Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
2 – Objeto da Filosofia Jurídica: 2.1 – Segundo Miguel Reale: Filosofia do Direito dividida em quatro partes: a) ONTOGNOSEOLOGIA (Compreensão conceitual do Direito ) ONTO = ser GNOSE = conhecimento LOGIA = estudo INTRODUÇÃO À FILOSOFIA JURÍDICA 1 - Filosofia do Direito (Filosofia Jurídica) é parte da Filosofia : Ética, lógica, epistemologia, antropologia... b) EPISTEMOLOGIA (Lógica e ciência jurídicas). EPISTEME = Ciência, conhecimento LOGIA = ESTUDO Exemplos: - A espistemologia de justiça na Grécia Antiga - A epistemologia de justiça no pensamento de Miguel Reale - A epistemologia do Direito no pensamento de Hans Kelsen c) DEONTOLOGIA (Valores éticos). DEO = dever ONTO = ser LOGIA = ESTUDO d) CULTUROLOGIA (História e eficácia jurídicas). 2.1 – Segundo Eduardo Bittar: A filosofia do Direito é um saber crítico a respeito das construções jurídicas (teoria do conhecimento, epistemologia) erigidas pela Ciência do Direito e pela própria práxis (ação) do Direito. Busca os fundamentos do Direito (Deontologia, axiologia ), seja para cientificar- se de sua natureza, seja para criticar o assento sobre o qual se fundam as estruturas do raciocínio jurídico. 3 -Proposta da Filosofia do Direito: Investigação que valoriza a abstração conceitual ( esforço intelectual, análise) servindo de reflexão crítica, engajada e dialética (Tese, síntese e antítese) sobre as construções jurídicas, sobre os discursos jurídicos, sobre as práticas jurídicas, sobre os fatos e as normas jurídicas. REFLEXÃO DIALÉTICA (Diálogo e debate ): Tema do Aborto TESE – Primeira afirmação: O aborto é ilegal. ANTÍTESE – Negação da afirmação O aborto é legal SÍNTESE – Resultado do debate O aborto é permitido em alguns casos: Estupro e Anencefalia 4 – Método Investigativo: é no próprio caminho que reside a razão primeira da filosofia. - Especulação Filosófica: Volve da norma a seus princípios, causas deficiências, utilidade social. - Ciência Jurídica: Parte da norma para seus resultados aplicativos e consequências. 5- Estrutura Tridimensional do Direito (segundo Reale) 5.1- Ponto de partida: Há várias acepções da palavra Direito: a) Faculdade do Direito Faculdade de Ciências Jurídicas. Direito é um ramo do conhecimento humano b) Ciência do Direito: Jurisprudências. Designação dada pelos jurisconsultos romanos. c) Direito significa tanto ordenamento jurídico (sistema de normas) quanto regras jurídicas. d) Direito no sentido axiológico: ideal de justiça. Relacionada ao valor. e) Sentido subjetivo: O proprietário tem direito de dispor daquilo que é seu 5.2 - Uma análise dos diversos sentidos da palavra Direito demonstra que eles correspondem a três aspectos básicos: Aspecto normativo (O Direito como ordenamento e sua respectiva ciência). Aspecto fático (O Direito como fato, ou em sua efetividade social e histórica). Aspecto axiológico (O Direito com valor e Justiça). 5.2 Demonstração de Reale com relação a tridimensionalidade: a) Onde haja um fenômeno jurídico, há um fato subjacente (fato econômico, geográfico...), um valor (confere determinada significação a esse fato) e uma regra ou norma que relaciona o fato ao valor. b) Fato, valor e norma não existem separados. c) Esses fatores atuam como elos de um processo 5.2.1- Análise do esquema de uma norma ou regra jurídica de conduta: Se “F” (fato) é, deve ser “P” (prestação); Se não for “P” (prestação), deverá ser “S (sanção) 5.2.2- Norma legal que prevê o pagamento de uma letra de câmbio na data de seu vencimento, sob pena do protesto do título. Se há um débito cambiário (“F”), deve ser pago (“P”) Se não for quitada a dívida (não “P”), deverá haver uma sanção. 5.2.3- Explicação: - A norma do Direito cambial representa uma disposição legal que se baseia num fato de ordem econômica. - Fato visa assegurar um valor – valor do crédito. - Um fato econômico liga-se a um valor de garantias para se expressar através de uma norma legal que atende às relações que devem existir entre aqueles dois elementos. 4 –ARISTÓTELES: A JUSTIÇA COMO VIRTUDE 1- O tema da justiça na teoria aristotélica situa-se no campo ético, da Ciência prática. Campos das ciências: Produtiva, Teorética (ou contemplativa) e Prática 2- Concepção antropológica (concepção de homem) de Aristóteles: - O homem é por natureza um ser gregário – Se realiza em plena sociedade -Animal político por natureza: zoon politikon. - Ser político – Decide os rumos da polis - Ser racional – Exerce sua racionalidade no convívio político 3-Virtude para Aristóteles -É uma aptidão ética humana que apela para a razão prática. - É o justo meio. A virtude está no equilíbrio. Capacidade do homem conhecer e colocar em prática o seu conhecimento. Logo, a justiça é uma pratica humana que discerne o bom e o mau, o justo e o injusto, colocando-o em prática. 4- Justiça como virtude. 4.1-Ponderação entre dois extremos: -da injustiça por excesso - da injustiça por carência. Meio justo: equilíbrio reside no fato de um não invadir o campo que é devido ao outro, não ficando com algo para mais ou para menos. 4.2 - Adquire-se a virtude pelo hábito, reiteração das ações em determinado sentido, com conhecimento de causa e com o acréscimo da vontade deliberada. 5 – O justo total. 5.1 - Consiste na virtude de observância da lei, no respeito àquilo que é legítimo, e que vige para o Bem da comunidade. 5.2- O justo total é a observância do que é regra social de caráter vinculativo. O hábito humano de conformar as ações ao conteúdo da lei. 5.3 – É a realização da justiça nesta acepção (justiça total); justiça e legalidade são uma e a mesma coisa, nesta acepção do termo. 8- Distinção entre o homem justo e o homem virtuoso. O homem é justo ao agir na legalidade, O homem virtuoso quando, por disposição de caráter, orienta-se segundo esses mesmos vetores (legalidade), mesmo sem a necessária presença da lei ou conhecimento da mesma. O homem é virtuoso ao agir corretamente sem depender da lei. 6- Justo particular Justiça: se aplica o princípio de igualdade Há duas espécies de justiça: - Justo particular distributivo: - Justo particular corretivo 6.1 - Justo particular distributivo: ( Justiça distributiva) - Conferir a cada um o seu. - Proporcionar a cada qual aquilo que lhe é devido dentro de uma razão de proporcionalidade participativa, pela sociedade, evitando-se, a qualquer um dos extremos que representa o excesso e a falta. - Perfaz-se em uma relação tipo público-privado. - Situação de subordinação: uma atribuição a membros da comunidade de bens pecuniários (dinheiro), de honras, de cargos, assim como deveres, responsabilidades, impostos. a) Tem critério de subjetividade: estimação dos sujeitos analisados. O princípio de igualdade exige neste ponto uma desigualdade de tratamento, pois diferente os méritos, diferentes devem ser os prêmios. b) O que seria injustiça: quando pessoas desiguais recebem a mesma quantia de encargos e benefícios e quando pessoas iguais recebem quantias desiguais de benefícios e encargos Exemplo: Não se pode tributar a renda da mesma forma para aquele que pouco ganha em relação àquele que muito ganha, é tudo na medida do ganho de cada qual. 6.2- O que é o Justo particular corretivo? a) É aplicada Situação de coordenação: iguais entre iguais – particulares entre Particulares. b) Não são (medidos) considerados os méritos diferentes. Mede-se impessoalmente o benefício e o prejuízoque as partes os sujeitos podem experimentar. c) Critério de igualdade perfeita e absoluta: reestabelcer o equilíbrio rompido entre as partes: igualdade aritmética: permite a ponderação entre a perda e os ganhos. d) Não se observa o mérito dos indivíduos, a condição dos mesmos. 6.2.1 - Dois âmbitos diversos: Relações estabelecidas a) Justo comutativo: voluntariamente (vontade dos interessados): Correção aplicável às transações do tipo compra e venda, da locação, de empréstimo, contratos onde prevalece a liberdade de vinculação e de estipulação. b) Justiça reparativa (judicial) – Justiça é a reparação de uma desigualdade involuntária entre uma das partes. O sujeito ativo de uma injustiça recebe o respectivo sancionamento por ter agido com causador de um dano provocado a outro. Causa de furto, adultério, evenenamento, falso testemunho. 7- Justo doméstico: Justiça para a mulher, para o filho e para com os escravos, para aqueles que não participam das decisões da polis. 8- justo político: (dessa não participam os filhos, as mulheres, e os escravo – são atingidos obliquamente) 8.1 - justo legal: a) Parte das prescrições vigentes entre cidadão de determinada polis surgida no nómos. b) Conjunto de disposições vigentes na polis. Vontade do legislador. - Possui força na convenção. Tem caráter particular. Em princípio, tanto podia ser cumprido de uma maneira com de outra, mas que, depois de ter sido assumido por lei, já não é indiferente, mas obrigatório. 8.2 - Justo natural: a) parte que encontra sua fundamentação não na vontade humana preceituada, mas na própria natureza. b) não depende : de qualquer decisão, de qualquer ato de positividade, de qualquer opinião ou conceito. - Tem caráter universal. c) é aquilo que é válido sempre e em toda parte, intrinsecamente, independente da vontade humana. 9 - Qual a relação entre equidade e justiça? - Trata-se de uma excelência ainda maior daquela já contida no conceito do que é bom. - Correção das regras da lei. As leis prescrevem conteúdos de modo genérico, indistintamente, dirigindo-se a todos sem diferenciar, portanto, possíveis nuances e variações concretas, fáticas, fenomênicas de modo que surgem casos para os quais, se aplicam a lei em sua generalidade, neste caso a injustiça poderá ser causada por meio do próprio justo legal. - É nesta situação que ocorre a equidade para solucionar os problemas da lei. 3 – PLATÃO (427-347 ªC): IDEALISMO, VIRTUDE E TRANSCENDÊNCIA ÉTICA Idealismo – Ideal inalcançável Transcendência (do latim “transcendere” = ir além) • Decepção com a polis. Distancia-se da política e do seio das atividades prático-política. • Sócrates ensinava nas ruas, Platão, passou a ensinar na academia. – Inicia-se um processo acadêmico. 3.1 - Sistema platônico: • Diferente de Sócrates, não decorre de uma vivência da realidade mundana, da vida da polis, nem da ação política, mas é decorrente de uma reflexão filosófica e de pressupostos transcendentais. • Diferença entre o mundo sensível (sentidos) e o mundo inteligível (ideias) que é acessível através da razão. - Preexistência da alma. 3.1.1 – Virtude e vício – Mesmo pressuposto socrático •Virtude: Fruto do conhecimento. •Afastar-se do que é tipicamente valorizado pelos homens e procurar o que é valorizado pelos deuses. • Boa será a conduta que se afinizar com os ditames da razão. •Vício: Fruto da ignorância. Leva às paixões e à infelicidade. 3.2 – Pressuposto transcendental (além da natureza) 3.2.1- Idealismo ético: - A idéia do Bem Supremo (governa os homens). A ideia de Bem supremo está na especulação humana, mas jamais das realizações humanas. A idéia de Bem Supremo (que governa os homens) - Não pode ser atingida pelo homem - Nem realizada concretamente. Mito do Er: Er, Guerreiro originário da Panfília (Ásia Menor) Morto em uma batalha. Foi velado por 12 dias. No 12º dia, recobrou a vida e contou o que havia acontecido no Hades (além vida). Lugar maravilhoso. Desse lugar se avistavam quatro buracos: dois no solo dois no céu. Os juízes que ali estavam recomendavam os justos para a direita: céu Os injustos para esquerda, para baixo. Recomendaram que Er voltasse ao mundo e servisse de testemunho. As almas injustas pagavam para cada injustiça cometida, dez vezes mais. Para cada boa ação a recompensa é duplicada. Pessoas mergulham no rio “Amelete” (esquecimento). A alma reencarna. 3.2.2 - Ética, Justiça, Metafísica (meta=além/ física=natureza) - Admissão de uma realidade para além da realidade humana : “o além vida”. - Há uma justiça divina para além daquela conhecida e praticada pelos homens. - A conduta ética e seu regramento possuem raízes no além vida. 3.3 – Ética, alma e ordem política. -Tripartição da alma: Racional – razão – (cabeça) Irascível – ódio – (peito) Apetitosa – Concupiscência - (baixo ventre) 3.4- Relação entre a Tripartição da alma e a estrutura do Estado: A alma tripartite do homem é utilizada para explicar a estrutura do Estado. A razão deve imperar sobre a paixão. Ordem política platônica: necessidade para a realização da política. Nesta ordem uns obedecem e outros ordenam. Estado Ideal. Três classes se dividem em três atividades. Uma classe não pode interferir na outra. Alma racional (logística): está relacionada à cabeça. figura do Filósofo que contemplou a verdade. - Responde pela política - Alma Irascível: está relacionada ao peito, é representada pela figura do cavaleiro (ódio, rancor, inveja). - Responde pela Defesa - Alma apetitiva: está relacionada ao baixo ventre: é representada pela figura do artesão (sexo, gula). - Responde pela Economia - 3.5- Estado ideal: • É um meio para a realização da justiça. • Esse Estado não existe na terra, e sim no além como modelo (idéia). Constituição (Politéia) é apenas instrumento da justiça, pois estabelece uma ordem jurídica. O Estado ideal não é democrático (poder do povo), mas (teocracia), deve ser liderado por um único, o filósofo, o sábio, aquele que contemplou a verdade. Poder e filosofia (platônica) se aliam. 1 – Testemunho ético: • Sua vivência foi sua obra. • Praças públicas (ágora) e na cidade (polis). • Método: Maiêutico (parturição das idéias): ironia e diálogo. 2- Divisor de águas: • Campo de especulação: - Natureza humana e suas aplicações éticos sociais. • Oponente: à cosmovisão e ao sofismo. 3 – Ética Socrática: Ética do indivíduo Ética do Coletivo 3.1 Ética do indivíduo • Surge do convívio, da moralidade, dos hábitos. • Modo de vida socrático assemelha-se a filosofia socrática. • Conhecimento - leva o homem à pratica da virtude e do bem. -Conhecimento de si mesmo, leva ao conhecimento do mundo. - Conhecer me leva ao controle da paixão. e controlar a paixão traz Felicidade. • Ignorância me leva o homem ao vício e às paixões: Infelicidade. 3.2 - Ética do Coletivo: • A ética do respeito às leis. • Há um primado da ética do coletivo sobre a ética individual. • O homem enquanto integrado ao modo político de vida, deve zelar pelo respeito absoluto às leis comum a todos, às normas políticas. 3.3 – Impasse: Ética do indivíduo X ética do coletivo. • A lei interna - lei moral por excelência poderia julgar acerca da justiça ou injustiça de uma lei positiva, mas com base no juízo moral, não se podem desobedecer as leis positivas. • Sócrates tinha consciência de que o nómos (lei) é fruto do artifício humano, e não da natureza (physys). E mesmo assim ensina a obediência irrestrita. Pois, a desobediência à lei leva à barbárie.• Sócrates vislumbra nas leis um conjunto de preceitos de obediência incontornável, não obstante podem estas serem justas ou injustas. Qual a diferença entre a concepção de justiça de Sócrates e a concepção de justiça dos Sofistas? 4- Paradoxo da condenação de Sócrates: • Julgamento de Sócrates. Julgamento injusto: acusado de corromper a juventude e cultuar novos deuses. Condenado a tomar cicuta. •Um Homem justo é condenado injustamente. •Ensinou a obediência à lei, e para não se contradizer, obedeceu à lei que o condenou à morte. 5- Conclusão: a) A verdade, a virtude e a justiça devem ser buscadas com vista a um fim maior, o bem viver após morte. Filosofar é preparar-se para a morte. b) A lei natural que encontra guarida no interior de cada ser, lei moral por excelência, poderia julgar acerca da justiça ou da injustiça de uma lei positiva, e a respeito disso opinar, mas esse juízo não poderia ultrapassar os limites da crítica, a ponto de lesar a legislação pelo descumprimento. •Teleologia (Thelos – finalidade) : Erradicar a ignorância por meio da educação – tarefa do filósofo. Intelectual e Moral Os Sofistas (Sec. V - IV a.C): “Discurso e relativismo da justiça.” Obs.:O sufixo ismo modifica o radical da palavra. Significa exagero. Sofistas: Conjunto de pensadores, não formam uma escola. O que há de comum entre os sofistas é o fato de ensinarem a retórica e de apontarem para uma unidade entre os conceitos de justiça e legalidade. 1.1 - Os sofistas foram radicais opositores da tradição. Questionavam as definições absolutas, conceitos fixos e eternos e as tradições inabaláveis. 1.2 - Defendiam: o relativo, o provável, o instável, o convencional. Relativo (ou acidental) X Absoluto (Ou necessário) 1– Ensinamento dos Sofistas: 1.3 - Relatividade aplicada à lei: a) Uma lei que existe , poderia não ter existido. b) Uma lei que é adotada em um país, não é adotado em outro. 1.4- Nada do que se pode dizer absoluto é aceito pelos sofistas. 2.1- Protágoras –491- a.C (os mestres): Foi o fundador do “relativismo” ocidental, que ele expressou na célebre fórmula: “O homem é a medida de todas as coisas.” Não há critério absoluto para julgar o bem e o mal, o verdadeiro e o falso. “Cada homem julga conforme o próprio modo de ver as coisas”. Homem = indivíduo Por que não há critério absoluto? 2– Relatividade da justiça: A posição de Protágoras desencadeou uma reflexão acerca do justo e do injusto, a relativização da justiça. 2.2 – Segundo os Sofistas, deliberar sobre qual será o conteúdo das leis é atividade preponderantemente humana, e nisso não há nenhuma intervenção da natureza, como admitido pela tradição literária e filosófica grega. - Tradição literária grega: A Lei natural é fundamento da lei positiva. Ou a Lei positiva é derivada da lei natural - Sofistas: A lei é artifício humano 2.3 -Justificativa sofística para a relatividade da lei: A natureza (physis) faria com que as leis fossem iguais em todas as partes. Ao contrário, o que se vê é que os homens de culturas diferentes vivem legislações e valores jurídicos diferentes, na medida em que encontra em seu poder definir o que é justo e o que é injusto. 2.4 – Lógica da relatividade dos sofistas: a) O que é bom para “A” pode ser não se bom para “B”. o que é bom para “A” em certas circunstâncias, pode ser mau para ele em outras. c) Está nas mãos dos homens definirem o que é justo e o que é injusto. 3.1 - A noção de justiça é relativizada na medida em que seu conceito é igualado ao conceito de lei. 3 – A noção de justiça 3.2 - O que é justo senão o que está na lei? A lei é relativa. Se ela desaparece com o tempo, se é modificada ou substituída por outra superior. Então, com ela, se encaminha também a justiça. Em outras palavras, a mesma inconstância da legalidade (o que é lei hoje, poderá não ser amanhã) passa a ser aplicada à justiça (o que é justo hoje poderá não ser amanhã). 4.1 -Trasímaco (sofista político) – últimas décadas do séc. V a.C - Sustentou que as leis eram apenas expressões dos mais fortes. A justiça é decidida por aquele tiver força suficiente para impingi-la (impor). A justiça é vantagem para aquele que domina e não para quem é dominado. 4- Outras correntes Sofistas: 4.2- Cálices - últimas décadas do séc. V a.C - (Sofista Político): As leis eram mera habilidade dos fracos para embaraçarem o melhor direito dos fortes, único legítimo. Conclusão: Nem as deusas da justiça (Thémis e Diké), nem a natureza dão origem às leis humanas, mas somente os homens podem fazer regras para o convívio social; as leis são atos humanos e racionais que se forjam no seio das necessidades sociais. UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA - UNIVERSO DISCIPLINA: FILOSOFIA JURÍDICA Professor Augusto Amizade Olímpica Séculos antes de o imperador Teodosio I, o grande, proibir a olimpíada, no ano de 391, instigado por um bispo obtuso que via nos jogos uma manifestação pagã, existiu um atleta chamado Asiarques que corria como uma lebre e participava, em siracusa, de uma fracassada conspiração contra o tirano Dionísio, o velho- o mesmo que freqüentou as aulas de filosofia de Platão e depois o prendeu na gruta na qual nasceu o mito da caverna. A condenação a morte de Asiarques foi promulgada no momento em que recebeu a convocação para participar dos jogos olímpicos. O réu implorou que a sentença fosse adiada até retornar de olímpia coroado por ramos de oliveira. E, como garantia de sua promessa, deixaria em seu lugar um amigo que seria executado caso ele não voltasse. O tirano, perplexo disse que um amigo como aquele não existia no mundo. Asiarques garantiu que sim e se chamava Pitias. Dionísio aceitou a proposta, pois jamais poderia acreditar numa amizade como aquela, embora soubesse que Asiarques regressasse vitorioso, seria politicamente difícil decapita-lo. Pitias era um daqueles que bem aproveitara as aulas de Platão em Siracusa e, imbuído de virtudes morais, aceitou vincular o seu destino ao do amigo. Apresentou-se aos juizes para ocupar na prisão o lugar de Asiarques. Entre a população da cidade acirrou- se o debate: uns consideravam loucura Pitias confiar assim na promessa de um amigo; outros viam em sua atitude moral uma façanha superior a obter vitória na olimpíada. Pitias foi recolhido a caverna conhecida como orelha de Dionísio, por ter sua abertura recortada como um imenso ouvido- a mesma em que Platão padeceu antes de ser expulso de Siracusa- enquanto Asiarques embarcou rumo ao Peloponeso para participar dos jogos, que duravam sete dias. A cidade continuou dividida: uns opinavam que Asiarques ficaria foragido em olímpia, escondido no bosque de Altis, outros confiavam que o atleta não frustaria a confiança do amigo. Contada a travessia do mar jônico, três semanas depois Asiarques retornou, no mesmo dia em que expirava a sentença, mas sem a cabeça coroada. Enquanto metade da cidade no porto para receber os atletas, a outra metade se apertava em frente ao templo de minerva, onde fora erguido o patíbulo. Os verdugos já tinham trazido Pitias, que aguardava sereno, confiante de que seu amigo não o trairia. Asiarques foi o primeiro a desembarcar. Saiu correndo pelas ruas que separavam o porto do templo e chegou à praça no exato momento em que prazo expirava. Pitias olhou para o amigo com um sorriso. A extraordinária manifestação de amizade comoveu todos os habitantes de Siracusa, que travaram nova discussão: quem havia dado maior prova de amizade, Pitias, ao pôr em risco a vida em troca de nada, ou Asiarques, ao retornar para impedir a morte do amigo? O atleta foi aclamado como se a sua disposição de abraçar a morte superasse a todasas glorias dos jogos olímpicos. Dionísio deixou seu trono diante do patíbulo e pousou na cabeça de Asiarques a coroa de ramos de oliveira. Exaltou seu exemplo com versos que Pindaro cunhara para os campeões olímpicos e, em seguida mandou soltar Pitias e fez sinal para que o réu fosse executado. Depois promoveu-lhe um enterro com todas as honras fúnebres. Aristotoles, na Ética a Nicômaco, frisa que a amizade é o maior de todos os bens e que o verdadeiro amigo é aquele que se sente mais feliz em agradar o amigo do que ser agradado. E conclui: “ sem amigo ninguém pode viver, ainda que possuísse todos os bens”(livro VIII,5) Frei Betto
Compartilhar