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97 UNIDADE 2 DIREITO DO CONSUMIDOR OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • compreender os conceitos básicos e fundamentais com relação aos direi- tos dos consumidores, produtores, fornecedores e os prestadores de servi- ço; • reconhecer os principais aspectos técnicos práticos inerentes à relação ju- rídica consumerista; • identificar as relações comerciais e empresariais, com suas respectivas obrigações. Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada tópico, você encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de conhecimentos na área. TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR TÓPICO 2 – O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL TÓPICO 3 – CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR TÓPICO 4 – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 98 99 TÓPICO 1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Ao longo da história humana são encontrados alguns dispositivos que, direta ou indiretamente, objetivaram proteger o consumidor. Contudo, foi somente com o surgimento dos mercados de massa que a consciência de necessidade de proteção dos direitos do consumidor começou a se fortalecer. O movimento consumerista iniciou nos Estados Unidos e depois pela Europa. No Brasil, especificamente, o surgimento do movimento pela defesa do consumidor foi marcado pela criação, no ano de 1976, em São Paulo, do “Sistema Estadual de Defesa do Consumidor”, com instalação do primeiro Procon. Porém, foi somente com a Constituição Federal de 1988 que o Direito do Consumidor foi levado ao nível constitucional e assegurada, através da promulgação do Código de Defesa do Consumidor, a definição de uma Política Nacional das Relações de Consumo. 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA Segundo renomados juristas, já no antigo Código de Hamurábi havia certas regras que, mesmo indiretamente, visavam proteger o consumidor. IMPORTANT E Khammu-rabi, rei da Babilônia no século XVIII a. C., estendeu grandiosamente o seu império e governou uma confederação de cidades-estado. Erigiu, no final do seu reinado, uma enorme estela em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e da justiça do rei Marduk. Abaixo, mandou escrever, em 21 colunas, 282 leis (cláusulas) que ficaram conhecidas como Código de Hamurábi. Este código referia-se, entre outros, ao comércio (no qual o caixeiro-viajante ocupava lugar importante), à família (inclusive o divórcio, o pátrio poder, a adoção, o adultério, o incesto), ao trabalho (precursor do salário mínimo, das categorias profissionais, das leis trabalhistas), à propriedade. Quanto às leis criminais, vigorava a Lex Talionis: a pena de morte era largamente aplicada, seja na fogueira, na forca, seja por afogamento ou empalação. A mutilação era infligida de acordo com a natureza da ofensa. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 100 Temos como exemplos a Lei nº 233 e a Lei nº 235, que assim dispunham: • Lei nº 233: se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não leva ao fi m, se as paredes são viciosas, o arquiteto deverá, à sua custa, consolidar as paredes. • Lei nº 235: se um bateleiro constrói para alguém um barco e não o faz solidamente, se no mesmo ano o barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro deverá desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa, o barco sólido ele deverá dá-lo ao proprietário. A Lei nº 235 traz a noção já bem delineada do “vício redibitório”, adotado no regime jurídico romano. Vê-se claramente que as consequências de desabamentos com vítimas fatais eram extremas. O empreiteiro da obra, além de ser obrigado a reparar todos os danos causados ao empreitador, sofria punição severa, caso houvesse o mencionado desabamento vitimado o chefe de família. Caso morresse o fi lho do dono da obra, pena de morte para o respectivo parente do empreiteiro, e assim por diante. Da mesma forma, o cirurgião que “operasse alguém com bisturi de bronze” e lhe causasse a morte por imperícia, além da indenização, estava sujeito à pena de morte. Já na Índia do século XVIII a. C., o Código Sagrado de Massú previa multa e punição, além de ressarcimento dos danos, àqueles que adulterassem gêneros ou entregassem coisa de espécie inferior àquela acertada, ou vendessem bens de igual natureza por preços diferentes. Caso morresse o fi lho do dono da obra, pena de morte para o respectivo parente do empreiteiro, e assim por diante. Da mesma forma, o cirurgião que “operasse alguém com bisturi de bronze” e lhe causasse a morte por imperícia, além da indenização, estava sujeito à pena de morte. Já na Índia do século XVIII a. C., o Código Sagrado de Massú previa multa e punição, além de ressarcimento dos danos, àqueles que adulterassem gêneros ou entregassem coisa de espécie inferior àquela acertada, ou vendessem bens de igual natureza por preços diferentes. FONTE: Adaptado de: <www.leondeniz.com/monografi a.doc>. Acesso em: 5 mar. 2013. No Direito Romano Clássico, inicialmente, o vendedor era responsável pelos vícios da coisa, a não ser que estes fossem por ele ignorados. Porém, já no Período Justiniano, a responsabilidade era atribuída ao vendedor, mesmo que desconhecesse o defeito. As ações redibitórias eram mecanismos que ressarciam o consumidor nos casos de vícios ocultos na coisa vendida. Se o vendedor tivesse ciência do vício, deveria, então, devolver o que recebeu em dobro. No Direito Romano Clássico, inicialmente, o vendedor era responsável pelos vícios da coisa, a não ser que estes fossem por ele ignorados. Porém, já no Período Justiniano, a responsabilidade era atribuída ao vendedor, mesmo que desconhecesse o defeito. As ações redibitórias eram mecanismos que ressarciam o consumidor nos casos de vícios ocultos na coisa vendida. Se o vendedor tivesse ciência do vício, deveria, então, devolver o que recebeu em dobro. FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/docpdf/monografi as_publicadas/K204623.pdf>. Aces- so em: 5 mar. 2013. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR 101 Indiretamente, no período romano, outras leis também atingiam o consumidor: a Lei Sempcônia, de 123 a.C., encarregando o Estado da distribuição de cereais a seguir o preço de mercado. A Lei Clódia, do ano de 58 a.C., reservando benefi ciar os indigentes, e a Lei Aureliana, do ano de 270 da nossa era, determinando que fosse feita a distribuição do pão diretamente pelo Estado, ante as difi culdades de abastecimento havidas nessa época em Roma. FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/.../MARLON%20GONÇALVES%20SANCHES.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2013. Já na Europa Medieval, na França do ano de 1481, o rei Luiz XI baixou um edito que punia com banho escaldante “quem vendesse manteiga com pedra no interior para aumentar o seu peso, ou leite com água para inchar o volume”. (GLÓRIA, 2003, p. 11). Em 1914, nos Estados Unidos, foi criada a Federal Trade Commission, que tinha o objetivo de aplicar a lei antitruste e proteger os interesses do consumidor. Em 1914, nos Estados Unidos, foi criada a Federal Trade Commission, que tinha o objetivo de aplicar a lei antitruste e proteger os interesses do consumidor. FONTE: Disponível em: <jus.com.br/revista/texto/.../evolucao-historica-do-direito-do-consu- mi...>. Acesso em: 5 mar. 2013. No Brasil, o Direito do Consumidor surgiu entre as décadas de 40 e 60, quando foram sancionados diversas leis e decretos federais, legislando sobre saúde, proteção econômica e comunicações. Dentre todas, pode-se citar: a Lei nº 1221/51, denominada Lei de Economia Popular; a Lei Delegada nº 4/62; a Constituição de 1967 com a emenda nº 1/69, que consagrou a defesa do consumidor. E a Constituição Federal de 1988, que apresenta a defesa doconsumidor como princípio da ordem econômica (art. 170) e no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) que, expressamente, determinou a criação do Código de Defesa do Consumidor. Dentre todas, pode-se citar: a Lei nº 1221/51, denominada Lei de Economia Popular; a Lei Delegada nº 4/62; a Constituição de 1967 com a emenda nº 1/69, que consagrou a defesa do consumidor. E a Constituição Federal de 1988, que apresenta a defesa do consumidor como princípio da ordem econômica (art. 170) e no artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) que, expressamente, determinou a criação do Código de Defesa do Consumidor. FONTE: Adaptado de: <www.ambito-juridico.com.br/pdfsGerados/artigos/8032.pd>. Acesso em: 5 mar. 2013. 2.1 O SURGIMENTO DO DIREITO DO CONSUMIDOR COMO PARTE DA EVOLUÇÃO DO ESTADO LIBERAL A concepção do Estado Liberal fundou-se política e fi losofi camente da Revolução Francesa, que pretendia a aquisição de direitos individuais como fatores de limitação ao poder supremo e arbitrário do Estado. Economicamente, através das ideias difundidas por Adam Smith e pelos fi siocratas franceses UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 102 contemporâneos, negando o papel do Estado no contexto econômico, libertando-o da atividade privada, que deveria ser deixada de lado por ele, uma vez que o próprio mercado iria eleger suas leis espontaneamente. IMPORTANT E Adam Smith marcou suas ideias liberais com o seguinte pensamento: É suficiente que deixemos o homem abandonado em sua iniciativa para que, ao perseguir seu próprio interesse, promova o dos demais. O interesse privado é o motor da vida econômica. Noronha (1994, p. 64) explica que “a mão invisível de Adam Smith era Proclamada como a verdadeira mão da justiça”. Os ideais de liberdade foram levados às suas últimas consequências e, na verdade, ao invés de conduzirem à verdadeira justiça, o fizeram em sentido oposto. Foi com o advento da Revolução Industrial (que primeiramente surgiu, na Inglaterra e logo após, experimentado pelos demais países da Europa) que o quadro se deteriorou, em decorrência da substancial mudança do modo de produção manufatureira para industrial, a partir do desenvolvimento tecnológico. Toda essa evolução gerou imensas mudanças no quadro social e cultural, criando impasses e desequilíbrio de forças entre a mão de obra operária e os empresários industriais que, evidentemente, se aproveitavam da falta de intervenção do Estado para abusar de sua posição de vantagem. Os valores humanos estavam sendo colocados em segundo plano sob a falsa justificativa de justiça e liberdade. Foi quando surgiu o manifesto de resgate da dignidade humana proclamado pelo padre francês Lacordaire (apud OLIVEIRA, 2007, p. 57): “Entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o mestre e o servo, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”. Na crise do liberalismo econômico, não se pode esquecer o fato de que os direitos advindos, por exemplo, da Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão foram provenientes do Liberalismo, onde a ausência do Estado era o padrão a ser seguido. Isto porque o povo francês acabara de sair de um absolutismo em que havia a concentração total de poder nas mãos de um rei, ou de alguns por ele delegados. Porém, ingressar numa nova realidade totalmente oposta não seria o mais conveniente, mas a atmosfera reinante se deu nesse sentido e o Estado, como ente que governa, acabou por não interferir mais nas relações privadas. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR 103 O homem, em dado momento, tendo em vista as constantes crises e desalinhamentos sociais provenientes da ausência de regras, de ingerência e de fi scalização do Estado, demonstrou que o individualismo possessivo não permitia a igualdade por si só, carecendo de um elemento que fi zesse retornar a estabilidade e a ordem jurídica e social. IMPORTANT E É diante desse panorama que o Estado é chamado a intervir para regulamentar as situações nos diversos níveis de sua atuação, principalmente nas questões trabalhistas e econômicas. Surgiu, então, outra gama de princípios sociais e econômicos da existência humana, privilegiando as condições de uma sobrevivência mais de acordo com sua situação de ser humano, e não apenas como um elemento da economia. (MARSHALL, 2000, p. 94- 95). O Estado Social surge no século XX como resposta à miséria e à exploração que grande parte da população sofria na época. O Estado Social tem como características o poder limitado, a garantia aos direitos individuais e políticos, acrescentando a estes os direitos sociais e econômicos. Logo, o Estado passou a intervir na Economia para promover justiça social. O Estado Social surge no século XX como resposta à miséria e à exploração que grande parte da população sofria na época. O Estado Social tem como características o poder limitado, a garantia aos direitos individuais e políticos, acrescentando a estes os direitos sociais e econômicos. Logo, o Estado passou a intervir na Economia para promover justiça social. FONTE: Adaptado de: <www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/fi les/.../24064-24066-1-PB.htm..>. Acesso em: 5 mar. 2013. Nos Estados Unidos, a t r avés de uma iniciativa do próprio presidente americano John Kennedy, na década de 60, houve a consolidação do Direito do Consumidor. Por meio de uma mensagem especial ao Congresso americano, Kennedy identifi cou os pontos mais importantes em torno da questão: Os bens e serviços colocados no mercado devem ser sadios e seguros para o uso, promovidos e apresentados de uma maneira que permita ao consumidor fazer uma escolha satisfatória. [...] a voz do consumidor seja ouvida no processo de tomada de decisão governamental que detenha o tipo, a qualidade e o preço de bens e serviços colocados no mercado. [...] tenha o consumidor o direito de ser informado sobre as condições e serviços. [...] o direito a preços justos. (SOUZA, 1996. p. 56). A exemplo dos Estados Unidos, a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), na sua 29ª Sessão em 1973, em Genebra, também reconheceu os princípios e chamou-os de Direitos Fundamentais do Consumidor. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 104 Por sua vez, o programa Preliminar da Comunidade Europeia para uma Política de Proteção e Informação dos Consumidores dividia os direitos fundamentais em cinco categorias: 1) proteção da saúde e da segurança; 2) proteção dos interesses econômicos; 3) reparação dos prejuízos; 4) informação e educação; 5) representação (ou direito de ser ouvido). FONTE: Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/fi les/anexos/24064-24066- 1-PB.html>. Acesso em: 5 mar. 2013. Mas o avanço ainda mais importante se deu através da Resolução nº 39/248/85, de 16/04/1985, através da qual a ONU estabeleceu objetivos, princípios e normas para que os governos membros desenvolvam ou reforcem políticas fi rmes de proteção ao consumidor, reconhecendo categoricamente que os consumidores se deparam com desequilíbrios em termos econômicos, níveis educacionais e poder aquisitivo. Desta forma, houve o efetivo reconhecimento e aceitação dos direitos básicos do consumidor em nível mundial, com a adoção dos seguintes objetivos: a) auxiliar países a atingir ou manter uma proteção adequada para a sua população consumidora; b) oferecer padrões de consumo e distribuição que preencham as necessidades e desejos dos consumidores; c) incentivar altos níveis de conduta ética, para aqueles envolvidos na produção e distribuição de bens e serviços para os consumidores; d) auxiliar países a diminuir práticascomerciais abusivas usando de todos os meios, tanto em nível nacional como internacional, que estejam prejudicando os consumidores; e) ajudar no desenvolvimento de grupos independentes de consumidores; f) promover a cooperação internacional na área de proteção ao consumidor; e g) incentivar o desenvolvimento das condições de mercado que ofereçam aos consumidores maior escolha, com preços mais baixos. FONTE: Disponível em: <sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/dimensao.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2013. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR 105 O anexo 03 da Resolução mostra ainda quais são os princípios gerais que serão tomados como padrões mínimos pelos governos, conforme aponta Souza (1996, p. 57): (a) proteger o consumidor quanto a prejuízos à sua saúde e segurança; (b) fomentar e proteger os interesses econômicos dos consumidores; (c) fornecer aos consumidores informações adequadas para capacitá- los a fazer escolhas acertadas, de acordo com as necessidades e desejos individuais; (d) educar o consumidor; (e) criar possibilidade de real ressarcimento ao consumidor; (f) garantir a liberdade para formar grupos de consumidores e outros grupos e organizações de relevância e oportunidade para que estas organizações possam apresentar seus enfoques nos processos decisórios a elas referentes. De tamanha relevância é a Resolução da ONU supracitada, que vários ordenamentos jurídicos a adotaram como referência em seus países. No Brasil, com a Constituição Federal de 1988, o referido tema teve especial atenção quando passou a dispor textualmente que: o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Portanto, a Constituição Federal de 1988 exigiu que o Estado abandonasse a sua posição de mero espectador da sorte do consumidor, para adotar um modelo jurídico e uma política de consumo que efetivamente protegesse o consumidor. Isso porque o Código Civil, formulado segundo o pensamento liberal, trouxe o vício redibitório como meio de proteção do consumidor. Esse meio mostrou-se inefi caz para a proteção do consumidor. Portanto, a Constituição Federal de 1988 exigiu que o Estado abandonasse a sua posição de mero espectador da sorte do consumidor, para adotar um modelo jurídico e uma política de consumo que efetivamente protegesse o consumidor. Isso porque o Código Civil, formulado segundo o pensamento liberal, trouxe o vício redibitório como meio de proteção do consumidor. Esse meio mostrou-se inefi caz para a proteção do consumidor. FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/.../TATHIANE%20DANTAS%20MESQUITA%20...>. Aces- so em: 5 mar. 2013. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 106 LEITURA COMPLEMENTAR ENTIDADES DE CONSUMIDORES E ONU SE UNEM EM CAMPANHA CONTRA O DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS "Pense. Coma. Economize. Reduza o uso de alimentos” é dirigida à comida desperdiçada pelos consumidores e varejistas. Campanha é direcionada ao consumidor final. FOTO: Kiyoshi Ota / Bloomberg RIO — Simples iniciativas dos consumidores e dos varejistas de alimentos podem reduzir drasticamente a quantidade de comida desperdiçada e ajudar a construir um futuro sustentável. É o que prega a nova campanha mundial da Organização das Nações Unidas (ONU), apoiada pela organização internacional de defesa dos direitos dos consumidores Consumers International (CI), batizada “Pense. Coma. Economize. Reduza o uso de alimentos”. Cerca de um terço do total de alimentos produzidos em todo o mundo são perdidos ou desperdiçados na produção de alimentos e no consumo, segundo dados publicados pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla original) da ONU. — Em um mundo de sete bilhões de pessoas, que passará a nove bilhões em 2050, o desperdício de alimentos não faz sentido economicamente, ambientalmente e eticamente — declarou o subsecretário geral e diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner. Para a CI, a iniciativa da organização é louvável. — Esta é uma grande iniciativa para levar consumidores e empresas a pensarem mais sobre a comida que jogamos fora. Ninguém gosta de desperdiçar alimentos, por isso devemos fazer o possível para que seja mais fácil comprar, consumir e descartar só o que é realmente necessário — disse o chefe de Comunicação e Assuntos Externos da CI, Luke Upchurch. TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR 107 A nova campanha é dirigida especificamente à comida desperdiçada pelos consumidores, varejistas e pela indústria hospitalar e é organizada pelo PNUMA, FAO e entidades colaboradoras e associadas. Publicado: 23/01/13 - 14h19 Atualizado: 24/01/13 - 10h13 FONTE: JORNAL O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/defesa-do-consumi- dor/entidades-de-consumidores-onu-se-unem-em-campanha-contra-desperdicio-de-alimen- tos-7376433>. Acesso em: 15 fev. 2013. IMPORTANT E Adam Smith marcou suas ideias liberais com o seguinte pensamento: É suficiente que deixemos o homem abandonado em sua iniciativa para que, ao perseguir seu próprio interesse, promova o dos demais. O interesse privado é o motor da vida econômica. 108 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você: • Conheceu conceitos acerca dos direitos do consumidor. • Verificamos que o movimento de defesa do consumidor teve início nos Estados Unidos, através do surgimento do chamado Estado Social. • Através da Resolução nº 39/248/85, de 16/04/1985, a Organização das Nações Unidas estabeleceu objetivos, princípios e normas para que os governos membros desenvolvam ou reforcem políticas firmes de proteção ao consumidor. 109 AUTOATIVIDADE Considerando o texto “Entidades de consumidores e ONU se unem em campanha contra o desperdício de alimentos”, que medidas podem ser tomadas pelos consumidores, em suas próprias casas, para reduzir o desperdício de alimentos? 110 111 TÓPICO 2 O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Como já foi visto, o Brasil, a partir das diretrizes estabelecidas pela Organização das Nações Unidas, passou a adotar, a nível constitucional, a defesa do consumidor. No Brasil, ao longo da história, são encontrados alguns dispositivos legais que, direta ou indiretamente, objetivaram proteger o consumidor. Porém, foi somente com a introdução do Código de Defesa do Consumidor que se passou a determinar uma eficaz política nacional das relações de consumo, com a efetiva participação e intervenção do Estado nas relações de consumo. Hoje, o consumidor brasileiro está legislativamente bem amparado, em condições de poder comparar-se às nações mais avançadas do planeta. 2 A LEGISLAÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ANTES E DEPOIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Antes da Constituição de 1988 havia apenas normas esparsas, legislação complementar, que tratava de alguma matéria de maneira isolada referente ao direito do consumidor. Após a promulgação da Constituição Federal houve grande desenvolvimento legislativo no âmbito do direito consumerista, principalmente com a instituição do Código de Defesa do Consumidor. Vejamos as principais leis e decretos federais sobre o assunto: UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 112 LEIS QUADRO 3 - LEIS • Lei nº 11.800, de 29 de outubro de 2008 Acrescenta parágrafo único ao art. 33 da Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor, para impedir que os fornecedores veiculem publicidade ao consumidor que aguarda, na linha telefônica, o atendimento de suas solicitações. • Lei nº 11.785, de 22 de setembro de 2008 Altera o § 3º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor – CDC, para definir tamanhomínimo da fonte em contratos de adesão. • Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004 Dispõe sobre a oferta e as formas de afixação de preços de produtos e serviços para o consumidor. • Lei nº 9.870, de 23 de novembro de 1999 Dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e dá outras providências. • Lei nº 9.791, de 24 de março de 1999 Dispõe sobre a obrigatoriedade de as concessionárias de serviços públicos estabelecerem ao consumidor e ao usuário datas opcionais para o vencimento de seus débitos. • Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 Regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal. • Lei nº 8.979, de 13 de janeiro de 1995 Altera a redação do art. 1º da Lei nº 6.463, de 9 de novembro de 1977. • Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990 Define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, e dá outras providências. • Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 Código de Defesa do Consumidor - CDC (última atualização em 23/09/2008) • Lei nº 7.089, de 23 de março de 1983 Veda a cobrança de juros de mora sobre título cujo vencimento se dê em feriado, sábado ou domingo. • Lei nº 6.463, de 09 de novembro de 1977 Torna obrigatória a declaração de preço total nas vendas a prestação, e dá outras providências. FONTE: Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/presidencia/legislacao>. Acesso em: 15 fev. 2013. TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 113 QUADRO 4 - DECRETOS DECRETOS • Decreto nº 6.523, de 31 de julho de 2008 Regulamenta a Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990, para fixar normas gerais sobre o Serviço de Atendimento ao Consumidor - SAC. • Decreto nº 5.903, de 20 de setembro de 2006 Regulamenta a Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004, e a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 • Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006 Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. • Decreto nº 5.440, de 04 de maio de 2005 Estabelece definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da água de sistemas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para divulgação de informação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano. • Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003 Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis. • Decreto n° 2.181, de 20 de março de 1997 Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. • Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933 (Lei de Usura) Dispõe sobre os juros nos contratos e dá outras providências. Ver também Súmulas do STF: nº 596, de 15/12/1976 e nº 121, de 16/12/1963. FONTE: Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/presidencia/legislacao>. Acesso em: 25 mar. 2013. O Brasil também assinou acordos internacionais no âmbito do Mercosul, visando a cooperação entre os países do bloco na defesa do consumidor, quais sejam: • Acordo Brasil e Argentina, de 28 de junho de 2005 UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 114 Acordo interinstitucional de entendimento entre os órgãos de defesa do consumidor do Brasil e da Argentina para criação de uma rotina de intercâmbio de informações sobre produtos enganosos e produtos piratas e elaboração de quadro comparativo das leis de defesa do consumidor de ambos os países. FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7B39C8F036-8621-4EB9...>. Acesso em: 6 mar. 2013. Acordo interinstitucional de entendimento entre os órgãos de defesa do consumidor do Brasil e da Argentina para criação de uma rotina de intercâmbio de informaçõesinformações sobre produtos enganosos e produtos piratas e elaboração de quadro comparativo das leis de defesa do consumidor de ambos os países. • Acordo interinstitucional Mercosul, de 03 de junho de 2004 Acordo interinstitucional de entendimento entre os órgãos de defesa do consumidor dos estados partes do Mercosul para a defesa do consumidor visitante. Assim, com o crescimento da sociedade consumerista, verifi cou-se a necessidade de uma legislação que regulamentasse todos os aspectos da relação de consumo, equilibrando a posição do consumidor, parte mais fraca da relação, seja proibindo ou limitando certas práticas de mercado. Antes da Constituição Federal de 1988, os passos importantes na defesa do consumidor foram dados somente a partir de 1985, com a promulgação, em 24 de julho, da Lei nº 7.347. Na mesma data foi assinado o Decreto Federal nº 91.469, que criou o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (CNDF), com o objetivo de assessorar o Presidente da República na elaboração da política nacional de defesa do consumidor. Porém, tal órgão foi substituído, no governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello, pelo Departamento Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, subordinado ao Ministério da Justiça. Em 1987, no VII Encontro das entidades de defesa do consumidor, realizado estrategicamente em Brasília, em abril, foram extraídas novas propostas consubstanciadas em anteprojeto formalmente protocolado junto à Assembleia Nacional Constituinte, fazendo sugestões de modifi cações da redação dos art. 36 e 74 do anteprojeto elaborado pela chamada Comissão Afonso Arinos, merecendo destaque a menção expressa já aos direitos fundamentais ou básicos do consumidor, como o relativo ao consumo de produtos e serviços, à segurança, à escolha, à informação etc. Também tem grande destaque o trabalho desenvolvido pelo Ministério Público Brasileiro, em dois simpósios nacionais. Ou seja, o VI Congresso Nacional de São Paulo, em junho de 1985, e o VII, em Belo Horizonte, quando foram oferecidas teses que defendiam não apenas a instituição de promotorias de justiça especializadas na proteção e defesa do consumidor, como também pela consagração daquelas preocupações no texto constitucional. TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 115 • Acordo interinstitucional Mercosul, de 03 de junho de 2004 IMPORTANT E Assim, com a instituição na Constituição Federal de 1988, a defesa do consumidor foi tratada com a devida importância e relevância, dispondo em seu art. 5º, XXXII, que: “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. (BRASIL, 2013). Tal norma constitucional significa que o Estado tem a obrigação de defender o consumidor, de acordo com o que estiver estabelecido nas leis. Na ordem econômica, a preocupação com a defesa do consumidor também é encontrada no texto do art. 170, que trata da “ordem econômica, fundado na valorização do trabalho e da livre iniciativa”, cujo fim é “assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,” com observância a determinados princípios fundamentais, encontrando-se, entre eles, exatamente a “defesa do consumidor”. (BRASIL, 2013). O art. 150, que trata das limitações de tributar por parte do poder público e no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, estabelece em seu §5º que: a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidem sobre mercadorias e serviços. (BRASIL, 2013). Ainda no plano constitucional, a preocupação e a preservação dos interesses e direitos dos consumidores aparecem no art. 175, II, que alude aos “usuários” de serviços públicos por intermédio de concessão ou permissão do poder público, dizendo que: incumbe ao poder público, na forma de lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. (BRASIL, 2013). E seu parágrafo único dispõe sobre “os direitos dos usuários”, no caso, e à evidência, “usuários-consumidores”, dos mencionados serviços públicos concedidos ou permitidos. Por fim, o art. 48 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) dispõe de forma categórica que: o Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do Consumidor. (BRASIL, 2013). Prazo esse esgotado da confecção de vários projetos, mas que culminou, após longa tramitação de dois anos, com a Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Estes dispositivos constitucionais são mencionados no art. 1º do CDC. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 116 2.1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Em 11 de setembro de 1990 foi promulgado o texto da Lei nº 8.078/90, que entrou em vigor em 11 de março de 1991, que dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Temos claro que a intenção do constituinte era a concepção da codificação, tendo em vista que um modelo privado ou leis esparsas não seriam eficientes para a proteção eficiente do consumidor. No entanto, a Constituição optou pela criação de um Código. Porém, durante a tramitação do Código, o lobby dos empresários, principalmente os da construção civil, dos consórcios e dos supermercados, prevendo o sucesso e o fortalecimento dos direitos dos consumidores, buscava impedir a votação do texto ainda naquela legislatura. Contudo, o Código foi votado, transformando-se na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, tornando o Brasil o pioneiro da codificação do Direito do Consumidor em todo o mundo. IMPORTANT E Dentre as finalidades do Código de Defesa do Consumidor (CDC), podemos destacar, resumidamente, que são: • Evitar que os consumidores sofram prejuízos. • Informar quais os direitos e deveres, compromissos e obrigações atinentes às relações de consumo. • Fixar a ação governamental e privada no sentido de efetivamente proteger o consumidor. • Estabelecer responsabilidades, determinar procedimentos e fixar sanções. Disponível em: <ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/.../Implicacoes-juridicas.pdf>. Acesso em: 6 mar. 2013. Sempre tendo por objetivo o atendimento às necessidades dos consumidores, reconhecendo sua vulnerabilidade no mercado de consumo, o CDC é uma norma de ordem pública e de interesse social, que não pode ser contrariada nem por acordo entre as partes, isto é, entre o fornecedor de produtos, serviços e o consumidor. É também uma lei de caráter inter e multidisciplinar, uma vez que se relaciona com outros ramos do direito, ao mesmo tempo em que atualiza e dá nova roupagem a antigos institutos jurídicos. Tem o caráter de um verdadeiro microssistema jurídico, uma vez que cuida de questões inseridas no Direito Constitucional, Civil, Penal, Processual Civil, TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 117 2.1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Penal e Administrativo, mas sempre tendo como fundamento a vulnerabilidade do consumidor frente ao fornecedor e sua condição de destinatário final de produtos e serviços, ou desde que não visem o uso profissional. IMPORTANT E Caro(a) acadêmico(a)! Como vimos, o Código de Defesa do Consumidor é um marco no rompimento de tradições no Direito brasileiro a partir do momento em que, desprezando a antiga tradição individualista, adotou uma visão mais socializante nas relações contratuais, trazendo várias inovações. Dentre elas, destacamos: • Quebrou o princípio do pacta sunt servanda (autonomia da vontade das partes), no que diz respeito à onerosidade do contrato. • Quebrou o princípio da relatividade dos contratos, facultando ao consumidor reclamar diretamente contra o causador ou responsável pelo evento danoso, mesmo que não fez parte da relação inicial do consumo. • Quebrou o princípio da culpa no campo da responsabilidade civil objetiva. • Quebrou o princípio da separação patrimonial entre pessoa física e jurídica, acolhendo a doutrina da desconsideração da personalidade jurídica para reparar os danos de consumo. • Quebrou a teoria do risco ao inverter o ônus da prova. 2.2 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DO CÓDIGO E DEFESA DO CONSUMIDOR Desde que o Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor, sofreu alterações por cinco leis e várias medidas provisórias. Vejamos: a) Lei nº 8.656, de 21/05/1993 – alterou o texto do artigo 57 e determinou que o Poder Executivo: • regulamentasse o procedimento das sanções administrativas em 45 dias; • atualizasse periodicamente a pena de multa, respeitando os parâmetros vigentes à época da promulgação do código consumerista. b) Lei nº 8.703, de 06/09/1993 – alterou o parágrafo único do artigo 57, determinando que: a multa será em montante não inferior a duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (UFIR) ou índice equivalente que venha a substituí-lo. (BRASIL, 2013). c) Lei nº 8.884, de 13/06/1994 – alterou o artigo 39, tornando exemplificativa a relação das práticas comerciais consideradas abusivas e inseriu, nessa categoria, as condutas de: recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados por leis especiais (Inciso IX) e elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Inciso X). (BRASIL, 2013). UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 118 d) Lei nº 9.008, de 21/03/1995 – decorrente da conversão da Medida Provisória nº 683, de 31/10/1994, reeditada sucessivamente até a de nº 854, de 26/01/1995, incluiu como prática abusiva no art. 39 a conduta de: deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fi xação de seu termo inicial a seu exclusivo critério. (Inc. XII). (BRASIL, 2013). e) Lei nº 9.298, de 1º/08/1996 – alterou o § 1º do art. 52 do CDC, que passou a ter a seguinte redação: as multas e mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a 2% (dois por cento) do valor da prestação. (BRASIL, 2013). f) Lei nº 9.870, de 23/11/1999 – alterou o art. 39 do CDC e inseriu, também, como prática abusiva, a aplicação de índice ou fórmula de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido (Inc. XI). g) Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004 - dispõe sobre a oferta e as formas de afi xação de preços de produtos e serviços para o consumidor. h) Lei nº 11.785, de 22 de setembro de 2008 - altera o § 3º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor – CDC, para defi nir tamanho mínimo da fonte em contratos de adesão. i) Lei nº 11.800, de 29 de outubro de 2008 - acrescenta parágrafo único ao art. 33 da Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor, para impedir que os fornecedores veiculem publicidade ao consumidor que aguarda, na linha telefônica, o atendimento de suas solicitações. (BRASIL. 2013). As alterações legislativas sofridas pelo Código de Defesa do Consumidor benefi ciaram o consumidor, ampliando suas garantias. 3 DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO O Código de Defesa do Consumidor, antes de tratar da Política Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, no seu artigo 4º, cuidou da Política de Relações de Consumo, dispondo sobre os objetivos e princípios que devem nortear o setor. Dentre os objetivos, o CDC dispôs o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. O Código de Defesa do Consumidor, antes de tratar da Política Nacionalde Proteção e Defesa do Consumidor, no seu artigo 4º, cuidou da Política de Relações de Consumo, dispondo sobre os objetivos e princípios que devem nortear o setor. Dentre os objetivos, o CDC dispôs o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/.../a-importancia-da-boa-fe-como-norma-de-conduta-e-...>. Acesso em: 6 mar. 2013. TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 119 Contudo, para atingir estes objetivos devem ser atendidos os seguintes princípios: I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (artigo 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação, pelos fornecedores, de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos, criações industriais das marcas, nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; VII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>. Aces- so em: 6 mar. 2013. Estes princípios, como dito no “caput” do mesmo artigo 4º, visariam proporcionar: o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. (BRASIL, 2013) Faremos, a seguir, uma análise dos princípios mais importantes UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 120 3.1 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR Pressupõe que o consumidor é hipossufi ciente, ou seja, carente de proteção. Conforme entendimento da lei, o consumidor, individualmente, não está em condições de fazer valer as suas exigências em relação aos produtos e serviços que adquire, pois tem como característica carecer de meios adequados para se relacionar com as empresas com quem contrata. É tamanha a desproporção entre os meios que dispõem as empresas e o consumidor normal, que este tem imensas difi culdades de fazer respeitar os seus direitos. FONTE: Disponível em: <http://www.ambitjuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_arti- gos_leitura&artigo_id=2113>. Acesso em: 6 mar. 2013. Pressupõe que o consumidor é hipossufi ciente, ou seja, carente de proteção. Conforme entendimento da lei, o consumidor, individualmente, não está em condições de fazer valer as suas exigências em relação aos produtos e serviços que adquire, pois tem como característica carecer de meios adequados para se relacionar com as empresas com quem contrata. É tamanha a desproporção que adquire, pois tem como característica carecer de meios adequados para se relacionar com as empresas com quem contrata. É tamanha a desproporção que adquire, pois tem como característica carecer de meios adequados para se entre os meios que dispõem as empresas e o consumidor normal, que este tem imensas difi culdades de fazer respeitar os seus direitos. Até mesmo quando se fala no direito de “escolha” do consumidor, ela já nasce reduzida. O consumidor só pode optar por aquilo que existe e foi oferecido no mercado. E essa oferta foi decidida unilateralmente pelo fornecedor, visando seus interesses empresariais, que são, evidentemente, o de obtenção de lucro. FONTE: Adaptado de: <bonilhaeruella.com/.../126-principios-basilares-do-codigo-de-defesa-..>. Acesso em: 6 mar. 2013. Assim, torna-se fundamental uma atuação direta do Estado a fi m de proteger os consumidores e estabelecer o equilíbrio. 3.2 DEVER DO ESTADO Este princípio está expresso no artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição Federal: O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Desse modo, a Constituição Brasileira dispõe que haja atuação do Estado na defesa do consumidor, competindo, conforme reza o artigo 24 da Constituição Federal, à União, aos Estados e ao Distrito Federal, legislar concorrentemente sobre o inciso VIII - responsabilidade por dano [...], ao consumidor [...] (BRASIL, 2013). A Constituição da República de 1988 diz ainda no Artigo 150, § 5º: A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços. (BRASIL, 2013). Já no artigo 175, § único, inciso II, a mesma Constituição Federal estabelece que nas concessões e permissões do serviço público, a lei deverá dispor acerca “dos direitos dos usuários”, que são os consumidores da prestação de serviços. (BRASIL, 2013). TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 121 3.1 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR 3.2 DEVER DO ESTADO Enfatiza-se que a defesa do consumidor perante a atividade econômica vem sendo efetivada através de lei federal (Código do Consumidor), leis estaduais, normas correlatas, BACEN (consórcios, financeiras, bancos), IRB, INMETRO, Conselhos Profissionais, que fiscalizam e disciplinam o relacionamento do consumidor perante a atividade econômica em geral. Do ponto de vista extrajudicial, existem entidades governamentais e não governamentais atuando diretamente na defesa do consumidor, como: IMPORTANT E • Ministério da Justiça (Secretaria dos Direitos Econômicos). Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ5E813CF3PTBRIE.htm>. • Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon Disponível em: <http://www.mj.gov.br/senacon>. • Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) Disponível em: <http://www.mj.gov.br/senacon>. SISTECON/PROCONS ESTADUAIS: • DECON - Polícia Civil (tem origem na Delegacia de Ordem Econômica, na Lei Delegada nº 4 - tem 30 anos). • Ministério Público. • Associações Comunitárias. • IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Disponível em: <http://www.idec.org.br/>. • Associações de Vítimas de Fornecedor Determinado. Estas agem quando solicitadas ou por iniciativa própria. • Poder Judiciário - que age se provocado, como um meio judicial de defesa do consumidor. 3.3 HARMONIZAÇÃO DE INTERESSES Para permitir a harmonização dos interesses das partes envolvidas nas relações de consumo, há necessidade de nivelá-los, tratando com igualdade os diferentes, alcançando assim o equilíbrio. Para que isso aconteça é preciso que haja consciência da existência de uma terceira força no mercado, além da indústria e do trabalho: o consumidor. Quando este passar a interferir no mercado, com repercussões sobre a produção, seja sob o ponto de vista da qualidade, da quantidade ou da necessidade, o mercado se tornará mais eficiente,sem desperdício econômico. Dessa forma, a diminuição das desigualdades é condição essencial para a harmonização e equiparação entre consumidor e produtor. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 122 3.4 INFORMAÇÃO Na Resolução nº 39/248/85, de 16/04/1985, a ONU estabeleceu, entre os princípios para que os governos membros desenvolvam ou reforcem políticas fi rmes de proteção ao consumidor, o direito à informação. Adotado expressamente pelo Código de Defesa do Consumidor, este princípio não implica apenas informações sobre o produto ou serviço, mas também quanto aos direitos e deveres enquanto consumidor. O consumidor deve saber como ressarcir-se, pois isto é importante para garantir justiça individual. O consumidor, portanto, deve ser informado e educado sobre seu próprio poder frente aos produtores e prestadores de serviços, para equiparar-se a estes em seu relacionamento. 3.5 QUALIDADE É o princípio que manda incentivar o desenvolvimento de meios efi cientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços. O produtor deve garantir que as mercadorias, além de uma performance adequada aos fi ns a que se destinam, tenham duração e confi abilidade. A própria ONU tem elaborado diretrizes que preveem os direitos do consumidor no que toca à qualidade e segurança dos produtos. Um desempenho adequado destes é uma exigência inerente à sua existência, aliada à necessidade de durabilidade e confi abilidade dos produtos colocados à disposição do consumidor. A qualidade não deve se restringir apenas ao produto e serviço prestado, mas também no atendimento ao consumidor pela colocação de mecanismos alternativos (viáveis e rápidos) na solução de confl itos que porventura surjam na relação de consumo. A qualidade não deve se restringir apenas ao produto e serviço prestado, mas também no atendimento ao consumidor pela colocação de mecanismos alternativos (viáveis e rápidos) na solução de confl itos que porventura surjam na relação de consumo. FONTE: Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br/revistas/fi les/anexos/24438-24440-1-PB.htm>. Acesso em: 6 mar. 2013. 3.6 COIBIÇÃO DE ABUSOS É o princípio que reprime abusos no mercado de consumo. O Código de Defesa do Consumidor criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), integrado pelos órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades de defesa do consumidor. É o princípio que reprime abusos no mercado de consumo. O Código de Defesa do Consumidor criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC), integrado pelos órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais e as entidades de defesa do consumidor. FONTE: Adaptado de: <www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista..>. Acesso em: 6 mar. 2013. TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 123 3.4 INFORMAÇÃO 3.5 QUALIDADE 3.6 COIBIÇÃO DE ABUSOS O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) congrega Procons, Ministério Público, Defensoria Pública e entidades civis de defesa do consumidor, que atuam de forma articulada e integrada com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). O SNDC se reúne trimestralmente para analisar conjuntamente os desafi os enfrentados pelos consumidores e para a formulação de estratégias de ação, tais como: fi scalizações conjuntas, harmonização de entendimentos e elaboração de políticas públicas de proteção e defesa do consumidor. Os órgãos do SNDC têm competência concorrente e atuam de forma complementar para receber denúncias, apurar irregularidades e promover a proteção e defesa dos consumidores. FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/.../...>. Acesso em: 6 mar. 2013. O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) congrega Procons, Ministério Público, Defensoria Pública e entidades civis de defesa do consumidor, que atuam de forma articulada e integrada com a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). O SNDC se reúne trimestralmente para analisar conjuntamente os desafi os enfrentados pelos consumidores e para a formulação de estratégias de ação, tais como: fi scalizações conjuntas, harmonização de entendimentos e elaboração de políticas públicas de proteção e defesa do consumidor. Os órgãos do SNDC têm competência concorrente e atuam de forma complementar para receber denúncias, apurar irregularidades e promover a proteção e defesa dos consumidores. Os Procons são órgãos estaduais e municipais de proteção e defesa do consumidor, criados especifi camente para este fi m, com competências, no âmbito de sua jurisdição, para exercer as atribuições estabelecidas pela Lei n° 8.078, de 11 de setembro de 1990, e pelo Decreto nº 2.181/97. Os Procons são, portanto, os órgãos que atuam no âmbito local, atendendo diretamente os consumidores e monitorando o mercado de consumo local. Têm papel fundamental na execução da Política Nacional de Defesa do Consumidor. O Ministério Público e a Defensoria Pública, no âmbito de suas atribuições, também atuam na proteção e na defesa dos consumidores e na construção da Política Nacional das Relações de Consumo. O Ministério Público, de acordo com sua competência constitucional, além de fi scalizar a aplicação da lei, instaura inquéritos e propõe ações coletivas. A Defensoria, além de propor ações, defende os interesses dos desassistidos, promove acordos e conciliações. A Secretaria Nacional do Consumidor, por sua vez, tem por atribuição legal a coordenação do SNDC e está voltada à análise de questões que tenham repercussão nacional e interesse geral, além do planejamento, elaboração, coordenação e execução da Política Nacional de Defesa do Consumidor. Os Procons são, portanto, os órgãos que atuam no âmbito local, atendendo diretamente os consumidores e monitorando o mercado de consumo local. Têm papel fundamental na execução da Política Nacional de Defesa do Consumidor. O Ministério Público e a Defensoria Pública, no âmbito de suas atribuições, também atuam na proteção e na defesa dos consumidores e na construção da Política Nacional das Relações de Consumo. O Ministério Público, de acordo com sua competência constitucional, além de fi scalizar a aplicação da lei, instaura inquéritos e propõe ações coletivas. A Defensoria, além de propor ações, defende os interesses dos desassistidos, promove acordos e conciliações. A Secretaria Nacional do Consumidor, por sua vez, tem por atribuição legal a coordenação do SNDC e está voltada à análise de questões que tenham repercussão nacional e interesse geral, além do planejamento, elaboração, coordenação e execução da Política Nacional de Defesa do Consumidor. FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/.../...>. Acesso em: 6 mar. 2013. O Código de Defesa do Consumidor também instituiu a Convenção Coletiva de Consumo, para regular, por escrito, as relações de consumo. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 124 Em seu artigo 107, o CDC prevê que: as entidades civis de consumidores, as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem regular, por convenção escrita, relações de consumo [...]. (BRASIL, 2013). Estes dois: SNDC e Convenção Coletiva de Consumo, além dos demais existentes e já descritos, colaboram e implementam a coibição e repressão necessárias contra os abusos praticados no mercado: pelo uso do poder econômico; pela introdução de produtos que iludam sobre a qualidade do consumidor na sua boa-fé; utilização indevida de marcas e patentes; pela utilização de publicidade enganosa ou constrangedora para determinados grupos etários, sociais ou econômicos e de cláusulas contratuaisabusivas. 3.7 SERVIÇO PÚBLICO Este princípio prevê a racionalização e melhoria dos serviços públicos. Em termos de serviço público, a isonomia dos usuários é a mais absoluta possível. Qualquer pessoa do povo pode exigir a prestação correta do serviço público, porque é uma obrigação da administração pública e um direito de qualquer pessoa. FONTE: Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br/revistas/fi les/anexos/24438-24440-1-PB.htm>. Acesso em: 6 mar. 2013. Este princípio prevê a racionalização e melhoria dos serviços públicos. Em termos de serviço público, a isonomia dos usuários é a mais absoluta possível. Qualquer pessoa do povo pode exigir a prestação correta do serviço público, porque é uma obrigação da administração pública e um direito de qualquer pessoa. É um dever da administração pública: a prestação de serviços corretos, confi gurando-se esta obrigação do Estado de bem-servir, sem favor para qualquer pessoa, como um direito público subjetivo do povo. Deve haver uma igualdade no atendimento à população com um atendimento satisfatório, inclusive dos permissionários e concessionários. É um dever da administração pública: a prestação de serviços corretos, confi gurando-se esta obrigação do Estado de bem-servir, sem favor para qualquer pessoa, como um direito público subjetivo do povo. Deve haver uma igualdade no atendimento à população com um atendimento satisfatório, inclusive dos permissionários e concessionários. FONTE: Disponível em: <www.tvimagem.com.br/gilbertodebarrosbasilefi lho/principios.htm>. Acesso em: 6 mar. 2013. Estes, no atendimento à população, devem tomar todas as medidas que se fi zerem necessárias para agilizar a prestação dos serviços dos quais se incumbirem. 3.8 MERCADO Este princípio propõe o estudo constante das modifi cações do mercado de consumo. Deve haver uma política que privilegie as necessidades de demanda e não as conveniências da oferta. Produtores e consumidores devem adotar um conjunto de decisões sobre o que produzir. A demanda deve ser privilegiada ao se analisar a produção e não se avaliar a necessidade de produção pelas conveniências da oferta. TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL 125 3.7 SERVIÇO PÚBLICO 3.8 MERCADO Este é um dos pontos importantes para uma justa relação de consumo. Ou seja, satisfazer os interesses mais modestos de faixas menos privilegiadas economicamente da população e, com isso, trazendo-as ao mercado de consumo numa relação equânime. Este é um dos pontos importantes para uma justa relação de consumo. Ou seja, satisfazer os interesses mais modestos de faixas menos privilegiadas economicamente da população e, com isso, trazendo-as ao mercado de consumo numa relação equânime. Estaremos, assim, tornando mais correta a aplicação de seu dinheiro em produtos de qualidade que estejam realmente necessitando adquirir, e não induzindo-as a consumirem produtos desnecessários, através de técnicas de marketing sedutoras e agressivas. UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 126 LEITURA COMPLEMENTAR “NOTÍCIA - SINDEC: EM 292 CIDADES, DOIS MILHÕES DE CONSUMIDORES ATENDIDOS” Ministério da Justiça divulga balanço dos atendimentos dos Procons em 2012 O número de atendimentos registrados pelos Procons integrados ao Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec) foi de 2,03 milhões de consumidores em 2012. Essa quantidade representa um aumento de 19,7% em relação aos 1,6 milhão do ano de 2011. Entre os assuntos mais demandados pelos consumidores ao longo de 2012 destacam-se: telefonia celular (9,17%); banco comercial (9,02%); cartão de crédito (8,23%); telefonia fixa (6,68%) e financeira (5,17%). A publicação mostra que a empresa Oi lidera o ranking com 120.374 demandas. Em seguida, estão a Claro- Embratel (102.682), o Grupo Itaú (97.578), Bradesco (61.257) e Vivo-Telefônica (44.022). O setor mais demandado pelos consumidores que procuram os Procons é o financeiro (banco comercial, cartão de crédito, financeira e cartão de loja), com 23,85%. Além disso, foi possível constatar um aumento de demandas no setor de telecomunicações (telefonia celular, telefonia fixa, TV por assinatura e internet), que saltou de 17,46%, em 2011, para 21,7% dos registros em 2012. As informações fazem parte do Boletim Sindec 2012, divulgado nesta quarta-feira (16/10) pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon/MJ). Os principais problemas enfrentados pelos consumidores em 2012 foram: 37,42% relativos a cobranças (falta de informação sobre valores, cobranças duplicadas etc.); 17,31% relativos à oferta de produtos e serviços; 13,21% problemas com contrato (alterações unilaterais, descumprimento de ofertas e publicidades enganosas), 17,57% referentes à qualidade de produtos (vício ou má qualidade de produto/serviço, defeitos e garantia de produtos). Ao analisar o perfil do consumidor, a publicação mostra que as mulheres representam 52,97% das pessoas que procuraram os Procons em 2012. A maioria dos consumidores tem entre 21 e 50 anos. O Boletim Sindec 2012, que reúne os atendimentos realizados pelos Procons integrados ao SINDEC em 292 cidades brasileiras, visa incentivar a melhoria do atendimento prestado ao consumidor e o aprimoramento da qualidade de produtos e serviços comercializados no Brasil. FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br>. Acesso em: 16 jan. 2013. 127 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico expomos a evolução histórica do direito do consumidor no Brasil. • Aprendemos que, com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil, efetivamente, colocou a defesa do consumidor como dever do Estado brasileiro. • Foi com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990) que se estabeleceu a Política Nacional das Relações de Consumo, dispondo quanto ao atendimento das necessidades dos consumidores. O respeito à sua dignidade, saúde, segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo. 128 AUTOATIVIDADE Considerando o conteúdo do Tópico 2, responda às seguintes questões: 1 No sistema protetivo do consumidor, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Os serviços públicos são excluídos, já que há objeto de leis próprias. b) ( ) Haverá, sempre, a inversão do ônus probatório em benefício do consumidor, em face de sua presumida hipossuficiência, que é absoluta. c) ( ) As cláusulas de eleição de foro são tidas por inexistentes em qualquer hipótese, não gerando efeitos jurídicos. d) ( ) É garantido o direito de modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas. 2 Entre os instrumentos com os quais o poder público conta para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo inclui-se: a) ( ) A instituição de promotorias de justiça de defesa do consumidor, no âmbito do MP. b) ( ) A assistência jurídica integral e gratuita a todos os consumidores. c) ( ) A criação do balcão de atendimento ao consumidor, no âmbito municipal. d) ( ) A instituição de associações de defesa do consumidor. 3 O Código de Defesa do Consumidor estabelece os objetivos e princípios da Política Nacional de Relações de Consumo. Nesse contexto, pode-se afirmar que existe: a) ( ) Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. b) ( ) Ação governamental no sentido de proteger o fornecedor atravésda presença do Estado no mercado de consumo c) ( ) Incentivo à criação de mecanismos de arbitragem entre consumidores e fornecedores. d) ( ) Estabelecimento de regras que excluem a atividade estatal dos casos de concorrência desleal. 4 O desenvolvimento pelos Estados da Federação de órgãos de defesa do consumidor, como os PROCONs, traduz, no âmbito da Política Nacional de Relações de Consumo, a: a) ( ) Ação dos particulares. b) ( ) Ação governamental. c) ( ) Intervenção federal. d) ( ) Atuação legislativa. 5 Considerando o texto “NOTÍCIA - SINDEC: Em 292 cidades, dois milhões de consumidores atendidos”, faça uma análise e descreva quais foram os principais problemas encontrados pelos consumidores brasileiros. 129 TÓPICO 3 CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado em linguagem simples e direta, direcionado para que todos os brasileiros, independentemente de sua condição cultural, pudessem ter acesso ao seu conteúdo. Além do mais, traz em seu texto vários conceitos importantes e necessários para configurar a existência de uma relação consumerista, justamente para se evitar debates jurídicos intermináveis, que poderiam amenizar as responsabilidades dos fornecedores de produtos e serviços e/ou excluir determinadas relações comerciais da seara consumerista. 2 CONCEITO DE CONSUMIDOR O artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor conceitua o consumidor da seguinte maneira: Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se o consumidor à coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. (BRASIL, 2013). É preciso destacar, inicialmente, que o conceito de consumidor há que ser definido mediante uma análise estruturada entre os artigos 2º e § único, 17 e 29 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), de forma a interpretar adequadamente a vontade protetiva que advém da norma legal. Isto porque o mencionado artigo 2º traz uma redação que deixa a desejar quanto à especificação e fixação de regras claras a respeito de conceituação da figura do consumidor. Tomemos como exemplo a simples referência da expressão “destinatário final”, a qual não é suficiente para identificarmos todos os tipos de consumidores em todas as relações de compra de produtos e de prestação de serviços. Um exemplo é o fato de que, quando uma empresa compra uma máquina utilizada em sua linha de produção para industrialização de outros bens de consumo ou produtos, esta máquina é um produto, sim, mas não é típico de 130 UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR consumo, não é comprado em qualquer lugar na rua. Portanto, é um bem, um produto típico de produção e não de consumo. Dessa forma, a empresa que compra a referida máquina, apesar de ser destinatária fi nal deste produto (máquina industrial para fabricar outros produtos, então, bens de consumo), não é consumidora pelos parâmetros legais e interpretativos jurídicos do Código de Proteção e Defesa do Consumidor. Portanto, a ideia de ser o comprador de um bem, ser destinatário fi nal, é o início de uma análise mais cautelosa, é uma referência para buscarmos entender se estamos diante de uma relação de consumo. Todavia, não defi ne a questão. O que serve de maior ênfase é entendermos, ao mesmo tempo, se o comprador é destinatário fi nal, mas também compreendermos a natureza do tipo de bem adquirido. Se este tem uma natureza típica de ser consumida, como uma roupa, um alimento, uma bicicleta, um sapato, bens típicos de consumo. Ou se o bem adquirido será meio de elaboração e de produção de outros bens, então, de consumo. O Código de Defesa do Consumidor não defi ne o conceito dos chamados bens de produção, tampouco os chamados bens típicos de consumo, fi cando a cargo dos profi ssionais do Direito, como juízes, promotores e advogados, a busca sincera da compreensão e identifi cação destes conceitos, a fi m de entendermos se a relação é de direito civil comum ou de consumo, para então sabermos quais são as leis e conceitos que serão aplicados em um julgamento. Ou seja, se são leis de Direito Civil Comum pelos Códigos Civis ou o Código de Defesa do Consumidor, que são bem diferentes. Por outro lado, para a exata qualifi cação fi gurada do consumidor, é necessário que se amplie a conceituação dada pelo legislador no caput do artigo 2º. Pois o parágrafo único do mesmo artigo criou a fi gura do consumidor por equiparação, ao prever expressamente que a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, desde que tenham intervindo nas relações de consumo, deve ser equiparada a consumidores. FONTE: Disponível em: <jus.com.br/revista/texto/4984/do-conceito-ampliado-de-consumi- dor>. Acesso em: 7 mar. 2013. Por outro lado, para a exata qualifi cação fi gurada do consumidor, é necessário que se amplie a conceituação dada pelo legislador no caput do artigo 2º. Pois o parágrafo único do mesmo artigo criou a fi gura do consumidor por equiparação, ao prever expressamente que a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, desde que tenham intervindo nas relações de consumo, deve ser equiparada a consumidores. TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR 131 Tendo sido feitas estas considerações iniciais, abordaremos de maneira distinta as três situações em que o Código trata dos consumidores por equiparação: art. 2º (consumidor stricto sensu); art. 2º, § único (coletividade de pessoas); art. 17 (vítimas do acidente de consumo) e art. 29 (das pessoas expostas às práticas abusivas). (BRASIL, 2013). Nesse passo, o artigo 17 da lei em análise também equipara à condição de consumidor todas as pessoas que possam ter sido vitimadas pelos acidentes decorrentes do fato de produto ou serviço. Ainda neste sentido, o Código, quando regula as chamadas práticas comerciais, inicia o capítulo pelo artigo 29 que, mais uma vez, utiliza-se da locução “equipara-se” para aí estender a proteção consumerista a todas as pessoas determináveis ou não que tenham sido expostas às práticas que o referido capítulo regula. FONTE: Adaptado de: <www.boletimjuridico.com.br › doutrina › Direito do Consumidor>. Acesso em: 7 mar. 2013 Nesse passo, o artigo 17 da lei em análise também equipara à condição de consumidor todas as pessoas que possam ter sido vitimadas pelos acidentes decorrentes do fato de produto ou serviço. Ainda neste sentido, o Código, quando regula as chamadas práticas comerciais, inicia o capítulo pelo artigo 29 que, mais uma vez, utiliza-se da locução “equipara-se” para aí estender a proteção consumerista a todas as pessoas determináveis ou não que tenham sido expostas às práticas que o referido capítulo regula. 2.1 DA COLETIVIDADE DE PESSOAS A equiparação determinada pelo parágrafo único do art. 2º do CDC visa proteger toda a coletividade de pessoas sujeitas às práticas decorrentes da relação de consumo. Desta forma, conseguiu-se viabilizar uma rede protetora dos interesses difusos e coletivos da massa consumidora, dotando os órgãos que detenham legitimidade para atuar em sua defesa, de mecanismo de prevenção para obtenção de uma justa reparação para a eventualidade de existência de dano. José Geraldo Brito Filomeno (1999, p. 38-39), coparticipante da elaboração do anteprojeto que resultou no Código de Defesa do Consumidor, ao comentar referido parágrafo, expressamente diz: O que se tem em mira no parágrafo único do art. 2º é a universalidade, conjunto de consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo, classe ou categoria deles, e desde que relacionados a um determinado produto ou serviço. Perspectivaessa extremamente relevante e realista, porquanto é natural que se previna, por exemplo, o consumo de produtos ou serviços perigosos ou então nocivos, benefi ciando- se, assim, abstratamente, as referidas universalidades e categorias de potenciais consumidores. 132 UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 2.3 DAS PESSOAS EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS Para delinearmos o estudo deste tópico, primeiramente vejamos o que dispõe o artigo 29 do Capítulo V – Das práticas comerciais, Seção I – Das Disposições Gerais do Código Consumerista: Para os fins deste Capítulo e do 2.2 DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE DE CONSUMO Vejamos o que dispõe o artigo 17 do Código de Defesa do Consumidor: Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento. (BRASIL, 2013). Sobre o mencionado dispositivo legal, ensina Roberto Senise Lisboa (2001, p. 163) que: Além do próprio consumidor, o terceiro prejudicado recebeu a atenção do legislador, ante o dano sofrido, decorrente da relação de consumo da qual não participou. Concluiu o raciocínio afirmando que estendeu- se a proteção concedida pela lei ao destinatário final dos produtos ou serviços, em favor de qualquer sujeito de direito, inclusive daquele que ordinariamente não seria consumidor na relação de consumo a partir da qual ocorreu o prejuízo. Paulo de Tarso Vieira Sanseverino (2002, p. 41), ao discorrer sobre o assunto, assim ensina: Toda e qualquer vítima de acidente de consumo equipara-se ao consumidor para efeito da proteção conferida pelo CDC. Passam a ser abrangidos os chamados bystander, que são terceiros que, embora não estejam diretamente envolvidos na relação de consumo, são atingidos pelo aparecimento de um defeito no produto ou no serviço. Cabe aqui destacar que a regra contida no art. 17 do CDC engloba a proteção ao terceiro que não faz parte da relação direta de consumo. Assim, conclui-se que, se do acidente de consumo restou prejuízo para qualquer pessoa, mesmo aquelas que não estariam enquadradas no conceito de consumidor, o dever de indenizar estará presente. Neste aspecto, Jaime Marins (1993, p. 70-71): nos fornece um exemplo bem ilustrativo do que seja o chamado bystander, ao relatar o caso de um comerciante de defensivos agrícolas que se vê seriamente intoxicado pelo simples ato de estocagem em decorrência de defeito no acondicionamento do produto - defeito de produção. Neste caso, embora o comerciante não seja consumidor stricto sensu, poderá se socorrer da proteção consumerista. TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR 133 2.3 DAS PESSOAS EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS Vê-se, desde logo, que a abrangência do art. 29 do CDC é bem maior que os já tratados (art. 2º, § único e 17), porquanto, basta que a relação seja de consumo para que a proteção consumerista seja estendida a qualquer pessoa, independentemente da conceituação legal de consumidor. Vê-se, desde logo, que a abrangência do art. 29 do CDC é bem maior que os já tratados (art. 2º, § único e 17), porquanto, basta que a relação seja de consumo para que a proteção consumerista seja estendida a qualquer pessoa, independentemente da conceituação legal de consumidor. FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/revista/texto/4984/do-conceito-ampliado-de-consumidor>. Acesso em: 7 mar. 2013. 2.2 DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE DE CONSUMO seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas. (BRASIL, 2013). Incluem-se nesse ponto o conjunto de pessoas, consumidoras ou não, determináveis ou não, que possam, de qualquer forma, estarem expostas às práticas comerciais que vão desde a oferta de produtos (art. 30 a 35), à publicidade enganosa ou abusiva (art. 36 a 38), às práticas abusivas (art. 39 a 41), à forma de cobrança de dívidas (art. 42), à inclusão de seus nomes em bancos de dados (art. 43 e 44), assim como das cláusulas abusivas (art. 51). Nesse sentido, enfatiza Roberto Senise Lisboa (2001, p.169) que: O legislador conferiu a defesa dos direitos de todos, consumidores por defi nição ou não, e não apenas da coletividade de consumidores. Assim, a expressão todas as pessoas abrange a vítima do evento referido no art. 17, a coletividade de consumidores à qual alude o art. 2º, § único. E mesmo as pessoas que normalmente não seriam consumidoras na relação de consumo, a partir da qual se principiou o dano. Evidentemente que a equiparação de qualquer pessoa à condição de consumidor, no sentido de que a mesma possa ser benefi ciária da legislação consumerista, há que decorrer de uma relação de consumo. Isto é, é preciso haver num dos polos um fornecedor, seja de serviços, seja de produtos e, de outro, um consumidor como alvo a ser atingido pelo apelo do fornecedor. Se assim não for, não há que se falar em consumidor por equiparação, porque nem mesmo relação de consumo haverá. Assim, conclui-se que consumidor não é apenas aquele que adquire ou utiliza produtos, mas também as pessoas expostas às práticas previstas no Código. No primeiro caso, exige- se que haja ou que esteja por haver a aquisição ou utilização de um produto ou serviço. Já no segundo, o que se exige é a simples exposição à prática, mesmo que não se consiga apontar concretamente um consumidor que esteja em vias de adquirir ou utilizar o produto ou serviço. 134 UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR 3 CONCEITO DE FORNECEDOR, PRODUTOR E PRESTADOR DE SERVIÇOS É no artigo 3º do CDC que encontramos as defi nições destas fi guras, como partes integrantes do outro lado da relação jurídica de consumo, pessoas ou entes que produzem, montam, constroem, criam, transformam, importam ou exportam, distribuem e comercializam produtos ou prestam serviços. Sejam pessoas físicas ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, do governo (públicas) ou empresas privadas, particulares. Vejamos o teor do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor: Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, fi nanceira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (BRASIL, 2013). A defi nição legal praticamente esgotou todas as formas de atuação no mercado de consumo. Nesse sentido, são compreendidos todos quantos propiciem a oferta de bens e serviços no mercado de consumo, de modo a atender às suas necessidades, pouco importando a que título, tendo relevância a distinção apenas, como se verá, quando se cuidar da responsabilidade de cada “fornecedor” em casos de danos aos consumidores. Ou então para os próprios fornecedores na via regressiva e em cadeia das mesmas responsabilidades, eis que é vital a solidariedade para a obtenção efetiva da proteção que almejam aqueles mesmos consumidores. Ou então para os próprios fornecedores na via regressiva e em cadeia das mesmas responsabilidades, eis que é vital a solidariedade para a obtenção efetiva da proteção que almejam aqueles mesmos consumidores. FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/.../a-responsabilidade-civil-das-agencias-de-turismo-nas-re...>. Acesso em: 7 mar. 2013. Fornecedor não é apenas quem produz ou fabrica, industrial ou artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como também quem vende. Ou seja, comercializa produtos
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