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Crimes Contra o Patrimonio

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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
 
DIREITO PENAL
Bibliografia consultada e sugerida:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal : parte
especial, volumes 03 e 04 – 4. Ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2004.
CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal, volumes 2 e 3 : parte
especial – 5. ed. rev. e atual. – São Paulo : Saraiva, 2005.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal, volumes 1 e 2 – 28. ed. rev. –
São Paulo : Saraiva, 2005.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, volumes II e III –
23. ed. – São Paulo : Atlas, 2005.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado – São Paulo :
Atlas, 1999.
NORONHA, E. Magalhães. Direito Penal. – São Paulo : Saraiva, 1985-
1987.
5. DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO (TÍTULO
II)
Nesse título o Código Penal tutela o patrimônio da pessoa física e jurídica.
O patrimônio é o conjunto de bens, de qualquer ordem, pertencentes a
um titular. Integram o patrimônio: os bens corpóreos e incorpóreos de valor econômico; os
bens de valor afetivo ou sentimental; os bens úteis à pessoa, embora destituídos de valor
econômico (ex: folha de cheque em branco, cartão de crédito).
Não se confunde patrimônio com propriedade. O patrimônio compreende
o complexo de relações jurídicas da pessoa, abarcando, portanto, a universalidade dos
bens. A propriedade é um dos elementos do patrimônio.
► Crimes contra o patrimônio e sua relação com a usucapião
A posse clandestina e violenta convalida-se ano e dia após a cessação da
violência e clandestinidade. E, após a convalidação, torna-se possível usucapir o bem, se
a posse da coisa prolongar-se por cinco anos (art. 1261 do Código Civil).
Admite-se, portanto, que o ladrão obtenha a propriedade da coisa pela via
da usucapião. Todavia, cumpre observar que dificilmente o ladrão poderá usucapir a
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
coisa. Com efeito, no furto, enquanto não cessar a clandestinidade, a sua posse será
injusta, inviabilizando a usucapião. Vale lembrar que cessa a clandestinidade quando a
vítima, e não terceiros, tomar ciência de que determinada pessoa possua a coisa.
No roubo, a posse, além de violenta, costuma também ser clandestina,
aplicando-se, destarte, a mesma observação acima mencionada.
Na apropriação indébita, a posse revela-se precária, caracterizada pelo
abuso de confiança. E nos termos do Código Civil, a posse precária não se convalida,
impossibilitando também a usucapião.
5.1. FURTO – ART. 155 DO CÓDIGO PENAL
5.1.1. Furto Simples
Diz o caput do art. 155: “Subtrair para si ou para outrem coisa alheia
móvel: 
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
Assim, furto é a subtração, para si ou para outrem, de coisa alheia
móvel.
O objeto jurídico é o patrimônio, abrangendo a posse e a propriedade.
1.1.1. Elementos do Furto
a) Subtrair: significa tirar algo de alguém, desapossar.
Pode ocorrer em dois casos:
- tirar algo de alguém (Ex: subtrair uma bicicleta da vítima);
- receber uma posse vigiada e sem autorização levar o bem, retirando-o da esfera
de vigilância da vítima (Ex: caixa de supermercado que furta o dinheiro).
Conclui-se que a expressão engloba tanto a hipótese em que o bem é tirado da
vítima quanto aquela em que a coisa é entregue voluntariamente ao agente e este a leva
consigo.
Essa modalidade difere da apropriação indébita porque nesta (apropriação) a
posse é desvigiada. Ex.: caixa de supermercado, tem a posse vigiada, se pegar dinheiro
praticará furto. 
Os empregados domésticos que subtraem bens dos patrões enquanto trabalham
cometem crime de furto.
O furto é delito de forma livre, admitindo inúmeros meios de execução. Assim,
responde por furto o agente que realiza a subtração valendo-se de um animal
especialmente treinado para este fim.
b) Ânimo de assenhoramento definitivo do bem: “para si ou para outrem”
(animus rem sibi habendi) 
2
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
Trata-se do elemento subjetivo específico do tipo. Não basta apenas a vontade de
subtrair (dolo geral): a norma exige a intenção específica de ter a coisa, para si ou para
outrem, de forma definitiva.
É esse elemento que distingue o crime de furto e o furto de uso (fato atípico). Para
a sua caracterização é necessário que o agente tenha intenção de uso momentâneo e
que restitua a coisa imediata e integralmente à vítima. Portanto, no furto temos dois
requisitos: a) uso momentâneo; b) restituição integral do bem. A doutrina e a
jurisprudência entendem inexistir o roubo de uso. Alguns, entretanto, entendem que não
há roubo por falta da elementar “para si ou para outrem”, devendo subsistir o crime de
constrangimento ilegal.
c) Coisa alheia móvel (objeto material do tipo)
Coisa móvel: aquela que pode ser transportada de um local para outro. O Código
Civil considera como imóvel alguns bens móveis, como aviões, embarcações, o que para
fins penais é irrelevante. Assim, pode haver furto de aviões, embarcações, etc, apesar da
lei civil considerá-los imóveis.
Os semoventes (boi, vaca, cavalo) também podem ser objeto de furto, como, por
exemplo, o abigeato, ou seja, o furto de gado.
Areia, terra (retirados sem autorização) e árvores (quando arrancadas do solo)
podem ser objeto de furto, desde que não configure crime contra o meio ambiente.
A coisa deve ser alheia (elemento normativo do furto). Se for coisa própria não
haverá o crime (Não haverá furto se o indivíduo subtrair a sua própria bicicleta. Se
eventualmente a coisa própria estiver em poder de terceiro, comete o crime do art. 346 do
CP – subtipo do crime de Exercício arbitrário das próprias razões).
O furto é um tipo anormal porque contém elemento normativo que exige juízo de
valor. Coisa alheia é aquela que tem dono; dessa forma, não constituem objeto de furto a
res nullius (coisa de ninguém, que nunca teve dono) e a res derelicta (coisa abandonada).
Nessas hipóteses, o fato será atípico porque a coisa não é alheia.
A coisa perdida (res desperdicta) tem dono, mas não pode ser objeto de furto
porque falta o requisito da subtração; quem a encontra e não a devolve não está
subtraindo - responderá por apropriação de coisa achada, tipificada no art. 169, par. ún.,
inc. II, do Código Penal. 
A coisa só é considerada perdida quando está em local público ou aberto ao
público. Coisa perdida, por exemplo, dentro de casa, dentro do carro, se achada e não
restituída ao proprietário, caracterizará crime de furto. 
Coisa de uso comum: (água dos mares, ar atmosférico etc.) não pode ser objeto
de furto, exceto se estiver destacada de seu meio natural e for explorada por alguém. Ex.:
água da Sabesp.
Não confundir com furto de coisa comum, art. 156 do Código Penal, que
ocorre quando o objeto pertence a duas ou mais pessoas nas hipóteses de sociedade,
condomínio de coisa móvel e co-herança. É crime de ação penal pública condicionada à
representação. 
3
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
O art. 155, § 3.o, do Código Penal trata do furto de energia. Equipara-se à coisa
móvel a energia elétrica, bem como qualquer outra forma de energia com valor
econômico. Esse dispositivo é uma norma penal explicativa ou complementar (esclarece
outras normas; na hipótese, define como objeto material do furto, a energia).
Þ O furto de sinal de TV a cabo está sendo equiparado. César Roberto Bitencourt
entende que não há crime, pois o sinal não está sendo subtraído, apenas usado.
Þ O sêmen é considerado energia genética e sua subtração caracteriza o delito de
furto.
Þ Ser humano não pode ser objeto de furto, pois não é coisa. Poderá haver os
crimes de sequestro (art. 148) ou subtração de incapaz (art. 249).Þ A subtração de cadáver ou parte dele tipifica o delito específico do art. 211 do
Código Penal (destruição, subtração ou ocultação de cadáver). O cadáver só pode ser
objeto de furto quando pertence a uma instituição e está sendo utilizado para uma
finalidade específica. Ex.: faculdade de medicina, institutos de pesquisa.
Þ A subtração de órgão de pessoa viva ou de cadáver, para fins de transplante,
caracteriza crime da Lei n. 9.434/97.
Þ Cortar o cabelo de alguém para vender, não configura furto, mas sim, lesão
corporal. 
Þ No caso de alguém retirar dente de ouro ou paletó do cadáver, há dois
entendimentos:
- Esses bens possuem dono, que são os sucessores do falecido, por isso
tratam-se de coisa alheia que pode ser furtada, caracterizando o crime de furto que terá
como sujeito passivo os familiares do de cujus.
- Os bens equivalem à coisa abandonada, por não haver interesse por
parte dos sucessores em recuperá-los. Assim, o crime não é o de furto, mas o de violação
de sepultura – art. 210 do Código Penal.
1.1.2. Sujeito ativo
Pode ser qualquer pessoa, exceto o dono, porque o tipo exige que a coisa seja
alheia.
Subtrair coisa própria, que se encontra em poder de terceiro, em razão de contrato
(mútuo pignoratício) ou de ordem judicial (objeto penhorado), acarreta o crime do art. 346
do Código Penal (tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder
de terceiro por determinação judicial ou convenção). Este crime não tem nome; é um
subtipo do exercício arbitrário das próprias razões. 
O credor que subtrair bem do devedor, para se auto-ressarcir de dívida já vencida e
não paga, pratica o crime de exercício arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP). Não
responde por furto porque não agiu com intenção de causar prejuízo.
Se alguém, por erro, pegar um objeto alheio pensando que lhe pertence, não
responderá por furto em razão da incidência do erro de tipo. 
1.1.3. Sujeito passivo
É sempre o dono e, eventualmente, o possuidor ou detentor que sofre algum
prejuízo.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
O agente que furta um bem que já fora anteriormente furtado responde pelo delito,
que terá como vítima não o primeiro furtador, mas o dono da coisa.
Pessoas jurídicas podem ser vítimas de furto, porque o seu patrimônio é autônomo
do patrimônio dos sócios. 
1.1.4. Consumação
O furto consuma-se mediante a ocorrência de dois requisitos (posição do STJ):
1) retirada do bem da esfera de vigilância da vítima (o bem sai da esfera de
vigilância da vítima);
2) posse tranqüila do bem, ainda que por pouco tempo (o autor tem a posse
tranqüila do objeto subtraído). Enquanto estiver sendo perseguido, sob o encalço da
vítima ou terceiro, ainda não haverá consumação (haverá furto tentado).
Fernando Capez e Damásio E. de Jesus entendem que para a consumação do
delito de furto, basta a exigência do primeiro requisito, ou seja, retirada do bem da esfera
de vigilância da vítima, não se exigindo a posse tranquila. A consumação do furto ocorre
com a inversão da posse. O que quer dizer aqui é que para a consumação o bem deve
sair da esfera da vítima e permanecer com o autor, mesmo que por poucos instantes. Se
o indivíduo tenta furtar um relógio, mas a vítima percebe o furto e não o deixa retirar o
relógio do pulso, há mera tentativa. Agora, se o objeto é retirado pelo autor que o detém
por alguns instantes, há consumação.
Não se pode falar em crime consumado quando, por exemplo, a vítima percebe
que está sendo furtada e sai em perseguição prendendo-o na posse da res furtiva. O
objeto não saiu da esfera de vigilância da vítima e não entrou na posse tranqüila do
agente.
Se, na fuga, o agente se desfaz ou perde o objeto, que não venha a ser
recuperado pela vítima, consuma-se o delito, pois a vítima sofreu efetivo prejuízo. É
exceção à exigência de que o agente tenha posse tranqüila do bem.
Quando há concurso de agentes, se o crime está consumado para um, está
também consumado para todos – adoção da teoria unitária. Ex.: dois ladrões furtam uma
carteira, um foge com o bem e o outro é preso no local: o crime está consumado para
ambos. 
1.1.5. Tentativa
Trata-se de crime material, portanto, a tentativa é perfeitamente possível. Ocorrerá
a tentativa quando o agente não chegar a retirar o bem da esfera de vigilância da vítima.
(Ex: é surpreendido dentro da residência da vítima carregando um televisor).
É possível, até mesmo na forma qualificada, com exceção do § 5.o do art. 155 do
Código Penal.
O fato de ter havido prisão em flagrante não implica, necessariamente, que o furto
seja tentado, como, por exemplo, o caso do flagrante ficto (art. 302, IV, do CPP), que
permite a prisão do agente encontrado, algum tempo depois da prática do crime com
papéis, instrumentos, armas ou objetos que façam presumir ser ele o autor do crime.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
 Tentativa e ato preparatório: somente haverá tentativa quando houver início de
execução. Vejamos:
- sujeito surpreendido subindo as escadas para entrar em uma residência: meros
atos preparatórios;
- após entrar na residência, o sujeito é surpreendido antes de se apoderar de
qualquer objeto: a posição majoritária é que responde apenas por violação de
domicílio; há entendimento de que já há tentativa, uma vez que adentrou na
casa;
- após entrar na residência, o sujeito é surpreendido se apoderando de objetos : há
tentativa.
 Crime impossível e tentativa de furto: crime impossível é aquele que, pela
ineficácia absoluta do meio ou impropriedade do objeto, é impossível de consumar-se. 
Vejamos:
- Loja com sistema antifurto ou fiscalização de seguranças: pessoa que se apodera
de mercadorias e as esconde, sendo pega ao tentar sair do estabelecimento, há
furto tentado;
- Furto de automóvel. Dispositivo antifurto ou defeito mecânico: em ambas as
hipóteses haverá tentativa de furto. Da mesma forma se houver o sistema de
corta-combustível, uma vez que haverá impropriedade relativa do objeto
material, pois o agente pode se valer de outros meios para o furto;
- Punguista que enfia a mão no bolso errado da roupa da vítima: haverá duas
situações que precisam ser esclarecidas. Se a vítima tiver o dinheiro a ser
furtado e o autor colocou a mão no bolso errado da calça, haverá tentativa de
furto. Se a vítima não possuía dinheiro em nenhum dos bolsos para ser furtado,
o crime é impossível.
1.1.6. Concurso de Pessoas
O crime de furto pode ser praticado por uma única pessoa (crime
monossubjetivo). Autor do delito é aquele que realiza a conduta descrita no tipo. É,
portanto, aquele que subtrai a coisa alheia móvel.
É possível o concurso de pessoas desde que haja um ajuste prévio. É
inadmissível a coautoria e participação posteriores à consumação do crime. Assim, se “A”
solicita a “B” que guarde o objeto por ele já furtado, jamais poderemos falar em
participação. Há, no caso, crime autônomo, qual seja, o de favorecimento real (CP, art.
349).
Admite-se a participação mediante omissão em crime de furto, se o
sujeito tinha o dever jurídico de impedir o resultado (art. 13, §2º CP). Ex: empregado que
deve fechar a porta do estabelecimento comercial não o faz para que terceiro possa mais
tarde praticar o furto.
1.1.7. Concurso de delitos
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
a) Concurso material: é possível. Por exemplo, o agente estupra a
vítima e posteriormente lhe subtrai os bens; o agente não consegue subtrair bens e, ao
ser perseguido por policiais, emprega violência ou grave ameaça.
b) Concurso formal: é possível. Se, por exemplo, o agente, dentro de um
ônibus, subtrair objetos de diversas pessoas.
c) Crime continuado:é possível entre crimes da mesma espécie, como é
o caso do furto simples e do furto qualificado.
d) Outras hipóteses que merecem comentários:
- A violação de domicílio fica absorvida pelo furto praticado em
residência por ser crime meio (princípio da consunção). No mesmo sentido, se o agente
danifica a janela para praticar o furto, o dano também ficará absorvido.
- Se o agente, após a subtração, danifica o bem subtraído, responde
apenas pelo furto, sendo o dano um post factum impunível, pois a segunda conduta
delituosa não traz novo prejuízo à vítima.
- Se a pessoa furta um bem, e depois o aliena a um terceiro de boa-fé, deve
responder por furto e por disposição de coisa alheia como própria. A jurisprudência,
entretanto, diz que é um post factum impunível.
- Se o agente furta um talão de cheques, preenche suas folhas e depois as
desconta, comete qual crime? a) Há concurso material entre o furto e o estelionato
(posição majoritária); b) o estelionato constitui post factum impunível, sendo absorvido
pelo furto; c) o furto resta absorvido pelo estelionato.
- Se o agente furta arma de fogo e a mantém ou a porta consigo, quais
crimes comete? O agente, além do furto, poderá responder pelos crimes do art.12 (posse
irregular de arma de fogo de uso permitido), 14 (porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido) ou 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito), todos da Lei nº
10.826/03.
5.1.2. Furto Noturno - Art. 155, § 1.o, do Código Penal
“A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é praticado durante o repouso noturno.”
Trata-se de causa de aumento de pena que tem por finalidade garantir a proteção
em relação ao patrimônio durante o repouso do proprietário, uma vez que neste período
há menor vigilância de seus pertences. A expressão “repouso noturno” deve ser entendida
com cautela. Não significa o pôr e o nascer do sol. Deve ser entendida como sendo o
período de recolhimento das pessoas, dependendo ainda dos hábitos do local.
O furto noturno não se aplica ao furto qualificado. Só vale para o furto simples por
dois motivos:
1) pela posição do parágrafo (o § 1.º só vale para o que vem antes);
2) no furto qualificado já há previsão de pena maior.
7
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
A jurisprudência dominante traça algumas considerações sobre o dispositivo:
a) só se aplica quando o fato ocorre em residência (definida pelo art. 150, § 4. o, do
Código Penal como sendo qualquer compartimento habitado, ou o aposento de habitação
coletiva, ou compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade) ou em qualquer de seus compartimentos, desde que haja morador dormindo;
b) o aumento não se aplica se a casa estiver desabitada ou se seus moradores
estiverem viajando. Para o Prof. Damásio o aumento é cabível estando a casa habitada
ou não, bastando que o agente se aproveite da menor vigilância que decorre do “período
do sossego noturno”, conforme orientação da Exposição de Motivos do Código Penal, nº
56;
c) não se aplica o aumento no caso de furto praticado na rua ou em comércio. 
Para o Prof. Damásio o aumento é cabível estando a casa habitada ou não,
bastando que o agente se aproveite da menor vigilância que decorre do “período do
sossego noturno”, conforme orientação da Exposição de Motivos do Código Penal, n. 56.
5.1.3. Furto Privilegiado - Art. 155, § 2.o, do Código Penal
- Requisitos
- Que o agente seja primário (todo aquele que não é reincidente). Se o réu for
primário e tiver maus antecedentes, fará jus ao privilégio, porque a lei não exige
bons antecedentes. Se o agente sofreu diversas condenações, mas não é
considerado reincidente porque não praticou nenhum delito após ter sido
condenado em definitivo, será considerado tecnicamente primário e fará jus ao
benefício. Também é primário o que praticar contravenção penal e vier a praticar
crime (art. 63 do CP).
- Que a coisa subtraída seja de pequeno valor. A jurisprudência adotou o critério
objetivo para conceituar pequeno valor, considerando aquilo que não excede a
um salário mínimo. Na tentativa leva-se em conta o valor do bem que se
pretendia subtrair. 
Deve ser examinado o valor do bem no momento da subtração e não o prejuízo
suportado pela vítima. Ex.: no furto de um carro, que é recuperado depois, o prejuízo
pode ter sido pequeno, mas será levado em conta o valor do objeto furtado. 
Não confundir privilégio com furto de bagatela. Pelo princípio da insignificância, o
crime de furto de bagatela é atípico porque a lesão ao bem jurídico tutelado é ínfima,
irrisória. No furto privilegiado, ao contrário, o fato é considerado crime, mas haverá um
benefício.
Com relação à questão de Furto Privilegiado em Serviço Público e o Princípio da
Insignificância, decidiu o S.T.F. da seguinte maneira, ainda pendente de decisão:
Princípio da Insignificância: Furto Privilegiado e Serviço Público
“A Turma iniciou julgamento de habeas corpus no qual se discute a incidência, ou não, do
8
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
princípio da insignificância em relação a denunciado pela prática do delito previsto no art.
155, § 2º, do CP (“Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz
pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou
aplicar somente a pena de multa.”) em decorrência de haver furtado água potável
mediante ligação clandestina, o que resultara em prejuízo econômico avaliado em R$
96,33. O Min. Ricardo Lewandowski, relator, deferiu o writ para cassar o acórdão do STJ e
restabelecer a decisão de 1º grau que absolvera o paciente ante a aplicação do
mencionado princípio. O relator considerou satisfeitos os requisitos necessários à
configuração do delito de bagatela, quais sejam: a) conduta minimamente ofensiva do
agente; b) ausência de risco social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento; e d) relativa inexpressividade da lesão jurídica. Desse modo, reputou
cabível a incidência do postulado da insignificância e afastou, em conseqüência, a
tipicidade da conduta imputada ao paciente. Acrescentou que caberia à concessionária
lesada buscar a reparação do dano no juízo cível. O Min. Marco Aurélio, ressaltando sua
dificuldade em colocar em plano secundário desvio de conduta quando envolvido serviço
público, também concedeu a ordem, porém em menor extensão, para determinar que o
juízo sentenciante observe o § 2º do art. 155 do CP. Após, pediu vista dos autos o Min.
Carlos Britto.
HC 99054/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 25.8.2009. (HC-99054)”
- Conseqüências
Na aplicação da pena no furto privilegiado “... o juiz pode converter a reclusão em
detenção, podendo reduzir uma ou outra de um a dois terços, ou aplicar somente a multa.
O que não pode é reduzir a privativa e a multa” (JTACrimSP 76/363).
Apesar do § 2.º trazer a expressão “pode”, presentes os requisitos legais, o juiz
deve aplicar o privilégio, porque não há faculdade, e sim, direito subjetivo do réu.
O privilégio pode ser aplicado ao furto qualificado? 
A doutrina diverge a respeito: uma corrente afirma que sim, pois não há vedação
legal; a outra, majoritária, não admite a aplicação e fundamenta que o privilégio encontra-
se no § 2.o, e portanto, não poderia ser aplicado aos §§ 4.o e 5.o; ademais, a gravidade do
furto qualificado é incompatível com as conseqüências brandas (de redução da pena) do
privilégio. 
A antiga jurisprudência do STF era contrária à possibilidade de aplicação da causa
de diminuição de pena prevista no parágrafo 2º do artigo 155 do Código Penal às
hipóteses de furto qualificado, por considerar tais institutos incompatíveis entre si.
Todavia, na sessão de 13/10/2009,a 1ª Turma da Suprema Corte, por maioria, na linha
do entendimento que já vinha sendo adotado pela 2ª Turma, deferiu Habeas Corpus para
admitir a compatibilidade entre a hipótese do furto qualificado e o privilégio de que trata o
parágrafo 2º do artigo 155 do CP (HC 97.051, relatado pela ministra Cármen Lúcia).
5.1.4. Furto Qualificado - Art. 155, §§ 4.º e 5.º, do Código Penal
Art. 155, § 4.º, do Código Penal
“A pena é de reclusão de 2 a 8 anos, e multa, se o crime é cometido:”
9
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
a) Com rompimento ou destruição de obstáculo
Pressupõe uma agressão que danifique o objeto, destruindo-o (destruição total)
ou rompendo-o (destruição parcial). O art. 171 do Código de Processo Penal exige
realização de perícia para confirmação do rompimento de obstáculo.
O obstáculo pode ser passivo (porta, janela, corrente, cadeado etc.) ou ativo
(alarme, armadilha).
A simples remoção do obstáculo não caracteriza a qualificadora, que exige o
rompimento ou destruição.
 Desligar o alarme não danifica o objeto, não fazendo incidir a qualificadora.
O cão não é considerado obstáculo. 
O crime de dano fica absorvido pelo furto qualificado quando é meio para a
subtração, por ser uma qualificadora específica.
► A qualificadora só é aplicada quando o obstáculo atingido não é parte integrante
do bem a ser subtraído ou é aplicada mesmo quando o obstáculo é parte integrante do
bem?
A questão aqui não é pacífica e há posicionamentos em ambos os sentidos.
Exemplo: Arrombar o portão para furtar o carro – aplica-se a qualificadora; quebrar
o vidro do carro para subtrair o automóvel – furto simples; quebrar o vidro do carro para
subtrair uma bolsa que está dentro – furto qualificado. Nesses dois últimos casos temos
um contra-senso (se o indivíduo furta o automóvel e quebra o vidro o furto é simples; se
quebrar para furtar algo menor –bolsa por exemplo – o crime é “maior” – qualificado). 
Outra divergência surge quanto ao furto de toca-cds. Para uns, incide a
qualificadora (posição majoritária); para outros, o furto é simples porque o toca-cd é parte
integrante do carro.
Recentemente, no Informativo 541, o Supremo Tribunal Federal decidiu que:
Furto: Rompimento de Obstáculo e Qualificadora
“A destruição ou avaria de automóvel para a subtração de objeto que
se encontra em seu interior faz incidir a qualificadora prevista no art.
155, § 4º, I, do CP (“Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa
alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. ... § 4º -
A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é
cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
da coisa;”). Com fundamento nessa orientação, a Turma indeferiu
habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública da União em favor de
condenado pela prática do delito de furto qualificado em virtude de
rompimento de obstáculo (CP, art. 155, § 4º, I), no qual se pleiteava o
afastamento dessa majorante. Aduziu-se que, tendo o paciente
utilizado de violência contra empecilho o qual dificultava a subtração
dos objetos do veículo, deveria incidir a mencionada qualificadora.”
10
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
Com relação a Furto Qualificado pelo rompimento de obstáculo e o Princípio da
Insignificância, interessante e digno de nota a decisão do STJ com forme publicação do
Informativo nº 410 de outubro de 2009:
FURTO QUALIFICADO. INSIGNIFICÂNCIA.
Trata-se de furto qualificado com destruição de obstáculo para
subtração de res furtiva, pois o paciente quebrou o vidro do carro para
furtar um guarda-chuva e uma chave de roda. O habeas corpus
objetiva absolver o paciente, sustentando que a conduta atribuída é
materialmente atípica pela aplicação do princípio da insignificância.
Nessa circunstância, explica o Min. Relator, a questão suscita polêmica
no que se refere aos limites e às características do princípio da
insignificância, que se caracteriza como causa supra legal de atipia
penal. Então, a questão está em saber se o objeto pretendido no furto,
ao ser este consumado, estaria caracterizando um ilícito penal, um
ilícito extra-penal ou algo até juridicamente indiferente. Aponta, citando
a doutrina, que, se, por um lado, na moderna dogmática jurídico-penal,
não se pode negar a relevância desse princípio; por outro, ele não
pode ser manejado de forma a incentivar condutas atentatórias que,
toleradas pelo Estado, afetariam seriamente a vida coletiva. Dessa
forma, observa que no furto, para efeito de aplicação do princípio da
insignificância, é imprescindível a distinção entre o ínfimo (ninharia
desprezível) e o pequeno valor. Este último implica eventualmente o
furto privilegiado (art. 155, § 2º, do CP), e aquele primeiro, na atipia
conglobante (dada a mínima gravidade). A interpretação de
insignificância deve necessariamente considerar o bem jurídico
tutelado e o tipo de injusto para sua aplicação. Daí, ainda que se
considere o delito como de pouca gravidade e esse delito não se
identifica com o indiferente penal se, como um todo, observado o
binômio o tipo de injusto e o bem jurídico, ele deixa de caracterizar a
sua insignificância. Assevera que esse é o caso dos autos, o valor da
res furtiva é insignificante, um delito de bagatela (guarda-chuva e
chave de roda), entretanto, a vítima teve de desembolsar a quantia de
R$ 333,00 para recolocar o vidro quebrado, logo o valor total do
prejuízo causado pelo paciente não é insignificante. Diante do
espostoexposto, como não é o caso de reconhecer a irrelevância penal
da conduta, a Turma denegou a ordem de habeas corpus. HC
136.297-MG, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 6/10/2009.
b) Com abuso de confiança, mediante fraude, escalada ou destreza
 Com abuso de confiança – requisitos:
- Que a vítima, por algum motivo, deposite uma especial confiança em alguém:
amizade, namoro, relação de emprego (famulato) etc. É o caso, por exemplo, do
furto cometido por vigia noturno. Saliente-se que a relação de emprego deve ser
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
analisada no caso concreto, pois, em determinados empregos, patrão e
empregado não possuem qualquer contato, inclusive para os empregados
domésticos a jurisprudência exige a demonstração da confiança.
- Que a subtração tenha sido praticada pelo agente, aproveitando-se de alguma
facilidade decorrente da relação de confiança.
 Emprego de fraude: significa usar de artifícios para enganar alguém,
possibilitando a execução do furto, iludir a vigilância da vítima e realizar a subtração. Ex:
agente que se disfarça de empregado da empresa de telefonia e entra na casa para
furtar.
O furto mediante fraude distingue-se do estelionato porque neste a fraude é
utilizada para convencer a vítima a entregar o bem ao agente e naquele, a fraude serve
para distrair a vítima para que o bem seja subtraído.
No furto, a fraude é qualificadora; no estelionato é elementar do tipo.
A jurisprudência entende que a entrega do veículo a alguém que pede para testá-
lo, demonstrando interesse na sua compra, caracteriza o crime de furto qualificado pela
fraude.
 
 E scalada: é o acesso por via anormal ao local da subtração. Ex.: entrada pelo
telhado, pela tubulação do ar-condicionado, pela janela, escavação de um túnel e outros.
Para configuração da escalada tem-se exigido que o agente dispense um esforço
razoável para ter acesso ao local: entrar por uma janela que se encontra no andar térreo,
saltar um muro baixo, por exemplo, não qualificam o furto.
O art. 171 do Código de Processo Penal exige a perícia do local.
 Destreza: habilidade doagente que permite a prática do furto sem que a vítima
perceba. Exemplo clássico é a punga dos batedores de carteira.
A vítima deve estar ao lado ou com o objeto para que a destreza tenha relevância
(uma bolsa, um colar etc.).
Se a vítima está dormindo ou em avançado estado de embriaguez não se aplica a
qualificadora, pois não há necessidade de habilidade para tal subtração.
Se a vítima percebe a conduta do agente, não se aplica a qualificadora.
Se a vítima não perceber a conduta do agente, mas for vista por terceiro, subsiste a
qualificadora.
c) Com emprego de chave falsa
Considera-se chave falsa:
- cópia feita sem autorização;
- qualquer objeto capaz de abrir uma fechadura. Ex.: grampo, chave mixa, gazua
etc.
A chave falsa deve ser submetida à perícia para constatação de sua eficácia.
A utilização da chave verdadeira encontrada ou subtraída pelo agente não
configura a qualificadora; o furto será simples. Se subtraída mediante fraude, haverá furto
qualificado mediante fraude.
12
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
d) Mediante o concurso de duas ou mais pessoas
A aplicação da qualificadora dispensa a identificação de todos os indivíduos e é
cabível ainda que um dos envolvidos seja menor.
 Exige-se que as duas pessoas pratiquem os atos de execução do furto?
Para Nelson Hungria e Celso Delmanto a qualificadora será aplicada quando pelo
menos duas pessoas executarem a subtração, pois o crime seria cometido com maior
facilidade, dificultando a defesa da vítima.
Para Damásio de Jesus e Heleno Fragoso a qualificadora existirá ainda que uma
só pessoa tenha praticado os atos executórios, porque a lei exige o “concurso de duas ou
mais pessoas”, não distinguindo coautoria de participação, sendo que nessa o agente não
pratica atos executórios. Demonstram ainda que a lei, quando exige a execução por todos
os envolvidos, expressa-se nesse sentido, citando como exemplo o art. 146, § 1º do
Código Penal (Constrangimento Ilegal) que impõe “para execução do crime” a reunião de
mais de três pessoas.
Reconhecida a existência do crime de quadrilha ou bando (art. 288 do CPP), o juiz
não poderá aplicar a qualificadora do furto mediante concurso de duas ou mais pessoas
porque constituiria bis in idem. 
► Princípio da Insignificância no Furto Qualificado
Discute-se a possibilidade da aplicação do princípio da insignificância no
Furto Qualificado.
O STJ, no julgamento do HC 124.185, em outubro de 2009 entendeu da
possibilidade da aplicação do princípio da insignificância. O relator do caso, ministro
Arnaldo Esteves Lima, ressaltou que a subtração, ainda que mediante o concurso de
pessoas (praticada por mais de uma pessoa), de R$ 15,00, embora se amolde à definição
jurídica do crime de furto, não ultrapassa o exame da tipicidade material, mostrando-se
desproporcional a imposição de sanção penal, uma vez que a ofensividade da conduta se
mostrou mínima e não houve nenhuma periculosidade social da ação. De acordo com o
ministro, a reprovabilidade do comportamento foi de grau reduzido e a lesão ao bem
jurídico se revelou inexpressiva. No caso em análise, segundo Arnaldo Esteves Lima, é
impositiva a aplicação do princípio da insignificância. O ministro explicou: “O princípio da
insignificância surge como instrumento de interpretação restritiva do tipo penal que, de
acordo com a dogmática moderna, não deve ser considerado apenas em seu aspecto
formal, de subsunção do fato à norma, mas, primordialmente, em seu conteúdo material,
de cunho valorativo, no sentido da sua efetiva lesividade ao bem jurídico tutelado pela
norma penal, consagrando os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima”.
Art. 155, § 5.º, do Código Penal – Inserido pela Lei n. 9.426/96
A pena passa a ser de reclusão de 3 a 8 anos, se a subtração é de veículo
automotor “que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior”. A
definição de veículo automotor encontra-se no anexo I do C.T.B., abrange, automóveis,
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
ônibus, caminhões, motocicletas, aeronaves, lanchas, porém o transporte de partes do
veículo não é abrangido por essa figura típica.
O § 5.º absorve as qualificadoras do § 4.º, que só poderão ser utilizadas como
circunstâncias judiciais, já que as penas previstas em abstrato são diversas.
Não basta a intenção do agente de transportar o veículo para outro Estado ou para
o exterior; deve ocorrer a efetiva transposição da fronteira ou divisa para incidência da
qualificadora.
Se o agente for detido antes de cruzar a divisa, haverá o crime de furto simples
consumado e a qualificadora não será aplicada.
A tentativa dessa modalidade de furto qualificado será possível quando o agente
tentar transpor a barreira da divisa e for detido.
5.1.5. Ação Penal
Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada, independente de
representação do ofendido.
5.2. ROUBO – ART. 157 DO CÓDIGO PENAL
Enquanto o furto é a subtração pura e simples de coisa alheia móvel,
para si ou para outrem (art. 155 do CP), o roubo é a subtração de coisa móvel alheia,
para si ou para outrem, mediante violência, grave ameaça ou qualquer outro recurso que
reduza a possibilidade de resistência da vítima.
O caput do artigo citado trata do roubo próprio, e o seu § 1.º descreve o
que a doutrina chama roubo impróprio. A diferença reside no preciso instante em que a
violência ou a grave ameaça contra a pessoa são empregadas. Quando o agente pratica
a violência ou grave ameaça, antes ou durante a subtração, responde por roubo próprio;
quando pratica esses recursos depois de apanhada a coisa, para assegurar a
impunidade do crime ou a detenção do objeto material, responde por roubo impróprio.
A pena para ambos (violência e/ou grave ameaça) é de reclusão, de
4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. 
1.1. Objetividade jurídica
A lei pretende assegurar o patrimônio e a integridade física ou liberdade 
individual. O roubo é crime pluriofensivo, porque ofende mais de um bem jurídico.
1.2. Sujeito Ativo
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Trata-se de crime comum.
1.3. Sujeito Passivo
Sujeito passivo pode ser qualquer pessoa que sofra diminuição (perda)
patrimonial (proprietário ou possuidor) ou que seja atingida pela violência ou grave
ameaça. 
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
1.4. Elementos do Tipo
“Subtrair” e “coisa alheia móvel” já foram objeto de análise no módulo
relativo ao crime de furto. 
a) Violência: considera-se apenas a violência real. A expressão violência
deve ser compreendida sobre tríplice aspecto: a) violência física; b) violência moral; c)
violência imprópria.
A violência física é a “vis absoluta”, caracterizada pelo emprego de força
bruta para vencer a resistência da vítima. A violência moral é a “vis compulsiva”, isto é, a
grave ameaça, traduzida na promessa de malefício. A ameaça pode se dar por palavras,
gestos, escritos e meios simbólicos. A violência imprópria ocorre quando o agente reduz
a vítima à impossibilidade de resistência, sem, contudo, empregar força física ou grave
ameaça.
b) Grave ameaça: é a promessa de um mal grave e iminente (exs.:
anúncio de morte, lesão, sequestro). É a “vis compulsiva”.
c) Qualquer outro meio: chamada violência imprópria, pode ser revelado,
por exemplo, pelo uso de sonífero, da hipnose etc. A simulação de arma e o uso de
arma de brinquedo configuram a grave ameaça.
A “trombada” será considerada como violência se for meio utilizado pelo
agente para reduzir a vítima à impossibilidade de resistência, caracterizando o roubo e
não o furto. 
1.5. Concurso de Crimes
O número de vítimas não guarda equivalência com o número de delitos.
Este último será relacionado com base no número de resultados (lesão patrimonial), que
o agente sabia estar realizandono caso concreto. 
É possível que um só roubo tenha duas vítimas, pois a vítima do roubo é
tanto quem sofre a lesão patrimonial, como quem sofre a violência ou grave ameaça.
Ex.: emprestar o carro a alguém que venha a ser assaltado (tanto o proprietário quanto o
possuidor são vítimas).
Da mesma forma, havendo grave ameaça contra duas pessoas, mas
lesado o patrimônio de apenas uma, haverá crime único, porém, com duas vítimas.
Empregada grave ameaça contra cinco pessoas e lesado o patrimônio
de três, por exemplo, há três crimes de roubo em concurso formal.
A solução, na hipótese de grave ameaça contra uma pessoa lesando
bens de duas, dá-se da seguinte maneira: se o agente não sabe que está lesando dois
patrimônios, há crime único, evitando-se a responsabilidade penal objetiva; se o agente
sabe que está lesando dois patrimônios (pega o relógio do cobrador e o dinheiro do
caixa, por exemplo), há dois crimes de roubo em concurso formal.
É possível a existência de crime continuado, se preenchidos os
requisitos do art. 71 do Código Penal. Ex.: indivíduo rouba uma pessoa em um ônibus,
sai dele, entra em outro e rouba outra pessoa. 
15
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
1.6. Consumação do Roubo
Há certa divergência quanto ao momento consumativo do roubo próprio. 
Para alguns doutrinadores, o roubo se consuma da mesma maneira que
o furto – quando o agente consegue a posse tranqüila do objeto, fora da esfera de
vigilância da vítima.
O entendimento do Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de
Justiça era de que o roubo se consumava com a simples retirada do bem da vítima,
após o emprego da violência ou grave ameaça, ainda que não consiga a posse
tranqüila. 
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no Habeas Corpus nº
96856 (Data: 11/11/2009) negou o remédio heróico para condenado por roubar o
cobrador de um ônibus. O objetivo era que o Supremo reconhecesse que o crime não
chegou a se consumar. Mas os ministros confirmaram o entendimento de que mesmo
que a prisão tenha acontecido instantes após o delito, houve a inversão da posse do
bem furtado, o que configura o crime de roubo consumado e não tentado. Para o relator
do caso, ministro Dias Toffoli, e o ministro Ricardo Lewandowski, havendo a inversão da
res furtiva, considera-se consumado o roubo.
Tem-se entendido também que estará consumado o crime se o agente,
antes de ter a posse tranqüila da coisa, se desfaz dela quando perseguido, não a
recuperando a vítima, e também quando parte da res furtiva extravia-se na fuga.
Também estará consumado o delito quando, embora detido o agente, um coautor foge
com parte do produto do crime.
1.7. Tentativa
A tentativa é possível e será verificada quando, iniciada a execução do
tipo, mediante violência ou grave ameaça, o agente não consegue efetivar a subtração;
não se exige o início da execução do núcleo “subtrair”, e sim da prática da violência
(Damásio de Jesus).
Quando o agente é preso em flagrante com o objeto do roubo, após
perseguição, responde por crime tentado (para aqueles que exigem a posse tranqüila da
coisa para consumação) e por crime consumado (Supremo Tribunal Federal e Superior
Tribunal de Justiça, que dispensam o requisito da posse tranqüila da coisa para
consumação do roubo).
Questão interessante é a do seguinte julgamento do STJ:
“ROUBO. TENTATIVA. PREPARAÇÃO.
A polícia, informada de que a quadrilha preparava-se para roubar um
banco, passou a monitorar seus integrantes mediante escuta telefônica, o que revelou
todos os detalhes do planejamento do crime. No dia avençado para o cometimento do
delito, após seguir os membros do grupo até a porta da agência bancária, ali efetuou as
prisões. Denunciado por tentativa de roubo circunstanciado e formação de quadrilha, o
ora paciente, um dos autores do crime, alega, entre outros, a atipicidade da conduta,
visto que não se ultrapassou a fase dos atos preparatórios. Contudo, essa pretensão
16
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
esbarra na impossibilidade de revolvimento das provas em sede de habeas corpus,
considerado o fato de que o Tribunal de origem, de forma fundamentada, concluiu pelo
início dos atos executórios do crime, que só não se consumou em razão da pronta
intervenção policial. Anote-se que, embora se reconheça o prestígio da teoria objetivo-
formal no Direito Penal, segundo a doutrina, qualquer teoria pode revelar contornos
diferenciados quando confrontada com o caso concreto. Com esses fundamentos, a
Turma concedeu parcialmente a ordem, apenas para, conforme precedentes,
redimensionar a pena aplicada ao paciente. HC 112.639-RS, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 25/8/2009.”
►O crime de roubo e o princípio da insignificância
Com relação a esse tema, interessante transcrever decisão do STF,
conforme Informativo nº 567/2009.
“Princípio da Insignificância e Crime de Roubo
A Turma iniciou julgamento de habeas corpus no qual a
Defensoria Pública da União pleiteia o reconhecimento do
princípio da insignificância em favor de condenado por roubo (CP,
art. 157, § 2º, II), em decorrência de haver empregado grave
ameaça para subtrair, em companhia de dois adolescentes, a
quantia de R$ 3,25 (três reais e vinte e cinco centavos). O Min.
Dias Toffoli, relator, indeferiu o writ. Enfatizou que, apesar de
ínfimo o valor subtraído, houvera concurso de pessoas, com
adolescentes, o que agravaria o contexto. Reportou-se, ademais,
a jurisprudência do STF no sentido de ser inaplicável o princípio
da insignificância ao delito de roubo. Após, o julgamento foi
suspenso em virtude do pedido de vista do Min. Carlos Britto. HC
97190/GO, rel. Min. Dias Toffoli, 10.11.2009. (HC-97190)”.
1.8. Roubo Impróprio – Art. 157, § 1.º, do Código Penal 
“Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa,
emprega violência contra a pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade
do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.”
Nesse caso, a violência ou a grave ameaça ocorrem após a
consumação da subtração, visando o agente assegurar a posse da coisa subtraída ou a
impunidade do crime. Ex: agente que exerce violência contra o guarda-noturno quando,
já carregando o produto do crime, desperta a atenção do guarda.
São requisitos do roubo impróprio:
a) efetiva retirada da coisa;
b) emprego de violência ou grave ameaça “logo depois” da subtração;
c) finalidade de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para outrem.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
1.8.1. Diferenças entre roubo próprio e roubo impróprio
No roubo próprio a violência ou grave ameaça ocorre antes da
subtração; no roubo impróprio, depois. 
No roubo próprio, a violência ou grave ameaça constituem meio para a
subtração, enquanto no roubo impróprio, o agente, inicialmente, quer apenas furtar e,
depois de já se haver apoderado de bens da vítima, emprega violência ou grave ameaça
para garantir a sua impunidade ou a detenção do bem.
No roubo próprio, a lei menciona três meios de execução, que são a
violência, a grave ameaça ou qualquer outro recurso que dificulte a defesa da vítima. No
roubo impróprio, a lei menciona apenas dois, que são a grave ameaça e a violência,
incabível o emprego de sonífero ou hipnose (violência imprópria). 
1.8.2. Requisitos do roubo impróprio
São os seguintes os requisitos do roubo impróprio:
a) Que o agente tenha se apoderado do bem que pretendia furtar. Se o
agente ainda não tinha a posse do bem, não se pode cogitar de roubo impróprio, nem de
tentativa. Ex.: o agente está tentando arrombar a porta de uma casa, quando alguém
chega ao local e é agredido pelo agente, que visa garantir sua impunidade e fugirsem
nada levar. Haverá tentativa de furto qualificado em concurso material com o crime de
lesões corporais.
b) Que a violência ou grave ameaça tenham sido empregadas logo após
o apoderamento do objeto material.
O "logo depois" está presente enquanto o agente não tiver consumado o
furto no caso concreto. Após a consumação do furto (depois de certo tempo), o emprego
de violência ou de grave ameaça não pode caracterizar o roubo impróprio. Haverá um
furto consumado e uma lesão corporal, grave ameaça, resistência, etc.
A violência ou grave ameaça pode ser contra o próprio dono do bem ou
contra um terceiro qualquer, até mesmo um policial. 
Para a jurisprudência, se a violência contra policial serviu para
transformar o furto em roubo impróprio, não se pode aplicar em concurso o crime de
resistência, porque seria bis in idem. 
c) Que a violência ou grave ameaça tenham por finalidade garantir a
detenção do bem ou assegurar a impunidade do agente. 
1.8.3. Consumação
O roubo impróprio consuma-se no exato momento em que é empregada
a violência ou grave ameaça, ainda que o agente não atinja sua finalidade (garantir a
impunidade ou evitar a detenção).
O golpe desferido que não atinge a vítima é considerado violência
empregada; portanto, roubo impróprio consumado. 
1.8.4. Tentativa
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
A tentativa não é admissível, pois ou o agente emprega a violência ou a
grave ameaça e o crime está consumado, ou não as emprega e o crime é o de furto.
Alguns autores (minoria) admitem a tentativa quando o agente quer
empregar a violência, mas é impedido.
 Arrebatamento de Inopino e Trombada
Arrebatamento é o ato de arrancar com violência a coisa que está em
poder da vítima.
Para alguns autores, o arrebatamento caracteriza violência contra coisa,
constituindo o delito de furto. Para outros, trata-se de violência contra a pessoa, dando
ensejo ao crime de roubo. É pacífico, porém, que, no caso de resultar lesão corporal,
haverá delito de roubo.
A jurisprudência também diverge sobre a subtração mediante trombada
contra a vítima. Uma primeira corrente diz que é furto, salvo quando reduzir a vítima à
impossibilidade de resistência, quando então caracterizará o roubo; uma segunda,
sempre enquadra a hipótese como roubo, diante da caracterização da violência física.
1.9. Causas de Aumento da Pena – Art. 157, § 2.º, do Código Penal
(Roubo Circunstanciado)
Se o juiz reconhecer a existência de duas ou mais causas de aumento
da pena poderá aplicar somente uma, de acordo com o parágrafo único do art. 68 do
Código Penal. 
As causas de aumento da pena incidem apenas para o roubo simples
(próprio ou impróprio), e não se aplicam ao roubo qualificado (lesão grave ou morte). 
1.9.1. Emprego de arma
É chamado de roubo qualificado pelo emprego de arma; porém, o
correto é nomear de causa de aumento do roubo (de 1/3 até 1/2). 
Arma é qualquer instrumento que tenha poder vulnerante; pode ser
própria (tem a finalidade específica de ferir) ou imprópria (qualquer objeto que possa
matar ou ferir, mas que não possui esta finalidade específica, como, por exemplo, faca,
tesoura, espeto etc.).
Não é necessário que a arma seja apontada para a vítima; basta que o
agente esteja armado e que a vítima tome conhecimento disto. A simples simulação de
arma não faz incidir o aumento da pena.
Parte da jurisprudência entende que a arma de brinquedo gera o
aumento da pena, desde que tenha causado temor à vítima. Assim, o agente teria
atingido sua finalidade de evitar eventuais reações e, portanto, facilitado o roubo.
Outra parte da jurisprudência (majoritária na doutrina) entende que não
se aplica o aumento da pena: primeiro porque não é arma; depois porque se a arma é
de brinquedo, o potencial lesivo da conduta do agente é menor.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no REsp n. 213.054, de
São Paulo, em 24.10.2001, relator o Ministro José Arnaldo da Fonseca, decidiu cancelar a
Súmula n. 174 (“No crime de roubo, a intimidação feita com arma de brinquedo autoriza o
aumento da pena.”), considerando que o emprego de arma de brinquedo, embora não
19
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
descaracterize o crime, não agrava o roubo, uma vez que não apresenta real potencial
ofensivo. Ficou assentado que a incidência da referida circunstância de exasperação da
pena:
- fere o princípio constitucional da reserva legal (princípio da tipicidade);
- configura bis in idem;
- deve ser apreciada na sentença final como critério diretivo de dosagem da pena
(circunstância judicial do art. 59 do CP);
-lesa o princípio da proporcionalidade1.
De notar-se que a decisão apenas cancelou a referida Súmula, não
havendo impedimento a que juízes e tribunais ainda continuem adotando a primeira
orientação, que determina o agravamento da pena. 
 
Caso a arma esteja quebrada ou desmuniciada, há duas posições:
a) se até arma de brinquedo autoriza o aumento da pena, arma quebrada ou
desmuniciada também tem o mesmo efeito; 
b) não tem potencial ofensivo, por isso não se aplica o aumento. 
Questões que merecem atenção especial:
1ª) Agente que emprega arma de brinquedo para praticar crime de roubo:
Posição majoritária: o agente responderá pelo roubo na forma simples.
Posição minoritária: o agente responderá pelo art. 157, § 2º, I do CP.
2ª) Agente que emprega simulação de porte de arma:
O agente responde por roubo na forma simples, não há causa especial de
aumento de pena, uma vez que não há emprego de arma.
3ª) É necessária a apreensão da arma de fogo e elaboração de laudo pericial
para configurar a causa especial de aumento de pena?
Para aqueles que entendem que o roubo será agravado mesmo que a arma não
tenha potencialidade lesiva, não é necessária a apreensão da arma de fogo.
Para aqueles que entendem que a majorante só incidirá se o meio empregado
(arma) tiver potencialidade lesiva, é preciso a apreensão da arma de fogo e posterior
confecção do laudo pericial.
Com relação a essa questão, o Supremo Tribunal Federal decidiu recentemente
da seguinte maneira.
"ROUBO QUALIFICADO PELO EMPREGO DE ARMA DE FOGO. APREENSÃO E PERÍCIA
PARA A COMPROVAÇÃO DE SEU POTENCIAL OFENSIVO. DESNECESSIDADE.
CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE SER EVIDENCIADA POR OUTROS MEIOS DE PROVA. ORDEM
DENEGADA. I - Não se mostra necessária a apreensão e perícia da arma de fogo empregada no
roubo para comprovar o seu potencial lesivo, visto que tal qualidade integra a própria natureza do
artefato. II - Lesividade do instrumento que se encontra in re ipsa. III - A qualificadora do art. 157, §
2º, I, do Código Penal, pode ser evidenciada por qualquer meio de prova, em especial pela palavra
1 GOMES, Luiz Flávio. STJ cancela Súmula 174: arma de brinquedo não agrava o roubo. São Paulo: IBCCrim,
27.9.2001. Disponível em: <www.direitocriminal.com.br>. O autor alinha outras conclusões do acórdão.
20
DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
da vítima - reduzida à impossibilidade de resistência pelo agente - ou pelo depoimento de
testemunha presencial. IV - Se o acusado alegar o contrário ou sustentar a ausência de potencial
lesivo da arma empregada para intimidar a vítima, será dele o ônus de produzir tal prova, nos termos
do art. 156 do Código de Processo Penal. V - A arma de fogo, mesmo que não tenha o poder de
disparar projéteis, pode ser empregada como instrumento contundente, apto a produzir lesões
graves. VI - Hipótese que não guarda correspondência com o roubo praticado com arma de
brinquedo. VII - Precedente do STF. VIII - Ordem indeferida." (STF, T. Pleno, HC nº 96099, Rel. Min.
 RICARDO LEWANDOWSKI, j. 19/02/2009, DJ 04/06/2009).
Portanto, conforme decisão do STF (2009), não semostra necessária a
apreensão e perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar o seu
potencial ofensivo.
4ª) O agente que pratica o roubo mediante emprego de arma de fogo, tendo o
porte ilegal desta, responde pelo crime previsto no art. 14 ou 16 da Lei nº 10.826/03
(Estatuto do Desarmamento)?
No crime de roubo cometido mediante o emprego de arma de fogo, da qual o
agente não possua autorização para porte, o roubo absorverá o emprego da arma, por
força do princípio da consunção (o mais grave absorve o menos grave).
5ª) O emprego de arma por apenas um dos coagentes constitui circunstância que
se comunica aos demais?
Sim, uma vez que é circunstância objetiva, não sendo necessário nem mesmo a
identificação do agente que utilizou a arma.
6ª) É possível a cumulação da majorante do crime de roubo com a majorante da
quadrilha ou bando (art. 288, § único)?
O crime de quadrilha ou bando é crime contra a paz pública. Quando os
associados passam a realizar as ações criminosas, consuma-se o delito de quadrilha
armada. Ao praticarem o delito de roubo empregando arma, uma nova violação a um
novo bem jurídico está ocorrendo. Logo, é possível a dupla majoração. Há posição em
sentido contrário pois haveria bis in idem.
1.9.2. Concurso de duas ou mais pessoas
As anotações feitas a respeito do concurso de pessoas no furto (art. 155
do CP) aplicam-se ao roubo; a distinção é quanto à natureza jurídica: naquele é
qualificadora; neste é causa de aumento. O aumento se justifica pela maior organização
do delito, aumentando a possibilidade de consumação. Os menores de 18 anos, os
doentes mentais e os desconhecidos, participantes da conduta criminosa, também são
computados.
1.9.3. Serviço de transporte de valores
Aplicável apenas se a vítima está trabalhando (“em serviço”) com o
transporte de valores (ex.: assalto de office-boy, de carro-forte etc.). Transporte de
valores se refere a dinheiro, jóias preciosas e qualquer outro bem passível de ser
convertido em pecúnia.
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
Se o ladrão assaltar o motorista do carro-forte, levando somente o seu
relógio, não há qualificadora. 
Exige-se que o agente conheça a circunstância do transporte de valor
(dolo direto), não se admitindo dolo eventual.
 Obs.: não existe qualificadora semelhante no crime de furto. 
1.9.4. Veículo automotor que venha a ser transportado para outro
estado ou país
Veículo automotor abrange aeronaves, automóveis, motocicletas,
lanchas, jet-ski, etc. Urge, para a incidência do aumento de pena, que o veículo seja
efetivamente transportado para outro Estado ou exterior. Consuma-se o crime quando o
veículo transpõe a fronteira.
1.9.5. Se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua
liberdade
Aplica-se às hipóteses em que a vítima é mantida pelos assaltantes por
pouco tempo, ou tempo suficiente para a consumação do roubo. Se o período for longo,
haverá concurso material de roubo simples e sequestro (art. 157 c.c. art. 148, ambos do
CP). Se não houver a tirada da vítima do local onde já se achava, mas mera retenção,
como por exemplo, trancá-la no quarto da própria casa, caracteriza-se, da mesma forma,
o delito em apreço.
Não se aplica ao sequestro-relâmpago, pois, o fato da vítima fornecer a
senha, somente pode ser praticado por ela. Não se trata de subtração e, portanto, de
roubo, mas de extorsão.
1.10. Roubo Qualificado – Art. 157, § 3.º, do Código Penal 
Há duas formas de roubo qualificado, aplicáveis tanto ao roubo próprio
quanto ao impróprio.
De acordo com a primeira parte do dispositivo: “se da violência resulta
lesão corporal de natureza grave, a pena é de reclusão, de 7 (sete) a 15 (quinze) anos,
além de multa”.
Houve alteração da pena mínima, para tornar pacífico o entendimento de
que as causas de aumento da pena do § 2.º não se aplicam às qualificadoras do § 3.º.
Se a lesão é leve, esta fica absorvida.
A parte final dispõe que “se resulta morte, a reclusão é de 20 (vinte) a 30
(trinta) anos, sem prejuízo da multa”. É o denominado latrocínio (crime hediondo). 
Não confundir tentativa de latrocínio com roubo qualificado pela lesão
grave. O que distingue é o dolo (vontade de matar ou vontade de lesar). 
Se a vítima morre em razão da grave ameaça tem-se concurso formal de
roubo simples e homicídio culposo (ex.: a vítima, ao ver a arma, sofre ataque cardíaco e
morre).
O latrocínio pode ser próprio e impróprio. O latrocínio próprio ocorre
quando a morte ocorre antes ou durante a subtração da coisa, ao passo que no
latrocínio impróprio o agente primeiro se apodera da coisa, sem qualquer violência,
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
matando a vítima logo em seguida com o intuito de assegurar a subtração ou a
impunidade. Exemplo de latrocínio próprio: o agente mata o empregado de um
estabelecimento comercial, subtraindo em seguida o dinheiro do caixa. Exemplo de
latrocínio impróprio: o agente, logo após subtrair um bem, mata o policial que o
surpreende.
O roubo será qualificado se a morte ou a lesão corporal grave resultarem
da “violência”; o tipo não menciona a grave ameaça. Nos termos do art. 19 do Código
Penal, via de regra, o crime qualificado pelo resultado é preterdoloso (há dolo na
conduta antecedente e culpa na conseqüente). 
No crime de latrocínio, excepcionalmente, a morte pode decorrer de
culpa ou dolo, respeitando-se o Princípio da Proporcionalidade das Penas (roubo
simples + homicídio doloso = 4 +12 = 16, a pena seria inferior à pena prevista para
hipótese de resultar morte culposa no crime de roubo).
Súmula n. 603 do STF: "ainda que a morte seja dolosa, por haver
latrocínio (crime contra o patrimônio), a competência é do juízo singular".
Tem-se, como regra, que a morte ou lesão corporal grave,
resultando de violência, pode ser de qualquer pessoa. A exceção encontra-se na
morte ou lesão corporal grave de coautor ou partícipe: se o agente pretendia matar
a vítima ou terceira pessoa, mas por erro mata o co-autor, há o crime de latrocínio,
pois considera-se no caso a pessoa que o agente realmente pretendia atingir.
Sujeito passivo do latrocínio é tanto a pessoa que sofre a lesão
patrimonial quanto aquela que é morta, podendo esta última ser até mesmo um policial
ou terceiro. O latrocínio é crime pluriofensivo, pois ofende mais de um bem jurídico: o
patrimônio e a vida.
1.10.1. Consumação e tentativa do latrocínio
Por se tratar de crime complexo tem-se o seguinte esquema:
a) Subtração consumada + morte tentada = latrocínio tentado.
b) Subtração consumada + morte consumada = latrocínio consumado.
c) Subtração tentada + morte tentada = latrocínio tentado.
d) Subtração tentada + morte consumada = latrocínio consumado (Súmula n. 610
do STF: “Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize
o agente a subtração de bens da vítima”).
 
Caracteriza-se a violência quando empregada em razão do roubo (nexo
causal) e durante o cometimento do delito (no mesmo contexto fático). 
O nexo causal estará presente quando a violência constituir meio para a
subtração (ex.: roubo próprio qualificado pela morte) ou quando for empregada para
garantir a detenção do bem ou a impunidade do agente (ex.: roubo impróprio). 
Faltando um desses requisitos, haverá roubo em concurso material com
homicídio doloso ou delito de lesão corporal dolosa. 
Ex.1: João rouba alguém hoje; semanas depois, para garantir a impunidade, mata
a vítima. Responderá por roubo em concurso material com homicídio. 
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
 Ex.2: ladrão mata um desafeto seu, que passa pelo local duranteo roubo. Foi
durante o roubo, mas não em razão dele. 
2. EXTORSÃO – ART. 158 DO CÓDIGO PENAL
A extorsão consiste em empregar violência ou grave ameaça com a
intenção ou de obter indevida vantagem econômica, ou para obrigar a vítima a fazer,
deixar de fazer ou tolerar que se faça algo. 
 A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa (é a mesma
pena do roubo).
Do conceito acima apura-se que o delito de extorsão há a presença dos
seguintes elementos:
a) o constrangimento para obter da vítima uma ação, omissão ou
tolerância;
b) emprego de violência ou grave ameaça;
c) finalidade de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
econômica.
2.1. Objetividade Jurídica
A principal é a inviolabilidade do patrimônio. A secundária é a proteção à
vida, integridade física, liberdade pessoal e tranqüilidade do espírito. Trata-se de delito
pluriofensivo, porque ofende mais de um bem jurídico.
2.2. Elemento objetivo do tipo
A ação nuclear do tipo consubstancia-se no verbo “constranger”, que
significa coagir, forçar, obrigar alguém a fazer (ex: quitar uma dívida não paga), tolerar
que se faça (ex: permitir que se rasgue um contrato) ou deixar de fazer alguma coisa (ex:
obrigar a vítima a não propor ação judicial).
Temos inicialmente a ação de constranger seguida da realização ou
abstenção de um ato.
O constrangimento pode ser exercido mediante o emprego de violência
ou grave ameaça, os quais podem atingir tanto o titular do patrimônio quanto pessoa
ligada a ele. Assim, a vítima cede à chantagem ante o temor que um bem seu de maior
valor seja sacrificado.
É elemento indispensável à configuração do delito a ilegitimidade da
pretensão buscada pelo agente. Tratando-se de pretensão legítima, o crime será de
exercício arbitrário das próprias razões (art. 345).
Violência física é o emprego de vias de fato ou lesão corporal para vencer
a resistência da vítima.
Violência moral é o emprego de grave ameaça.
2.3. Sujeitos do delito e elemento subjetivo do tipo
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
Sujeito ativo é qualquer pessoa (crime comum). Se for funcionário público
cometerá o crime de concussão (art. 316 do CP). O funcionário público também comete
extorsão quando realiza ameaças estranhas às funções, como na hipótese de escrivão
que exige dinheiro de uma pessoa para não influenciar o delegado de polícia a realizar o
indiciamento. Se, porventura, o mal prometido pelo funcionário público relacionar-se às
suas funções, haverá o delito de concussão. Nítida, portanto, a distinção entre extorsão e
concussão. Na primeira, a ameaça não se relaciona às funções; na segunda, a ameaça
consiste na prática de um ato funcional, de modo que a vítima cede à exigência,
exclusivamente, em razão da função.
Sujeitos passivos podem ser o que sofre violência ou grave ameaça,
aquele faz, deixa de fazer ou tolera que se faça e aquele que sofre o prejuízo econômico.
Exemplo: o extorsionário chantageia uma mulher e o marido, ameaçando de morte o seu
filho, objetivando a obtenção de vantagem econômica.
Elemento subjetivo do tipo é o dolo. O agente visa conseguir da vítima
uma ação ou omissão, com o fim de obter, para si ou para outrem, indevida vantagem
econômica. Há necessidade de finalidade específica, qual seja, a intenção de obter uma
vantagem indevida e econômica.
2.4. Consumação e Tentativa
Há várias correntes a respeito da consumação e tentativa.
A primeira entende que se trata de crime formal. (Nélson Hungria). De
acordo também com o entendimento do Professor Damásio de Jesus, o crime se
consuma quando a vítima faz, deixa de fazer ou tolera que se faça alguma coisa. Essa
corrente é majoritária e prevalece. A tentativa também seria admissível na hipótese de o
constrangimento operar-se por escrito e não chegar ao conhecimento da vítima ou então
quando esta não se constranger.
Uma segunda corrente (Magalhães Noronha – corrente minoritária)
entende que o crime é material, exigindo-se a produção do resultado – obtenção da
indevida vantagem econômica. Haverá tentativa na hipótese de o agente não obter a
vantagem, por circunstância alheia à sua vontade.
Uma terceira corrente, sem apoio na doutrina, entende que é crime
formal, mas se consuma com a simples conduta de constranger, prescindindo-se da
ação ou omissão da vítima e da obtenção da vantagem econômica. A tentativa ocorreria
quando o agente formulasse por escrito a exigência da vantagem, mas a carta não
chegasse ao conhecimento da vítima.
2.5. Causas de Aumento da Pena
O § 1.º do art. 158 do Código Penal dispõe que a pena é aumentada de
um terço a metade (1/3 a 1/2) se o crime é cometido por duas ou mais pessoas ou com
o emprego de arma. Falando a lei em “cometido por duas ou mais pessoas” exige-se
que ambas cometam o crime, ou seja, somente ocorrerá a causa de aumento se houver
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
coautoria. Se houver participação, não haverá a causa de aumento (Ex: se um indivíduo
pratica os atos de violência e o outro apenas realiza a vigília, não há a causa de
aumento). A questão é discutível na doutrina e na jurisprudência.
2.6. Extorsão Qualificada
Segundo o § 2.º do mesmo dispositivo deve-se aplicar à extorsão as
regras e penas do roubo qualificado pela lesão grave ou morte.
A extorsão qualificada pelo resultado morte foi erigida à categoria de
crime hediondo (art. 1º, III da Lei nº 8.072/909).
2.7. Extorsão – Sequestro Relâmpago
No dia 17 de abril de dois mil e nove foi publicada e entrou em vigor a
Lei nº 11.923/09 que modificou o Código Penal, acrescentando o § 3º ao Artigo 158 do
Código Penal, para tipificar o chamado “sequestro relâmpago”.
Assim, o artigo 158, § 3º passou a vigorar com a seguinte redação:
§ 3o Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da
vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a
pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão
corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o,
respectivamente.
Luiz Flávio Gomes faz as seguintes considerações sobre o novo tipo
penal:
1) O sequestro relâmpago era enquadrado como extorsão mediante
sequestro: no que diz respeito ao crime único de sequestro relâmpago (agora previsto
expressamente no art. 158, § 3º, do CP) cabe fazer as seguintes considerações: antes
do advento da Lei 11.923/2009 ele era tipificado ora no art. 157, § 2º, V, do CP, ora no
art. 159 do CP (extorsão mediante sequestro). Correta era a última posição porque no
sequestro relâmpago é imprescindível a atuação da vítima para que o delito se
consuma, ou seja, a atuação da vítima é condição necessária para a obtenção da
vantagem econômica. Isso não se passa no roubo (onde o agente subtrai os bens da
vítima, sem que ela seja condição necessária para a obtenção da lesão patrimonial). 
2) Temos agora duas situações diferentes: para clarificar bem a matéria,
devemos fazer a seguinte distinção: uma coisa é a concretização exclusiva do sequestro
relâmpago (obrigar a vítima, por exemplo, a fazer saques em caixas eletrônicos,
privando-a da liberdade) e outra (bem diferente) consiste em o agente subtrair bens da
vítima em primeiro lugar (o carro, a carteira, dinheiro etc.) e depois praticar o sequestro
relâmpago. Na primeira situação temos crime único (agora enquadrado no art. 158, § 3º,
do CP, sem sombra de dúvida). Na segunda temos dois delitos: roubo (art. 157) + art.
158, § 3º (extorsão). 
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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL – ARTs. 155 A 212
3) A pena do delito foi reduzida: partindo-se da premissa posta, a pena
do delito de sequestro relâmpago, antes, era de oito a quinze anos de reclusão (CP, art.159). Agora (por força da nova lei) a pena é de seis a doze anos (crime simples). A nova
lei diminuiu a pena do delito em destaque. 
4) Sequestro relâmpago deixou de ser crime hediondo: antes o
sequestro relâmpago (sendo enquadrado no art. 159) era crime hediondo. Agora deixou
de ser crime hediondo (porque a extorsão do art. 158, § 3º, não está catalogada, no
Brasil, como crime hediondo - ver art. 1º da Lei 8.072/1990). Não sendo possível
analogia contra o réu, não pode o juiz suprir esse vácuo legislativo (nem o doutrinador
pode violar a garantia da lex stricta). 
5) Lei nova é mais benéfica ao réu: antes não se permitia para o
sequestro relâmpago a anistia, graça, indulto, etc. Agora todos esses institutos são
cabíveis. Antes se exigia o cumprimento de dois quintos (se primário) ou três quintos (se
reincidente) para a progressão de regime; agora basta o cumprimento de um sexto da
pena para esse efeito (LEP, art. 112). 
6) Sequestro relâmpago com lesão grave ou morte: se resulta (do
sequestro relâmpago) lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no
art. 159, §§ 2º e 3º, respectivamente. Note-se: o crime não se converte em extorsão
mediante sequestro, tão-somente são aplicadas as suas penas. Não sendo extorsão
mediante sequestro, em regra não há que se falar em crime hediondo, salvo quando
ocorre o resultado morte (extorsão com resultado morte é crime hediondo). No caso de
lesão grave, não é crime hediondo (por falta de previsão legal). 
7) Desproporcionalidade da pena: a pena nova do delito de sequestro
relâmpago (embora menor que a anterior, contemplada no art. 159 do CP), comparada
com o delito de homicídio simples, é totalmente desproporcional. Aliás, a pena é idêntica
nas duas situações: de seis a doze anos de reclusão. Praticar sequestro relâmpago ou
matar uma pessoa no Brasil é a mesma coisa (no que diz respeito à pena). A
desproporcionalidade é patente. Sendo o Brasil um país tradicionalmente patrimonialista,
nota-se o quanto que o patrimônio "vale" (na consideração equivocada do legislador)
mais que a vida. 
8) Desproporcionalidade entre o roubo e o sequestro relâmpago: há
desproporcionalidade também em relação ao roubo com privação da liberdade da vítima.
Nesse caso (roubo agravado) a pena mínima é de cinco anos e quatro meses de
reclusão. No sequestro relâmpago a pena mínima é de seis anos de reclusão. Total
desproporcionalidade. Tanto no roubo como no sequestro relâmpago o objetivo do
agente é o patrimônio. Bens jurídicos idênticos, modo de execução idêntico: não se
justifica pena distinta. Cabe ao juiz julgar inconstitucional a pena do art. 158, § 3º, do CP,
aplicando a pena mínima do art. 157, § 2º, V, do CP. 
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9) Roubo agravado pela privação da liberdade da vítima + sequestro
relâmpago: isso é possível. Vamos imaginar: o agente, durante o roubo em sua casa,
priva a vítima da liberdade para a consumação do roubo (tranca a vítima no banheiro,
v.g.). Em seguida coloca a vítima no carro e vem a praticar o sequestro relâmpago. O
que temos? Roubo agravado (art. 157, § 2º, V) + sequestro relâmpago (art. 158, § 3º).
São duas privações da liberdade diferentes (para finalidades distintas). Daí a pertinência
do roubo agravado pela privação da liberdade + sequestro relâmpago. 
10) A privação da liberdade no roubo, no sequestro relâmpago e na
extorsão mediante sequestro (diferenças): com a nova lei percebe-se que a privação da
liberdade pode servir como meio para a prática de três crimes patrimoniais: roubo (art.
157, § 2º, V), extorsão comum (art. 158, § 3º) e extorsão mediante sequestro (art. 159). 
Distinções: haverá roubo quando o agente, apesar de prescindir (não
necessitar) da colaboração da vítima para apoderar-se da coisa visada, restringe sua
liberdade de locomoção para garantir o sucesso da empreitada (da subtração ou da
fuga). Ocorre extorsão comum (sequestro relâmpago) quando o agente, dependendo da
colaboração da vítima para alcançar a vantagem econômica visada, priva o ofendido da
sua liberdade de locomoção pelo tempo necessário até que o locupletamento se
concretize. Por fim, teremos extorsão mediante sequestro quando o agente, privando a
vítima do seu direito de deambulação, condiciona sua liberdade ao pagamento de
resgate a ser efetivado por terceira pessoa (ligada, direta ou indiretamente, à vítima).
2.8. Diferenças entre Extorsão e outros crimes
Extorsão e Exercício Arbitrário das Próprias Razões
Na extorsão o agente visa a uma vantagem patrimonial indevida,
enquanto no exercício arbitrário das próprias razões a vantagem é devida (art. 345 do
CP).
Roubo e Extorsão
Para Nelson Hungria, no roubo o bem é tirado da vítima, e na extorsão a
vítima entrega o bem. A doutrina e a jurisprudência discordam dessa teoria em algumas
hipóteses que dizem respeito à conduta entregar. Quando a vítima é obrigada a entregar
o objeto sem ter qualquer opção (ex.: arma de fogo apontada para ela), o crime será o
de roubo. 
Para que o crime seja de extorsão é necessário, portanto, que, após o
emprego da violência ou grave ameaça, a vítima tenha alguma opção de escolha, sendo
sua colaboração imprescindível para que o agente obtenha a vantagem visada.
Enquanto no roubo a ação e o resultado são concomitantes, na extorsão
o mal prometido e a vantagem são futuros.
Questão polêmica é a que diz respeito ao constrangimento da vítima
para sacar dinheiro em caixa eletrônico. Para a jurisprudência, o delito é de extorsão
(art. 158 do CP) e não de roubo (art.157, § 2.º, inc.V, do CP), com fundamento no
princípio da dispensabilidade ou indispensabilidade da conduta da vítima.
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Para o Professor Damásio de Jesus, as condutas devem ser analisadas
no caso concreto: “De acordo com o princípio da prescindibilidade do comportamento da
vítima, quando o autor pode obter o objeto material dispensando a sua conduta, trata-se
de roubo; quando, entretanto, o escopo do agente depende necessariamente de ação do
ofendido, cuida-se de extorsão”. E exemplifica: “Quando o autor constrange a vítima a
lhe entregar o cartão magnético, a hipótese é de roubo agravado (art.157, § 2.º, inc. V) e
não de extorsão, uma vez que ele pode, para obter o dinheiro, dispensar a ação da
vítima”; a solução será diversa quando “a vítima é coagida a retirar o dinheiro do banco
mediante a emissão de cheque, caso em que o autor não pode prescindir de seu
comportamento”.
Extorsão e Estelionato
Para se saber se o crime é o de extorsão, deve-se verificar se a entrega
do objeto material foi espontânea (voluntária) ou não. No estelionato, a entrega é
espontânea porque a vítima está sendo enganada; na extorsão, esta entrega da coisa é
contra a sua vontade para evitar um mal maior. No estelionato, a vítima não sabe que
está havendo um crime.
Quando o agente emprega fraude e violência ou grave ameaça para
obter a coisa, o delito é de extorsão, pois a entrega ocorre não em razão da fraude, mas
sim da violência ou grave ameaça. Observe o exemplo citado pelo Professor Victor
Gonçalves: “Uma pessoa simula ser policial e, sob ameaça de morte, obriga a vítima a
entregar-lhe certa quantia em dinheiro”. 
Extorsão e Constrangimento Ilegal
Tanto na extorsão quanto no constrangimento ilegal, o agente emprega
violência ou grave ameaça contra a vítima, no sentido de que faça ou deixe de fazer
alguma coisa.
A diferença entre extorsão e constrangimento ilegal está na finalidade:
no constrangimento ilegal, o sujeito ativo deseja que a vítima se comporte de
determinada maneira, para obter qualquer tipo de vantagem. Na extorsão, o
constrangimento é realizado com o objetivo expresso no tipo

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