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Sociologia do Direito Introdução

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SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Transição do Poder Saber:
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Relação entre Indivíduo e Sociedade
SOCIOLOGIA DO DIREITO - Durkheim
SOCIOLOGIA DO DIREITO
“A construção do ser social, feita em
boa parte pela educação, é a
assimilação pelo indivíduo de uma
série de normas e princípios — sejam
morais, religiosos, éticos ou de
comportamento — que balizam a
conduta do indivíduo num grupo. O
homem, mais do que formador da
sociedade, é um produto dela.“
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O estudo do direito pode, inclusive, revelar o tipo de
sociedade e o grau de consciência coletiva de seus
membros.
As sociedades menos complexas costumam possuir
um direito essencialmente repressivo; as sociedades
mais complexas, possuem um direito essencialmente
restitutivo.
Esses direitos indicam o tipo de solidariedade que
interliga os fatos sociais.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Segundo o sociólogo Emile Durkheim, onde predomina
solidariedade orgânica (tipo de solidariedade das
sociedades complexas, onde a integração é realizada a
partir da diferenciação entre os indivíduos e grupos no
interior da sociedade), a integração da sociedade não
depende tanto da vigência de um sistema de crenças e
sentimentos comuns a todos, mas de uma moral
profissional para cada atividade especializada e de
normas legais que viabilizam a dependência mútua.
O direito nesta sociedade individualista possui a função
de manter o mínimo de consciência coletiva para que a
sociedade não entre num processo de desintegração (
patológico e anômico)
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O sociólogo Emile Durkheim alerta que a punição e o
castigo não passam de uma válvula de escape para as
frustrações sociais decorrentes do ato delituoso.
Segundo Durkheim, a existência de normas e das
punições não está relacionada com o controle, a
regeneração ou a recomposição dos danos causados
pelos indivíduos que cometeram crimes, todos os
mecanismos sociais os quais, para Durkheim, são sempre
mecanismos de valores morais.
Esses valores procuram sempre atingir a consciência
coletiva, ou seja, o conjunto da sociedade, sobretudo os
indivíduos que respeitam as normas, reforçando nestes a
moral social dominante.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Em Marx e a relação entre Direito e sociedade:
O Estado, para o autor, localiza-se na esfera
superestrutural, sendo seu surgimento necessário
para ordenar essa luta de classes, amenizando-a.
Fazendo isso, o Estado atende aos interesses dos
proprietários, já que a intensificação dos conflitos
pode gerar uma superação da realidade e à classe
dominante interessa a permanência da situação
vigente.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Infraestrutura
"Na produção social de sua vida, os homens constroem
determinadas relações necessárias e independentes de
sua vontade, relações de produção que correspondem a
uma determinada fase de desenvolvimento das suas
forças produtivas materiais.
O conjunto dessas relações de produção formam a
estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a
qual se levanta
A superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem determinadas formas de consciência
social. O modo de produção da vida material condiciona
o processo da vida social, política e espiritual em geral".
(Marx e Engels, "Obras escolhidas", volume 1, p.301).
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O poder político sempre foi a maneira legal e jurídica
pela qual a classe economicamente dominante de
uma sociedade manteve seu domínio. O aparato legal
e jurídico apenas dissimula o essencial: que o poder
político existe como poderio dos economicamente
poderosos, para servir seus interesses e privilégios e
garantir-lhes a dominação social." Chauí (2001, P.
411).
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Em Weber: Ação social é aquela em que os
indivíduos agem conforme a expectativa que eles tem
a respeito do que os outros esperam.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
(Weber)
COLONIALISMO
“A história do sistema-mundo moderno tem sido, em
grande parte, a história da expansão dos povos e dos
Estados europeus pelo resto do mundo.” (Immanuel
Wallerstein)
A violência reconhecida pelo Direito
A estratégia de dominação
O Colonialismo: consagrou a hegemonia do
pensamento eurocêntrico, fundado no projeto
iluminista que pregou a fé inelutável na ciência e, de
certa forma, nos deixou de herança um mundo
representado por meio de dualismos
(progresso/atraso, civilizados/bárbaros,
cultura/natureza, interesses metafísicos/interesses
militares, etc.). No entanto, acabou forjando no
campo das visões de mundo do século XVI em diante,
a perspectiva de leitura das outras racionalidades
percebidas nas lógicas culturas subjugadas.
Cartografias do Conhecimento e do Direito
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Formam-se assim,
As Linhas cartográficas “abissais” que demarcavam o
Velho e o Novo Mundo na era colonial subsistem
estruturalmente no pensamento moderno ocidental e
permanecem constitutivas das relações políticas e
culturais excludentes mantidas no sistema mundial
contemporâneo. (BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS Para além do Pensamento
Abissal: Das linhas globais a uma ecologia de saberes)
A imposição do conhecimento nas colônias
No domínio do conhecimento, a APROPRIAÇÃO vai
desde o uso de habitantes locais como guias e de
mitos e cerimônias locais como instrumentos de
conversão, à pilhagem de conhecimentos indígenas
sobre a biodiversidade, enquanto a VIOLÊNCIA é
exercida através da proibição do uso das línguas
próprias em espaços públicos, da adoção forçada de
nomes cristãos, da conversão e destruição de
símbolos e lugares de culto, e de todas as formas de
discriminação cultural e racial. (SANTOS, 2010, p.34)
A formação de duas cartografias
A distinção/interdependente das Cartografias se
constituem da seguinte maneira:
A cartografia Epistemológica do conhecimento parte:
a) Da sua capacidade de produzir e radicalizar
distinções;
b) Por caracterizar a modernidade ocidental como
um paradigma fundado na tensão entre a regulação e
a emancipação social ;
c) Pela distinção entre as sociedades
metropolitanas e os territórios coloniais;
SOCIOLOGIA DO DIREITO
d) Por considerar a concretização da dicotomia
regulação/emancipação aplicável apenas às
sociedades metropolitanas;
e) Das distinções intensamente visíveis que
estruturam a realidade social deste lado da linha,
baseada na invisibilidade das distinções entre este e
o outro lado.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Por outro lado, A Cartografia Jurídica estrutura-se:
a) No campo do direito moderno, este lado da linha é
determinado por aquilo que conta como legal ou ilegal de
acordo com o direito oficial do Estado ou com o direito
internacional. Assim, o legal e o ilegal são as duas únicas
formas relevantes de existência perante a lei, e, por esta
razão, a distinção entre ambos é uma distinção universal;
b) Por excluir todo um território social onde ela seria
impensável como princípio organizador, isto é, o território
sem lei, fora da lei, o território do a-legal, ou mesmo do
legal e ilegal de acordo com direitos não oficialmente
reconhecidos;
SOCIOLOGIA DO DIREITO
c) No que toca ao direito, a tensão entre APROPRIAÇÃO
E VIOLÊNCIA é particularmente complexa devido à sua
relação direta com a extração de valor: tráfico de
escravos e trabalho forçado, uso manipulador do direito
e das autoridades tradicionais através do governo
indireto (indirectrule), pilhagem de recursos naturais,
deslocação maciça de populações, guerras e tratados
desiguais, diferentes formas de apartheid e assimilação
forçada dessa realidade, etc;
d) Pelo não reconhecimento das populações índias e
negras como sujeitos de Direitos, desqualificados para
dominar, explorar, destruir;SOCIOLOGIA DO DIREITO
e) Por reconhecer juridicamente que a posse da terra
da colônia é justa devido a superioridade europeia;
f) Com base nestas concepções abissais de
epistemologia e legalidade, a universalidade da
tensão entre a regulação e a emancipação, aplicada
deste lado da linha, não entra em contradição com a
tensão entre APROPRIAÇÃO (incorporação,
cooptação e assimilação) e VIOLÊNCIA (destruição
física, material, cultural e humana) aplicada do outro
lado da linha. (SANTOS, 2010)
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O desenvolvimento da colonialidade:
Os colonizadores impuseram também uma imagem
mistificada de seus próprios padrões de produção de
conhecimentos e significações. Os colocaram
primeiro longe do acesso dos dominados. Mais
tarde, os ensinaram de modo parcial e seletivo, para
cooptar alguns dominados em algumas instâncias do
poder dos dominadores. Então a cultura europeia se
converteu, além do mais, em uma sedução; dava
acesso ao poder. Depois de tudo, mais além da
repressão, o instrumento principal de todo poder é
sua sedução. A europeização cultural se converteu
em uma aspiração. (QUIJANO, 1992, p.439).
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Na tentativa de entender as estratégias de poder
subjacentes ao exercício da colonialidade, Quijano
(1997; 2005; 2010) desenvolveu a ideia de
colonialidade do poder, como um modelo de
exercício da dominação especificamente moderno
que interliga a formação racial, o controle do
trabalho, o Estado e a produção de conhecimento.
Em outras palavras, a colonialidade do poder é a
classificação social da população mundial ancorada na
noção de raça, que tem origem no caráter colonial,
mas já́ provou ser mais duradoura e estável que o
colonialismo histórico, em cuja matriz foi estabelecida
(Quijano, 2000).
Estruturação entre o Sistema mundo e a 
colonialidade.
Na tentativa de entender as estratégias de poder
subjacentes ao exercício da colonialidade, Quijano
(1997; 2005; 2010) desenvolveu a ideia de
colonialidade do poder, como um modelo de
exercício da dominação especificamente moderno
que interliga a formação racial, o controle do
trabalho, o Estado e a produção de conhecimento.
Em outras palavras, a colonialidade do poder é a
classificação social da população mundial ancorada na
noção de raça, que tem origem no caráter colonial,
mas já́ provou ser mais duradoura e estável que o
colonialismo histórico, em cuja matriz foi estabelecida
(Quijano, 2000).
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Para Castro-Gomez (2007), esse conceito (
colonialidade) amplia a ideia foucaultiana do poder
disciplinar, ao mostrar que os dispositivos panópticos
construídos pelo Estado moderno se expandem a uma
estrutura mais ampla e de caráter mundial,
configurada pela relação colonial entre Estados
cêntricos e periféricos.
ONU, Banco Mundial, FMI, Unesco, OMC, OCDE
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Assim,
“O conhecimento e o direito modernos representam
as manifestações mais bem conseguidas do
pensamento abissal.”(p.3)
“No campo do conhecimento, o pensamento abissal
consiste na concessão à ciência moderna do
monopólio da distinção universal entre o verdadeiro
e o falso, em detrimento de dois conhecimentos
alternativos: a filosofia e a teologia. O carácter
exclusivo deste monopólio está no cerne da disputa
epistemológica moderna entre as formas científicas e
não-científicas de verdade.” (p.4)
SOCIOLOGIA DO DIREITO
No campo do direito moderno, este lado da linha é
determinado por aquilo que conta como legal ou
ilegal de acordo com o direito oficial do Estado ou
com o direito internacional.
O legal e o ilegal são as duas únicas formas
relevantes de existência perante a lei, e, por esta
razão a distinção entre ambos é uma distinção
universal. (p.4)
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Para que a colonialidade se perpetue no contexto
social do Brasil a forma de relação entre o público e o
privado foi redimensionada através:
a) O JEITINHO BRASILEIRO: UMA REVISAO
BIBLIOGRÁFICA (Alyssa Magalhães Prado)
Um dos grandes estudiosos acerca do jeitinho
brasileiro e sua importância dentro da sociedade
brasileira é o antropólogo Roberto DaMatta, autor de
obras significativas no Brasil como Carnavais,
malandros e heróis: para uma sociologia do dilema
brasileiro, O que faz do Brasil, Brasil? e A casa e a rua
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Parte do princípio que existem dois modos de
navegação social que se apresentam no papel de
dois sujeitos:
a) o indivíduo, aquele que acata as leis universais que
regulam a sociedade, e
b) a pessoa, sujeito de relações sociais que conduz o
sistema.
O jeitinho seria um mecanismo comum da pessoa,
que acredita e se utiliza das relações sociais nas
situações que lhe convém.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
b) Outros elementos são identificados nas três
disfunções atávicas que marcam a trajetória da
formação do Estado brasileiro: (Luís Roberto Barroso)
B1) o patrimonialismo,
B2) o oficialismo e
B3)a cultura da desigualdade
SOCIOLOGIA DO DIREITO
B1) Patrimonialismo:
O patrimonialismo remete à nossa tradição ibérica, ao
modo como se estabeleciam as relações políticas,
econômicas e sociais entre o Imperador e a sociedade
portuguesa, em geral, e com os colonizadores do Brasil,
em particular. Não havia separação entre a Fazenda do rei
e a Fazenda do reino, entre bens particulares e bens do
Estado. Os deveres públicos e as obrigações privadas se
sobrepunham. O rei tinha participação direta e pessoal
nos tributos e nos frutos obtidos na colônia. Vem desde aí
a difícil separação entre esfera pública e privada, que é a
marca da formação nacional.
A aceitação resignada do inaceitável se manifesta na
máxima “rouba, mas faz”.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
B2) Oficialismo
Esta é a característica que faz depender do Estado – isto
é, da sua bênção, apoio e financiamento –todos os
projetos pessoais, sociais ou empresariais. Todo mundo
atrás de emprego público, crédito barato, desonerações
ou subsídios. Da telefonia às fantasias de carnaval, tudo
depende do dinheiro do BNDES, da Caixa Econômica, dos
Fundos de Pensão, dos cofres estaduais ou municipais.
Dos favores do Presidente, do Governador ou do Prefeito.
Cria-se uma cultura de paternalismo e compadrio, a
república da parentada e dos amigos. O Estado se torna
mais importante do que a sociedade. Um dos
subprodutos dessa compulsão se expressa na máxima
do favorecimento e da perseguição: “Aos amigos tudo;
aos inimigos, a lei”.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
B3) Cultura desigualdade:
A cultura da desigualdade é o nosso terceiro mal crônico. A
igualdade no mundo contemporâneo se expressa em três
dimensões: a igualdade formal, que impede a desequiparação
arbitrária das pessoas; a igualdade material, que procura
assegurar as mesmas oportunidades a todos; e a igualdade
como reconhecimento, que busca respeitar as diferenças de
gênero e proteger as minorias, sejam elas raciais, de orientação
sexual ou religiosas. Temos problemas nas três dimensões.
Como não há uma cultura de que todos são iguais e deve haver
direitos para todos, cria-se um universo paralelo de privilégios:
imunidades tributárias, foro privilegiado, juros subsidiados,
auxílio moradia, carro oficial, prisão especial. A caricatura da
cultura da desigualdade ainda se ouve, aqui e ali: “Sabe com
quem está falando?”.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Aspectos negativos no jeitinho:
a) Começo pelo improviso, a incapacidade de
planejar, de cumprir prazos e, em última análise, de
cumprir a palavra. Vive-se aqui a crença equivocada
de que tudo se ajeitará na última hora, com um
sorriso, um gatilho e a atribuição de culpa a alguma
fatalidade (falsamente) inevitável, e não à
imprevidência.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
B) Colocar o sentimento pessoal ou as relações
pessoais acima do dever para com o próximo e a
sociedade.
O nepotismo é um exemplo emblemático dessadisfunção: o favorecimento dos parentes ou dos
amigos na indicação para o cargos públicos de livre
nomeação ou na contratação de serviços. Quando o
Supremo Tribunal Federal julgou uma ação que veio a
proibir o nepotismo no Poder Judiciário, um
desembargador declarou à imprensa: “Se eu não fizer
pelos meus, quem fará?”
SOCIOLOGIA DO DIREITO
c) O sentimento de desigualdade, de que as regras
são para os outros, para os comuns, e não para os
especiais como eu. E aí não é preciso respeitar a fila, é
possível parar o carro na calçada ou entregar a
documentação fora do prazo. Por vezes, a quebra de
regras sociais transforma-se em violação direta e
aberta da lei.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
E aí vêm as pequenas fraudes, como o atestado
médico falso, a nota de táxi superfaturada para
aumentar o reembolso ou a cobrança de preço
diferente com nota ou sem nota. E depois, sem
surpresa, vem a corrupção graúda, de quem paga
propina para vencer a licitação, de quem obtém inside
information para investir no mercado financeiro com
lucros maiores do que os outros ou de quem paga
vantagem ao diretor do fundo de pensão de empresa
estatal para ele colocar dinheiro dos associados em
um negócio pouco vantajoso.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Duas anotações importantes:
A primeira: o jeitinho alimenta o MITO DO BRASILEIRO
CORDIAL: A expressão é de Ribeiro do Couto e seu conteúdo foi
aprofundado por Sergio Buarque de Holanda em Raízes do
Brasil, Rio de Janeiro: José Olympio, 1991 (a 1ª edição é de
1936).
O cor ou cordis vem de coração e revela o primado da emoção
e do sentimento nas relações interpessoais, acima dos
formalismos e do verniz superficial da polidez.
A cordialidade, nesta acepção, reconduz à versão positiva do
jeitinho, manifestado na pessoalização das relações sociais pela
afetuosidade, informalidade e bom humor. Mas esta é, também,
a raiz das disfunções apontadas acima, que se materializam na
indisciplina, no desapreço aos ritos essenciais, no individualismo
que se sobrepõe à esfera pública
SOCIOLOGIA DO DIREITO
A segunda anotação é que o jeitinho exibe uma relação ruim
com a lei em geral. O jeitinho brasileiro contribui para esse
estado de coisas.
Em primeiro lugar, o hábito de olhar para o outro lado para não
ver o que está acontecendo. Como consequência, as pessoas no
Brasil se surpreendem como o que já sabiam.
Ou alguém Leis têm caráter geral e obrigatório, isto é, valem
para todos em igual situação e devem ser obedecidas. Aqui
temos dois problemas. Um, diz respeito, de novo, à questão da
igualdade: há os que se consideram acima da lei, por sua
riqueza ou seus cargos.
É o sentimento aristocrático, o representante do rei. O outro
problema relaciona-se à legalidade propriamente dita: como o
país tem uma tradição autoritária e hierárquica, o cidadão
comum vai desenvolvendo mecanismos de se subtrair à norma e
à autoridade. Isso poderia se justificar na colônia ou na
ditadura.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Esse tipo de jeitinho, aliás, termina por confrontar-se com duas
grandes conquistas ligadas ao Estado de direito e à democracia:
a legalidade (i.e., o respeito às leis) e a igualdade (todos são
iguais perante a lei).
Temos problemas relacionados ao jeitinho assim na ética
pública como na ética privada. E em graus diferentes, tanto
envolvendo a quebra de normas sociais quanto a violação da lei:
a) Por ética pública eu me refiro ao comportamento dos
agentes públicos e às relações entre os indivíduos e o Poder
Público.
b) Por ética privada quero significar as relações interpessoais e
sociais entre as pessoas, a consideração maior ou menor que
uma tem pela outra.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Raízes do Jeitinho Brasileiro
a) Faoro (1975) que afirma que o patrimonialismo
carrega uma herança do mundo ibérico, pois essa
sociedade se subordinou ao Estado, onde se
desenvolveu em Portugal um Absolutismo,
responsável por separar os grupos sociais da
sociedade de modo burocrático. Essa forma de
Estado se compõe em um sistema de exploração
da máquina pública pela classe política, que teria
se reproduzido como marca na tradição política
brasileira.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
b) Gilberto Freyre, em Casa grande e senzala (1933),
obra referência para a compreensão do Brasil,
apresenta o movimento da sociedade escravocrata
e explicita o patriarcalismo corrente no Brasil
colônia.
Casa Grande e Senzala, latifúndio e escravidão, esses
eram a base da sociedade escravocrata, e o autor
apresenta como eram os processos vivenciados nessa
estrutura social e econômica.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Sérgio Buarque de Holanda foi responsável por
escrever outra obra também central para a
compreensão da história e cultura brasileira, o livro
Raízes do Brasil (1937):
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O Estado surge a partir do momento que há a
transgressão da ordem doméstica e familiar.
Exemplifica citando as velhas fábricas onde o mestre e
seus aprendizes eram uma família, onde havia uma
hierarquia natural e todos partilhavam das
mesmas restrições e permissões. Com o modelo
industrial, passaram a existir empregadores e
empregados que se tornaram cada vez mais
diferenciados, extinguiu-se a intimidade no trabalho e
as divergências de classe foram estimuladas
(HOLANDA, 2012).
SOCIOLOGIA DO DIREITO
SOCIOLOGIA DO DIREITO
DaMatta (1997) utiliza-se da metáfora da “casa” e da
“rua” para discutir também esses dois cenários. A
rua é sinônimo de impulsos, é o local onde
ocorrem acidentes, paixões, novidades e ação, já a
casa diz respeito a um ambiente conservador, onde as
relações são de parentesco e sangue. Na casa, as
ações são regidas naturalmente por hierarquias do
sexo e idade, enquanto na rua as hierarquias precisam
ser descobertas. Esse autor contrapõe-se a Holanda
pois acredita em uma gradação possível nesses
espaços públicos e privados, dando como exemplo
a varanda, espaço que se configura como um meio
entre casa e rua, entre intimidade e comunidade.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
O que é o Jeitinho Brasileiro?
DaMatta (1983) afirma que o Estado sempre agiu a
serviço da Elite, e sendo assim, consolida seu poder
legislativo com a afirmação da proibição,
submetendo assim sua população à obediência.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Para Motta e Alcadipani (1999) os interesses pessoais
são considerados superiores aos do coletivo,
acarretando uma crescente ausência de coesão na
vida social dos brasileiros.
Então, o brasileiro responde a situações onde
deveria servir a leis restritivas e universais
utilizando seu sistema de relações pessoais.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Segundo DaMatta (1984), é também importante a
compreensão destas leis. Para o autor, em outros
países a legislação não seria feita com o intuito de
explorar ou subjugar o cidadão, mas concebida como
um instrumento para o funcionamento da sociedade,
de um modo seguro, sem que a norma fosse aplicada
diferencialmente entre os indivíduos devido à
condição social.
SOCIOLOGIA DO DIREITO
Definição:
O “jeito” é um modo e um estilo de realizar. Mas que
modo é esse? É lógico que ele indica algo importante. É,
sobretudo, um modo simpático, desesperado ou
humano de relacionar o impessoal com o pessoal; nos
casos – ou no caso – de permitir juntar um problema
pessoal (atraso, falta de dinheiro, ignorância das leis por
falta de divulgação, confusão legal, ambiguidade do texto
da lei, má vontade do agente da norma ou do
usuário, injustiça da própria lei, feita para uma dada
situação, mas aplicada universalmente etc.) com um
problema impessoal. Em geral, o jeito é um modo pacífico
e até mesmo legítimo de resolver tais problemas,
provocando essa junção inteiramente casuística da lei
com a pessoa que a está utilizando (DaMatta, 1984, p.
99).
SOCIOLOGIA DO DIREITO

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