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Capitulo_5

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V
UTILIDADE E SERVIÇO DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS
Les Joncttone économiques des animaux sont aussi vieilles que 
la civilisation, dont elles caractérisent parfaitement l'existence. – 
SANSON
1 As funções produtivas
Os animais domésticos vivem e se multiplicam graças a funções fisiológicas 
peculiares aos órgãos de que são constituídos. Algumas dessas funções podem ser 
utilizadas pelo homem, que passou a tirar delas determinado proveito. As funções 
fisiológicas de que resulta uma utilidade para o homem, ou um serviço, são as 
chamadas funções produtivas ou funções econômicas ou ainda funções zootécnicas.
Da função fisiológica da glândula mamária resulta um produto: o leite, que o 
homem utiliza na sua alimentação. A função da lactação, sem deixar, de ser uma 
função fisiológica, é, deste modo, também, umas funções produtivas, 
econômicas ou zootécnicas. Do funcionamento do ubre resulta uma utilidade – o 
leite. O andamento do animal, que é o resultado da contração e distensão dos 
músculos dos membros, está no rol das funções fisiológicas. Mas o homem, explorando 
o serviço do aparelho locomotor do animal doméstico, conferiu à função locomotora 
dele a característica de função zootécnica.
A função econômica ou produtiva nada mais é, portanto, do que uma função 
fisiológica que dá margem a uma utilidade ou a um serviço, em proveito do homem. 
É toda a função fisiológica que, em sendo útil ao próprio animal, ainda o é também 
ao homem.
2 Classificação das funções produtivas
Muitas são as funções produtivas dos animais domésticos, bem diversas e 
distintas umas das outras. Variam de acordo com a espécie, com a raça com o sexo do 
animal, e também com o gênero de exploração ou a situação desta.
O conhecimento das inúmeras funções econômicas, dos animais domésticos, ou 
seja, do modo variado e múltiplo de utilização destes – é indispensável para o estudante 
de Zootecnia. Somente assim ele terá uma visão panorâmica, completa, do valor desse 
reduzido grupo de espécies animais (vimos que são pouco mais de trinta) que, como 
aprendemos, sustentam a civilização.
A distribuição das utilidades e dos serviços, dos animais domésticos, em grupos 
mais ou menos bem distintos, de acordo com a predominância desta ou daquela 
civilização - facilita o relevo que essas espécies domésticas devem merecer.
Podemos dizer que são nove as modalidades de utilização dos animais 
domésticos, distribuídos como se segue.
1- Produtos para alimentação humana – Carne e vísceras, leite gordura e 
toucinho, manteiga, ovos, mel. As espécies capazes dessas utilizações são: o Boi, o Zebu, 
o Búfalo, o Porco, o Carneiro, a Cabra, as Aves, as Abelhas, e também o Cavalo, em 
certas regiões da vida difícil, pela densidade da população e encarecimento e escassez da 
carne da vaca1. Finalmente é preciso citar a Cobaia que continua sendo um animal criado 
para a alimentação humana, em alguns países sul-americanos como a Bolívia e o Peru.
2- Matéria-prima para a indústria – Lã, pêlos, seda, peles e couros. O Carneiro, a 
Cabra, o Bicho-da-seda, o Coelho, o Boi, o Zebu e o Búfalo são seus produtores 
1 O Brasil há alguns anos vem exportando carne de cavalo.
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principais. Certas raças de Cabra também têm como função Zootécnica principal, a 
produção de lã; é o caso da Cabra Angorá. A utilização das crinas dos eqüinos inclui-se 
neste grupo.
3- Força motriz – É o caso do aproveitamento do Cavalo, do Jumento e seu 
Híbrido, o Burro, como motor vivo para transporte ou tração. Além desses, o Boi, o 
Zebu, o Búfalo, os Camelos, as Lhamas, a Rena e até o Cão são também empregados, 
embora em menor escala, com o mesmo fim, e, em determinadas regiões, 
exclusivamente ou pelo menos preferentemente: o Boi, em certas regiões, nas quais os 
eqüinos são mais valorizados para outros fins; o Zebu e o Búfalo, na Índia, nas ilhas da 
Ásia e Oceania, na África e parcialmente do Brasil – regiões de clima tropical; os 
Camelos, como animal de carga no norte da África, principalmente do Egito, e ainda em 
certas partes da Ásia; a Lhama, nos Andes; a Rena e o Cão, na tração do trenó, nas 
regiões árticas.
4- Despojos e Adornos – Sob este título podem indicar o serviço de certas aves 
domésticas, cujas plumas e penas são utilizadas como adornos femininos ou na 
confecção de objetos de uso doméstico. A Avestruz é a mais importante delas, pois é 
criada mesmo para a exploração de suas plumas, exclusivamente. As outras aves 
domésticas, entretanto fornecem penas, como despojos e que são empregadas em 
almofadas, travesseiros, colchões, etc.
5- Detritos e excreções – Aqui se incluem aqueles produtos que, pela sua 
classificação, seriam destinado ao abandono se não fora sua especial utilização. Tais 
produtos são: o estrume, em primeiro lugar, utilizado como regenerador das terras e que 
por isso constitui uma matéria-prima da agricultura, tão importante e indispensável que a 
antiga economia rural chegava a considerar o gado um “mal necessário”, mero 
fornecedor de estrume para a lavoura, como se viu. Na ordem de sua importância, como 
fornecedores de estrume, devem se os citados: o Boi, o Zebu, o Búfalo depois o Cavalo, 
o Carneiro, a Cabra, a Lhama, e, por fim, as aves domésticas em geral, cujas excreções 
são das mais ricas, como sejam as das Galinhas, que receberam o nome particular de 
galinhaça ou cama de galinha ou frango, e é muito empregado hoje na recuperação de 
solo, nos cafezais. Segundo Dossin, 100 galinhas (peso médio de 2kg, 270) produzirão, 
em um ano, 1930 kg de galinhaça. Dos mamíferos domésticos o estrume menos valioso é 
o do porco, cujos excrementos são pobres, e por isso, quase sem utilização. A quantidade 
de estrume produzido varia com as espécies, e, ainda, com as condições de criação. De 
modo geral, podemos dizer que um Boi pode produzir quase 50 kg por dia, um Cavalo, 
mais de 20 kg, tal seja seu peso; e o Carneiro e o Porco não produzem mais de 3 kg. 
Além do estrume, podem ser citados, entre os detritos e excreções: o sangue, os ossos, os 
chifres, as unhas, aproveitados e valorizados pelos matadouros frigoríficos. Finalmente, é 
necessário informar que o destino do estrume das Lhamas não tem sua utilização como 
adubo, e sim seu emprego como combustível2.
6- Funções afetivas – Nesta rúbrica têm o serviço amorável do Cão e do Gato . 
De fato, o Gato e os Cães3 de luxo devem ser considerados como meros animais afetivos, 
2 Ainda a pouco lemos em uma revista (Rev. do Inst. Laticínios Cândidos Tostes, Juiz de Fora, dezembro 
1963) a notícia de uma exploração do estrume das vacas leiteiras, em uma fazenda da Suécia, o qual 
convenientemente enriquecido, tornou-se um produto de grande aceitação, e o resultado era de que esse 
estrume dava mais lucro do que o... Leite!
3 Uma das mais emocionantes passagens literárias, que tem o Cão como objeto, é aquela de Honéro, na 
Odisséia, quando ele escreve a chegada de Ulisses, de volta de sua longa e tenerosa viagem, e não 
reconhecido por Penélope, sua esposa, nem por seus amigos. Somente seu cão Argos, velho, quase cego e 
abandonado, é que o reconhece agitando a cauda, e baixando a cabeça, num débil gesto de alegria, já sem 
forças para se mover e festejar o amigo.
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habitantes do lar, amigos e companheiros do homem. Este, aliás, parece ter sido o 
primeiro serviço ou utilidade que o animal prestou ao homem primitivo. Na verdade, os 
animais primeiramente criados por eles lhe serviram como companheiros ou como tabus 
objetos de incipiente veneração religiosa. Aqui também devemos incluir, finalmente, por 
extensão, todas as raças de aves, de utilidade ornamental: Pavões, Cisnes e Galinhas.
7- Faro e coragemdo cão – Esta função zootécnica, que o homem explora no 
cão, não se acha citada em nenhum tratadista. Nem por isso deve ela ser considerada sem 
valor ou inexistente. Aqui se exploram duas coisas: o olfato do cão – faro, elevado ao 
grau de maior perfeição entre as espécies domésticas, e a sua coragem – notável 
qualidade moral, seja para a caça, seja para auxiliar as ambulâncias de guerra, a polícia 
civil, seja ainda para a defesa do próprio homem e da sua propriedade. Este serviço e o 
auxilio na caça foram dos primeiros que o homem pediu ao animal já domesticado, e em 
seu benefício direto.
8- Função humanitária – É o serviço que a cobaia e o coelho prestam ao homem, 
como animais clássicos de laboratório. A cobaia foi domesticada pelos Incas, 
provavelmente com esse fim, era um animal de açougue, utilizada que ainda hoje tem no 
Peru e Bolívia e outros países da América do Sul, onde ela continua como vitualha. O 
eqüino pode também entrar neste grupo por ser o animal utilizado na produção de soro 
antiofídico, bem como a galinha, quando utilizada em laboratório para extração de 
sangue pelo inseto denominado popularmente de barbeiro em pesquisas desenvolvidas 
para combater a doença de chagas.
9- Capitais vivos – Finalmente têm a considerar o animal como um capital que 
cresce de valor, como a idade, e isso residem uma grande diferença entre a máquina viva 
e a máquina bruta. Enquanto esta só pode funcionar a partir do dia em que esta pronta e 
acabada, a máquina animal pode produzir e trabalhar sem ter alcançado ainda o termo de 
seu desenvolvimento. Assim, o animal, ao mesmo tempo em que vai sendo explorado em 
uma função produtiva qualquer, própria à sua espécie e raça, vai aumentando de valor. 
Neste caso está “criando” capital, enquanto dá renda com a exploração paralela de sua 
função econômica, própria. Essa “criação” de capital é que constitui a função produtiva 
especial, de que nos ocupamos. Uma novilha com 30 meses já pode dar cria, e, no 
entanto ainda continuará a crescer, isto é, ainda estará aumentando de valor, apesar de já 
estar explorada como máquina viva transformadora e valorizadora de forragens. A 
função de capital vivo, dos animais domésticos, não é, pois incompatível com exploração 
de outras funções.
Alcançando a idade adulta, atingiu o animal o apogeu de seu valor e suas 
funções. Daí por diante ele, se bem que continua a produzir renda, devido à exploração 
de suas funções zootécnicas, cessa, todavia de aumentar de valor, em geral, deixando de 
acumular capital. Sua valorização permanece estacionária durante algum tempo, para 
depois entrar a declinar, já então se desvalorizando como qualquer máquina, sujeita à 
usura. Atingiu a “velhice zootécnica”. Mas é possível evitar esse declínio, ou sustar sua 
agravação, pois, desde que o animal entrou a se desvalorizar, a decrescer sua produção e 
perder seu valor como capital vivo, a economia recomenda sua baixa, remetendo-o ao 
matadouro, onde dará sua última renda.
Pelo exposto abaixo, desprezando-se os fenômenos da precocidade, pode-se 
verificar que:
O Cavalo, o Boi, o Zebu crescem mais ou menos até os cincos anos, e conservam 
seu valor máximo estacionário até os 7-10 anos, conforme os casos. O carneiro cresce até 
os quatro anos e conserva seu valor máximo até os seis anos. O porco cresce até os dois 
anos, e conserva seu valor máximo até os três anos. A Galinha cresce até um ano, e 
conserva sua valorização até os dois anos. E assim por diante. Em face disto, o criador 
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deve, portanto, ter o cuidado de não deixar o animal entra na face de declínio. Isto é, da 
“velhice zootécnica”. Um animal, que alcançou seu máximo de valor e seu máximo de 
rendimento zootécnico, deve ser conservado até o momento que começa a decrescer sua 
produção (em quantidade e em qualidade). Nesse dia, deve ser substituído por outro 
novo, com as faculdades zootécnicas nascentes, e que, crescendo, está aumentando seu 
valor como capital vivo. Um rebanho ou um galinhame, que não for refeito 
prudentemente, de acordo com essas bases, deixará de dar o máximo de lucro.
Certamente os animais destinados a fins de reprodução não devem ser incluídos 
aqui, nestas considerações, porquanto seu valor já depende de outros fatores, que não a 
função produtiva, apenas, e o seu crescimento e o conseqüente aumento da capacidade 
produtiva. Os reprodutores fazem exceção, pois, a essa regra, e devem ser conservados o 
maior tempo possível, desde que tenham demonstrado alta qualidade, como raçadores. E, 
em tal caso, verifica-se até o contrário, algumas vezes, o aumento de seu valor, pelo 
mérito da descendência que geraram.
3 Especialização das funções
A especialização das funções zootécnicas tem de ser encarar por dois pontos de 
vista: teórico e prático.
Do ponto de vista teórico há a dizer que o princípio da especialização das 
funções, como foi visto, consiste em desenvolver no animal uma única função 
zootécnica, e com isso conseguir-se um rendimento máximo.
Mas, certamente, sem exagerar a especialização, muito preconizada por antigos 
zootecnistas, como Baudement, a fim de evitar um estado patológico incompatível com a 
exploração econômica dos gados. Isto porque só o animal sadio, com seus órgãos 
funcionando harmoniosamente, é capaz de produzir renda.
Do ponto de vista prático há que considerar alguns fatores, que influem no 
processo de transporte, comercialização e consumo de certos produtos da pecuária, como 
o leite, a manteiga, o queijo, a carne – tais como localização da fazenda, progresso social 
da região, mão-de-obra e situação dos mercados consumidores. Sem falar nos meios de 
produção, propriamente.
É lógico que perto de uma capital, onde os terrenos são de preço elevado, e os 
lucros devam ser imediatos e compensadores, qualquer exploração animal há de ser 
necessariamente especializada, e em certo sentido. Não é razoável que aí se comprem 
terras para engordar bois, mais sim para a criação de vacas, cujo leite, em tal situação, 
terá consumo certo e garantido, mesmo com preferência, de onde lucros imediatos, pois 
dia a dia crescerá esse consumo com a melhoria dos preços da venda, o que quer dizer 
nos lucros também. É o caso das zonas pastoris do Rio e de São Paulo, no Vale do 
Paraíba. É o caso ainda dos aviários, para a produção de aves e ovos, localizados nos 
arredores dos grandes centros de consumo e de exportação.
Ao se considerar o caso do sertão, com sua abundância de pastagens, seria contra-
indicado pretender criar-se aí animais leiteiros: o consumo local não esgotaria as 
possibilidades de produção e o transporte ou seria difícil ou muito caro. A transformação 
desse leite em manteiga não parece indicada ao se considerarmos que não há aí braço 
operário hábil, e ainda o transporte será outro obstáculo sério. Quando muito, poder-se-ia 
explorar aí a indústria de queijo, fácil de ser transportado em qualquer oportunidade 
favorável. Aí só apresenta possibilidade econômica à criação de animais para açougue, 
levando-se em consideração, até certo ponto a qualidade da carne. É o caso de certas 
zonas como Marajó, Mato Grosso, Goiás.
Nas situações menos longínquas ou intermediárias, é natural e indicado que se 
transforme o leite em manteiga e em queijo de consumo imediato, e os machos, depois 
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de engordados, serão vendidos para o açougue. Ou em leite em pó, fácil de distribuir 
pelos centros de consumo afastados. Temos, portanto de escolher uma raça de dupla 
utilidade ou de aptidões mistas. É o caso da maior parte das áreas pastoris de Minas 
Gerais, onde as raças mistas, vitoriosa na aclimação, serão as mais indicadas. Álias, os 
mestiços criados nessa zona se aproximam muito do tipo de gado misto, mais do que de 
corteou leiteiro.
Nisto, as raças zebuínas se mostram vitoriosas, pois podem servir para exploração 
mista com pleno êxito (Gir e Guzerá).
4 Funções produtivas e as escolhas dos reprodutores
A escolha dos animais para reprodução baseia-se, como se sabe, nas suas funções 
produtivas, e não apenas na conformação exterior, na pelagem. O melhorista4 firma suas 
preferências quando conhece o valor do animal como produtor. Isto quer dizer que muito 
lhe interessa as funções produtivas, próprias do animal. Na vaca de leite, a quantidade 
deste e sua qualidade. No cavalo de corrida, a sua velocidade. No carneiro, a quantidade 
e a qualidade e lã. Na galinha a postura. No cão de caça, a finura de seu faro e sua 
coragem. No animal de corte, a presteza de seu crescimento, propriamente, precocidade. 
É o que se chama medir a capacidade produtiva do animal, ou seja medir sua função 
produtiva peculiar, para acertar na escolha dos animais destinados à reprodução.
5 Função e aptidão reprodutivas
Quando o técnico procura medir as funções produtivas de um animal, diz-se que 
está determinando o grau das aptidões zootécnicas desse animal. A aptidão, entretanto, 
não deve por isso ser confundida com a função.
Aptidão zootécnica ou produtiva é a disposição natural que o animal doméstico 
apresenta para esta ou aquela função econômica. A aptidão é a soma das virtualidades 
produtivas, que o animal transmite aos seus descendentes. Assim, a vaca leiteira 
transmite a ótima, a boa ou a má aptidão para a lactação. O touro de raça leiteira também 
transmite essas aptidões boas, ótimas ou medíocres, embora seja incapaz de exibir a 
função respectiva, propriamente. O mesmo acontece com o galo, com respeito à aptidão 
oveira.
A função produtiva é o ato fisiológico do qual resulta utilidade ou serviço para o 
homem. A aptidão é esse caráter em estado potencial. É, portanto aquilo capaz de ser 
hereditariamente transmissível. É afinal o que mais interessa ao melhorista.
A aptidão produtiva nasce com o animal. Ele não a adquire por efeito de 
influências exteriores. Sem estas, todavia, a aptidão não pode se revelar.
A função é provocada ou estimulada pelo homem, clima, alimentação, exercícios 
etc.
6 Utilização e tipo zootécnico
A utilização dos grandes animais domésticos depende de seu tipo zootécnico. 
4 Melhorista – expressão minha para designar o criador ou o técnico, em geral, que se dedica ao 
melhoramento de uma raça de animais ou de plantas, baseando nos princípios da genética. Serve para 
substituir, em certo sentido, o termo americano breeder, intraduzível, e de significado mais amplo. É o 
melhorador das plantas e dos animais, no sentido pragmático (melhorar + ista, pois o sufixo “ista”, dizem 
os gramáticos, é o mais próprio para designar pessoas, e, ao mesmo tempo, emprego, profissão, etc). Eis 
porque ainda parece aceitável o neologismo imaginado em 1928, e que felizmente corre mundo.
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Conforme este, assim será sua função econômica (sua utilização) predominante.
Então “tipo”, em Zootecnia, é uma conformação apropriada a um fim econômico, 
utilitário.
Na seleção do gado bovino, os europeus estabeleceram desde logo dois tipos 
clássicos: para leite e para carne, cada um com sua conformação inconfundível. O 
mesmo foi feito para a exploração dos eqüinos onde há um tipo de sela (para ser 
montado) e um tipo de tiro (para tração). O mesmo se pode dizer para as galinhas: tipo 
do Mediterrâneo (para ovos), e tipo asiático (para carne), além do tipo misto (para ovos 
e carne) das galinhas americanas. Tipo misto, esse, também existente no caso dos 
bovinos, produtores de leite e carne.
Os americanos, no caso do gado leiteiro, sobretudo, passaram a adotar o “tipo” 
como básico na classificação dos animais para reprodução, estabelecendo uma escala de 
julgamento assim concebida: excelente (90 ou mais pontos), muito bom (85-90 pontos), 
acima de bom (80-85 pontos), bom (75-80 pontos) e sofrível (abaixo de 75). Esse 
julgamento dos animais, por esta escala de pontos, exige muita prática e proficiência, 
mas é ele adotado com bom êxito.
Discute-se muito se o julgamento pelo tipo corresponde a este ou aquele nível de 
produção ou, em outras palavras, se um animal classificado como “excelente” será um 
animal de alto nível de produção.
No caso do gado leiteiro, no qual é maior a experiência, tem-se verificado 
sensível concordância entre o tipo e a produtividade do animal. Todos os animais puros, 
em seleção, das raças leiteiras, são submetidos à classificação pelo tipo nos Estados 
Unidos. No “pedigree” ou genealogia de um animal, aparece o registro do número de 
pontos que ele obteve, no julgamento pelo tipo de raça.
E é justamente nos Estados Unidos que essa prática se tornou mais numerosa e 
freqüente. E aí, portanto, onde o estudo da correlação entre tipo e produtividade tem sido 
feito, que se tem mostrado uma prática vantajosa.
Isso não quer dizer, porém, que o julgamento pelo “tipo” possa substituir o 
julgamento pela medida da lactação. A ordenha e o balde é que nos dizem, com mais 
segurança, sobre os méritos de um rebanho como produtor de leite.
As duas práticas devem ser adotadas – essa é a recomendação que se tira da 
observação do trabalho dos norte-americanos. E é sua técnica que devemos adotar ou 
mesmo copiar e não sua terminologia, esdrúxula por vezes, e outras vezes sem valor 
intrínseco e que não sabemos traduzir ou traduzirmos mal.
Para provar que deve haver uma relação entre forma do animal (tipo) e sua 
lactação, há várias observações. Uma das mais convincentes foi feita com mais de 10 mil 
vacas, classificadas conforme seu “tipo leiteiro”, com 27 mil registro de lactação 
(produção média de 305 dias, 2 ordenhas). O resultado esta expresso no quadro seguinte, 
onde temos a média de lactação e da gordura produzida e expressa em quilogramas:
N° de vacas Tipo Leite Gordura
479 Excelente 4.530 187
3.459 Muito bom 4.302 176
4.242 Acima do bom 4.127 168
1.736 Bom 4.003 162
234 Sofrível 3.943 159
Como se vê, a escala decrescente do "tipo" acompanhou a escala também 
decrescente da produtividade.
Não devemos, porém, exagerar o valor dessa correlação entre tipo e 
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produtividade. Essa correlação resulta de uma repetida seleção do gado leiteiro, 
no que concerne paralelamente ao "tipo" e a produção medida pela ordenha. 
Assim, provavelmente há a seleção do genótipo pelo fenótipo, simultaneamente 
(tipo e lactação). Isso leva a unir nos mesmos animais, a carga genética mais 
favorável para um e outro atributo. Além disso, há um descarte constante dos 
animais do "tipo" inferior, o que conduz a formação de um rebanho com melhor 
tipo, e leiteiro.
Aliás, a experiência dos criadores de Ayrshire, nos Estados Unidos, mostrou que 
a seleção baseada no tipo provoca um melhoramento deste em cada geração. No 
caso do nosso Zebu-leiteiro, podemos pensar em selecioná-lo pelo tipo? Esta 
indagação nos leva a outra pergunta ou a outras. Qual o "tipo leiteiro" dos 
zebuínos? O "tipo leiteiro" do gado europeu será o mesmo do gado indiano? Este 
pode ser selecionado tendo-se por base a forma clássica de "cunha" indicativa 
de aptidão leiteira?
As respostas a essas perguntas só serão válidas quando forem 
realizados trabalhos semelhantes, feitos com vacas européias, para 
verificação dessa correlação entre tipo e produção respectiva.
A “priori” é duvidoso que o tipo leiteiro europeu possa corresponder ao 
tipo leiteiro indiano. Isso porque o gado leiteiro explorado na Índia, do 
tronco Bos indicus , não sofreu nenhuma seleção, ou seja, uma multiplicação 
dirigida pela escolha dereprodutores tendo em vista um "tipo", no sentido 
econômico, como ocorreu com o gado europeu leiteiro, do tronco Bos taurus.
O tipo leiteiro Indiano tem, pois, de ser estabelecido, levando-se em 
conta, antes de tudo, as qualidades e características de gado tropical, que o 
Zebu apresenta, como fator de sua vitória nos trópicos.
Questionário N° 5
1 - Que é função produtiva, e quais as expressões sinônimas desta? 2 - Haverá alguma 
distinção entre função fisiológica e função produtiva? 3 - Quais os nove grupos nos quais 
distribuímos os vários modos de utilização dos animais domésticos? 4 - Fale sobre os 
produtos alimentares. 5 - Quais as matérias-primas, quais os despojos e adornos, e quais 
os detritos e excreções que o homem utiliza certas espécies domésticas, que ele cria, e 
quais essas espécies? 6 - Fale sobre a força motriz como função zootécnica. 7 - Qual a 
utilização zootécnica do cão e do gato? 8 - Qual o primeiro “serviço” que o animal 
doméstico prestou ao homem? 9 - Há uma função que podemos chamar de humanitária? 
10 - Que é função “capital vivo” em zootecnia? 11 - Qual o ciclo de aproveitamento das 
várias espécies domésticas e qual a indicação prática a tirar disso? 12 - Encare, sob o 
ponto de vista teórico e prático, a especialização das funções produtivas. 13 - 
Importância da função produtiva para a escolha de reprodutores. 14 - Distinga função 
produtiva de aptidão produtiva. 15 - Qual a mais importante para a exploração dos gados 
e qual a mais importante para o melhoramento de raça? 16 - O que é tipo em Zootecnia? 
17 - Qual a escala de pontos do tipo de bovinos leiteiros? 18 - Há concordância entre o 
tipo leiteiro e o rendimento real do animal? 19 - Deve o julgamento pelo tipo substituir a 
medida da lactação? - uma prática exclui a outra? 20 - A alta correlação entre tipo e 
lactação resulta em quê? 21 - Podemos pensar em selecionar Zebu-leiteiro pelo “tipo 
leiteiro” europeu? 22 - Haverá um tipo leiteiro para zebuínos? - em que deverá basear-
se?
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