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DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 1 TÍTULOS DE CRÉDITO SUMÁRIO: 1. Conceito 2. Legislação aplicável 3. Princípios dos títulos de crédito 3.1. Princípio da cartularidade 3.2. Princípio da literalidade 3.3. Princípio da autonomia 4. Classificação 4.1. Quanto à hipótese de emissão 4.2. Quanto ao modelo 4.3. Quanto à sua circulação 4.4. Quanto à estrutura 5. Títulos de crédito em espécie 5.1. LETRA DE CÂMBIO 5.1.1. Aceite 5.1.2. Endosso 5.1.3. Aval 5.1.4. Espécies de vencimento de uma letra de câmbio 5.1.5. Requisitos 5.1.6. Prazo de apresentação e pagamento da letra 5.2. NOTA PROMISSÓRIA 5.3. DUPLICATA (Lei 5.474/68) 5.4. CHEQUE (Lei 7.357/85) 5.5. Prazos prescricionais dos títulos de crédito 6. Abordagem jurisprudencial de títulos de crédito 1. Conceito (art. 887, CC) Dispõe o art. 887 do CC: “o título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da lei”. Este é o conceito dado pelo Código Civil, que adotou o conceito de Vivante. É comum que, em concursos, os examinadores perguntem o conceito histórico dado por VIVANTE, qual seja: título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo, nele mencionado. A diferença entre o conceito do CC-‐02 e o de VIVANTE reside apenas em uma palavra: “contido” (CC), substituído por “mencionado” (VIVANTE). Este pequeno detalhe já foi cobrado em prova de concurso. Dica concursal: se o examinador, em prova oral, perguntar o conceito de Vivante, peça para usar o CC-‐02, vá até o art. 887 e troque “nele contido” por “nele mencionado”. 2. Legislação aplicável Embora o conceito de título de crédito esteja previsto no CC/02, não é somente esse diploma que disciplina os títulos de crédito. Isso depende do título: ! Letra de câmbio e nota promissória " Aplica-‐se o Decreto 57663/66 (LU – Lei Uniforme); ! Cheque " Lei 7.357/85; ! Duplicata " Lei 5.474/68. Atenção: a aplicação do Código Civil aos títulos de crédito é SUBSIDIÁRIA, por força do seu art. 903: “salvo disposição diversa em lei especial, regem-‐se os títulos de crédito pelo disposto neste Código”. # Isso é muito cobrado em provas! 3. Princípios dos títulos de crédito DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 2 3.1. Princípio da cartularidade Cartularidade vem do latim “chartula”, que significa “pequeno papel”. Por este princípio, o crédito deve estar materializado (representado) em um documento (título). Para a transferência do crédito, é necessária (indispensável) a transferência do título. Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem a apresentação do documento. Questão (CESPE/AGU -‐ 2010): Para transferir o cheque é suficiente o endosso. ERRADO. Além do endosso, a tradição também é exigida. E mais: se o crédito está representado no documento, logo aquele que está na sua posse é presumido credor do título. O princípio da cartularidade gera a PRESUNÇÃO DE CRÉDITO. Um dos atributos dos títulos de crédito é a executoriedade. Ou seja, são títulos executivos extrajudiciais (art. 585, I, CPC), possibilitando o ajuizamento da ação de execução, que deve ser acompanhada do documento original. Não é possível ajuizar ação de execução com cópia autenticada de título. A única EXCEÇÃO já aceita pelo STJ de execução com base em cópia autenticada de título foi quando o título fizer parte dos indícios de prova que integram um inquérito policial (ex: objeto de cheque sem fundo que integra inquérito policial). Em síntese, o princípio da cartularidade nos permite afirmar que o direito de crédito mencionado na cártula (Prova AGU): ! Não existe sem o documento; ! Não se transmite sem a sua respectiva transferência e; ! Não pode ser exigido sem a sua apresentação. Hoje, o princípio da cartularidade está sendo mitigado, em razão da possibilidade de títulos de crédito eletrônicos (títulos virtuais), a exemplo da duplicata virtual. O próprio CC-‐02, em seu art. 889, §3º, admite os títulos eletrônicos. É o que a doutrina denomina de desmaterialização dos títulos de crédito. Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente. § 1º É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento. § 2º Considera-‐se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado no título, o domicílio do emitente. § 3° O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do emitente, observados os requisitos mínimosprevistos neste artigo. Ex.: as chamadas duplicatas virtuais, muito comuns na praxe mercantil, podem ser executadas mediante a apresentação, apenas, do instrumento de protesto por indicações e do comprovante de entrega das mercadorias (art. 15, §2º da Lei 5.474/68). EXECUÇÃO. DUPLICATA VIRTUAL. BOLETO BANCÁRIO. REsp 1.024.691-‐PR As duplicatas virtuais – emitidas por meio magnético ou de geração eletrônica – podem ser protestadas por indicação (art. 13 da Lei n. 5.474/1968), não se exigindo, para o ajuizamento da execução judicial, a exibição do título. Logo, se o boleto bancário que serviu de indicativo para o protesto retratar fielmente os elementos da duplicata virtual, estiver acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou da prestação dos serviços e não tiver seu aceite justificadamente recusado pelo sacado, poderá suprir a ausência física do título cambiário eletrônico e, em princípio, constituir título executivo extrajudicial. 3.2. Princípio da literalidade Pelo princípio da literalidade, só tem eficácia para o direito cambiário o que está literalmente/materialmente constando (escrito) nos títulos de crédito. O que não está no título não DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 3 está no mundo cambiário. Assim, o devedor não é obrigado a mais nem o credor pode ter outros direitos senão aqueles declarados no título. A literalidade visa a assegurar certeza quanto ao conteúdo e a modalidade de prestação prometida ou ordenada. Exemplo de sua aplicação: a quitação deve ser dada no título de crédito, e não em documento separado1. Se não houver mais espaço no título, ele deve ser prolongado (colar com outro pedaço, grampear etc.). 3.3. Princípio da autonomia As relações jurídicas cambiais são autônomas e independentes entre si. O vício em uma das relações não compromete as demais. O legítimo portador do título pode exercer seu direito de crédito sem depender das demais relações que o antecederam, estando completamente imune aos vícios ou defeitos que eventualmente as cometera2. Assim, v.g., o endosso ou aval dado por pessoa incapaz não tinge as demais obrigações assumidas no título de crédito. Vejamos um exemplo: João (pessoa incapaz) emite uma nota promissória para Maria, que a transfere, por endosso, para José. Neste caso, José poderá cobrar de Maria, apesar de João ser incapaz. Isso porque, ao transferir o título, ela se tornou co-‐devedora. O princípio da autonomia traz alguns subprincípios: ! Inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-‐fé " Transmitido o título a um terceiro de boa-‐fé, aquilo que o devedor poderia argumentar para o credor primitivo não poderá ser sustentado para o novo credor. Essa é uma grande garantia que existe de se receber título de crédito, diferentemente do que traz o art. 294 do CC (relativo à cessão de crédito): Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente. ! Abstração " Por este subprincípio, com a circulação, o título de crédito se desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem. Deste modo, o que autoriza a ação de execução é exclusivamente o título, e não a obrigação que o gerou. Em outras (e poucas palavras): o titulo se desprende da relação jurídica que lhe deu causa. O seu titular tem direito ao crédito, e não à prestação que lhe deu causa. OBS: Causa subjacente ou causa debendi é a causa que deu origem ao título. Ex: a compra e venda de um celular pode dar origem à emissão de uma nota promissória. Atenção: veja-‐se que, enquanto a relação cambial é travada entre os próprios sujeitos que participaram da relação que originou o título, há uma vinculação entre esta relação e o título originário. “Resta claro, portanto, que a circulação do título é fundamental para que se opere a sua abstração, ou seja, para que ele se desvincule completamente do seu negócio originário” (Santa Cruz). Não custa lembrar que essa abstração desaparecerá com a prescrição do titulo, o que gera a perda da sua cambiaridade, cabendo ao credor, na cobrança do título prescrito, demonstrar a origem da dívida. 1 Aquele que recebe quitação em papel apartado pode sofrer execução pelo portador do título, havendo apenas direito de regresso contra quem deveria ter dado a quitação corretamente. 2 A pessoa que recebe um título de crédito numa negociação não precisa se preocupar em investigar a sua origem nem as relações que eventualmente o antecederam. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 4 Obs: Negociabilidade ou executividade não são princípios dos títulosde crédito, mas sim atributos (características). 4. Classificação 4.1. Quanto à hipótese de emissão a) Causal " É o título que necessita de uma causa específica para ser emitido. Somente podem ser emitidos nas hipóteses (causas) autorizadas por lei. Ex: duplicata. A duplicata só pode ser emitida quando ocorre uma das seguintes causas: ! Compra e venda mercantil, ou; ! Prestação de serviços. Não se pode, v.g., emitir duplicata para pagamento de aluguel de apartamento. Aluguel não é compra e venda ou prestação de serviços. b) Não–causal " A sua emissão não depende de causa específica, razão pela qual servem para documentar diversos tipos de negócio. Ex: cheque. 4.2. Quanto ao modelo a) Vinculado " É aquele que tem padronização/formatação definida em legislação. Exemplos: duplicata e cheque. DECORAR!!! b) Livre " É aquele que não tem uma forma obrigatória ou padronizada definida em lei. Ex.: nota promissória e letra de câmbio. DECORAR!!! 4.3. Quanto à sua circulação I. Classificação tradicional quanto à circulação Quanto à circulação, o título pode ser: a) Ao portador " É aquele que não identifica o beneficiário. Desde a Lei 8.021/90, não se admite mais a emissão de títulos ao portador, exceto se com previsão expressa em lei especial. A Lei 9.069/95 (que instituiu o plano real) admite o cheque ao portador, desde que com valor de até R$100,00 (única hipótese de título ao portador). O título ao portador circula por mera tradição (mera entrega do título). b) Nominativo " É aquele que identifica o beneficiário. A circulação do título nominativo depende da seguinte classificação: ! Título nominativo à ordem: circula por meio de endosso. Aquele que transfere por endosso responde pela existência do título, bem como por seu pagamento, segundo a Lei cambiária. ! Título nominativo não à ordem: circula por meio de cessão civil. Aquele que transfere por cessão civil responderá, tão somente, pela existência do título. Em outras palavras: entre a circulação cambial e civil existem duas diferenças: enquanto o endossante, em regra, responde pela existência e pela solvência do devedor, o cedente geralmente responde apenas pela existência do crédito; o devedor não pode alegar contra o endossatário de boa-‐fé exceções pessoais, mas pode suscitá-‐las contra o cessionário. Ex.1: cheque clonado transferido e duplicata fria. Esses títulos possuem vício de existência. Assim, tanto faz ter sido ele transferido de B para C por endosso ou por cessão civil. Nos dois casos, B (endossante/cedente) responderá perante o beneficiário C. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 5 Ex.2: cheque sem fundo. Se ele for transferido de B para C por endosso, o endossante responde pelo pagamento; se o título houver sido transferido por cessão civil, o beneficiário C deve cobrar de A (B será parte ilegítima na ação). Obs.1: Como a transferência por endosso implica em mais garantia para o título e para o beneficiário, há uma presunção de que os títulos são a ordem. Assim, para que um título seja não à ordem, é necessário que a expressão “não à ordem” conste expressamente neste. Caso não exista esta expressão, presume-‐se que o título é à ordem, sendo transferível por endosso (que traz maior garantia ao credor)3. Obs.2: de acordo com o Novo Código Civil de 2002, o endosso possui o mesmo efeito de cessão civil. Dispõe o seu art. 914: “ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título”. Registre-‐se, contudo, que aos títulos de crédito regulados aplica-‐se a legislação especial. Obs.3: tanto o endosso quanto a cessão civil se aperfeiçoam com a tradição (nenhum deles, isoladamente, é suficiente à transmissão). II. Classificação moderna (adotada na AGU e na PFN) A classificação moderna dá uma outra idéia ao título nominativo, nos termos do art. 921 do CC-‐02). A nova sistematização fica assim: a) Ao portador " Beneficiário não identificado. b) Nominal " É o que a classificação tradicional chama de nominativo, ou seja, aquele que identifica o beneficiário, podendo ser à ordem (presumidamente) ou não à ordem (expressamente). c) Nominativo (arts. 921 e 922, do CC) " É aquele emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. Se, por acaso, for criado algum novo título de crédito sem lei específica, ele será nominativo, de acordo com essa característica. Art. 921. É título nominativo o emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente. Art. 922. Transfere-‐se o título nominativo mediante termo, em registro do emitente, assinado pelo proprietário epelo adquirente. A circulação desse título ocorre por termo ou endosso. Observação: a Teoria da Criação considera que a obrigação cambial nasce a partir da mera criação do título de crédito. Ela se contrapõe à teoria da emissão, que considera que a obrigação somente nasce com a entrega voluntária do título ao tomador. O Código Civil adotou a teoria da criação em seu art. 905: Art. 905. Parágrafo único. A prestação é devida ainda que o título tenha entrado em circulação contra a vontade do emitente. 4.4. Quanto à estrutura a) Ordem de pagamento " São títulos impróprios (não representa uma promessa de pagamento, mas segue os princípios cambiários). Neste caso, o título contém uma ordem para alguém pagar. Desta classificação decorre a existência de três agentes: ! Aquele que dá a ordem (sacador); ! aquele que recebe a ordem (sacado) e o; ! tomador/beneficiário. 3 Em outras palavras: para que o título não circule sob as regras do direito cambiário, é necessária a inclusão expressa da cláusula não à ordem. É importante ressaltar que a cláusula não à ordem não impede a circulação do crédito, o que ela opera é mudança do regime jurídico aplicável à circulação. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 6 Exemplos: duplicata, letra de câmbio e cheque. b) Promessa de pagamento " Desta classificação decorre a existência de dois agentes: ! o promitente. ! e o tomador/beneficiário. Conforme estudaremos, apenas a nota promissória consiste em uma promessa de pagamento. Qualquer outro título consiste em ordem de pagamento. TODOS OS TÍTULOS SÃO ORDEM DE PAGAMENTO, com exceção da nota promissória. Classificação Quanto à hipótese de emissão Quanto ao modelo Quanto à circulação Quanto à estrutura a) Causal b) Não causal a) Vinculado b) Livre Classificação tradicional: a) Ao portador b) Nominativo ! À ordem ! Não à ordem a) Ordem de pagamento b) Promessa de pagamento (só a nota promissória) Classificação moderna: a) Ao portador b) Nominal c) Nominativo 5. Títulos de crédito em espécie 5.1. LETRA DE CÂMBIO Letra de câmbio é o título de crédito decorrente de relação ou relações de crédito entre duas ou mais pessoas, pelo qual o sacador dá a ordem de pagamento pura e simples, à vista ou à prazo, ao sacado, a seu favor ou de terceira pessoa (tomador/beneficiário), no valor e nas condições dela constantes. Na letra de câmbio figura as seguintes pessoas: ! Aquele que dá a ordem (é o sacador. Quando se cria e emite um título de crédito, pratica-‐se um ato chamado saque). ! Aquele que recebe a ordem (sacado). ! Tomador beneficiário. Saque é o ato de criação/emissão de um título de crédito. 5.1.1. Aceite Emitida a letra de câmbio, ela será entregue ao tomador, o qual, por sua vez, a levará ao sacado, para que este aceite. O aceite é a manifestação de concordância com a ordem de pagamento dada. Ele é ato privativo do SACADO, que passa a ser o devedor principal do título de crédito. Ou seja: quando o sacado dá o aceite, ele se torna o DEVEDOR PRINCIPAL daquele título de crédito, enquanto o sacador passará a ser CO-‐DEVEDOR. Assinatura do sacado no anverso (frente) do título, configura o aceite. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 7 Por que, na data do vencimento, o tomador tem que apresentar o título ao sacado? Porque os títulos de crédito são obrigações quesíveis ou querables. Ou seja, o credor deve procurar o devedor para receber a obrigação4. Pergunta-‐se: Não pago o valor devido, o que deve fazer o credor? Ocorrendo isso, o credor deverá ingressar de ação de execução, seja contra o devedor principal (sacado), seja contra o co-‐devedor (sacador). Nesta situação, o sacador possui direito de regresso face ao sacado. Quem escolhe sobre quem irá ajuizar a ação de execução será o credor. I. Natureza não-‐obrigatória do aceite Na letra de câmbio, o aceite é ato privativo do sacado, possuindo natureza FACULTATIVA. Deste modo, o sacado não está obrigado a dar aceite (podendo recusá-‐lo, sem apresentar qualquer motivo). Apesar de facultativo, o aceite é irretratável. Obs: Na letra de câmbio, o aceite é sempre facultativo. Isso significa que, mesmo na hipótese de o sacado ser devedor do sacador ou tomador, ele não está obrigado a representar essa sua dívida por um título de crédito, isto é, por um documento com circulação cambial. Na duplicata, a regra é diferente, como veremos adiante. II. Efeitos da recusa do aceite São efeitos da recusa do aceite: ! Tornar o sacador o devedor principal do título! Vencimento antecipado do título de crédito A recusa do aceite, total ou parcial, gera o vencimento antecipado do título, ou seja, produz efeitos contrários ao sacador. Obs.1: CLÁUSULA NÃO-‐ACEITÁVEL (TJ/RJ). Para evitar o vencimento antecipado do título, provocado pela recusa do aceite, a lei possibilita ao sacador a introdução de cláusula na letra de câmbio, proibindo sua apresentação ao sacado antes do vencimento. É a chamada cláusula “não-‐aceitável”. Note-‐se que a cláusula não aceitável não é exonerativa da responsabilidade do sacador (este sempre responde pela ordem que expediu), mas apenas evita o vencimento antecipado. A Lei Uniforme também autoriza que o sacador fixe, na letra, uma data limite, antes da qual sua apresentação ao sacado é vedada. Obs.2: o tomador beneficiário pode ser tanto um terceiro quanto o próprio sacador. III. Materialização O aceite consubstancia-‐se na assinatura do sacado no anverso da letra de câmbio. No Brasil, a praxe era lançá-‐la à esquerda do documento, desde que identificada a natureza do ato praticado pela expressão “aceito”, ou outra equivalente. De qualquer forma só é aceite o ato praticado no instrumento cambial, em razão do princípio da literalidade. O aceite também pode ser parcial, distinguindo-‐se duas espécies: a) aceite limitativo e b) aceite modificativo. Pelo aceite limitativo o sacado reduz o valor da obrigação que ele assume. Pelo aceite modificativo, o sacado introduz mudanças nas condições de pagamento da letra de câmbio, postergando seu vencimento por exemplo, ou alterando a praça em que deve ser realizado, etc. O sacado pode também sujeitar sua obrigação a condição suspensiva ou resolutiva, representando também um aceite modificativo. Opera-‐se com o aceite modificativo ou limitativo, o vencimento antecipado do título, podendo o tomador 4 As dívidas querables se contrapõem às obrigações portables, em que é o devedor que busca o credor para pagar. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 8 executá-‐lo, de imediato e pela totalidade, contra o sacador. Ressalte-‐se o sacador deve honrar o cumprimento do título junto ao tomador (ou outro portador), mas poderá depois cobrá-‐lo em regresso do aceitante parcial. 5.1.2. Endosso Endosso é o ato cambiário formal decorrente de declaração unilateral de vontade manifestada no título de crédito pela qual o credor (beneficiário ou terceiro adquirente -‐ endossante) de um título de crédito (nominal) com a cláusula à ordem transmite o direito ao valor constante do título a outra pessoa (endossatário), ficando, em regra, responsável pela existência e pagamento do título. O endosse é acompanhado da tradição da cártula. Surgem daí duas situações jurídicas: a do endossante (credor do título que resolve transferi-‐lo a outra pessoa) e o endossatário (para quem o crédito foi passado). O primeiro endossante da letra de câmbio será sempre o tomador, porque a ordem de pagamento é sacada em seu benefício. É importante lembrar que o endosso não é admitido quando presente a cláusula não à ordem. I. Efeitos do endosso: ! Transferência da titularidade do crédito do endossante para o endossatário; ! Tornar o endossante CO-‐DEVEDOR pelo pagamento do título de crédito (pois ele responderá tanto pela existência como pela solvência do título – obrigação pro solvendo); Em regra, enquanto o endossatário se torna novo credor da letra de câmbio, o endossante passa a ser um de seus co-‐devedores. Entretanto, se não for intuito do endossante assumir a responsabilidade pelo pagamento do título, e com isso concordar o endossatário, operar-‐se-‐á a exoneração da responsabilidade pela CLÁUSULA “SEM GARANTIA” (que apenas o endosso admite). Atente (já caiu em concurso): a regra do Código Civil é que o endossante não responde pelo pagamento. Contudo, esse dispositivo só é aplicável aos títulos de crédito não regulados e, portanto, não é aplicável à letra de câmbio. Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação constante do título. § 1º Assumindo responsabilidade pelo pagamento, o endossante se torna devedor solidário. § 2º Pagando o título, tem o endossante ação de regresso contra os coobrigados anteriores. Questão: De acordo com o Código Civil, o endossante é co-‐responsável pelo pagamento. ERRADO. II. Materialização O endosso pode ser realizado no verso ou anverso (frente). Mas atente: ! No verso " Basta uma simples assinatura. ! No anverso (frente) " É necessária uma assinatura mais uma expressão identificadora. Ex.: “endosso a ...” ou “pague-‐se a ...”. O endosso pode ser em brancoou em preto. Veja: ! Endosso em preto " Está identificado o endossatário. ! Endosso em branco " Será em branco o endosso quando não identificado o endossatário do título. Neste caso, a letra de câmbio torna-‐se um título ao portador, circulando pela simples tradição. Caso seja identificado o endossatário, teremos o endosso em preto. Pergunta-‐se: É possível o endosso parcial? NÃO. Não se admite o endosso parcial, que é NULO. Tanto no Código Civil como na legislação cambiária, há a previsão da nulidade do endosso parcial. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 9 Pergunta-‐se: o que é o endosso póstumo? Entende-‐se por endosso póstumo aquele dado depois do vencimento e do protesto do título. Não há problema algum nisso. Mas veja: ! Endosso dado após o vencimento do título " Produz efeito comum de endosso (o endossante responde pela existência e solvência); ! Endosso dado após o protesto do título " Se já houve o protesto ou expirou o prazo de protesto, o endosso póstumo terá efeitos de cessão civil. Ou seja, o endossante responderá apenas pela existência, mas não pela solvência do título (não se torna co-‐devedor). III. Endosso impróprio Tudo até agora já visto diz respeito ao endosso próprio/translativo. Ao contrário do endosso próprio, no endosso impróprio não há a transferência da titularidade do crédito, mas sim a legitimação da posse. A finalidade do endosso impróprio é a de legitimar a posse de um terceiro sobre um título de crédito, sem lhe transferir o direito creditício. O endosso impróprio possui duas modalidades: endosso-‐mandato e endosso-‐ caução: ! Endosso-‐mandato (ou endosso por procuração) # É a cláusula cambiária pela qual o endossante constitui o endossatário como seu mandatário para a prática de todos os atos necessários ao recebimento do crédito (podendo cobrá-‐lo, protestá-‐lo, executá-‐lo etc.). É utilizado para transferir poderes e autorizar um terceiro exercer todos os direitos inerentes ao título. Para tanto, basta inserir no título a expressão “por procuração/mandato” ou “para cobrança”. Ex: É muito utilizado para fins de cobrança. Com o endosso mandato se legitima a posse do banco para que ele efetue a cobrança. Contudo, o crédito não é transferido ao banco, ficando com o endossante. Se o endossatário (ex: banco) sustar o título, não será parte legítima na ação cautelar de sustação de protesto, pois ele não será o credor, já que não houve transferência da titularidade do crédito. Obs.1: a jurisprudência do STJ é firme no sentido de que os mandatários, no endosso-‐mandato, só respondem por eventuais danos causados ao devedor do título se comprovada sua atuação culposa. Vale dizer, o endossatário (ex: banco) não responde pelo protesto indevido, a não ser que ele tenha sido cientificado da falta de higidez do título ou do pagamento do título. Veja: o STJ, em 19/06/2012, editou a seguinte súmula: Súmula 476 do STJ. O endossatário de título de crédito por endosso-‐mandato só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário. Obs.2: o 15º concurso da PGE/RJ perguntou se o endosso-‐mandato se extingue com a morte do mandante. A regra geral do contrato de mandato do Código Civil define que quando as partes envolvidas morrem, o mandato se extingue. Contudo, a LUG (lei Uniforme de Genebra) e o art. 917, § 2º do CC/02 afirmam que o endosso-‐mandato não se extingue pela morte do mandante, mas apenas pela morte do mandatário. Art. 917, § 2º do CC/02. Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde eficácia o endosso-‐mandato. ! Endosso-‐caução (ou endosso-‐pignoratício) # É o instrumento adequado para a instituição de penhor sobre o título de crédito em garantia de obrigação de natureza contratual contraída pelo portador perante terceiro. O título de crédito é um bem móvel que, portanto, pode ser dado em garantia por meio de penhor. A forma que se tem para instituir penhor sobre título de crédito é dando em endosso-‐ caução. Este somente é utilizado nos títulos a prazo (excluindo, assim, o cheque, que consiste em ordem de pagamento à vista). Para tanto, basta inserir no título a expressão “para penhor”, “em garantia” ou “por caução”. O endossatário, no endosso impróprio, pode exercer todos os direitos emergentes da letra de câmbio, exceto o de transferir a titularidade do crédito, que remanesce nas mãos do endossante-‐mandante ou caucionário. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 10 ATENÇÃO: em 19/06/2012, o STJ editou a seguinte súmula: Súmula 475 do STJ. Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe porendosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e avalistas. O julgado que imagino ter sido de onde foi retirada a ratio decidendi da súmula 475 dizia o seguinte: "o sacado pode opor ao endossatário, ainda que terceiro de boa-‐fé, vício formal intrínseco ou extrínseco, que conduza à inexigibilidade do título de crédito emitido, e o endossatário tem direito de regresso contra o endossante". -‐ acho que ficou mais explicado que a súmula. Em relação ao julgado, a súmula acrescentou que o endossatário responderá por danos decorrentes do protesto indevido (por exemplo, danos morais). 5.1.3. Aval Aval é a declaração cambiária decorrente de uma manifestação unilateral de vontade, pela qual uma pessoa, natural ou jurídica (avalista), assume obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir, total ou parcialmente, no vencimento, o pagamento do título nas condições nele estabelecidas. De maneira mais simples: no aval, o avalista (pessoa física ou jurídica) garante o pagamento do título pelo avalizado (co-‐devedor do título ou devedor principal). Grave: enquanto o endosso tem como grande característica a transferência, o aval tem como grande característica a garantia. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um signatário da letra. I. Materialização O aval pode ser realizado no verso ou anverso (frente). Mas atente: a situação aqui é a contrária à do endosso: ! No verso " É necessária uma assinatura mais uma expressão identificadora. ! No anverso (frente) " Basta uma simples assinatura. O aval também pode ser em branco ou em preto. Veja: ! Aval em preto " Está identificado o avalizado. ! Aval em branco " Será em branco o aval quando não identificado o avalizado do título. Neste caso, o avalista está garantindo aquele que criou o título de crédito (o sacador). Ou seja: o aval em branco é presumidamente realizado em favor do sacador. Questão (CESPE): Presume-‐se em favor do sacador o aval em branco feito em letra de câmbio. CERTO. Endosso Aval ! No verso " Simples assinatura. ! No anverso (frente) " Assinatura + expressão identificadora. ! No verso " Assinatura mais uma expressão identificadora. ! No anverso (frente) " Simples assinatura. DICA: Aval # anverso Dica: “o normal (só assinatura) é transferir por trás” O normal é garantir na frente. Não pode ser parcial Pode ser parcial DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 11 ATENÇÃO: O aval dado depois do vencimento é denominado aval posterior (não é chamado de aval póstumo). Diferentemente do que ocorre com o endosso, não importa o seu momento, o aval sempre produz os mesmos efeitos, até para o Código Civil. II. Aval Parcial A Lei Especial diz que é possível o aval especial (art. 30 do Decreto 57663/66 – Lei Uniforme). O problema é que o Código Civil, no seu art. 897, parágrafo único, dispõe ser vedado o aval parcial nos títulos de crédito. Desta forma, se o examinador der nome ao título (ex: cheque), será possível o aval parcial. Caso faça referência ao Código Civil, a resposta será diversa. LU. Art. 30 -‐ O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte garantido por aval. III. Aval x fiança AVAL FIANÇA Só pode ser dado em título de crédito. O avalista só fica responsável por aquilo que está previsto expressamente no título de crédito, e não no eventual contrato de mútuo5. Obs: “Se o aval é feito, eventualmente, num instrumento separado do título, não será válido como aval, porque não respeita o princípio da literalidade. Poderá valor, no máximo, como uma fiança” (Santa Cruz). Só pode ser dada em contrato. Assim como não há aval em contrato, não há fiança em título de crédito. O aval é autônomo ATENÇÃO: Em caso de morte, incapacidade ou falência do avalizado, o avalista continua responsável (!!!). A fiança é acessória. Aval NÃO possui benefício de ordem. Significa que o avalista pode ser executado diretamente, antes de se intentar executar o avalizado. Tem benefício de ordem 6. Obs.1: Dispõe o art. 1.647, III, CC que, para que seja prestado aval ou fiança, é necessária a autorização do cônjuge. Esta regra se aplica a todos os regimes de bens, exceto o da separação absoluta (que, segundo a jurisprudência do STJ, corresponde `a separação consensual7). Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta: III -‐ prestar fiança ou aval; E se não houver autorização do cônjuge? A matéria é controvertida. Se fosse fiança, aplicariaa súmula 332 do STJ, que diz que no caso de fiança ela seria uma garantia totalmente ineficaz. A maioria da doutrina afirma que, no caso de aval, não aplica os efeitos da súmula 332 do STJ. Logo, o aval será válido e eficaz, mas não poderá atingir a meação do cônjuge. Obs.2: Convém não confundir o aval simultâneo (aquele dado em conjunto, por duas ou mais pessoas, em relação a uma mesma obrigação) do aval sucessivo (ocorrem quando alguém avaliza um outro avalista). 5 STJ Súmula nº 26 -‐ 12/06/1991 -‐ O avalista do título de crédito vinculado a contrato de mútuo também responde pelas obrigações pactuadas, quando no contrato figurar como devedor solidário. 6 Obs: na prática, há sempre cláusula expressa contratual prevendo a exclusão do benefício de ordem. 7 Em razão da súmula 377 do STF, que diz que, na separação obrigatória, os bens adquiridos de forma onerosa durante a relação conjugal serão comunicáveis, tornando necessário que os cônjuges mantenham controle sobre os bens que compõem aquele patrimônio. Logo, diz o STJ, que no caso de separação obrigatória é necessária a outorga conjugal, justamente por conta dessa regra da súmula 377 do STF. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 12 Súmula 189 do STF. Avais em branco e superpostos consideram-‐se simultâneos [em favor do devedor] e não sucessivos [em favor de outros avalistas anteriores]. 5.1.4. Espécies de vencimento de uma letra de câmbio (tema muito cobrado em concursos) A letra de câmbio poderá ser: À vista Título à vista é aquele que é exigível de imediato. Pode ser apresentado a qualquer tempo para pagamento. Com data certa É aquele título cuja data de vencimento já é definida. Ex: cheque pré-‐datado. A certo termo de vista É o título cujo vencimento é de “x” dias, contados da data do aceite. Para Santa Cruz Ramos, a cláusula não-‐aceitável (que afasta o vencimento antecipado quando não há aceite pelo sacado) não é admitida nas letras de câmbio a certo termo de vista, já que o prazo do vencimento se inicia a partir do aceite. A certo termo de data É o título cujo vencimento é de “x” dias, contados da data da emissão. Questão: O vencimento a certo tempo de vista se conta da emissão da letra de câmbio. ERRADO. Dica concursal infalível: Gravar a seguinte frase: “hasta la vista ACEITE”. 5.1.5. Requisitos Em tese, a letra de cambito deve ser emitida preenchendo seus requisitos essenciais, previstos nos arts. 1º e 2º da Lei Uniforme: a) Expressão letra de câmbio (cláusula cambiária); b) Uma ordem incondicional para pagamento de quantia determinada; c) Nome do sacado; d) Nome do tomador; e) Assinatura do sacador; f) Data do saque; g) Lugar do pagamento; h) Lugar do saque. Muita atenção: a jurisprudência admite a emissão de letra de cambito – e de qualquer outro título de crédito – em branco ou incompleta. Cf. Súmula 387 do STF: “a cambial emitida ou aceita com omissões ou em branco pode ser completada pelo credor de boa-‐fé, antes da cobrança ou do protesto”. 5.1.6. Prazo de apresentação e pagamento da letra Entregue a letra ao tomador, ele deve levá-‐la ao sacado para que proceda ao aceite. ! Na letra a certo termo de vista, o tomador deve apresentá-‐la para aceite no prazo estabelecido no título ou, caso não tenha sido estabelecido prazo algum, dentro de 1 ano, contado da data de sua emissão (art. 23, LU); ! Na letra à vista, o tomador não precisa necessariamente levá-‐la para aceite do sacado, podendo optar por apresentá-‐la diretamente para pagamento, o que deve ser feito em 1 ano a partir da emissão. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 13 Destaque-‐se que, uma vez apresentada a letra para aceite, o sacado deve devolvê-‐la de imediato (art. 24), não podendo retê-‐la, sob pena de praticar crime de apropriação indébita. Pode, contudo, o sacado requerer ao tomador que a letra lhe seja apresentada novamente no dia seguinte ao da primeira apresentação, ou seja, 24 horas depois. Trata-‐se do chamado “prazo de respiro”. Em regra a letra deve ser apresentada para pagamento no dia do seu vencimento, salvo se recair em dia não-‐útil, quando será apresentada no dia útil seguinte. Vencido o título, começa a fluir o prazo para protesto, que, na letra de câmbio, deve ser feito nos dois úteis dias seguintes ao vencimento (Art. 44). Obs.1: protesto # segundo André Luiz, na relação cambial, o protesto só é indispensável para a responsabilização dos co-‐devedores. Obs.2: aceite, endosso e aval parcial: Aceite parcial Endosso parcial Aval parcial É possível, podendo ser limitativo ou modificativo. Não é possível. Énulo. O CC/02 veda; a LU permite. 5.2. NOTA PROMISSÓRIA Regulam o tema o Decreto n. 2.044 de 31/12/1908, que define a letra de câmbio e a nota promissória e regula as operações cambiais, e o Decreto n. 57.663 de 24/01/1966, que promulga as convenções para adoção de uma lei uniforme em matéria de letras de câmbio e notas promissórias. A nota promissória é regulada com poucos artigos pela Lei Uniforme, aplicando-‐se a ela tudo aquilo já tratado na letra de câmbio (aval, endosso etc.). Vejamos as diferenças. A nota promissória é um título de crédito emitido pelo devedor, sob a forma de PROMESSA direta e unilateral de pagamento (e não uma ordem de pagamento), a determinada pessoa, de quantia determinada, à vista ou a prazo, nas condições dela constantes, efetuada, em caráter solene, pelo promitente-‐devedor ao promissário-‐credor. A nota promissória NÃO admite aceite. O aceite é uma concordância de uma ordem pelo sacado. A nota promissória não consiste em ordem de pagamento, mas sim uma promessa. Logo, não há sacado e não há aceite na nota promissória. Nota promissória Letra de câmbio É uma PROMESSA de pagamento, com 2 figuras: a) Emitente b) Tomador beneficiário É uma ORDEM de pagamento, com 3 figuras: a) Emitente (sacador) b) Sacado c) Tomador beneficiário Não tem aceite. Depende de aceite (ato privativo do sacado). O devedor principal é o emitente. O devedor principal é o sacado. Questão: Qual o título que não tem aceite? A nota promissória. Aplicam-‐se à nota promissória as normas previstas para a letra de câmbio em relação ao endosso, aval e vencimento. Cuidado: a prova da AGU afirmou que a nota promissória não pode ser dada a certo termo de vista (já que não há aceite). Mas Gialluca diz que é possível sim, o vencimento a certo termo de vista, DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 14 pois a Lei Uniforme (Decreto n. 57663/66), em seu art. 78, dispõe que, nesse caso, como não há aceite, o prazo será contado a partir do visto dos subscritores: Art. 78 -‐ O subscritor de uma nota promissória é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra. As notas promissórias pagáveis a certo termo de vista devem ser presentes ao visto dos subscritores nos prazos fixados no artigo 23 [1 ano, a contar do saque/emissão da nota]. O termo de vista conta-‐se da data do visto dado pelo subscritor. A recusa do subscritor a dar o seu visto é comprovada por um protesto (artigo 25), cuja data serve de início ao termo de vista. Segundo Gialluca, apesar de não haver aceite na nota promissória, todas as espécies de vencimento tratadas na letra de câmbio são aplicáveis a este título de crédito. I. Partes Figuram como partes na nota promissória: o subscritor ou promitente-‐devedor e o beneficiário ou promissário-‐credor. A nota promissória constitui um título abstrato, haja vista que a sua emissão não exige causa legal específica, não necessitando, portanto, a indicação expressa do motivo que lhe deu origem. Na nota promissória, diferente do que ocorre com a letra de câmbio, não há o que se falar em saque, mas em emissão do título. O emitente do título se obriga, originária e diretamente, para com o tomador ou beneficiário. Assim, o promitente-‐devedor assume, na nota promissória, uma incondicional promessa de pagamento. II. Súmula 258/STJ Inicialmente, registre-‐se que quando a nota promissória for emitida com vinculação a um determinado contrato, tal efeito deve constar expressamente do título. Neste caso, com a vinculação a determinado contrato “de certa forma está descaracterizada a abstração/autonomia do título, já que o terceiro que o recebeu via endosso tem conhecimento da relação que lhe deu origem e, portanto, consciente de que contra ele poderão ser opostas exceções ligadas ao referido contrato” (Santa Cruz Ramos). Obs: quando o banco executa a nota promissória, o emitente poderá, em sede de embargos, discutir o valor da nota promissória, alegando exceções como juros abusivos, comissão de permanência, anatocismos, abuso nos honorários advocatícios etc. Contudo, se o banco endossar para um terceiro de boa-‐fé, o princípio da autonomia vedaria que o emitente alegasse em face deste as exceções que possuía em face do tomador beneficiário (banco). Prevendo a injustiça da situação, o STJ editou a súmula 258. Assim, já decidiu o STJ que não são absolutos os princípios da abstração e da autonomia quando a cambial é emitida em garantia de negócio subjacente. Por óbvio, essa situação não altera a natureza de título executivo da nota (nem de cambial). A situação se agrava quando a nota está vinculada a contrato de abertura de crédito,caso em que o título se torna ilíquido: STJ Súmula nº 258 -‐ A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou. Muitos problemas surgiram com as notas promissórias vinculadas a contratos de abertura de crédito, já que os bancos comumente endossam a terceiro, a fim de evitar qualquer discussão sobre o seu valor (autonomia/inoponibilidade). A Súmula 258 veio a resolver o problema, dispondo que essa nota promissória não goza de autonomia. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 15 Isso significa que, se o credor primitivo (que é o banco) transferir essa nota promissória para terceiro, aquilo que poderia ser alegado para o credor primitivo também pode ser alegado contra o terceiro, em sede de embargos (ex.: valor de juros, saldo devedor, comissão de permanência etc.). Afasta-‐se a não-‐oponibilidade, subprincípio do princípio da autonomia. III. Requisitos essenciais A Lei Uniforme apresenta, em seu artigo 75, os requisitos essenciais necessários à plena validade de uma nota promissória. São eles: a) a denominação “nota promissória”; b) promessa solene e direta de pagamento; c) nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (promissório-‐credor); d) indicação da data de emissão da nota promissória; e) assinatura do emitente (subscritor ou promitente-‐devedor). IV. Requisitos não-‐essenciais Além dos requisitos essenciais acima elencados, a Lei Uniforme considera como requisitos não-‐essenciais: (antigo 76, que prevê a aplicação à nota promissória das normas da letra de câmbio) a) data de vencimento do título (na sua ausência o título é pagável à vista); b) lugar de pagamento da nota promissória (quando o título não especificar o lugar de seu pagamento, deve ser considerado como tal o lugar de sua emissão); c) lugar de emissão. V. Protesto e prazos prescricionais da ação executiva Na falta de pagamento da nota promissória o credor poderá promover o protesto do título. Observe que na nota promissória não há protesto por falta de aceite, somente por falta de pagamento, até porque não há o aceite neste tipo de título de crédito. Obs: o STJ entende que não é possível o protesto da CDA, uma vez que a Fazenda Publica não depende do protesto para promover a execução fiscal nem tem legitimidade para requerer a falência do contribuinte. A CDA, portanto, não poderia ser objeto de protesto porque a LEF, que trata da cobrança do tributo de modo vinculado, e não como uma opção do administrador, não teria trazido essa opção. Mas cuidado: o próprio STJ diz que, embora seja uma medida coativa desnecessária, o protesto da CDA não gera, por si só, dano moral em favor do contribuinte. Confira: TRIBUTÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. CERTIDÃO DA DÍVIDA ATIVA -‐ CDA. PROTESTO. DESNECESSIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem afirmado a ausência de interesse em levar a protesto a Certidão da Dívida Ativa, título que já goza de presunção de certeza e liquidez e confere publicidade à inscrição do débito na dívida ativa.. (AgRg no Ag 1316190/PR, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17/05/2011, DJe 25/05/2011). PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. CDA. PROTESTO. DESNECESSIDADE. AUSÊNCIA DE INTERESSE MUNICIPAL. PRECEDENTES. 1. A CDA, além de já gozar da presunção de certeza e liquidez, dispensa o protesto. Correto, portanto, o entendimento da Corte de origem, segundo a qual o Ente Público sequer teria interesse para promover o citado protesto. Precedentes. (AgRg no Ag 1172684/PR, Rel. DIREITO CONSTITUCIONAL – JOÃO PAULO LORDELO 16 Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 03/09/2010). Mas se ligue: foi publicada, no final de 2012, a Lei n.° 12.767/2012, que alterou a Lei de Protesto (Lei n.° 9.492/97), permitindo expressamente o protesto de certidões da dívida ativa. Confira: Art. 25. A Lei n.° 9.492, de 10 de setembro de 1997, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 1º ...................................................................... Parágrafo único. Incluem-‐se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas.” Desse modo, agora existe expressa previsão do protesto de CDA na Lei n.° 9.492/97 de forma que se espera que, com a inovação legislativa, o STJ reveja seu entendimento e se sensibilize da necessidade e importância jurídica e social do protesto das certidões de dívida ativa, medida racional de recuperação de créditos e de desopilação
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