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Capítulo 2 Para facilitar o entendimento sobre a influência das variáveis ambientais nas organizações, necessitamos de uma abordagem conceitual sobre educação ambiental, desenvolvimento sustentável e o Protocolo de Kyoto. A visão do desenvolvimento sustentável está embutida numa série de conceitos, sendo importante discuti-los para compreender em sua totalidade a complexidade inerente ao mesmo. Objetivos de aprendizagem deste capítulo: 1. Entender o que é o a educação ambiental. 2. Identificar de que forma as empresas contribuem para o desenvolvimento sustentável. 3. Entender o que é o protocolo de Kyoto. A educação ambiental As preocupações com a Educação Ambiental datam da década de 1970. Desde então seu conceito tem evoluído sempre vinculado ao de meio ambiente. A esse respeito, uma das concepções adotadas, apresenta o entendimento de que, como a Educação Ambiental tem sido praticada a partir da compreensão que se tem do meio ambiente, esse processo pode acontecer de duas maneiras: através do conceito científico, cujo entendimento é universal explicitando o consenso acerca de um determinado conhecimento para a comunidade científica, ou por meio das representações sociais, ou seja, a forma como os conceitos científicos são percebidos e internalizados pelos indivíduos no seu cotidiano. (Neves, 2005). A Educação Ambiental foi formalmente instituída, no Brasil, pela Lei Federal de nº 6.938, sancionada a 31 de agosto de 1981, que criou a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Esta lei se constitui num marco histórico na defesa da qualidade ambiental brasileira. Para o Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, em seus documentos, a Educação Ambiental é um processo de formação e informação, orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sob as questões ambientais e de atividades que levem a participação das comunidades na presença do equilíbrio ambiental (DIAS, 1994). Segundo a Constituição Federal, a Lei nº 9.795/99 de 27.04.199 dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, “Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade ”. (Diário Oficial da União, 28 de abril de 1999). O art. 2º da mesma lei destaca que “A Educação Ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”. De acordo com Milaré (2004, p. 612), a Educação Ambiental, sob o aspecto formal, refere-se ao ensino programado nas escolas, em todos os graus, seja no ensino privado, seja no público. Sob o aspecto não-formal, a Educação Ambiental refere-se aos processos e às ações de educação fora do ambiente escolar. É o que vem sendo chamado de educação permanente, muito incentivada pela Organização das Nações Unidas como fator de desenvolvimento humano continuado. Para Perdrini (1998), a educação ambiental deveria preocupar-se tanto com a promoção da conscientização e transmissão de informações, como com o desenvolvimento de hábitos e habilidades, promoção de valores, estabelecimento de critérios e padrões e orientações para a resolução de problemas e tomada de decisões. Portanto, objetivar modificações comportamentais nos campos cognitivo e afetivo. A UNESCO (2005) propôs a década de 2005-2014 como tempo básico para que a sociedade humana adote a Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Essa educação seria aquela vinculada ao desenvolvimento sustentável, e, assim, dirigida ao capital internacional com ênfase nas regras de mercado. O crescimento econômico e a regulamentação ambiental A preocupação como esgotamento dos recursos naturais surgiu com a percepção, após a Revolução Industrial, que a capacidade de alterar o meio ambiente aumentou significativamente. As conseqüências ambientais adversas da ação humana vêm tomando proporções alarmantes nas mais variadas regiões do globo. O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve aumento da riqueza no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia a dia. (Seiffert, 2005) Nos países desenvolvidos e nos em desenvolvimento, a aglomeração de pessoas vem apresentando efeitos destrutivos no meio ambiente. É importante destacar que uma parcela relativamente grande da degradação ambiental observada em países subdesenvolvidos é decorrente dos padrões de consumo da população de países desenvolvidos. Em decorrência disso, vem ocorrendo ao longo dos anos uma busca frenética de alternativas de soluções, onde os governos locais são pressionados pela comunidade internacional, por meio de conferências e tratados, a adotarem e estimularem a adoção de medidas concretas na defesa do meio ambiente. Além disso, atuam também pressões por parte de outros interessados, como organizações não governamentais (ONGs), ambientalistas e da própria comunidade no sentido de minimizar os problemas decorrentes. (Donaire, 1998; Seiffert, 2005). Pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústrias (CNI)1 e do IBOPE revela que 68 % dos consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar mais por um produto que não agredisse o meio ambiente. A amplitude de fatores e agentes envolvidos nesse processo vem levando à necessidade de reflexões sobre a necessidade de conciliação entre os imperativos das esferas social, econômica e ambiental em um contexto mais abrangente de melhoria social. Essa conciliação vem sendo obtida, ainda que parcialmente, principalmente através da regulamentação ambiental. Para Tachizawa (2006) os resultados econômicos passam a depender cada vez mais de decisões empresariais que levam em conta que: (a) não há conflito entre lucratividade e a questão ambiental; (b) o movimento ambientalista cresce em escala mundial; (c) clientes e comunidade em geral passam a valorizar cada vez mais a proteção do meio ambiente; (d) a demanda e, portanto, o faturamento das empresas passam a sofrer pressões e depender diretamente do consumidor que demonstra preferência por produtos ecologicamente corretos. Assim, o estabelecimento de um arcabouço legal que consiga conciliar as necessidades econômicas de uma comunidade e os determinantes ambientais do espaço físico desta população representam um importante desafio à sobrevivência do homem no planeta. No Brasil, além da Constituição, uma série de leis ambientais bem elaboradas e consistentes deu embasamento sólido para que os órgãos governamentais pudessem realizar um trabalho sério de defesa do meio ambiente. (Seiffert, 2005) Segundo Seiffert (2005), a inserção do problema ambiental no ambiente organizacional vem levando a um contínuo debate da questão, o qual vem desenvolvendo um senso comum, entre a maioria das nações, de que as medidas de proteção ambiental não foram criadas para impedir o desenvolvimento econômico. Estas medidas incorporam-se nas avaliações de custo/benefício ambiental associadas ao desenvolvimento de projetos econômicos, o que por sua vez vem levando à criação de novas regulamentações cada vez mais restritivas, dentro de um contexto de execução de políticas governamentais. A existência de iniciativas concretas de aplicação da sustentabilidade indica que a variável ambiental extrapola o âmbito acadêmico e o das organizações não governamentais (ONGs). Ele deixa de significar apenas uma abordagem conceitual, para se tornar um dos principais norteadores das decisões de investimentos governamentais e privados. Uma resposta a essa necessidade foi o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico à preservação ambientale, ainda, ao fim da pobreza no mundo. A gestão ambiental e a responsabilidade social tornam-se importantes instrumentos gerenciais para capacitação e criação de condições de competitividade para as organizações, qualquer que seja seu segmento econômico. 1A indústria e o meio ambiente. Sondagem Especial da CNI, ano 2º, nº 1, maio 2004. O Desenvolvimento sustentável Nos últimos anos, a sociedade vem acordando para a problemática ambiental, buscando alternativas, como o desenvolvimento sustentável, cuja característica principal consiste na possível e desejável conciliação entre o desenvolvimento, a preservação do meio ambiente e a melhoria de qualidade de vida. (Milaré, 2005) De acordo com Donaire (1998), a expressão desenvolvimento sustentável estabelece que o atendimento às necessidades do presente não deve comprometer a capacidade de as futuras gerações atenderem às suas. Essa se tornou uma espécie de "palavra de ordem " após a publicação do relatório produzido pela Comissão Brundtland, intitulado "Nosso futuro comum", em abril de 1987, pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas. Procura estabelecer uma relação harmoniosa do homem com a natureza, como centro de um processo de desenvolvimento que deve satisfazer às necessidades e às aspirações humanas. Enfatiza que a pobreza é incompatível com o desenvolvimento sustentável e indica a necessidade de que a política ambiental deve ser parte integrante do processo de desenvolvimento. A preocupação da comunidade internacional com os limites do desenvolvimento do planeta datam da década de 60, quando começaram as discussões sobre os riscos da degradação do meio ambiente. Tais discussões ganharam tanta intensidade que levaram a ONU a promover uma Conferência sobre o Meio Ambiente em Estocolmo (1972). No mesmo ano, Dennis Meadows e os pesquisadores do "Clube de Roma" publicaram o estudo Limites do Crescimento. O estudo concluía que, mantidos os níveis de industrialização, poluição, produção de alimentos e exploração dos recursos naturais, o limite de desenvolvimento do planeta seria atingido, no máximo, em 100 anos, provocando uma repentina diminuição da população mundial e da capacidade industrial. As reações vieram de intelectuais do Primeiro Mundo (para quem a tese de Meadows representaria o fim do crescimento da sociedade industrial) e dos países subdesenvolvidos (já que os países desenvolvidos queriam "fechar a porta" do desenvolvimento aos países pobres, com uma justificativa ecológica). (Martins, 2004) Em 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” – CNUMAD, mais conhecida como Cúpula da Terra Eco-92, declarou: o desenvolvimento sustentável como meta a ser buscada e respeitada por todos os países. Assim, o Princípio 4 da Declaração do Rio estabelece que: “Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste”. (Milaré, 2005). Representantes de 179 países trabalharam na Agenda 212 onde ficou definido o seguinte conceito: “O Desenvolvimento Sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades." (Gro Brundtland, presidente da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Relatório Nosso Futuro Comum). Podemos resumir em simples palavras: desenvolver em harmonia com as limitações ecológicas do planeta, ou seja, sem destruir o ambiente, para que as gerações futuras tenham a chance de existir e viver bem, de acordo com as suas necessidades (melhoria da qualidade de vida e das condições de sobrevivência). Para Seiffert (2005 p. 20), uma questão importante diz respeito à definição dos conceitos correlatos utilizados na discussão da relação meio ambiente e desenvolvimento: 1. desenvolvimento - significa um estágio econômico, social e político de determinada comunidade, o qual é caracterizado por altos índices de rendimento dos fatores de produção, ou seja, pelos recursos naturais, o capital e o trabalho; 2. crescimento - relaciona-se à expansão da escala das dimensões físicas do sistema econômico; 3. sustentável - possui dois significados; o primeiro, estático, que é "impedir que caia, suportar, apoiar, conservar, manter e proteger", e o segundo significado é dinâmico e positivo: "favorecer, auxiliar, estimular, incitar e instigar". Além do conceito evidenciado anteriormente, Seiffert (2005) ressalta que, existem outras percepções a respeito do que vem a ser desenvolvimento sustentável. Uma delas estabelece que, no desenvolvimento sustentável, as relações entre ambiente e desenvolvimento estão integradas. Entretanto, existe também a preocupação de que as políticas de desenvolvimento e o planejamento integrado das atividades setoriais levem em consideração os limites existentes para a renovação dos recursos naturais. Isso faria com que os padrões ambientais fossem estabelecidos em bases ecológicas a partir da noção de capacidade de suporte dos ecossistemas. O Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável participou ativamente na Conferência do Rio de 92, onde reuniu 48 líderes empresarias de diversos países, que elaboraram um documento sobre desenvolvimento sustentável voltado para as empresas denominado: “Mudando o rumo: uma perspectiva global do empresário para o desenvolvimento e o meio ambiente”. Declaram que o progresso em direção ao Desenvolvimento Sustentável é um bom negócio, pois consegue criar vantagens competitivas e novas oportunidades. Em abril de 1998, no Brasil, a Confederação Nacional da Indústria - CNP3 - define e publica sua declaração de princípios (ver tabela 1) da indústria para o Desenvolvimento Sustentável. Tabela 1: Declaração de princípios da indústria para o Desenvolvimento Sustentável: 1. Promover a efetiva participação proativa do setor industrial, em conjunto com a sociedade, os parlamentares, o governo e organizações não governamentais no sentido de desenvolver e aperfeiçoar leis, regulamentos e padrões ambientais. 2. Exercer a liderança empresarial, junto à sociedade, em relação aos assuntos ambientais. 3. Incrementar a competitividade da indústria brasileira, respeitados os conceitos de desenvolvimento sustentável e o uso racional dos recursos naturais e de energia. 4. Promover a melhoria contínua e o aperfeiçoamento dos sistemas de gerenciamento ambiental, saúde e segurança do trabalho nas empresas. 5. Promover a monitoração e a avaliação dos processos e dos parâmetros ambientais nas empresas. Antecipar a análise e os estudos das questões que possam causar problemas ao meio ambiente e à saúde humana, bem como implementar ações apropriadas para proteger o meio ambiente. 6. Apoiar e reconhecer a importância do envolvimento contínuo e permanente dos trabalhadores e do comprometimento da supervisão nas empresas, assegurando que os mesmos tenham o conhecimento e o treinamento necessários com relação às questões ambientais. 7. Incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias limpas, com o objetivo de reduzir ou eliminar impactos adversos ao meio ambiente e à saúde da comunidade. 8. Estimular o relacionamento e as parcerias do setor privado com o governo e com a sociedade em geral, na busca do desenvolvimento sustentável, bem como na melhoria contínua dos processos de comunicação. 9. Estimular as lideranças empresariais a agir permanentemente junto à sociedade com relação aos assuntos ambientais. 10. Incentivar o desenvolvimento e o fornecimento de produtos e serviços que não produzam impactos inadequados ao meio ambiente e à saúde da comunidade. 11. Promover a máxima divulgação e conhecimento da Agenda 21 e estimular sua implementação. Segundo Reinaldo Dias ( 2006), o desenvolvimento sustentável nas organizaçõesapresenta 3 dimensões que são: a econômica, a social e a ambiental. Do ponto de vista econômico, a sustentabilidade prevê que as empresas têm que ser economicamente viáveis. Seu papel na sociedade deve ser cumprido levando em consideração a rentabilidade, ou seja, retorno ao investimento realizado pelo capital privado. Em termos sociais, a empresa deve satisfazer aos requisitos de proporcionar as melhores condições de trabalho aos seus empregados, procurando contemplar a diversidade cultural existente na sociedade em que atua, além de propiciar oportunidade aos deficientes de modo geral. Além disso, seus dirigentes devem participar ativamente das atividades socioculturais de expressão da comunidade que vive no entorno da unidade produtiva. Do ponto de vista ambiental, deve a organização pautar-se pela eco-eficência dos seus processos produtivos, adotar a produção mais limpa, oferecer condições para o desenvolvimento de uma cultura ambiental organizacional, adotar uma postura de responsabilidade ambiental, buscando a não-contaminação de qualquer tipo do ambiente natural, e procurar participar de todas as atividades patrocinadas pelas autoridades governamentais locais e regionais no que diz respeito ao meio ambiente natural. O mais importante na abordagem das três dimensões da sustentabilidade empresarial é o equilíbrio dinâmico (Figura 1) necessário e permanente que devem ter, e que tem de ser levado em consideração pelas organizações que atuam preferencialmente em cada uma delas: organizações empresariais (econômica), sindicatos (social) e entidades ambientalistas (ambiental). (Dias, R. 2006) Fonte: Adaptado de Dias, 2006, p. 41 A gestão ambiental e a responsabilidade social tornam-se importantes instrumentos gerenciais para capacitação e criação de condições de competitividade para as organizações, qualquer que seja o seu segmento. As principais ações desenvolvidas pelos países na busca do desenvolvimento sustentável foram concretizadas através da Agenda 21 (Convenção da Mudança Climática) e do Protocolo de Kyoto (também grafado como Quioto). 2 Veja mais no link: http://www.crescentefertil.org.br/agenda21/index2.htm 3 Confederação Nacional da Indústria - CNI. Indústria sustentável no Brasil. Agenda 21: cenários e perspectivas. Brasília, CNI, 2001. O Protocolo de Kyoto e o mecanismo de desenvolvimento limpo Nos anos 80, foi dado um alerta por várias organizações e acadêmicos no mundo todo sobre o perigo representado ao planeta: a elevação da temperatura global (Efeito Estufa) devido ao efeito estufa. O efeito estufa é um fenômeno que ocorre a partir da concentração excessiva, na atmosfera, de gases, tais como dióxido de carbono (CO2), o ozônio (O3), o óxido nitroso (n2O) e o metano (CH2), entre outros que absorvem uma quantidade maior de radiação infravermelha, provocando o aumento da temperatura da Terra. Esse é um fenômeno natural, e um dos responsáveis pela manutenção da vida na Terra. O problema é que a queima de carvão natural, petróleo e derivados (combustíveis fósseis) lança quantidades excessivas desses gases na atmosfera, provocando um aquecimento anormal do planeta. Em decorrência desse fenômeno é que ocorre a mudança climática global. (Dias, 2006) O aumento de CO2 na atmosfera é conseqüência da atividade industrial dos países, principalmente dos desenvolvidos, que começaram mais cedo o seu processo de industrialização. O acelerado consumo energético, a partir da Revolução Industrial, baseado fundamentalmente em combustíveis fósseis (carvão, gasolina e óleos minerais), acumulou quantidade significativa de gases na atmosfera nos últimos 250 anos, que afeta a temperatura e o clima do planeta como um todo. A Convenção da Mudança Climática e o Protocolo de Kyoto são dois exemplos dos esforços empreendidos para desenvolver formas globais de controle das emissões e regular a utilização da atmosfera como um bem público global, de livre acesso. A – CNUMAD (Rio de Janeiro, junho de 1992) discutiu e aprovou a Agenda 21 , que constitui um programa a ser implementado ao longo do século XXI pelos governos, em todos os seus níveis, pelas ONG's e demais instituições da sociedade civil, com o apoio das Nações Unidas, e pelas demais instituições multilaterais e nacionais de fomento ao desenvolvimento sócio-econômico. A Agenda 21 culmina um processo de 20 anos de iniciativas e ações de âmbito local, regional e internacional, para deter e reverter a constante degradação dos ecossistemas vitais para a manutenção da vida, bem como alterar as políticas que resultaram em brutais desigualdades entre os países e, no seio das sociedades nacionais, entre as diferentes classes sociais. Constituíram marcos importantes desses processos, dentre outros: A Declaração de Estocolmo (1972), aprovada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que, pela primeira vez, introduziu na agenda política internacional a dimensão ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de crescimento econômico e do uso dos recursos naturais. 1. A publicação do documento "A Estratégia Mundial para a Conservação" (Nova York, 1980), elaborado sob o patrocínio e supervisão do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF). Esse documento explora, basicamente, as interfaces entre conservação de espécies e ecossistemas e entre a manutenção da vida no planeta e a preservação da diversidade biológica, introduzindo pela primeira vez o conceito de "desenvolvimento sustentável". 2. O "Nosso Futuro Comum", documento publicado em 1982 e mais conhecido como "Relatório Brundtland", elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas e presidida por Gro Brundtland, primeira-ministra da Noruega. O relatório Brundtland consolida uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adotado pelos países industrializados e mimetizado pelas nações em desenvolvimento, ressaltando a incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo vigentes nos primeiros e o uso racional dos recursos naturais e a capacidade de suporte dos ecossistemas. Conceitua como sustentável o modelo de desenvolvimento que "atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades". A partir de sua publicação, o "Nosso Futuro Comum" tornou-se referência mundial para a 3. elaboração de estratégias e políticas de desenvolvimento eco-compatíveis. A resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas (dezembro de 1989), solicitando a organização de uma reunião mundial (CNUMAD – Rio 92) para elaborar estratégias objetivando deter e reverter os processos de degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável e ambientalmente racional. A Agenda 21 foi elaborada como resposta à referida resolução. 4. A aceitação do formato e conteúdo da Agenda - aprovada por todos os países presentes à Rio 92 - propiciou a criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS), vinculada ao Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc). A CDS tem por objetivo acompanhar e cooperar com os países na elaboração e implementação das agendas nacionais, e vários países já iniciaram a elaboração de suas agendas nacionais. Em continuidade à Agenda 21, ocorre a assinatura do protocolo de Kyoto. Na tentativa de reverter as terríveis previsões de um planeta com temperaturas cada vez maiores, causadas pelo Efeito Estufa, surgiu o Protocolo de Kyoto. As partes da convenção sobre mudança do clima, durante sua terceira convenção em 1997, aprovaram e abriram para assinaturas o Protocolo Kyoto, um acordo internacional que estabelece metas de controle dos gases causadores do efeito estufa. Cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram desse eventode alto nível realizado em Kyoto (origem do Protocolo de Quioto), no Japão, em dezembro de 1997. A conferência culminou na decisão por consenso de adotar-se um Protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990 até o período entre 2008 e 2012. Esse compromisso, com vinculação legal, promete produzir uma reversão da tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países há cerca de 150 anos. (Dias, 2006; Seiffert, 2005; Tachizawa, 2006) O Protocolo de Kyoto5 foi aberto para assinatura em 16 de março de 1998. Entrou em vigor 90 dias após a sua ratificação por pelo menos 55 Partes da Convenção, incluindo os países desenvolvidos que contabilizaram pelo menos 55% das emissões totais de dióxido de carbono em 1990 desse grupo de países industrializados. Enquanto isso, as Partes da Convenção sobre Mudança do Clima continuarão a observar os compromissos assumidos sob a Convenção e a preparar-se para a futura implementação do Protocolo. O acordo é assinado por 84 países, mas sua entrada em vigor depende da ratificação por 55 países, que respondem por 55% das emissões de gases que provocam o efeito estufa. Em julho de 2001 a União Européia e o Japão decidem dar continuidade ao Protocolo, mesmo sem a presença dos Estados Unidos. A participação da Rússia foi fundamental, pois detém 17 % das emissões de gases industrializados, o que viabilizou o acordo. No dia 5 de novembro de 2004, a Rússia assina o acordo e em 16 de fevereiro de 2005, o Protocolo entra em vigor. Para atingir a meta, os países terão prazo que vai de 2008 a 2012. (Dias, 2006) No Brasil, foi ratificado em 19 de junho de 2002 e sancionado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em 23 de julho do mesmo ano. Os Estados Unidos, maior poluidor do mundo – responsável por 36,1% das emissões de gases poluentes – não aderiu ao acordo, além de apontá-lo como um golpe contra a economia e os empregos no país. Para alcançar as metas de redução estipuladas pelo Protocolo, os americanos teriam de fazer grandes investimentos, com reflexos na sua atividade econômica, alegam os dirigentes. Uma das idéias disseminadas pelo Protocolo de Kyoto para amenizar os prejuízos causados pela incalculável quantidade de dióxido de carbono já emitida por esses países é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - MDL foi estabelecido no artigo 12 do Protocolo de Kyoto, corresponde a uma medida que foi estabelecida para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e promover o desenvolvimento sustentável em países subdesenvolvidos – único dentre os mecanismos de flexibilização que prevê a participação das nações em desenvolvimento. Este mecanismo representa uma forma de cooperação, através de implementação conjunta e comércio de emissões, permitindo que países desenvolvidos cumpram suas metas através de financiamento de projetos em países em vias de desenvolvimento, tais como: conservação de áreas naturais protegidas, reflorestamento, iluminação eficiente, eficiência energética nos processos industriais etc. O MDL permite que países desenvolvidos invistam em projetos (energéticos ou florestais) de redução de emissões e utilizem os créditos para reduzir suas obrigações. O princípio é simples: cada tonelada deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera poderá ser adquirida pelo país que tem metas de redução a serem atingidas. Cria-se assim um mercado mundial de Reduções Certificadas de Emissão (RCE). Fonte ONG Carbono Brasil O Protocolo de Kyoto divide os países em dois grupos: os que precisam reduzir suas emissões de poluentes e os que não tem essa obrigação. O Brasil está no segundo grupo que irá receber para não poluir mais e para tirar da atmosfera, com suas florestas e matas, o dióxido de carbono ainda produzido por seus financiadores. Assim os países mais poluidores - os mais ricos, em sua maioria - poderão pagar para continuar poluindo em alguma medida, através do Leilão de Certificado de Emissões (Cerupt, na sigla em inglês). O Brasil apresenta um grande potencial para participar em condições vantajosas desse mercado mundial de carbono, pois possui grandes extensões territoriais propícias ao aumento da taxa de crescimento vegetal, através de reflorestamento ou conservação das áreas naturais, o que propicia níveis elevados de captação de carbono. Neste contexto, o mecanismo para o desenvolvimento limpo pode oferecer financiamento, transferência tecnológica, cooperação técnica e capacitação para projetos ambientais. Há diversos projetos que podem ser implantados através do MDL, entre os quais estão (Dias, 2006): O incentivo à utilização de combustíveis renováveis, como álcool e biodiesel. A substituição de práticas agrícolas inaceitáveis, como a queimada de florestas para a abertura de pastos, ou a queima de cana-de-açúcar para facilitar sua colheita. Desenvolvimento de projetos de geração de energia eólica e solar. Desenvolvimento de normas que promovam a utilização de combustíveis mais limpos e a eficiência energética. Melhora da infra-estrutura de transportes. Programas nacionais de reflorestamento. Auto-regulação industrial. Projetos de geração hidrelétrica. Incremento das plantações florestais comerciais. Projetos que absorvam GHG da atmosfera, reflorestamento, por exemplo. Redução das emissões provenientes da queima de combustíveis fósseis. Vejamos um exemplo: As usinas paulistas que produzem energia limpa a partir do bagaço de cana-de-açúcar estão comercializando créditos de carbono via MDL. Está em negociação a venda de cerca de 40 mil toneladas anuais de créditos de carbono pela Usina São Francisco de Sertãozinho, que deverá receber por ano US$ 195 mil. Outras usinas da mesma região, como Santa Elisa, Moema e Vale do Rosário, assinaram contrato em 2004 para a venda de 1 milhão de toneladas de crédito de carbono por sete anos para a Suécia, o que lhes daria retomo de cerca de US$ 700 mil por ano. Para participar do MDL primeiramente as partes interessadas devem designar uma autoridade nacional que irá validar as atividades, verificar e certificar as reduções das emissões. No Brasil esta autoridade é a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, criada em 7 de julho de 1999. O objetivo do MDL é estimular a produção de energia limpa, como a solar e a gerada a partir de biomassa, e remover o carbono da atmosfera. Surge então o crédito de carbono (também denominado seqüestro de carbono), os principais planos consistem no replantio de florestas que, ao crescer, absorvam CO2 do ar. O financiador da recuperação ambiental, por exemplo, iria receber um Certificado de Redução de Emissões, tradução da sigla em inglês CERs. Créditos de carbono6 são certificados que países em desenvolvimento, como por exemplo, Brasil, China e Índia podem emitir para cada tonelada de gases do efeito estufa que deixam de ser emitida ou que sejam retiradas da atmosfera. Podemos dizer que os créditos de carbono são uma espécie de moeda ambiental, que pode ser conseguida por diversos meios, por exemplo: As Reduções Certificadas de Emissões (CERs), como são chamados os créditos de carbono, podem ser comercializadas com países industrializados (pertences ao Anexo 1 da do Protocolo de Kyoto) que não conseguem atingir as suas metas internas de redução de emissões. Outros Exemplos de projetos Reduções Certificadas de Emissões: Holanda financia usina elétrica movida a biomassa, com potencial de 8 MW de energia gerada a partir da queima da casca de arroz no Rio Grande do Sul. A Bioheat International (trader holandesa) negociou os créditos de carbono com a Josapar e com a Cooperativa Agroindustrial de Alegrete no valor de cinco dólares por tonelada de carbono. A Holanda é país integrante do Anexo 1 da Convenção e pretende atingir metade das suas metas de reduções internamente e a outrametade no exterior (www.diariopopular.com.br, 2004); Projetos de aproveitamento do gás metano liberado por lixões das empresas: Vega, de Salvador, BA e Nova Gerar, de Nova Iguaçu, RJ. O gás metano é canalizado e aproveitado para gerar energia, deixando de ser liberado na atmosfera naturalmente pela decomposição do lixo. A pesar do gás ser o metano, a redução de emissões é calculada em dióxido de carbono: 14 milhões de ton de CO2 em 16 anos para a Vega e 14 milhões de ton de CO2 para a Nova Gerar em 21 anos. Esses dois projetos, são oficialmente os dois primeiros aprovados pelo governo brasileiro sob as regras do MDL (www.oestadao.com.br, 2004); Projeto Carbono Social, localizado na Ilha do Bananal, TO, esse projeto reúne as qualidades de seqüestro de carbono em sistemas agroflorestais, conservação e regeneração florestal com enfoque principal no desenvolvimento sustentável da comunidade. A princípio o projeto não pretendia reivindicar créditos de carbono e foi financiado pela instituição britânica AES Barry Foundation e implementado pelo Instituto Ecológica. A meta inicial de conservação do estoque e seqüestro de carbono era de 25.110.000 ton de C em 25 anos, mas pela não concretização de parcerias esse estoque de C foi drasticamente reduzido( Fixação de Carbono: atualidades, projetos e pesquisas, 2004; Carbono Social, agregando valores ao desenvolvimento sustentável, 2003); Projeto Plantar, primeiro projeto brasileiro do Fundo Protótipo de Carbono. Com cunho comercial, essa empresa de reflorestamento nasceu com incentivos de plantação de eucalipto no fim dos anos sessenta e mais tarde para aproveitar a matéria prima entrou para o setor siderúrgico. Seus créditos são provenientes da substituição de uso do carvão mineral para vegetal, melhoria dos fornos de carvão pela redução da emissão do metano e reflorestamento de 23.100 hectares com eucalipto, totalizando 3.5 milhões de ton de C. 4 A fonte dos dados foram retirados do sitio oficial do Ministério das Relações Internacionais -http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/meioamb/agenda21/apresent/index.htm 5Acesse o texto completo do Protocolo de Quioto à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática – no sitio do Ministério da Ciência e Tecnologia, no link http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/28739.html 6Para saber mais acesse o sitio da ONG Carbono Brasil: http://www.carbonobrasil.com
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