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A cultura visual do sagrado no medievo Cristão Católico

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A CULTURA VISUAL DO SAGRADO 
No Medievo Cristão Católico
João pessoa
2014
A Idade Média tem sido considerada como o maior repositório da arte sacra por ser o período em que a dominação da igreja se acentuou e se solidificou entre os homens. “A Idade Média foi o momento de desenvolvimento da produção das imagens no Ocidente cristão. As imagens serviam para representar os homens e a Deus, assim como ensinar aos homens a respeitarem a Deus. As imagens, mais rapidamente que as palavras, serviam também para ensinarem aos homens e as mulheres do período o que eram e o que diziam as escrituras sagradas. Mais que isso, elas antecipavam para as pessoas o que representava o pecado e a salvação, o que era o céu e o inferno, como era a ira divina e as dádivas do senhor. Em todas essas situações, para Jean- Claude Schmitt1, compreender a cultura visual e a produção de imagens na arte medieval, além de nos proporcionar um caminho para redescobrir quais os caminhos que as imagens fizeram no mundo ocidental e quais os significados que tiveram para os indivíduos, de que maneira a sociedade contemporânea, saturada de imagens, fez usos e abusos dos meios e dos significados que as imagens tiveram na Idade Média.” (Revista Diálogos Mediterrânicos www.dialogosmediterranicos.com.br Número 2 – Maio/2012). De maneira acentuada e firme a Igreja impôs e ditou regras de conduta, exerceu poder utilizando-se, de um lado, da ignorância precedida na época pela ausência de informação e interesse em adquiri-los pela leitura e pesquisa “Durante a Idade Média, o povo não possuía o hábito da leitura, visto que eram poucos os que tinham acesso à escrita e que podiam ler. Portanto, as artes visuais foram um dos principais meios encontrados, principalmente pela Igreja Católica, de passar para a sociedade os valores do cristianismo, pois a obra de arte, sendo uma forma de “escrita”, conduzia o olhar dos iletrados para o conhecimento do que se pretendia ensinar e expressar.” de outro se utilizando de seu potencial econômico privilegiado “Portanto, ao falar sobre arte enfocamos a época de seu maior desenvolvimento: a Idade Média, pois a maior parte da arte produzida na Europa, durante um período de cerca de mil anos, compõe-se da pintura medieval. A arte medieval, que nos chegou até os dias de hoje, tem um foco religioso, fundamentado no cristianismo. Essa arte era, muitas vezes, financiada pela Igreja; por figuras poderosas do clero, como os bispos; por grupos comunais, como os dos mosteiros; ou por patronos seculares ricos.” (Glória Maria D. L. Pratas Teóloga, mestranda na área de Bíblia, em Ciências da Religião, na UMESP e assistente editorial da EDITEO (Editora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista)). A necessidade do homem de identificar-se com uma entidade superior e poderosa, tão mais poderosa que ela tivesse poder pela vida e pela morte tornando-se, dessa forma, única, e assim, responsável direta pelas soluções de problemas menores aos quais ele, homem, estivesse sujeito por estar vivo e só em meio a um mundo repleto de novidades e desafios ininterruptos e à qual pudesse se socorrer fez com que admitisse e criasse a existência e a presença do divino. Sem meios de poder dar forma ou dimensão a essa existência desvendou-a através de personificações desse ente invisível por necessidade, através de expressões consubstanciadas pela sua fé e mais do que pela fé, pela necessidade de ter fé. O imaginário se faz presente, então, cuidando para que essa forma de expressão possa ser entendida e partilhada. E sua representação teria que ser feita de forma a ser facilmente entendida e nada melhor para alcançar esse objetivo do que a imagem, a arte de se expressar pela imagem e “Schmitt (2007) nos evidencia que: Todas as imagens, em todo caso, têm sua razão de ser, exprimem e comunicam sentidos, estão carregados de valores simbólicos, cumprem funções religiosas, políticas ou ideológicas, presta-se a usos pedagógicos, litúrgicos e mesmo mágicos. Isso quer dizer que participam plenamente do funcionamento e da reprodução das sociedades presentes e passadas. Em todos os aspectos, elas pertencem ao território de “caça” do historiador. (2007: 11) Portanto, as imagens transparecem aquilo que não está escrito e manifesta sobre aquilo que desconhecemos, e só a compreendemos a partir de um olhar iconográfico sobre ela, um olhar no qual a coloca num contexto, no qual damos uma finalidade. A imagem se situa na imaginação, pois ela representa e torna real aquilo que está somente no campo do sonho ou idealização, ou seja, torna visível aquilo que estava invisível. Sendo um estudo da mentalidade, e, por conseguinte, do imaginário da sociedade em que o ícone foi confeccionado.” Acrescente-se que “O estudo de imagens na história exige mais que uma simples leitura do que é visto, sendo necessária a análise da produção, das condições sociais, políticas e econômicas da sociedade em que esta floresceu.” e ainda quando consideramos a interpretação da obra de arte, temos que levar em conta a nossa própria maneira de vê-la e aprecia-la e que mensagem nos chega através dela. Numa das obras de Giotto, sobre o imaginário do nascimento de Maria, a mãe de Jesus, e de seu filho podemos entender melhor esse processo “Os traços de Giotto são marcantes e levam o espectador sentir como sujeito ativo da cena que observa. Cada quadro revela uma nova cena e representa o imaginário sobre as histórias retratadas, seja a partir dos livros canônicos ou advindos da tradição e dos livros apócrifos. A representação da vida de Maria, mãe de Jesus, na Capela Arena, leva o espectador a se inteirar acerca dos eventos anteriores e posteriores ao nascimento de Jesus, afirmando, assim a santidade da origem de Cristo, servindo como uma confirmação das fontes escritas cristãs.” (O Imaginário sobre o Nascimento Sagrado no Medievo pela visão de Giotto -Jacqueline Rodrigues Antonio - Graduada em História. Aluna do programa de especialização em História Social e Ensino de História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professora Auxiliar da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus Cornélio Procópio.). Quando nos propomos a estudar determinado assunto, nossa atenção deve ser estendida para levar em conta esse processo que também afeta o historiador ou dono da narrativa ou do estudo em questão porque isso é fundamental para que nosso entendimento sobre ele seja absorvido sem, contudo, absorver essa influencia ou, pelo menos, se o fizer que seja com a devida consciência de critica e análise mesmo que posteriormente. Nesse trecho (por Rita de Cássia Mendes Pereira, Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) “Para os laicos, mais próximos do paganismo, a decifração da pintura é como uma espécie de leitura. A imagem fixa a memória, na medida em que remete ao passado e o torna presente. Mediadoras entre o homem e o divino, as imagens presentificam as realidades invisíveis, que transcendem a realidade dos olhos.” existem afirmações e definições que, à primeira vista parecem ser lógicas e corretas, porém, trazidas à luz de uma melhor compreensão, percebe-se certo desencontro firmado mais pela retórica do que pelo conhecimento propriamente dito, isto é, a generalização do conteúdo da frase quando exposto a uma critica mais severa, mostra que nem todos que veem uma pintura a veem com olhos críticos de uma leitura intelectualizada e única, ao mesmo tempo em que não podemos presentificar realidades invisíveis posto que, sendo invisíveis não são realidades. Na medida em que se processa a evolução do ser humano em si mesmo, é muito natural, também, que ele traga consigo, e exija as transformações de suas próprias crenças, de seus medos e de seu conhecimento porque se o homem cresce e evolui tudo o que está à sua volta também cresce e evolui por força dessa metamorfose humana, ambulante e contínua no tempo e no espaço.E nenhuma coisa foge a essa regra, pois “Uma cronologia da imagem e de seu culto no Ocidente aponta para o fato de que não antes do ano mil é possível falar de um reconhecimento da sacralidade das imagens. Do ponto de vista dos usos e práticas cultuais envolvendo imagens, argumenta Schmitt, é possível detectar a existência de “normas” no alvorecer do século XI. A noção de normas implica, neste contexto, a própria aceitação do culto às imagens e a sua subordinação aos desígnios da instituição eclesial. Os milagres, controlados pelo poder eclesial, legitimam as imagens e determinam o limite aos seus cultos. Neste sentido, compreende-se a importância que o culto às imagens teve nos discursos heréticos, que o negavam, bem como negavam as prerrogativas sacramentais dos clérigos: (Resenha: SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens 237 - A contestação herética, sem dúvida, provocou por reação na Igreja as posições mais favoráveis ao culto e ao desenvolvimento das imagens religiosas, das quais se conhece aliás uma floração artísticas a partir do século 12. Ela também encorajou os clérigos a dar uma base teórica ao novo culto das imagens para conferir-lhe legitimidade (p. 73)). Pode-se considerar, portanto, que o desenvolvimento das práticas cultuais associadas a imagens foi estimulado, também, pelo aparecimento das heresias que, ao negá-las, exigiram da Igreja uma pronta resposta no sentido da sua afirmação. O culto às imagens atinge seu ápice no Ocidente no século XIII, com a escolástica – de onde advém a sua justificação religiosa – e com a difusão das ordens mendicantes, das confrarias laicas e das comunidades urbanas. A evolução da iconografia cristã está intimamente associada com a própria evolução da espiritualidade cristã, em especial com a afirmação da humanidade de Cristo e o desenvolvimento do culto à sua mãe. Neste momento, uma nova espiritualidade cristã, aberta à participação dos laicos, serviu de impulso a uma cultura visual cristã. a partir de então a cristandade latina pode seguramente ser associada com a ideia de uma “religião das imagens”. (por Rita de Cássia Mendes Pereira, Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Por ultimo, mas não menos importante, cabe ressaltar a dualidade “arte” e “imagem” que muitos historiadores têm contraposto e relutado em aceitar que o conteúdo “artístico no medievo” possa assim ser chamado. Essa questão foi muito bem abordada em trabalho realizado (por Rachel J. R. Amaro e Cinthia M. M. Rocha ARTE E IMAGEM: DISCUSSÕES SOBRE O USO DESSES CONCEITOS NO ESTUDO DA IDADE MÉDIA) que começa pela discussão do significado do termo “arte” e “imagem” em que se assemelham e em que se diferem. Eis um pequeno trecho que ilustra essa preocupação e os caminhos por quais pode trilhar: “O que seria a arte para o medievo? É lícito utilizarmos esse termo para o período? Haveria, de fato, uma arte medieval? Questões como essas têm sido constantemente debatidas pela historiografia e as respostas encontradas variam enormemente. Hoje, talvez as mais significativas sejam aquelas encontradas nos trabalhos de alguns historiadores da arte, como Hans Belting e David Freedberg, que, desde a década de 1980, começaram a propor o uso do termo imagem em contraposição ao de arte. Desde então, muitos historiadores da Idade Média tem sido reticentes ao utilizar o termo “arte” e adotaram o termo imagem em praticamente todas as situações. Para todos, os argumentos que justificam suas opções são válidos, o que divide ainda mais o meio acadêmico e torna a discussão mais paradoxal. O objetivo desse artigo é apresentar alguns debates historiográficos recentes sobre este tema, buscando elucidar o estado atual da questão.”. Podemos realmente distinguir entre arte e imagem? E haverá necessidade de tal distinção para o objetivo que se alcança, isto é, de um lado a admiração pelo belo e de outro o entendimento possível daquilo que elas representam ou querem representar? Poder-se-ia dizer que, tecnicamente ou discursivamente ou por efeito de estudo e sistematização, essa diferenciação fosse importante porque “O que aparentemente se apresenta como uma contradição pode ser explicada pelas diferenças entre o conceito de arte para a Idade Média e o conceito atual de arte. Dificilmente conseguimos desassociar a noção de “artista” e “beleza” do conceito de arte que temos hoje, enquanto para o Medievo, arte não era mais do que um trabalho manual que podia até se destacar pela habilidade de seu criador, mas cuja função em última instância se ligava mais ao espiritual do que ao material. Por isso, ao dizer que a imagem não era primariamente considerada uma obra de arte, se está afirmando que ela não era admirada por sua forma em primeiro lugar, mas por aquilo que ela buscava representar ou presentificar.” Por isso tudo é que mais uma vez podemos dar crédito ao pensamento que retrata a complexidade do entendimento humano de vez que é de notável capacidade em complicar aquilo que é simples por natureza. Traçar paralelos dispensáveis, catalogar, especificar, dar nome, definir, redefinir, contrapor e não sair do mesmo lugar é o ponto forte de sermos humanos em algumas questões. Essa é uma delas. Numa determinada época uma coisa era uma coisa e essa mesma coisa numa outra época já não poderia ser considerada como a mesma coisa de então. Não é extremamente simples compreender?
Bibliografia; 
Revista Diálogos Mediterrânicos www.dialogosmediterranicos.com.br Número 2 – Maio/2012 
Glória Maria D. L. Pratas Teóloga, mestranda na área de Bíblia, em Ciências da Religião, na UMESP e assistente editorial da EDITEO (Editora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista)). 
O Imaginário sobre o Nascimento Sagrado no Medievo pela visão de Giotto -Jacqueline Rodrigues Antonio - Graduada em História. Aluna do programa de especialização em História Social e Ensino de História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Professora Auxiliar da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) – Campus Cornélio Procópio. 
 Rita de Cássia Mendes Pereira, Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP)
 SCHMITT, Jean-Claude. O corpo das imagens 237

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