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Capítulo 6 A INTERFACE CAVACO-FERRAMENTA A INTERFACE CAVACO-FERRAMENTA • 4ª etapa do processo cíclico de formação do cavaco: movimento sobre a superfície de saída da ferramenta. • Conceito clássico de atrito (F = .N) não é apropriado. A pressão na interface pode chegar a valôres de 3,5 GN/m2. • As condições que acontecem este escorregamento têm influências marcantes no processo (no próprio mecanismo de formação do cavaco, na força de usinagem, nas temperaturas de corte, no desgaste e vida das ferramentas de corte). DIFICULDADES • Observações diretas durante o corte oferece mínimos detalhes. • Velocidades de saída dos cavacos são, normalmente muito elevadas (Vcav = 120 m/min = 2 m/s, às vezes maiores). • Áreas de contato cavaco-ferramenta muito pequenas (1,0 mm2, às vezes menores). Quick-Stop A maioria dos estudos da interface utiliza o congelamento do corte, usando técnicas de Quick-Stop. Neste processo, a ferramenta de corte no torneamento é retraída, com velocidade superior a velocidade de corte (de 2 a 3 vezes maior), deixando a raiz do cavaco em condições de análises em microscópios para estudos. Quick-Stop Acionamento por revólver Acionamento por mola Situações no desengate Amostra de quick-stop do ferro fundido nodular Movimento sobre a superfície da ferramenta As condições que acontecem este movimento têm influências marcantes em todo o processo de usinagem, principalmente no mecanismo de formação do cavaco (plano de cisalhamento primário), na força de usinagem (energia consumida), no calor gerado durante o corte (temperatura de corte) nos mecanismos e na taxa de desgaste das ferramentas de corte (vida das ferramentas). É preciso, portanto, entender como se processa o movimento do cavaco ao longo da superfície de saída da ferramenta. Na interface cavaco-ferramenta podem existir três condições distintas: • Aderência (seizure ou sticking) + Escorregamento • Escorregamento (sliding) • Aresta postiça de corte, APC (built-up-edge, BUE) ATRITO EM USINAGEM Área de contato numa superfície levemente carregada Os três regimes de atrito sólido O modelo de distribuição de tensão na superfície de saída da ferramenta, proposto por Zorev P e ç a Ferramenta cavaco O modelo de distribuição de tensão na superfície de saída da ferramenta, proposto por Zorev Condições de aderência Nestas condições existe um íntimo contato entre o cavaco e a ferramenta (Ar = A), garantido pela alta tensão de compressão. Movimento na interface, ocorre dentro da zona de fluxo, onde existe um gradiente de velocidades. Na interface, o material é estacionário, mas a poucos micrometros acima a velocidade assume o valor da velocidade de saída do cavaco. As deformações podem chegar à ordem de 100 e ocorrem por cisalhamento termoplástico adiabático. Praticamente todo trabalho de cisalhamento é convertido em calor, elevando a temperatura da ferramenta. Amostra de Quick-Stop: indício de aderência (seção de ferramenta de aço-rápido na usinagem de aço de baixo carbono em alta velocidade de corte) Amostra de Quick-Stop: indícios de aderência (camada de material do cavaco aderido na superfície de saída da ferramenta, mostrando fraturas dúcteis dentro do cavaco) Amostra de Quick-Stop: indícios de aderência (camada de material do cavaco aderido na superfície de saída da ferramenta, mostrando fraturas dúcteis dentro do cavaco) Áreas de aderência e escorregamento na interface cavaco-ferramenta Raiz de um cavaco de aço de baixo carbono (ABNT 1010) após usinagem em alta velocidade de corte. Espessura da zona de intensa deformação é da ordem de 25-50 m. Microscopia de transmissão de elétrons de estrutura da zona de fluxo em aço ABNT1020 usinado a 70 m/min. Observação da zona de fluxo se estendendo na superfície da peça Deformações na Zona de Fluxo Segundo o modelo de Trent, a deformação cisalhante na zona de fluxo é inversamente proporcional à distância da superfície de saída. No ponto Y, a porção inicial do material OabX sofreu uma deformação para Oa’b’X, enquanto que a metade do material da porção inicial considerada, isto é, OcdX (metade de OabX) se deformou para Oc”d”X que é o dobro da deformação sofrida por ab. Correspondentemente, o material OefX, onde Oe vale ¼ de Oa, se deforma para Oe’’’f’’’X quando ele atinge o ponto Y, que é quatro vezes maior que a deformação sofrida por OabX quando este atinge o mesmo ponto Oa’b’X. Distância da superfície de saída da ferramenta (m) Deformação cisalhante sobre o comprimento de contato cavaco- ferramenta (mm/mm) Tempo sobre o comprimento de contato cavaco- ferramenta (s) Taxa de deformação (s-1) 80 20 1,6 1,25 x 104 40 40 3,2 1,25 x 104 20 80 6,4 1,25 x 104 10 160 12,8 1,25 x 104 5 320 25,6 1,25 x 104 2,5 640 51,2 1,25 x 104 Deformações cisalhantes na zona de fluxo de acordo com o modelo de Trent Condições de escorregamento Nestas condições a área real é menor que a área aparente. Neste caso não existe a zona de fluxo, e movimento relativo ocorre justamente na interface. A geração de calor ocorre por flashes, em cada ponto de contato. CASOS ESPECIAIS EM QUE A ADERÊNCIA É EVITADA Alguns elementos são introduzidos nos materiais de corte fácil, tais como chumbo, o selênio, o telúrio, o bismuto, etc., que funcionam como lubrificantes sólidos (internos) e formam um filme na interface, com resistência ao cisalhamento menor que a resistência da matriz, eliminando por completo a zona de aderência, prevalecendo totais condições de escorregamento, diminuindo assim, as temperaturas de corte as forças de usinagem e os desgastes das ferramentas. Na realidade a zona de fluxo não desaparece. Ela é substituída pela zona de fluxo formada por material de livre-corte aderido na interface, muito mais mole e menos resistente ao cisalhamento. SITUAÇÃO EM QUE A ZONA DE FLUXO É ELIMINADA Raiz do cavaco do Latão 60-40 Raiz do cavaco do Latão 60-40 com Pb Superfície de saída da ferramenta mostrando a presença do Pb Aresta Postiça de Corte - APC Raiz de cavaco de duralumínio (liga Al-Si) com APC Fases do processo de formação da Aresta Postiça de Corte - APC • Deformação plástica • Encruamento • Crescimento do corpo da APC • Abertura de trincas • Cisalhamento Aresta Postiça de Corte - APC A formação da APC é um processo envolvendo deformação plástica, encruamento e formação de microtrincas. Ela só se formará na presença de segunda fase na matriz do material sob corte. A segunda fase é quem garante um estado triaxial de tensão, devido a taxas de deformações diferentes, desta em relações à matriz, para promover o aparecimento de microtrincas. “A formação da APC pode ser relacionada com uma pessoa caminhando sobre um terreno de lama. O barro começa a grudar no sapato e muda a forma de solado. Ele vai crescendo em tamanho até cair, e o processo começa a se repetir”. Serope Kalpakjian RESUMO DAS CONDIÇÕES DA INTERFACE CAVACO- FERRAMENTA Podem existir três situações distintas: 1 – Aderência + Escorregamento 2 – Escorregamento 3 – Aresta Postiça de Corte - APC Em se prevalecendo qualquer uma destas, temos três situações distintas, e portanto os efeitos na usinagem são também diferentes, principalmente na força de usinagem, na temperatura de corte e no desgaste das ferramentas de corte.
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