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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/303215777 Caracterização química, funcionalidade e toxicidade do pequi Article · January 2012 CITATIONS 2 READS 402 3 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Prospecting and evaluation of the biological and functional potential of the Cerrado fruit araticum (Annona crassiflora Mart.) View project Profile of bioactive compounds of the fruits calabura (Muntingia calabura L.) and mutamba (Guazuma ulmifolia Lam.). View project Henrique Arruda University of Campinas 18 PUBLICATIONS 31 CITATIONS SEE PROFILE Richtier Goncalves Cruz University of São Paulo 3 PUBLICATIONS 2 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Henrique Arruda on 16 May 2016. The user has requested enhancement of the downloaded file. 314 Nutrição Brasil - setembro/outubro 2012;11(5) REVISÃO Caracterização química, funcionalidade e toxicidade do pequi Chemical characterization, functionality and toxicity of pequi Henrique Silvano Arruda*, Richtier Gonçalves da Cruz*, Martha Elisa Ferreira de Almeida** *Graduando do Curso de Ciências de Alimentos da Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba (UFV-CRP), **Nutricionista, Docente Adjunta dos Cursos de Ciências de Alimentos e Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, Campus de Rio Paranaíba (UFV – CRP) Resumo O pequi é um fruto do cerrado cuja polpa contém 41,50% de umidade; 0,63% de cinzas; 3,00% de proteínas; 11,45% de carboidratos; 33,40% de lipídios; 10,02% de fibras; 209,00 mg 100 g-1 de fenólicos totais e 7,25 mg 100 g-1 de carotenoides totais. A amêndoa apresenta 8,68% de umidade; 4,01% de cinzas; 25,27% de proteínas; 8,33% de carboidratos; 51,51% de lipídios; 2,20% de fibra; 122,00 mg 100 g-1 de fenólicos totais e 0,295 mg 100 g-1 de carotenoides totais. O óleo do pequi possui carotenoides que impede a formação de radicais livres e suas doenças consequentes, aumenta a resposta imunológica e inibe o surgimento de úlceras gástricas, atividade antifúngica, tonificante e expectorante, além de ser usado como substituinte de gorduras e óleos nas indústrias de chocolate e de produtos de confeitaria. O extrato bruto das folhas demonstrou atividade moluscicida, e o extrato etanólico atividade trypanosomicida. Os taninos da casca do pequi e das folhas são importantes na fabricação de tinturas. O extrato do farelo da casca de pequi demonstrou uma concentração letal em camundongos igual a 0,31 mg ml-1. Concluiu-se que tanto a polpa do pequi quanto a amêndoa são ricas em macro e micronutrientes e que este fruto possui atividades biológicas importantes à saúde humana e na indústria de cosméticos, alimentos e tinturas. Palavras-chave: Caryocar brasiliense, pequi, frutos do cerrado. Abstract The pequi is a native fruit of the cerrado whose pulp contains 41,50% moisture; 0,63% ash; 3,00% protein; 11,45% carbohydrates; 33,40% lipid; 10,02% of fiber; 209,00 mg 100 g-1 of total phenolics and 7,25 mg 100 g-1 of total carotenoids total. The kernel has 8,68% moisture; 4,01% ash; 25,27% protein; 8,33% carbohydrates; 51,51% fat; 2,20% fiber; 122,00 mg 100 g-1 of total phenolics and 0,295 mg 100 g-1 of total carotenoids. The pequi oil contains carotenoids which prevents the formation of free radicals and their consequent diseases, increases the immune response and inhibits the development of gastric ulcers, antifungal, tonic and expectorant, and is used as a substitute for fats and oils in the industries of chocolate and sugar confectionery. The crude extract of the leaves showed molluscicidal activity, and ethanol extract activity trypano- somicida. The tannins from the bark and leaves pequi are important in the manufacture of dyes. The extract from the bark of the bran pequi demonstrated in mice a lethal concentration equal to 0,31 mg ml-1. It was concluded that both the pulp and almond pequi are rich in macro and micronutrients and that fruit has important biological activities to human health and cosmetics industry, food and dyes. Key-words: Caryocar brasiliense, pequi, native fruit. Recebido 23 de janeiro de 2012; aceito 15 de julho de 2012. Endereço para correspondência: Martha Elisa Ferreira de Almeida, Caixa Postal 22, 38810-000 Rio Paranaíba MG, E-mail: martha.almeida@ufv.br 315Nutrição Brasil - setembro/outubro 2012;11(5) Introdução O cerrado é uma vegetação típica da região Centro-Oeste do Brasil que ocupa aproximadamente 2 milhões de km2, representando 25% do território nacional com uma fauna e flora diversificada [1-3]. O bioma cerrado é o mais característico do Brasil, abrangendo 13 estados e o Distrito Federal. A baixa porcentagem de extensão protegida por lei (1,5%), acrescida dos avanços da fronteira agrícola torna esta vegetação a mais ameaçada no país [4]. O conhecimento sobre o cerrado brasileiro é ain- da escasso, porém estima-se que suas espécies abranjam cerca de 30% do total existente no Brasil. Neste bioma, que é menor apenas que o da Floresta Amazônica, encontra-se cerca de 1.000 espécies de árvores, 3.000 de ervas ou arbustos e quase 500 trepadeiras, sendo que algumas são usadas como alimentos, remédios, planta ornamental, material para confecção de artesanatos e pasto agrícola [1-3]. A vegetação do cerrado é caracterizada por árvo- res de pequeno porte, retorcidas, distribuídas em um tapete graminoso, podendo ocorrer em algumas áreas formações rasteiras de gramíneas e ciperáceas. O solo é ácido e apresenta elevada concentração de alumínio e baixa disponibilidade de nutrientes, predominando os solos das classes: Latossolos, Podzólicos, Terras roxas, Cambissolos, Neossolos quartzarênicos, Litólicos e Laterita hidromófica [5-6]. Esta região apresenta características próprias como clima tropical estacional, onde se pode dife- renciar um período chuvoso (outubro a abril) e outro seco (maio a setembro), com precipitação pluvial entre 1.000 a 2.000 mm e temperaturas médias anuais entre 22°C ao Sul e 27°C ao Norte. Esta região é influen- ciada pelas regiões amazônica, nordestina, atlântica e continental [6]. Durante a estação seca é comum a ocorrência de queimadas no preparo de áreas para cultivo e pastagem que influenciam o solo e princi- palmente a sua densidade arbórea [5-6]. Geralmente a ocupação e utilização do cerrado têm sido realizadas de forma desordenada, sem o co- nhecimento necessário sobre o uso e comportamento da maioria das espécies nativas desta região. Com isso, um grande número de espécies frutíferas vem tornando-se extintas, o que vem impossibilitando o conhecimento, a preservação ou a utilização de suas características [7]. O aproveitamento dos frutos do cerrado dá-se desde os primórdios da ocupação desta região. Seu consumo foi iniciado pelos índios e exerceu um papel importante para a sobrevivência dos primeiros coloni- zadores desta região. Através do desenvolvimento de novas técnicas de armazenamento e beneficiamento dessas frutas, hoje elas são vistas como verdadeiros tesouros culinários regionais. A incrementação desses frutos na culinária vem despertando a atenção de vários seguimentos da sociedade, dentre os quais se destacam os agricultores, as indústrias, as instituições de pesquisa e os órgãos de saúde e de alimentação. Atualmente, as mais de 58 espécies de frutas nativas do cerrado, utilizadas pela população, apresentam um alto valor nutricional, além de oferecerem atrativos sensoriais como cor, sabor e aromas peculiares e intensos [8]. Os frutos deste bioma possuem altos teores de açúcares, proteínas, ácidos graxos, sais minerais, vitaminas (principalmente do complexo B) e carote- noides. Geralmente eles são consumidosin natura ou na forma de sucos, licores, sorvetes, geleias e doces diversos [9,10]. A composição química e morfológica dos frutos do cerrado tem sido avaliada, visando o conhecimento de matérias-primas regionais, bem como estudar a sua aplicação em alimentos do consumo diário [11]. A re- alização de pesquisas nessa área tem sido impulsionada pelo crescente interesse mundial por esses frutos, onde seus fitoquímicos têm demonstrado efeitos benéficos à saúde [12]. Apesar de muitos desses frutos fazerem parte da alimentação humana, para eles ingressarem definiti- vamente no cardápio alimentar e no mercado formal de frutas [13] é fundamental que haja informações a respeito de suas características químicas e do seu valor nutricional. Entretanto, os dados disponíveis quanto a sua composição química e aplicação tecnológica ainda são poucos [10,14]. O pequi (Caryocar brasiliense Cambess) é um fruto característico do cerrado, amplamente utilizado no preparo de pratos típicos regionais e na medicina popular brasileira, porém, seu uso medicinal muitas vezes dá-se sem nenhuma comprovação científica e sem o conhecimento do possível potencial tóxico de tais preparações. Sendo assim, uma revisão sobre a caracterização e a composição química deste fruto, seus efeitos benéficos atribuídos à saúde e sua toxicidade torna-se necessária para assegurar o uso desse produto, pois o Caryocar brasiliense está entre as seis espécies mais importantes da vegetação do cerrado, na qual os frutos são comercializados. Caracterização e composição química O pequi (Caryocar brasiliense Cambess, Família Caryocaraceae) é conhecido popularmente como piqui, pequiá, amêndoa de espinho, grão-de-cavalo e amêndoa do Brasil [14] ou ouro do cerrado [15]. Esta planta é nativa do cerrado, cerradão e mata calcárea [1]. As grandes plantações naturais ocorrem nos Estados do 316 Nutrição Brasil - setembro/outubro 2012;11(5) Pará, Tocantins, Ceará, Maranhão, Piauí, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, e também no Distrito Federal [14-15]. O Caryocar brasiliense está entre as seis espécies mais importantes da vegetação do cerrado, na qual os frutos são comercializados [7]. Os frutos são con- sumidos principalmente in natura, mas também são utilizados em preparações como sucos, sorvetes, licores e geleias [3], como condimento e óleo comestível [7], e na elaboração de diversos pratos típicos como: arroz com pequi, feijão com pequi, frango com pequi, cuscuz com pequi e no baião de três: arroz, feijão e pequi. Sua amêndoa é utilizada no preparo de doces, paçocas, farofas e como petisco salgado [14]. Seu nome é derivado do grego “Karyon” que significa caroço e do latim “Caro” que significa dru- páceo e frutos carnosos. Na língua indígena brasileira “py” é equivalente a casca e “qui” a espinho. Portanto, “py-qui” significa fruta com polpa cheia de espinhos [7,16]. Na região Norte de Minas Gerais há cerca de 15 a 40 plantas dessa espécie por hectare. A produção de flores do Caryocar brasiliense ocorre de junho a agosto, o desenvolvimento dos frutos de setembro a novembro e a safra de novembro a fevereiro [3,17]. A colheita e a comercialização desses frutos mobilizam até 50% da população rural, representando 54,70% da renda anual destes trabalhadores [18]. Este estado é o maior produtor e consumidor de pequi, sendo que no ano de 2003 foi comercializado aproximadamente 20.000 kg deste fruto [14]. A altura variando entre 1,5 e 3,0 metros ocorre em 30% das plantas de Caryocar brasiliense, sendo que 70% são maiores que 3,0 metros. Seus frutos apresentam largura de 6,19 ± 0,20 cm, comprimento de 7,71 ± 0,24 cm, altura de 6,43 ± 0,15 cm, volume de 314,90 ± 20,93 cm3 e um peso médio de 158,49 ± 8,14 g, com um mínimo e um máximo de 84 e 270 g, respectivamente [3]. Esse fruto contém de uma a quatro sementes volumosas, envolvidas por um endo- carpo lenhoso, cheio de espinhos delgados e agudos, com uma amêndoa grande e carnosa [19]. Entretanto em São José do Xingu, no norte do Tocantins, em uma plantação de mais de 300 plantas de pequi foi identi- ficada uma que apresentava frutos sem espinhos [16]. Os frutos de pequi frescos apresentam 71,90% de casca, 14,30% de polpa e 13,70% de castanha [3]. Não existem relatos científicos sob a utilização da casca na alimentação humana, bem como sobre sua composição nutricional e/ou funcional. A casca de pequi possui 209,37 g de equivalente de ácido gálico (GAE) kg-1 na extração etanólica e 208,42 g GAE kg-1 na extração aquosa, apresenta maior teor de fenóis totais que a semente e a polpa juntas (27,19 g GAE kg-1 na extração etanólica e 20,88 g GAE kg-1 na extração aquosa), sendo, portanto uma importante fonte de antioxidantes [1]. A polpa apresenta coloração amarela bem intensa com uma média de 85,07 pontos na escala do Siste- ma Cielab [9]; acidez total titulável de 0,04%; pH de 7,36 sendo classificado como alimento de baixa acidez [15]; 41,50% de umidade; 0,63% de cinzas; 3,00% de proteínas, ficando abaixo apenas do coco da Bahia, que apresenta um teor de 5,50 g 100 g-1; 11,45% de carboidratos; 33,40% de lipídios; 10,02% de fibras e fornece cerca de 358,40 kcal 100 g-1 de material [14,20]. Quanto a sua composição de ácidos graxos foi observado um predomínio de ácidos graxos insatura- dos (61,35%), dos quais 55,87% corresponde ao ácido oleico (C18:1) [14]. Na polpa de pequi há 46,60% de palmitoil dioleoil glicerol; 45,20% de dipalmitoil oleoil glicerol; 5,60% de trioleoil glicerol e 0,52% de dioleoil estearol glicerol [21]. Seu teor de pectina de 2,33% é semelhante ao encontrado em laranjas de 2,36% [7]. Em relação aos fenólicos totais, a polpa possui 209 mg 100 g-1, valor superior ao encontrado na maioria das polpas de frutas consumidas no Brasil, como: açaí com 136,80 mg 100 g-1; goiaba com 83,10 mg 100 g-1; morango com 132,10 mg 100 g-1; abacaxi com 21,70 mg 100 g-1; graviola com 84,30 mg 100 g-1, e o maracujá com 20,20 mg 100 g-1, sendo inferior apenas à acerola com 580,10 mg 100 g-1 e a manga com 544,00 mg 100 g-1 [14]. O conteúdo de carotenoides totais (7,25 mg 100 g-1) do pequi é superado apenas pela polpa de buriti (16,70 mg 100 g-1) [14]. Os carotenoides identificados na polpa deste fruto foram a antera- xantina (40,54%), zeaxantina (34,24%), criptofla- vina (7,70%), β-criptoxantina (5,25%), β-caroteno (6,35%), ζ-caroteno (4,05%) e a mutatoxantina (1,87%) [19]. O teor de vitamina A em 100 g corres- ponde a 4.939 UI [19], sendo uma importante fonte desta vitamina, pois a quantidade diária requerida na dieta é de 4.500 UI [20]. Seu conteúdo de vitamina B1 é similar ao do abacate, morango, jenipapo e mamão. O conteúdo de vitamina B2 (463 mg 100 g-1) é equivalente ao da gema do ovo, encontrando-se também 387 mg de niacina 100 g-1 e 78,10 mg de vitamina C 100 g-1 de fruto, valor este maior que o encontrado em frutos tradicionalmente consumidos no Brasil como a laranja (40,90 mg 100 g-1) e o limão (26,40 mg 100 g-1) [7,16]. Foi identificado em 100 g da polpa do pequi os seguintes teores de minerais: potássio (201,55 mg), magnésio (59,99 mg), cálcio (43,05 mg), fósforo (22,45 mg), sódio (3,19 mg), cobre (1,70 mg), manganês (1,59 mg), zinco (1,37 mg) e ferro (1,01 mg) [12]. 317Nutrição Brasil - setembro/outubro 2012;11(5) A amêndoa apresenta 8,68% de umidade; 4,01% de cinzas; 25,27% de proteínas; 8,33% de carboidratos; 51,51% de lipídios e 2,20% de fibra e fornece 598 kcal 100 g-1. Do total de ácidos graxos, 52,17% são ácidos graxos insaturados, predominando o ácido olei- co (C18:1) na quantidade de 43,59% [14]. Esta parte do fruto apresenta reduzidos teores de fenólicos totais (122 mg 100 g-1) e carotenoides totais (0,295 mg 100 g-1) [14]. Em 100 g de amêndoa foram identificados os seguintesteores de minerais: fósforo (546,24 mg), potássio (452,07 mg), magnésio (365,77 mg), cálcio (91,42 mg), manganês (3,84 mg), zinco (3,12 mg), sódio (2,04 mg), ferro (1,42 mg) e cobre (1,04 mg) [12]. Na polpa dos frutos, o teor de celulose varia de 34,10 a 35,90%, o de hemicelulose de 9,20 a 9,80% e o de licopeno de 1,42 a 1,47% [20]. Aplicações e funcionalidade O óleo do pequi contém diversos ácidos graxos como o mirístico (C14:0), palmítico (C16:0), palmi- toleico (C16:1), esteárico (C18:0), oleico (C18:1), linoleico (C18:2) e linolênico (C18:3). Esses ácidos graxos são fundamentais para manutenção da epider- me e podem ser utilizado na formulação de cosméticos [22]. O ácido oleanólico deste óleo demonstrou inibir o desenvolvimento do sarcoma 180 (câncer de pele) em ratos [23-24]. Esse óleo pode ser utilizado como substituinte de gorduras e óleos nas indústrias de chocolate e de produtos de confeitaria [25]. Os carotenoides presentes neste óleo impedem a lipoperoxidação e evita a formação de radicais livres, e consequentemente o envelhecimento cutâneo, po- dendo assim, ser utilizado na fabricação de cosméticos [22]. Os carotenoides atuam aumentando a resposta imunológica, previne alguns tipos de cânceres e do- enças de pele e inibe úlceras gástricas [17]. O óleo possui atividade antifúngica, efeito tonificante e capacidade expectorante, sendo usado contra bronquites, gripes e resfriados e no controle de tumores [1,23,24]. O extrato aquoso da polpa de pequi possui ativi- dade antioxidante, uma vez que reduziu a formação de radicais hidroxil e a degradação oxidativa da 2-desoxir- ribose; apresenta atividade anticlastogênica, pois inibi danos ao DNA bleomicina-induzido em ratos; reduz a produção de aberrações cromossomais e diminui o índice mitótico das células K1 extraídas do ovário de hamsters chinês (CHO-K1) [26]. O chá das folhas de pequi tem sido usado para desordens hepáticas e como regulador do fluxo mens- trual. O extrato bruto destas folhas tem demonstrado atividade moluscicida contra o Biomphalaria glabrata, enquanto que o extrato etanólico apresenta atividade trypanosomicida contra o Trypanosoma [1,23,24]. O extrato das folhas de pequi apresentou efeito leishma- nicida sobre as formas promastigotas de Leishmania amazonensis, atividade bactericida sobre bactérias patogênicas para o homem e uma relevante atividade antioxidante, similar as atividades da vitamina C e da rutina [24]. Os elevados teores de taninos presentes nas folhas e na casca tornam estas partes da planta importan- tes matérias-primas para a fabricação de tinturas [23]. Toxicidade Apesar do uso do Caryocar brasiliense como planta medicinal, as pesquisas que avaliam a sua toxi- cidade ainda são escassas. Ao ser avaliada a toxicidade do extrato do farelo da casca de pequi, utilizando a via intraperitoneal em camundongos, foi obtida uma concentração letal de 50% (CL50%) igual a 0,31 mg ml-1. Nos cinco primeiros minutos após a aplicação, os animais demonstraram agitação; reação de fuga; movimentos estereotipados, circulares e de vibrissas; piloereção; tremores finos e grosseiros; alteração da marcha; aumento da frequência respiratória e espas- mos. Nos cinco minutos seguintes foram observadas respostas depressoras como dispneia, sedação, palidez, prostração e cianose e/ou morte [27]. Conclusão A polpa do pequi mostrou-se rica em lipídios, fibras, carotenoides totais, compostos fenólicos, vi- taminas e do mineral potássio, enquanto a amêndoa apresentou teores elevados de proteínas, lipídios e minerais (fósforo, potássio e magnésio). O pequi exerce atividades antioxidante, bactericida, antifúngica e leishmanicida e no controle do desenvolvimento de cânceres, além de aplicações nas indústrias de cosmé- ticos, alimentos e tinturas. Somente um estudo nacional foi realizado para avaliar o efeito toxicológico do pequi, no qual foram observadas algumas reações, inclusive a morte dos animais. Por se tratar de uma área recente de estudos, um maior número de pesquisas sobre esse fruto é necessária para que se possam determinar seus efeitos benéficos e tóxicos com mais exatidão. Referências 1. Roesler R, Malta LG, Carrasco LC, Holanda RB, Sousa CAS, Pastore GM. Atividade antioxidante de frutas do cerrado. Ciênc Tecnol Aliment 2007;27(1):53-60. 2. 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