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Universidade Federal da Paraíba
Centro Acadêmico de Educação
Departamento de Ciências das Religiões
Arte Sacra Islâmica e Medieval 
Docente; Johnni Langer
Discente; Jocélia Fernandes Lima
O feminino na Arte Medieval 
O texto se consubstancia em comparar, na verdade, uma época e seus costumes e crenças e preconceitos ou conceitos que deixaram de ser atuais, com outra época posterior e é muito lógico e evidente que as diferenças se acentuem e não só pelo tempo transcorrido, mas principalmente, pelas modificações sociais inerentes à evolução do ser humano. Evolução essa que se descortina em todas as direções; social, psicológico, cientifico, religioso, humanista, sexual, trabalhista, operacional, enfim, podemos afirmar que, na passagem inexorável do tempo, o ser humano o acompanha se transformando pari passo e aperfeiçoando seu entendimento do universo que o cerca modificando o meio em que vive e adaptando-se a ele e adaptando também suas necessidades e compreensão de fatos e evidencias que já existiam juntamente com aquelas que vão surgindo. Também enfatiza a importância e crescimento que as artes tiveram nessa era medieval, originada, talvez, pela ausência de alfabetização na população e por considerarem a arte como uma forma de “escrita visual”. Sem duvida o domínio das coisas ditas cristãs e da igreja foram marca indelével nessa época e o poder já consumado do clero não só em termos de conduta, mas também financeiro, impôs, também, o “fashion” nas artes.
Não se pode negar quão lento é o processo de desmistificação das coisas e a personalidade sempre presente no ser, representado pelo homem, da sua inquietante procura pelo poder e pelo subjugar o próximo e sempre, também, à custa de o manter aprisionado na ignorância e pela conveniência. Mas, o foco aqui é a mulher e o seu papel representativo na sociedade de então e, pelo texto, desprende-se que, tanto um quanto outro, ignorância e conveniência, foram armas utilizadas para negar a condição de igualdade à mulher ou de seu reconhecimento como ser participativo e constitutivo da sociedade, pois “Nessa época, a maioria das ideias e dos conceitos era elaborada pelos eclesiásticos. Eles detinham uma visão dicotômica acerca da mulher, ou seja, ao mesmo tempo em que ela era tida como a culpada pelo pecado original na imagem de Eva, era também a virgem Maria, aquela que trouxera o Redentor pelos pecados ao mundo.” e que se faça constar que o sentido dado à palavra ignorância é, não só o de ausência de conhecimento, mas também o de brutalidade, incivilidade e rudeza. Nos dias de hoje, embora não de forma ideal, o papel da mulher é reconhecido em vários setores e sua representatividade junto à sociedade vem marcando presença cada vez maior, porém, nos tempos medievais “Mesmo tendo notícia de inúmeras mulheres do período medieval que se destacaram em vários setores da sociedade — educadoras, rainhas, médicas, astrólogas, teólogas, comerciantes e trabalhadoras braçais no trabalho agrícola — ainda não encontramos, em sua maior parte, citações de sua existência e participação na historiografia. De maneira geral, a representatividade e o valor dessas mulheres, que viveram no período medieval, ligadas a várias dimensões da sociedade, se perderam, pois “o que a história não diz, não existiu” (SWAIN, 2000, p. 13).” e só podemos justificar a lentidão desse processo pela morosidade com que as transformações sociais ocorrem, bem como pela natureza humana que, desde que existe, seu principal objetivo é conquistar espaço e poder pela dominação. O domínio da igreja católica e dos seus dogmas cristãos, principalmente em relação à sexualidade e a criação do pecado como estigma da raça humana, uma das maiores incoerências já vista, de vez que o pecado original seria o próprio nascimento do ser contradizendo em todos os sentidos a existência do amor de Deus e, por conseqüência, nossa filiação divina que também, ambas, são considerados máximas do cristianismo, determinaram o “mea-culpa” da mulher. Na verdade não se pode ver tal crime, senão pela ótica de se encobrir o que de real havia por detrás dessa tentativa de enclausurar a mulher na inverdade do pecado; o desejo e a sexualidade existentes no próprio homem e que apenas despertam com a presença dela. Homens e mulheres que pregavam a castidade e o casamento com Deus em Cristo como sendo a única maneira possível de se realizarem e como fazer sexo com Deus é de todo impossível, o que negavam a si próprios, então, seria pecado se praticado pelos outros. Se eu não posso, para você é pecado. “A Idade Média especificou um lugar para o erotismo na pintura: relegou-o ao Inferno! Os pintores da época trabalhavam para a Igreja. E para a Igreja, erotismo era pecado. A única maneira possível de mostrá-lo na pintura era como algo condenado. Apenas as representações do Inferno – só as imagens repulsivas do pecado – poderiam fornecer ao erotismo um lugar. (Ibidem, p. 156). Nesse sentido, havia muito pouca arte fora do campo da religião.” Deve-se acrescentar que não foi só na pintura que a ação de infernizar a sexualidade e o erotismo foi consumada uma vez que se admitirmos ser a arte um caminho de representar o ideal da realidade, a tarefa dessa mesma representação artística se refletiu na sociedade de então porque “A exibição prodigiosa da nudez feminina foi transformada em um alerta contra o pecado. (PANOFSKY, 1943, p. 71). Como podemos observar na obra de Friedrich Pacher (1460), a imagem em maior evidência é uma mulher (Eva) cercada por homens (Adão), personificando aquela que os induziu ao pecado. Friedrich Pacher. Christ in Limbo (1460). (HTTP:/ /www.wga.hu/).” Pecado que não é pecado e indução que não é indução porque só é induzido aquele que tem em si mesmo o objeto da indução. A igreja católica criou, ao longo de sua existência, dogmas ditos cristãos com a única finalidade de perpetuar seu poder e gloria diante e sobre os homens. E aproveitando-se, “Os homens, profundamente influenciados pelos dogmas religiosos, elaboraram uma imagem feminina negativa, num estigma constante de pecado. O pecado de Eva estendia-se a todas as mulheres, caracterizadas como essencialmente más.” e ainda mais “A misoginia na Idade Média ganhara força por intermédio dos manuais de caça aos/às hereges, que eram enviados para as fogueiras do Santo Ofício. A prática da bruxaria, considerada superstição e sortilégio, torna-se uma das principais metas da repressão, sendo considerada maléfica e demoníaca e relacionando-se intimamente com a natureza feminina. Portanto, nessa época cristaliza-se definitivamente a imagem da bruxa, causadora de malefícios aos homens (doenças, deformidades, esterilidade, impotência, transformações). Toda bruxaria tem origem na cobiça carnal, insaciável nas mulheres. Albrecht Durer. The Four Witches (1497). (http://www.wga.hu/).” Acreditem, a religião católica bem assim como a igreja que a representa, tem mais responsabilidade pela ignorância humana e pelo sofrimento originado dessa mesma ignorância do que sonha nossa vã esperança de sua utilidade. Devemos desacreditar de todo a misoginia e fortalecer a filoginia porque “A mulher é a Deusa, o homem é o Deus e a comunhão, a união de ambos pelo amor e pelo sexo é a completude do Divino, pois é a geração de vida e não pecado.”.

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