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A CURRICULARIZAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO

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2 A curricularização do Ensino Religioso
Ao contrário de outras disciplinas, não há diretrizes nacionais para o Ensino Religioso, seja em escolas públicas seja em escolas particulares do Brasil. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, definiu que cada Estado deve criar normas para a oferta do componente curricular. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), na mesma medida, absteve-se de tal uniformidade, o que abriu espaço para uma variedade de perspectivas assumidas. Para educadores e especialistas que estudam o assunto, essa lacuna regulamentária impede a garantia de espaço justo para todos os credos.[1: BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Congresso. Brasília, DF, 23 dez. 1996.][2: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 3.v. Brasília, MEC, 2017.]
O presente capítulo, nesse sentido, procura refletir sobre a regulamentação e diretrizes do Ensino Religioso, sua trajetória histórica e leis; os conteúdos considerados básicos para o ensino da disciplina em questão; e seu legado interdisciplinar, necessário para discussão do conhecimento abordado e formação do aluno.
2.1 Regulamentação e Diretrizes para o Ensino Religioso
Ao longo da história, as Diretrizes para o Ensino Religioso apresentaram fatos importantes para constituição de uma proposta curricular. No início, não se levava em conta a diversidade religiosa do Brasil, o que provocava um movimento plenamente confessional, predominantemente baseado nas perspectivas do catolicismo romano, conforme a Constituição de 1824. No período da República, em que ocorreu a separação entre Estado e Igreja, houve uma alteração: o ensino passa a ser laico, desmobilizando a hegemonia católica, como determinado na Constituição de 1934. [3: BRASIL. Constituição (1824) Constituição Política do Império do Brasil. Rio de Janeiro, 1824. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao24.htm >. Acesso em 09 nov.2017.][4: BRASIL. Constituição (1934). Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de Janeiro, 1934. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui% C3%A7ao91.htm >. Acesso em 09 nov. 2017.]
Com o Decreto de 119ª, de 7 de janeiro de 1890, dispositivos do Governo Provisório da República, ficou decidida a separação entre Igreja e Estado. Logo a seguir, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 24 de fevereiro de 1891, declarava o Estado laico, sem conotação e posicionamento de índole religiosa, e promulgava também a liberdade religiosa extensiva a todos os indivíduos e grupos, respeitados os princípios constitucionais de convivência social. Ao mesmo tempo, deixava claro que a laicidade devia perpassar a educação, conforme o enunciado do art. 72, § 6: “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”.[5: Ruedell, Pedro. Educação Religiosa: fundamentação antropológico-cultural da religião segundo Paul Tillich. São Paulo: Paulinas, 2007.]
Nessa perspectiva, o Ensino Religioso perde o caráter catequético e assume as manifestações do pluralismo religioso, ministrado por leigos e voluntários. Procura-se, com isso, desvincular o ensino Religioso de qualquer ação proselitista. Não obstante, nesse período, a presente disciplina instaura-se sem uma efetiva regulamentação.
Em 1961, nas Disposições Gerais e Transitórias da LDB 4024/61, Art. 97, determina-se que o ensino Religioso seja ministrado de acordo com a confissão religiosa do aluno. Diante de tal pluralidade, a disciplina é, como se presume, mais uma vez marginalizada, sem avanços estruturais e regulatórios.[6: BRASIL. Constituição (1961). Emenda Constitucional nº 5, de 21 de nov. de 1961. Brasília, DF, 1961. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_3/constitui%C3%A7%C3%A3o/emendas /emc_anteior1988/emc05-61.html >. Acesso em 07 Nov. 2017]
Em 1996, com a mudança do artigo 33 da LDBEN 9394/96, compreende-se o Ensino Religioso como parte integral para a formação do ser humano e de responsabilidade do poder público.
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter:
 I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou entidades religiosas; ou
 II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.[7: BRASIL. Lei n. 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, 1996. Disponível em <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 09 Nov. 2017.]
Com mais pressão e várias críticas, em 22 de julho de 1997 o Congresso Nacional promulgada a Lei n. 9475/97, que dá nova redação ao art. 33 da LDBEN 9394/96:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo. 
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. 
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos conteúdos do ensino religioso.[8: BRASIL. Lei n. 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá nova redação ao artigo 33 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Diário Oficial da União, 23 de julho e 1997. (Seção I).]
Além disso, ainda em 1996, o Ministério da Educação (MEC) elaborou os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) a fim de organizar o currículo escolar, mas sem o Ensino Religioso. Mais uma vez, pesquisadores e estudiosos discutem a necessidade da inclusão da referida disciplina, elaborando uma proposta reformista. Somente em 1997 é publicado o PCN de Ensino Religioso de autoria do FONAPER, tornando-se referência para a organização do currículo de Ensino Religioso no Brasil.[9: BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, MEC/SEF, 1997.][10: FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO (FONAPER). Ensino religioso capacitação para o novo milênio. Cadernos 1-12. Ano 2000.]
No final de julho de 2015, o MEC abre ao público a elaboração de uma Base Nacional Comum Curricular – BNCC, que tem como proposta oferecer ao indivíduo uma formação completa, incluindo conteúdos de exatas, biológicas e humanas, além de quesitos complexos para o Ensino Médio, inclusive propostas para o Ensino Religioso. Após dois anos de criação (duas etapas de reformulação), em sua terceira versão, a BNCC apresenta ao Conselho Nacional de Educação (CNE) o texto final com a retirada da disciplina de Ensino Religioso do Currículo. Segundo a BNCC de 2017: 
A área de Ensino Religioso, que compôs a versão anterior da BNCC, foi excluída da presente versão, em atenção ao disposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A Lei determina, claramente, que o Ensino Religioso seja oferecido aos alunos do Ensino Fundamental nas escolas públicas em caráter optativo, cabendo aos sistemas de ensino a sua regulamentação e definição de conteúdos (Art. 33, § 1º). Portanto, sendo esse tratamento de competência dos Estados e Municípios, aos quais estão ligadas as escolas públicas de Ensino Fundamental, não cabe à União estabelecer base comum para a área, sob pena interferir indevidamente em assuntos da alçada de outras esferas de governo da Federação.[11:BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 3.v. Brasília, MEC, 2017.]
Diante disso, as escolas – comprometendo-se com uma educação integral, visando a formação e o desenvolvimento humano global – rompem com visões simplistas que privilegiam a dimensão intelectual e afetiva e mantém o Ensino Religioso, elaborando um currículo por competências, já que a BNCC, na 3ª versão, definiu dez competências gerais que se inter-relacionam e perpassam todos os componentes curriculares ao longo da Educação Básica.
2.2 Componente curricular do Ensino Religioso
Atualmente, o currículo do Ensino Religioso não está unificado, devendo cada escola organizá-lo conforme as competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Sabe-se, ao menos, que ele deve interligar-se com o estudo das teorias analíticas da educação e metodologias. 
Nesse sentido, de acordo com a BNCC, o currículo do Ensino Religioso deve-se basear em dez competências gerais, que se inter-relacionam e perpassam todos os componentes curriculares ao longo da Educação Básica, sobrepondo-se e interligando-se na construção de conhecimentos e habilidades e na formação de atitudes e valores, a saber:
Competências pessoais e sociais
1ª – Autocrítica para reconhecer-se e reconhecer o outro: conhecer, apreciar e cuidar de si, do corpo e bem-estar, e reconhecer e gerir as emoções e comportamentos, com autocrítica e capacidade de lidar com a crítica do outro e a pressão do grupo;
2ª – Dialogar sem preconceitos: exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito; fazer-se respeitar e promover o respeito ao outro, acolhendo e valorizando a diversidade de indivíduos e de grupos sociais, sem preconceitos baseados nas diferenças de origem, etnia, gênero, orientação sexual, idade, habilidade/ necessidade, fé religiosa ou de qualquer outro tipo;
3ª – Ação segundo princípios éticos: agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.
Competências cognitivas
4ª – Valorizar e aplicar o conhecimento: dominar e valorizar os conhecimentos construídos sobre o mundo físico, social e cultural para explicar a realidade e assumir, com consciência crítica e responsabilidade, atitude proativa em relação aos desafios contemporâneos;
5ª – Curiosidade para inventar e criar soluções: exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e inventar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas;
6ª – Senso Estético para Arte e Cultura: exercitar o senso estético para reconhecer, valorizar e fruir as diversas manifestações culturais, das locais às mundiais, como também para participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.
Competências comunicativas
7ª – Conhecer e aplicar as formas de linguagem: trocar informações, experiências e ideias em diferentes contextos, com base no conhecimento das linguagens verbal e/ou verbo-visual (LIBRAS), corporal, multimodal, artística, matemática, científica, tecnológica e digital, para produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo;
8ª – Diversidade e vivências culturais: explicar, por meio de diferentes linguagens, fatos, informações, fenômenos e processos linguísticos, culturais, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos e naturais, valorizando a diversidade de saberes e vivências culturais;
9º – Argumentação com dados e fontes confiáveis: argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias e pontos de vista que respeitem e promovam os direitos humanos, o acesso e a participação de todos sem discriminação e a consciência socioambiental;
10ª - Tecnologias Educacionais: utilizar tecnologias digitais de comunicação e informação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas do cotidiano (incluindo as escolares), acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos e resolver problemas.[12: BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. 3.v. Texto final. Brasília, MEC, 2017, p. 18. ]
Interagindo com essas competências, o trabalho pedagógico está organizado em três conteúdos que estruturam o conhecimento específico do Ensino Religioso. Esses conteúdos estruturantes são conhecimentos de grande abrangência que envolvem conceitos, teorias e práticas de um componente curricular, identificam e orientam seu estudo, além de se vincular ao objeto de estudo. No Ensino Religioso, são: Espaços Sagrados, Universo Representativo Religioso e o Texto Sagrado. Tais conteúdos não podem ser abordados isoladamente, mas em mútua relação:[13: GIL FILHO, S. F. ; ALVES, Luis Alberto Sousa . O Sagrado como foco do Fenômeno Religioso. In: Sergio Rogério Azevedo Junqueira; Lílian Blanck de Oliveira. (Org.). Ensino Religioso: Memórias e perspectivas. 1 ed. Curitiba: Editora Champagnat, 2005, v. 01.]
 Os Espaços Sagrados são a representação do espaço social e cultural, construído pelos povos, que remetem às manifestações culturais e religiosas. Esses espaços podem ser representados por ambientes naturais como montanhas, grutas, astros ou por elementos de edificação, como templos, monumentos, cidades que carregam um sentido sagrado. Para a maioria das manifestações religiosas, eles são utilizados pelo homem a fim de manifestar a sua fé, por meio de ritos, festas e homenagens. 
O Universo Representativo Religioso é um sistema que, por meio de símbolos, expressa sentidos e comunica o imaginário das diferentes religiões no mundo. Esse sistema se configura através da interpretação de diferentes manifestações do Sagrado; seus significados se sustentam por meio dos símbolos religiosos que resgatam e representam as experiências das manifestações religiosas. Isto quer dizer, a cultura se mantém através das representações criadas pelo ser humano, com a função de comunicar a prática com a experiência da fé. 
Todo comportamento humano se origina no uso de símbolos. Foi o símbolo que transformou nossos ancestrais antropóides em homens e fê-los humanos. Todas as civilizações se espalharam e perpetuaram pelo uso dos símbolos [...] Sem os símbolos não haveria cultura, e o homem seria apenas um animal, não um ser humano [...] O comportamento humano é o comportamento simbólico [...] E a chave deste mundo, e o meio de participação nele é o símbolo.[14: Laraia, Roque de Barros. Cultura, um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 56.]
Os Textos Sagrados expressam convicções que serão disseminadas; preservam os ensinamentos das tradições e manifestações religiosas. O que identifica um texto como sagrado é a afirmação da transmissão da mensagem original entre os crentes e o Sagrado. Ao articular os textos, as diferentes manifestações religiosas criam mecanismos que unem e identificam seus seguidores, assegurando os ensinamentos de forma consolidada sem deixar que sejam transmitidos aos futuros crentes. Esses ensinamentos, orais ou escritos, orientam a conduta daqueles que os seguem. Também, esses ensinamentos fundamentam elementos estruturais da tradição religiosa, como a doutrina, as orações e práticas. 
Diante dos conteúdos apresentados, é possível propor uma metodologia para o componente do Ensino Religioso, não uma fórmula, mas uma reflexão de ações que orientam a disciplina.
Nesse horizonte, deve-se estruturar o conteúdo e sua metodologia em aulas dialogadas, isto é: partir do conhecimento prévio do aluno, ou até mesmo de sua experiência religiosa para, então, apresentar o conteúdo. Normalmente, o conhecimento prévio do aluno apresenta perspectivas de senso comum; cabe ao professor ajudá-lo a refletir criticamente sobre a realidade em estudo. 
Deve, também o professor, problematizar o conteúdo proposto, trabalharquestões que articulem o estudo com a vida do aluno. Fundamentalmente, o professor deve fazer a abordagem teórica para que esse conhecimento estabeleça relações entre os fatos sociais, o objeto de estudo e os conteúdos estruturantes. 
Deve, o ensino-aprendizagem, conceber-se pela sua laicidade, e não religiosa. Assim, se estabelecerá uma relação didático-metodológica de acordo com as manifestações religiosas, tomando-as base do patrimônio cultural, histórico e social da humanidade. Não se deve perder de vista o respeito à liberdade de pensamento e opção religiosa. 
	Para efetivar o processo de aprendizagem, faz-se necessária a avaliação, instrumentos e critérios que explicitem a apropriação do conteúdo e a relação com as outras áreas do conhecimento. 
2.3 A interdisciplinaridade no Ensino Religioso
Para a compreensão da interdisciplinaridade no Ensino Religioso, faz-se necessário compreender o termo interdisciplinaridade, proposto em 1937, pelo sociólogo Louis Wirtz: aquilo que é realizado como cooperação entre vários componentes curriculares. Diante desse conceito, compreende-se que um objeto de estudo pode ser estudado sob diversos enfoques, concomitantemente. Então, se na prática pedagógica dois ou mais componentes entram em diálogo, haverá aí uma prática diferente na aula. O aluno, com base nesta perspectiva, poderá compreender um assunto na sua globalidade.[15: CASANOVA, P. G. Interdisciplinaridade e complexidade. In: CASANOVA, P. G. As novas ciências e as humanidades: da academia à política. São Paulo: Boitempo Editorial, 2006, p. 11-64.]
O diálogo entre os componentes curriculares pressupõe uma clara concepção sobre interdisciplinaridade e como eles estão fundamentados. Deve-se esclarecer que os componentes são especialistas em conhecimentos, além de ter conteúdos e teorias próprias que os estruturam. Considerando essa construção teórica, esses componentes são a estimativa para a interdisciplinaridade. 
A interdisciplinaridade se estabelece quando teorias e práticas de um componente se relacionam, esclarecendo e possibilitando uma compreensão ampliada do conteúdo.
O método interdisciplinar evidencia as limitações do componente em questão, como também as especificidades próprias para a compreensão do objeto em estudo. Desse modo, conclui-se que os componentes não são fechados em suas especificidades, mas abertos para a discussão.
Nesse processo de aprendizagem, interdisciplinar, deve-se garantir ao aluno situações para que ele interaja e sistematize suas ações, ampliando seu conhecimento.
É preciso atentar que só haverá interação se houver ruptura de fronteiras entre componentes e as teorias e práticas. Para o Ensino Religioso, deve-se levar em consideração algumas situações que impedem a interdisciplinaridade: compreender a sala de aula como espaço de igreja, unir sagrado e humano, apresentar o religioso apenas no conteúdo, nos textos e obras, manter e/ou instigar o preconceito, reproduzir exclusivamente ritos e elaborar objetivos desvinculados do projeto educativo.
Para o Ensino Religioso, a interdisciplinaridade permite uma rigorosa discussão e compreensão sobre o fenômeno estudado; dá condições para o aluno compreender o fenômeno na sua globalidade, em recusa a qualquer abordagem unilateral e fundamentalista.
A interdisciplinaridade propõe, portanto, a interligações de componentes e conhecimentos, pressupondo, assim, elos entre as áreas, tornando-se fundamental para a aprendizagem do aluno. Para o ensino religioso, ela apresenta-se como instrumento eficaz de superação de perspectivas limitadas, valorizando a contribuição das ciências para a compreensão do real.

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