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COLETÂNEA - Ética, Cultura e Arte

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Ética, Cultura e Arte 
2º semestre / 2018 
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PRÓ-REITORIA DE ENSINO 
 
 
COLETÂNEA 
FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA 
Ensino Presencial (2º semestre) 
EAD (MÓDULO 53) 
 
 
 
 
Organizadoras 
Cristina Herold Constantino 
Débora Azevedo Malentachi 
 
 
 
Colaboradores 
Edson Dias dos Santos 
Fabiana Sesmilo de Camargo Caetano 
Letícia Matheucci Zambrana 
Rebeca Sabrina Vaz Lencina 
 
 
 
Direção Geral 
Pró-Reitor Valdecir Antônio Simão 
 
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Sumário 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apresentação........................................................................................................................................................ 04 
Considerações Iniciais.......................................................................................................................................... 05 
Leitura: etapas, níveis e estratégias.................................................................................................................... 06 
Textos Selecionados............................................................................................................................................. 12 
O eclipse da ética na atualidade.............................................................................................................................. 12 
O que se entende por cultura: uma reflexão............................................................................................................ 14 
Cultura e Humanização............................................................................................................................................ 15 
Ética e jeitinho brasileiro.......................................................................................................................................... 18 
Vídeo: Ética no mundo contemporâneo................................................................................................................... 19 
O iceberg cultural..................................................................................................................................................... 19 
Redes sociais em pé de guerra contra a apropriação cultural................................................................................. 21 
Cultura para todos?.................................................................................................................................................. 23 
Inclusão e acessibilidade na cultura........................................................................................................................ 24 
Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento............................................................. 26 
Contracultura: o que é, como se faz........................................................................................................................ 27 
Qual o papel da literatura no mundo de hoje?......................................................................................................... 35 
A arte como fonte de conhecimento e da expressão humana................................................................................. 37 
“A arte pode convidar à reflexão sobre a desigualdade”......................................................................................... 38 
Quando a tatuagem se torna arte?.......................................................................................................................... 41 
Pichação: protesto, arte ou vandalismo?................................................................................................................. 43 
Arte e reciclagem para diminuir lixo nos oceanos................................................................................................... 45 
Arte no lixo............................................................................................................................................................... 46 
Vídeo: Pimp My Carroça.......................................................................................................................................... 48 
A arte e a beleza do Wabi Sabi............................................................................................................................... 48 
O complexo do ser humano: ser humano................................................................................................................ 51 
Filme........................................................................................................................................................................ 54 
Músicas e Poesias................................................................................................................................................... 55 
Charges................................................................................................................................................................... 59 
Considerações Finais............................................................................................................................................ 61 
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Apresentação 
 
 
 
A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo 
principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho 
pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, 
a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, 
formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e 
solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido 
por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos 
ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. 
 
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem 
fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu 
entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, 
a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade; Ética, Política e Economia; 
Ética, Cultura e Arte; Ética, Ciência e Tecnologia; Ética e Meio Ambiente, sendo que nos dois primeiros 
eixos estão incluídos temas complementares e pertinentes propostos pelo Observatório Social do 
Brasil. 
 
Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe 
o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para 
estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de 
abordar recortes temáticos relacionados ao conteúdo de cada eixo supracitado. Tem como principal 
objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação 
e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a 
realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. Cada Coletânea apresenta-se, 
inicialmente, com uma introdução, seguida por aspectos relacionados à leitura, interpretação e/ou 
escrita, os quais antecedem a apresentação dos diversos textos referentes aos respectivos eixos. A 
sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros: música, poesia ou frases e charges, 
sendo finalmente concluída com breves considerações finais. 
 
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo seleto 
de textos basilares para sua reflexão,aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. Textos 
compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de 
comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo 
temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte 
à sua vida em todas as instâncias. Também, importa lembrar que a organização deste e demais 
materiais da FSCE não pressupõe qualquer tendência político-partidária e/ou apologia a qualquer 
grupo religioso em detrimento de outros, sendo que estamos disponíveis ao recebimento de indicações 
de textos, sites, tanto quanto às sugestões de conteúdos relacionados aos referidos eixos. Faça, 
portanto, da FSCE sua porta de entrada para a aquisição de novos conhecimentos. Vista a camisa do 
conhecimento e seja MAIS! 
 
 
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Considerações Iniciais 
 
 
Escrever ou falar sobre cultura e arte é ir direto ao encontro do conhecimento acerca de nós mesmos. 
Nossas características, costumes e hábitos, nossas crenças e descrenças, nossas mazelas e 
riquezas, singularidades e diversidades. Estudar cultura e arte é partir do geral e chegar ao particular. 
É testemunhar o concreto e sonhar com o abstrato. É olhar o outro e, ao mesmo tempo, enxergar 
com mais clareza a nós mesmos. É pensar no povo que, coletiva e progressivamente, desenha a 
cultura nacional e, nesse percurso, arriscamos entender a individualidade que se forma em nós a 
partir da cultura que tanto influencia nossos gostos, desgostos, nossas escolhas... 
 
Nesse sentido, esta Coletânea pretende ser um convite à informação e à reflexão acerca da arte e 
da cultura, sob o viés da ética, numa jornada cujos passos nos levem a pensar sobre algumas de 
nossas características como povo brasileiro e de nossas complexidades como seres humanos. 
Vamos tratar sobre a diversidade de culturas que enriquecem o contexto brasileiro, acrescentam 
valores ao universo humano, ampliam conhecimentos e revelam grandes possibilidades de interação. 
Apresentamos recortes temáticos que vão desde o jeitinho brasileiro, passando pela apropriação 
cultural, para, enfim, chegarmos na contracultura. Em seguida, visitamos o lixo que vira arte e 
fazemos uma parada na arte que é jogada no lixo, dentre outros muitos assuntos relevantes para 
reflexão... No percurso da leitura dos textos aqui apresentados, são várias as possibilidades de 
questionamentos. Dentre eles, como ser um cidadão brasileiro que assimila a sua cultura, nutre amor 
e respeito genuíno por ela, faz parte dela, mas, também, reflete e age eticamente sobre essa cultura? 
 
Para começo de conversa, aproveite a seção inicial que trata especificamente sobre leitura. 
Esperamos que você faça uso apropriado de cada dica, de tal forma que suas habilidades de leitura 
se aperfeiçoem continuamente, a cada novo mergulho crítico que faz nos textos que circulam na 
academia e na sociedade, transformando e elevando seus potenciais de acadêmico, pessoa e 
cidadão a níveis elevados! 
 
 
Sucesso! 
 
Organizadoras 
 
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Leitura: etapas, níveis, estratégias 
 
 
Conforme procedimento que adotamos na elaboração das Coletâneas da Formação Sociocultural 
e Ética, dedicamos esta seção inicial para cultivar um pouco mais desta amizade profunda, 
confidente e indispensável com a LEITURA. Uma amizade que, tantas vezes, pode até começar 
por obrigação e, quase sempre, transformar-se em paixão. É inevitável! Quem ama o conhecimento 
apaixona-se pela leitura! 
 
A leitura é a porta de entrada para a interação com o outro, com o mundo e consigo mesmo em sua 
totalidade. Ler não é unicamente interpretar os símbolos gráficos, mas interpretar o mundo em que 
vivemos. Na verdade, passamos todo o nosso tempo lendo: lemos as imagens, as pessoas, suas 
palavras, seus gestos, seus olhares e até mesmo seu silêncio; lemos outdoors, placas e sinais de 
trânsito; lemos textos informativos e tantos outros gêneros que circulam na sociedade; lemos textos 
impressos, textos virtuais, textos verbais e não verbais. Lemos tudo, mesmo que 
inconscientemente. 
 
Entretanto, nem tudo o que é lido é compreendido por leitores habituados à leitura superficial. 
Conforme já explicamos na Coletânea anterior, lembre-se que leitura é processo que requer do 
leitor “um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu 
conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem”. (Parâmetros 
Curriculares Nacionais; terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria 
de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70). Em outras palavras, o leitor não 
pode se colocar na posição de sujeito passivo nas leituras que realiza. Seu nível de leitura e o modo 
como lê, isto é, as estratégias que aplica nas suas leituras, principalmente as que são exigidas na 
vida acadêmica, é o segredo para a sua capacidade de compreensão leitora, para a formação do 
leitor proficiente, maduro, experiente, habilidoso. O 
segredo para o sucesso! E, o melhor de tudo, é que a 
leitura é um processo a ser aprendido! 
 
Nesse sentido, caro aluno, é muito importante que você 
mantenha o foco. Continue se autoavaliando enquanto 
leitor no percurso das suas leituras. 
 
Agora, propomos a você que conheça as etapas de 
leitura. Em seguida, considere seus níveis. 
 
De modo geral, a leitura consiste em quatro etapas: 
 
1. DECODIFICAÇÃO: é o reconhecimento das letras, 
suas ligações com outras e com os seus significados. 
Decodificar é apenas o início do processo de leitura. Por exemplo, quando realizamos uma pesquisa 
sobre o escritor Oswald de Andrade e nos deparamos com a informação de que Oswald de Andrade 
é um modernista dionisíaco, na medida em que desconhecemos o exato significado da expressão 
modernista dionisíaco é fundamental, primeiro, tentar depreender seu significado a partir do 
contexto geral apresentado no texto onde a informação está registrada. Se necessário, ou ainda 
para confirmar o significado depreendido, é fundamental consultar o dicionário e/ou fazer uma busca 
pela internet a fim de saber qual o sentido de ambas as palavras. Nessa busca é possível chegar à 
compreensão de que Dionísio era o deus grego equivalente a Baco dos romanos; portanto, 
dionisíaco diz respeito ao prazer da ação, à inspiração, ao instinto. 
 
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2. COMPREENSÃO: é assimilar as informações de um texto; é, a partir da leitura nas linhas, captar 
suas ideias principais. Nessa etapa, é importante que o leitor tenha conhecimentos prévios sobre o 
assunto tratado no texto, para que tenha condições de compreendê-lo. Por exemplo: você só poderá 
compreender a veracidade ou totalidade da informação citada no exemplo anterior se obtiver a 
informação sobre quem foi Oswald de Andrade, o que é o movimento modernista e relacionar todas 
essas informações ao que fora pesquisado anteriormente. 
 
3. INTERPRETAÇÃO: é a capacidade de análise crítica do leitor frente ao texto e só ocorre depois 
da compreensão; é a leitura nas entrelinhas e por trás das linhas. Se não há compreensão, não é 
possível ao leitor interpretar o que leu. Nesta etapa, o leitor recupera todas as informações e 
conhecimentos prévios sobre o assunto, estabelece a intertextualidade entre os textos, questiona, 
julga e tira conclusões a respeito do que leu, concorda com as palavras do autor, ou as contesta. 
Por exemplo: a partir de sua compreensão acerca de todo o texto, e com base nos conhecimentos 
advindos de outros lidos anteriormente, a que conclusões você pode chegar a respeito do que 
determinado autor diz acerca de Oswald de Andradequando refere-se a ele como modernista 
dionisíaco? Este adjetivo o descreve bem? Existe algum pesquisador/autor que diz algo contrário a 
isso? Qual a sua opinião? 
 
4. RETENÇÃO: nesta etapa, ocorre a memorização das informações mais importantes, as quais 
ficam arquivadas na memória de longo prazo do leitor, seu repertório de conhecimentos. Desse 
repertório, o leitor resgata seus conhecimentos internalizados para dialogar com as novas leituras 
que realizará. Por exemplo: a informação de que Oswald de Andrade é um modernista dionisíaco 
transforma-se em conhecimento a partir do momento em que essa ideia volta à sua mente frente a 
situações ou conteúdos que tenham alguma relação, direta ou indireta, com esse assunto. 
 
É importante considerar cada uma dessas etapas de leitura no processo de autoavaliação. Seu 
desempenho nessas etapas depende da qualidade ou nível das suas leituras. São, basicamente, 
três níveis: 
 
1. Leitura superficial: neste nível, o leitor fica preso na superficialidade das palavras, decodifica-
as, relaciona cada uma delas ao seu significado; se não conhece o significado de alguma, 
simplesmente a ignora, em vez de consultar um dicionário. O leitor não consegue depreender o 
assunto geral do texto, muito menos compreendê-lo em sua totalidade. 
 
2. Leitura adequada: já neste nível, o leitor extrapola a mera decodificação e não fica preso na 
superfície das linhas textuais. Ele consegue compreender o assunto geral e atribuir, ao menos, um 
significado ao texto, fazendo uso de seus conhecimentos prévios (de mundo, textuais e linguísticos, 
abordados mais adiante). 
 
3. Leitura complexa: neste nível, além de ler e compreender o que está escrito nas linhas do texto, 
o leitor lê nas entrelinhas e por trás delas. Ele produz vários sentidos para o texto e estabelece 
intertextualidades nesse processo. É um leitor crítico. 
 
Tão importante quanto conhecer e refletir sobre as etapas e níveis de leitura, importa retomar, aqui, 
a tese – ler é um processo que pode ser aprendido. Por isso, o avanço de uma etapa para outra e 
de um nível para outro é perfeitamente possível, para qualquer pessoa, de qualquer idade, desde 
que haja vontade e empenho! 
 
 
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Estratégias 
No eixo anterior da Formação Sociocultural e Ética, vimos que “antes de iniciar qualquer leitura, é 
fundamental que tenhamos muito bem definido, ao menos, um objetivo para realizá-la”. Observe, 
prezado(a) aluno(a), que DEFINIR OBJETIVOS IMPLICA NA ESCOLHA DE ESTRATÉGIAS. E 
isso, é claro, não vale apenas para a leitura. Se você pretende alcançar o objetivo X, precisará das 
estratégias W, Y e Z. Escolhidas as estratégias, faça delas seu Norte. Se perceber que alguma 
delas não foi uma escolha adequada, faça mudanças! Empenhe-se nas estratégias que o ajudem 
a atingir seu objetivo da melhor forma possível. 
Vamos conhecer algumas das principais estratégias de leitura? Façamos isso a partir da citação a 
seguir: 
“Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e 
verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita 
controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de 
compreensão, avançar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposições feitas.” 
(Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos de ensino fundamental: língua 
portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998, pp. 69-70) 
Em suma, um leitor competente coloca em prática as estratégias supracitadas: 
SELECIONAR – é uma das estratégias primordiais na vida de qualquer leitor. Qualquer indivíduo 
já é seletivo por natureza. Você, provavelmente, não abre todas as mensagens que chegam ao seu 
e-mail, não é mesmo? Você não tem tempo para isso, sem contar as ameaças de spam... Um leitor 
competente aperfeiçoa, cada vez mais, suas habilidades seletivas, de modo consciente. 
Em algumas situações, mais que em outras, é impossível ler tudo o que queremos ou todos os 
títulos que nos mandam ler em tão pouco tempo para cumprir certa tarefa. Precisamos, por exemplo, 
nos manter informados, mas para isso não precisamos ler todos os jornais ou assistir a todos os 
telejornais; basta selecionar os de boa qualidade. O mesmo ocorre nas pesquisas acadêmicas. Para 
atingir certo objetivo em determinada pesquisa, importa selecionar títulos, capítulos, parágrafos e 
fragmentos de texto. 
Selecionar as palavras-chave, por exemplo, também contribui para a compreensão das leituras que 
realizamos, na medida em que essa prática nos orienta a focar a nossa atenção no assunto do texto 
ou do parágrafo. Se esse tipo de estratégia ainda não faz parte de sua prática, experimente-a. Se 
o texto é virtual e você não pretende providenciar uma cópia impressa do material, use as 
ferramentas do Word para realçar as palavras-chave. 
Palavras-chave são aquelas em torno das quais estão vinculadas ou relacionadas as demais 
palavras, em torno das quais se desenvolvem as ideias. As palavras-chave deste e do parágrafo 
anterior, por exemplo, são estratégia e selecionar. As demais palavras e as ideias apresentadas 
procuram explicar e exemplificar o ato seletivo como estratégia de leitura. 
Não existem receitas ou fórmulas matemáticas para identificar as palavras-chave de um texto. 
Existe, sim, a necessidade da prática constante. 
ANTECIPAR – essa estratégia implica em fazer previsões ou levantar hipóteses sobre o que será 
lido antes mesmo de realizarmos a leitura propriamente dita. Por exemplo, a partir de nossos 
conhecimentos prévios, podemos levantar hipóteses sobre os fatos noticiados no jornal impresso já 
a partir do que lemos em sua manchete. A partir de nosso conhecimento sobre determinado autor, 
também podemos fazer previsões sobre os assuntos tratados em certo livro com base no seu título 
e nos subtítulos. 
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Antecipar é uma estratégia que contribui para colocar nossos neurônios em atividade constante. 
Não é algo mecânico, mas espontâneo. Quantas vezes, por exemplo, você já fez previsões sobre 
o enredo de um filme a partir do seu título? Quantas vezes levantou hipóteses sobre como seria o 
final de um filme? Algumas vezes acertou, porque as cenas do filme caminharam para um final 
altamente comum e previsível, outras vezes 
não acertou, pois as cenas não revelaram 
abertamente o final que, na verdade, foi 
bastante incomum, pouco ou nada previsível. 
Cena a cena, ou página a página, você levanta 
hipóteses e, concomitantemente, as confirma 
ou não. Para confirmá-las ou refutá-las, você 
lança mão (não de modo mecânico, mas 
espontâneo) de outra estratégia: a verificação. 
Entretanto, antes de tratarmos desta, há ainda 
uma outra cuja prática é fundamental: a 
inferência. 
INFERIR – esta estratégia implica em ler o que 
não está escrito no texto. Como assim?! Nem 
tudo o que o autor intenciona nos dizer está 
explícito em suas palavras. O texto também 
pode trazer informações implícitas. Inferir, 
portanto, é ler as informações que estão nas 
entrelinhas ou por trás das linhas do texto, a 
partir de seu raciocínio lógico, das pistas 
textuais e das advindas de outras leituras, bem 
como da relação que se pode estabelecer entre 
os textos (intertextualidade). 
Inferir também consiste em deduzir, por exemplo, o significado de uma palavra a partir do contexto 
em que está inserida. Em situações de leitura em que o contexto não traz pistas linguísticas 
suficientes para que possamos inferir significados de determinados vocábulos, é sempre importante 
recorrer ao dicionário, pois o desconhecimento de uma palavra pode comprometer a compreensão 
de um texto. 
Vamos colocarem prática a estratégia da inferência e aproveitar este exercício, também, para rever 
dois conceitos importantes: a informação implícita subentendida e a informação implícita 
pressuposta. 
Leia a tirinha a seguir: 
(Disponível em: <http://toda-mafalda.blogspot.com.br/2013/05/la-democracia.html> Acesso em: 06 set. 2018) 
Salvador Dalí 
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Qual a informação implícita que se pode inferir da tirinha da Mafalda? 
Quais as pistas ou elementos textuais da tirinha a partir dos quais você fez essa inferência? 
E que tipos de conhecimentos você utilizou para chegar a essa conclusão? 
Com base nessa tira, exemplificamos um tipo de texto que requer um nível de leitura, ao menos, 
adequada, realizada por leitores que leem nas entrelinhas. O primeiro quadrinho é o único que traz 
um texto verbal. Mafalda lê o significado da palavra democracia no dicionário e, na sequência, cai 
na gargalhada. Logo, inferimos que a personagem ri porque a democracia que se vê na realidade 
não está de acordo com a definição apresentada no dicionário. Essa informação não está 
explícita na tira. Em nenhum momento a Mafalda, ou qualquer outro personagem ali apresentado, 
disse isso. Porém, o texto apresenta a gargalhada como a principal pista que nos permite chegar a 
essa inferência. A atitude da menina após ler a explicação desse termo no dicionário, e por passar 
o dia todo nessa condição do riso, causando espanto ou estranhamento nos membros de sua 
família, leva-nos, então, a inferir uma informação implícita. Temos aqui uma informação 
implícita subentendida. 
Não existem marcas linguísticas que comprovem esse tipo de informação. A informação 
subentendida pode, portanto, ser questionada e, também, negada ou contestada. Se 
vivenciássemos essa experiência ao vivo e a cores, poderíamos questionar se Mafalda quis dizer 
exatamente o que inferimos de sua fala e de sua atitude, mas ela poderia negar a nossa inferência, 
alegando, por exemplo, que no exato momento em que leu o significado da palavra democracia no 
dicionário, lembrou-se de um episódio engraçado que aconteceu na escola e que, de repente, veio 
à sua lembrança, sendo este o motivo do seu riso. Entretanto, conhecendo a natureza crítica da 
Mafalda e a partir do conhecimento de mundo que temos acerca da democracia em nosso país, 
estabelecemos a relação entre as pistas da tira e, por fim, atribuímos-lhe uma inferência coerente. 
A seguir, apresentamos uma frase que foi pronunciada há alguns anos por um empresário, e com 
este exemplo demonstramos a importância de ler nas entrelinhas e, também, o quanto é preciso 
cuidar das palavras que usamos para expressar nossas ideias. 
 
Ela é inteligente, apesar de ser mulher. 
(Mário Amato, referindo-se à Dorothéa Verneck) 
 
Disponível em: <https://brasildelonge.com/tag/ela-e-inteligente-
apesar-de-ser-mulher/> Acesso em: 27 mar. 2018. 
 
 
 
Quais as informações explícitas nessa frase? Qual a informação implícita? 
Na época em que pronunciou essa frase, Mário Amato, autor de tantos outros dizeres polêmicos, 
conquistou a antipatia das mulheres. Ele disse, explicitamente, que Dorothéa é mulher e que é 
inteligente. Temos, então, duas informações escritas (portanto explícitas) na linha do texto. Por 
outro lado, pode-se inferir outra informação, a que está implícita: as mulheres não são 
inteligentes. 
Diferente do que ocorre na tira da Mafalda, esse tipo de informação não pode ser negada. Trata-
se de uma informação pressuposta, implícita no conectivo “apesar de”, uma marca linguística 
que comprova a informação implícita nas entrelinhas. 
VERIFICAR – é a estratégia que permite a você monitorar a qualidade da sua leitura, de modo a 
tomar as providências necessárias para que, de fato, os textos lidos sejam compreendidos em sua 
totalidade. 
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Trata-se de uma estratégia que permite ao leitor: 
- confirmar ou refutar as previsões feitas e, também, ter a certeza de que suas inferências estão 
coerentes e de acordo com o texto, considerando suas pistas textuais e outros fatores extra-textuais 
necessários à sua interpretação, como, por exemplo, o momento e o contexto histórico em que foi 
produzido; 
- avaliar se você está empregando as estratégias de leitura necessárias para a compreensão e 
interpretação adequada dos textos; 
- investigar se o significado que você inferiu de determinada palavra condiz com o sentido adequado 
ao texto; 
- tomar a iniciativa de recorrer a outras leituras prévias para compreender satisfatoriamente 
determinado texto; 
- rever a seleção que fez dos livros que constam em uma listagem bibliográfica para atingir os 
objetivos de determinada pesquisa; 
- interromper a leitura, porque não está assimilando ou processando o conteúdo do modo como 
gostaria, e percebe a necessidade de reler parágrafos para resgatar a linha de raciocínio; ou ainda, 
decidir se deve prosseguir a leitura, pois algumas vezes o parágrafo seguinte pode esclarecer o(s) 
anterior(es). 
 
Há uma infinidade de outros aspectos que requerem a sua verificação nos momentos de 
leitura. Enquanto leitor, é importante que esteja atento para tomar as decisões necessárias frente 
aos textos, de modo que possa desenvolver habilidades leitoras fundamentais para o seu 
desempenho acadêmico, profissional e pessoal. 
E lembre-se: todas as estratégias apresentadas são importantes, estão correlacionadas e ocorrem 
de modo concomitante. Ao praticá-las, de modo consciente e frequente, o leitor desenvolve 
características que demonstram sua competência leitora. 
 
 
 
 
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Textos Selecionados 
Nas entrelinhas da arte e da cultura, como em tudo na vida, perpassam questões éticas. 
Nesse sentido, inicialmente, propomos considerar a pluralidade dessas questões, uma vez 
que, frente às diversidades culturais e à dinâmica da globalização, não há como engessá-
las, pois os ideais éticos se transformam e, no ritmo em que a humanidade caminha, nem 
sempre sobrevivem aqueles valores imprescindíveis para a formação humana, como, por 
exemplo, a ética da justiça, da solidariedade e da responsabilidade universal. Como 
preservar a ética e, consequentemente, salvar a humanidade dos e nos homens? Para 
refletir... 
O eclipse da ética na atualidade 
Leonardo Boff 
Em julho de 2018, realizou-se um congresso internacional organizado pela Sociedade de Teologia 
e Ciências da Religião (SOTER) em torno dos temas: Religião, Ética e Política. As exposições foram 
de grande atualidade e de qualidade superior. Refiro-me apenas à discussão acerca do Eclipse da 
Ética que me coube introduzir. 
A meu ver dois fatores atingiram o coração da ética: o processo de 
globalização e a mercantilização da sociedade. 
A globalização mostrou os vários tipos de ética, consoante às diferenças 
culturais. Relativizou-se a ética ocidental, uma entre tantas. As grandes 
culturas do Oriente e as dos povos originários revelaram que podemos 
ser éticos de forma muito diferente. 
Por exemplo, a cultura maia coloca tudo centrado no coração, já que 
todas as coisas nasceram do amor de dois grandes corações, do Céu e 
da Terra. O ideal ético é criar em todas as pessoas corações sensíveis, 
justos, transparentes e verdadeiros. Ou a ética do “bien vivir y convivir” 
dos andinos, assentada no equilíbrio com todas as coisas, entre os 
humanos, com a natureza e com o universo. 
Tal pluralidade de caminhos éticos teve como consequência uma 
relativização generalizada. Sabemos que a lei e a ordem, valores da 
prática ética fundamental, são os pré-requisitos para qualquer civilização 
em qualquer parte do mundo. O que observamos é que a humanidade está cedendo diante da 
barbárie rumo a uma verdadeira idade das trevas mundial, tal é o descalabro ético queestamos 
vendo. 
Pouco antes de morrer, em 2017, advertia o pensador Sigmund Bauman: “ou a humanidade se dá 
as mãos para juntos nos salvarmos ou então engrossaremos o cortejo daqueles que caminham 
rumo ao abismo”. Qual é a ética que nos poderá orientar como humanidade vivendo na mesma 
Casa Comum? 
O segundo grande empecilho à ética é a mercantilização da sociedade, aquilo que Karl Polaniy 
chamava já em 1944 de “A Grande Transformação”. É o fenômeno da passagem de uma economia 
de mercado para uma sociedade puramente de mercado. Tudo se transforma em mercadoria, coisa 
já prevista por Karl Marx em seu texto A miséria da Filosofia de 1848, quando se referia ao tempo 
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em que as coisas mais sagradas como a verdade e a consciência seriam levadas ao mercado; seria 
“tempo da grande corrupção e da venalidade universal”. Pois vivemos este tempo. A economia, 
especialmente a especulativa, dita os rumos da política e da sociedade como um todo. A competição 
é sua marca registrada e a solidariedade praticamente desapareceu. 
O que é o ideal ético deste tipo de sociedade? É a capacidade de acumulação ilimitada e de 
consumo sem peias, gerando uma grande divisão entre um pequeníssimo grupo que controla 
grande parte da economia mundial e as maiorias excluídas e mergulhadas na fome e na miséria. 
Aqui se revelam traços de barbárie e de crueldade como poucas vezes na história. 
Precisamos refundar uma ética que se enraíze naquilo que é específico nosso, enquanto humanos 
e que, por isso, seja universal e possa ser assumida por todos. 
Estimo que, em primeiríssimo lugar, é a ética do cuidado que, segundo a fábula 220 do escravo 
Higino e bem interpretada por Martin Heidegger em Ser e Tempo, constitui o substrato ontológico 
do ser humano, aquele conjunto de fatores sem os quais jamais surgiria o ser humano e outros 
seres vivos. Pelo fato de o cuidado ser da essência do humano, todos podem vivê-lo e dar-lhe 
formas concretas, consoante suas culturas. O cuidado pressupõe uma relação amigável e amorosa 
para com a realidade, da mão estendida para a solidariedade e não do punho cerrado para a 
dominação. No centro do cuidado está a vida. A civilização deverá ser biocentrada. 
Outro dado de nossa essência humana é a solidariedade e a ética que daí se deriva. Sabemos 
hoje pela bioantropologia que foi a solidariedade de nossos ancestrais antropoides que permitiu dar 
o salto da animalidade para a humanidade. Buscavam os alimentos e os consumiam solidariamente. 
Todos vivemos porque existiu e existe um mínimo de solidariedade, começando pela família. O que 
foi fundador ontem, continua sendo-o ainda hoje. 
Outro caminho ético, ligado à nossa estrita humanidade, é a ética da responsabilidade universal. 
Ou assumimos juntos responsavelmente o destino de nossa Casa Comum, ou então percorreremos 
um caminho sem retorno. Somos responsáveis pela sustentabilidade de Gaia e de seus 
ecossistemas para que possamos continuar a viver junto com toda a comunidade de vida. 
O filósofo Hans Jonas que, por primeiro, elaborou “O Princípio Responsabilidade”, agregou a ele a 
importância do medo coletivo. Quando este surge e os humanos começam a dar-se conta de que 
podem conhecer um fim trágico e até de desaparecer 
como espécie, irrompe um medo ancestral que os 
leva a uma ética de sobrevivência. O pressuposto 
inconsciente é que o valor da vida está acima de 
qualquer outro valor cultural, religioso ou econômico. 
Por fim, importa resgatar a ética da justiça para 
todos. A justiça é o direito mínimo que tributamos ao 
outro, de que possa continuar a existir, e dando-lhe 
o que lhe cabe como pessoa. Especialmente as 
instituições devem ser justas e equitativas para evitar 
os privilégios e as exclusões sociais que tantas 
vítimas produzem, particularmente em nosso país, 
um dos mais desiguais, vale dizer, mais injustos do 
mundo. Daí se explica o ódio e as discriminações 
que dilaceram a sociedade, vindos não do povo, mas 
daquelas elites endinheiradas que sempre viveram 
do privilégio e não aceitam que os pobres possam 
subir um degrau na escala social. Atualmente, 
vivemos sob um regime de exceção, no qual tanto a Constituição e as leis são pisoteadas ou 
mediante o Lawfare (a interpretação distorcida da lei que o juiz pratica para prejudicar o acusado). 
14 
 
A justiça não vale apenas entre os humanos, mas também para com a natureza e a Terra que são 
portadores de direitos, e por isso devem ser incluídos em nosso conceito de democracia sócio 
ecológica. 
Estes são alguns parâmetros mínimos para uma ética, válida para cada povo e para a humanidade, 
reunida na Casa Comum. Devemos incorporar uma ética da sobriedade compartida para lograr o 
que dizia Xi Jinping, chefe supremo da China “uma sociedade moderadamente abastecida”. Isto 
significa um ideal mínimo e alcançável. Caso contrário, poderemos conhecer um armagedon social 
e ecológico. 
Disponível em: <https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-eclipse-da-etica-na-atualidade/4/40925> Adaptado. Acesso em: 8 
ago. 2018. 
Definir cultura não é uma tarefa tão simples quanto parece e fazê-lo sem o aprofundamento 
necessário pode resultar em definições superficiais. O texto a seguir traz respostas mais 
pontuais a respeito, sob a perspectiva da antropologia. Falar de cultura é falar do homem, 
do seu modo de viver, de tudo aquilo que ele próprio cria para viver, do modo como interage 
e age com e pelo outro. É falar, também, de coletividade e educação. Confira! 
O que se entende por cultura: uma reflexão 
João Nunes da Silva - Doutor em comunicação e cultura contemporâneas, Mestre em Sociologia e professor da UFT Campus de Arraias. 
Trabalha como projeto em cinema e educação. 
“A cultura também envolve o modo como pensamos o mundo e agimos nele, nas relações sociais 
e, mais ainda, significa que nossas ideias de alguma forma se materializam, criam modos de viver, 
influenciam e recebem influências dos outros” 
Cultura é um termo que parece simples, mas não é como geralmente costumamos imaginar. Com 
a antropologia entendemos que cultura não apresenta uma definição precisa e suficiente para reunir 
uma compreensão totalizante do que desejamos ou entendemos sobre o seu significado. Não é por 
acaso que a ciência antropológica se encarrega de estudar exclusivamente a cultura e suas 
influências nas diferentes sociedades e na nossa vida. 
Deixando de lado o que pode se mostrar mais complexo na antropologia para se referir à cultura, 
podemos defini-la como tudo aquilo que o ser humano cria para viver. Assim incluímos tudo o que 
não é natureza, por exemplo: o modo de se alimentar, de vestir-se, de trabalhar, de se relacionar 
com as divindades ou com a espiritualidade, que é uma maneira de utilizar as crenças. Também 
com essa definição de cultura incluímos o uso do conhecimento, a educação, a ciência, os negócios, 
o comércio, as viagens, as pinturas, o esporte, entre outras coisas. 
Essa definição simples de cultura nos permite ir bem longe, o máximo possível, para entender, ou 
pensar melhor sobre o mundo em que vivemos e, principalmente, refletir sobre a educação em 
nossos dias, seus impactos e influências no cotidiano das pessoas e grupos sociais. 
A cultura também envolve o modo como pensamos o mundo e agimos nele, nas relações sociais e, 
mais ainda, significa que as nossas ideias de alguma forma se materializam, criam modos de viver, 
influenciam e recebem influências dos outros. 
Com isso, podemos dizer que a cultura apresenta uma estreita relação com a ideologia, que é a 
forma como as ideias das pessoas, dos grupos, comunidades e instituições orientam suas ações, 
moldam e até provocam fortes impactos sobre os outros. Isso inclui os indivíduos e suas 
particularidades assim como, numaperspectiva macro, a sociedade mundo, os diversos países com 
suas histórias entrelaçadas com outros povos, especialmente se pensarmos como aconteceram as 
colonizações e o que pensavam os homens que planejaram e colocaram em prática suas ideias 
sobre o mundo, sobre as coisas e sobre os outros. 
15 
 
A educação, por exemplo, é uma forma institucionalizada, no caso da formal, de se fazer cultura; 
isto é, de se colocar em prática ideias de como vemos ou temos de mundo e, de certa forma, 
formatar essas ideias a partir do momento em que elas são materializadas na sociedade. 
A educação formal, na perspectiva dos mandatários, aqueles que chegaram ao poder pela 
exploração, existe praticamente de forma exclusiva para atender ao mercado de trabalho; nesse 
caso, a educação coisifica tudo, transforma tudo em negócio, passa a ser objeto de consumo e para 
o consumo. E tudo isso para manter a maioria sobre controle a partir dos interesses e necessidades 
dos grupos econômicos. 
Se pensarmos melhor nessa forma de educação, podemos questionar sobre sua utilidade, para que 
ou para quem serve e como nos colocamos diante dela. Pensar, por exemplo, até que ponto isso é 
bom ou é ruim para cada um de nós, para nossa particularidade e individualidade e para a vida em 
sociedade. 
Uma vez que a cultura está ligada diretamente à coletividade, podemos concluir que nem tudo o 
que é cultura é positivo, até mesmo para quem pertence a uma dada cultura. Por exemplo, uma 
cultura que se mostra machista é positiva para quem, senão para os que se beneficiam com o 
machismo? 
Disponível em: <http://www.atitudeto.com.br/o-que-se-entende-por-cultura-uma-reflexao/> Acesso em: 20 ago. 2018. 
De que modo podemos compreender e relacionar cultura e humanização? O que é preciso 
fazer para conservar o que há de humano no homem e a que ponto ele mesmo é capaz de 
criar ou provocar sua desumanização? A seguir, o artigo favorece noções mais profundas 
acerca da cultura e da relação desta com o indivíduo, sua socialização e educação. 
Cultura e Humanização 
 
Há muitos anos, nos Estados Unidos, Virgínia e Maryland assinaram um tratado de paz com os 
índios das Seis Nações. Ora, como as promessas e os símbolos da educação sempre foram muito 
adequados a momentos solenes como aquele, logo depois os seus governantes mandaram cartas 
aos índios para que enviassem alguns de seus jovens às escolas dos brancos. Os chefes 
responderam; agradecendo e recusando. A carta acabou conhecida porque alguns anos mais tarde 
Benjamin Franklin adotou o costume de divulgá-la aqui e ali. Eis o trecho que nos interessa: 
"[...] Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos 
de todo o coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que diferentes nações têm concepções 
diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores não ficarão ofendidos ao saber que a vossa ideia 
de educação não é a mesma que a nossa. 
[...] Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do Norte e aprenderam toda 
a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós, eles eram maus corredores, ignorantes da 
vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. Não sabiam como caçar o veado, matar 
o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, 
totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos 
extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para mostrar a 
nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos enviem alguns dos seus 
jovens, que Ihes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens". (Apud (ar/os 
Rodrigues Brandão) 
Noção de cultura 
Na linguagem comum, o homem "culto" seria aquele que tem instrução, teve acesso à produção 
intelectual da civilização a que pertence (ciência, filosofia, literatura, artes em geral). Muitas vezes, 
16 
 
só porque alguém conhece algumas línguas estrangeiras, imediatamente é considerado "culto", da 
mesma forma que, se não frequentou os bancos escolares, é classificado como "inculto". 
Ora, esse modo de pensar resulta da sociedade hierarquizada, que separa o trabalho humano em 
atividades intelectuais e manuais, valorizando as primeiras em detrimento das últimas. É isso 
justamente o que está em questão na epígrafe do capítulo: os homens da civilização americana 
consideram um bem universal o que oferecem em suas escolas e, como tal, desejam estendê-lo 
aos indígenas, sem perceber que nas tribos não existe ainda a separação entre o pensar e o agir. 
Trata-se de uma outra cultura. 
Agora, portanto, passamos a usar a palavra cultura como o resultado de tudo o que o homem produz 
para construir sua existência. No sentido amplo, antropológico, cultura é tudo o que o homem faz, 
seja material ou espiritual, seja pensamento ou ação. A cultura exprime as variadas formas pelas 
quais os homens estabelecem relações entre si e com a natureza: como constroem abrigos para se 
proteger das intempéries; como organizam suas leis, costumes e punições; como se alimentam, 
casam e têm filhos; como concebem o sagrado e como se comportam diante da morte. 
O contato do homem com a natureza, com outros homens e consigo mesmo é intermediado pelos 
símbolos, isto é, signos - arbitrários e convencionais -, por meio dos quais o homem representa o 
mundo. Portanto, ao criar um sistema de representações aceitas por todo o grupo social (ou seja, a 
linguagem simbólica), os homens se comunicam de forma cada vez mais elaborada. 
Nesse sentido, pode-se dizer que a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo em 
determinado tempo e lugar. Dada a infinita possibilidade de simbolizar, as culturas são múltiplas e 
variadas. 
Cultura e socialização 
O processo de socialização se inicia por meio da ação exercida pela comunidade sobre os homens. 
É conhecida a história das meninas-lobo encontradas na Índia, em 1920, vivendo numa matilha. 
Seu comportamento em tudo se assemelhava ao dos lobos: andavam de quatro, comiam carne crua 
ou podre, uivavam à noite, não sabiam rir e nem chorar. Só iniciaram o processo de humanização 
ao conviver com outras pessoas. 
O mundo cultural é, dessa forma, um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo 
que, ao nascer, a criança encontra um mundo de valores dados, onde ela se situa. A língua que 
aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, andar, correr, brincar, o tom de voz nas 
conversas, as relações sociais, tudo, enfim, se acha estabelecido em convenções. Até a emoção, 
que é uma manifestação espontânea, sujeita-se a regras que dirigem de certa forma a sua 
expressão. Basta observar como a nossa sociedade, ainda preocupada com uma visão 
estereotipada da masculinidade, vê com complacência o choro feminino e recrimina a mesma 
manifestação no homem. 
É possível dizer, então, que a condição humana não resulta da realização hipotética de instintos, 
mas da assimilação de modelos sociais: o ser do homem se faz mediado pela cultura. Nem o ermitão 
consegue anular a presença do mundo cultural. A escolha de se afastar faz permanecer o tempo 
todo, em cada ato seu, a negação e, portanto, a consciência e a lembrança da sociedade rejeitada. 
Seus valores, mesmo colocados contra os da sociedade, situam-se também a partir dela. A recusa 
de se comunicar é ainda um modo de comunicação. 
Por isso, a condição humana não apresenta características universais e eternas, pois variam as 
maneiras pelas quais os homens respondem socialmente aos desafios, a fim de realizar sua 
existência, sempre historicamente situada. 
Uma tendência conservadora, no entanto, leva muitos a definirem sua própria cultura como a 
correta, estranhando os comportamentos de outrospovos ou mesmo de segmentos diferentes em 
17 
 
sua própria sociedade. Chegam a achar "naturais" certos atos e valores que se opõem a outros, 
considerados "exóticos". 
O filósofo Montaigne, no século XVI, ao analisar a perplexidade dos europeus em relação aos 
costumes dos povos indígenas das terras recém-descobertas, já percebia o teor tendencioso das 
avaliações: "Não vejo nada de bárbaro ou selvagem no que dizem aqueles povos; e, na verdade, 
cada qual considera bárbaro o que não se pratica em sua terra". Mais adiante, questiona o horror 
de muitos diante do relato de canibalismo dos selvagens, quando não causava igual espanto o 
costume dos religiosos de seu tempo de "esquartejar um homem entre suplícios e tormentos e o 
queimar aos poucos, ou entregá-lo a cães e porcos, a pretexto de devoção e fé". 
Aceitar as diferenças entre as culturas é importante para evitar o etnocentrismo, isto é, o julgamento 
de outros padrões (morais, estéticos, políticos, religiosos etc.) a partir de valores do seu próprio 
grupo. Esse comportamento geralmente leva à xenofobia (horror ao estrangeiro), que é uma forma 
de preconceito e caminho certo para o exercício da violência, pois a partir dela surgem determinados 
critérios de superioridade e inferioridade que justificam indevidamente a dominação de um grupo 
sobre outro. 
Sociedade e indivíduo 
A natureza modificada pelo trabalho humano não é apenas a do mundo exterior, mas também a da 
individualidade humana, pois nesse processo o homem se autoproduz, isto é, faz a si mesmo 
homem. 
O autoproduzir-se humano se completa em dois movimentos contraditórios e inseparáveis: por um 
lado, a sociedade exerce sobre o indivíduo um efeito plasmador, a partir do qual é construída uma 
determinada visão de mundo; por outro, cada um elabora e interpreta a herança recebida na sua 
perspectiva pessoal. 
É bem verdade que o teor dessas mudanças varia conforme o tipo de sociedade: no mundo 
contemporâneo de intensa urbanização, as alterações são muito mais velozes do que nas tribos 
indígenas ou nas comunidades tradicionais. Mesmo assim, não há sociedade estática: em maior ou 
menor grau, todas mudam, estabelecendo uma dinâmica que resulta do embate entre tradição e 
ruptura, herança e renovação. 
A transformação produzida pelo homem pode ser caracterizada como um ato de liberdade, 
entendendo-se liberdade não como alguma coisa que é dada ao homem, mas como o resultado da 
sua capacidade de compreender o mundo, projetar mudanças e realizar projetos. Pelo trabalho, o 
homem aprende a conhecer as próprias forças e limitações, desenvolve a inteligência, as 
habilidades, impõe-se uma disciplina, relaciona-se com os companheiros e vive os afetos de toda 
relação. Nesse sentido, dizemos que o homem se autoproduz, pois, ele se modifica e se constrói a 
partir de sua ação. E nesse movimento tece sua liberdade. 
O que foi dito um pouco antes a respeito da ação multiforme dos modelos sociais não contraria a 
relação estabelecida entre trabalho e liberdade. Isso se explica pelo fato de que, se, por um lado, 
há sempre a necessidade de um ponto de partida para que cada um possa se compreender - e 
esse solo é a herança social -, por outro, o ser do homem exige a superação daquilo que ele herda, 
numa constante recriação da cultura. 
Cultura e educação 
Vimos, até aqui, que a cultura é uma criação humana: ao tentar resolver seus problemas, o homem 
produz os meios para a satisfação de suas necessidades e, com isso, transforma o mundo natural 
e a si mesmo. Por meio do trabalho instaura relações sociais, cria modelos de comportamento, 
instituições e saberes. O aperfeiçoamento dessas atividades, no entanto, só é possível pela 
transmissão dos conhecimentos adquiridos de uma geração para outra, permitindo a assimilação 
18 
 
dos modelos de comportamento valorizados. É a educação que mantém viva a memória de um 
povo e dá condições para a sua sobrevivência material e espiritual. 
A educação é, portanto, fundamental para a socialização do homem e sua humanização. Trata-se 
de um processo que dura a vida toda e não se restringe à mera continuidade da tradição, pois supõe 
a possibilidade de rupturas, pelas quais a cultura se renova e o homem faz a história. 
Se o homem não tem oportunidade de desenvolver e enriquecer a linguagem, torna-se incapaz não 
só de compreender o mundo que o cerca, mas também de agir sobre ele. 
Na literatura, é belo (e triste) o exemplo que Graciliano Ramos nos dá com Fabiano, personagem 
principal de Vidas secas. A pobreza de vocabulário prejudica a tomada de consciência da 
exploração a que é submetido, e a intuição de sua situação não é suficiente para ajudá-lo a reagir. 
Se a palavra, que distingue o homem dos outros seres vivos, se encontra enfraquecida na sua 
possibilidade de expressão, é o próprio homem que se desumaniza. 
Disponível em: <http://estudando.weebly.com/cultura-e-humanizaccedilatildeo.html> Adaptado. Acesso em: 30 ago. 2018. 
Por falar em ética, lembramos do jeitinho brasileiro. Quais as faces desse famoso jeitinho 
que burla desde as pequenas até as grandes regras? E quais seriam as consequências da 
cultura da desigualdade a qual dissemina a falsa ideia de que as regras existem para as 
pessoas comuns? Para pensar e tirar suas próprias conclusões... 
Ética e jeitinho brasileiro 
Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal. 
Jeitinho brasileiro é uma expressão que comporta múltiplos sentidos. Na sua faceta positiva, o 
jeitinho se manifesta em algumas características da alma nacional: uma certa leveza de ser, que 
combina afetividade, bom humor, alegria de viver e uma dose de criatividade. Este é o lado bom, 
que deve ser preservado. 
O jeitinho constitui, também, um meio de 
enfrentar as adversidades da vida. Está, 
muitas vezes, ligado à sobrevivência diante 
das desigualdades sociais, das deficiências 
dos serviços públicos e das complexidades 
legislativas e burocráticas. Há um critério 
relativamente singelo para saber se o 
jeitinho é aceitável ou não: verificar se há 
prejuízo para alguém ou para o grupo social. 
Se a resposta for afirmativa, dificilmente 
haverá salvação. 
A face negativa do jeitinho é bem conhecida de todos nós. Ela envolve a pessoalização das 
relações, para o fim de criar regras particulares para si, flexibilizando ou quebrando normas que 
deveriam se aplicar a todos. Esse pacote negativo inclui o improviso, a colocação do sentimento 
pessoal ou das relações pessoais acima do dever e uma certa cultura da desigualdade que ainda 
caracteriza a vida brasileira. 
O improviso se traduz na incapacidade de planejar, de cumprir prazos e, em última análise, de 
cumprir a palavra. Vive-se aqui a crença equivocada de que tudo se ajeitará na última hora, com 
um sorriso, um gatilho e a atribuição de culpa a alguma fatalidade. O sentimento pessoal acima do 
dever se manifesta no favorecimento dos parentes e dos amigos, no compadrio, na troca de favores, 
19 
 
"o toma lá, dá cá". A cultura da desigualdade expressa a crença generalizada de que as regras são 
para os outros, para os comuns, "e não para os especiais como eu". Vem daí a permissão para 
furar a fila ou parar o carro na calçada. 
Essa facilidade para quebrar regras sociais, em um passo, se transforma em violação direta e aberta 
da lei. E aí vêm as pequenas fraudes, como: o atestado médico falso, a consulta com recibo ou sem 
recibo e a nota superfaturada para aumentar o reembolso. Depois, sem surpresa, vem a corrupção 
graúda, de quem paga propina para vencer a licitação, obtém inside information para investir no 
mercado financeiro ou paga ao diretor do fundo de pensão estatal para colocar o dinheiro dos 
associados em um negócio poucovantajoso. 
Improviso, sentimentos e interesse pessoais acima do dever, compadrio, cultura da desigualdade, 
quebra de normas sociais e violação da lei que vale para todos, não são traços virtuosos, não podem 
fazer parte do charme de um povo e muito menos ser motivo de orgulho. Em todas essas situações, 
o jeitinho traz um elevado custo moral, por expressar um déficit de honestidade pessoal e de 
republicanismo. 
Somos uma sociedade que já consegue separar o joio do trigo. O problema são os que preferem o 
joio. É a velha ordem, que reluta em sair de cena. Mas há muitas coisas novas acontecendo no 
Brasil. Há uma revolução silenciosa em curso. O velho já morreu. Só falta remover os corpos. O 
novo vem vindo. Há uma imensa demanda por integridade, idealismo e patriotismo. Esta é a energia 
que muda o curso da história. É preciso ter fé. Para tudo existe um jeitinho. Do bem. 
Disponível em: <https://oglobo.globo.com/rio/artigo-etica-jeitinho-brasileiro-21784078> Acesso em: 7 ago. 2018. 
 
Ética no mundo contemporâneo 
 
Economista e coordenadora do Insper, Luciana Yeung, fala 
da importância da ética em tempos de relações mediadas 
pela tecnologia. Ela ressalta que o tema deve ganhar mais 
espaço nas universidades. 
ASSISTA: 
https://www.institutomillenium.org.br/milleniumtv/etica-no-
mundo-contemporaneo/ 
A parte visível de um iceberg simboliza a pequena porção de um todo muito maior. 
Comparativamente, as pessoas costumam pensar sobre a cultura como as numerosas 
características visíveis de um grupo que podemos ver com os nossos olhos, como a comida, 
dança, música, artes etc. Porém, essas características são apenas uma manifestação 
externa dos componentes mais detalhados e amplos da cultura, ou seja, as ideias, 
preferências, atitudes e valores. O breve texto a seguir, bem como a imagem, propõe 
reflexões acerca do que há abaixo da “linha de água”... 
O Iceberg cultural 
Como um iceberg, há coisas que podemos ver e descrever facilmente, mas também há muitas 
ideias profundamente enraizadas que só podemos compreender por meio da análise de valores, 
20 
 
estudando as instituições e, em muitos casos, refletindo sobre os nossos próprios valores 
fundamentais. Bem abaixo da "linha de água" estão os valores centrais de uma cultura. Esses são 
principalmente ideias aprendidas sobre o que é bom, certo, desejável e aceitável, bem como o que 
é ruim, errado, indesejável e inaceitável. Em muitos casos, os diferentes grupos culturais 
compartilham valores centrais semelhantes (tais como "honestidade", "respeito" ou "família"), mas 
esses são, muitas vezes, interpretados de maneira diferente em diferentes situações e incorporados 
de forma única em atitudes específicas que se aplicam em situações do cotidiano. Em última 
análise, essas forças internas se tornam visíveis para o observador casual, sob a forma de 
comportamentos visíveis, como as palavras que usamos, a forma como agimos, as leis que 
aprovamos e as formas como nos comunicamos uns com os outros. 
Também é importante observar que os valores fundamentais de uma cultura não mudam 
rapidamente ou facilmente. Eles são passados de geração para geração, por diversas instituições 
que nos rodeiam. Essas instituições de influência são forças poderosas que nos orientam e nos 
ensinam. Embora um sistema econômico possa mudar, uma nova metodologia na escola pode ser 
adotada, ou novas definições de "comum e normal" podem ser percebidas na televisão, há 
inumeráveis forças que continuam a moldar uma cultura como o fizeram no passado. Então, como 
um iceberg, há coisas que podemos ver e descrever facilmente..., mas também há muitas ideias 
profundamente enraizadas que só podemos compreender por meio da análise de valores, 
estudando as instituições e, em muitos casos, refletindo sobre os nossos próprios valores 
fundamentais. 
 
Disponível em: <https://www.languageandculture.com/o-iceberg-cultural> Acesso em: 20 ago. 2018. 
21 
 
Cópia ou criatividade? Em que consiste e quais as implicações da apropriação cultural? A 
identidade de um povo pode ficar comprometida diante de episódios dessa natureza? Qual 
a diferença entre apropriação e homenagem? Vale a pena considerar as implicações deste 
assunto... 
Redes sociais em pé de guerra contra a apropriação cultural 
O cineasta Wes Anderson foi questionado por sua visão fantasiosa do Japão em “Isle of Dogs” ou 
o cantor Bruno Mars acusado de roubar a cultura negra… O conceito de “apropriação cultural” é um 
tema delicado nas redes sociais e deixa sob pressão muitos artistas e marcas. É preciso detectar 
nisso uma tendência do politicamente correto ou uma reivindicação mais legítima? 
Não se passa uma semana sem que haja uma polêmica em torno de apropriações culturais: 
turbantes usados por modelos da Gucci, denunciados pela comunidade sikh, ao álbum dos Rolling 
Stones em homenagem ao blues, passando pelos adornos de cabeça indianos nos desfiles da 
Victoria’s Secret. 
Todos foram reprovados por se apropriar de uma cultura que não é deles, sem autorização e 
negligenciando a dimensão, às vezes, simbólica das coisas. O assunto tornou-se tão sensível que 
muitos artistas questionados por apropriação cultural optam por um pedido público de desculpas. 
Em uma entrevista recente, a cantora Katy Perry desculpou-se por ter usado tranças africanas em 
um clipe, antes de lamentar seus “privilégios de branco” ante um representante do movimento “Black 
Lives Matter”. Uma situação impensável há poucos anos, quando astros pop não hesitavam em 
multiplicar as “homenagens”, sem provocar controvérsia. “Os romanos copiaram os gregos e as 
sociedades em todo o mundo sempre se inspiraram umas nas outras. E não há nada de errado com 
isso”, estima o antropólogo George Nicholas, da Universidade Simon Fraser, no Canadá. 
 
Capitol Records 
Equilíbrio de forças 
O que é problemático para este arqueólogo de formação é a mercantilização de especificidades 
culturais dos ameríndios e outras comunidades indígenas, ameaçando sua autenticidade e modo 
de vida. 
Nascido nos anos 90 no meio acadêmico, o conceito anglo-saxão de apropriação cultural deriva do 
pensamento pós-colonialista. Ele se espalhou com as redes sociais, que acentuaram sua dimensão 
reivindicativa. A apropriação cultural rima com uma demanda de reparação e faz parte de um 
equilíbrio de poder entre cultura dominante (principalmente branca) e cultura minoritária. “Os povos 
indígenas ou grupos minoritários denunciam aqueles que se atribuem elementos estranhos a sua 
cultura, sem ter pago o custo social e histórico”, resume a etnóloga francesa Monique Jeudy-Ballini. 
22 
 
Quando a comunidade negra denuncia artistas que tomam emprestado a cultura afro-americana, 
aponta para a baixa presença de modelos negras nas passarelas. Quando os aborígines se 
indignam com a comercialização de um bumerangue pela Chanel, recordam que sua cultura há 
muito tem sido denegrida. 
O perigo deste debate: a guetização, com artistas proibidos de tratar de uma outra cultura. A 
cineasta Kathryn Bigelow foi criticada por seu filme “Detroit” sobre a violência policial contra os 
negros na década de 1960. “Estou em melhor posição para contar essa história? Certamente não. 
Mas consegui fazê-lo”, respondeu a diretora vencedora do Oscar. 
 
Detroit (2017) 
Criatividade ao invés de cópia 
“Querer que cada cultura, seja ela minoritária ou não, continue uma unidade fechada, recusando 
qualquer cruzamento, é perigoso”, argumenta Monique Jeudy-Ballini, que defende “informação e 
discussão” face à “proibição estereótipos”. No entanto, nem sempre é fácil distinguir entre 
apropriação e homenagem. “A chave definitiva para a apropriação cultural positiva não é a cópia 
servil, mas a criatividade”, estima Susan Scafidi, diretora do Fashion Law Institute, uma empresa 
deconsultoria jurídica do setor da moda com sede em Nova York. 
Para esta especialista em propriedade intelectual, é necessário questionar a origem de um 
empréstimo cultural (a comunidade em questão), o significado do empréstimo (é um objeto 
sagrado?) e as semelhanças entre o original e o objeto que é inspirado por ele. “Os artistas também 
devem considerar colaborações diretas, inclusive com artesãos tradicionais”, diz ela. 
Uma linha compartilhada por George Nicholas, autor de um guia para o mundo da moda (“Think 
before you appropriate”), aconselha empresas no Canadá, fabricantes de roupas infantis que 
querem reproduzir estampas indígenas, sem ferir as comunidades em causa. “Esse tipo de atitude 
voluntária sugere que muitas pessoas têm boas intenções, mas nem sempre sabem como fazer”, 
indica. 
Disponível em: <http://blogs.ne10.uol.com.br/mundobit/2018/04/11/redes-sociais-em-pe-de-guerra-contra-apropriacao-cultural/> Acesso 
em: 16 ago. 2018. 
 
23 
 
Mesmo diante de tantos avanços na legislação e nas tecnologias, as pessoas com 
deficiência ainda não têm assegurado o acesso a bens culturais. É evidente que essa 
situação requer mais que reflexão. Os dois textos a seguir trazem ideias, sugestões e 
diferentes perspectivas a esse respeito. 
Cultura para todos? 
Apesar dos avanços na legislação e nas tecnologias, as pessoas com deficiência ainda não têm assegurados o acesso a bens culturais 
São vários os direitos garantidos pela Lei Brasileira de Inclusão: acesso a bens culturais; acesso a 
programas de televisão, cinema e teatro em formato acessível; acesso a monumentos e locais de 
importância cultural; adoção de soluções para eliminar, reduzir e superar barreiras que impeçam o 
acesso ao patrimônio cultural; promoção da participação de pessoas com deficiência em atividades 
artísticas, intelectuais, culturais e esportivas. Na prática, entretanto, os direitos não são efetivados 
e o acesso aos bens culturais ainda é uma realidade distante. 
Apesar do avanço dos recursos tecnológicos, o acesso das pessoas com deficiência às 
programações e aos espaços de arte no Brasil ainda é obstruído por uma série de barreiras. Izabeli 
Sales Matos - integrante da Associação dos Cegos do Estado do Ceará - explica que os 
mecanismos existem em abundância e vem evoluindo cada vez mais. "Entretanto, infelizmente, na 
prática, ainda são poucos os equipamentos preocupados e dispostos a fazer uso desses recursos 
e estratégia para que haja acessibilidade", acredita. 
Para Nilton Câmara, doutorando em Linguística e intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) 
há 20 anos, a pior barreira é a atitudinal. Ele explica que, em algumas situações, as apresentações 
teatrais e shows musicais são taxados como acessíveis, mas o que acontece na realidade é uma 
"gambiarra" - pois não há preocupação com a visibilidade do intérprete ou com a logística de 
iluminação, por exemplo. Recentemente, Nilton ganhou voz nas redes sociais ao questionar a 
atitude do youtuber Whinderson Nunes, que, durante apresentação no programa global Caldeirão 
do Huck, fez uma espécie de "piada" simulando gestos atribuídos a Libras. 
"Quantos milhões de telespectadores assistiram e vão achar que Libras é qualquer coisinha", indaga 
Nilton. Ele se manifestou no Facebook e foi seguido pela comunidade surda. Como resultado, o 
youtuber pediu desculpas publicamente, se reconheceu "ignorante" diante do universo surdo e disse 
estar buscando um professor em São Paulo para aprender a língua. "O lado bom é que abriu uma 
discussão", pondera Nilton Câmara, que também é professor de Libras na Universidade Estadual 
do Ceará (UECE). Galiana Brasil - gerente do Núcleo de Artes Cênicas e também membro do 
Comitê de Acessibilidade do Instituto Itaú Cultural, localizado em São Paulo - explica que há um 
déficit histórico quando se analisa o acesso das pessoas com deficiência aos bens culturais. O 
instituto desenvolve uma série de ações para trazer o público com deficiência, transtornos globais 
de desenvolvimento e altas habilidades para as dependências do equipamento. "O que estamos 
fazendo não é só cumprimento de lei, é um dever histórico. Os direitos foram negados para essas 
pessoas por muitos anos", pontua. 
As ações incluem mecanismos que facilitem a compreensão e a apreciação de exposições, 
presença de intérprete de Libras em todas as programações - presenciais ou virtuais -, e a eficácia 
de estruturas físicas, que incluem rampas e outros elementos. O custo para desenvolver as ações, 
apontado como vilão por muitos gestores de centros culturais, é tratado por Galiana como um 
investimento. "Se a gente vestir a capa do 'é caro', a gente não avança. Tem custo, sim. É preciso 
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trabalho, capacitação de pessoal, estudo. Mas é necessário avaliar como investimento, e não como 
custo. É um público em potencial que fica muito reprimido. E os equipamentos culturais não 
precisam atrair público? Precisamos olhar nessa perspectiva", sustenta a gestora. 
Disponível em: <https://www.opovo.com.br/jornal/vidaearte/2018/07/cultura-para-todos.html> Acesso em: 16 ago. 2018. 
 
Inclusão e acessibilidade na cultura 
Recentemente, o projeto Cinema Inclusivo, realizado em Brasília, pensou na expansão do acesso a deficientes físicos em espaços 
culturais. 
Em meio a escassez de espaços culturais na cidade, há quem tenha que se ausentar ainda mais 
do contato com a criação artística. Há um público de pessoas com deficiência que deixa de 
frequentar espetáculos, palestras e apresentações pela falta ou precariedade de espaços 
acessíveis a toda a população em lugares que nascem com a ideia de propagar arte e cultura ao 
mais amplo e diversos público possível. A acessibilidade é tanto um direito por si só, quanto um 
recurso para que as pessoas com e sem deficiência usufruam com equiparação de oportunidades 
de bens e serviços. O direito à acessibilidade garante o direito à vida. 
Jornalista e especialista em comunicação acessível, Claudia Werneck lembra que todos usufruem 
de uma oferta maior ou menor de recursos de acessibilidade, conscientemente ou não. A jornalista 
estuda a condição humana da deficiência desde 1991 e a pratica na edição de seus livros desde 
1993. Idealizadora da ONG Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, Claudia destaca que não 
se pratica inclusão sem comunicação acessível e inclusiva, lembrando que estes são dois conceitos 
diferentes. 
Werneck se interessou pela deficiência a partir da Síndrome de Down, quando escreveu uma 
reportagem sobre o assunto e percebeu que não abordava a deficiência como tema cotidiano, 
apenas em dias festivos. “O mais eficiente é entender que a deficiência faz parte da vida, não é um 
detalhe da vida. Assim, adolescentes com deficiência podem participar de uma reportagem 
romântica sobre o primeiro beijo, pais e mães com deficiência têm opinião sobre economia 
doméstica e mulheres com deficiência podem ser fotografadas e darem seus depoimentos sobre 
como é, por exemplo, amamentar sem braços”. 
A especialista lembra que a acessibilidade é um direito que beneficia toda a população, e não 
somente a população com deficiência. Mas, como bens culturais acessíveis são raros, o impacto 
deles na vida cultural de pessoas com deficiência é maior. 
Cinema Inclusivo 
Pensando na expansão deste acesso, projetos como o Festival de Cinema Inclusivo, que ocorreu 
recentemente no Cine Brasília, se empenham em levar informação e debate a respeito das questões 
ligadas à deficiência e seu direito de acesso cultural. Curadora do projeto e de outras inciativas na 
área, Barbara Barbosa, enfatiza que o acesso à cultura é direito de todos e é importante que o 
público com deficiência tenha esse direito respeitado com acessibilidade e autonomia. É essencialque esses espaços sejam pensados para todas as pessoas e tipos de plateia, respeitando a Lei 
Brasileira de Inclusão. 
 
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Barbara, intérprete de Libras e Joaquim Emanuel, presidente da Abrasso (foto: Iano Andrade/CB/D.A Press) 
Barbara lembra que a cultura educa, transforma, diverte, traz experiências sociais importantes para 
o desenvolvimento individual e coletivo, permite a troca de opiniões e sensações entre as pessoas. 
“Quando a pessoa com deficiência pode fazer parte dessa experiência tão corriqueira e autônoma 
para quem não tem deficiência, ela tem a certeza de que está incluída na sociedade em que vive”, 
afirma. 
A Instrução Normativa nº 128, de 2016, da Agência Nacional do Cinema (Ancine), determina a 
obrigação das distribuidoras em lançar os títulos com o recurso da audiodescrição. Mas, por ser 
uma decisão nova, muitos deles ainda não são acessíveis. 
As pessoas estão cada vez mais abertas às questões ligadas à deficiência, mas ainda existe falta 
de conhecimento para lidar com o assunto e criar espaços plenamente acessíveis. “O preconceito 
está muito mais ligado à ignorância do que à discriminação pura e simples. Por isso, a inclusão é 
tão importante”, afirma Barbara. Ela lembra que o festival inclusivo é importante por respeitar o 
direito de toda a população a se divertir e ter acesso aos meios culturais. 
Pessoas com deficiência representam 28,3% da população do Distrito Federal. “Se considerarmos 
que essa parcela pode ter sempre um acompanhante, pelo menos, teremos quase 50% da 
população total que deixa de ir ao cinema, por exemplo, por falta de acessibilidade”, destaca 
Barbara. A acessibilidade cultural permite que essa experiência seja plena e prazerosa tanto quanto 
é para alguém que não tenha deficiência. 
Joaquim Emanuel, surdo de nascença, é presidente da Associação Brasileira dos Surdos 
Oralizados (Abrasso) e conta que ficou afastado de espaços culturais por muito tempo, 
especialmente no que se refere à música, ao teatro e ao cinema nacional. “No teatro, me faltam as 
legendas da peça, para os surdos que usam Libras, falta o intérprete; para o cego, a audiodescrição; 
para o cadeirante, rampas, nivelamento, banheiros acessíveis”, afirma. 
Por essas razões, Joaquim e toda a sua família deixaram de ir ao cinema, que perdeu quatro 
pessoas em seu público. “Pense isso multiplicado em 25% da população”. Ele ressalta que o direito 
de ir e vir é fundamental. 
Duas perguntas / Claudia Werneck 
Qual a importância de tornar mais acessíveis e inclusivos os espaços culturais? 
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Não há democratização da cultura sem ampla e diversificada oferta de acessibilidade física e na 
comunicação. E essa oferta de acessibilidade não pode estar localizada, deve permear todas as 
etapas da produção do bem cultural. Pessoas com deficiência podem estar na plateia, ser atrizes, 
pensadoras, produtoras, iluminadoras, cenógrafas... A Escola de Gente idealizou em 2011 a 
campanha ‘Teatro Acessível. Arte, Prazer e Direitos’, com o objetivo de garantir mais autonomia e 
participação de pessoas com deficiência, baixo letramento e mobilidade reduzida, entre outras 
condições, na vida cultural de suas cidades. 
Que questões acha que precisam ser abordadas com mais ênfase? Ainda existe muito 
preconceito? 
Desde cedo nossas famílias e escolas nos ensinam a discriminar, em função de diferenças e 
desigualdades. A criança cresce sem intimidade com o tema que é o mais humano de todos os 
temas: a nossa humanidade. Somos um conjunto indivisível de seres humanos e únicos. Nascemos 
embaralhados e chegamos ao mundo de forma desorganizada. Nunca nasceu alguém idêntico a 
alguém. Nesse contexto, “o diferente” ou “a diferente” não existe. 
Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/02/06/interna_diversao_arte,570909/claudia-
werneck-defende-inclusao-e-acessibilidade-na-cultura.shtml>Acesso em: 16 ago. 2018. 
A diversidade cultural confere riqueza, cor e dinamismo à nossa vida. Trata-se de uma 
abertura intelectual e de uma força motora para o desenvolvimento social e o crescimento 
econômico. Entretanto, conforme demonstrado no texto a seguir, a diversidade cultural, por 
si só, não gera paz e progresso. É necessário aprender sobre a alteridade, desenvolver a 
habilidade de desviar o foco de si mesmo, de modo a dialogar e reconhecer o valor implícito 
em cada cultura. 
Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o 
Desenvolvimento 
 
Mensagem de Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, por ocasião do Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o 
Desenvolvimento, 21 de maio de 2018 
 
O Dia Mundial da Diversidade Cultural nos convida a ir além do reconhecimento da diversidade, 
para que possamos identificar os benefícios do pluralismo cultural, considerado um princípio ético 
e político de respeito igualitário pelas identidades e tradições culturais. Esse princípio está no cerne 
da Declaração Universal da UNESCO sobre a Diversidade Cultural, aprovada pela Organização em 
2001, que reconhece a diversidade cultural como parte do patrimônio comum da humanidade e 
como uma força motora para a paz e a prosperidade. As questões levantadas por essa Declaração, 
elaborada após os atentados de 11 de Setembro, continuam sendo muito relevantes. 
 
Em primeiro lugar, existe a necessidade de proteger as diferentes formas de expressão cultural 
(línguas, artes, artesanatos e estilos de vida), em especial dos povos considerados como minorias, 
para que elas não desapareçam pelo movimento de padronização que acompanha a globalização. 
Estes são elementos essenciais para definir as identidades individuais e coletivas e, com isso, sua 
proteção se enquadra no respeito à dignidade humana. 
 
Em segundo lugar, existe a questão do acesso à vida cultural das pessoas de uma comunidade e 
de um país. Este é também um direito consagrado no Artigo 27 da Declaração Universal dos Direitos 
Humanos, cujo 70º aniversário é comemorado neste ano: “Todo ser humano tem o direito de 
participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso 
científico e de seus benefícios”. 
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Enquanto a revolução tecnológica tornou muitas formas culturais e artísticas mais facilmente 
acessíveis, e o comércio em todo o mundo aumentou exponencialmente, ainda existem muitos 
obstáculos ao acesso igualitário a bens e serviços. Isso afeta em particular as mulheres, as pessoas 
socialmente desfavorecidas e as comunidades minoritárias em seus próprios países. É por isso que 
a UNESCO, neste Dia Mundial, está organizando em Paris um painel de debates sobre essa 
questão central: “Como podemos fazer com que a cultura seja acessível a todos?”. 
 
Por último, ser capaz de construir livremente a própria identidade, tomando como base várias fontes 
culturais, assim como ser capaz de desenvolver de forma criativa o próprio patrimônio, são os 
fundamentos de um desenvolvimento pacífico e sustentável de nossas sociedades. Essa é uma 
questão essencial, assim como um desafio para o futuro: integrar a cultura em uma visão global de 
desenvolvimento. Esse é o desafio lançado, por exemplo, pela Rede de Cidades Criativas, apoiada 
pela UNESCO: abrangendo 180 cidades em 72 países, essa rede tem como objetivo promover um 
modelo de desenvolvimento urbano sustentável, com foco nas artes criativas e com base na 
cooperação ativa entre cidades de todo o mundo. 
 
“Eu não quero que a minha casa seja murada por todos os lados, nem que as minhas janelas sejam 
obstruídas. Eu quero que a cultura de todos os lugares seja soprada através da minha casa da 
forma mais livre possível”. Com essas imagens, Mahatma Gandhi sugeria que a cultura não é um 
patrimônio gravado nas pedras, mas um patrimônio que vive e respira, aberto

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