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X A AÇÃO DO AMBIENTE NATURAL SOBRE OS ANIMAIS DOMÉSTICOS The interactionbetween an organism and its environment is specific, continous and reciprocal. - BONSMA 1 Ambiente e Herança Biológica A existência de um ser vivo impõe a necessidade de um ambiente. Em se tratando de animais domésticos, o ambiente cresce de importância, devido à pronunciada influência, que ele exerce, sobre a vida em geral, do indivíduo e sua produção econômica, que é o que mais interessa ao criador. Tal seja ele, tais serão as possibilidades de o animal revelar sua herança biológica, suas aptidões produtivas. O ambiente é constituído por todas as condições exteriores a que estão sujeitos os seres vivos. No caso particular dos animais domésticos, precisamos e devemos considerá-lo do seguinte modo. Primeiramente as: Condições naturais - clima, solo e pastagem; Condições artificiais - os abrigos, a alimentação, o costeio. Os atributos étnicos são hereditários na sua generalidade, mas precisamos acrescentar que sua manifestação, no indivíduo, pode depender do ambiente favorável. Para que se manifestem - repitamos - é necessário que o ambiente ajude ou pelo menos não tenha qualquer influência contrária a sua manifestação. A exteriorização dos atributos étnicos, em grande parte, pede circunstâncias adequadas de condições exteriores. Um animal de raça precoce, para mostrar sua precocidade, precisa de condições apropriadas de alimentação. Um animal de raça para velocidade só poderá mostrar essa tendência ou virtualidade, em toda sua plenitude, se for submetido a um treinamento e a um regime adequado de nutrição. “Faltando condições exteriores apropriadas, escreveu WALTER (1947), uma boa herança nada poderá dar”. É o que aconteceria com a boa semente lançada na pedra; mas, apesar disso, é também verdade que o ambiente melhor não melhorará a má herança, isto é, será incapaz de fazer o joio virar trigo. Há, todavia, atributos que não dependem diretamente do meio para que se expressem um indivíduo de raça geneticamente mocha não precisara desta ou daquela condição exterior para não ter chifres. Uma rês zebuína mostrará suas orelhas conforme as de sua raça, em dimensão e forma; as condições do meio serão incapazes de modificá-las. A grande importância do ambiente, em Zootecnia decorre de sua marcada influencia sobre os caracteres econômicos que polarizam muito justifica demente todas as atenções do criador-. Não fosse a criação uma operação econômica. Se há uma base genética para esses caracteres - sua manifestação em maior ou menor intensidade está na dependência do meio ambiente. Os animais podem se adaptar a condições inferiores de ambiente, mas para isto reduz sua produtividade, seu porte, sua eficiência reprodutiva - e então se diz que degeneraram. Esta redução é o preço da sobrevivência, e com esta dá-se a adaptação ou vitória nas condições inferiores de meio ambiente. Tal adaptação vitoriosa resulta de uma preadaptação a essas condições. Sem ela, sem essa preadaptação, esses animais seriam eliminados, por desajustamento entre herança e meio. Em outras palavras, por seleção natural. Porém o homem pode intervir, criando um ambiente artificial, a fim de que 141 os animais possam escapar a seleção natural. E aplicando a seleção artificial, o criador favorece a sobrevivência e vitória de uns tantos espécimes, portadores de variação, com vantagem econômica (expressa graças ao favor do ambiente artificial, estabelecido pelo homem). O meio ambiente ou o criador não são, propriamente, modeladores das raças, como se costuma dizer, algumas vezes. Sua ação é tipicamente seletiva. Ação que permitiu a evolução orgânica dos seres vivos (seleção natural), e a formação de novas raças, variedades, famílias (seleção artificial). Tudo graças à variabilidade dos seres vivos (inclusive, são óbvios, os animais domésticos). Ou particularmente, a preadaptação1 quando se trata de um ajustamento entre animal e ambiente, pela sobrevivência daquele. Assim, não se discute a influência do meio sobre o organismo animal. Nem também a possibilidade que este tem de apresentar diferentes modalidades de reação sob a ação do ambiente, em acordo com suas virtualidades hereditárias. Donde o mesmo ambiente influi diversamente em face de duas heranças biológicas diferentes. A herança biológica “a”, dotada de tais virtualidades, manifesta-se de um modo, sob a influência de certo ambiente “X”. Já a herança “b”, portadora de outras virtualidades, embora da mesma espécie que “a”, manifestar-se-á sob o mesmo ambiente “X”, diversamente. A reação ao mesmo ambiente será diferente, porque diversas as virtualidades inatas, em jogo. É o que o esquema abaixo procura esclarecer: A herança, sob o ponto de vista genético, será o conjunto de determinantes internos a que se deu o nome de gens2. É a fórmula hereditária ou genótipo. Da reação entre o genótipo e as condições do meio resulta o fenótipo, que é a caracterização exterior do animal; é aquilo que os nossos sentidos deparam nele, o modo de ser de seus órgãos, a atividade destes, as reações de seu sistema nervoso, tudo isso é o resultado da ação do meio ambiente sobre os fatores constituintes do genótipo, e esta resultante é que se chama fenótipo. Genótipo + Ambiente = Fenótipo O triângulo da vida de Walter (1947) é outro modo de expressar essa relação ou interação do que se herda com a ambiência “Três são os fatores, explica ele, que atuam conjuntamente, determinando as características do indivíduo: Ambiente - Reação ou resposta e Herança. Pode-se dizer que o indivíduo é o resultado da reação entre esses três fatores, visto que ele pode ser modificado com a mudança de qualquer um deles. A herança ou sangue expressa o equipamento inato 1 Ver cap. II, 5 2 O termo gen resultou da mutilação da palavra pangene (de Vries) com a eleminação de pan (inicial) e e (final) = gen. Foi imaginado por Johannsen (1911). 142 do indivíduo. È o que ele é realmente, antes de nascer. É a sua natureza. E o que determina se ele será um irracional ou um homem. Conseqüentemente, no diagrama, o triângulo da vida é representado repousando sobre o lado correspondente à herança, pois constitui sua base”. E continua: “O ambiente e a reação ou resposta, ainda que indispensáveis, são ambos de importância secundária. O ambiente é o que o indivíduo tem para viver, habitação, alimento, condições favoráveis ou desfavoráveis, que ajudam ou dificultam. E o espaço onde ele está o conjunto das oportunidades oferecidas a sua herança. A reação, por outro lado, representa o que o individuo será com sua herança e com seu ambiente”. Mas o que é preciso lembrar, ao examinar o esquema de WALTER, é não perder de vista que o terceiro lado do triângulo da vida - a reação - não pode ser considerado como um fator, antes é uma resultante dos outros dois fatores. Não tem dimensão própria; esta resulta da herança e do ambiente. Figura. 35 – O triângulo da vida (adaptado de Walter - “Genectics”); Herança – o que o animal é; Ambiente – o que o animal tem; Resposta – o que o animal será. Figura. 36 – diagrama de Conklin (“Heredity and Environment in the Development of men” 1916) mostrando a influência da hereditariedade, do ambiente e do exercício ( ou educação) no desenvolvimento do indivíduo. 143 2.Climatologia Zootécnica Deve-se a WILCKENS, diz ADAMETZ (1926), o mérito de ter introduzido na Zootecnia geral o estudo dos fatores ambientes (clima, alimentação, ginástica funcional) e “de haverpisado pela primeira vez um terreno científico de suma importância para as aplicações práticas”. Mas, há mais de um século, BERGMAN (1847) e outros enunciaram princípios gerais relacionando a forma e a função, em animais que habitam diferentes latitudes (WRIGHT, 1954). Para ser exato é preciso ainda não deixar de citar os pioneiros como FORBES (1926) e seus colaboradores, DAVIDSON (1927) e EDWARDS (1928) que com antecipação registrarão observações sobre o comportamento do gado submetido a diferentes fatores climáticos. Mas o desenvolvimento de tais estudos só tomou impulso com a equação do problema na zona tropical. Foi quando se procurou pesquisar o comportamento dos animais das raças melhoradas, ao serem introduzidas nos países de clima quente. Já era conhecido seu baixo rendimento e mesmo sua degenerescência, por vezes. E procurando-se as razões disso, inaugurou-se nova ordem de estudos, a partir de RHOAD (1935) e REGAN e RICHARDSON (1938), que recebeu o nome de climatologia zootécnica (RABAUD, 1939) ou zooclimatologia (CUENCA, 1945) ou ainda bioclimatologia (FINDLAY, 1950). Como se vê, há um desenvolvimento da colaboração que a Climatologia passa a oferecer a Zootecnia, e o pesquisador deve estar armado de sólidos conhecimentos da ciência dos climas e de Fisiologia animal. Os estudos da relação entre o clima e os animais domésticos só poderiam mesmo se desenvolver com as pesquisas zootécnicas nos trópicos. Nas regiões temperadas, onde se formaram as raças melhoradas, não havia propriamente problemas de adaptação, e os observadores, ao considerarem os elementos do clima, se preocupavam com as relações indiretas destes, não influenciarem a produção forrageira, isto é, se preocupavam com a influência que a temperatura, a luz, as chuvas etc., podiam ter no crescimento e produção das plantas, como base da nutrição animal. Quando o homem procurou desenvolver, nos trópicos, a exploração dos animais melhorados dos climas temperados, e sua técnica de criá-los, a fim de melhorar o rendimento dos animais nativos, foi que ele se pôs face a face com os problemas de climatologia animal (WRIGHT, 1954). Já e grande o número de pesquisadores preocupados com esses problemas, de suma importância para a pecuária nos países tropicais; e grande é a cópia de trabalhos a respeito. No livro de FINDLAY (1950) - The effects of temperatura, humidity, air movement and solar radiation on the behaviour and physiology of Cattle and other farm animals, - temos uma revisão condensada de todos esses estudos até 1949, bem como informações sobre os métodos de trabalho. Das observações no campo, passou a Climatologia animal para as observações em laboratório, em câmaras psicroenergéticas, também chamadas câmaras climáticas, nas quais o pesquisador pode estudar isoladamente cada fator do clima, registrando sua repercussão sobre o animal. A câmara climática é um laboratório, especialmente construído para que se possa receber os animais dentro, bovinos em geral, e fazer agir sobre o mesmo determinado gral de temperatura, de umidade ou de ar em movimento, e assim se poder medir a reação do animal, a cada grau considerado. A primeira câmara climática construída foi a da Universidade de Missouri, Estados Unidos, onde trabalhavam BRODY (1948), hoje já falecido, e seus colaboradores. No Brasil, já se dispõe de uma dessas câmaras, pertencente à 144 Faculdade de Medicina Veterinária, da Universidade de São Paulo, instalada na cidade de Pirassununga, onde funciona o Departamento de Zootecnia Especial e Exterior dos Animais Domésticos. Dessa câmara climática é a figura que ilustra este parágrafo. Figura. 38 – Câmara climática da Faculdade de Veterinária de São Paulo. Notar o mal-estar das duas reses Ayrshire, e a atitude diferente da novilha Gir, à temperatura de 40°C e 70% de umidade relativa. (Fot. Prof. Veiga). Para aqui transcrevemos os informes abaixo que, a respeito, nos forneceu o Prof. Veiga, daquela Faculdade: 1. A câmara climática da Faculdade de Medicina Veterinária, construída nos moldes existentes em Beltsville (Estados Unidos), destina-se a pesquisas sobre o comportamento de animais, especialmente de bovinos, a elevadas temperaturas. Seu equipamento térmico, inteiramente automático, mantém-se a uma temperatura constante ao redor de 40-41°C, e umidade relativa variando de 65 a 72 %. 2. As provas, em geral, são realizadas em grupos de cinco bovinos, que permanecem submetidos às condições acima citadas, durante três horas. As observações sobre o comportamento dos animais se fazem, sistematicamente, através de temperatura retal e do número de movimentos respiratórios. Eventualmente, tomam-se dados sobre o extremo desconforto, caracterizado pela abertura da boca e exposição da língua, pelo aparecimento de fezes liquefeitas e pelas constantes micções. Dados sobre a umidade da pele, temperatura cutânea, perca de peso e efeitos sobre a produção leiteira também são notados. 3. Até o presente, os trabalhos se concentraram na verificação do comportamento de animais de várias raças européias e zebuínas, bem como de produtos de seus cruzamentos em vários graus, e em diferentes idades. 4. Dados sobre comprimento e peso dos pelos, retirados periodicamente das mesmas regiões do corpo, também tem sido anelados para se tentar relacioná-los com o comportamento de cada indivíduo. 5. Essas observações se realizam visando a: a) conhecer as diferenças de tolerância ao calor existente entre animais de origem européia e de origem indiana; b) conhecer as causas dessas diferenças. 145 6. Os diferentes grupos de animais são regularmente submetidos às provas, de maneira que, a partir dos seis meses de idade e, dessa idade, de 3 em 3 meses, até a idade adulta, todos passam regularmente pelas provas, exceto os em adiantado estado de gestação. 7. Pelo que temos em mãos, de provas realizadas há mais de 3 anos, podemos concluir que há, evidentemente, não apenas diferenças, em relação a tolerância ao calor entre as raças, como entre indivíduos da mesma raça. Dada a maior freqüência de indivíduos zebuínos resistentes, poder-se-ia dizer que os zebus são mais resistentes do que os europeus. Não se pode, entretanto, negar, que entre os europeus alguns indivíduos, embora não freqüentemente, apresentam também razoável resistência. O índice de resistência, por nós adotado (continua falando o Prof. Veiga) é a média dos dados obtidos antes, durante e ao termino da prova, colhidos de hora em hora. 3 Condições Naturais - O Clima Pela importância de sua influência, o clima está em primeiro lugar, entre as condições naturais. Não será exagero considerá-lo como regulador fundamental da produção animal ou seu limitador. Ele comanda a vida e o rendimento zootécnico dos animais domésticos. E é interessante notar-se, como lembrou por primeiro CORNEVIN (1897) que “os climas extremos apresentam menor número de espécies e de raças do que os temperados”. O criador pouco ou quase nada pode contra o clima, no sentido de modificá-lo e torná-lo mais favorável aos animais que cria. Embora o homem possa, com os recursos técnicos atuais, criar ambientes artificiais, mesmo para os grandes animais domésticos, isto, porém seria, é evidente, inteiramente antieconômico. Por isso o criador procura antes a raça para o meio, na impossibilidade de ajeitar o meio para a raça. Fig. 39 – Mapa das regiões pastoris doBrasil (Domingues, 1941), onde e vê a região centro-sul que se caracteriza pela sua produção leiteira à base do gado europeu puro ou mestiço (maioria) com zebu. 146 Demais, há a lembrar, ainda, que o crescimento e a conformação do animal dependem também de fatores de natureza individual especiais, e de ordem fisiológica, como sejam os hormônios, que não devem ser esquecidas pois lá se começa a jogar com eles, embora ainda não como seria para desejar na prática da criação, presentemente, mas eles são, no fundo, de natureza genética, isto é, hereditária. A ação dos diversos fatores climáticos nunca deve ser considerada isoladamente. O indivíduo acha-se sujeito a influência conjunta de todos eles. Ora, essas influências se somam, ou podem ser contrárias umas as outras, anulando-se ou atenuando-se seus efeitos. As noções gerais sobre o assunto, incertas ou contraditórias aparentemente, não devem ser tomadas ao pé da letra; antes procurar, pela observação e experiência, conhecer a influência de determinado ambiente, que economicamente nos interessa, como criador ou experimentador. Evitar as generalizações porque a reação dos animais às condições ambientes varia com as espécies, varia com as raças, dentro da espécie, e dentro da raça varia com as famílias e com os indivíduos. Os efeitos do clima, portanto, devem ser estudados e considerados em cada caso ou em cada espécie, porque a ação, como, por exemplo, da temperatura, não é sempre a mesma sobre o metabolismo de qualquer espécie de animal. As reações provocadas em laboratório, com determinadas espécies animais, não podem servir, em todos os casos, para as espécies domésticas. Há, certamente, para cada uma destas, um grau ótimo dos fatores climáticos, como a temperatura, que não é o mesmo para as demais. A afirmação de ADAMENTZ (1926), antiga, aliás, continua válida: “A sensibilidade e a reação ao estímulo diferem muito das diversas espécies domésticas e até nas raças”. O clima, para a pecuária brasileira, cresce de importância porque quatro quintos do Brasil, onde a criação pode desenvolver-se, estão na zona tropical. E sabemos que, como resultado de anos de observações de práticos e de pesquisas científicas, talvez tenhamos de aceitar que as altas produções, sejam de carne ou sejam de leite - “São fisiologicamente irreconciliáveis com o alto grau de tolerância ao calor”3. Todavia não devemos esquecer que a altitude – um grande corretivo do clima – melhora sensivelmente a extensa área pastoril “Centro-Sul”4, onde, na verdade, as possibilidades já são outras bem mais favoráveis, embora esteja entre os trópicos. O clima tropical pode ser corrigido pela altitude. Assim acima de mil metros o problema de produtividade das raças bovinas gira em torno das possibilidades de bem alimentar esse gado (ALBA, 1955). Chama-se clima ao conjunto dos fenômenos meteorológicos, que influem na caracterização da condição ambiente de determinado lugar. E a “constelação de variáveis”, como lhe chamou BRODY (1948). Os agentes do clima são: calor, luz, umidade, pressão atmosférica, vento, radiação solar, chuvas. A influência do clima sobre os animais se faz sentir muito diversamente, e é muito difícil isolar, com o devido rigor, a ação de cada um dos elementos do clima. Todavia, verifica-se que a temperatura é, para os animais domésticos o fator climático mais importante, vindo, logo a seguir, a radiação, solar, a umidade, a pressão atmosférica, as chuvas, os ventos dominantes, a luz. 3 Improvement of Livestok through Breeding (1955). Report of FAO Meeting. Brisbane, Australia 4 Domingues - Nota preliminar sobre as Regiões pastoris do Brasil. da Soc. Bras. Agron. 1941 Rio de Janeiro 147 4. A Temperatura A importância da temperatura, como fator climático, tem tal relevo, que é considerada como o agente principal na distribuição geográfica dos animais. A temperatura do ar se faz sentir sobre os animais, por condução. A pele mais quente do animal tende a perder o calor em contato com o ar mais frio. Se a temperatura do ar aumenta, diminui essa perda de calor, até dar-se uma operação em sentido inverso: o animal recebe calor do ambiente, quando a temperatura do ar (caso dos climas tropicais) é elevada e ele está sob a ação direta da radiação solar. Disso resulta uma série de reações do animal, conforme a temperatura a que for submetido, e conforme sua própria natureza. Quando a temperatura se apresenta muito baixa ou muito alta, verifica-se o ajustamento do organismo animal a essas condições, devido a reação dos centros nervosos reguladores do calor corporal. Estes centros são extremamente sensíveis a mudanças na temperatura do sangue, que passa através deles, bem como provavelmente a impulsos nervosos, que chegam da superfície do corpo ao contato com o ar ou objetos, cuja temperatura seja capaz de influenciá-los (LEE e PHILLIPS). Daí as reações que tem por fim aquele ajustamento e que podem ser assim resumidas. No caso de frio, verifica-se certa constrição dos vasos sangüíneos superficiais, ereção dos pêlos, eliminação de água do sangue. Ao contrario, no caso de calor, dá-se a dilatação dos vasos sangüíneos superficiais, o aumento do ritmo respiratório, a necessidade de água para o organismo, e exsudação como recurso para que a temperatura do corpo não se eleve. No frio, a circulação tende a decrescer pela vaso constrição e o organismo não requer acréscimo de água. Dá-se, até, por via disso, a eliminação desta através dos rins, ou armazenamento nos tecidos. A armação é mais freqüente devido parcialmente a uma ativação dos rins, decorrente de maior intensidade da circulação neles, por causa da vaso constrição superficial, e parcialmente ainda, à ação harmônica, da hipófise posterior, possivelmente devido ao aumento de água no sangue (e que deve ser eliminada). Com o calor, verifica-se intensificação da circulação, como conseqüência da vaso dilatação; há perda de água, pela respiração e pele (nos animais que suam), e então surge uma solicitação de líquidos, por parte dos animais. Acima de 20°C RASGDALE (1949) e seus colaboradores verificaram aumento do consumo d'água em vacas Holandesas e Jersey. Os animais submetidos a altas temperaturas reagem aumentando a temperatura retal e a taxa respiratória, e diminuem a produção de calor e o pulso. O nível crítico verificado por RASGDALE e colaboradores (Missouri, 1950) foi de 32° - 35°C - para reses daquelas raças européias. Por outro lado, MCDOWEL, LEE (1948), e FOHRMAN (1954)5 verificaram que a taxa de evaporação aumenta com as condições de ambiente mais quente: 660 g por m², em 1 hora, a 40°,4C, em vacas Jersey e mestiças Sindi-Jersey. Nessas condições de calor, o volume da urina se reduz principalmente nos animais que suam; e essa redução pode ser tal que de margem a formação de cálculos urinários. O metabolismo animal é influenciado pela temperatura, e, no esquema que tomamos de LEE e PHILLIPS, temos a expressão geral dessa influência. No esquema, 5 Journal of Animal Science 1954 - McDOWEL, LEE, e FOHRMAN – The measurement of water evaporation from limited areas of normal Body surface. 13:407-416. 148 vemos que há uma zona térmica neutra, na qual o metabolismo não se altera, e obedece aos quadros normais da espécie. Mas, com o abaixamento da temperatura, verifica-se o seu aumento até o limite da tolerância ao frio. Com elevação dela, dá-se um ligeiro acréscimo do metabolismo, até o limite de tolerância ao calor, quese acha mais próximo da zona térmica neutra (fig. 40). A respiração pode ser ativada com a elevação da temperatura, acelerando-se o ritmo respiratório. Se a ativação for demasiada, haverá uma ameaça, tal seja ela, de uma excessiva eliminação de CO2 produzindo-se um estado de alcalose (estado anormal de alcalinidade do sangue), ou mesmo de alcalemia. Quando o ritmo respiratório, então, é demais acelerado, dá-se uma compensação com a diminuição do volume de ar expirado, em outras palavras, a respiração menos profunda. BONSMA (1940) e outros verificaram que um aumento de temperatura de 20° para 27°C provocou alteração no ritmo respiratório: em AFRIKANDER, 20 para 44 por minuto; em HEREFORD, de, 30 para 63; e em SHORTHORN, 34 para 69. Esse aumento do ritmo respiratório é mais pronunciado acima de 26,6° a 29,4°C (FINDLAY, 1950). MULLICK e KEHAR (1951), trabalhando com Zebu e Búfalo, verificaram que o ritmo respiratório é o que mais varia com a temperatura do ar. E que, dentro dos abrigos, os búfalos mostram um mecanismo de regulação de calor corporal melhor do que os zebus, sob temperaturas elevadas (11° a 42°C). Um efeito muito importante da temperatura é sobre o apetite dos animais com várias conseqüências de importância sob o ponto de vista econômico. Com o calor, verifica-se a diminuição ou mesmo até a perda do apetite. Ao contrário, com o abaixamento da temperatura, dá-se um estimulo do apetite, cujo mecanismo fisiológico não está bem esclarecido. Sabe-se que a adrenalina provoca os sintomas de fome, em determinadas condições e parece haver então, nas condições de frio, um estímulo da medula das ad-renais. RAGSDALE (1949), BRODY (1948), TOMPSON e WORSTELL (1948) numa experiência realizada em Missouri, verificaram a diminuição do consumo de alimento em vaca Jersey: o consumo de grãos baixou de 6,350kg para 2,720kg devido à elevação da temperatura, de 10°C para 37,7°C. Houve, conseqüentemente, uma queda na lactação de 13,600k para 6,350kg. Isto confirma a opinião de BROBECK (1948) e MILLS e OGLE (1939) de que “o controle do alimento consumido é um dos mecanismos naturais de regulação da temperatura”. As conclusões dos experimentos de MULLICK, MURTY e BEHAR (1952) com Zebu, na Índia, admitem que um dos fatores mais importantes, na regulação do mecanismo do calor corporal, é a alimentação; e que, no se ajustarem as condições ambientes, em cada estação do ano, os animais alteram a proporção dos diferentes alimentos que consomem. O mesmo resultado obtiveram RAGSDALE (1950), e colaboradores com vacas Holandesas e Jersey submetidas a temperatura acima de 20°C: houve perda de peso. E todos os animais ganharam de peso com o declínio da temperatura. Nessa pesquisa, RAGSDALE e colaboradores concluíram por admitir uma temperatura ótima em torno de 10°C, para fêmeas de Bos touros; verificando-se diminuição no rendimento do leite quando a temperatura passava de 21,1° ou descia abaixo de 4,4°C. Outra será, porém, a reação do aumento de temperatura sobre o crescimento: este é favorecido, aliás, como era de esperar, dentro de certos limites. Assim, pintos incubados a 40°C apresentaram maior peso do que aqueles incubados a 35°C (LEE e PHILLIPS, 1948). 149 Figura. 40 – Relação entre a temperatura ambiente e o metabolismo no animal em repouso (De LEE e PHILLIPS , 1948). Uma das primeiras observações experimentais, nos trópicos, foi a de REGAN e RICHARDSON (1938), e eles verificaram haver queda da produção diária de leite, de mais ou menos 13 kg (29 lb) para 7,700kg (17 lb), quando a temperatura passou, em condições controladas, de 4,4°C para 35°C. Essa queda foi gradual. RHOAD (1935) chegara a conclusões semelhantes, mas não em condições controladas, nas suas primeiras observações no Brasil: o gado leiteiro europeu, nos trópicos, produzia, com rações balanceadas, somente 56% de sua capacidade. Os trabalhos de BRODY (1948) e seus colaboradores confirmam todas essas observações; trabalhos esses dos quais é indiscutível a conclusão de que o efeito é mesmo da temperatura, fator estudado isoladamente em câmara climática. Desses experimentos foi possível concluir que, quando a temperatura passa além de 26,6°C, as vacas Holandesas baixam de 50 a 75% seu rendimento em leite. As vacas Jersey e as Schwyz suportaram um pouco mais o calor, e somente acima de 39,4°C foi que se verificou aquele decréscimo. A temperatura crítica para o declínio da lactação foi de 21,l° a 26,6°C para o Holandês e Jersey, de 29,4° a 32,2°C para o Schwyz. Sobre as glândulas endócrinas, a temperatura exerce indiscutível influência, e uma delas seria, exatamente, a lactação, acima referida. O frio ou o calor são capazes de modificar a atividade da hipófise anterior, da tireóide e das ad-renais. Com o frio, há aumento de sua atividade, e com o calor, esta parece diminuir. MULLICK (1953), por exemplo, achou um máximo de atividade da tireóide, em zebuínos, da Índia, durante o inverno; enquanto que nas outras estações essa atividade baixou para 2/3 daquela do inverno, sendo menor no verão. A reprodução dos animais sofre sensivelmente a ação das variações mais ou menos extremas de temperatura. Nos climas frios, a época de reprodução é muito restrita. As altas temperaturas agem, também, negativamente, sobre a fertilidade do animal doméstico, a partir da diminuição do próprio apetite sexual. Ou dizendo de outro modo, durante os verões quentes, baixa a fertilidade desses animais. As observações nos machos são concludentes a tal respeito. O calor influi sobre as gônadas e mesmo sobre os testículos, cujos músculos se distendem, alongando-se a 150 bolsa escrotal. A formação e a qualidade do sêmen se ressentem, verificando-se menor mobilidade dos espermatozóides e maior percentagem de formas anormais. Assim, PHILLIPS e MCKENZIE (1934) demonstraram, experimentalmente, que as elevadas temperaturas do verão provocam diminuição da atividade dos espermatozóides, no Carneiro. E se tais condições de elevada temperatura agirem por várias semanas, verifico-se a própria degeneração da gônada, determinando, a esterilidade do animal. Estudos realizados em Izatnagar (1954) mostraram que as características do sêmen de touros, bodes e búfalos são influenciados grandemente pela temperatura e umidade: a alta temperatura aliada à umidade elevada tem um efeito adverso sobre a qualidade do líquido seminal (Bhattachanya, Delhi). Nas aves domésticas há uma relação entre a atividade da tireóide e a muda, com reflexos na postura (ação sobre os ovários, órgão genital), que diminui. Das experiências de WARREN (1939) conclui-se haver uma Influência da temperatura sobre o peso de Legornes. O estudo da produção de 20 galinhas Legornes brancas (segundo ano), no Estado de Kansas, USA, mostrou que os ovos postos nos meses frios (inverno-primavera) eram mais pesados (em torno de 60 g) do que os ovos de verão (em torno de 54-56 g). A espessura da camada pilosa e outros característicos dos pelos, nos mamíferos, e da plumagem, nas aves, são influenciados pelo clima. Há aqui ação endócrina (ainda não bem determinada para uma generalização) e uma ação vascular sangüínea que se explica do seguinte modo (WILCKENS). Nos climas frios, dá-se a irrigação permanente, nas camadas profundas da pele, onde se acham os folículos pilosos, formando-se pelos longos, grossos e bastos. Nos climas quentes, pela radiação de calor, verifica-se o congestionamento das camadas superficiais da pele, com anemia do dermae, como, conseqüência, reduz-se a formação de pelos, em quantidade e dimensão. Figura. 41 – Temperaturas máximas diárias e peso médio dos ovos, em intervalos quinzenais, para 20 Legornes,Manhattan (Kansas), mostrando a influência da temperatura sobre o tamanho dos ovos (1923-24) –(De Yearbook Agriculture U.S.A. 1941). Quando aquela anemia das partes profundas do derma é exagerada - tal seja a intensidade do calor - os pelos podem até cair. E isto é o que se observa na seca do Nordeste, quando os animais (bois e cavalos) perdem o pelo, ficando pelados e escuros. Caso semelhante se verifica com a capa de lã grosseira que recobre os carneiros da região. Essa lã cai e o animal fica recoberto apenas de pelos curtos e finos, como os de cabra. Mas, enquanto isto se verifica, em certos ovinos, adaptação ao clima, daí o carneiro Deslanado de Morada Nova, que 151 é o exemplo típico dessa dificuldade na formação de lã em tais climas quentes; o mesmo podendo se dizer do Carneiro do Senegal e raças semelhantes, também sem lã, formadas no clima tropical africano. Figura. 42 – Ovela da raça nativa Deslanada da Morada Nova. Adaptação ao clima tropical seco do Nordeste, particularmente do Ceará. (Fot. Do A.). Figura. 43 – Ovelha comum do Nordeste. Notar o desaparecimento parcial da lã, nas inferiores do corpo, nos membros e cabeça. Marcha da adaptação. (Fot. Do A.). Ao se adaptarem aos climas quentes, os bovinos das raças européias sofrem certa modificação sensível, nos pelos, que se tornam curtos e finos. Assim é que os animais dessas raças, que se mostram mais adaptáveis as condições de clima, são exatamente os portadores de pelos assim modificados. Demais a observação é que os animais peludos (de pelos crescidos como se estivessem no clima seu de origem) parecem ser preferidos pelos ectoparasitos (carrapatos, bernes), o que mais lhes dá a feição de inadaptados. HAMMOND (1960), de que colho esta interessante observação, interessante e autorizada, adianta que essa característica do pelo dos animais é hereditária, e deve ser considerada como um encontro com os efeitos do clima, tanto que entre os animais em aclimação, uns exigem ser tosados mais vezes do que outros. “A produção, em algumas raças, de indivíduos de pelos 152 curtos, parece torná-los aptos para as condições tropicais” (HAMMOND); a isto podemos chamar uma condição preadaptiva, no sentido de CUÉNOT (1936). 5 A luz, a umidade, a Pressão atmosférica, os ventos, a radiação solar Estes fatores climáticos não têm a importância da temperatura, mas sua influência é indiscutível sobre as funções fisiológicas dos animais domésticos. A luz solar consta de diferentes raios visíveis e de uma parte invisível. Os raios ultravioleta e infravermelho pertencem a este segundo grupo, são raios invisíveis. Por sua capacidade para provocar processos químicos, também são chamados raios quimicamente ativos, ou por sua conduta física são de onda curta (raios ultravioletas) e de onda longa (raios infravermelhos). Os raios visíveis atuam, geralmente, sobre a pele. Os ultravioletas podem produzir alterações características, em certas circunstâncias, particularmente sobre as peles pobres de pigmentação. Sua penetração pode alcançar uma profundidade tal que provoca inflamação e exsudação serosa (eritema solar). A luz é necessária à fixação do cálcio, ao metabolismo das vitaminas e em geral a todo metabolismo. Na obscuridade, verifica-se economia de metabolismo que pode favorecer a engorda dos animais. Através da hipófise anterior há uma influência da luz sobre a reprodução dos animais, e em geral sobre o balanço endócrino. E este, sendo modificado, terá a alteração do metabolismo que, no caso, se reflete sobre a reprodução, e ainda sobre a formação dos pelos, nos mamíferos, e da plumagem, nas aves. HAMMOND (1936) concluiu de experimentos em Galinhas, haver uma ação estimulante da hipófise anterior, sobre o ovário, aumentando a postura, por efeito do prolongamento das horas de luz. ERASMUS (1955) obteve aumento na produção de ovos, na África do Sul, com dias de 14 horas. Em 365 dias, a média de postura foi de 189,9 ovos, para apenas 178,1 ovos nas aves não submetidas ao dia de 14 horas. Ele não achou diferença prática no consumo de alimentos. Mas parece que a ação harmônica estimuladora deve ser auxiliada por um consumo maior de ração, que ajudará o aumento da postura. Dai à prática de iluminar os galinheiros, durante o inverno, nos climas temperados. Esta prática tem dado resultados satisfatórios. A pouca luminosidade ou sua ausência diminui a atividade do animal, havendo economia de energia, predispondo para a formação de reservas orgânicas. Em outras palavras, favorece a engorda. É clássica a experiência do Prof. GRAFFENBERGER, citada por ADAMENTZ (1926). Diversos lotes de Coelhos, alimentados de modo igual, qualitativa e quantitativamente, foram mantidos durante certo tempo, uns em plena luz e outros em semiobscuridade. Ambos os grupos consumiram bem a ração, digerindo-a normalmente. Mas os que permaneceram na obscuridade aumentaram de peso, notoriamente, em relação aos expostos a luminosidade, nos quais o metabolismo era mais ativo. Abatidos, os mais pesados apresentaram uma deposição de gordura mais pronunciada, cuja diferença dos outros foi expressa assim: Coelhos jovens: Aos 16 dias de engorda 100:126 Aos 46 dias de engorda 100:119 Coelhos adultos: Aos 24 dias de engorda 100:216 Aos 75 dias de engorda 100:138 153 Daí a prática já conhecida e adotada de manter, em ambiente pouco iluminado, os animais destinados a engorda. Os animais jovens e os reprodutores já exigem ambiente batido de luz. A umidade do ar pode ser relativa ou absoluta. Geralmente, a umidade relativa é que é objeto de referência, e ela significa a pressão de vapor d'água presente no ar, expressa como uma percentagem em relação a saturação, em determinada temperatura. A pressão do vapor d'água atmosférico varia, assim, com a temperatura: uma alta umidade relativa, com baixa temperatura, corresponderá a uma baixa umidade relativa e uma alta temperatura. Assim a umidade relativa de 100% a 18°C corresponde a uma umidade relativa de 50% a 20°C e a 45,5°C. A pressão do vapor d'água em todos esses três caso é a mesma de 20 mm de mercúrio. Trata-se de um fator que age, principalmente, modificando a influência da temperatura. Assim um clima temperado e úmido mostra-se mais favorável à formação de pelos longos e grossos , como se o clima fora frio. Um clima temperado e seco não contraria a formação de pelos finos e menos bastos, como se fora quente. A umidade conjugada a uma alta temperatura cria uma situação que mais dificulta a regulação do calor corporal, agravando os efeitos da elevação da temperatura ambiente. A umidade, assim, é considerada um fator climático de importância secundária, comparativamente com a temperatura, que é o mais importante (ARRILAGA, HENNING e MILLER, 1952). A pressão atmosférica é da mesma sorte, um fator de importância muito relativa. Sua influência se faz sentir nas grandes altitudes, e o efeito de sua redução é indireto, governando a tensão sob a qual o oxigênio necessário ao animal se torna disponível nos alvéolos pulmonares. Sendo baixa a pressão atmosférica, dá-se um estimulo a respiração, que é feita com dificuldade. A hematose do sangue é embaraçada, e, agravando-se, pode dar-se a perturbação conhecida com o nome de “mal das montanhas”. O movimento da atmosfera deve ser umfator climático a considerar, porque a velocidade com que o ar se move, sobre a pele do animal influi na maior ou menor possibilidade disse animal perder calor, com sua pele em contacto com o ar, mas diz LEE (1948), por um processo de algum modo complexo. Na maioria das condições de clima temperado, quanto mais rápido o movimento do ar, maior a perda de calor, mas em certas condições de clima quente, pode dar-se o contrário. É certo que o vento, acelerando a evaporação, haverá uma ajuda para a perda de calor, quando a pele se apresentar umedecida. Em outras palavras, quando a temperatura do ar é mais baixa do que a do animal, o vento ajuda a perda de calor. Mas se for mais elevada, a pele do animal pode ganhar mais calor por condução, com o movimento do ar aquecido. A radiação solar atinge o animal exposto ao ar, fora de um abrigo por dois meios: diretamente, com a incidência direta dos raios do sol, sobre a superfície corporal do animal; e indiretamente, através da radiação solar refletida (fig. 44): a)das nuvens e das partículas de poeira suspensas no ar; b) do solo e de outros objetos próximos. Pode-se dizer que a radiação solar é o fator básico do clima. Assim o clima de uma localidade é governado pela radiação solar, aí. A intensidade da radiação solar está não só estreitamente relacionado com a temperatura do ambiente onde o animal vive, como influi sobre os tecidos que revestem 154 e cobrem o corpo do animal. Figura. 44 – Troca de radiações entre o animal e o ambiente. (De Lee – Manual of field studies on the Heath Tolerance, 1953). A radiação solar direta, sob a forma de raios visíveis e infravermelhos de onda longa, é parte refletida de acordo com a cor do animal e outras propriedades de pelame deste, e a parte restante é absorvida sob a forma de calor. A radiação solar indireta (nuvens, poeira do ar, solo, objetos próximos) é refletida também, parcialmente, da mesma maneira que a radiação direta. Segundo RIEMERSCHMID (1943), cerca de 30% da radiação solar é refletida pelo solo, havendo pequena diferença entre o solo nu e aquele recoberto por grama. Quando o ambiente é de temperatura mais baixa, há perda de radiação térmica (infravermelhos longos); mas, neste caso, a coloração do animal é de reduzida influência. Quando o animal é removido da sombra para a intensa radiação solar de um dia de verão, sobe sua temperatura e acelera-se seu ritmo respiratório (RHOAD 1941). Os dados sobre radiação solar são, até o presente, demasiado escassos, mas, mesmo se se dispusesse de dados valiosos e suficientes, sua interpretação, em termos de fisiologia animal, devido à falta de conhecimento fundamenta sobre o assunto, será virtualmente impraticável (WRIGHT, 1954). 6 As Chuvas As chuvas oferecem uma influência de natureza indireta, pois de sua presença ou falta, ou sua maior ou menor intensidade poderá depender a maior ou menor quantidade e mesmo a qualidade do pasto (sem se esquecer a influência fundamental do solo). As chuvas é que criam os pastos. A variação na pastaria, no decorrer do ano, é uma resultante do regime de chuvas, através das estações, na região. A diferença de recursos forrageiros, e, pois das possibilidades de desenvolvimento e produção econômica dos gados, está na dependência também 155 do fator chuva, que influi na caracterização dos climas: úmidos ou secos. Nos climas secos, de pluviosidade reduzida ou mal distribuída, os animais sofrem uma deficiência de nutrição na estação seca, que marca seu desenvolvimento, e limita sua capacidade produtiva, influindo também na multiplicação deles. Neste caso, o homem precisa intervir para evitar os maus efeitos dessa deficiência de pluviosidade ou de sua irregularidade (caso do Nordeste brasileiro, na zona do “Sertão”), que dificulta o estabelecimento de uma rotina, nessa intervenção, por demais necessário do criador, fenando ou ensilando. Nos climas úmidos, além do efeito, por vezes prejudicial, da umidade, quando somada as altas temperaturas, apresentam-se neles condições de solo, que prejudicam a formação de boas pastarias criadas pelas chuvas (caso dos campos alagados da região amazônica, e inaproveitáveis durante parte do ano, no chamado “inverno” ali, ou estação de chuvas). Nos climas tropicais muito chuvosos, as chuvas podem determinar o empobrecimento deles em minerais. A deficiência mineral do solo ocorre mais vezes nos climas chuvosas, úmidos. Enquanto que a deficiência de vitaminas é mais comum nos climas secos, onde a alimentação verde é naturalmente menos abundante, ou mesmo escassa. A deficiência de cálcio e fósforo se manifesta nas regiões de alta pluviosidade, deficiência que é um fator de baixa fertilidade no gado (THEILER et AL, 1924). Estes pesquisadores conseguiram elevar a percentagem de bezerros, de 51 para 80% suplementando a alimentação das vacas, com fosfatos (HAMMOND, 1955). Como sabemos, o cobalto é necessário aos bovinos para a formação da vitamina B12. As chuvas excessivas podem agravar a deficiência do solo, nesse elemento (HAMMOND, 1955). A influência indireta, mas benfazeja, das chuvas, faz-se sentir nos climas temperados, em regiões de solo fértil, onde o desenvolvimento dos gados e sua produção econômica - leite ou carne - têm suas melhores expressões. Para WRIGHT (1954), as possibilidades climáticas de uma região dependem de três fatores principais temperatura, umidade relativa e chuvas. Com os dois primeiros destes fatores, BALL (1910), SHELFORD (1920), JOHNSON (1924) e recentemente WRIGTH (1948) conceberam engenhosamente um instrumento de comparação dos climas, sob a denominação de sismógrafo. E1e é obtido dispondo-se, num gráfico, as abscissas e as ordenadas (uma referente à média mensal da temperatura, e a outra, a média mensal da umidade relativa), e, depois, ligando-se os pontos de convergência por linhas retas, ter - se-á uma figura, que é o climógrafo da região. Do gráfico de WRIGTH (Fig. 45) temos os climógrafos referentes à Europa e as Índias, bem distintos. O primeiro, de temperatura que nunca se aproxima do nível crítico de 21,1°C (70°F) e a umidade tolerantemente alta o ano todo; e sua forma regular e sua área reduzida indicam não haver extremos climáticos. O segundo é a extensa região do Zebu, com temperatura acima de 21,1°C, e umidade excepcionalmente baixa durante parte do ano, exceto na época das monções; ele cobre uma área extensa e irregular, indicando variações estacionais através do ano. Substituindo a umidade relativa pela média mensal de chuvas, e conjugando-a com a média mensal da temperatura, HUNTINGDON (1915, 1947) imaginou o hitérgrato, que JOHNSON (1924) e NICHOLS (1933) utilizaram em pequena escala nos estudos de ecologia dos animais domésticos 6. 6 Para mais pormenores, consulte Progress in the Physiology of Farm Animals. Ed. By J. HAMMOND – London, 1954. Vol. I, pag.234-240 156 Figura. 45 – Climógrafos típicos para o gado na Europa e na Ásia: gado europeu (Inglaterra) – Zebu indiano de grande porte (Índia) – gado importado com êxito (Ceilão) – tipo não fixado (Iraque) – (de N.C. Wright, 1954). 7 A Ação indireta do Clima Como muito bem diz LEE (1948), é indispensável que o clima tende a reduzir, de algum modo, a produtividade doe animais domés t i cos . Sua ação pode se r d i re ta , como acabamos de ver, mas também pode ser indireta, seja através do parasitismo animal, que os climas quentes e úmidos favorecem mais (peste bovina, babesiase e anaplasmose,tripanossomíase, surra, antrax, várias verminoses, e algumas formas de parasitismo da pele: carrapato, berne, bicheira, e mais as moscas como a Stomoxys caIcitrans, que limita, senão impede a criação em algumas serras do Nordeste): seja na formação de pastagens grosseiras e pobres de proteína e certos minerais, seja determinando o aproveitamento dessas pastagens, apenas em curto prazo de alguns poucos meses (regiões quentes e secas). E, finalmente, é nos climas tropicais onde as condições sócio-econômicas e educacionais se mostram mais atrasadas, o que constitui fator não estimulante do progresso pecuário. Assim, vemos como nas regiões tropicais o clima se torna fator demais limitante na exploração dos gados: Diretamente sobre o animal, exigindo sua adaptação vitoriosa (aclimação). Indiretamente: 1 - Favorecendo o parasitismo animal, principalmente nas regiões quentes e úmidas. 2 - Estabelecendo um ambiente onde as pastagens disponíveis são grosseiras e pobres de proteína, ou de curto aproveitamento nas melhores condições de utilização (regiões secas e quentes). 3 - Oferecendo condições socioeconômicas educacionais que são um fator não favorável a um surto progressista e seguro da exploração dos animais domésticos. 8 Solo e pastagem 157 No parágrafo anterior, verificamos haver também influência indireta do clima através de alguns fatores, entre os quais foi citada a pastagem. Assim, certas condições climáticas podem determinar a formação de pastagens naturais inferiores, pobres de proteína e com possíveis deficiências minerais, e de aproveitamento por vezes pouco eficiente. Aqui estamos em face de outro fator, o solo, que também pode influir sobre os animais domésticos, através das plantas que nele vegetam, e que servem de alimentação para o gado. Deste modo há uma influência direta da pastagem, indireta do solo. Logo, o solo só pode influir sobre os animais, pela vegetação forrageiro, que lhes fornece. Solos pobres, pastagem interior. Solos férteis, pastagem rica e abundante, gado melhor. Daí a verdade tão bem resumida no aforismo - nutrition begins with the soil. Quando o solo não é rico, mas é capaz de sustentar pastos, regularmente, e que permitam o desenvolvimento e a produção de animais, verifica-se a redução do porte destes. Dai haver regiões tipicamente de reses mais desenvolvidas e regiões de reses de pequeno porte, e isto dentro da mesma raça. Por isso, na Holanda ocorre um fato posto em relevo por HAMMOND, EDWARDS e WALTON (1942), ao tecerem considerações sobre o porte dos animais, em relação ao meio. “Ali, escrevem eles, as Sociedades de Criadores reconhecem haver regiões de grandes animais e regiões de animais de porte menor, e então nas Exposições há classes separadas para a mesma raça, criada em terras pobres e em terras ricas; isto é, eles não procuram criar animais de grande porte em condições naturais que só suportam animais pequenos, senão o rendimento em leite sofreria. Eles, antes, procuram criar, nas regiões de pastos pobres, animais de esqueleto menos desenvolvido, assim grande parte do reduzido suprimento de alimentos pode ficar disponível para ser convertido em leite”. As experiências sempre têm mostrado o que já se sabia pela observação, que há uma relação entre a composição do solo e sua estrutura física, e a vegetação que nele se fama. Por outro lado, a fertilização de solos pobres, com adubos fosfatados, potássicos e cálcicos, tem dado como resultado a multiplicação de espécies forrageiras espontâneas mais nutritivas e a diminuição sensível de capins nativos inferiores. E ainda se verifica o aumento do rendimento da massa forrageira. É, portanto, doutrina pacifica que a fertilização do solo tem efeitos sobre a composição botânica da vegetação forrageira. (STEPHEN 1942; ALEXANDER e al., 1952; BLASER e al . , 1948; HARPER e al,. 1949). E é possível até citar casos concretos como o de New Jersey ( E E . U U . ) , onde o Trevo, em pasto não tratado, passou de 22% a 36% , quando se fez uma adubação de cálcio, fosfato e potássio. Outra influência, que o solo pode ter, é sobre a composição química da forrageira; assim, experiência realizada no King Ranch (Texas) mostrou que a aplicação de adubo fosfatado em pastagens nativas produz aumento significativo do fósforo contido na forragem. Em números, temos que, adubando pastos do King Ranch com 100, 200. 400 e 800 lb. de tri-supertosfato por acre, obteve-se mais forragem e forragem mais nutritiva do que nos pastos sem adubação. Enquanto estes apresentaram a média de 0,09% de fósforo, os adubados ofereceram médias de 0,16 a 0,27%. E o mais importante foi que os pastos adubados produziram 42 a 67% mais de massa forrageira do que os não adubados (Texas Bulletin n° 27, 1950). Não devemos esquecer, porém, de salientar que o valor nutritivo da pastagem decorre mais da influência do solo fértil sobre a variedade de espécies de forrageira, que crescem nele, do que sobre a composição química de cada espécie, 158 individualmente. Em outras palavras, a melhoria das condições de fertilidade do solo provoca transformação da pastagem, no sentido de que esta passa a ser constituída de melhores forrageiras, e não apenas em uma melhor composição química individual, das espécies forrageiras (o que seria muito pouco). Um solo fértil produz forragem mais nutritiva, por via de seu efeito sobre a composição química das espécies forrageiras, individualmente, e sobre a composição da forragem como um todo, porém de maior importância é o fato de que o solo fértil produz mais forragem (LUNDELL e DERBY LAWS, 1955). Outra influência do solo sobre o gado, e que assume proporções sérias, por vezes calamitosas, em certas regiões, é quando ele apresenta pobreza de minerais. Bom número de experiências já demonstrou essa relação entre a saúde do animal e a composição mineral do pasto consumido. A pobreza do solo em fósforo, potássio e cálcio, ou nos chamados minerais-traças ou micros nutrientes como o cobre, ferro, magnésio, cobalto, constitui condição perturbadora para a criação em certas regiões tropicais ou subtropicais. Casos há em que essa deficiência provoca até o aparecimento de estados patológicos, por vezes de efeitos mortais, e que somente nos últimos anos se chegou a identificar como deficiência mineral. A observação disso tem sido freqüente nos solos silicosos de baixada litorânea (Florida, EE.UU.) e começa a ser feita entre nós. No estudo do “mal da ronca”, que acomete e mata animais do Piauí. TOKARNIA, CANELLA e DOBEREINER (1958), chegaram a conclusão de tratar- se de uma deficiência de cobre, no animal, “sem excluir a possibilidade de ocorrência simultânea de outras deficiências ou fatores, que contribuam para a formação dos diversos quadros patológicos de etiologia obscura, ora estudados”. Um dos meios de combate a essas doenças, provenientes de deficiência mineral, é justamente fertilizar o solo, a fim de que o pasto ou as forragens dele colhidas contenham o teor normal das vários minerais necessários ao animal. No King Ranch verificou-se, numa experiência de cinco anos, que adubando a pastagem, foi possível obter um aumento de 208 lb. no peso de garrotes, por ano e por vaca, na base de quatro safras. E, por esse processo, teve-se maior lucro liquido, por acre, do que dando farinha de ossos como complemento da ração, ou mesmo adicionando fosfato bissódico aágua dada ao gado. E a influência dos três processos sobre a produção de bezerros foi maior com a adubação da pastagem (42%) do que por meio do suprimento de farinha de ossos (33%) ou adicionando fosfato bissódico a água (39%). Toma-se claro então, que uma contribuição importante para a correção das deficiências minerais, no gado, particularmente aquelas que se referem aos micros nutrientes, pode ser feita pela melhoria da composição botânica da pastagem através do emprego da adubação e da calagem do solo, que resultam no aumento de leguminosas e de capins mais nutritivos (LUNDELL e DERBY LAWS, 1955). Finalmente, há uma referência especial a fazer, e que diz respeito à deterioração do solo, pela erosão. Esta, danificando o solo, determina o estabelecimento de condições que pioram a pastagem. Um exemplo disto tem no Estado do Rio de Janeiro, de solo acidentado e danificado pela erosão, cujas pastagens de capim “Gordura” não mais permitem, em geral, a exploração do gado leiteiro melhorado, sem o recurso do arraçoamento com concentrados, que na maioria das vezes constitui pesado ônus. Em tais regiões o combate a erosão seria um programa a estabelecer para melhoria do solo, e conseqüente conservação das boas condições de aproveitamento das pastagens. 159 A melhoria do solo provoca, portanto, o melhoramento do gado, mas por via indireta - a pastagem. Por isso se diz que o progresso agrícola de uma região traz, conseqüentemente, o melhoramento de seu gado. Por isso as regiões agrícolas mais adiantadas do mundo são aquelas também que apresentam uma pecuária mais adiantada. Quando se pretende melhorar uma raça, é preciso, primeiramente, melhorar os meios de produzir alimentação rica, abundante, e adequada a espécie doméstica considerada e ao gênero de exploração. Não adianta uma boa semente animal, em uma região pastoril de recursos forrageiros deficientes. Da mesma sorte, criar animais de baixo rendimento, numa região de pastagens ricas, é aproveitar mal essa riqueza forrageira, que apenas está a espera de uma boa máquina transformadora de forragens em produtos pecuários valorizados. Em resumo, há um efeito indireto do solo sobre o gado, através da pastagem que é influenciada qualitativa e quantitativamente. O efeito qualitativo pode ser: a)sobre a melhoria da qualidade das forrageiras, individualmente, isto é, sobre sua composição química; b) sobre a composição botânica da pastagem, que apresentará maior número de boas espécies forrageiras, e menor daquelas espécies nativas inferiores. O efeito quantitativo, sob certo aspecto mais importante, é decorrente da formação de maior massa forrageira, no mesmo espaço de tempo. Ou em outras palavras, a pastagem cresce mais rapidamente, quando o solo é fértil ou foi fertilizado. Em se tratando de forrageiras cultivadas para corte, verifica-se a possibilidade de maior número de cortes, por ano. Questionário N° 10 1 - Que é ambiente e quais os fatores ambientes a considerar em zootecnia: naturais e artificiais? 2 - Qual o papel do ambienta em relação a herança biológica? 3 - Qual a influência do ambiente sobre os caracteres raciais, particularmente os econômicos? 4 - Será o ambiente um modelador da raça ou do individuo? 5 - Explique a fórmula: Genótipo + Ambiente = Fenótipo. 6 - Que resultou dos estudos sobre o comportamento dos animais domésticos em ambiente tropical? 7 - Cite os fatores climáticos e qual o mais importante? 8 - Um animal de clima temperado, sendo posto nos trópicos, quais as duas alterações mais sensíveis quando exposto a radiação solar intensa? 9 - Qual a reação nos vasos sanguíneos e na circulação em geral? 10 - Quais os pioneiros nas observações dessa natureza e quando foram realizadas? 11 - Que é câmara climática e para que serve? 12 - Como se manifesta o apetite dos animais de clima temperado, quando postos em climas quentes, e quais as conseqüências do ponto de vista econômico? 13 - É a perda do apetite um fator regulador do ajustamento do animal as altas temperaturas? Explique. 14 - Há diferenças de reação aos climas tropicais entre espécies domésticas? E dentro da espécie? E dentro da raça? Que importância tem isto para o progresso da aclimação? 15 - Nos climas frios a reprodução dos animais pode verificar-se durante todo o ano? Explique. 16 - A atividade sexual nos trópicos é aumentada com a temperatura mais elevada? E qual a reação mais visível do macho, quanto ao seu órgão genital? Explique. 17 - Qual a ação das altas temperaturas sobre a capacidade fecundante do macho? Explique. 18 - Qual a relação mais importante entre a luz e o metabolismo? 19 - A postura das aves é aumentada ou diminuída com a luz? 20 - Qual a importância da umidade atmosférica como fator ambiente dos animais domésticos? 21 - Como a 160 radiação solar atinge o animal desabrigado? 22 - Como as chuvas caracterizam os climas, e quais seus efeitos sobre a pecuária da região? 23 - Explique a ação indireta do clima sobre o gado. 24 - Como o solo pode influir sobre o gado de modo geral, e quais as duas vias pelas quais, o solo pode influir indiretamente? 161
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