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V UTILIDADE E SERVIÇO DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS Les Joncttone économiques des animaux sont aussi vieilles que la civilisation, dont elles caractérisent parfaitement l'existence. – SANSON 1 As funções produtivas Os animais domésticos vivem e se multiplicam graças a funções fisiológicas peculiares aos órgãos de que são constituídos. Algumas dessas funções podem ser utilizadas pelo homem, que passou a tirar delas determinado proveito. As funções fisiológicas de que resulta uma utilidade para o homem, ou um serviço, são as chamadas funções produtivas ou funções econômicas ou ainda funções zootécnicas. Da função fisiológica da glândula mamária resulta um produto: o leite, que o homem utiliza na sua alimentação. A função da lactação, sem deixar, de ser uma função fisiológica, é, deste modo, também, umas funções produtivas, econômicas ou zootécnicas. Do funcionamento do ubre resulta uma utilidade – o leite. O andamento do animal, que é o resultado da contração e distensão dos músculos dos membros, está no rol das funções fisiológicas. Mas o homem, explorando o serviço do aparelho locomotor do animal doméstico, conferiu à função locomotora dele a característica de função zootécnica. A função econômica ou produtiva nada mais é, portanto, do que uma função fisiológica que dá margem a uma utilidade ou a um serviço, em proveito do homem. É toda a função fisiológica que, em sendo útil ao próprio animal, ainda o é também ao homem. 2 Classificação das funções produtivas Muitas são as funções produtivas dos animais domésticos, bem diversas e distintas umas das outras. Variam de acordo com a espécie, com a raça com o sexo do animal, e também com o gênero de exploração ou a situação desta. O conhecimento das inúmeras funções econômicas, dos animais domésticos, ou seja, do modo variado e múltiplo de utilização destes – é indispensável para o estudante de Zootecnia. Somente assim ele terá uma visão panorâmica, completa, do valor desse reduzido grupo de espécies animais (vimos que são pouco mais de trinta) que, como aprendemos, sustentam a civilização. A distribuição das utilidades e dos serviços, dos animais domésticos, em grupos mais ou menos bem distintos, de acordo com a predominância desta ou daquela civilização - facilita o relevo que essas espécies domésticas devem merecer. Podemos dizer que são nove as modalidades de utilização dos animais domésticos, distribuídos como se segue. 1- Produtos para alimentação humana – Carne e vísceras, leite gordura e toucinho, manteiga, ovos, mel. As espécies capazes dessas utilizações são: o Boi, o Zebu, o Búfalo, o Porco, o Carneiro, a Cabra, as Aves, as Abelhas, e também o Cavalo, em certas regiões da vida difícil, pela densidade da população e encarecimento e escassez da carne da vaca1. Finalmente é preciso citar a Cobaia que continua sendo um animal criado para a alimentação humana, em alguns países sul-americanos como a Bolívia e o Peru. 2- Matéria-prima para a indústria – Lã, pêlos, seda, peles e couros. O Carneiro, a Cabra, o Bicho-da-seda, o Coelho, o Boi, o Zebu e o Búfalo são seus produtores 1 O Brasil há alguns anos vem exportando carne de cavalo. 78 principais. Certas raças de Cabra também têm como função Zootécnica principal, a produção de lã; é o caso da Cabra Angorá. A utilização das crinas dos eqüinos inclui-se neste grupo. 3- Força motriz – É o caso do aproveitamento do Cavalo, do Jumento e seu Híbrido, o Burro, como motor vivo para transporte ou tração. Além desses, o Boi, o Zebu, o Búfalo, os Camelos, as Lhamas, a Rena e até o Cão são também empregados, embora em menor escala, com o mesmo fim, e, em determinadas regiões, exclusivamente ou pelo menos preferentemente: o Boi, em certas regiões, nas quais os eqüinos são mais valorizados para outros fins; o Zebu e o Búfalo, na Índia, nas ilhas da Ásia e Oceania, na África e parcialmente do Brasil – regiões de clima tropical; os Camelos, como animal de carga no norte da África, principalmente do Egito, e ainda em certas partes da Ásia; a Lhama, nos Andes; a Rena e o Cão, na tração do trenó, nas regiões árticas. 4- Despojos e Adornos – Sob este título podem indicar o serviço de certas aves domésticas, cujas plumas e penas são utilizadas como adornos femininos ou na confecção de objetos de uso doméstico. A Avestruz é a mais importante delas, pois é criada mesmo para a exploração de suas plumas, exclusivamente. As outras aves domésticas, entretanto fornecem penas, como despojos e que são empregadas em almofadas, travesseiros, colchões, etc. 5- Detritos e excreções – Aqui se incluem aqueles produtos que, pela sua classificação, seriam destinado ao abandono se não fora sua especial utilização. Tais produtos são: o estrume, em primeiro lugar, utilizado como regenerador das terras e que por isso constitui uma matéria-prima da agricultura, tão importante e indispensável que a antiga economia rural chegava a considerar o gado um “mal necessário”, mero fornecedor de estrume para a lavoura, como se viu. Na ordem de sua importância, como fornecedores de estrume, devem se os citados: o Boi, o Zebu, o Búfalo depois o Cavalo, o Carneiro, a Cabra, a Lhama, e, por fim, as aves domésticas em geral, cujas excreções são das mais ricas, como sejam as das Galinhas, que receberam o nome particular de galinhaça ou cama de galinha ou frango, e é muito empregado hoje na recuperação de solo, nos cafezais. Segundo Dossin, 100 galinhas (peso médio de 2kg, 270) produzirão, em um ano, 1930 kg de galinhaça. Dos mamíferos domésticos o estrume menos valioso é o do porco, cujos excrementos são pobres, e por isso, quase sem utilização. A quantidade de estrume produzido varia com as espécies, e, ainda, com as condições de criação. De modo geral, podemos dizer que um Boi pode produzir quase 50 kg por dia, um Cavalo, mais de 20 kg, tal seja seu peso; e o Carneiro e o Porco não produzem mais de 3 kg. Além do estrume, podem ser citados, entre os detritos e excreções: o sangue, os ossos, os chifres, as unhas, aproveitados e valorizados pelos matadouros frigoríficos. Finalmente, é necessário informar que o destino do estrume das Lhamas não tem sua utilização como adubo, e sim seu emprego como combustível2. 6- Funções afetivas – Nesta rúbrica têm o serviço amorável do Cão e do Gato . De fato, o Gato e os Cães3 de luxo devem ser considerados como meros animais afetivos, 2 Ainda a pouco lemos em uma revista (Rev. do Inst. Laticínios Cândidos Tostes, Juiz de Fora, dezembro 1963) a notícia de uma exploração do estrume das vacas leiteiras, em uma fazenda da Suécia, o qual convenientemente enriquecido, tornou-se um produto de grande aceitação, e o resultado era de que esse estrume dava mais lucro do que o... Leite! 3 Uma das mais emocionantes passagens literárias, que tem o Cão como objeto, é aquela de Honéro, na Odisséia, quando ele escreve a chegada de Ulisses, de volta de sua longa e tenerosa viagem, e não reconhecido por Penélope, sua esposa, nem por seus amigos. Somente seu cão Argos, velho, quase cego e abandonado, é que o reconhece agitando a cauda, e baixando a cabeça, num débil gesto de alegria, já sem forças para se mover e festejar o amigo. 79 habitantes do lar, amigos e companheiros do homem. Este, aliás, parece ter sido o primeiro serviço ou utilidade que o animal prestou ao homem primitivo. Na verdade, os animais primeiramente criados por eles lhe serviram como companheiros ou como tabus objetos de incipiente veneração religiosa. Aqui também devemos incluir, finalmente, por extensão, todas as raças de aves, de utilidade ornamental: Pavões, Cisnes e Galinhas. 7- Faro e coragemdo cão – Esta função zootécnica, que o homem explora no cão, não se acha citada em nenhum tratadista. Nem por isso deve ela ser considerada sem valor ou inexistente. Aqui se exploram duas coisas: o olfato do cão – faro, elevado ao grau de maior perfeição entre as espécies domésticas, e a sua coragem – notável qualidade moral, seja para a caça, seja para auxiliar as ambulâncias de guerra, a polícia civil, seja ainda para a defesa do próprio homem e da sua propriedade. Este serviço e o auxilio na caça foram dos primeiros que o homem pediu ao animal já domesticado, e em seu benefício direto. 8- Função humanitária – É o serviço que a cobaia e o coelho prestam ao homem, como animais clássicos de laboratório. A cobaia foi domesticada pelos Incas, provavelmente com esse fim, era um animal de açougue, utilizada que ainda hoje tem no Peru e Bolívia e outros países da América do Sul, onde ela continua como vitualha. O eqüino pode também entrar neste grupo por ser o animal utilizado na produção de soro antiofídico, bem como a galinha, quando utilizada em laboratório para extração de sangue pelo inseto denominado popularmente de barbeiro em pesquisas desenvolvidas para combater a doença de chagas. 9- Capitais vivos – Finalmente têm a considerar o animal como um capital que cresce de valor, como a idade, e isso residem uma grande diferença entre a máquina viva e a máquina bruta. Enquanto esta só pode funcionar a partir do dia em que esta pronta e acabada, a máquina animal pode produzir e trabalhar sem ter alcançado ainda o termo de seu desenvolvimento. Assim, o animal, ao mesmo tempo em que vai sendo explorado em uma função produtiva qualquer, própria à sua espécie e raça, vai aumentando de valor. Neste caso está “criando” capital, enquanto dá renda com a exploração paralela de sua função econômica, própria. Essa “criação” de capital é que constitui a função produtiva especial, de que nos ocupamos. Uma novilha com 30 meses já pode dar cria, e, no entanto ainda continuará a crescer, isto é, ainda estará aumentando de valor, apesar de já estar explorada como máquina viva transformadora e valorizadora de forragens. A função de capital vivo, dos animais domésticos, não é, pois incompatível com exploração de outras funções. Alcançando a idade adulta, atingiu o animal o apogeu de seu valor e suas funções. Daí por diante ele, se bem que continua a produzir renda, devido à exploração de suas funções zootécnicas, cessa, todavia de aumentar de valor, em geral, deixando de acumular capital. Sua valorização permanece estacionária durante algum tempo, para depois entrar a declinar, já então se desvalorizando como qualquer máquina, sujeita à usura. Atingiu a “velhice zootécnica”. Mas é possível evitar esse declínio, ou sustar sua agravação, pois, desde que o animal entrou a se desvalorizar, a decrescer sua produção e perder seu valor como capital vivo, a economia recomenda sua baixa, remetendo-o ao matadouro, onde dará sua última renda. Pelo exposto abaixo, desprezando-se os fenômenos da precocidade, pode-se verificar que: O Cavalo, o Boi, o Zebu crescem mais ou menos até os cincos anos, e conservam seu valor máximo estacionário até os 7-10 anos, conforme os casos. O carneiro cresce até os quatro anos e conserva seu valor máximo até os seis anos. O porco cresce até os dois anos, e conserva seu valor máximo até os três anos. A Galinha cresce até um ano, e conserva sua valorização até os dois anos. E assim por diante. Em face disto, o criador 80 deve, portanto, ter o cuidado de não deixar o animal entra na face de declínio. Isto é, da “velhice zootécnica”. Um animal, que alcançou seu máximo de valor e seu máximo de rendimento zootécnico, deve ser conservado até o momento que começa a decrescer sua produção (em quantidade e em qualidade). Nesse dia, deve ser substituído por outro novo, com as faculdades zootécnicas nascentes, e que, crescendo, está aumentando seu valor como capital vivo. Um rebanho ou um galinhame, que não for refeito prudentemente, de acordo com essas bases, deixará de dar o máximo de lucro. Certamente os animais destinados a fins de reprodução não devem ser incluídos aqui, nestas considerações, porquanto seu valor já depende de outros fatores, que não a função produtiva, apenas, e o seu crescimento e o conseqüente aumento da capacidade produtiva. Os reprodutores fazem exceção, pois, a essa regra, e devem ser conservados o maior tempo possível, desde que tenham demonstrado alta qualidade, como raçadores. E, em tal caso, verifica-se até o contrário, algumas vezes, o aumento de seu valor, pelo mérito da descendência que geraram. 3 Especialização das funções A especialização das funções zootécnicas tem de ser encarar por dois pontos de vista: teórico e prático. Do ponto de vista teórico há a dizer que o princípio da especialização das funções, como foi visto, consiste em desenvolver no animal uma única função zootécnica, e com isso conseguir-se um rendimento máximo. Mas, certamente, sem exagerar a especialização, muito preconizada por antigos zootecnistas, como Baudement, a fim de evitar um estado patológico incompatível com a exploração econômica dos gados. Isto porque só o animal sadio, com seus órgãos funcionando harmoniosamente, é capaz de produzir renda. Do ponto de vista prático há que considerar alguns fatores, que influem no processo de transporte, comercialização e consumo de certos produtos da pecuária, como o leite, a manteiga, o queijo, a carne – tais como localização da fazenda, progresso social da região, mão-de-obra e situação dos mercados consumidores. Sem falar nos meios de produção, propriamente. É lógico que perto de uma capital, onde os terrenos são de preço elevado, e os lucros devam ser imediatos e compensadores, qualquer exploração animal há de ser necessariamente especializada, e em certo sentido. Não é razoável que aí se comprem terras para engordar bois, mais sim para a criação de vacas, cujo leite, em tal situação, terá consumo certo e garantido, mesmo com preferência, de onde lucros imediatos, pois dia a dia crescerá esse consumo com a melhoria dos preços da venda, o que quer dizer nos lucros também. É o caso das zonas pastoris do Rio e de São Paulo, no Vale do Paraíba. É o caso ainda dos aviários, para a produção de aves e ovos, localizados nos arredores dos grandes centros de consumo e de exportação. Ao se considerar o caso do sertão, com sua abundância de pastagens, seria contra- indicado pretender criar-se aí animais leiteiros: o consumo local não esgotaria as possibilidades de produção e o transporte ou seria difícil ou muito caro. A transformação desse leite em manteiga não parece indicada ao se considerarmos que não há aí braço operário hábil, e ainda o transporte será outro obstáculo sério. Quando muito, poder-se-ia explorar aí a indústria de queijo, fácil de ser transportado em qualquer oportunidade favorável. Aí só apresenta possibilidade econômica à criação de animais para açougue, levando-se em consideração, até certo ponto a qualidade da carne. É o caso de certas zonas como Marajó, Mato Grosso, Goiás. Nas situações menos longínquas ou intermediárias, é natural e indicado que se transforme o leite em manteiga e em queijo de consumo imediato, e os machos, depois 81 de engordados, serão vendidos para o açougue. Ou em leite em pó, fácil de distribuir pelos centros de consumo afastados. Temos, portanto de escolher uma raça de dupla utilidade ou de aptidões mistas. É o caso da maior parte das áreas pastoris de Minas Gerais, onde as raças mistas, vitoriosa na aclimação, serão as mais indicadas. Álias, os mestiços criados nessa zona se aproximam muito do tipo de gado misto, mais do que de corteou leiteiro. Nisto, as raças zebuínas se mostram vitoriosas, pois podem servir para exploração mista com pleno êxito (Gir e Guzerá). 4 Funções produtivas e as escolhas dos reprodutores A escolha dos animais para reprodução baseia-se, como se sabe, nas suas funções produtivas, e não apenas na conformação exterior, na pelagem. O melhorista4 firma suas preferências quando conhece o valor do animal como produtor. Isto quer dizer que muito lhe interessa as funções produtivas, próprias do animal. Na vaca de leite, a quantidade deste e sua qualidade. No cavalo de corrida, a sua velocidade. No carneiro, a quantidade e a qualidade e lã. Na galinha a postura. No cão de caça, a finura de seu faro e sua coragem. No animal de corte, a presteza de seu crescimento, propriamente, precocidade. É o que se chama medir a capacidade produtiva do animal, ou seja medir sua função produtiva peculiar, para acertar na escolha dos animais destinados à reprodução. 5 Função e aptidão reprodutivas Quando o técnico procura medir as funções produtivas de um animal, diz-se que está determinando o grau das aptidões zootécnicas desse animal. A aptidão, entretanto, não deve por isso ser confundida com a função. Aptidão zootécnica ou produtiva é a disposição natural que o animal doméstico apresenta para esta ou aquela função econômica. A aptidão é a soma das virtualidades produtivas, que o animal transmite aos seus descendentes. Assim, a vaca leiteira transmite a ótima, a boa ou a má aptidão para a lactação. O touro de raça leiteira também transmite essas aptidões boas, ótimas ou medíocres, embora seja incapaz de exibir a função respectiva, propriamente. O mesmo acontece com o galo, com respeito à aptidão oveira. A função produtiva é o ato fisiológico do qual resulta utilidade ou serviço para o homem. A aptidão é esse caráter em estado potencial. É, portanto aquilo capaz de ser hereditariamente transmissível. É afinal o que mais interessa ao melhorista. A aptidão produtiva nasce com o animal. Ele não a adquire por efeito de influências exteriores. Sem estas, todavia, a aptidão não pode se revelar. A função é provocada ou estimulada pelo homem, clima, alimentação, exercícios etc. 6 Utilização e tipo zootécnico A utilização dos grandes animais domésticos depende de seu tipo zootécnico. 4 Melhorista – expressão minha para designar o criador ou o técnico, em geral, que se dedica ao melhoramento de uma raça de animais ou de plantas, baseando nos princípios da genética. Serve para substituir, em certo sentido, o termo americano breeder, intraduzível, e de significado mais amplo. É o melhorador das plantas e dos animais, no sentido pragmático (melhorar + ista, pois o sufixo “ista”, dizem os gramáticos, é o mais próprio para designar pessoas, e, ao mesmo tempo, emprego, profissão, etc). Eis porque ainda parece aceitável o neologismo imaginado em 1928, e que felizmente corre mundo. 82 Conforme este, assim será sua função econômica (sua utilização) predominante. Então “tipo”, em Zootecnia, é uma conformação apropriada a um fim econômico, utilitário. Na seleção do gado bovino, os europeus estabeleceram desde logo dois tipos clássicos: para leite e para carne, cada um com sua conformação inconfundível. O mesmo foi feito para a exploração dos eqüinos onde há um tipo de sela (para ser montado) e um tipo de tiro (para tração). O mesmo se pode dizer para as galinhas: tipo do Mediterrâneo (para ovos), e tipo asiático (para carne), além do tipo misto (para ovos e carne) das galinhas americanas. Tipo misto, esse, também existente no caso dos bovinos, produtores de leite e carne. Os americanos, no caso do gado leiteiro, sobretudo, passaram a adotar o “tipo” como básico na classificação dos animais para reprodução, estabelecendo uma escala de julgamento assim concebida: excelente (90 ou mais pontos), muito bom (85-90 pontos), acima de bom (80-85 pontos), bom (75-80 pontos) e sofrível (abaixo de 75). Esse julgamento dos animais, por esta escala de pontos, exige muita prática e proficiência, mas é ele adotado com bom êxito. Discute-se muito se o julgamento pelo tipo corresponde a este ou aquele nível de produção ou, em outras palavras, se um animal classificado como “excelente” será um animal de alto nível de produção. No caso do gado leiteiro, no qual é maior a experiência, tem-se verificado sensível concordância entre o tipo e a produtividade do animal. Todos os animais puros, em seleção, das raças leiteiras, são submetidos à classificação pelo tipo nos Estados Unidos. No “pedigree” ou genealogia de um animal, aparece o registro do número de pontos que ele obteve, no julgamento pelo tipo de raça. E é justamente nos Estados Unidos que essa prática se tornou mais numerosa e freqüente. E aí, portanto, onde o estudo da correlação entre tipo e produtividade tem sido feito, que se tem mostrado uma prática vantajosa. Isso não quer dizer, porém, que o julgamento pelo “tipo” possa substituir o julgamento pela medida da lactação. A ordenha e o balde é que nos dizem, com mais segurança, sobre os méritos de um rebanho como produtor de leite. As duas práticas devem ser adotadas – essa é a recomendação que se tira da observação do trabalho dos norte-americanos. E é sua técnica que devemos adotar ou mesmo copiar e não sua terminologia, esdrúxula por vezes, e outras vezes sem valor intrínseco e que não sabemos traduzir ou traduzirmos mal. Para provar que deve haver uma relação entre forma do animal (tipo) e sua lactação, há várias observações. Uma das mais convincentes foi feita com mais de 10 mil vacas, classificadas conforme seu “tipo leiteiro”, com 27 mil registro de lactação (produção média de 305 dias, 2 ordenhas). O resultado esta expresso no quadro seguinte, onde temos a média de lactação e da gordura produzida e expressa em quilogramas: N° de vacas Tipo Leite Gordura 479 Excelente 4.530 187 3.459 Muito bom 4.302 176 4.242 Acima do bom 4.127 168 1.736 Bom 4.003 162 234 Sofrível 3.943 159 Como se vê, a escala decrescente do "tipo" acompanhou a escala também decrescente da produtividade. Não devemos, porém, exagerar o valor dessa correlação entre tipo e 83 produtividade. Essa correlação resulta de uma repetida seleção do gado leiteiro, no que concerne paralelamente ao "tipo" e a produção medida pela ordenha. Assim, provavelmente há a seleção do genótipo pelo fenótipo, simultaneamente (tipo e lactação). Isso leva a unir nos mesmos animais, a carga genética mais favorável para um e outro atributo. Além disso, há um descarte constante dos animais do "tipo" inferior, o que conduz a formação de um rebanho com melhor tipo, e leiteiro. Aliás, a experiência dos criadores de Ayrshire, nos Estados Unidos, mostrou que a seleção baseada no tipo provoca um melhoramento deste em cada geração. No caso do nosso Zebu-leiteiro, podemos pensar em selecioná-lo pelo tipo? Esta indagação nos leva a outra pergunta ou a outras. Qual o "tipo leiteiro" dos zebuínos? O "tipo leiteiro" do gado europeu será o mesmo do gado indiano? Este pode ser selecionado tendo-se por base a forma clássica de "cunha" indicativa de aptidão leiteira? As respostas a essas perguntas só serão válidas quando forem realizados trabalhos semelhantes, feitos com vacas européias, para verificação dessa correlação entre tipo e produção respectiva. A “priori” é duvidoso que o tipo leiteiro europeu possa corresponder ao tipo leiteiro indiano. Isso porque o gado leiteiro explorado na Índia, do tronco Bos indicus , não sofreu nenhuma seleção, ou seja, uma multiplicação dirigida pela escolha dereprodutores tendo em vista um "tipo", no sentido econômico, como ocorreu com o gado europeu leiteiro, do tronco Bos taurus. O tipo leiteiro Indiano tem, pois, de ser estabelecido, levando-se em conta, antes de tudo, as qualidades e características de gado tropical, que o Zebu apresenta, como fator de sua vitória nos trópicos. Questionário N° 5 1 - Que é função produtiva, e quais as expressões sinônimas desta? 2 - Haverá alguma distinção entre função fisiológica e função produtiva? 3 - Quais os nove grupos nos quais distribuímos os vários modos de utilização dos animais domésticos? 4 - Fale sobre os produtos alimentares. 5 - Quais as matérias-primas, quais os despojos e adornos, e quais os detritos e excreções que o homem utiliza certas espécies domésticas, que ele cria, e quais essas espécies? 6 - Fale sobre a força motriz como função zootécnica. 7 - Qual a utilização zootécnica do cão e do gato? 8 - Qual o primeiro “serviço” que o animal doméstico prestou ao homem? 9 - Há uma função que podemos chamar de humanitária? 10 - Que é função “capital vivo” em zootecnia? 11 - Qual o ciclo de aproveitamento das várias espécies domésticas e qual a indicação prática a tirar disso? 12 - Encare, sob o ponto de vista teórico e prático, a especialização das funções produtivas. 13 - Importância da função produtiva para a escolha de reprodutores. 14 - Distinga função produtiva de aptidão produtiva. 15 - Qual a mais importante para a exploração dos gados e qual a mais importante para o melhoramento de raça? 16 - O que é tipo em Zootecnia? 17 - Qual a escala de pontos do tipo de bovinos leiteiros? 18 - Há concordância entre o tipo leiteiro e o rendimento real do animal? 19 - Deve o julgamento pelo tipo substituir a medida da lactação? - uma prática exclui a outra? 20 - A alta correlação entre tipo e lactação resulta em quê? 21 - Podemos pensar em selecionar Zebu-leiteiro pelo “tipo leiteiro” europeu? 22 - Haverá um tipo leiteiro para zebuínos? - em que deverá basear- se? 84
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