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Diretor Geral Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino e Pós-graduação Daniel de Lima Diretor Administrativo Eduardo Santini Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Jorge Van Dal Coordenador do Núcleo de Pesquisa Victor Biazon Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Projeto Gráfico e Editoração André Oliveira Vaz Revisão Textual Kauê Berto Web Designer Thiago Azenha FICHA CATALOGRÁFICA FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DO NORTE DO PARANÁ. Núcleo de Educação a Distância; ALMEIDA, Rodrigo Gaspar de. Sustentabilidade e Responsabilidade Social. Rodrigo. Gaspar de Almeida. Paranavaí - PR.: Fatecie, 2020. 98 p. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Zineide Pereira dos Santos. UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.fatecie.edu.br As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock AUTOR Olá, Prezado (a) Acadêmico (a)! Sou o Professor Rodrigo Gaspar de Almeida, possuo Mestrado em Ciências Contábeis com ênfase em Controladoria. Possuo artigos científicos publicados na área contábil, especialmente sobre o tema Contabilidade Socioambiental. Atuo na docência do ensino superior e na Controladoria das organizações. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja bem-vindo (a) a disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. O intuito dessa disciplina é corroborar com a sua formação acadêmica, profissional e pessoal, por meio da explanação de conceitos ligados à sustentabilidade e responsabilidade social como a função social das empresas, o compromisso social e a gestão empresarial. Ademais, esta disciplina busca apresentar modelos (indicadores) para avaliar ações de responsabilidade social e uma discussão sobre a gestão da responsabilidade social. Para tratar dos temas elencados, este material foi subdivido em 4 unidades, nos quais serão apresentadas perspectivas teóricas sobre o assunto, bem como exemplos das práticas organizacionais. As 4 unidades são interdependentes, assim, as 4 unidades precisam ser estudadas em sua totalidade para a compreensão do fenômeno abordado nesse livro didático. Na Unidade I, intitulada: “Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual”, você vislumbrará conceitos sobre Desenvolvimento e Sustentabilidade. Num próximo instante da Unidade I, serão analisadas perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no Estado e nas organizações empresariais. Prosseguindo, na Unidade II, cujo título é: Sustentabilidade Empresarial, será discorrido sobre o tema Sustentabilidade Empresarial, nessa perspectiva será apresentado o significado de Sustentabilidade Empresarial e serão vistos outros conceitos relacionados ao desenvolvimento e sustentabilidade. A Unidade III versará sobre a Gestão Ambiental Empresarial, nesta perspectiva, os tópicos que serão abordados serão: abordagens e modelos de Gestão Ambiental Empresarial; Responsabilidade social corporativa (contexto teórico para a sua compreensão); e Histórico e abordagens sobre tecnologias de gestão socioambiental e as políticas ambientais. Por fim, na Unidade IV, denominada Fluxo para construção do modelo de gestão da sustentabilidade você estudará os seguintes conteúdos: A criação de visão voltada à sustentabilidade; Sistemas de Diagnóstico e Gestão; Códigos de Conduta; Os Indicadores de Sustentabilidade; a Auditoria; Os Relatórios de Sustentabilidade e os Balanços Sociais; e as Políticas ambientais no Brasil. Nosso intuito é que você aproveite o potencial dessa disciplina e que ela possa trazer grandes contribuições para a sua formação acadêmica, formação profissional e para a sua vida pessoal. Bons Estudos! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual UNIDADE II ................................................................................................... 26 Sustentabilidade Empresarial UNIDADE III .................................................................................................. 45 Gestão Ambiental Empresarial UNIDADE IV .................................................................................................. 63 Fluxo para Construção do Modelo de Gestão da Sustentabilidade 7 Objetivos de Aprendizagem ● Vislumbrar Conceitos sobre Desenvolvimento e Sustentabilidade. ● Analisar perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no Estado e nas organizações empresariais. Plano de Estudo ● Desenvolvimento e Sustentabilidade. ● Análises sobre perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no Estado e nas organizações empresariais. UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Professor Rodrigo Gaspar de Almeida 8UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a Unidade I, do material didático da disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. O intuito da nossa primeira unidade é apresentar uma contextualização histórica e construir uma base conceitual para a Sustentabilidade e o Desenvolvimento Sustentável. A primeira Unidade deste material foi dividida em dois tópicos para facilitar a assimilação desses conhecimentos: 1 Desenvolvimento e Sustentabilidade e 2 Análises sobre perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no estado e nas organizações empresariais. No primeiro momento, serão apresentadas perspectivas teóricas sobre desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável e as interfaces entre esses dois assuntos. Ainda no primeiro tópico da Unidade I, serão apresentados conceitos e definições de Sustentabilidade. Prosseguindo na Unidade I, você analisará perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no estado e nas organizações empresariais. Portanto, serão relacionados exemplos de práticas do Estado e das organizações e será explicitado como estes agentes econômicos (Estados e Organizações) podem contribuir para a Sustentabilidade. Esperamos que você aprecie essa Unidade e que consiga desenvolver seus estudos com o melhor aproveitamento. Estes tópicos têm o potencial de contribuírem para a sua formação acadêmica, profissional e até mesmo pessoal, visto que o tema Sustentabilidade afeta a todos nós, enquanto seres humanos habitantes deste Planeta. Bons Estudos! 9UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual 1. DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE Os temas Sustentabilidade, Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social Corporativa estão em voga no Século XXI. Desta forma, o conhecimento destes conceitos oriundos da Ecologia e da Economia, torna-se oportuno para a sua formação superior acadêmica e pessoal. Além disso, a Sustentabilidade, o Desenvolvimento Sustentável e a Responsabilidade Social Corporativa provocam alterações no gerenciamento dos processos das organizações, nas tomadas de decisões, nos controles internos e na formulação de objetivos de curto, médio e longo prazo das organizações. Desse modo, quando você atuar profissionalmente, poderá aplicar tais conhecimentos. Então, vamos compreender sobre a origem deste movimento mundial (ELKINGTON, 2012; VEIGA, 2010). Até a Revolução Industrial, a grande maioria da população habitava a zona rural. Após a Revolução Industrial, que propiciou a criação de fábricas e máquinas a vapor, houve a necessidade de trabalhadores nas novas indústrias (isto é, mão deobra), começou o êxodo urbano, assim, as pessoas que moravam no campo se mudaram para as cidades. Este fluxo populacional provocou alterações na demanda por alimentos (aumentou-se o consumo de alimentos nos grandes centros urbanos) e na demanda por serviços (habitação, saúde, educação, segurança, etc.) (RADOMSKY; PEÑAFIEL, 2013; ELKINGTON, 2012). 10UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Ainda na fase Industrial o homem passou a efetuar a combustão de combustíveis fósseis para produção de bens de consumo por meio de máquinas a vapor, ou seja, o homem passou a consumir recursos naturais não renováveis. Salienta-se que nesse período da história da humanidade, o Homem acreditava que os recursos naturais fossem infinitos, isto é, nunca iriam se esgotar. Desse modo, não havia preocupação com questões ecológicas e de preservação ambientais, haja vista a abundância destes recursos (RADOMSKY; PEÑAFIEL, 2013; ELKINGTON, 2012). Ademais, até o término da 1ª Guerra Mundial, o paradigma dominante era que o Desenvolvimento de uma sociedade ou de uma nação era mensurado pela riqueza produzida. Assim, o objetivo de uma sociedade ou nação, era maximizar, na maior extensão possível os recursos financeiros, mesmo que isso significasse desmatamento ou esgotamento dos recursos naturais. Portanto, a única preocupação era obter Dinheiro (RADOMSKY; PEÑAFIEL, 2013; ELKINGTON, 2012). Juntamente com o grande avanço industrial, houve aumento das externalidades das organizações, que são os impactos sociais e ambientais causados pela produção como a poluição de rios e mananciais, poluição do ar devido gases emitidos pelas indústrias, degradação de solos, alterações de paisagens naturais, entre outros (RADOMSKY; PEÑAFIEL, 2013; ELKINGTON, 2012). Além das externalidades, outros fatores que impulsionaram o surgimento da Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentável foram: os avanços tecnológicos, as melhorias no saneamento básico e o progresso da área da medicina, que culminaram no aumento da expectativa de vida da população. Com o aumento da expectativa de vida da população, aumenta-se o consumo de recursos naturais escassos, diminuindo assim, a disponibilidade destes recursos no futuro (RADOMSKY; PEÑAFIEL, 2013; ELKINGTON, 2012). Para ilustrar essa afirmação sobre o crescimento populacional mundial, na Figura 01 está relacionada a projeção da população mundial dos anos de 1950 até 2100 apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU) no documento “World Population Prospects 2019”. Ressalta-se que tais resultados são projetados estatisticamente com intervalo de confiança de 95% (ONU, 2019). 11UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Figura 01: Projeção do crescimento da população mundial. Nota: Tradução das expressões presentes na Figura 01 (em ordem alfabética): 95% population prediction intervals = intervalo de confiança da predição de 95%. Average annual rate of population grownt (percentage) = Taxa média anual do crescimento populacional (porcentagem). Growth rate (left axis) = Taxa de crescimento (eixo esquerdo) Projection = Projeção. Total Population (billions) = Total da População (bilhões). Total Population (right axis) = Total da População (eixo direito). Fonte: ONU, 2019, p. 5. Conforme se observa na Figura 1, em 2020 espera-se que a população mundial passe para aproximadamente 8 bilhões de pessoas, e em 2100, espera-se ultrapassar 10 bilhões de pessoas (ONU, 2019). Você deve estar se perguntando, porque devo me preocupar, ou então, porque as organizações precisam se preocupar com esses dados? Ocorre que os recursos naturais (aqueles que vêm sendo utilizados incessantemente, desde a Revolução Industrial) não se regeneram na mesma proporção que a população mundial aumenta, assim, haverá um descompasso entre a quantidade demandada (quem quer comprar/adquirir) e a quantidade ofertada (quem vende), tornando o acesso a tais recursos mais oneroso e até mesmo sendo impossível propiciar acesso a toda população. Exemplo Imagine que o estoque mundial de alimentos fosse 100 Kg (quilogramas), e que houvesse 100 pessoas no mundo inteiro, assim, cada pessoa consumiria 1 Kg. Agora 12UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual imagine que o estoque de alimentos ainda permaneça em 100 Kg, mas a população passou para 200 pessoas, agora, cada pessoa iria consumir 0,5 Kg (o que equivale a metade da quantia per capita anterior). Considere que se uma pessoa consumir uma quantidade inferior a 1 Kg de alimentos, ela adoece e morre, dessa forma, quando a população passar para 200 pessoas, 50% da população não terá acesso à alimentos, isso poderia provocar a morte de 50% da população. O exemplo descrito acima sobre o consumo de alimentos foi um pouco trágico, mas não é uma realidade inimaginável, você pode adaptar para o consumo de água, consumo de minerais, enfim, nos diferentes tipos de recursos que são essenciais para a nossa vida. Em síntese, a junção dos fatores: preocupação com o consumo de recursos escassos, externalidades das atividades produtivas e crescimento populacional, impulsionaram o surgimento da sustentabilidade, desenvolvimento econômico e responsabilidade social corporativa. Agora, vamos conhecer um pouco dos marcos históricos que culminaram no surgimento da Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável. Quanto ao nascimento da conscientização socioambiental, ou seja, o surgimento da preocupação empresarial com o meio ambiente cita-se como marco histórico, o lançamento da obra Primavera Silenciosa, na década de 1960, quando Rachel Carson constatou que devido à externalidades da indústria química, o ser humano está em contato com produtos nocivos a saúde, do momento do seu nascimento, até a sua morte, haja vista que os resíduos tóxicos da indústria química estariam presentes na terra, água e ar. Surgiu, portanto, a necessidade da indústria química se posicionar perante a população e buscar medidas para diminuir as externalidades de sua atividade (ALMEIDA, NEUMANN; SANCHES, 2019; CARSON, 2010). Outro marco da história da Sustentabilidade e do Desenvolvimento Sustentável ocorreu na década de 1970, quando o Clube de Roma emitiu o documento: Limites do Crescimento (The Limits to Growth). Trata-se de um estudo que concluiu que a população mundial (inclusive as organizações), precisava ter um crescimento zero, ou seja, se o homem continuasse explorando a natureza para satisfazer suas necessidades e a população continuasse a crescer, o mundo entraria em colapso e os recursos naturais iriam se esgotar causando pobreza e fome (ALMEIDA, NEUMANN; SANCHES, 2019; MEADOWS et al., 1972). 13UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Portanto, quando emergiram os movimentos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, eles tinham um foco predominantemente ambientalista ou ecológico. O homem se preocupava com a preservação da natureza, a taxa de desmatamento das árvores, poluição de rios, mananciais, e diversos outros recursos naturais, mas não havia preocupação com aspectos sociais (por exemplo: redução da pobreza, da desigualdade social, da violência etc.) (ELKINGTON, 2012). Foi então que a Comissão de Brundtland, liderada por Gro Harlem Brundtland, emitiu em meados de 1986, o Relatório que iria incorporar questões sociais ao movimento de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, qual seja: Nosso Futuro Comum (Our Common Future) (World Commission on Environment and Development [WCED], 1986). Ressalta-se que além de incorporar questões sociais aos problemas ambientais, o Relatório de Brundtland, incluiu o imperativo da preservação do Planeta para que as gerações futuras possam ter a capacidade de satisfazer a necessidade delas. O conceito de Desenvolvimento Sustentável apresentado pela Comissão de Brundtland é: o DesenvolvimentoSustentável ocorre quando a geração atual é capaz de satisfazer as suas necessidades sem comprometer a necessidade das gerações futuras satisfazerem a necessidade delas (ALMEIDA, NEUMANN; SANCHES, 2019; WCED, 1986). Com relação aos modelos de indicadores para mensurar o desempenho socioambiental das organizações, deve-se destacar na década de 1990 a criação do Triple Bottom Line (TBL), por John Elkington. O TBL corresponde ao tripé: econômico, social e ambiental, outrossim, os três pilares devem ser gerenciados concomitantemente, de modo que a maximização de um pilar, causa diminuição nos outros 2 pilares (ALMEIDA, NEUMANN; SANCHES, 2019; ELKINGTON, 2012). Após esses momentos históricos, os conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável foram disseminados e os países se comprometeram a tomar medidas para diminuir o seu impacto socioambiental. Foi então que no ano de 1992, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, ocorreu a Rio 1992, que se trata de uma Conferência Mundial organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), para tratar das questões ligadas ao Desenvolvimento Sustentável. Essa Conferência da ONU de 1992 também contou com a presença das organizações empresariais, as quais participaram da agenda 14UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual do Desenvolvimento Sustentável (ALMEIDA, NEUMANN; SANCHES, 2019; ELKINGTON, 2012). Menciona-se que já ocorreram outras duas importantes Conferências da ONU após a Rio 92, quais sejam: a Rio+10 (2002) e a Rio+20 (2012). Em tais ocasiões fomentaram-se as discussões sobre o Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade. Ao longo desses anos, foram desenvolvidos indicadores para as organizações privadas e instituições governamentais evidenciarem informações sociais e ambientais. No próximo tópico serão abordados novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no estado e nas organizações empresariais. REFLITA “O Desenvolvimento Sustentável corresponde a desenvolver aspectos econômicos, am- bientais e sociais, concomitantemente.” Fonte: ELKINGTON (2012). 15UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual 2 ANÁLISES SOBRE PERSPECTIVAS DE NOVOS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO E TENDÊNCIAS PARA A SUSTENTABILIDADE NO ESTADO E NAS ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS. No tópico anterior, conhecemos marcos históricos sobre a Sustentabilidade e o Desenvolvimento Sustentável. Menciona-se, que antes da criação desses paradigmas, os economistas acreditavam que o Desenvolvimento consistia em acumular o maior montante possível de recursos financeiros, ou seja, pensava-se apenas em Desenvolver aspectos econômicos e a principal medida de “desenvolvimento” foi o Produto Interno Bruto (PIB). Mas, com o advento da conscientização socioambiental, isto é, o surgimento dos conceitos de Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável, notou-se que apenas o crescimento do PIB era incapaz de demonstrar bem-estar social (STIGLITZ; SEN; FITOUSSI, 2018). Nesse sentido, nesta seção, serão relacionados novos modelos de desenvolvimento e as tendências da sustentabilidade para as organizações privadas e os órgãos públicos. Elkington (2012) apontou 7 (sete) tendências para a sustentabilidade que afetarão as organizações no século XXI. O autor chama essas tendências de Sete Revoluções da Sustentabilidade (Quadro 01). 16UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Quadro 01: Sete Revoluções da Sustentabilidade Revolução Velho Paradigma Novo Paradigma Mercados Consentimento Competição Valores das organizações Rígidos Maleáveis Transparência Fechado Aberto Tecnologia do Ciclo de Vida Produto Função Parceiras Subversão Simbiose Tempo Amplitude Extensão Governança Corporativa Exclusivo Inclusivo Fonte: ELKINGTON (2012). Apesar de Elkington (2012) ter concebido essas ideias antes dos anos 2000, são tendências que ainda persistem até os dias atuais. A primeira revolução ocorrerá nos Mercados. O mercado financeiro apresenta tendência de ampliação da livre competição econômica, desta forma, ao invés de esperarem pela atuação dos governos, o próprio mercado irá definir padrões de sustentabilidade (ELKINGTON, 2012). Essa tendência pode ser observada nas bolsas de valores, as quais desenvolveram índices de sustentabilidade, por exemplo, na B3, tem-se o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), desde 2005, que se trata de uma carteira de organizações que possuem desempenho sustentável, ou seja, que além da esfera econômica buscam atuar nas questões sociais e ambientais (B3, 2019). Com relação aos Valores das organizações, menciona-se que a cada geração, há transformações nos valores dos cidadãos, assim, as organizações precisam rever seus valores e agir além da esfera econômica, ou seja, incluir valores sociais, ambientais e outros relativos aos Direitos Humanos para que os prováveis consumidores possam se identificar com a marca. Segundo Elkington (2012), as organizações precisam entender que a busca pela maximização do valor econômico é crucial, mas que valores sociais, ambientais e até mesmo políticos, são necessários para a sobrevivência da organização. A Transparência das informações foi classificada como a terceira revolução. Destaca- se que os stakeholders estão cada vez mais interessados em conhecer as atividades da organização, como estão identificando as necessidades dos stakeholders, quais são os investimentos na organização, entre outros (ELKINGTON, 2012). 17UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Ainda sobre a Transparência, nota-se que os mercados financeiros, os investidores e instituições financeiras estão levando em consideração informações socioambientais na decisão de seus investimentos. Menciona-se que há órgãos e instituições internacionais que publicaram frameworks para que as organizações possam evidenciar seu impacto socioambiental. No âmbito privado, podemos citar: ● Global Reporting Initiative (GRI), que publicam os indicadores GRI, que são indicadores financeiros, sociais e ambientais (GRI, 2019). ● International Integrated Reporting Council (IIRC), o qual lançou o framework para elaboração do Relato Integrado (IIRC, 2019), que enfatiza o pensamento integrado e questões voltadas à sustentabilidade. Sobre a transparência das organizações públicas, enfatiza-se que há recomendações para que estas instituições divulguem para a população (stakeholders) quais ações estão desenvolvendo no âmbito social, ambiental e econômico. Um exemplo desse enfoque em questões socioambientais é a publicação da Rio+20, The Future We Want. A Quarta revolução proposta por Elkington (2012) engloba as tecnologias do ciclo de vida. O Ciclo de vida de um produto compreende todo o seu processo produtivo, mas, não se restringe ao mesmo, pois, abarca ainda as atividades que envolvem as etapas de pré-fabricação e de pós-fabricação (ELKINGTON, 2012). Exemplo Para que você possa compreender o conceito de ciclo de vida de um produto, bem como entenda os impactos que o produto pode causar nas diversas fases produtivas, vamos considerar na fabricação de um veículo. Antes – A fase inicial do ciclo de vida de um veículo que será montado na fábrica (ou montadora) corresponde à etapa na qual ocorre a produção dos pneus e à fabricantes de outros componentes do veículo. Você pode considerar ainda, os funcionários que extraíram a matéria-prima para fabricação do pneu, os processos que desenvolveram a tinta que irá ser utilizada na pintura do veículo, os fabricantes dos bancos, entre outros. 18UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Nesse momento, já temos o impacto positivo, que é gerar empregos e criar valor ao município no qual a fábrica está instalada e criação de valor para os fornecedores de insumos (inclusive para os funcionários dessa organização). Durante - Na produção têm-sea aplicação dos custos, consumo da mão de obra, custos com armazenamento e os resíduos sólidos do processo de fabricação. Têm-se também nessa etapa as externalidades causadas como a poluição do ar com a fumaça, emissão de sons que causam poluição sonora e poluição ambiental, se ocorrer disposição incorreta dos resíduos sólidos. Depois – A organização também é responsável pelo correto descarte do produto, ou então, pela correta destinação dos materiais que podem poluir o meio ambiente. Por fim, há ainda a preocupação com a emissão de gases de efeito estufa que podem corroborar para o aquecimento global. Além dos impactos sociais que a organização pode causar na comunidade, nos fornecedores, entre outros stakeholders. Os autores Porter e Kramer (2006) discorreram que uma organização sustentável precisa atuar de maneira responsável em toda a sua cadeia de valor, pois, poderá identificar meios para obter vantagem competitiva e criar valor aos seus stakeholders. Dessa forma, tais autores corroboram para a perspectiva de Elkington (2012). As Parcerias são consideradas a 5ª Revolução da Sustentabilidade. Conforme enfatizado por Elkington (2012), as organizações que antes eram concorrentes, passarão a cooptar, ou seja, a realizarem parcerias “ganha-ganha”. Além de efetuarem parcerias com outras organizações, é possível firmar parcerias com Organizações Não Governamentais (ONGs), Instituições Filantrópicas, entre outros tipos de organizações. Nada obstante, podem realizar projetos em conjunto com a comunidade em torno da organização (ELKINGTON, 2012). A Sexta Revolução da Sustentabilidade é Tempo. Devido aos avanços tecnológicos, principalmente, da internet, as notícias e fatos são disseminados pelo mundo em questão de horas, no máximo, em 1 dia. Este é o reflexo da Globalização, a qual eliminou a barreira da distância (ELKINGTON, 2012). Imaginemos que ocorreu um derramamento de óleo em 19UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual um mar ou oceano, em questão de minutos ou horas, esta tragédia já se alastrou pelo mundo inteiro. Agora, vamos imaginar que a sua organização vendeu um produto com vícios ou defeito para seu cliente. Uma das possíveis atitudes do seu cliente é gravar um vídeo e enviar para um site ou mídia social o seu produto com defeitos. O efeito desse ato, é que em poucas horas, toda a reputação organizacional construída ao longo de anos é questionada, podendo ocasionar baixas nas vendas do período, por exemplo (ELKINGTON, 2012). Exemplo Ainda, a Revolução do Tempo, considere que você tem um restaurante, e vendeu uma marmita para um cliente no horário do almoço. Imagine ainda que por uma infelicidade, o cliente encontrou uma mosca dentro da marmita dele. Se o cliente gravar um vídeo e publicar em uma rede social, pode ser que no jantar, nenhum cliente apareça no seu restaurante, talvez, pode ser a ruína do seu empreendimento (dependendo da maneira que a notícia foi divulgada). A última revolução da Sustentabilidade apontada por Elkington (2012) diz respeito à Governança Corporativa. Conforme o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC, 2015), a Governança Corporativa é o sistema pelo qual uma organização é dirigida, controlada e incentivada, incluindo o relacionamento da organização com os seus stakeholders. Sabendo que as questões envolvendo a sustentabilidade afetam a estratégia da organização, torna-se necessário desenvolver mecanismos para identificar tais aspectos e gerenciá-los de modo a criar valor aos stakeholders. Desta forma, os Chief Executive Officer (CEOs) e demais agentes de governança corporativa precisam incluir, nas Estratégias, questões relativas a aspectos sociais e ambientais para demonstrar aos stakeholders como tratam essas questões no âmbito da Governança Corporativa (ELKINGTON, 2012; IBGC, 2015). Por exemplo, novas legislações podem demandar adequações de estrutura física, ou seja, podem consumir os recursos financeiros que seriam distribuídos aos acionistas. Outro exemplo, é que os fatores socioambientais podem representar riscos para a gestão 20UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual das organizações como as mudanças climáticas, crises financeiras, escassez de recursos minerais (pode tornar mais caro o acesso à matéria-prima), etc. Ademais, a Governança Corporativa prescreve que as organizações sejam transparentes e prestem contas das suas ações com os stakeholders. Ressalta-se que a transparência é inexorável em relação à Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável (IBGC, 2015; ELKINGTON, 2012). Outra tendência, que envolve os temas Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável é o lançamento da Agenda 2015-2030 pela ONU, que abarca os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas relativas aos mesmos (Figura 2). Figura 2: Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Fonte: ONU (2019a). Trata-se de uma iniciativa de âmbito global, mas que prescreve uma atuação local dos agentes, pois, conforme preconizou a ONU (2019a), resolvendo os problemas locais há maiores chances de resolver os problemas globais. Os 17 ODS da ONU (2019a) são: 1. Erradicação da Pobreza. 2. Fome Zero e Agricultura Sustentável. 3. Saúde e Bem-estar. 4. Educação de Qualidade. 5. Igualdade de Gênero. 6. Água potável e saneamento. 7. Energia acessível e limpa. 8. Trabalho decente e crescimento econômico. 21UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual 9. Indústria, Inovação e Infraestrutura. 10. Redução das Desigualdades. 11. Cidades e Comunidades Sustentáveis. 12. Consumo e Produção Responsáveis. 13. Ação contra a mudança global do clima. 14. Vida na água. 15. Vida terrestre. 16. Paz, justiça e instituições eficazes. 17. Parcerias e meios de implementação. Ressalta-se que as organizações estão desenvolvendo indicadores e métricas para demonstrar sua contribuição com os ODS. O Brasil é um dos países que mais contribuem em relação a indicadores e outras informações relativas aos ODS. Como você pode notar, o tema Desenvolvimento Sustentável e Sustentabilidade estão no mainstream da ONU e das organizações empresariais, e cada vez mais, estamos descobrindo os impactos desses conceitos sobre a realidade organizacional e sobre o nosso próprio cotidiano. SAIBA MAIS A CONFERÊNCIA MUNDIAL DA ONU: RIO + 20. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, foi rea- lizada de 13 a 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O objetivo da Conferência foi a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentá- vel, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas pelas principais cúpulas sobre o assunto e do tratamento de temas novos e emergentes. A Conferência teve dois temas principais: A economia verde no contexto do desenvolvi- mento sustentável e da erradicação da pobreza; e A estrutura institucional para o desen- volvimento sustentável. O resultado da RIO+20 foi um documento intitulado: The Future we want (O Futuro que nós queremos). Disponível em: <http://www.rio20.gov.br/sala_de_imprensa/noticias-internacionais/the-future-we-want. html>. Acesso: 11 out. 2019. 22UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) aluno (a), chegamos ao final da Unidade I, do material didático da disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. O propósito da primeira unidade foi apresentar uma contextualização histórica e construir uma base conceitual para os temas Sustentabilidade e a Responsabilidade Social, para que você fosse imerso neste universo da Sustentabilidade e Responsabilidade Social. No primeiro momento, foram apresentadas perspectivas teóricas sobre desenvolvimento econômico, desenvolvimento sustentável e as interfaces entre esses dois assuntos. Assim, você pôde entendero que esses conceitos significam e quais as suas implicações para o ambiente econômico, social, ambiental, entre outros. Ainda no primeiro tópico da Unidade I, foram apresentados conceitos e definições de Sustentabilidade. No tópico posterior, você analisou perspectivas de novos modelos de desenvolvimento e tendências para a sustentabilidade no estado e nas organizações empresariais. Portanto, foram relacionados exemplos de práticas do Estado e das organizações e foi argumentado sobre como os Estados e Organizações podem contribuir para a Sustentabilidade. Esperamos que tenha compreendido o conteúdo desenvolvido nesta Unidade, visto que os tópicos têm o potencial de contribuírem para a sua formação acadêmica, profissional e até mesmo pessoal. Na próxima Unidade, vamos conhecer mais alguns tópicos envolvendo a Sustentabilidade e a Responsabilidade Social. Bons Estudos!! 23UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual LEITURA COMPLEMENTAR Quem são os Stakeholders? No âmbito das organizações, há uma Teoria que está ganhando força desde a década de 1980, qual seja a Teoria dos Stakeholders. Trata-se de uma perspectiva teórica que enfatiza que o desempenho das organizações pode ser afetado devido atuação dos stakeholders. Edward Freeman foi uma dos precursores da Teoria dos Stakeholders e é o idealizador de uma definição seminal desse assunto. Freeman (1984) definiu os Stakeholders como todos aqueles que são afetados ou que podem afetar o desempenho de uma organização. Apesar de parecer uma definição ampla, isto é, sem muitos detalhes, já é possível perceber que os stakeholders podem ser grupos internos ou externos às organizações, visto que as atividades das organizações podem ser afetadas pelo desempenho dos funcionários, gerentes (internos) ou pelo governo, clientes ou fornecedores (externos). Além disso, os grupos de stakeholders afetados (ou que afetam) podem variar de organização para organização. Segundo pressupostos da Teoria dos Stakeholders, as necessidades dos stakeholders precisam ser entendidas (gerenciadas) para que a organização consiga engajá-los e ao invés de se tornarem uma fonte de riscos, os stakeholders passem a colaborar na geração de valor para a organização. Esse processo inclui a evidenciação de informações direcionadas aos stakeholders, que pode ser nos Relatórios da Organização, no site da organização, redes sociais, entre outros (FREEMAN et. al, 2010). Portanto, o primeiro passo para alcançar o engajamento com os stakeholders é a identificação de quem são os stakeholders. Abaixo, seguem os principais grupos de stakeholders (mais não os únicos) e suas distintas necessidades de informação (CLARKSON, 1995). Acionistas: este grupo de stakeholders é responsável pelos investimentos de Capital da organização. As principais informações que são evidenciadas aos acionistas são: Políticas gerais de relacionamento com os acionistas, quantidade de Comunicações e reclamações, lista dos Advogados (ou defensores) dos acionistas, declaração sob os direitos dos acionistas. 24UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual Consumidores: este grupo de stakeholders é responsável pelo consumo dos produtos. Principais informações evidenciadas para os consumidores: Políticas gerais, Comunicações com os consumidores, Índices de satisfação do produto e Reclamações dos clientes. Fornecedores: este grupo é responsável pelo fornecimento de insumos de produção. Principais informações que os fornecedores buscam: políticas gerais de relacionamento com os fornecedores, dependência da organização em relação aos Fornecedores, prazos e condições de pagamento, entre outros. Funcionários: são responsáveis pela execução das atividades da organização (recursos humanos da organização). Principais informações que os funcionários querem ter acesso: Políticas gerais, Benefícios, Treinamento e capacitação, Plano de carreira, entre outros. Governo: estes stakeholders podem afetar a organização por meio da publicação de novas leis, novas exigências ambientais, aumento da alíquota dos impostos, etc. Principais informações que o governo busca nas demonstrações das organizações: apuração dos impostos, recolhimento de taxas e contribuições. Outros stakeholders que podem afetar o desempenho das organizações são a comunidade em torno da organização e a mídia (redes sociais, imprensa, televisão, rádio, etc.) (ALMEIDA, 2018). Cabe ao gestor das organizações identificarem quem são os stakeholders, entender as suas principais demandas e realizar ações para satisfazê-los. Tais atitudes são tidas como ações de sustentabilidade e de responsabilidade social. Fonte: ALMEIDA (2018); CLARKSON (1995); FREEMAN (1984); FREEMAN et. al (2010). 25UNIDADE I Contextualização Histórica e Construção da Base Conceitual MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Primavera Silenciosa Autor: Rachel Carson. Editora: Gaia. Ano: 1962. FILME/VÍDEO Título: O menino que descobriu o vento Ano: 2019 Sinopse: O filme retrata a história real de um jovem nascido em Malawi, que começa a desenvolver uma inovadora turbina de vento para melhorar as condições de vida do vilarejo onde mora. FILME/VÍDEO Título: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - Agenda 2030 No link abaixo são apresentados os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas, os quais visam o Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OYhe6MJP8Lg Acesso em: 20 set. 2019. 26 Objetivos de Aprendizagem ● Discorrer sobre a Sustentabilidade Empresarial. ● Compreender o Significado de Sustentabilidade Empresarial e outras ideias. ● Apresentar conceitos relacionados a desenvolvimento e sustentabilidade. Plano de Estudo ● Sustentabilidade Empresarial. ● O Significado de Sustentabilidade Empresarial e outras ideias. ● Conceitos relacionados a desenvolvimento e sustentabilidade. UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Professor Rodrigo Gaspar de Almeida 27UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial INTRODUÇÃO Prezado (a) aluno (a), seja bem-vindo (a) a Unidade II, do material didático da disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. A finalidade da segunda unidade é apresentar o tema Sustentabilidade Empresarial. A segunda Unidade deste material foi dividida em três tópicos para facilitar a assimilação desses conhecimentos: Sustentabilidade Empresarial (1), o Significado de Sustentabilidade Empresarial e outras ideias (2) e Conceitos relacionados a desenvolvimento e sustentabilidade (3). No primeiro instante, será discorrido sobre Sustentabilidade Empresarial. Desta forma, serão apresentados exemplos de práticas de sustentabilidade empresarial, bem como fatores favoráveis e desfavoráveis da Sustentabilidade. Prosseguindo, você compreenderá o significado de Sustentabilidade Empresarial e outras ideias relacionadas a este termo. Portanto, serão relacionados perspectivas teóricas e novos conceitos sobre esse assunto, que levarão você a compreender este tema tão importante da realidade organizacional. Por fim, ainda na Unidade II, serão apresentados outros conceitos que são relacionados (ou que são influenciados) pela Sustentabilidade Empresarial e que também são utilizados na realidade organizacional. Desejamos bons estudos desta Unidade do livro. Salientamos que estes tópicos têm o potencial de contribuir para a sua formação acadêmica, profissional e até mesmo pessoal, visto que o tema Sustentabilidade afeta a todos nós. Bons Estudos! 28UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial 1 SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL Vamos iniciar a segunda unidade deste material, cujo objetivo é discorrer sobre o tema Sustentabilidade Empresarial. Dessa forma, inicialmente, apresentaremos alguns conceitos de pesquisadores e autores desta área, que serão relevantes para compreensão deste assunto. Conforme discorrido por Boff (2016), o termoSustentabilidade Empresarial ou o adjetivo Sustentável está entre os conceitos mais utilizados pelas organizações públicas ou privadas nos seus meios de comunicação. Muitas vezes, com a intenção de agregar valor a tais produtos ou de minimizar os impactos negativos de seus produtos (BOOF, 2016). O autor definiu Sustentabilidade como o conjunto de processos ou ações que se destinam a manter a integridade da Mãe Terra. Em outras palavras, as organizações precisam realizar suas atividades de modo que ao final sejam mantidos ou preservados os estoques de recursos naturais dos ecossistemas (químicos, físicos e ecológicos) para que haja a continuidade da espécie humana e o atendimento de necessidades das gerações atuais e futuras. Deste modo, Sustentabilidade envolve questões que vão além do desenvolvimento econômico como: pessoas, comunidades, cultura, política, ecossistemas, planejamento urbano e principalmente para preservação da Terra (BOFF, 2016). Os autores Gassenferth et al. (2015) denotaram que a Sustentabilidade Empresarial, precisa ser mais do que uma consciência organizacional. Torna-se necessário que a Sustentabilidade se torne um “Valor” para organização. A noção de Valor, em detrimento 29UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial à Consciência, significa que a Diretoria e os altos gerentes das organizações precisam compreender as questões relacionadas à Sustentabilidade e aplicá-las no cotidiano de suas tomadas de decisão. Lembrando que os valores guiam as estratégias organizacionais, assim, se a Sustentabilidade se tornar um valor aos gestores, poderia ser incorporada à gestão da organização (GASSENFERTH et al., 2015) Outra definição de Sustentabilidade Empresarial foi apresentada por Barbosa e Lopes (2018), os quais enfatizaram que uma organização sustentável não é aquela que planta árvores, apaga as luzes, fecha a torneira ou separa o lixo (com certeza, essas atitudes estão presentes em uma organização sustentável). A Sustentabilidade Empresarial (ou agir de modo sustentável) compreende o conhecimento estruturado de todos os impactos que as atividades da organização podem causar, sendo positivos ou negativos, e que podem estar associados a questões sociais, ambientais ou econômicas (BARBOSA; LOPES, 2018). Freitas e Freitas (2016) afirmaram que a Sustentabilidade Empresarial pode ser tida como um eixo-motor de projetos que estão sendo desenvolvidos atualmente, em especial, projetos ligados a questões socioeconômicas e culturais. Entretanto, os mencionados autores denotaram que o entendimento sobre a Sustentabilidade nas organizações é difusa e fluida, dado que se encontra em processo de construção e legitimação técnica. As principais conjecturas incorporadas à Sustentabilidade Empresarial são: ● Combate à miséria e fome. ● Inclusão social. ● Exaustão acentuada da natureza. ● Geração de Emprego e Renda. ● Melhoria da Qualidade de vida. ● Preservação da natureza. ● Preservação da cultura. ● Educação da História e Geografia. ● Economia. ● Sociedade. ● Globalização. ● Direitos Humanos e sentimento de humanidade. ● Valoração de projetos socioambientais. ● Valoração dos Impactos socioambientais. Por sua vez, os principais problemas mundiais, os quais afetam todos os cidadãos de todos os países, na visão de Freitas e Freitas (2016) são: 30UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial ● Tecnologia Nuclear (pode ocasionar conflitos/guerras). ● Poluição rural e urbana. ● Chuvas ácidas e efeito estufa. ● Inadequada utilização de águas, solos e atmosfera. ● Aquecimento Global. A Sustentabilidade Empresarial demandará uma atuação coordenada de todos os agentes, ou seja, não só das organizações (ou empresas), visto que são problemas estruturais complexos e precisam de soluções locais e globais. No próximo tópico será abordado sobre conceitos relativos à Sustentabilidade Empresarial. REFLITA Atualmente, no mundo inteiro, estima-se que mais de 800 milhões de pessoas estão com fome ou estão desnutridos. Fonte: World Resources Institute, 2019. 31UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial 2 O SIGNIFICADO DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL E OUTRAS IDEIAS Conforme foi enfatizado nos tópicos anteriores, a necessidade de adotar práticas de consumo sustentáveis recaiu sobre a população civil, as grandes corporações e as instituições públicas. Nesta perspectiva, emergiu o conceito de Sustentabilidade Empresarial, o qual se refere às práticas realizadas pelas organizações ou empresas no âmbito econômico, social, ambiental, cultural, entre outros, ou seja, no âmbito da Sustentabilidade. Neste tópico, nós iremos apresentar os principais conceitos relacionados a Sustentabilidade Empresarial, seguidos dos respectivos exemplos. Tais conceitos contribuirão para a sua aprendizagem, com sua formação sociocultural e têm o potencial de contribuir com a sua formação profissional, uma vez que você poderá utilizar esses conceitos no âmbito organizacional quando estiver atuando. Conforme Philippi Junior e Fernandes (2017) são exemplos de conceitos (ou práticas) relacionados à Sustentabilidade Empresarial: ● Avaliação do Ciclo de Vida. ● Cadeia de Suprimentos Verde. ● Logística Reversa. ● Produção + Limpa e produção Enxuta. 32UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Os autores Freitas e Freitas (2016), relacionaram outras práticas que são imbricadas à sustentabilidade empresarial: ● Selo verde. ● Certificação ambiental Nos próximos subtópicos, será abordado sobre cada conceito. 2.1 Avaliação do Ciclo de Vida A Avaliação de Ciclo de Vida é uma técnica empregada para avaliar o desempenho ambiental de um produto no seu ciclo de fabricação (“do nascimento a morte”). Inclui a identificação e mensuração da energia, matéria-prima, água, solo e ar, os quais são aplicados na (i) produção, (ii) a utilização e (iii) disposição final (QUEIROZ; GARCIA, 2010). Ressalta-se que a Avaliação do Ciclo de Vida também tem o intuído de avaliar o impacto ambiental associado ao uso dos recursos naturais (energia e materiais) e emissões de poluentes. A aplicação dessa ferramenta propicia a identificação de oportunidades para melhorar o sistema de forma a aperfeiçoar o desempenho ambiental do produto (QUEIROZ; GARCIA, 2010). No âmbito brasileiro, a Associação Brasileira de Normas Técnicas [ABNT] (online 1), emitiu 2 normas específicas para guiar as organizações na avaliação do ciclo de vida dos produtos, são elas: ● NBR ISO 14040:2009 – Esta norma foi lançada em 2009, e foi atualizada no ano de 2014. Tem o objetivo de descrever os princípios e a estrutura de uma avaliação de ciclo de vida (ACV). ● NBR ISO 14044:2009 – Esta norma foi lançada em 2009, e foi atualizada no ano de 2014. Complementa a norma 14040. Um detalhe é que essa norma tem acesso gratuito. O foco dessa norma é a mensuração dos impactos identificados na avaliação do ciclo de vida. Na Figura 1, consta um modelo de avaliação de ciclo de vida, o qual foi retirado da norma NBR ISO 14040:2009 (atualizada em 2014) (ABNT, online): 33UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Figura 1: Etapas de Avaliação de Ciclo de Vida Fonte: ABNT (online 1). Perceba, na Figura 1, que a Análise do Ciclo de Vida pode ser aplicada para os produtos, mas, também pode colaborar para o desenvolvimento do planejamento da organização, políticas públicas, gestão de projetos, etc. 2.2 Cadeia de Suprimentos Verde A Cadeia de Suprimentos verde pode ser entendida como um conjunto de, no mínimo, três entidades envolvidas nos fluxos ascendentes e descendentes de produto. Abarca desde o projeto do produto, a origem da matéria-prima até a entrega do produto ao consumidor, inclusive a disposição pós-uso do produto (SILVA, et al. 2018). A cadeia de suprimentos verde, ou Green Supply Chain, pode ser entendida como a integração das atividades relacionadas ao fluxo e à transformação de bens, desde a extração de suas matérias-primas até o usuário final.Trata-se de uma forma de exigir que todos os agentes envolvidos na cadeia produtiva se adequarem às questões de Sustentabilidade (ALVES; NASCIMENTO, 2014). Por exemplo, imagine uma multinacional que opera no setor de processamento de alimentos, e obtenha sua matéria-prima de pequenos fornecedores locais de matéria- prima. Caso a multinacional exija adequações socioambientais como pré-requisito para adquirir matéria-prima, provavelmente, estes pequenos fornecedores incorporarão práticas 34UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial socioambientais e contribuirão para o Desenvolvimento Sustentável. A multinacional pode exigir também dos fornecedores certificação socioambiental para continuar se relacionando com os mesmos. 2.3 Logística Reversa A Logística Reversa é uma das especializações da Logística Empresarial que planeja, opera e controla o fluxo, e as informações logísticas correspondentes. Envolve o retorno dos bens de pós-venda e de pós - consumo ao ciclo de negócios, por meio dos Canais de Distribuição Reversos, agregando-lhes valor (LEITE, 2002). Logística Reversa diz respeito ao fluxo de materiais que voltam à organização por algum motivo como devoluções de clientes, retorno de embalagens, retorno de produtos ou materiais para atender à legislação. Menciona-se que é uma área que normalmente não envolve lucro (ao contrário, apenas custos), muitas empresas não lhe dão a mesma atenção que ao fluxo de saída normal de produtos (DAHER; SILVA; FONSECA, 2006). As Receitas podem obtidas pela venda desses materiais que foram reenviados à organização, como sucata ou pela venda das peças (ou componentes) individuais. Ocorre que existem legislações que forçam as organizações a se responsabilizarem pelo correto descarte dos seus produtos, como a Política Nacional do Resíduos Sólidos, no Brasil, implementada pela Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010). 2.4 Produção + Limpa e Produção Enxuta O conceito de Produção + Limpa corresponde a diminuir o impacto do processo produtivo por meio de ferramentas de gestão ambiental dos processos produtivos das organizações, que se preocupam com as saídas dos processos (resíduos, emissões, efluentes) e têm caráter preventivo (PEREIRA; OLIVEIRA, 2017; VAZ et al., 2012). A utilização de mecanismos de Produção + Limpa visam aumento da produtividade e eficiência; a competitividade; a saúde e segurança no trabalho; o cuidado com a imagem da organização junto aos stakeholders; a educação ambiental; diminuir os gastos com multas e penalidades previstas na legislação; o consumo de matéria, água e energia; a matéria-prima e outros insumos nocivos para o meio ambiente (PEREIRA; OLIVEIRA, 2017; VAZ et al., 2012). 35UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Quando uma empresa decide por ações de produção mais limpa ela opta por menos degradação ambiental, por conta dos cuidados em todo o processo produtivo. Como o foco é no processo produtivo, há a necessidade do entendimento de como as matérias- primas são empregadas e como são gerados resíduos, emissões ou efluentes (PEREIRA; OLIVEIRA, 2017; VAZ et al., 2012). Outro conceito relacionado à Sustentabilidade é o da Produção Enxuta que trata dos desperdícios e de um nível de produção “ótimo”, que pode ser tido como aquele que não visa aumentar a produção para reduzir os custos unitários mas sim produzir o necessário para atender a demanda existente. Podem ser mencionados ao menos, 7 tipos de desperdícios que a produção enxuta visa erradicar: ● Desperdício da superprodução; ● Desperdício da espera (perecidade dos produtos, por exemplo); ● Desperdício do transporte; ● Desperdício do processamento; ● Desperdício do inventário; ● Desperdício da movimentação; ● Desperdício de produtos defeituosos. As técnicas que foram desenvolvidas no âmbito da Produção Enxuta são: Racionalização da Força de Trabalho, Just in time e produção flexível. Tais técnicas são famosas por terem sido aplicadas na organização japonesa Toyota. A Racionalização da Força de Trabalho, consiste em separar os colaboradores em equipes e deixar uma pessoa responsável pela execução (gerente), eles deveriam otimizar os processos e sempre buscar uma maneira de desenvolver melhor a atividade (melhoria contínua). A gestão de estoques Just in Time visa erradicar os custos de estoques, dessa forma, busca-se ter o menor nível possível de estoques. Por fim, a produção flexível equivale a produzir somente a quantidade que for demandada pelos clientes e não produzir para estocar ou para baixar o custo unitário (VAZ et al., 2012). 2.5 Selo verde e Certificação ambiental De acordo com Bufoni, Muniz e Ferreira (2009), a certificação ambiental ou o selo verde, não são práticas regulamentadas nem obrigatórias. Ressalta-se que a divulgação de demonstrativos socioambientais pelas organizações brasileiras, bem como a certificação configura-se como poderoso mecanismo de educação, de controle e de informação ao consumidor (BUFONI; MUNIZ; FERREIRA, 2009). 36UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Ademais, uma organização que possui 1 selo verde ou certificação ambiental sinaliza aos stakeholders que têm preocupações com a qualidade de suas informações e com a transparência de suas ações. Um exemplo de certificação são as aplicações da Norma ISO/ABNT e o Certificado de Empresa Cidadã, promovido há mais de 17 anos pelo Conselho Regional de Contabilidade (CRC) do Rio de Janeiro. Outro motivo que pode levar as organizações a buscarem tais selos ou certificações, é a preocupação em constituir um Capital Reputacional perante a sociedade (BUFONI; MUNIZ; FERREIRA, 2009). No próximo tópico desta unidade, serão dispostos outros conceitos relacionados ao desenvolvimento e sustentabilidade, porém, o foco será mais no âmbito das organizações públicas e dos governos. 37UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial 3 CONCEITOS RELACIONADOS A DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE Caro(a) aluno(a), neste tópico você terá acesso a conhecimentos que estão relacionados a sustentabilidade e ao desenvolvimento sustentável, mas que possuem maior aplicabilidade no setor público. Mas, isso não quer dizer que as organizações não podem aplicá-los. Na verdade, espera-se uma atuação conjunta das organizações com fins lucrativos e das organizações públicas no âmbito da sustentabilidade (lembre-se dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que vimos na Unidade anterior). Os conceitos que você conhecerá após a leitura desse tópico são: ● Desigualdade Racial; ● Desigualdade de Renda; ● Economia de Baixo Carbono; ● Políticas Públicas Sustentáveis e Acessibilidade; 3.1 Desigualdade Racial Em pleno século XXI, ainda nos deparamos com notícias nas mídias sociais que revelam atos de racismo ou preconceito racial. 38UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Conforme Campante, Crespo e Leite (2004), a discriminação racial não ocorre somente nas relações de trabalho, mas ocorre antes mesmo que o “discriminado” consiga ter acesso ao trabalho. Outro fator que demonstra que a desigualdade racial interfere na vida dos grupos desfavorecidos é que os negros geralmente possuem salários menores que os brancos (exceto quando trata-se de cargos públicos, onde as 2 raças têm o mesmo salário). Na Constituição Federal da República Federativa do Brasil, de 1988, é assegurando que todos devem ser tratados de maneira equânime ou igual. No artigo 5º, por exemplo, têm-se o imperativo que todos são iguais perante a Lei, sem distinção. Neste trecho “sem distinção”, significa que não podem ocorrer situações de discriminação, exclusão racial, preconceito, entre outras correlacionadas (BRASIL, 1988). Um exemplo de política pública para diminuir os efeitos da discriminação racial são as cotas voltadas para negros em concursos vestibulares, concursos públicos, entre outros. O objetivo destes atos é tentar igualar as condições de competição entre os grupos considerados desfavorecidose os brancos. As organizações também podem contribuir com o combate a desigualdade racial. Para tanto, basta manter uma diversidade racial na sua força de trabalho e principalmente, dar cargos de liderança às raças que têm maior vulnerabilidade. 3.2 Desigualdade De Renda O Capitalismo, a busca pela maximização da riqueza e a ganância do ser humano são causadores de um dos maiores problemas sociais enfrentados no século XXI, qual seja, a má distribuição de renda. Chiodini e Amarante (2018) enfatizaram que existe um indicador utilizado para mensurar a desigualdade de renda, qual seja, o Índice de Gini (ou Coeficiente de Gini). Tal indicador, compara a riqueza dos 20% mais ricos com a riqueza dos 20% mais pobres e mensura tal diferença em um número entre 1 e 100 (Índice de Gini) ou em um número de 0 a 1 (coeficiente de Gini), quanto mais próximo de 100, ou então de 1, maior a desigualdade da renda, e quanto mais próximo de 0, há maior igualdade na renda. 39UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Em termos práticos, imagine 2 municípios: A e B. O município A apurou um índice de Gini de 80% (quociente de 0,8), já o município B apurou um índice de Gini de 30% (quociente de 0,3). Desta forma, a desigualdade de renda é mais acentuada no município A (resultado próximo de 1), por sua vez, no Município B, as rendas são mais igualitárias (resultado mais próximo de zero). 3.3 Economia De Baixo Carbono A Economia de Baixo Carbono pode ser entendida como um movimento socioambiental que visa combater o aquecimento global por meio da redução da emissão de gases de efeito estufa nos processos produtivo e logístico (RIBEIRO; JABBOUR, 2017). Com a industrialização e as novas tecnologias, intensificou-se a exploração animal e vegetal pelo ser humano, de modo que a quantidade excessiva de poluentes e gases da atmosfera aumentou 1,8 vezes nos últimos anos. Diante dessa realidade, as maiores potências mundiais se reuniram para celebrar o Acordo de Paris para redução da emissão de gases de efeito estufa, com vistas a impedir o aumento da temperatura do Planeta. Esta nova realidade afetou também as instituições financeiras, as quais já estão priorizando investimentos que causam pouca emissão de gases poluentes ou aquelas organizações que já se adequaram (infra-estrutura) e buscam reduzir suas emissões de gases poluentes. 3.4 Políticas Públicas e Acessibilidade Uma política pública é um conjunto de ações desenvolvidas pelo ente público, seja na esfera municipal, estadual ou federal. É desenvolvida com base nas percepções das necessidades dos cidadãos. Quando tais entes governamentais atuam sobre a égide da Sustentabilidade, precisam alinhar a essas políticas fatores sociais e ambientais, uma vez que os mesmos têm capacidade de promover o bem-estar dos cidadãos. 40UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial Outro fator que precisa ser considerado pelos governantes, é promover a acessibilidade aos cidadãos. Conforme o Ministério da Saúde do Brasil (online 1), a acessibilidade consiste em incluir a pessoa com deficiência na participação de atividades como o uso de produtos, serviços e informações. Alguns exemplos são os prédios com rampas de acesso para cadeira de rodas e banheiros adaptados para deficientes. Mais exemplos de acessibilidade, é construir banheiros adaptados para os portadores de deficiência, elaborar manuais codificados em braile para cegos, disponibilizar vídeos com tradutores de libras ou legendas. Prezado(a) aluno(a) chegamos ao término de mais unidade de estudos, esperamos que tenham compreendido os tópicos abordados. Em seguida serão dispostas as considerações finais desta Unidade. SAIBA MAIS A Constituição da República Federativa do Brasil foi publicada em 1988, 2 anos após a concepção do conceito de Desenvolvimento Sustentável (1986). Tal fato refletiu no texto da Carta Magna brasileira, dessa forma é possível visualizar em alguns artigos da Constituição a inclusão de aspectos sociais e ambientais, juntamente com o imperativo do crescimento econômico. Fonte: BRASIL (1988). 41UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial CONSIDERAÇÕES FINAIS Prezado (a) aluno (a), chegamos ao final da Unidade II, do material didático da disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. O propósito da segunda unidade foi apresentar o tema Sustentabilidade Empresarial. No primeiro instante, foi discorrido sobre Sustentabilidade Empresarial. Desta forma, no primeiro tópico da Unidade II, foram apresentados exemplos de práticas de sustentabilidade empresarial, bem como motivos favoráveis e desfavoráveis à organização que atua sob o âmbito da Sustentabilidade. Prosseguindo, você compreendeu o significado de Sustentabilidade Empresarial e outras ideias relacionadas a este termo. Portanto, foram relacionadas perspectivas teóricas sobre esse assunto, que levaram você a compreensão deste tema tão importante da realidade empresarial. Por fim, ainda na Unidade II, foram apresentados outros conceitos que são relacionados (ou que são influenciados) pela Sustentabilidade Empresarial e que também são utilizados na realidade organizacional. Esperamos que você tenha compreendido os tópicos abordados nesta Unidade do livro. Salientamos que estes tópicos têm o potencial de contribuírem para a sua formação acadêmica, profissional e até mesmo pessoal, visto que o tema Sustentabilidade afeta a todos nós. Bons Estudos! 42UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial LEITURA COMPLEMENTAR Política Nacional dos Resíduos Sólidos O Brasil promulgou no dia 02 de agosto de 2010, a Lei 12.305/2010, a qual instituiu a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS). Na PNRS são dispostos mecanismos e diretrizes sobre a gestão dos resíduos sólidos que são gerados pelas organizações, municípios e sociedade civil. No artigo 3º da Lei 12.305/2010 consta a definição de resíduos sólidos que são os materiais, substâncias, objetos ou bens descartados, resultantes de atividades humanas. Destarte, os resíduos sólidos podem estar no estado sólido, gasoso ou líquido (BRASIL, 2010). A PNRS é um marco relevante para a Sustentabilidade, pois, a disposição incorreta dos resíduos sólidos pode gerar problemas ambientais, sociais e até econômicos. Como problemas ambientais causados pelos resíduos sólidos pode-se citar a poluição dos solos e dos rios. Um exemplo para ilustrar esse problema é a poluição dos oceanos ocasionada pelos produtos de plástico descartados incorretamente como canudos de plástico, copos, garrafas, entre outros. Os problemas sociais causados pelos resíduos sólidos são relacionados a doenças respiratórias e o surgimento de mosquitos da dengue. Já os problemas econômicos resultam da perda da produtividade dos solos, aumento de gastos com limpeza urbana e aumento dos gastos envolvendo a destinação dos resíduos sólidos gerados no processo produtivo. A PNRS reforçou alguns aspectos da Constituição Federal de 1988, como o envolvimento das organizações com questões ambientais e sociais e que estes agentes devem ser atuantes em relação à promoção do Desenvolvimento Sustentável. Algumas práticas sustentáveis que são enfatizadas na PNRS são: ● Ciclo de vida do produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo produtivo, o consumo e a disposição final; ● Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada; 43UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial ● Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes,dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos. Além disso, a PNRS prevê que as organizações públicas e privadas precisam disponibilizar informações para os stakeholders sobre o seu desempenho em relação aos resíduos sólidos. O estudo de Almeida, Neumann e Sanches (2018) verificou como as organizações evidenciaram informações aos seus stakeholders sobre os seus mecanismos de gerenciamento de resíduos sólidos. Fonte: ALMEIDA; NEUMANN; SANCHES (2018). BRASIL (2010). 44UNIDADE II Sustentabilidade Empresarial MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Sustentabilidade: Canibais com Garfo e Faca. Autor: John Elkington. Editora: M Books. Ano: 2001. FILME/VÍDEO Título: A última Hora Ano: 2007 Sinopse: O documentário foi criado, produzido e narrado por Leonardo DiCaprio. Neste documentário são apontados os graves problemas que os nossos ecossistemas estão enfrentando. FILME/VÍDEO Título: Brasil 2050 - Desenvolvimento Humano Brasil 2050 retrata práticas de organizações brasileiras no âmbito da Sustentabilidade. Disponível em: http://www.youtube.com.br/ Acesso em: 23 out.. 2019. https://www.youtube.com/watch?v=ketzx6AqMQE&list=PLIgfJPPwXgCn5WZsHevId0OIu7qKINlJ_ 45 Objetivos de Aprendizagem ● Discorrer sobre as Abordagens e Modelos de Gestão Ambiental Empresarial. ● Analisar conceitos sobre Responsabilidade social corporativa (RSC) e o contexto teórico para a sua compreensão e prática. ● Abordar Tecnologias de gestão socioambiental e as políticas ambientais. Plano de Estudo ● Abordagens e Modelos de Gestão Ambiental Empresarial. ● Responsabilidade social corporativa (RSC) e o contexto teórico para a sua compreensão e prática. ● Tecnologias de gestão socioambiental e as políticas ambientais. UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial Professor Rodrigo Gaspar de Almeida 46UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a Unidade III, do material didático da disciplina de Sustentabilidade e Responsabilidade Social. O intuito da nossa terceira unidade é discorrer sobre a Gestão Ambiental Empresarial. A terceira Unidade deste material foi dividida em três tópicos para facilitar a assimilação desses conhecimentos: 1 Abordagens e Modelos de Gestão Ambiental Empresarial e 2 Responsabilidade social corporativa (RSC) e o contexto teórico para a sua compreensão e prática e 3 Tecnologias de gestão socioambiental e as políticas ambientais. No primeiro momento, serão apresentadas perspectivas teóricas sobre Modelos de Gestão Ambiental Empresarial. Assim, você compreenderá aspectos relativos ao planejamento das atividades, as consequências da poluição, descarte indevido dos resíduos sólidos, entre outras práticas que causam impactos ao meio ambiente e à sociedade. Prosseguindo na Unidade III, a ênfase será os conceitos sobre Responsabilidade social corporativa (RSC) e o contexto teórico para a sua compreensão e prática. Assim, discutiremos a evolução da Responsabilidade Social Corporativa e os tipos de RSC, quais sejam: responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas. Por fim, será Abordado sobre Tecnologias de gestão socioambiental e as políticas ambientais. Serão dispostos mecanismos que visam reduzir o consumo de recursos naturais e a adoção de práticas que visam preservar a natureza e promover o bem-estar social. Ao término do estudo desta Unidade, esperamos que você consiga compreender a iminência das empresas e demais organizações aplicarem práticas de gestão ambiental empresarial e desenvolverem práticas de Responsabilidade Social Corporativa. Ressalta- se que os impactos negativos das atividades das organizações ao meio ambiente podem ser irreversíveis, assim como os impactos negativos na sociedade. Bons Estudos! 47UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial 1. ABORDAGENS E MODELOS DE GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL Conforme vimos nas Unidades anteriores, a Sustentabilidade Empresarial ocasiona uma mudança na filosofia empresarial, bem como nos processos organizacionais. Na Unidade III, vamos prosseguir analisando modelos de gestão ambiental e como eles podem contribuir para a Sustentabilidade. No passado (não muito distante) era comum algumas organizações defenderem a ideia de que as funções de responsabilidade socioambiental eram do governo. Atualmente, esse paradigma já se transformou e podemos notar iniciativas de que as organizações têm consciência que os recursos pertencem à coletividade e que precisam ser devolvidos em bom estado de uso e conservação (RIBEIRO, 2012). Elkington (2012) afirmou que as organizações que atuam no âmbito da Sustentabilidade precisam buscar o “zero”: ● Defeito zero; ● Lixo (resíduos) zero; ● Poluição zero; ● Deslizes Éticos zero. 48UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial Salienta-se que os stakeholders estão cada vez mais informados sobre o mundo corporativo e a tecnologia da informação faz com que as notícias se espalhem ao redor do mundo rapidamente. Desse modo, as organizações precisam desenvolver ações ecológicas. Uma ação ecológica empresarial representa um conjunto de tarefas correlatas e inter-relacionadas com uma finalidade de proteção dos ecossistemas. Conforme Vellani e Ribeiro (2009), são exemplos de ações ecológicas: ● Programas que visam ao tratamento do efluente; ● A reciclagem de resíduos permitindo seu reuso ou sua venda; ● O aumento da eficiência no uso de insumos; ● A obtenção de certificações; ● Educação ambiental; ● Preservação e recuperação dos ecossistemas. Além das ações supracitadas, têm-se os Programas Ambientais, que são constituídos e destinados à realização de determinado objetivo como a proteção do meio ambiente e podem atuar sobre os resíduos emitidos pela própria empresa durante o processamento de seus produtos e serviços ou sobre outros elementos (VELLANI; RIBEIRO, 2009). Considerando que as organizações têm em gastos para realizar ações ecológicas, a Contabilidade precisa estar estruturada para fornecer informações sobre o fluxo físico e monetário. Essas informações são relevantes para gerenciar as atividades ambientais e a ecoeficiência empresarial (VELLANI; RIBEIRO, 2009) Ribeiro (2012) enfatizou que a Contabilidade precisa identificar, mensurar e evidenciar os gastos socioambientais, de modo que no futuro seja possível quantificar o impacto das organizações e traçar as medidas necessárias para revertê-los em valor à comunidade e demais stakeholders. O estudo de Vellani e Ribeiro (2009) analisou 158 ações ecológicas empresariais que atuam sobre os resíduos do próprio negócio. As ações foram classificadas em 4 Direções: 49UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial ● Direção I: a empresa pode agir logo no início do processamento de seus produtos e serviços para reduzir o uso dos insumos e substituir insumos não-renováveis por renováveis ou retirados de forma ecológica. ● Direção II: a empresa pode reduzir o uso de insumos por meio da transformação de resíduos em matéria-prima e permitir, assim, seu reaproveitamento internamente no processo produtivo. ● Direção III: ações ecológicas que visam a transformar resíduos em produtos e fazer do lixo um produto com valor de mercado. ● Direção IV: redução na emissão de resíduos, a neutralização do efeito tóxico de seus detritos, responsabilidade contratual e coleta seletiva de lixo.. Para mensurar os ganhos das 4 direções, torna-se necessários indicadores financeiros e indicadores físicos (quantidade de materiais, peso dos materiais, consumo de unidades de materiais etc.) (VELLANI. RIBEIRO, 2009). Elkington (2012) enfatizou 39 passos para as empresas sustentáveis. Os passos mencionados pelo autor, referem-se à mudanças de paradigmas,ou seja, transformações da filosofia organizacional, das gestão dos processos, entre outros aspectos. Os 39 passos estão relacionados no Quadro 01: 50UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial Quadro 01: 39 passos para a Sustentabilidade Antigo Paradigma Novo Paradigma 01. Pilar Financeiro Linha dos três pilares 02. Capital Físico e Financeiro Econômico, Humano, Social, Natural 03. Ativos próprios, tangíveis Ativos emprestados, intangíveis. 04. Downsizing Inovação 05. Governança Exclusiva Governança Inclusiva 06. Acionistas Stakeholders 07. Mais largo Mais longo 08. Extração Restauração 09. Tática Estratégia 10. Planos Situações 11. Bandidos do Tempo Guardiões do Tempo 12. Desregulamentação Regulamentação 13. Inimigos Complementadores 14. Subversão Simbiose 15. Lealdade Incondicional Lealdade Condicional 16. Direitos Responsabilidades 17. Redes de Empresas Verdes Keiretsu da Sustentabilidade 18. Responsabilidade na Fábrica Supervisão do ciclo de vida 19. Vendas Valor do Cliente em todo o ciclo de vida 20. Produto e Lixo Coproduto 21. Avaliação do ciclo de venda ambiental Avaliação do ciclo de vida na linha dos três pilares 22. Produto Função 23. Tentativa e Erro Métodos Científicos 24. Relatórios (exceto financeiros) Relatório da linha dos três pilares 25. Necessidade de saber Direito de saber 26. Fotos e ciência Emoções e percepções 27. Comunicação passiva, uma via Diálogo ativo, várias vias. 28. Promessas Objetivos 29. Descuidado, desatencioso Cuidadoso, atencioso 30. Controle Responsável por 31. Eu Nós 32. Monoculturas Diversidade 33. Crescimento Sustentabilidade 34. Externalização de Custos Internalização dos Custos 35. Conformidade Vantagem Competitiva 36. Padrões de cada país Consistência Global 37. Adição de volume Adição de valor 38. Crescimento de Produção Consumo sustentável 39. Campanhas disruptivas de ONGs Disrupção como estratégia comercial Fonte: ELKINGTON (2012) 51UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial As 39 mudanças de posturas organizacionais relacionadas no Quadro 01, são exemplos de modelos de gestão empresarial das organizações que visam atuar sob a égide da Sustentabilidade. No próximo tópico será discorrido sobre a Responsabilidade Social. REFLITA Para salvar as pessoas da situação de pobreza, é necessário aumentar a produção eco- nômica. O aumento na produção econômica causa mais pobreza. Fonte: Elaborado com base em Elkington (2012). 52UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial 2 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA (RSC) E O CONTEXTO TEÓRICO PARA A SUA COMPREENSÃO E PRÁTICA. As discussões acerca da RSC se iniciaram com um foco filosófico, contemplando moral e ética, e evoluíram para uma prática gerencial, que abrange a prestação de contas para os stakeholders. Inicialmente, a RSC era centrada em atividades filantrópicas, como doações a instituições beneficentes, respeito ao trabalhador e práticas leais de operação. Outros temas, como direitos humanos, meio ambiente, defesa do consumidor e combate à fraude e à corrupção, foram acrescentados ao longo do tempo, conforme receberam maior atenção dos membros da sociedade (ALMEIDA, 2018; CARROLL, 1999, 2015). O autor Frederick (1960) foi um dos precursores ao enfatizar o papel das organizações perante a sociedade. Frederick (1960) afirmou que era esperado que as organizações atuassem diligentemente e de maneira ética, pois, o grande poder econômico destas (economia em escala) pode intensificar depressões econômicas, resultando em danos socioambientais. O autor ainda salientou que os homens de negócios têm a responsabilidade de produzir recursos financeiros, no entanto, devem buscar, juntamente, o bem-estar socioeconômico (socio-economic welfare). Outro pesquisador da RSC foi Davis (1967), o qual denotou que a RSC implica em considerar as consequências éticas relacionadas aos atos organizacionais em toda sociedade, pois, os interesses da organização podem conflitar com objetivos de outros 53UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial indivíduos. Ainda, o autor abordou que a Sociedade e as organizações são conectadas, de modo, que as ações de um afetam o outro (DAVIS, 1967). Mas, o estudo considerado seminal na área da RSC foi o de Carroll (1979), que apresentou uma conceituação teórica de como mensurar o desempenho social de uma organização estabelecendo uma hierarquização dos componentes (ou tipos) de RSC. O Quadro 2 apresenta a descrição de cada componente: Quadro 2: Categorias da Responsabilidade Social Corporativa. Responsabilidade Descrição 1) Econômica É a primeira e mais importante responsabilidade social dos negócios. Refere-se ao fato de que a organização deve produzir produtos que a sociedade queira comprar e por meio da venda destes obter lucros. 2) Legal As organizações estão subordinadas a regras, regulamentos e leis. A sociedade espera que os negócios estejam em conformidade com a legislação. O descumprimento da legislação pode ocasionar sanções, multas, que resultam em saídas de caixa e destoam da responsabilidade econômica da organização. 3) Ética Refere-se às atitudes organizacionais e comportamentos que não estão necessariamente previstos em legislação. Trata-se dos códigos de Ética e conduta dos relacionamentos da organização com todos stakeholders. A sociedade tem expectativas de que as organizações atuem com integridade num nível acima do enforcement. 4) Discricionária (ou volitivas) São aquelas em que a organização respeita os 3 tipos de responsabilidades anteriores e assume papel de agente social, o qual não era esperado pela sociedade e considerada como hábito voluntário. Exemplos: doações a entidades sociais, treinamentos a desempregados, combate ao abuso do álcool e drogas. Fonte: elaborado com base em Carroll (1979). As categorias relacionadas no Quadro 2 são interdependentes. A categoria mais relevante é a Responsabilidade Econômica, pois representa a finalidade pela qual a organização foi constituída. A categoria responsabilidade legal, também é esperada pela sociedade visto que uma organização precisa conduzir as suas atividades respeitando as leis e regulamentações. A categoria Responsabilidades éticas, trata-se de ações que também são esperadas pela sociedade, todavia, não estão previstas em leis e regulamentações. Trata-se posturas voluntárias da organização. Por fim, a quarta categoria demonstra ações de responsabilidades filantrópicas, que não são esperadas pela sociedade. Aqui, a organização promove o bem-estar social e desenvolve iniciativas para preservação do meio ambiente e das fontes de criação de valor aos stakeholders. Dado que os tipos de Responsabilidade Social Corporativa são gradativos, os mesmos podem ser apresentados por meio de uma pirâmide (Figura 01): 54UNIDADE III Gestão Ambiental Empresarial Figura 1: Pirâmide de Carroll (1999) sobre a RSC. Fonte: ALMEIDA et. al. (2019); CARROLL (1999) Exemplo de aplicação da pirâmide de Carroll. Quando uma Bem Intencionada Ltda (fictícia) consegue remunerar todos os seus colaboradores, pagar todos os seus fornecedores de insumos, pagar os tributos e demais taxas e impostos e gerar resultados positivos está cumprindo a sua responsabilidade econômica. Se a Bem Intencionada Ltda não efetua nenhuma outra ação, fora a busca de lucros, não é considerada responsável. Imaginando que a Bem Intencionada Ltda, que além de ser atender as exigências econômicas, cumpra todos os requisitos legais aos quais ela está submetida, uma vez que possui um departamento responsável pelo compliance à legislação. Se a Bem Intencionada Ltda não realiza ações éticas ou voluntárias, não é considerada responsável. A Bem Intencionada Ltda, agora, cumpre todas as suas funções econômicas, atende todas as legislações e criou um código de ética, para combater a fraude, corrupção e prescrever o comportamento esperados dos colaboradores nas relações com terceiros. Ressalta-se que estes novos comportamentos da Bem Intencionada
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