alegação ou circunstância.
Já sabemos o que é prova e para que ela serve.
Mas a responsabilidade de produzi-la ou apresentá-la cabe a quem?
Vejamos o que dispõe o Código de Processo Penal:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008)
I ― ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008)
II ― determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008)
Com base no textolegal, podemos chegar à conclusão de que a responsabilidade de demonstrar a veracidade dos fatos alegados é de quem os alega.
Essa regra é o chamado “ônus da prova”; quem alega deve provar.
Além disso, o ônus da prova pode ser tanto do titular da ação penal, para comprovar a imputação, quanto do acusado, para comprovar uma alegação que derrube a tese da acusação.
Finalmente, do mesmo dispositivo legal, podemos extrair ainda outras duas conclusões:
É o juiz o destinatário da prova.
Caso vislumbre necessidade, o juiz pode determinar a produção antecipada de provas.
Como a primeira alegação, aquela que dá início à investigação, é acusatória, normalmente cabe a quem está acusando a maior parte ou até a totalidade da responsabilidade probatória.
Quem está se defendendo, a rigor, não precisa provar nada, exceto se fizer alguma alegação.
Consideremos o seguinte:
E se alguém que estiver sendo acusado, provar não apenas que é inocente, mais ainda, que quem o acusou sabia de sua inocência?
Nesse caso, fica caracterizado mais do que um mero engano, mais a má-fé por parte de quem acusou. Essa conduta não fica incólume em nosso Direito.
Veja o que dispõe o art. 339 de nosso Código Penal:
Denunciação caluniosa:
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei n. 10.028, de 2000).
Pena ― reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1  ― A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. 
§ 2  ― A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
Não será a mera insuficiência de provas por parte do acusador que caracterizará o crime de denunciação caluniosa. É preciso que esse acusador saiba da condição de inocência do acusado, ou seja, que ele esteja, de forma deliberada e consciente, atentando contra a administração da justiça.
O que pode ser objeto de prova?
Agora, vamos deixar um pouco a fase da investigação criminal e visitar a fase processual, em que o juiz aceita ou não as provas e as avalia.
Em uma ação penal, podem ser objeto de prova: coisas ou circunstâncias alegadas por uma das partes.
Vejamos o exemplo de um caso que vai figurar em vários momentos da nossa aula.
O Ministério Público acusa Tício pela morte de Mévio, assassinado a facadas, na noite do último sábado, quando chegava em casa. Tício nega a acusação.
A investigação criminal apurou que Caio, vizinho de Mévio, tinha visto quando este chegava em casa, acompanhado de Tício. Os dois conversavam em aparente normalidade.
Em dado momento, porém, seguiu-se uma acalorada discussão que culminou com as facadas desferidas por Tício contra Mévio.
Com base no depoimento de Caio, a autoridade policial conseguiu um mandado de busca e apreensão na casa de Tício, conseguindo encontrar, enterrada ao lado de uma mangueira, uma faca do tipo “peixeira”.
Exames laboratoriais apontaram a presença de sangue na faca, indicando ainda que esse sangue seria compatível com o da vítima, Mévio.
No caso exemplificado, vimos como o trabalho de investigação criminal conseguiu a prova de que o Ministério Público precisava para sustentar a acusação contra Tício.
Você sabia que nem todos os fatos podem ser objeto de prova?
Os fatos axiomáticos (evidentes, manifestos e inquestionáveis) não precisam ser provados. 
Não é necessário documento para provar que o feriado da independência do Brasil é comemorado no dia 7 de setembro, tampouco testemunha para afirmar que nossa seleção foi campeã da Copa do Mundo de 1970.
O direito também não precisa ser provado: presume-se que o juiz tem conhecimento das leis, mas essa presunção é relativa: o juiz deve conhecer o direito de sua jurisdição, portanto, quando a alegação recai acerca de direito estrangeiro, este deve ser provado pela parte que o alegou. 
O mesmo se aplica às esferas administrativas, não podendo, por exemplo, exigir-se de um juiz de uma vara federal que conheça uma determinada norma municipal.
Veja o que dispõe o Código de Processo Civil nesse sentido: 
“Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.”
As presunções legais também não precisam ser provadas, podendo se dividir em absolutas (jure et de jure) ou relativas (jure tantum).
Presunções legais absolutas:
São as que não admitem prova em contrário; é o caso da inimputabilidade do menor de 18 anos.
Presunções legais relativas:
São aquelas que podem ser desfeitas pela prova em contrário, ou seja, admitem contraprova. Assim, o interessado no reconhecimento do fato tem o ônus de provar o indício, ou seja, possui o encargo de provar o fato contrário ao presumido.
ATENÇÃO:
Os fatos irrelevantes também não podem ser objeto de prova. Para ser objeto de prova, o fato deve ser relevante e ter relação com o processo, sendo, por isso, capaz de influenciar a decisão do juiz.
Retomando ao nosso exemplo: 
Já sabemos que Tício é acusado de matar Mévio. 
Agora a acusação apresenta prova de que Kévia mantinha um relacionamento com Mévio.
Tudo bem, mas o que uma coisa tem a ver com a outra? Quem é Kévia? O que ela tem a ver com o fato (homicídio)?
Imaginemos outra circunstância, desconhecida inicialmente, mas que, vindo à tona, torna o relacionamento entre Mévio e Kévia relevante para o processo:
Imaginemos que Kévia tivesse um relacionamento com Tício e o tivesse trocado por Mévio.
Nesse caso, Tício poderia, motivado por ciúmes, ter investido contra Mévio.
Observou que, nesse nosso exemplo, temos uma circunstância provada e um fato?
O fato e a circunstância nos permitem levantar uma hipótese preliminar, a de que Tício teria matado Mévio por ciúmes, mas a prova desse fato, por si só, não permite incriminar Tício. 
É preciso que tenhamos provas de que Tício, efetivamente, provocou a morte de Mévio. 
A hipótese, nesse caso, serve tão somente como um ponto de partida para nortear as investigações. 
É por meio do conjunto probatório, mais precisamente da cadeia de evidências, que o investigador poderá confirmar, modificar ou descartar a hipótese preliminar.
Tipos de Provas:
Vamos aproveitar nosso exemplo, do assassinato de Tício, considerando algumas mudanças no roteiro (com alteração quanto à arma que foi utilizada), para entendermos como as provas são determinantes para a investigação criminal e, assim, percebermos o cuidado que devemos ter com elas. 
Motivados pela hipótese preliminar, os investigadores convocaram Tício, Kévia, amigos, vizinhos e familiares para a oitiva. Tomaram ainda o cuidado de ouvi-los isoladamente. Ao mesmo tempo, verificaram, nos arquivos policiais, que Mévio tinha uma arma registrada em seu nome, sendo que Kévia não mencionara essa arma em seu depoimento. A investigação apontou ainda que havia uma apólice de seguro em nome de Mévio, cuja única beneficiária era Kévia, que também ocultara esse fato em seu depoimento. 
A autoridade policial solicitou à justiça a quebra de sigilo bancário e telefônico dos três principais envolvidos: Tício, Mévio e Kévia. Com isso, foram descobertas várias ligações entre Kévia e Tício no dia do crime e nos dias que o antecederam. Um fato despertou ainda mais desconfiança: o cartão de crédito de Mévio havia sido utilizado em um motel cerca de uma hora e meia depois do horário apontado pela perícia como o de sua morte. 
Assim, a autoridade policial solicitou a cópia do circuito de TV da entrada do motel no dia do crime e constatou que, naquele horário, eram Tício e Kévia que saíam do estabelecimento no carro de Tício; e ainda utilizaram o cartão de crédito de Mévio. Convocados a depor, porteiros e funcionários do motel confirmaram já terem visto o casal outras vezes no estabelecimento. 
Durante uma busca e apreensão ― autorizadas pela justiça ―, os investigadores encontraram, no freezer da casa de Tício, já cobertade gelo, a arma registrada em nome de Mévio. Tício foi preso em flagrante por porte ilegal de arma, mas continuou a negar a autoria do homicídio. Recusou-se também a realizar o exame residuográfico (que apontaria vestígio de pólvora em suas mãos). O exame balístico na arma apreendida, por sua vez, comprovou que os três tiros que mataram Mévio saíram dela. 
Novamente interrogada, diante das evidências, Kévia desesperou-se e acabou admitindo o romance com Tício. Sabendo que Tício havia sido preso com a arma de Mévio, mas sem saber que ele havia negado a autoria do crime, ela também admitiu que havia combinado com Tício a morte de Mévio e que, para tanto, entregou a Tício a arma que Mévio guardava em cima do armário. Como Mévio não costumava manuseá-la, Kévia sabia que ele não sentiria falta da arma. Ela disse ainda que, na verdade, ainda amava Tício e que se arrependia de tê-lo trocado por Mévio. Kévia planejava, com o dinheiro do seguro, reconstruir sua vida ao lado de Tício. 
Agora vejamos: e se a autoridade policial não tivesse solicitado a quebra de sigilo bancário e telefônico dos três envolvidos? E se os investigadores não tivessem verificado a existência da apólice de seguros? Percebeu como a ausência de uma única prova, que isoladamente pode não ter muito significado, é capaz de comprometer toda a investigação? No estudo de caso anterior, deparamos com diferentes tipos de prova. Percebemos que, durante uma investigação, podemos utilizar vários meios: imagens, depoimentos, vestígios etc. As provas podem ser classificadas quanto à forma ou quanto ao objeto. 
Quanto à forma: 
Documentais: 
São as provas por instrumento escrito ou gravado. Em nosso exemplo, a apólice de seguro, o registro da arma e a imagem do circuito de TV do motel seriam provas documentais. 
Materiais: 
Também chamadas de periciais, consistem, como o próprio nome diz, na materialidade do delito. Em nosso caso, podemos vislumbrar como provas materiais o exame cadavérico, o exame balístico na arma e o exame residuográfico (no caso, se Tício o tivesse permitido). 
Testemunhais: 
São constituídas pelas declarações da vítima (obviamente, não é nosso caso), do autor e das testemunhas. Em nosso exemplo, as declarações de Tício e de 3 Kévia, embora falsas, constituem-se em prova contra eles mesmos, pois comprovam estarem ocultando ou distorcendo os fatos. Também serviram de provas testemunhais as declarações de porteiros, funcionários, vizinhos e parentes. 
Quanto ao objeto: 
Diretas: 
São aquelas provas que possuem relação direta com o fato, a circunstância ou o objeto a ser provado. Podemos citar como exemplo um exame pericial, uma imagem de circuito de TV etc. 
Indiretas: 
Não possuem relação direta com o fato, a circunstância ou o objeto a ser provado, mas têm relação com outro fato relacionado e que nos permite, por indução, concluir pela existência ou veracidade do fato alegado. O exemplo típico é o álibi apresentado pelo suspeito. Vejamos: Caio é acusado de ter praticado determinado crime em Belo Horizonte, mas apresenta prova de que, no mesmo horário, estava prestando concurso público em Porto Alegre.
O contraditório e a ampla defesa na investigação criminal:
Essa é uma questão extremamente polêmica, com sólidos argumentos favoráveis e contrários à obrigatoriedade do contraditório e da ampla defesa ainda na fase da investigação criminal.
Contraditório:
É a expressão, na prática, do direito à ampla defesa. É a faculdade que uma parte tem de conhecer e se opor ao alegado pela parte contrária. Quando uma parte faz uma alegação, a outra deve ser ouvida. Mendes de Almeida (1937) e boa parte dos juristas adotam a definição de contraditório como “a ciência bilateral dos atos e termos processuais e possibilidade de contrariá-los”.
Vamos começar CF, em seu art. 5º.
Pelo princípio da ampla defesa, o réu tem o direito de apresentar, no processo, todos os elementos de defesa de que dispõe, no intuito de opor-se à alegação da acusação.
O réu pode, se assim entender conveniente, ficar em silêncio, mas, se for comprovado que ele foi inibido de exercer o direito de contestação, o processo pode ser anulado.
Os direitos à ampla defesa e ao contraditório são garantidos, como vimos, pela Constituição. Por essa razão, são direitos inalienáveis, ou seja, mesmo querendo, o réu não pode abrir mão deles, devendo exercê-los por meios próprios (autodefesa) ou por intermédio de um procurador (advogado ou defensor público).
Se, durante o processo, por qualquer motivo, a parte ficar desassistida, ou seja, ficar sem o procurador, o Poder Público deverá nomear um defensor, que pode ser público ou dativo.
A questão da prova emprestada:
Em um determinado processo, podemos utilizar a prova que foi produzida em outro processo, a chamada prova emprestada?
Essa questão é desdobramento da discussão sobre o princípio do contraditório que acabamos de estudar.
Isso porque, como qualquer outra prova, a emprestada também deve obedecer aos princípios constitucionais que regem sua produção e utilização, como os princípios da ampla defesa e do contraditório.
Nesse sentido, o primeiro requisito de admissibilidade da prova emprestada é ter sido produzida, no primeiro processo, contra quem será utilizada no segundo processo para que a parte, tendo tido contato com a prova no primeiro processo, tenha plenas condições de contrariá-la no segundo (Grinover, Fernandes e Gomes Filho, 1998).
Se esse preceito não for observado, a parte contra quem se argui a prova terá sua defesa cerceada já na esfera do processo penal, em que é pacífico que os princípios da ampla defesa e do contraditório devem ser respeitados.
Sistemas de valoração da prova:
A valoração e a apreciação das provas pelo julgador passaram, ao longo de nossa história, por três fases distintas:
Sistema da livre apreciação ou convicção íntima:
O juiz decide livremente, baseado em sua íntima convicção, ainda que essa decisão esteja completamente desvinculada da prova dos autos e sem necessidade de justificar a decisão. 
Nesse sistema, ainda que não haja prova correspondente nos autos, o juiz pode, por exemplo, decidir com base em algum conhecimento particular que tenha sobre o caso. Por outro lado, ficam comprometidos a segurança jurídica e o devido processo legal, sendo impossível o controle das decisões judiciais.
Sistema das provas legais:
É precisamente o oposto do sistema da convicção íntima. Aqui, cada prova tem seu valor predeterminado, e a decisão do juiz deve seguir rigorosamente esses valores.
Sistema do livre convencimento motivado:
Esse sistema é o que prevalece atualmente. Consiste em um misto dos dois sistemas anteriores. 
Aqui é o juiz que atribui o valor de cada prova, mas sua decisão deve ser fundamentada e estar em consonância com o conjunto probatório.
No sistema de convicção íntima, o juiz podia decidir com base em um conhecimento pessoal do caso. 
No sistema do livre convencimento motivado, em que o juiz deve decidir com base no que está nos autos, o que fazer caso ele saiba de um fato que não conste dos autos? Deve ignorá-lo? Veja o que dispõe o Código de Processo Penal:
Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008)
I - ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008);
II - determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008).
Podemos afirmar, então, que, em nosso sistema, o juiz tem o poder de determinar a produção ou a complementação de provas apresentadas.
A prova ilícita:
Nos itens anteriores, estudamos o direito à prova, mas nenhum direito tem caráter absoluto e, com a prova, não seria diferente. 
Além dos fatos e circunstâncias que não podem ser objeto de provae que estudamos nesta aula, existe ainda a questão da prova ilícita, inadmissível em nosso direito.
São provas ilícitas aquelas obtidas em desrespeito a normas ou princípios legais.
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais. (Redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008).
§ 1  ― São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2  ― Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. (Incluído pela Lei n. 11.690, de 2008).
§ 3  ― Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.
Da mesma forma que o art. 157 do Código de Processo Penal, nossa Constituição, em seu art. 5o , LVI, também estabelece que “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. 
Assim é que as provas obtidas mediante violação de domicílio ― escuta telefônica, entre outras formas proibidas por lei ― não serão consideradas no processo, exceto se o meio de obtenção tiver sido autorizado previamente pela justiça, por exemplo, com um mandado de busca domiciliar ou ainda com autorização para interceptação telefônica. 
Há uma tendência doutrinária e até jurisprudencial de abrandamento dessa norma. Mais uma vez, atentando-se para o fato de que nenhuma norma ou princípio é absoluto no direito ― devem ser analisados em conjunto com outras normas e princípios ―, tem-se que a prova obtida ilicitamente pode ser considerada se em proveito de um bem maior. 
A seguir, vejamos um exemplo. 
A réu prova sua inocência mediante uma interceptação telefônica irregular. Temos então dois valores conflitantes: a liberdade do réu e o direito à intimidade, violado pela interceptação telefônica. Nesse caso, tem-se entendido que, sendo a liberdade um bem mais precioso que a intimidade, justifica-se a violação desta em proveito daquele. 
Outra questão complicada é quando a prova, embora lícita, tem origem em outra prova, esta ilícita; é a denominada prova ilícita por derivação. Imaginemos o seguinte caso: Caio é conhecido pela Polícia como traficante de drogas, mas contra ele a Polícia não tem nenhuma evidência que justifique um inquérito policial. O agente Ferrabrás, sem nenhum mandado, invade a residência de Farias, irmão de Caio, e, mediante emprego de técnicas de tortura, consegue que Farias indique onde Caio guarda os entorpecentes. Ao chegar ao local, Ferrabrás encontra grande quantidade de substância entorpecente, além de equipamentos para endolação, refino e anotações do movimento do tráfico. Com base nessas anotações, a equipe de investigação consegue chegar a vendedores e consumidores de droga. 
O problema, nesse caso, é que as provas lícitas (os entorpecentes encontrados, as anotações, as pessoas e os objetos a que a equipe chegou graças a essas anotações) se originaram de um fato ilícito, qual seja, a invasão do domicílio de Farias e a tortura que lhe foi impingida. Nesse caso, a doutrina ensina que o vício da prova inicial se estende às demais provas, mesmo que essas últimas sejam lícitas, contaminando-as. É a chamada “teoria dos frutos da árvore envenenada”, do direito americano: se a planta está envenenada, também estarão os seus frutos. 
Assim, as evidências inquestionáveis e mesmo a situação flagrancial dos envolvidos poderiam estar comprometidas em razão de um vício inicial. 
Portanto, atenção! 
O primeiro cuidado que devemos tomar com a prova é o momento de sua produção. De nada adiantarão todos os cuidados dispensados à preservação da prova se sua produção estiver contaminada pelo vício da ilegalidade. Nesse caso, não apenas essa prova como todas as que dela se originarem poderão ser anuladas, comprometendo toda a investigação criminal e esvaziando as chances de sucesso de uma possível ação penal.
AULA 03
Coleta de Provas: Cuidados e Procedimentos.
Introdução:
Na aula anterior, estudamos o contexto da prova na investigação criminal. Vimos que o principal cuidado na coleta da prova está relacionado à sua legalidade, pois uma prova coletada de forma irregular pode ser invalidada, bem como as provas decorrentes dela, podendo com isso comprometer toda a investigação criminal e levar à impunidade do(s) criminoso(s). Nesta aula, vamos estudar mais detalhadamente os procedimentos que envolvem a coleta e a produção dos diferentes tipos de prova. Você vai aprender que o meio de coleta ou produção é determinado pelo tipo de prova. Por exemplo: enquanto uma mancha de sangue é coletada por um perito, um depoimento é colhido pelo investigador cartorário. Finalmente, você vai aprender a distinguir que o trabalho de coleta se divide em fases distintas: reconhecimento, documentação, coleta propriamente dita, transporte e preservação. Vamos conhecer então como são produzidos ou coletados os diferentes tipos de prova?
Provas periciais:
As provas periciais se enquadram na classe das provas materiais, também chamadas de provas reais, e são colhidas pela Polícia Técnico-Científica.
A perícia pode ser realizada em qualquer fase do processo, do inquérito à execução. Na fase policial (inquérito policial), é realizada por determinação da autoridade policial.
Com o oferecimento da denúncia, a perícia é realizada por determinação da autoridade judicial.
A exceção se dá com a perícia de insanidade, que, mesmo na fase policial, é realizada somente por determinação da autoridade judicial.
O resultado do trabalho do perito é o laudo pericial.
Tipos de perícia:
Existem vários tipos de perícia. Veja alguns deles, abaixo, de acordo com os casos indicados.
Pessoas:
No caso de pessoas, podemos ter um laudo de exame cadavérico ou um auto de exame de corpo de delito.
O exame de corpo de delito, por sua vez, também se subdivide em diferentes modalidades: lesões corporais, conjunção carnal, entre outras.
Objetos:
Quando o objeto da perícia é uma coisa, e não uma pessoa, a gama de modalidades é ainda maior. 
Coleta de Material Humano:
Em nosso estudo, vamos nos limitar à datiloscopia, que se baseia em alguns princípios ligados às propriedades dos desenhos datiloscópicos:
Impressões digitais:
São marcas deixadas por nossos dedos quando tocamos em alguma coisa.
Observe as partes internas da ponta de seus dedos: você verá que elas apresentam desenhos; por meio destes, podemos identificar uma pessoa.
Esse processo é denominado datiloscopia.
A datiloscopia é uma parte da papiloscopia, que conta ainda com a quiroscopia (identificação através da palma da mão) e com a podoscopia (identificação através da planta do pé). 
As impressões digitais são submetidas a dois critérios principais de classificação: 
O primeiro critério é o mais genérico, está relacionado ao aspecto global da impressão digital. Nesse aspecto, encontramos quatro tipos básicos: arco, presilha interna, presilha externa e verticilo. 
Se, ao compararmos duas impressões digitais, os aspectos globais (grupos) não coincidirem, podemos afirmar que não se trata da mesma pessoa.
Caso coincidam, passamos para o segundo critério que é o exame das minúcias, ou seja, das peculiaridades dos desenhos digitais. 
Para colher as impressões digitais, o perito papiloscopista deve, além da técnica, valer-se da atenção e da experiência. As impressões podem ser encontradas em objetos que foram movimentados ou tocados pelo autor do crime. Nesse caso, deve-se atentar inicialmente para objetos que aparentarem estar fora do lugar. 
Nos objetos, o perito papiloscopista pode encontrar impressões visíveis ou ocultas: 
Impressões visíveis: 
Ocorrem, por exemplo, quando a mão que as formou estava suja de sangue ou de tinta; 
Impressões ocultas: 
Sópodem ser identificadas analisando vestígios de suor deixados no local. 
Existem várias técnicas para a coleta de impressões digitais, sendo a chamada “técnica do pó” a mais utilizada. A escolha da técnica depende, fundamentalmente, da superfície e do tempo em que a impressão foi depositada. Antes ainda do cuidado em relação à técnica a ser empregada, deve-se atentar para a manipulação e para o acondicionamento do objeto que contiver a impressão digital para que esta não seja destruída ou contaminada. 
A escolha da técnica errada, além de frustrar a identificação, normalmente acaba por destruir a impressão digital.
Sangue e sêmen:
O sangue em estado líquido deve ser coletado com o auxílio de uma seringa, uma pipeta automática ou um conta-gotas, devendo ser armazenado em um tubo de ensaio.
Se o sangue a ser coletado tiver de ser extraído da vítima, o procedimento deve ser feito pelo médico-legista, um perito que é também um profissional da área da saúde.
Os materiais devem estar estéreis.
Se o sangue estiver coagulado, deve ser coletado com o auxílio de uma espátula e armazenado preferencialmente em um recipiente de vidro. Espátula e recipiente devem estar estéreis.
As manchas de sangue armazenadas em tecidos e em pequenos objetos devem ser removidas na forma em que estiverem (roupas, lençóis, livros etc.). Se o objeto for muito grande, de difícil remoção, a região em que estiver a mancha deve ser destacada e removida. 
Se isso não for possível, a superfície deve ser previamente documentada por fotografia e relatório e então raspada ― no caso de uma parede ― com uma ferramenta estéril e adequada à superfície em questão.
Em relação ao sêmen, os procedimentos são idênticos aos adotados na coleta do sangue, observando as diferenças relativas ao estado líquido, impregnado em tecidos, em objetos ou ainda caso o material tenha de ser coletado da própria vítima.
As manchas de sangue, sêmen, urina e saliva também podem ser coletadas com swabs (espécie de cotonete esterilizado e com haste comprida). São estéreis e de grande capacidade absorvente, retendo facilmente os fluidos celulares. Após a coleta, basta esfregar vigorosamente os swabs nas lâminas de microscópio, compondo os chamados “esfregaços”. 
Deve-se evitar o uso de fixadores ou reagentes, que podem comprometer a qualidade das amostras ou mesmo inutilizá-las.
Urina e saliva:
Se estiverem em estado líquido, a urina e a saliva devem ser armazenadas em garrafas plásticas ou de vidro estéreis, de preferência em vidro.
Se estiverem sob a forma de manchas ou impregnadas, devem ser coletadas utilizando-se os mesmos procedimentos e cuidados referidos para o sangue e para o sêmen.
Um cuidado a ser observado: sempre que possível, as amostras devem ser isoladas de fontes de luz e calor, que podem deteriorá-las rapidamente.
Fios de cabelo, ossos e outros tecidos:
Fios de cabelo devem ser coletados com o auxílio de pinças, devendo-se utilizar amostras que contenham a raiz do fio. Devem ser armazenados em papel com a identificação do local do corpo de onde foram retirados.
Para armazenar fios de cabelo, não se deve utilizar fitas adesivas ou qualquer outro material, pois podem danificar e até inutilizar a amostra. 
Já para evitar perdas, basta armazená-la em envelopes ou dobrar o papel.
No caso de ossos (de cadáver), deve-se procurar tecido compacto e que ainda não esteja deteriorado em virtude da ação de bactérias ou fungos, devendo-se evitar tecido ósseo negro ou esverdeado.
Quanto à amostra, deve-se dar preferência a tecidos ósseos das costelas, do fêmur ou da mandíbula.
Armas de fogo e munições:
O primeiro cuidado a ser tomado quando coletamos ou manuseamos esse tipo de prova é que a arma de fogo deve ser recolhida pelo cano, e não pela coronha, pois é nela que, graças à empunhadura, normalmente ficam as impressões digitais de quem manuseou a arma.
Se o perito tocar na coronha, pode inutilizar essas impressões. É recomendável ainda a utilização de luvas.
Os estojos deflagrados, se houver, devem ser recolhidos com pinças.
Estojos deflagrados são vestígios de grande interesse não apenas pelas marcas deixadas pela arma por ocasião do disparo (extrator e/ou percussor), mas também, ou sobretudo, pelas marcas deixadas pelo próprio atirador, pois quem municiou a arma normalmente é o atirador e raramente usou luvas para isso. Assim, esses estojos são prováveis fontes de impressões digitais.
O manuseio desses estojos tem de ser feito com extremo cuidado para que eventuais fragmentos de impressões digitais não sejam destruídos.
Quanto aos projéteis, se estiverem destacados, devem ser recolhidos com pinças, da mesma forma que os estojos.
No entanto, se o projétil estiver incrustado em paredes, portas ou outros objetos, o perito deve retirar o pedaço da parede, do madeiramento ou do objeto em que o projétil se encontrar.
Caso seja destacado da superfície em que estiver incrustado, o projétil pode ser danificado, o que inviabilizaria o exame pericial.
O projétil tem diâmetro ligeiramente superior ao do cano da arma, de forma que ele sai “prensado”. Esse atrito gera marcas tanto na arma quanto no projétil. A maioria das armas tem o cano raiado, o que imprime um movimento de rotação ao projétil quando este passa pelo cano. A ação dessas raias também deixa marcas características.
Resíduos de substâncias:
Diversas substâncias como venenos, remédios e outras, podem ter interesse pericial.
Devem ser recolhidas com material adequado e armazenadas de acordo com sua natureza para que mantenham suas propriedades.
Esses resíduos podem ser encontrados na própria vítima, no autor ou ainda no ambiente.
Exemplo:
Após efetuar o disparo de uma arma de fogo, o autor fica com sua mão impregnada de vestígios de pólvora, que permanecem durante alguns dias, mesmo após lavagens e esfregaços. 
Esses vestígios não são visíveis a olho nu, mas podem ser detectados com o auxílio de instrumentos.
Outro exemplo: em caso de envenenamento, muitas vezes a vítima expele parte da substância que foi ingerida ou inalada.
Provas testemunhais:
A prova testemunhal também recebe o nome de subjetiva. Diferentemente da prova pericial, ou real, esse tipo de prova não é incontestável.
A declaração prestada pela testemunha pode se revelar falsa ou incompleta, ocasião em que a testemunha responderá pelo crime de falso testemunho.
Veja o que diz o Código Penal:
Falso testemunho ou falsa perícia.
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral (Redação dada pela Lei n. 10.268, de 28.8.2001).
Pena ― reclusão, de um a três anos, e multa.
Observe que não apenas a testemunha, mas ainda o perito, o contador, o intérprete e os demais profissionais envolvidos no processo também podem cometer o crime de falso testemunho ou falsa perícia.
O informante:
Em uma “zona nebulosa” entre profissionais e testemunhas, encontramos o informante (figura que pode ser indispensável ou desastrosa para a investigação).
O informante é uma fonte não oficial da investigação criminal. Ele não tem nenhum vínculo com as instituições de Segurança Pública, tampouco presta algum compromisso legal. Suas informações nem sequer podem ser utilizadas para instruir o inquérito policial. A confiabilidade de suas informações também é duvidosa e, ainda assim, são elementos preciosos na investigação criminal.
O informante não é uma testemunha, a não ser que tenha presenciado o fato, ocasião em que deverá ser convocado formalmente a prestar declarações, mas tem informações complementares a respeito do autor, da vítima, das circunstâncias e da motivação que podem nortear a investigação preliminar e formular as hipóteses iniciais.
As informações prestadas podem ser de grande relevância, mas o investigador deve sempre se questionar sobre qual seria a real motivação do informante:
Interesse financeiro? Consciência? Dever cívico? Vingança? Paixão?
Exemplo:Vanessa Caroline Alcântara, após ser abandonada, denunciou todo o esquema de corrupção na Prefeitura de São Paulo, onde seu ex-amante Alexandre Cardoso Magalhães (fiscal) estaria envolvido, deflagrando uma grande investigação. 
O informante pode, na verdade, estar tentando prestar uma contrainformação, desviando o foco da investigação, no intuito de proteger o verdadeiro autor ― por amizade ou interesse em relação a este último ― ou incriminar algum desafeto.
Por exemplo, o informante pode indicar como pedófilo ou estuprador um vizinho, colega de trabalho ou síndico do prédio com o objetivo de criar-lhe um constrangimento perante vizinhos, familiares ou colegas de trabalho.
Algumas vezes, porém, ainda que o informante não esteja motivado por um sentimento nobre, as informações prestadas podem ser verdadeiras.
Por exemplo, a amante que, desprezada pelo criminoso, se vinga fornecendo detalhes acerca de sua localização, estocagem de armas, drogas etc.
Os dados coletados por intermédio de informantes não servem como prova, mas podem indicar onde encontrá-las. O investigador nunca deve desprezar essas informações, tampouco dar-lhes credibilidade, sendo prudente sempre verificá-las da forma mais discreta possível.
Tenha em mente que diligências mal planejadas, baseadas tão somente em informações temerárias, podem comprometer a credibilidade de toda a investigação.
A testemunha:
A entrevista de uma testemunha fornece ao investigador uma prova subjetiva.
O investigador deve ter em mente que, diferentemente das provas reais, a veracidade do conteúdo das declarações de uma testemunha pode não se confirmar.
Por outro lado, ao prestar o compromisso legal, a testemunha sujeita-se às penas do crime de falso testemunho ou falsa perícia caso preste falsa informação ou omita a verdade, enquanto o informante, pelo próprio caráter informal de suas informações, não está sujeito a penalidades em caso de falsas declarações.
É muito importante que o investigador esteja previamente preparado para a entrevista, inteirando-se dos fatos e determinando o que deseja que seja esclarecido pelo entrevistado.
Infelizmente, em virtude da carga de procedimentos sob a responsabilidade de nossos investigadores, esse cuidado raramente é adotado e, quando o é, normalmente se dá em casos de mais repercussão.
O investigador deve ainda verificar previamente a confiabilidade da testemunha. Antes de começar a entrevista propriamente dita e sem que o entrevistado saiba, deve fazer perguntas cujas respostas já conheça a fim de traçar um perfil comportamental e de confiabilidade da testemunha.
Além das palavras, a linguagem corporal do entrevistado, representada por gestos, cacoetes e expressões, diz muito sobre sua autenticidade, podendo confirmar ou contradizer o que estiver sendo verbalizado.
Provas documentais:
No contexto da investigação criminal, documento não deve ser entendido apenas de forma stricto sensu, como identidade, CPF, certidão de nascimento ou de casamento etc.
Devem ser considerados, por exemplo: contratos, fotografias e até e-mails.
Moacyr Amaral Santos (2011) define documento como:
“coisa representativa de um fato e destinada a fixá-lo de modo permanente e idôneo, reproduzindo-o em juízo”.
Essa definição torna extremamente abrangente o conceito de documento para o processo civil e, por tabela, para o processo penal, objeto de nosso estudo.
Na esteira desse raciocínio, podemos concluir que o documento de que tratamos pode ser público ou particular.  
Os documentos públicos podem ser de origem judicial, notarial ou administrativa.
Os documentos particulares representam uma gama bem maior, podendo ser representados por contratos, cartas, fotografias etc.
Exemplo:
Imagine uma operação contra o tráfico de drogas em uma determinada comunidade. 
Entre outras coisas, apreende-se na comunidade um caderno contendo várias anotações, a chamada “contabilidade do tráfico”. 
Essas anotações constituem uma prova documental.
Gravações de circuito interno de TV:
A gravação de um vídeo pode servir de prova documental de duas formas:
A primeira, quando é utilizada para documentar o local, identificar vestígios e evidências sem necessidade de manuseá-los.
É aconselhável aos peritos que, antes de manusear e arrecadar os vestígios, documentem a cena do crime com fotografias e filmagens.
Outra forma de se utilizar um vídeo como prova documental é quando imagens de circuitos de TV registram a prática de uma ação criminosa.
Em uma sociedade cada vez mais vigiada, frequentemente câmeras instaladas em residências, comércio e prédios em geral acabam por captar alguma prática delituosa. Essas câmeras podem ainda estar instaladas em alguma repartição pública ou fazer parte de um sistema de segurança pública.
Um exemplo de como as imagens captadas pelas câmeras de segurança podem ser determinantes é o caso do assassinato da juíza Patrícia Acioli em 11/8/2011. Na ocasião, a polícia utilizou imagens de várias câmeras instaladas no trajeto entre o Fórum de São Gonçalo (RJ), onde a juíza trabalhava, e a região oceânica de Niterói(RJ), onde ela morava. 
Veja em: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/09/cameras-mostram-ultimos-passos-de-juiza-antes-de-assassinato-no-rj.html
AULA 04
Cena de Crime: Delimitação, Isolamento e Preservação.
Introdução:
Nesta aula, vamos estudar um dos maiores obstáculos para o sucesso de uma investigação criminal: a não preservação ou a preservação inadequada da cena do crime. Infelizmente, no Brasil, ainda não temos muito desenvolvida a cultura da necessidade de um isolamento correto e de uma preservação de qualidade. Os policiais que atuam na rua e que, em geral, são os primeiros a chegar ao local raramente possuem noções de isolamento e preservação da cena do crime. Quando as têm, muitas vezes isso se dá por iniciativa própria, e não pela disponibilidade das instituições em oferecer treinamento.
Cena do crime:
Quando ocorre um crime, a autoridade policial deve ser acionada imediatamente. Se houver pessoas feridas, o socorro deve ser acionado com mais prioridade ainda. 
Infeliz e estranhamente, é comum as pessoas inverterem a ordem e acionarem a Polícia antes de providenciarem o socorro à(s) vítima(s).
De qualquer forma, ainda que o socorro a eventuais vítimas seja prioritário, a presença da autoridade policial é imprescindível, pois é ela que determinará as diligências a serem realizadas e acionará a perícia.
Veja o que nos diz o Código de Processo Penal a esse respeito:
Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I ― dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei n. 8.862, de 28.3.1994 - Vide Lei n. 5.970, de 1973).
Observe que o texto legal diz que a autoridade policial deverá dirigir-se ao local. No entanto, isso só se verifica em casos de grande repercussão, pois, dado o número de ocorrências, seria inviável que a autoridade policial se dirigisse pessoalmente a cada uma delas.
Aqui esbarramos em um ponto polêmico: quem é a “autoridade policial”? Analisemos os dispositivos a seguir:
Código de Processo Penal:
“Art. 4º. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria.”
“Art. 301. Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.”
Constituição da República Federativa do Brasil:
“Art. 144, § 4º ― às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.”
A autoridade policial, para os cidadãos:
Dos dispositivos legais listados, extraímos a ideia de que autoridade policial é sinônimo de delegado de Polícia. 
Para fins de inquérito e processo judiciais, essaideia está correta; o art. 301 do Código de Processo Penal distingue claramente autoridade policial de agente. No entanto, na prática policial, sobretudo quando estamos diante do atendimento ao público, esse conceito de autoridade é extensivo aos agentes.
A população vê, em cada agente policial, a figura representativa do Estado. Portanto, se, em sentido estrito, para fins processuais, o conceito de autoridade policial é limitado aos delegados de Polícia, em sentido amplo, todo e qualquer agente policial carrega a representação dessa autoridade.
Indo mais além, apesar de, na maioria das vezes, o primeiro agente a chegar ao local ser um policial militar ou civil, algumas vezes, agentes das guardas municipais presenciam ou mesmo são acionados por populares para se dirigirem a um local de crime.
Nesse último caso, até por a Guarda Municipal da maioria das cidades brasileiras não ter armamento letal, os agentes costumam solicitar apoio das polícias Militar e Civil, mas isso não muda o fato de que foram eles os primeiros a chegar à cena do crime. O que fazer? O que não fazer?
Definição de “cena” ou “local” de crime:
O que você entende por local de crime? É o lugar onde ocorreu determinado delito? Suas adjacências? Como determinar esse perímetro?
Para efeitos de isolamento e preservação, local de crime é muito mais do que apenas aquele lugar pontual onde o crime ocorreu. É o perímetro em que a totalidade dos vestígios pode ser encontrada; por isso, preferimos denominar de cena do crime.
Em outra definição, Eraldo Rabello define local do crime como:
“(...) a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por origem o ponto no qual é constatado o fato, se entenda de modo a abranger todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumidamente, hajam sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares ou posteriores à consumação do delito, e com este diretamente relacionado”. (apud Dias, 2010).
Definir cena ou local de crime é importante na medida em que é nessa área que será delimitado o perímetro no qual os peritos forenses realizarão o trabalho de identificação e coleta de vestígios.
A natureza desse material varia em função do tipo de crime cometido. Crimes contra a pessoa (homicídio, lesão corporal, estupro), por exemplo, deixam vestígios diferentes entre si e muito mais diferentes em relação a outro grupo de crimes, como os crimes contra o patrimônio (roubo, furto, dano).
Como delimitar o perímetro da cena do crime?
De fato, não é uma tarefa fácil. Além de conhecimento técnico, é preciso uma boa dose de experiência policial. 
Esse trabalho deve ser feito imediatamente, tem de ser rápido, costuma ser realizado sob pressão e, com frequência, envolve risco físico. Deve contar ainda com um número reduzido de agentes.
A cena do crime pode ter qualquer forma. Além disso, pode ser uma área externa, interna ou ambas. Um crime pode começar, por exemplo, dentro de uma residência e se estender até a rua ou vice-versa.
Partindo do ponto em que o crime foi praticado, o perito deve traçar um raio que contemple todos os locais onde atos diretamente relacionados ao crime tenham sido cometidos e onde vestígios possam ser encontrados. É conveniente expandir esse perímetro um pouco além do último vestígio, pois, nesse primeiro momento, alguns vestígios provavelmente não foram visualizados. 
Na dúvida, sempre delimite o maior perímetro: havendo necessidade, é muito mais fácil reduzi-lo que ampliá-lo posteriormente.
No caso de um crime de homicídio, por onde começar? 
Pelo cadáver, obviamente. Afinal, não é ele o principal objeto do crime? Só não é o único. Quantas pessoas praticaram o crime? Que instrumento(s) foi (foram) utilizado(s)? Quais foram os atos preparatórios e onde foram praticados? Quais foram os atos posteriores e onde ocorreram? 
Essa área pode ser limitada a um automóvel ou abranger várias residências e ruas.
Isolando a cena do crime: importância e dificuldade.
Agora que você entendeu o conceito de cena de crime, chegamos ao ponto crítico: isolar o local a fim de preservar os vestígios. 
Por que a preservação desses vestígios é tão importante?
O trabalho dos peritos depende da preservação. 
Futuramente, o sucesso do processo judicial dependerá da correta instrução criminal. Esse sucesso não representa, necessariamente, a condenação do culpado; pode consistir na absolvição do inocente que injusta ou equivocadamente foi apontado como autor do fato. 
Então, em última análise, da preservação dos vestígios pode depender a aplicação da justiça. 
No entanto, preservar os vestígios não é uma tarefa simples.
A delimitação e a preservação do local da cena do crime são o primeiro passo e um dos mais importantes ― se não o mais importante ― na investigação criminal. 
É com base no estudo desse local que serão iniciadas as investigações. Vejamos outras considerações do perito Eraldo Rabello sobre o local de crime:
“(...) constitui um livro extremamente frágil e delicado, cujas páginas, por terem a consistência de poeira, desfazem-se, não raro, ao simples toque de mãos imprudentes, inábeis ou negligentes, perdendo-se desse modo para sempre os dados preciosos que ocultavam à espera da argúcia dos peritos” (apud ESPINDULA, 2009).
As fases do isolamento:
A delimitação do local de crime é feita de acordo com a natureza da ocorrência (homicídio, crime de trânsito, estupro, etc.).
O isolamento e a preservação da cena de crime abrangem três fases principais.
Os intervalos entre essas três fases devem ser os menores possíveis.
1ª Fase:
É aquela compreendida entre a ocorrência do crime e a chegada do primeiro agente policial, que será responsável pela delimitação preliminar e pela preservação do local. Esse momento é extremamente crítico em virtude de eventuais riscos à segurança, da curiosidade natural das pessoas, das eventuais tentativas de socorro e da ação deliberada do(s) próprio(s) autor(es), que pode(m) forjar ou ocultar evidências e, assim, inviabilizar a determinação da autoria e comprometer o sucesso da investigação criminal. 
O primeiro profissional que chegar ao local deve identificar e controlar qualquer situação que represente risco à segurança e à integridade de si mesmo, de vítimas e de civis que estejam na cena do crime.
2ª Fase:
É representada pelo período entre a chegada do primeiro agente policial e a chegada da autoridade policial. A principal dificuldade, nesse período, é a falta de conhecimento, por parte do agente, dos procedimentos corretos para a delimitação e a preservação do local. Conforme já mencionado, raramente os agentes policiais possuem formação sólida nesse campo.
3ª Fase:
Compreende o período entre a chegada da autoridade policial e a chegada dos peritos. Aqui o conhecimento e a experiência da autoridade policial são extremamente importantes para confirmar a delimitação do local ou estabelecer um novo perímetro, bem como identificar os aspectos mais importantes a serem preservados.
Dificuldades normalmente encontradas:
A primeira pessoa a chegar ao local provavelmente não é o primeiro agente policial. Quase sempre o lugar já está repleto de curiosos, jornalistas, familiares, amigos etc., que devem ser retirados do perímetro. É comum haver grande resistência e, por vezes, até agressividade das pessoas durante esse processo, o que, além de tomar tempo, pode distrair o agente enquanto pessoas mal-intencionadas deliberadamente adulteram a cena do crime.
O primeiro profissional a chegar ao local dificilmente será um perito. Normalmente é um policial ou bombeiro militar. Algumas instituições não se preocupam com a formação dos profissionais de ponta, e o aspecto de isolamento e de preservação de local vem se revelando um dos mais críticos dessa formação deficiente.
Quando a vítima, o próprio autor ou terceiros estiverem feridos, o socorro tem absoluta prioridade. O socorro a eventuais vítimas vivas sobrepõe, naturalmente, a necessidade de preservação do local. Efetuado o socorro, o local deve ser isolado e preservado.Nesse caso, é muito importante que o policial informe o trajeto feito por ele e pelos socorristas aos peritos para que estes não percam tempo analisando vestígios ilusórios, deixados por ocasião do socorro à(s) vítima(s).	
A presença da imprensa:
Você já deve ter observado: onde há crime há notícia, e onde há notícia há profissionais da imprensa. A presença da imprensa no local de crime é um importante fator a ser considerado. 
As dificuldades estão relacionadas a dois pontos: a urgência com que os jornalistas têm de veicular a notícia e o desconhecimento dele e dos policiais sobre os procedimentos a serem adotados para preservar o local de crime.
Por outro lado a imprensa pode ser utilizada em colaboração, no sentido de prover iluminação noturna, fornecer fotografias e imagens, ou seja, suprindo, muitas vezes, carências de pessoal e de material de nossas instituições policiais.
É preciso, portanto, na medida do possível, respeitadas as atribuições funcionais de cada profissional, boa comunicação e colaboração.
Documentando a cena: a volatilidade dos vestígios.
A cena do crime é extremamente instável. Muda a todo instante e não há nada que se possa fazer para impedir essa volatilidade. Intempéries e decurso de tempo modificam vestígios. 
Qual seria o primeiro passo do perito?
Antes de iniciar a perícia propriamente, antes de tocar ou mover objetos e vítimas fatais, o perito deve documentar por meio de esquemas, fotografias e filmagens tudo o que encontrar no local. Esse procedimento visa preservar a prova para que ela possa ser repetida em juízo.
Além disso, após a coleta dos vestígios, a cena do crime será totalmente desfeita e não será mais possível reproduzi-la com precisão sem os devidos registros. Assim, a documentação preserva a cena do crime, “imortalizando-a”.
Tipos de registro da cena:
Registro de apontamento:
O perito deve fazer um registro de apontamento contendo informações sobre o local (Localização, condições climáticas, luminosidade, pessoas e objetos presentes e suas respectivas condições e posições), a qualificação das pessoas presentes, até a própria perícia (data e hora da chegada, peritos responsáveis, ações realizadas e equipamentos utilizados), além de outros dados que considerar relevantes.
Registro fotográfico:
Outro tipo de registro que o perito deve fazer no local, antes de iniciar a perícia propriamente, é o fotográfico. Esse registro deve conter o máximo de detalhes da cena do crime.
Itens que devem ser registrados nas fotografias:
O local em si, contextualizado: por exemplo, uma casa, um veículo ou um cadáver na rua e em suas imediações, de forma que a foto permita contextualizar a cena em sua vizinhança;
Fotos de diferentes ângulos: no caso de um cadáver, é importante registrar as lesões (ferimentos, fraturas, hematomas, concussões, orifícios de entrada e saída de projéteis etc.) e sua posição; no caso de uma residência, o cômodo onde ocorreu o fato, as entradas e saídas do cômodo e da residência etc;
Fotos de pessoas presentes no local que podem, futuramente, ser indicadas como testemunhas ou reconhecidas como suspeita(s);
Objetos e vestígios devem ser fotografados de média e curta distância para que possam ser visualizados no contexto da cena (média distância) e detalhadamente (curta distância). Nas fotos de curta distância (close-up), o objeto deve ser fotografado ao lado de uma régua para que se possa ter ideia de suas dimensões. Objetos danificados ou que pareçam estar fora do lugar devem receber atenção especial;
Rastros, pegadas, marcas de pneu e afins devem ser fotografados. Nesses casos, também é indicado o uso de escalas.
Documentação no croqui:
Por fim, o perito deve desenhar um croqui da cena do crime.
As pessoas, os objetos, suas dimensões e posições são representados graficamente.
Volatilidade da cena do crime:
Conforme já vimos a pouco, a cena do crime é instável. Pode ser deteriorada naturalmente ou por ação humana:
Com o rápido e correto isolamento do local, é possível evitar ou pelo menos reduzir sensivelmente a parcela de deterioração determinada pela ação humana.
Os próprios peritos, ao examinarem e recolherem vestígios, necessariamente modificarão a cena do crime, deixando vestígios próprios e levando outros consigo. A ação de socorristas também costuma alterar drasticamente a cena do crime, mas sua presença não pode ser evitada ― cabe repetir: o socorro às vítimas é prioridade absoluta.
Em relação à ação humana, o que os peritos podem fazer é o correto isolamento, que deve ser providenciado pelo primeiro profissional de segurança pública a chegar ao local, e o planejamento minucioso, bem como o devido registro de toda e qualquer movimentação na cena do crime; por exemplo, a ação dos socorristas e dos próprios peritos.
A cena do crime ainda pode sofrer alterações em decorrência de intempéries ou do simples decurso de tempo:
Chuva, sol, calor e umidade são capazes de produzir mudanças e até destruir boa parte dos vestígios. Sangue, saliva, sêmen, restos de alimento etc. são vestígios que se deterioram naturalmente com o passar do tempo.
Em relação à ação do tempo, tudo o que se pode fazer é buscar o menor intervalo possível entre as fases do isolamento, como visto nesta aula, planejar a movimentação de agentes e socorristas no local para que seja feito o menor trajeto possível e, sobretudo, fazer a documentação completa e minuciosa da cena do crime antes de tocar ou movimentar qualquer objeto ou vestígio.
A questão da segurança na cena do crime:
Quando falamos em segurança na cena do crime, devemos pensar em dois aspectos:
Segurança pessoal:
Como vimos, a segurança pessoal é prioritária e o primeiro profissional a chegar ao local deve adotar imediatamente as medidas necessárias para identificar e neutralizar os riscos a segurança, a sua, a dos demais agentes, a de eventuais vítimas e a de terceiros presentes nas proximidades. 
Vejamos alguns exemplos de risco a que as pessoas que trabalham em uma cena de crime podem ser expostas: 
Risco químico: 
Dependendo da atividade ilícita que era realizada (laboratórios clandestinos, por exemplo), podemos encontrar substâncias químicas como pós, solventes e gases. 
Risco biológico: 
Sangue, fluidos corporais e outras substâncias podem conter microrganismos nocivos. 
Risco estrutural: 
Estruturas colapsadas em virtude de desgaste, má construção, incêndios ou explosões podem apresentar consideráveis riscos de desabamento. 
Outros riscos: 
Os profissionais podem ainda estar sujeitos a muitos outros riscos, como objetos (pedras, ferragens, substâncias tóxicas ou radioativas, armadilhas e explosivos não detonados), terreno acidentado (buracos, valas, cursos e espelhos-d’água, declives), elementos (água, eletricidade, fogo, fumaça, radiação) e pessoas (autor, comparsas e até parentes da vítima e civis exaltados).
Segurança da cena do crime para evitar sua adulteração:
Um ponto que deve ser observado e que abrange esses dois aspectos é o comportamento relativamente comum do criminoso de retornar ao local do crime. Ele pode retornar para assegurar-se do sucesso de sua ação criminosa, para adulterar a cena do crime ou ainda para coagir eventuais testemunhas, ameaçando-as.
A segurança pessoal dos profissionais e de terceiros se sobrepõe ao interesse processual. Eventuais procedimentos necessários para garantir a saúde e a segurança das pessoas no local, como fornecimento de equipamentos de proteção individual ou intervenções do Corpo de Bombeiros, devem ser adotados antes mesmo de se iniciar o levantamento da cena do crime.
Resumindo:
O grande objetivo da preservação da cena do crime é evitar a contaminação e a adulteração das evidências no local até que todo o trabalho de perícia seja realizado. Esse trabalho de preservação deve ser iniciado com a maior brevidade possível logo que o primeiro agente da autoridade policial tiver conhecimento do fato.
O primeiro agente da autoridade policial que chegar ao local deve providenciar o socorro à(s) vítima(s)

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