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1ª aula Introdução ao Direito Civil

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UNISUAM 
TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL 
PROFª LIDIA CALDEIRA 
 
1ª AULA 
 
DIREITO
Há grande dificuldade em se definir o Direito.  Pablo Stolze , p. 52, apresenta um testemunho do Prof. Washington de Barros Monteiro que nos ajuda a refletir:
“Podemos refletir na atualidade, o que foi dito anteriormente por Kant, de que ainda continuam os juristas à procura do seu conceito de direito, e também por Alvares Taladriz, de que ‘tão deficientemente como a geometria define o que seja espaço, assim acontece igualmente com o direito.
Pertence a questão ao âmbito da filosofia jurídica, desta constituindo um dos problemas fundamentais. Por isso, neste ensejo, fugindo intencionalmente às suas complexidades, limitar-nos-emos a uma única definição, talvez a mais singela, mas que, desde logo, por si só, fala ao nosso entendimento. É a de Radbruck: ‘o conjunto das normas gerais e positivas, que regulam a vida social.’”
Direito:
Fenômeno humano;
Instrumento necessário ao convívio social.
CONCEITOS
“Como um dado cultural, produzido pelo homem, o direito visa a garantir a harmonia social, preservando a paz e a boa-fé, mediante o estabelecimento de regras de conduta, com sanção institucionalizada.”
Gagliano, 2016.
 
“ O Direito é a norma das ações humanas na vida social, estabelecida por uma organização soberana e imposta coativamente à observância de todos.” Silvio Rodrigues 
 
“O direito é o princípio de adequação do homem à vida social. Está na lei, como exteriorização do comando do Estado; integra-se na consciência do indivíduo que pauta sua conduta pelo espiritualismo do seu elevado grau de moralidade; está no anseio de justiça , como ideal eterno do homem, está imanente na necessidade de contenção para a coexistência.” Caio Mário da Silva Pereira 
 
 “O Direito é a norma que, se inobservada, poderá ser aplicada coercitivamente pelo poder competente, estatal ou internacional.” Paulo Dourado de Gusmão 
 
“O Direito, e particularmente o Direito Civil, forma-se a partir da influência sóciocultural das civilizações, com os reflexos de cada momento histórico.” 
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald 
 
 
DIVISÃO CLÁSSICA DO DIREITO: 
 
Quanto ao conteúdo do Direito : considera a origem da relação jurídica. 
 
Direito público e Direito privado. 
 
Com origem no direito romano, assim dispunha Ulpiano: 
“Direito público é o que corresponde às coisas do Estado; direito privado , o que pertence à utilidade das pessoas.” 
 
Na visão clássica do direito brasileiro: 
 
Direito público – regula as relações jurídicas concernentes à organização  e atividades do Estado e de seus agregados políticos, bem como as relações jurídicas travadas entre os cidadãos e essas organizações políticas. 
 
O direito público cuida dos interesses diretos e indiretos do Poder Público (executivo, legislativo e judiciário). Trata do predomínio do interesse geral. Suas normas não podem ser afastadas por vontade das partes. 
Ramos do direito público: 
Direito constitucional 
Direito processual 
Direito administrativo 
Direito econômico 
Direito tributário 
Direito penal 
Direito internacional público 
Outros 
 
O direito privado cuida das relações jurídicas entre si , ou entre os particulares e o Poder Público (ou de seus agregados) quando estes não estiverem atuando no exercício de suas funções de poder estatal (político ou soberano). Trata do interesse individualizado, do particular. As normas podem ser afastadas por acordo, desde que não sejam cogentes ou imperativas.  
Ramos do direito privado: 
Direito civil 
Direito comercial (empresarial) 
Direito internacional privado. 
 
 
3.VISÃO CONTEMPORÂNEA DO DIREITO BRASILEIRO: 
 
 Critica-se  a bipartição do Direito em seara pública e privada. 
Não se pode separar o direito público do direito privado, como se fossem direitos opostos. 
As normas se entrelaçam, pois destinam-se à proteção de todos os interesses da sociedade. 
Segundo o Professor Carlos Roberto Gonçalves, a doutrina aponta outros critérios: 
Quanto à natureza do sujeito da relação jurídica: direito público regula relações de Estado com outro Estado, ou do Estado com os cidadãos; direito privado regula relações entre os particulares. 
Crítica: o Estado muitas vezes coloca-se no plano dos particulares, e se submete às leis do direito privado. 
 
Quanto ao critério finalístico: assenta-se no interesse jurídico tutelado. Direito público quando o interesse seja geral; direito privado quando tratar de interesse dos indivíduos. 
Crítica: volta-se para a distinção romana. Deixa de considerar a norma como de objetivo geral, mesmo que esteja a serviço dos particulares. 
 
“Teoria do ius imperium: o direito público regula as relações do Estado e de outras entidades com poder de autoridade, enquanto o direito privado disciplina as relações particulares entre si, com base na igualdade jurídica e no poder de autodeterminação.”   
Esta teoria tem sido melhor aceita, por tratar as divisões segundo o poder de determinação que lhes confere o ordenamento jurídico. 
 
Em resumo: 
“O direito deve ser visto como um todo, sendo dividido em direito público e privado somente por motivos didáticos. A interpenetração de suas normas é comum, encontrando-se com frequência nos diplomas reguladores dos direitos privados as atinentes ao direito público e vice-versa.”  (GONÇALVES, 2015, p.28).  
 
“É nítida a superação da dicotomia direito público e privado, vislumbrando-se em alguns ramos da ciência jurídica pontos comuns de contato com um e outro ramo.” Paulo Dourado de Gusmão. Ex. Direito do trabalho. 
 
O DIREITO CIVIL BRASILEIRO 
FONTE HISTÓRICA:
Antes da declaração de independência do Brasil, aplicava-se o território brasileiro legislação de Portugal.
PENÍNSULA IBÉRICA  (Portugal e Espanha) a partir de 506 (século VI) vigeu o Breviário de Alarico (baseado na legislação romana). 
APÓS A SEPARAÇÃO DE PORTUGAL E ESPANHA vigiam as Ordenações Afonsinas , em 1446, substituídas pelas Ordenações Manuelinas, em 1521. Em 1603 foram editadas as Ordenações Filipinas. Estas foram aplicadas no Brasil-colônia. 
O sistema do direito português é baseado nos sistemas romano e canônico. 
No Brasil, com a independência em 1822, uma lei de 20 de outubro de 1822 determinou que se continuasse a aplicar no Império a legislação do Reino, até que se tivesse lei própria, a Constituição de 1824 que acabou por recepcionar as Ordenações Filipinas até que fosse possível a elaboração de um Código Civil. 
Edição do Código Criminal em 1830. 
Edição do Código Comercial em 1850 (ainda em vigência para o direito marítimo). 
Em 1850 inicia-se a redação de um projeto que se chamaria a Consolidação das Lei Civis, capitaneada por Teixeira de Freitas. O projeto não conseguiu êxito, e Clóvis Beviláqua, foi convocado pelo governo republicano a terminar os estudos preparatórios para o Código Civil Brasileiro, que foi promulgado em 1916 e teve vigência até 2003. Tratava-se da Lei 3.071/16. 
Em 2002 foi aprovado o atual Código Civil brasileiro com vacatio legis de um ano. 
O CÓDIGO CIVIL DE 1916:
Resultado de uma política econômica liberal que se evidenciou no século XIX , este Código destinava-se a reger uma sociedade agrária e conservadora, preocupando-se mais com o ter do que o ser , centralizando suas normas no contrato e na propriedade, distanciando-se dos direitos da personalidade e da dignidade da pessoa humana.
ESTRUTURA DO ATUAL CÓDIGO CIVIL :
Parte geral: arts 1º a 232. 
A parte geral do CC vai nos apresentar os institutos básicos do Direito, devendo ser reconhecidos em qualquer outra área do ordenamento jurídico.
Parte especial: artigos 233 a 2027 .
A parte especial está dividida em diversos livros a saber: obrigações, contratos, Direito de Empresa, Direito das coisas, Direito de Família e das sucessões. 
Livro complementar. Arts. 2028 a 2046.
Trata das disposições finais e transitórias.
PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE INFORMAM O CÓDIGO CIVIL DE 2002:
Socialidade:
Tal princípio aponta a prevalênciados valores coletivos sobre os individuais, sem perda do valor maior que é a dignidade da pessoa humana.
Eticidade:
Funda-se no valor da pessoa humana como fonte de todos os valores. Prioriza a equidade (isenção, igualdade), a boa-fé, a justa causa e demais critérios éticos.
Operalidade:
Leva em consideração que o direito é feito para ser efetivado, operalizado, executado.
  
 A CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL BRASILEIRO 
Paulo Lobo                 Anotações 
“1.A constitucionalização do direito civil , no Brasil, é um fenômeno doutrinário que tomou corpo principalmente a partir da última década do século XX, entre os juristas preocupados com a revitalização do direito civil e sua adequação aos valores que tinham sido consagrados na Constituição de 1988, como expressões das transformações sociais. Disseminou-se a convicção da insuficiência da codificação, e até mesmo da superação de sua função, ante a complexidade da vida contemporânea e o advento de microssistemas jurídicos pluridisciplinares , como o direito do consumidor, o direito ambiental, os direitos da criança, do adolescente e do idoso. Os trabalhos produzidos, em vários centros de estudos no país, notadamente nos programas de pós-graduação, rapidamente repercutiram na jurisprudência dos tribunais, com resultados valiosos. 
 
2. a Constituição de 1988 foi a que mais agudamente pretendeu regular e controlar os poderes privados , na perseguição da justiça material. 
Os civilistas deram-se conta de que a centralização de sua disciplina tinha migrado definitivamente para a Constituição. 
 
De todos os ramos jurídicos são o direito civil e o direito constitucional os que mais dizem respeito ao cotidiano de cada pessoa humana e de cada cidadão, respectivamente. 
A compreensão que se tem atualmente do processo de constitucionalização do direito civil não o resume à aplicação direta dos direitos fundamentais às relações privadas, que é um dos seus aspectos. Vai muito além. O significado mais importante é o da aplicação direta das normas constitucionais , máxime os princípios, quaisquer que sejam as relações privadas, particularmente de duas formas: 
(a) quando inexistir norma infraconstitucional, o juiz extrairá da norma constitucional todo o conteúdo necessário à resolução do conflito; 
(b) quando a matéria for objeto de norma infraconstitucional , esta deverá ser interpretada em conformidade com as normas constitucionais aplicáveis. 
Portanto, as normas constitucionais sempre serão aplicadas em qualquer relação jurídica privada, seja integralmente, seja pela conformação das normas infraconstitucionais.” 
 DIREITO CIVIL-CONSTITUCIONAL
Carlos Roberto Gonçalves
“O direito civil-constitucional está baseado em uma visão unitária do sistema. Ambos os ramos não são interpretados isoladamente, mas dentro de um todo, mediante uma interação simbiótica entre eles. Ao reunificar o sistema jurídico em seu eixo fundamental, estabelecendo como princípios norteadores da República Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana (art. 1º III) , a solidariedade social (art. 3º) e a igualdade ou isonomia (art. 3º e 5º), a CF/1988 realizou uma interpenetração do direito público e do direito privado.”
FONTE: 
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. I Teoria Geral do Direito Civil. SP: Saraiva. 
GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil. Parte Geral 1. SP: Saraiva, 2016.
 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Parte geral, Vol. I. SP:Saraiva, 2015. 
GONÇALVES, Carlos Roberto e LENZA, Pedro, coordenador. Direito Civil I Esquematizado. Parte Geral, obrigações e contratos. SP: Saraiva, 2011.
LOBO, Paulo. A Constitucionalização do Direito Civil Brasileiro in TEPEDINO, Gustavo. Direito Civil Contemporâneo: Novos Problemas à Luz da Legalidade Constitucional. SP: Atlas, 2008.

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