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MARKETING VERDE E RESPONSABILIDADE SOCIAL AULA 6 Profª Cora Catalina 2 CONVERSA INICIAL Desenvolver práticas de sustentabilidade nas organizações representa assumir compromissos para transformar a realidade atual e reduzir impactos ambientais e sociais. Segundo Hoyos (2007), avançamos para a sociedade da consciência, onde os sistemas de conhecimento estarão cada vez mais vinculados à natureza social com base nas experiências globais, a caminho da integração natureza-homem-tecnologia-de-conhecimento com as tecnologias sociais. Nesse contexto, a Educação Ambiental possibilitará mecanismos para o desenvolvimento de novas sociedades, gerando novas formas de conhecer e aplicar a criatividade e a intuição. Nesta aula abordaremos o que é a educação ambiental, práticas e como aplicar nas organizações. O objetivo desta aula é dar conhecer mecanismos que fomentem a alfabetização ecológica. TEMA 1 – EDUCAÇÃO AMBIENTAL: FUNDAMENTOS, CONCEITO Antes de falar sobre educação ambiental é importante relembrar conceitos que a fundamentam. Isso possibilitará a melhor compreensão de sua finalidade. Ecologia, palavra de origem grega que significa oikos (lar), é o estudo do Lar Terra. Ou melhor, é o estudo das relações que interligam todos os membros do Lar Terra. O termo foi introduzido em 1866 pelo biólogo alemão E. Haeckel. Quase 70 anos depois (1935), foi do ecologista britânico A.G. Tansley que surgiu a abordagem sistêmica da ecologia: a concepção de ecossistema. O ecossistema é o conjunto de elementos bióticos e abióticos de uma determinada área, que se influenciam entre si de maneira cíclica. Num ecosissistema, todos os organismos produzem resíduos, mas o que é resíduo para uma espécie é alimento para outra. É assim a evolução reaproveita e recicla sempre as moléculas de minerais, de água e ar. Esse conceito, ecossistemas, foi compreendido como representativo para a administração das organizações. Uma vez que são também cíclicos os sistemas industriais e as atividades comerciais que extraem recursos naturais, transformando produtos e resíduos, a situação caótica dos efeitos climáticos que danificam a biosfera está bem a nossa frente. 3 Fritjof Capra (2016) afirma que a nova ciência da ecologia introduziu duas novas concepções: comunidade e rede, formando complexos ecossistemas. Abelhas e formigas são um exemplo, incapazes de sobreviver isoladas e, em grande número, agem com uma inteligência coletiva e capacidade de adaptação muito superiores do que quando agem individualmente. Capra descreve os ecossistemas como sendo uma rede, uma teia com nodos. Cada nodo na nova rede pode representar um órgão, o qual, por sua vez, vai ampliando a rede. A educação ambiental na sustentabilidade é assim, como os nodos que vão entrelaçando a teia da sustentabilidade, provocando novos comportamentos na sociedade do consumo, mais conscientes e responsáveis sobre suas ações na Terra. O termo educação ambiental (EA) surgiu pela primeira vez na Inglaterra em 1965. Desde então, diversas organizações, destacadamente de educação, ONGs e ONU propuseram diretrizes e ampliaram debates democráticos sobre diversos temas que precisavam entrar na agenda global e local. Na atualidade é um instrumento essencial para o marketing verde promover modos mais sustentáveis de viver e consumir. No Brasil, o conceito de EA, segundo a Política Nacional de Educação Ambiental - Lei n. 9.795/1999, art 1º, refere: "Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade". A reciclagem, consumo consciente, comércio justo, compostagem, eficiência em energia e modos de vida menos materialistas e o conceito de sustentabilidade em si, são temas básicos para a educação ambiental. TEMA 2 – PRÁTICAS NAS ORGANIZAÇÕES Enquanto os 20% mais ricos da população mundial continuarem responsáveis por 86% do total dos gastos com consumo individual, é improvável que se atinja um desenvolvimento sustentável. E economistas corporativos continuam considerando como bens gratuitos o ar, o sol, a água e o solo. Esses fatores, aliados ao mercado que não fornece informações adequadas aos consumidores, tornam sombrio o panorama da sustentabilidade. Qual seria o papel da educação ambiental nas organizações? 4 Não se pode negar que, com o aumento de práticas de educação ambiental, o marketing tradicional foi acusado de ser uma das causas essenciais da deterioração do meio ambiente, ao induzir ao consumo excessivo. Assim, o marketing moderno tem como filosofia a maximização da qualidade de vida aliada à qualidade e quantidade dos bens e serviços de consumo. (Dias, 2012). De que adianta a empresa desenvolver um plano de gerenciamento de resíduos sólidos para cumprir a legislação ambiental, se não implementar ações para reduzir a geração excessiva de rejeitos? E se o governo não tiver regras transparentes de fiscalização e punição? A sociedade civil organizada, por intermédio de associações, entidades de classe, institutos, fundações, têm desempenhado um papel fundamental nas ações de educação ambiental, monitorando, denunciando, mobilizando indivíduos para promover mudanças importantes. Por exemplo, a “pegada ecológica” introduzida pela ONG WWF é uma metodologia de contabilidade ambiental que avalia a pressão do consumo das populações humanas sobre os recursos naturais. E possibilita que cada indivíduo conheça o impacto que seu estilo de vida provoca no planeta. Empresas e órgãos governamentais que possuem governança voltada para a sustentabilidade atuam integrados com ONGs comprometidas com causas sociais e ambientais. Constroem indicadores, compartilham resultados e mantêm informados seus colaboradores e sociedade. O Ministério do Meio Ambiente incorpora a gestão e o planejamento da educação ambiental no Brasil na formação de educadoras e educadores ambientais. Tem ações voltadas para a educação para o consumo sustentável, aumento da reciclagem, compras públicas sustentáveis, construções sustentáveis, entre outros. Na gestão pública, incorpora a Agenda Ambiental na Administração Pública (A3P), com diretrizes para que o funcionalismo público implemente atitudes sustentáveis. Em 2016, aumentou o número de brasileiros que sabem o significado de consumir conscientemente: 51,4% acreditam que se trata de refletir sobre as consequências de uma compra antes de concretizá-la considerando todos os seus impactos (contra 33% em 2015). Embora o estímulo para tornar-se mais prudente em relação aos gastos mensais tenha origem na situação econômica do país, o brasileiro tem dado mais atenção ao seu orçamento. Entretanto, a Pesquisa sobre Consumo 5 Consciente realizada em julho de 2016 pelo SPC Brasil revela que somente 28% dos brasileiros são consumidores conscientes. Eis um importante desafio para ações de educação ambiental e marketing verde. TEMA 3 – AGENDA 2030-ODS 12-PACTO GLOBAL O documento “Transformando o Nosso Mundo: Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, assinado pelos 193 países membros da ONU, incluindo o Brasil, é uma diretriz que orienta ações rumo ao desenvolvimento sustentável. Nele estão contidos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 ousadas metas, principalmente, para a erradicação da pobreza e pobreza extrema no mundo. OsODS são o foco da Agenda 2030, para ser implementada de maneira voluntária por governos, estudantes e profissionais atuantes em organizações com e sem fins lucrativos, durante o período 2016- 2030. As ações são baseadas em cinco eixos de atuação, também conhecidos como cinco "Ps": Planeta, Pessoas, Paz, Prosperidade e Parcerias. Saiba mais Leia sobre os cinco Ps na Agenda 2030. Disponível em: <http://www.agenda2030.org.br>. Acesso em: 8 jun. 2018. Em julho de 2017, o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para Agenda 2030 (GTSC A2030) apresentou relatório sobre as ações no Brasil, destacando-se: Poucos foram os passos dados para a implementação dos ODS no país. Sob o ponto de vista da governança da Agenda 2030, um deles, foi a criação da Comissão Nacional dos ODS em 2016. Temos o único, até o momento, mecanismo da região latino-americana com representação paritária entre governo e sociedade civil. [...] Carecemos de efetivos mecanismos de prestação de contas pelos governos e hoje, a maioria dos Conselhos de políticas no país encontra-se em crise. (Relatório Luz da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, 2017) Diante desse relato publicado, podemos considerar a importância do papel que nos cabe assumir para que a governabilidade das organizações envolvidas crie mecanismos necessários para avançar corretamente e mudar essa situação nos próximos anos. O Pacto Global, direcionado para as empresas, é também uma iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas para encorajar as organizações privadas a adotar políticas de responsabilidade social e 6 sustentabilidade em suas práticas de negócios, na adoção de valores internacionais sobre direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Saiba mais O Pacto Global disponibiliza uma plataforma online sobre cidadania empresarial. Divulga práticas de responsabilidade social empresarial, além de ser um compromisso de atuação dos países membros da ONU, é uma base para implementar a ISO 26000 de RSE. Disponível em: <www.unglobalcompact.org>. Acesso em: 8 jun. 2018. TEMA 4 – COMO APLICAR EDUCAÇÃO AMBIENTAL A implementação de programas de educação ambiental nas organizações corporativas vem sendo realizada com maior ênfase, a partir de decisões estratégicas para a obtenção de certificações ambientais e selos de responsabilidade social. São mecanismos que fortalecem o posicionamento da marca, visibilidade e credibilidade diante da opinião pública. Na gestão do marketing verde, a aplicação de programas de educação ambiental se fundamenta em três pilares: 1. Informação: produzir e difundir informações permanentes sobre temáticas estratégicas ao negócio e sustentabilidade; capacitação de funcionários, colaboradores; 2. Comunicação: criar e utilizar canais de interação e relacionamento permanente com stakeholders; 3. Ativismo – mobilização social: fomentar e realização de fóruns, eventos participativos e interações sociais e comunitárias para troca de experiências e informações. Conhecer necessidades e expectativas da sociedade. 4.1 Programas e projetos de educação ambiental Definir o objetivo de marketing: qual a causa? Selecionar os públicos; Realizar Benchmarking; Aplicar três táticas de EA. 7 Finalidade estratégica: educar e preparar formadores de opinião e crianças. Serão “reeditores sociais” e “ativistas verdes” da sustentabilidade. TEMA 5 – SUSTENTABILIDADE PLANETÁRIA A evolução da agenda de sustentabilidade dos últimos anos nos mostra que, enquanto a tecnologia é capaz de mudar rapidamente, as organizações sociais e políticas geralmente demoram muito para fazê-lo. Além disso, as organizações normalmente mudam suas estratégias de negócio quando surgem necessidades pautadas pela própria sociedade, raramente por iniciativa própria. E, mesmo as mudanças tecnológicas implementadas nas indústrias para fazer uso mais eficiente dos recursos, tais como reduzir poluentes ou alterar o fluxo de fertilizantes na produção agrícola, por exemplo, não têm sido suficientes para a sustentabilidade planetária. Enquanto consumidores temos a ideia de que podemos culpar a indústria por todos os problemas relacionados ao atual colapso climático e alertas sobre a poluição mundial. Temos a tendência de esquecer que não são as empresas de petróleo que dirigem nossos carros, pois somos nós que fazemos as escolhas de consumo. E o que fazemos para apoiar o declínio do uso de combustíveis fósseis? Dados divulgados sobre a “pegada ecológica” da humanidade comprovam que estamos 30% acima da capacidade de carga do globo. E precisamos agir com urgência: reduzir nossa pegada climática por unidade de consumo, mudando hábitos voltados para uma economia de carbono zero. Atualmente, ser uma empresa que trabalha em prol da sustentabilidade requer grande dose de coragem e esforços enormes porque, historicamente, não vivemos num ambiente sustentável. Vivemos com regras em que o ter e o consumir, a qualquer custo, representam mais do que tudo. O perfil do profissional de marketing verde, do ponto de vista sistêmico, é o líder que pode facilitar mudanças nas organizações, proporcionando o ambiente para que o diálogo e o aprendizado sobre sustentabilidade sejam compartilhados e praticados por todos os membros, a começar por ele. 8 NA PRÁTICA Uma organização que desenvolve programas para uma alimentação saudável pode aplicar conceitos e metodologias de educação ambiental. Ela pode ser uma entidade governamental, uma empresa privada ou ONG. Sua atribuição de profissional de marketing pode ser aplicada em todas elas, na elaboração e implementação de um Programa ou Projeto. Sua atividade é: Elaborar uma proposta de educação ambiental sobre o tema: alimentação saudável. Passos para resolver: 1. Aplicar conceitos e conteúdos trabalhados durante a aula; 2. Ler os documentos Agenda 2030: Educação para Sustentabilidade e Pacto Global das Nações Unidas; 3. Fazer sugestões de benchmarkig. Síntese de uma resolução: Defina o tipo de organização, o negócio, valores e posicionamento “verde”; Defina o objetivo de marketing, classifique os stakeholders envolvidos; Pesquise exemplos de práticas bem sucedidas. FINALIZANDO Responsabilidade social corporativa autêntica tem que ser provida por cidadãos esclarecidos e uma sociedade democrática ativa e longe de práticas de greenwashing. A educação é o caminho para alcançar a transformação social para que novas práticas sejam urgentemente adotadas. A educação ambiental “para o bem comum” ajudará a fomentar temas como a economia “verde”, o uso consciente da Terra, leis de comércio de mercadorias justas e com transparência, discussões sobre eficiência energética, erradicação da pobreza, segurança no trabalho, liberdade de imprensa, educação de qualidade. Todos estes e outros temas relacionados à sustentabilidade abrirão novos caminhos. Precisamos agir para alcançar a meta proposta pela sustentabilidade: prosperidade econômica, qualidade ambiental e justiça social. Esta é a última aula da disciplina e esperamos que os conhecimentos adquiridos possibilitem que sua atuação profissional traga muitas alegrias e prosperidade. Desafios e dificuldades certamente virão, entretanto, seus pontos fortes e valores adquiridos tornarão as organizações nas quais você trabalha, ou vai trabalhar, cada vez melhores. 9 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 9.795, de 27 abril de 1999. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 28 abr. 1999. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=321>. Acesso em:8 jun. 2018. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Agenda ambiental na administração pública (A3P). Disponível em: <http://www.mma.gov.br/responsabilidade- socioambiental/a3p>. Acesso em: 8 jun. 2018. _____. Conceito educação ambiental. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/politica-de-educacao-ambiental>. Acesso em: 8 jun. 20172018. CAPRA, F. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 14. ed. São Paulo: Cultrix, 2016. DIAS, R. Marketing ambiental: ética, responsabilidade social e competitividade nos negócios. São Paulo: Atlas, 2012. HOYOS, A. Da sociedade do conhecimento à sociedade da consciência. São Paulo: Saraiva, 2007. KOTLER, P.; KELLER, K. Administração de marketing. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. OTTMAN, J. As novas regras do marketing verde: estratégias, ferramentas e inspiração para o branding sustentável. São Paulo: M. Books, 2012. SEIFFERT, M. Gestão ambiental: instrumentos, esferas de ação e educação ambiental. São Paulo: Atlas, 2007.
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