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REVISTA MNU 1

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1 PILO >IRUTQ. 
MNU-CMPINAS ]ULUt -60 
RESISTÊNCIA NEGRA 
O MOVIMENTO NEGRO, TEM RAlZES NA RESISTENICA Ã 
EXPLORAÇÃO ESCRAVISTA, DESDE O MOMENTO EM QUE O 
PRIMEIRO NEGRO PISOU NESTA TERRA. OS QUILOMBOS 
FORAM AS FORMAS MAIS AVANÇADAS DE ORGANIZAÇÃO E 
LUTA DE RESISTÊNCIA DO NEGRO NO BRASIL. DEPOIS 
VIERAM AS REVOLTAS (1), BALAIADAS, CONGADAS, 
SABINADAS, ALFAIATES E TANTAS OUTRAS. 
Após 1900 começam a 
surgir novas formas de 
o r gani zaçao como entidades 
assistenciais,Culturais 
e Recreativas. A partir 
de 1925 começam a surgir 
movimentos reivindicatorios,, 
jornais e associações, 
que ganham corpo até 
sex-em duramente reprimidas 
pela ditadura de Ge tu lio 
Vargas em 1939, juntamente 
com todas as outras 
organizações políticas ou 
reivindicatõria. O expoente 
máximo deste período, 
foi a Frente Negra, 
movimento reivindicatório 
que organizou e liderou 
muitas lutas contra o 
Racismo e contra a 
discriminação do Negro 
no mercado de trabalho, 
desta, a mais celebre 
vitória foi a admissão 
de Negros na Guarda Civil 
de São Paulo, que nao 
empregava negros, e a 
eleição de deputados 
negros mais combativos 
das causas negras no 
meio político brasileiro. 
PERÍODO CULTURAL 
De 1939 a 1945, há um 
certo "vazio" político nas 
atividades das organizações 
negras, mas, continuam 
existindo as entidades 
Culturais,Assistenciais 
e Recreativa. Com o fim 
da ditadura, foi criado 
o Teatro Experimental do 
negro e rearticulada 
a imprensa negra, ambas 
dentro de uma perspectiva 
política de denuncia do 
racismo dirigido ao negro, 
através das instituições 
da sociedade branca. É 
dada maior ênfase as 
entidades AssLstenciais 
e Culturais Recreativas. 
Esta fase dã seus últimos 
passos no princípio da 
década de 60. Novo período 
de repressão assola o pais, 
após o golpe militar contra 
o governo de João Goulart, 
em 64. Período de grande 
repressão, hoje em recuo, 
dado a combatividade e 
a organização popular. 
Novamente i rearticulada 
a fase Teatral e Cultural, 
após 1974, com algumas 
propostas políticas pouco 
delineadas, contudo, 
colocando o repudio do 
negro ã opressão e 
dominação branca alem 
da necessidade do negro, 
de reafirmar sua importância 
histórica na sociedade 
brasileira, por outro 
lado procurando mostrar 
ao próprio negro, a 
importância de retomar 
estes valores históricos 
juntamente com suas 
características naturais e 
culturais. Foi uma fase 
importante, apesar dos 
muitos equívocos ,Entre 
1974 e 1976, promoveu-se 
diversas semanas"culturais" 
do Negro, tentou-se reunir 
e organizar grupos em 
Rio Claro, Santos, 
São Carlos, Araraquara, 
Ribeirão Preto, Sao Paulo e 
Rio de Janeiro Realizaram- 
se três encontros de 
entidades negras para 
traçar metas unificadas 
de atuação, em Sao Carlos, 
Rio de Janeiro e Rio 
Claro respectivamente. 
Infelizmente, a vinculaçao 
orgânica e compromissada 
dos grupos nao se deu, 
graças a total independência 
dos mesmos, as dificuldades 
econômicas e de contatos 
entre os grupos, alem das 
divergências sobre a forma 
de se levar lutas unificadas. 
A falta de conseqüência, 
de seriedade e de unidade 
política, além de respostas 
corretas ao anseio da 
juventude negra, em 
lutar, levaram esta 
fase a desmobilizaçao 
no final de 1976. 0 Grupo 
de Teatro Evolução de 
Campinas teve papel de 
fundamental importância 
neste período. Durante 
dois anos, as entidades 
negras e seus militantes 
se articularam na busca 
de uma proposta mais 
consistente e conseqüente, 
sem contudo, realizar 
qualquer atividade de 
repercussão. 
MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO 
Finalmente em julho de 1978, a comunidade negra 
volta a se manifestar, e desta vez deforma iné- 
dita, uma concentração de 3000 pessoas frente 
ao Teatro Municipal de São Paulo, em protesto 
pelo assassinato de Robson Silveira da Luz,ope- 
rário negro assassinado pela polícia de Guai- 
nazes, e contra a discriminação de atletas ne- 
gros no Clube Tietê, em São Paulo. Desta Mani- 
festação nasceu o MOVIMENTO NEGRO iUNIFICADO. 
Nasceu da luta, na rua, pelo combate ao racismo 
assassino que tira vida aos negros através dos 
órgãos policiais, apoiado no regime de opressão 
mantido a força pelo Regime Militar. 
0 Movimento Negro Unificado, atua hoje, em nove 
estados, organizadamente , e mantém contato em 
quatro outros, organizando e levando aComunida- 
de Negra a proposição de Luta, contra a Discri- 
minação Racial, contra a Miséria e a Opressão , 
contra a Repressão Policial e contra o extermí- 
nio físico da população negra pela fome e pela 
obsessão bestial de certos policiais de violen- 
tar negros e assassiná-los, encobertos pelo Re- 
gime Militar e policial. 
Racismo nas ruas de Campinas. 
Pichaçao na Luzitana com Benjamin Constant 
DIA NACIONAL DE DENUNCIA CONTRA 0 RACISMO 
O Movimento Negro Uni- 
ficado (MNU) tem pro- 
curado dar respostas as 
mentiras que a socie- 
dade tem colocado na 
cabeça dos negros bra- 
sileiros, como a neces- 
sidade que algumas pes- 
soas sentem em comemo- 
rar o 13 de maio,trans- 
formando a data num 
grande ato de agrade- 
cimento e símbolo de 
de in tegraçao. 
A posição do Movimento 
é bem clara em relação 
a data: a condição de 
escravo reduziu o ne- 
gro ã condição sub-hu- 
mana, sem o direito de 
fazer seu próprio des- 
tino; com a abolição 
o negro viu-se livre da 
dominação do senhor mas 
sentiu logo o peso da 
"liberdade", livre da 
senzala e prisioneiro 
do racismo, do salário, 
da obrigação de aceitar 
essa liberdade ou ser 
condenado se buscasse 
outra. Desse modo oMNU 
entende que o 13 de maio 
nao significa nada pa- 
ra o negro brasileiro, 
pois, sair de uma opres- 
são e cair ei" outra nada 
adiantou ao negro. 
Comemorar o 13 de maio 
é o mesmo que aceitar 
todas as condições da- 
das, é sem duvida, re- 
conhecer a igualdade, 
a "democracia racial" 
e a submissão, a domi- 
nação e exploração. 
CAMPINAS 
O MNU tem transformado o 13 de maio numa data de 
denuncia da situação do negru. rvr isso mesmo, 
houve manifestações em muitas cidades brasilei- 
ras, como exemplo: São Paulo, Salvador, Porto 
Alegre, etc. Campinas que possui uma tradição de 
defesa da causa negra fez do 13 de maio um dia de 
manifestação e denúncia pública da insatisfação 
do negro ãs coisas que o oprimem. Tudo isso de- 
vido a iniciativa do MNU, que promoveu o debate 
publico no Clube Recreativo Campinas. A presença 
significativa de 200 (duzentas) pessoas foi im- 
portante, não pelo número de presentes mas pela 
manifestação maciça dando ao deh^te, em certos 
momentos, um aspecto confuso, sem perder a preo- 
cupação central: possibilitar que as pessoas ti- 
vessem a oportunidade de se expressarem e colo- 
carem para fora aquilo que sempre esteve entalado 
na garganta, o grito contra o racismo. As mani- 
festações de repúdio ã data e, a percepção da 
necessidade da luta que o Movimento desenvolve. 
deixou claro que o 13 de maio não é uma data re- 
presentativa para o negro. 0 MNU reconhece o 20 
de novembro (morte de Zumbi), Dia Nacional da 
Consiciincia Negra, como a única data historica- 
mente representativa da luta nacional do homem 
negro contra a exploração e o racismo: 
NO BRASIL, SER NEGRO E CRIME, 
E TOME VIOLÊNCIA POLICIAL! 
Hoje, mais do que nun- 
ca, e necessário ques- 
tionar a validade da 
chamada democracia ra- 
cial que se tenta atri- 
buir ã sociedadebrasi- 
leira . 
Principalmente, quando 
se ve, após mais de no- 
venta anos de abolição, 
a situação precária em 
que se encontra a maio- 
ria da população negra 
brasileira. Por trás des- 
sa falsa imagem de igual- 
dade racial, se mascara 
uma realidade de margi- 
nalidade e opressão que 
cai sobre o negro , pro- 
curando descaracteriza- 
lo cada vez mais como 
cidadão livre e respei- 
tável socialmente. 
0 ESTADO POLICIAL 
RACISTA 
Esta mentalidade racista 
que se tenta negar a to- 
do custo, fica mais e- 
videnciada com o alto 
índice de violência po- 
licial que se abate dia- 
riamente sobre a popula- 
ção negra que já sofre 
todo tipo de humilhações. 
A perseguição policial 
leva o negro aumestado 
constante de medo e in- 
segurança, impedindo-o 
de exercer dignamente 
seu papel na sociedade. 
É claro que a violência 
policial atinge a popu- 
lação como um todo, mas 
em se tratando do negro 
especificamente a situa- 
ção e mais crítica. Bas- 
ta que se observe dia- 
riamente nos jornais, o 
grande número de afro- 
brasileiros vitimados 
pelos homens da lei."Is- 
to ê conseqüência direta 
do próprio caráter ra- 
cista que orienta as 
instituições policiais no 
Brasil, onde o negro ê 
tido sempre como um in- 
divíduo perigoso para a 
moral e os bons costumes 
ditados pela sociedade 
branca. Ê exatamente 
pela força desta orien- 
tação racista, que já 
fazem parte do folclore 
popular frases depre- 
ciativas como: "branco 
correndo esta perdendo 
a condução , negro cor- 
rendo é ladrão",ou "ne- 
gro correndo é bandido. 
parado i suspeito".Sao 
frases tao presentes no 
vocabulário do brasi- 
leiro, e tao arraigadas, 
que se ouve diariamente, 
e muitas vezea u próprio 
negro nao se dá conta, 
do alto grau de violên- 
cia que elas encerram. 
Na realidade , essas 
frases retratam fiel- 
mente a força do racis- 
mo e da discriminação 
que o negro sofre no 
Brasil. 
A JUSTIÇA PROTEGE 
OS ASSASSINOS 
Por isso mesmo, o negro 
continua sendo perse- 
guido, preso e assassi- 
nado sem que as auto- 
ridades governamentais 
se preocupem sequer era 
investigar os culpados, 
quanto mais em punir 
esses assassinos que 
sao sempre acobertados 
pela justiça dos bran- 
cos. Ê hora de nós ne- 
gros tomarmos uma po- 
sição concreta diante 
dessa situação que nos 
causa humilhação físi- 
ca, moral e psicológi- 
ca. Nunca pode remos 
confiar numa justiça 
que protege os assassi- 
nos de nossa própria gen- 
te e nos impõe a todo 
momento um clima de ter- 
ror e intranqüilidade, 
haja vista as recentes 
denuncias de violência 
policial sobre pessoas 
negras, denunciadas nao 
só pelu MOVIMENTO NEGRO 
UNIFICADO, mas também 
pela imprensa em várias 
regiões do país. 
Nao e por acaso que es- 
ses crimes se dao na 
maioria das vezes sobre 
negros, e também, não 
é por acaso, que esses 
criminosos continuam 
impunes. Essa é uma 
orientação própria de 
uma sociedade racista 
que tenta impor ao ne- 
gro a todo instante um 
caráter de marginali- 
dade procurando castrar 
o seupoderio de orga- 
nização e participação 
nos meios que decidem 
os caminhos a serem se- 
guidos pela sociedade 
brasileira. A única ma- 
neira de darmos ura bas- 
ta a essa situação de 
insegurança é nos orga- 
nizarmos e nos forta- 
lecermos, através da 
união e solidariedade 
entre negros e junta- 
mente aos setores não 
racistas, denunciando 
e exigindo o cumprimen- 
to da lei contra qual- 
quer ato de discrimina- 
ção e injustiça prati- 
cados contra a comuni- 
dade negra. Isto.signi- 
fica garantir na pra- 
tica, nossos direitos 
de homens livres. 
ZUMBI , PALMARES. 
20 DE NOVEMBRO 
As ciências sociais do do^ 
minador paternalista bran 
co, criaram a imagem do 
negro subserviente, Pai- 
Joao, de "alma-br anca" . Pa_ 
ra nos, este negro nao 
existe, ele se esconde 
por trás desta aparência 
para sobreviver. 
As chamadas ciências sociais como a história e 
a sociologia, feitas pelos dominadores, sempre 
procuram forjar uma falsa imagem do homem negro 
para justificar a situação de miséria a que ele 
foi levado pela super exploração. Inclusive re- 
latando e analizando as lutas dos escravos e 
seus descendentes contra a dominação, de forma 
deturpada. Um exemplo disso e Palmares, local 
onde se organizou uma comunidade livre eai defesa 
dos interesses negros. 
A comunidade de Palmares tinha sua própria es- 
trutura política, social e econômica baseada nas 
tradições africanas e nas novas experiências ob- 
tidas no Brasil. Para lã iam os homens que dese- 
javam uma vida melhor. Mas o governo colonial 
português e os invasores holandeses, que eram es- 
cravistas, procuravam de todas as formas, prin- 
cipalmente com a guerra, destruir Palmares. 
ZUMBI 
Nascido lã, quando adulto. Zumbi comandou os ho- 
mens que defendiam a terra contra a violência 
dos dominadores. Apesar do talento militar de 
Zumbi e da coragem de seus soldados em defesa de 
suas famílias, os dominadores que possuiam armas 
mais modernas, mais dinheiro e muito mais terras 
como colônias, podiam fazer guerra sem prejuízos 
maiores, e assim, após 100 anos de guerra, aca- 
bam vencendo os Palmarinos. 
MORTE DE ZUMBI 
Zumbi conseguiu ir para outro lugar tentar reor- 
ganizar seu povo, porém, um experiente assassino 
e aprisionador de homens Tndios, foi chamado a 
matar Zumbi. 0 assassino fortemente armado, con- 
seguiu seu objetivo, a 20 de novembro de 1695. 
0 dia 20 de novembro, e importante para a histó- 
ria do homem negro brasileiro porque e o dia do 
assassinato de um dos maiores defensores da li- 
berdade . 
DIA NACIONAL DE LUTA CONTRA O RACISMO 
NO 7 DE JULHO ÚLTIMO, DOIS ANOS APÔS O LANÇAMENTO 
PUBLICO DO MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO, HOUVE UMA 
MANIFESTAÇÃO NO TEATRO OFICINA, QUE CONTOU COM A 
PRESENÇA DE CERCA DE 200 PESSOAS NEGRAS, REPRESEN 
TANDO DIVERSAS ENTIDADES E NÜCLEOS DO MNU, PARLA 
MENTARES NEGROS PAULISTANOS. 
Na oportunidade foi lido um Manifes 
to, o qual reproduzimos parcialmen- 
te. 
"Nesse dia gritamos nacionalmente 
contra o racismo que marginalisa 
o Negro da vida social do país. 
Denunciamos o racismo institucio 
nal que não puniu os policiais 
assassinos de Robson Silveira da 
Luz, Newton Lourenço, Oracílio 
Gonçalves, Mareia Joaquim Gomes, 
Olivaldo Francisco de Oliveira , 
Aézio da Silva Fonseca, Paulo F. 
S. Soares e muitas outras víti^ 
mas negras, das quais não temos 
notícias, racismo institucional 
que apoia abertamente grupos de 
extermínio como o Esquadrão da 
Morte e o Mão Branca, composto 
por policiais, os quais durante 
dez anos, já mataram 4000 pesso 
as na Baixada Fluminense. Racismo 
que prende sem ordem judicial, 
sob os nomes de Operação Limpeza, 
Pente Fino, Rondão, etc, que ob 
jetiva na verdade manter o povo 
sob a neurose do medo para melhor 
exercer controle sobre a população 
escondendo as verdadeiras causas 
da criminalidade, 0 desemprego e 
os baixos salários. 
Nós solidarizamos com o povo da Afri 
ca do Sul, que ultimamente se manifes 
ta e protesta contra o regime Racista 
do Apartheit, embora a violência poli 
ciai se abata com muita força sobre a 
População Negra. 
O MOVIMENTO :M'EGRO UNIFICADO reafirma 
o seu apoio para a derrubada do regime 
racista, exigindo o rompimento de todos 
os tipos de relações entre o Brasil e a 
África do Sul. 
- Contra a Discriminação Racial 
- Contra a violência Policial 
- Pela Luta Internacional contra o Racismo 
- Viva o Dia Nacional de Luta Contra o Racismo" 
Este e o órgão de divulgação e comunica ção 
do MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO DE CAMPINAS 
Pretendemos fazê-lo presente junto a co- 
munidade negra, mensalmente. através,da 
J denúncia do racismo e debatendo temas de i 
interesse da população negra Participe 
desta iniciativa, enviando sugestões. ar- 
tigos e denúncias. 
Correspondência: 
MNU-CAMPINAS 
Caixa Postal 6506 B.Geraldo 
CEP-13.100-CAMPINAS-SP

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