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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE 
 
 
 
 
 
A MULHER E A CONQUISTA DE UM ESPAÇO: 
TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO 
 
 
 
LEIDIANE LEANDRO GOMES 
 
 
 
Orientador 
Prof. Flávia Cavalcanti 
 
 
 
Rio de Janeiro 
Agosto 2009 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES 
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE 
 
 
 
 
 
A MULHER E A CONQUISTA DE UM ESPAÇO: 
TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO DA MULHER E O MERCADO DE TRABALHO 
 
 
 
 
 
 
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do 
Mestre – Universidade Candido Mendes como 
requisito parcial para obtenção do grau de 
especialista em Pedagogia Empresarial 
 Por Leidiane Leandro Gomes 
 
 
 
 
 
 
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AGRADECIMENTOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Deus que me proporcionou mais esta oportunidade. 
A todos que acreditaram no meu trabalho, investiram e incentivaram com uma 
palavra amiga e um ombro para escutar as minhas preocupações. 
Ao meu pai Manoel e as mulheres da minha vida, minha mãe Geralda e minha 
irmã Lissandra. 
Ao meu noivo Admilson, pela paciência em me ouvir sempre nos momentos de 
desespero. 
A professora Flavia Cavalcanti pela paciência em me receber no horário que 
não era de orientação e pela sua ótima orientação. 
Em especial às operárias do Estaleiro Brasfels, pois sem elas este trabalho 
não existiria. 
A todos o meu muito obrigado! 
 
 
 
 
 
 
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DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todas as mulheres que como eu confiam na 
sua capacidade de conquistar mais e novos 
espaços. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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RESUMO 
O sistema de representações construído historicamente criou e recriou 
esteriótipos para a mulher. Seja ela trabalhadora ou não. Limitando seus 
espaços de atuação dentro da sociedade, ditando o que deveriam ou não 
fazer. Porém, percebemos muitas mudanças em relação à entrada destas 
mulheres no mercado de trabalho, apresentando novas perspectivas para elas. 
A fábrica é um desses espaços que se abrem às mulheres. Neste trabalho 
analisaremos a realidade das operárias de uma indústria naval: seu trabalho, 
seus limites e expectativas em relação a este novo campo. Encarando-o 
também, como espaço de formação. Trazendo um breve histórico sobre as 
mulheres e sua relação com a educação e o trabalho. O acesso às 
informações foi feito através de pesquisa bibliográfica sobre o tema e 
entrevistas com as operárias da área de solda, elétrica e instrumentação. 
Percebemos que a entrada da mulher neste mercado aponta para o 
desenvolvimento desta em relação à educação e a profissionalização. No 
entanto marcadas pela dupla jornada de trabalho ligada aos filhos e ao marido, 
quando é o caso, e ao preconceito tão presente neste processo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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METODOLOGIA 
 
Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica, dos quais foram 
confeccionados resumos para melhor compreensão do tema. Das leituras que 
foram feitas para fundamentação, utilize-me de: Soihet – 2001, de Santos – 
1996, Rago – 1985, Louro – 2001, Aranha – 1996 e Carneiro – 1994. Foi 
realizada também uma pesquisa de campo, aonde foi realizada uma visita ao 
estaleiro Brasfels – mais especificamente no centro de treinamento e Escola 
técnica e entrevista as alunas. Esta entrevista foi de suma importância, pois 
mostrou como esta sendo o trabalho realizado por esta indústria naval. 
Através desta pesquisa bibliográfica e a entrevista foi possível à confecção 
deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO 8 
2. CAPITULO I - Panorama Histórico Sobre as Mulheres: A Construção da 
Condição Feminina 11 
3. CAPÍTULO II - Mulher E Educação: Expansão das Oportunidades ao 
Longo do Século XX 20 
4. CAPÍTULO III - Condições de Trabalho: Expectativas e a Realidade da 
Mulher Operária 30 
5. CONCLUSÃO 37 
6. ANEXO 40 
7. BIBLIOGRAFIA 42 
8. ÍNDICE 43 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Nossa sociedade vem passando por grandes mudanças, ocorridas 
principalmente nas últimas décadas. Uma nova forma de olhar o mundo, a 
diversidade e as transformações tão presentes no cotidiano de todos nós. 
 Cada vez mais os espaços são ampliados. Avanços e oportunidades 
vão surgindo principalmente no mundo do trabalho. Ouvimos falar em 
globalização, novas tecnologias, industrialização, mas também em 
desemprego e pobreza. 
 Todos esses processos introduzem mudanças nas relações de trabalho 
construídas até hoje. Novas regras são elaboradas. E neste espaço de 
construção de relações, que é o mercado de trabalho, estão as relações de 
compra e venda de mão - de - obra, empregado e empregador, dominantes e 
dominados. E também estão inseridas as relações de gênero, que vêm abrindo 
outros campos para as mulheres que vêm ocupando diferentes espaços no 
mercado de trabalho. 
 É importante ressaltarmos que a inserção da mulher no mundo do 
trabalho vem sendo acompanhada, ao longo desses anos, por elevado grau de 
discriminação, não só no que tange à qualidade das ocupações que têm sido 
criadas tanto no setor formal como no informal do mercado de trabalho, mas 
principalmente no que se refere à desigualdade salarial entre homens e 
mulheres. 
Este trabalho tem por objetivo compreender como as mulheres 
passaram, através dos tempos, a ocupar espaços de trabalho anteriormente 
ocupados apenas por homens, principalmente nas fábricas e analisar a 
situação da mulher em Angra dos Reis, trazendo experiências de algumas 
 
 
 
 
9
funcionárias do estaleiro Brasfels. Considerando aspectos históricos sobre as 
mulheres, a educação destinada a elas e o mercado de trabalho. 
 O primeiro capítulo apresenta um breve panorama histórico sobre as 
mulheres através dos tempos. E como foi a construção dos diferentes 
estereótipos dados a mulher em diferentes épocas. Onde Soihet, Rago, 
apresentam suas contribuições sobre o tema. 
O segundo capítulo aponta aspectos sobre a educação dada ao público 
feminino, muitas vezes um ensino diferenciado para homens e mulheres e a 
inserção desta no mercado de trabalho. Percorrendo alguns caminhos 
traçados pelas mulheres em relação ao trabalho na sociedade capitalista, as 
causas, limitações e possibilidades crescentes. Trazendo as discussões de 
Aranha, Carneiro Marx, Engels, Muraro e Santos. 
 O terceiro capítulo apresenta um estudo de caso, a partir da proposta de 
análise da situação da mulher em Angra dos Reis. Fazendo um relato sobre a 
experiência das funcionárias, especialmente as metalúrgicas, do estaleiro 
Brasfels.Este trabalho foi realizado através de pesquisa no Centro de 
Treinamento – Escola Técnica do Brasfels. Que passou a incorporar de 
maneira significativa mulheres em seu quadro funcional. Buscando observar as 
condições de trabalho destas operárias, sua realidade e expectativas. Através 
de entrevistas com as mulheres que atuam na área de solda, elétrica e 
instrumentação e coordenação do Centro. 
Buscando saber onde estão estas mulheres. Reconhecendo os 
diferentes espaços de FORMA - AÇÃO da mulher e de desenvolvimento de 
seu trabalho. Estas que cada vez mais demonstram sua capacidade de 
conciliar os cuidados com a casa e o trabalho fora dela. Que driblam as 
dificuldades para ingressar neste mercado de trabalho, onde a dupla, ou tripla 
jornada não as tem intimidado. Há muitas mulheres desempenhando tarefas 
fisicamente pesadas, sustentando muitos lares, desenvolvendo sua 
 
 
 
 
10
capacidade intelectual e de liderança em diferentes áreas, como a profissional 
e política. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11
CAPÍTULO I 
PANORAMA HISTÓRICO SOBRE AS MULHERES: A 
CONSTRUÇÃO DA CONDIÇÃO FEMININA 
 
 
Para refletir sobre a situação da mulher em nossa sociedade é 
necessário pensar o modelo econômico, político e social em que estamos 
inseridos. Buscando aprofundar as bases que sustentam as relações de 
dominação, reorganizando as estruturas econômicas e sociais, constituindo 
valores ideológicos e políticos. 
Através dos tempos conhecemos uma história sobre a humanidade 
centrada na figura masculina. Durante muito tempo impondo modelos para o 
comportamento feminino, que deveria ser de submissão e obediência. “A 
filosofia afirmava nas mulheres a inferioridade da razão como um fato 
incontestável, cabendo-lhes apenas, cultiva-la na medida necessária ao 
cumprimento de seus deveres naturais: obedecer ao marido ser – lhe fiel e 
cuidar dos filhos”. (Soihet, 2001, p100). Tendo, a mulher, sua vida controlada 
por estes, pai ou marido, que direcionavam suas atividades, vestimentas e até 
mesmo sua fala que muitas vezes foi silenciada por julgarem que as mulheres 
eram inferiores. 
A origem da submissão feminina por muitas vezes foi explicada de 
forma biológica, como que por natureza a mulher teria o corpo mais fraco do 
que o do homem. “A medicina conferia a essas idéias, durante o século XIX, 
respaldo científico assegurando constituírem características femininas as 
razões biológicas a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas 
sobre as intelectuais, a subordinação e a vocação maternal”. (idem). Em 
oposição ao homem que apresentava como características a força física, a 
autoridade e a racionalidade como características natas. 
 
 
 
 
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 Enquanto o índio guerreava, caçava e pescava, a índia 
plantava a mandioca e preparava a bebida ritual. Enquanto o 
negro trabalhava na mineração, a negra vendia comestíveis e 
aguardente em seus tabuleiros. Enquanto o médico cuidava 
dos enfermos as parteiras ajudavam as mulheres a terem 
seus filhos. Havia plebéias pobres que trabalhavam na roça 
plantando milho e feijão, fiavam e teciam o algodão que 
costuravam. (Silva, 2000)1. 
 
 
Mesmo que primitivamente homens e mulheres desempenhavam 
funções relativamente de igual valor, complementando um a atividade do outro. 
A causa da situação de inferioridade vivida pelas mulheres foi discutida 
durante muitos anos, porém não é somente o fator biológico que vai explicar 
esse tratamento de forma diferenciada dado a mulher, que desempenhava e 
desempenha atividades tão importantes quanto as dos homens. Os diferentes 
papéis dados a homens e mulheres dentro da sociedade passam também por 
variações sociais e culturais aceitas ao longo dos anos, que determinaram o 
que aconteceria com homens e mulheres. 
1.1 As relações familiares 
 
A família era estruturada num regime patriarcal, onde o homem era o 
provedor de todas as necessidades. A mulher, filhas e filhos deviam inteira 
obediência ao marido e ao pai, encarregado de manter a família dentro dos 
 
1 *Fragmento do texto de Maria Beatriz Nizza da Silva, historiadora e coordenadora do 
dicionário da colonização portuguesa no Brasil, publicado no jornal o público de 08/03/2000. 
 
 
 
 
 
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padrões sociais. A ele competia julgar o certo, o errado e o futuro de seus 
filhos, sempre levando em conta a necessidade da família e não a do 
indivíduo. Às filhas eram destinados os mesmos caminhos das mães, quando 
não, restava-lhes a vida religiosa. 
Todos os passos eram dados de forma a preservar e, se possível, 
aumentar o patrimônio material e moral da família através da união das 
famílias por meio do casamento de seus filhos. Mantendo o equilíbrio social do 
padrão de vida levado pelas famílias. 
Desde a infância as meninas começavam a ser treinadas para o 
casamento, eram conduzidas pelo contexto social a adquirirem 
comportamentos, valores e procedimentos de forma a corresponderem aos 
papéis sociais construídos historicamente e incorporados ao longo de suas 
vidas. 
Deveriam saber cuidar dos afazeres domésticos, dos filhos, ter 
sensibilidade e delicadeza. “A mulher cabia, agora, atentar para os mínimos 
detalhes da vida cotidiana de cada um dos membros da família, vigiar seus 
horários, estar a par de todos os pequenos fatos do dia-a-dia prevenir as 
emergências e qualquer sinal de doença ou desvio”. (Rago, 1985, p62). De 
forma a manter o equilíbrio dentro do espaço familiar. A ela estava reservado o 
espaço da casa. 
No discurso médico, a mulher poderia ser conduzida por dois caminhos 
até a vida doméstica: o instinto natural e o sentimento de responsabilidade na 
sociedade. “Enquanto ao homem fica designado a esfera pública, para ela o 
espaço privilegiado para a realização de seus talentos, a esfera privada do lar”. 
(Rago, 1985, p75) encarnando a esposa, mãe e dona de casa longe da vida 
pública. 
Porém várias modificações ocorreram, principalmente, na estrutura 
familiar com as crescentes exigências, da urbanização e o desenvolvimento 
comercial e industrial ocorridas nos principais centros. A presença feminina se 
faz necessária no espaço público, nos acontecimentos sociais e sua 
 
 
 
 
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participação ativa no mundo do trabalho. Às mulheres ricas a exigência de uma 
boa educação, preocupações estéticas, com a moda, um bom preparo para o 
casamento. Às mulheres pobres a utilização de sua força de trabalho nas 
indústrias, escritórios, lojas e outros serviços como alternativas possíveis e 
necessárias. 
 
 A invasão do cenário urbano pelas mulheres, no entanto, não 
traduz um abrandamento das exigências morais. Ao contrário, 
quanto mais ela escapa da esfera privada da vida doméstica 
tanto mais a sociedade burguesa do século XIX lança sobre 
seus ombros o anátema do pecado, do sentimento de culpa 
diante do abandono do lar. (Rago, 1985, p.63). 
 
 
Somente a partir da guerra de 1914 a 1918 começam a desaparecer 
muitas das limitações impostas as mulheres, quando estas são chamadas a 
desempenhar quase todos os ofícios que antes eram exercidos unicamente 
por homens, que agora haviam sido enviados aos campos de batalha. Ao 
término da II guerra mundial as mulheres já estavam inseridas no universo 
masculino. Por muitos anos a mulher foi inteiramente submissa não só por ser 
“fraca” fisicamente, mas principalmente por não participar diretamente da 
produção dos bens. Transformações sociais e econômicas que aconteceram 
no mundo, e em especial no Brasil, trouxeram para a mulhera oportunidade de 
executar atividades lucrativas, antes destinadas somente aos homens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1.2 Um pouco da história das mulheres brasileiras 
 
A história da colonização do Brasil é centrada em feitos históricos 
liderados por homens desbravadores e empreendedores e onde estavam 
nossas mulheres? Índias, negras e brancas? 
A ocupação do país na época da colônia se fez de maneira que as 
mulheres ficassem em segundo plano nessa história. Sob a organização do 
sistema colonial a vida feminina estava restrita ao bom desempenho do 
trabalho doméstico e na assistência a família. E ao homem a manutenção da 
mulher e dos filhos, como vimos anteriormente. 
Na sociedade colonial, mulheres eram vítimas, pertencentes a todas as 
raças. Vítimas da violência e assédio de falsos pretendentes, senhores de 
engenho e fazendeiros. Elas eram raptadas da casa de seus pais, outras eram 
órfãs obrigadas a se casarem com bárbaros desconhecidos. Maridos que 
matavam suas esposas e maltratavam-nas, castigando-as sem piedade com 
um tratamento como se fossem animais, por uma suspeita de infidelidade. 
Eram trancadas em conventos a pedido de seus maridos apoiados pelas 
autoridades civis e religiosas, respaldados pela legislação da época. Mas 
também surgem as transgressoras, julgadas como especialistas em rituais, 
procuradas pela população para fazer curas e benzeduras. E outras que 
cuidavam de seus interesses e suas propriedades. Em sua maioria 
analfabetas, mas que ajudaram a escrever a história do Brasil. 
A igreja, instituição mantenedora do projeto de difusão da importância 
do matrimônio impôs as normas de conduta e que estabeleciam as divisões e 
incumbências no casamento dentro do sistema patriarcal vivido no país, 
apresentando o casamento como sinônimo de segurança e proteção para a 
fragilidade feminina, aproximando-a dos padrões estabelecidos socialmente. 
Neste período nos referimos a uma mulher ligada a vida doméstica. 
 
 
 
 
16
A educação religiosa ministrada na época não incluía as mulheres, mas 
pregava a obediência ao pai, ao marido e a religião como preceitos a serem 
seguidos. A elas não era permitido ler e escrever. Nas escolas administradas 
pela igreja só eram ensinadas técnicas manuais e domésticas. Esta situação 
era imposta de forma a manter a dominação, desprovendo-as de 
conhecimento que permitisse pensar em igualdade de direitos. Assim viviam 
sem contato com o mundo exterior, dedicando sua vida ao lar e a igreja. 
A chegada da família real ao Brasil proporcionou a abertura de algumas 
escolas religiosas onde as mulheres podiam estudar restritas novamente ao 
conhecimento dos trabalhos manuais e domésticos, acrescentando o ensino 
de português de Portugal a nível primário. 
Com a constituição de 1824 surgiram escolas destinadas à educação da 
mulher, acrescentando às atividades manuais, os cânticos e o ensino 
brasileiro. 
O Brasil colônia seguia as leis portuguesas mesmo após ter se tornado 
independente. Durante muitos anos foram criadas leis que controlavam a 
conduta feminina, suas ações e obrigações diante da figura do marido. A 
primeira forma de legislação brasileira foram as ordenações Filipinas que 
vigoraram no Brasil até o ano de 1917. De acordo com as ordenações, o 
marido tinha o direito de aplicar castigos físicos a sua companheira, chegando 
a tirar-lhe a vida se desconfiasse de adultério. A mulher não era permitida 
testemunhar em público e o pátrio poder era exclusividade do marido. 
Com a implantação do regime republicano o decreto nº 181 de 24 de 
janeiro de 1890 manteve o domínio patriarcal, mas retirou do marido o direito 
de impor castigos à mulher e aos filhos. 
Pelo código civil de 1916, a mulher casada era considerada 
relativamente incapaz. Não poderia sem autorização do marido aceitar ou 
repudiar heranças. Continuava em extrema desigualdade, não podendo 
realizar nenhuma atividade sem o conhecimento prévio. Também não poderia 
exercer uma profissão. 
 
 
 
 
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1.3 Mexe e remexe: o movimento de mulheres nos Brasil 
 
Os movimentos de mulheres vêm resistindo e lutando, considerando a 
necessidade de ampliar a ação das mulheres no sentido de diminuir as 
desigualdades. Com discussões sobre a dominação patriarcal dada a 
sustentação da subordinação feminina e ainda sobre a ocupação do espaço, 
divisão social do trabalho, responsabilidade no cuidado com os filhos, trabalho 
doméstico, mercado de trabalho, participação política, relação de poder, saúde 
e educação. Buscando desconstruir, ao longo do tempo, a sociedade patriarcal 
existente que manteve as desigualdades sociais e construir uma sociedade 
mais igualitária “(...) onde nós mulheres sejamos diferentes sim, mas com 
todos os direitos”. (Santos, 1996, p36). 
Iniciado no século XIX, o movimento de mulheres e feministas começa a 
apontar para a participação da mulher em diferentes esferas da sociedade. 
Com pequenos grupos de feministas em São Paulo até as grandes 
conferências organizadas atualmente. Trazendo as mais diferentes discussões 
sobre a situação da mulher no Brasil. 
Neste século destaque para os movimentos abolicionistas e para 
mulheres como Nízia Floresta, Violante Bivar e outras que participaram de toda 
essa movimentação dentro da sociedade brasileira. E ainda temos a criação do 
partido comunista e o movimento operário. 
Algumas datas marcaram o movimento de mulheres no Brasil. Em 1922 
Berta Lutz, cria a federação brasileira pelo progresso feminino, primeiro passo 
para a conquista do voto feminino. Getúlio Vargas em 1932 promulga o novo 
código eleitoral permitindo a mulher o exercício do voto. 
Nas décadas de 40 e 50 com o pós-guerra as mulheres se mobilizam 
em defesa do monopólio estatal do petróleo. Os movimentos ganham força, 
mas perdem seus conteúdos feministas, voltando-se a questões sociais 
nacionais mais amplas. Já a partir das décadas de 60 e 70 o conteúdo 
 
 
 
 
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feminista dos movimentos ganha força e novas produções teóricas são 
elaboradas, com Simone Beauvoir e Betty Friedman. 
Em 1962 o estatuto da mulher casada faz surgir o primeiro marco de 
liberação da mulher no Brasil que aboliu a incapacidade feminina, revogando 
diversas normas discriminadoras. Permitiu a mulher o livre exercício de uma 
profissão, permitindo que se integrasse livremente ao mercado de trabalho 
tornando-se economicamente produtiva, aumentando a importância da mulher 
nas relações de poder no interior da família. 
No ano de 1975 é proclamado, pela ONU, o ano internacional da 
mulher. No Brasil, que vive o período da ditadura militar, é formado no Rio de 
Janeiro o centro da mulher brasileira - CMB. Em 1977, introduziu-se a lei do 
divórcio dando aos cônjuges a oportunidade de por fim ao casamento e 
constituir nova família. 
Nos anos 80 é criada em São Paulo a primeira delegacia especializada 
no atendimento de mulheres. No ano de 1982 é elaborada uma plataforma 
feminista apresentada aos candidatos as eleições deste ano, chamada de 
alerta feminista. Em 1985 foi aprovada pela câmara federal a criação do CNDM 
(Conselho Nacional dos Direitos da Mulher), que contribuiu para a campanha 
constituinte do ano de 1988, com a elaboração da carta das mulheres aos 
constituintes, chamada de lobby do batom, reivindicando a garantia dos 
direitos da mulher. 
Durante os anos 90 abrem-se as discussões para possibilitar a melhor 
participação da mulher na vida pública, a implantação de uma política de cotas 
contribuindo para a inserção feminina nesta esfera política. Em 1994 
movimentos e articulação das mulheres brasileiras prepara o documento para 
a IV conferência mundial sobrea mulher que aconteceu na China em 1995. 
Conferência esta que aprovou o documento que visava a implantação da 
plataforma de ação para a igualdade e a paz. O que influenciou no Brasil na 
política de cota de 20% de mulheres nas chapas das candidaturas que 
viessem a acontecer a partir de então. 
 
 
 
 
19
Surgi também em 1990 o estatuto da criança e do adolescente que 
consagrou o princípio constitucional da igualdade de condições entre pai e 
mãe no dever de sustento, guarda e educação dos filhos. Hoje a mulher 
casada tem os mesmos direitos que o marido. 
Toda essa repressão despertou, progressivamente, um desejo de 
liberdade, de realização pessoal e profissional. E essa revolta enrustida, e esse 
anseio por liberdade trouxeram grandes modificações. As mulheres passaram a 
lutar por vários tipos de liberdade, como moral, intelectual, social e até mesmo 
física. A mulher passou a exigir espaços e direitos e passou a escolher como 
seria a sua vida. Enxergamos a criatividade e a inteligência de mulheres que 
construíram a sua história, que lutaram por um espaço onde a masculinidade era 
superior. 
A ampliação desses espaços traz a necessidade de um conhecimento 
maior, um maior grau de instrução. Neste contexto cabe analisar como se 
processou o ensino destinado as mulheres. E como esta formação vai influenciar 
na ocupação dos diferentes espaços alcançados pelas mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
20
CAPÍTULO 2 
MULHER E EDUCAÇÃO: EXPANSÃO DAS 
OPORTUNIDADES AO LONGO DO SÉCULO XX 
 
A escola é um espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos e 
mais ainda, para a propagação de valores, culturas e ideologias, pois está 
repleta de diversidades que proporcionam a convivência com diferentes 
sujeitos do conhecimento. Muitas vezes estes valores reforçam conceitos e 
ações que desprezam determinados segmentos da sociedade. Encontrando 
reforço em vários outros aspectos do cotidiano. 
Segundo Aranha (1996, p93) a reprodução dos estereótipos se dá nos 
meios de comunicação de massa (novela, comerciais, filmes, revistas etc.). O 
mesmo acontece em relação à religião, à escola, à profissão, às leis e a 
literatura, quando difundem velhas formas preconceituosas. 
 Com o avanço dos movimentos sociais, entre eles o movimento de 
mulheres, abre-se à possibilidade de transformação e questionamento das 
relações entre homens e mulheres, carregadas de pensamentos e práticas de 
dominação. 
O conceito de gênero se refere a um sistema de papéis e relações entre 
homens e mulheres determinado pelo contexto social, cultural, político e 
econômico*2. Se estivermos, num espaço com várias mulheres e apenas um 
homem, falamos no masculino, mesmo que seja apenas um. Isso significa que 
a palavra homem, além de se referir especificamente à pessoa do sexo 
 
2 Essa é a definição apresentada pela revista/manual gênero e cidadania da redeh - rede de 
desenvolvimento humano. 
 
 
 
 
 
21
masculino, engloba também todos os seres humanos. A palavra mulher se 
refere apenas à pessoa do sexo feminino. 
O sexo biológico é determinado pela natureza, o gênero é construído. 
Mulheres e homens possuem diferenças biológicas que são utilizadas 
culturalmente para explicar a idéia de sexo frágil mulher e sexo forte homem, 
limitando a autonomia e o acesso da mulher às decisões do poder. 
A construção dos papéis e das relações de gênero é um processo que 
possibilita diferentes oportunidades para homens e mulheres. 
As inúmeras diferenças culturais, a tradição construída ao longo do 
tempo foram formando um certo padrão de relação entre os gêneros. O papel 
do homem é o lugar do poder, da decisão, do dinheiro e da iniciativa e a 
mulher o papel associado à casa e ao cuidado da família. 
O papel social que a mulher deve desempenhar vai depender de cada 
momento e de cada modelo que a sociedade impor, com adaptações de 
acordo com as exigências. Muitas vezes isso não acontece e a mulher 
continua subordinada ao homem. 
As características para as mulheres são: sensível, delicada, amorosa, 
intuitiva, todas voltadas para o instinto materno e inferioridade. Sensível e 
amorosa, passível e presa fácil às emoções, enquanto o homem é agressivo e 
empreendedor. Instinto materno – confinar a mulher no mundo doméstico, e o 
homem se volta para rua, para o público. 
 Mesmo antes de nascer às crianças são padronizadas pelos adultos, 
pois se for homem vai ser um profissional bem sucedido e se for mulher, vai 
ser muito bonita e afetuosa, quando dividimos as cores rosa para menina e 
azul para o menino, quando diziam que meninos não podem brincar de 
bonecas e meninas não podem subir em árvores. 
 Quando ocorre o contrário, os pais ficam muito apreensivos e logo 
procuram meios para adequá-los aos padrões. Não podemos fugir a esses 
padrões que a sociedade impõe, pois logo serão discriminados. 
 
 
 
 
22
 Os registros históricos trazem a figura feminina como objeto do prazer, 
propriedade, adoração e bruxaria. Porém, no dia-a-dia, tanto as mulheres 
como a própria sociedade, vêm tomando consciência do papel da mulher 
dentro desta mesma sociedade para além dos discursos já existentes. 
Vivemos uma relação de gênero que informa a perspectiva cultural que 
envolve significado enraizado. Onde baseam-se os comportamentos 
masculinos e femininos. Hoje sabemos dos limites da escola neste processo 
de mudança como agente que influencia no comportamento social, mas não 
significa nega-la como espaço onde pode ser exercida uma reflexão, uma ação 
de mudança, de postura revisando valores e avançando na formação de uma 
sociedade igualitária. Com ”uma educação não sexista que há de reconhecer 
as pessoas na sua diversidade, não separar tarefas e funções e cuidar da 
formação plena e integral do ser humano”. (Aranha, 1996, p97). Através do 
desenvolvimento da capacidade crítica, a reflexão e o amadurecimento 
pessoal e social. Engajada nesse processo social de libertação e promoção da 
mulher desenvolvendo o potencial humano, impedindo que a parcela feminina 
da humanidade cresça “mutilada” por não ser vista como atuante no processo 
de construção do conhecimento através dos tempos, se libertando de qualquer 
tipo de ignorância, discriminação e preconceito. 
A mulher por muitos anos teve uma educação diferenciada da educação 
dada aos homens. Era educada para servir, o homem era educado para 
assumir a posição de senhor todo poderoso. Quando solteira vivia sobre a 
dominação do pai ou do irmão mais velho. Ao casar-se, o pai transmitia todos 
os seus direitos ao marido, submetendo a mulher à autoridade deste. 
No Brasil - colônia a igreja deu início a educação, no entanto, a 
instrução ministrada pela igreja não incluía as mulheres. Ela era como um 
objeto a ser moldado da maneira que fosse conveniente. 
Ainda era vedada a mulher freqüentar escolas masculinas. A proibição 
do acesso ao conhecimento às mulheres tinha como motivos o convívio entre 
homens e mulheres porque segundo a igreja poderia causar relacionamentos 
 
 
 
 
23
espúrios. Outro motivo era que o ensino destinado aos homens era de nível 
mais elevado, não podendo as mulheres acompanhar e freqüentar as mesmas 
escolas. Somente no século XX foi permitido que as mulheres e homens 
estudassem juntos. 
A primeira escola profissionalizante foi o curso normal. E o mais 
interessante é que as mulheres não tinham acesso, só depois de alguns anos 
as mulheres passaram a ter acesso. 
 As mulheres só começaram a entrar na faculdade em 1881, quando foi 
aceita a primeira mulher. Mas eram poucas as que conseguiam entrar e menosainda as que conseguiam concluir, pois para se dedicar aos estudos é 
necessário tempo, sendo que os padrões que a sociedade colocava para a 
época eram que a mulher deveria se dedicar totalmente ao casamento. 
 Com a proclamação da independência era necessário colocar em 
prática o discurso da necessidade de crescimento do país, afastando da 
imagem de colônia, atrasado e inculto. A educação fazia-se necessária neste 
contexto de modernização, abrindo o combate contra a condição de submissão 
em que viviam as mulheres no Brasil reivindicando sua liberação tendo a 
educação como instrumento para isto. 
 Com a criação das escolas de primeiras letras em 1827 as meninas 
puderam ter acesso ao nível básico de instrução da época, o único a que 
teriam acesso. Havia maior número de escolas para meninos do que para 
meninas, escolas e ordens religiosas femininas e masculinas e escolas leigas. 
Professores para os meninos e professoras para as meninas, pessoas de 
moral impecável. O conhecimento escolar era diferenciado, para os meninos 
noções de geometria e para as meninas bordado e costura, em comum 
aprendiam a ler, escrever, contar e realizar as quatro operações matemáticas. 
 O trabalho doméstico era mais importante do que a educação formal 
dada nas escolas para as meninas. Muitas eram as concepções e formas de 
educação para as mulheres, atravessadas por divisões, diferenças e relações 
de hierarquia. O domínio da casa era o destino para que as moças eram 
 
 
 
 
24
preparadas. Sua circulação nos espaços públicos só deveria acontecer em 
ocasiões especiais, em sua maioria ligadas a atividades religiosas, 
representadas como forma de lazer. 
O discurso que vinha ganhando força em muitos grupos era que as 
mulheres deveriam ser mais educadas do que instruídas, dando enfatizando a 
formação moral e de caráter como suficientes. Pois para que tanta instrução, 
tantas informações e conhecimento se o seu papel como esposa e mãe 
exigiria acima de tudo bons princípios. Portanto a educação da mulher seria 
feita para além dela, sem levar em consideração seus anseios ou 
necessidades, mas sim a função social a ela atribuída como educadora dos 
filhos, formadora dos futuros cidadãos para a concepção republicana da 
época. 
 Os jornais libertários traziam artigos que apontavam a instrução como 
arma para a libertação da mulher. As iniciativas anarquistas davam grande 
atenção as questões relacionadas à educação da mulher. Mesmo com maiores 
reivindicações pela educação feminina representando um grande ganho para 
as mulheres, sua educação ainda continuava sendo justificada pelo seu papel 
de mãe. 
 A primeira lei de instrução pública do Brasil datada de 1827 trazia o 
seguinte texto: 
 
As mulheres carecem tanto mais de instrução, porquanto são 
elas que dão a primeira educação aos seus filhos. São elas que 
fazem os homens bons e maus, são as origens das grandes 
desordens, como dos grandes bens; os homens moldam a sua 
conduta aos sentimentos delas. 
 
 As últimas décadas do século XIX já começam a apontar para a 
necessidade da educação para a mulher ligada a necessidade de 
modernização da sociedade, a higienização da família e a construção da 
cidadania dos jovens. 
 
 
 
 
25
 A educação feminina não poderia ser concebida sem uma forte 
formação cristã. Permanecendo uma grande influência do catolicismo, com 
grande moral religiosa, que mostrava para as mulheres a dicotomia entre Eva e 
Maria. Dois modelos diferentes de mulher e a espera de que a vida das 
mulheres fosse construída seguindo a imagem de pureza de Maria, símbolo 
que apelava para a missão de ser mãe, o ideal de recato e pudor, a aceitação 
e o sacrifício, à ação educadora dos filhos e filhas. 
 Ao percorrer algumas décadas da história das mulheres na sala de aula, 
lidou-se com representações, doutrinas e práticas sociais que instituíram 
homens e mulheres na sociedade em geral. Observou-se que em alguns 
momentos discursos religiosos, científicos, jurídicos e pedagógicos acabaram 
por produzir efeitos semelhantes. A criação de modelos e pensamentos sobre 
os diferentes tipos humanos. 
 Se as instituições sociais, entre elas a escola, produziam e reproduziam 
tais discursos, é importante destacar que os sujeitos concretos “não cumprem 
sempre, nem cumprem literalmente os termos das prescrições de sua 
sociedade. Homens e mulheres constroem formas próprias e diversas de suas 
identidades, muitas vezes em discordância as proposições sociais de seu 
tempo”. (Louro 2001, p478). O que ficam são as representações criadas em 
cada época. 
 
 Entendendo que a identidade feminina (...). 
 
 (...) é um projeto em construção que passa, de um lado, pela 
desmontagem destes modelos de rainha do lar, do destino 
inexorável da maternidade e da restrição ao espaço doméstico e 
familiar e o resgate da potencialidade, abafado ao longo de 
séculos de domínio da ideologia machista e patriarcal. 
(Carneiro, 1994, p188). 
 
 
 
 
 
26
 
 Faz-se necessária a construção de uma nova consciência sobre a 
condição feminina. Buscando o acesso a diferentes postos de trabalho, de 
igualdade salarial e educacional entre homens e mulheres. Através de uma 
educação que não reproduza esteriótipos que direcionam atividades para 
meninas e atividades para meninos. Que tragam instrumentos pedagógicos 
que proponham o mesmo tratamento para mulheres e homens. 
 
2.1 A inserção mulher no mercado de trabalho. 
 
O mundo do trabalho nem sempre foi um território masculino. Desde 
que o homem conseguiu ficar de pé e construir suas primeiras ferramentas, 
inaugurou assim o mundo do trabalho; e a mulher estava lá. Ela cuidou da 
casa e das roças, enquanto ele caçava e guerreava. 
Quando a produção era coletiva, destinada a suprir as necessidades 
básicas da comunidade, mulheres e homens partilhavam o trabalho. Quando a 
revolução industrial substituiu a energia humana pela máquina, a mulher 
estava também nas primeiras fábricas. Foi então que surge o capitalismo, 
transformando tudo em artigo de compra e venda, em mercadoria, inclusive a 
mão-de-obra. E mais uma vez lá estava a mulher disputando espaço no mundo 
do trabalho. 
A Revolução industrial e os movimentos políticos e sociais fizeram com 
que a mulher passasse a ocupar um lugar relativamente independente dentro 
da sociedade econômica e social. A consciência de sua posição e capacidades 
tem feito com que a mulher lute para conseguir uma atuação mais direta e 
assuma o lugar que lhe compete no contexto social. Na segunda metade do 
século XX, a força de trabalho feminina expandiu-se de forma expressiva em 
várias regiões do mundo. 
 
 
 
 
27
 A importância das mulheres no processo produtivo não é um fato novo. 
No Brasil, por exemplo, sua presença foi marcante nos primórdios da 
industrialização, especialmente ligada à indústria têxtil no século XIX. O que há 
a destacar no período recente é a intensidade e a diversificação do processo 
de entrada das mulheres no mercado de trabalho3. As taxas de participação 
feminina se expandem num processo contínuo, sem alteração diante das 
diferentes conjunturas econômicas. 
Diferentes fatores estão por trás desse fenômeno: o desejo de 
desenvolver uma carreira; a necessidade econômica seja em decorrência da 
decadência dos rendimentos reais do trabalho, seja para fazer frente aos 
novos anseios de consumo, a alteração no padrão de consumo com a 
presença de novos produtos, expandindo o consumo familiar, conduziu as 
mulheres a trabalhar fora de casa para aumentar a receita doméstica e, 
principalmente, as elevadas taxas de desenvolvimento econômico que, no 
caso latino-americano,marcaram especialmente as três décadas 
subseqüentes ao pós-guerra, trazendo uma expansão do emprego assalariado 
regulamentado e que incorporava novos contingentes de trabalhadores, 
inclusive as mulheres. 
O período que vai do pós-guerra até o final dos anos 60 foi marcado 
pelo aumento da produtividade do trabalho e da atividade econômica. Nos 
anos 80 e 90, no entanto, esse quadro muda: a estagnação das economias, 
acompanhada de altas taxas de inflação, inaugura um período de 
desaceleração no ritmo de geração de empregos, especialmente a geração de 
empregos assalariados regulamentados. De um período de inclusão de novos 
segmentos de trabalhadores no mercado de trabalho urbano, passa-se a um 
 
3 O mundo do trabalho envolve toda atividade realizada com esforço humano, para alcançar os diferentes 
objetivos e é nesta esfera que acontecem e são definidos os papéis de homens e mulheres. Já o mercado de 
trabalho é onde as pessoas vão buscar oportunidades de emprego, oferecendo sua capacidade de trabalhar, 
sua força de trabalho, logo este está incluído no mundo do trabalho. 
 
 
 
 
 
28
processo de exclusão via desemprego e oferta de ocupações fora dos padrões 
de proteção legal vigente, sem carteira assinada, trabalho por conta própria. 
 Mesmo nesse novo contexto, mais adverso, a participação das 
mulheres no mundo produtivo não diminuiu. Conduzido por mudanças no 
padrão cultural, ou simplesmente pela necessidade de obtenção de renda, o 
ingresso das mulheres no mercado de trabalho toma a forma de um processo 
definitivo. 
No Brasil, o ingresso acentuado de mulheres no mercado de trabalho 
permaneceu nos anos 90, apesar da conjuntura de crise vivida pela economia 
brasileira e seus reflexos no mercado de trabalho. A taxa de participação 
feminina cresceu ao longo da década chegando a 48,95% em 1999, conforme 
dados da PNAD-IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio). 
Esse processo de mudança do padrão de inserção feminina no mundo 
produtivo foi acompanhado de êxito, se considerada a atenção dada à 
condição das mulheres e o enorme conjunto de direitos que passaram a 
vigorar, pelo menos na lei. Exemplo disso é a constituição de 88 que 
incorporou uma pauta de direitos, reivindicada e discutida por um conjunto de 
mulheres brasileiras. Num movimento de busca de eqüidade entre homens e 
mulheres. Foram questionados estereótipos e conceitos, reivindicaram-se 
novos espaços e direitos. Num período de poucas décadas, as mulheres 
ultrapassaram os limites do mundo privado, em busca do direito ao trabalho 
remunerado e à cidadania. 
De fato, a inserção dos indivíduos no mercado de trabalho reproduz as 
desigualdades decorrentes da valoração socialmente atribuída a 
características ou atributos pessoais naturais - sexo, idade, cor, etnia, ou 
adquiridos, como é o caso da escolaridade. Mantendo e recriando 
desigualdades entre trabalhadores e trabalhadoras. Com formação qualificada 
e polivalência para os homens e formas de empregos atípicos para as 
mulheres. 
 
 
 
 
29
A feminização e masculinização das tarefas e ocupações estão 
legitimadas nos esteriótipos de ser homem ou ser mulher, configurações 
sociais e culturalmente construída das identidades feminina e masculina. Na 
sociedade industrial, a base dessas configurações está na separação do 
público, esfera da produção social, da direção da sociedade de atribuições 
masculinas e do privado, o mundo doméstico, esfera feminina, da produção de 
valores de uso para o consumo da família. 
Utilizando o conceito de gênero como processo histórico de construção 
e interdependente das relações sociais de sexo, a existência de trabalho de 
homens e trabalho de mulheres, nada mais é do que uma das formas de 
expressão da assimetria nas relações sociais entre os sexos, onde se definem 
a submissão das mulheres aos homens. Assim a valorização diferenciada 
entre a mão - de - obra masculina e a feminina não levando em consideração 
os aspectos biológicos de capacidade e atributos naturais, ou então, atributos 
adquiridos que justifiquem diferença de tratamento. 
Continua, portanto, a se observar a concentração da mão-de-obra 
feminina em um conjunto mais restrito de atividades, fortemente feminizadas, 
às quais corresponde uma imagem de tarefas de menor qualificação e às quais 
são atribuídas remunerações menores. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30
CAPÍTULO 3 
CONDIÇÕES DE TRABALHO: EXPECTATIVAS E A 
REALIDADE DA MULHER OPERÁRIA 
 
A luta pela sobrevivência e o desenvolvimento do capitalismo conduziu a 
participação direta da mulher na produção social através da indústria que 
acelerou o processo de ascensão social e independência econômica das 
operárias, criando novas condições de existência. A necessidade da entrada 
da mulher no mercado de trabalho, conseqüentemente sua contribuição 
econômica e a possibilidade de desenvolvimento cultural selaram a 
independência da mulher diante do quadro que se apresentava. 
 As mulheres conquistaram muitos espaços e muitos direitos. Vemos 
mulheres bem sucedidas trabalhando fora e chefiando famílias, mulheres de 
liderança política, de opinião formada buscando igualdade de condições. O 
trabalho da mulher, fora de casa, sendo estimulado pela demanda do mercado 
e pelo crescimento de sua competência profissional, que decorre em grande 
parte da melhoria de condições educacionais, maior possibilidade de estudo e 
diversidade de cursos em diferentes áreas de conhecimento que abrem suas 
portas ao público feminino. As mulheres cada vez mais demonstram sua 
capacidade de conciliar os cuidados da casa com o serviço externo. 
As dificuldades para ingressar no mercado de trabalho não têm 
intimidado as mulheres (dupla jornada, subemprego). Há mulheres 
desempenhando tarefas fisicamente pesadas. E garantindo o sustento de 
muitos lares. O desempenho escolar das mulheres tem se revelado mais alto 
que dos homens. A capacidade intelectual e de liderança das mulheres, em 
atividades profissionais ou políticas, já estão mais do que comprovadas. 
 
 
 
 
 
31
 Considerando o mundo do trabalho, levando em conta os diferentes 
tipos de trabalho realizado, Santos ressalta que grande parte do trabalho 
realizado por mulheres não é contabilizado, como por exemplo, o trabalho 
doméstico e o trabalho informal. Destaca o processo de feminização de 
algumas profissões, o que ela julga uma desvalorização do trabalho feminino. 
Neste ponto acredito que não seja uma desvalorização do trabalho em 
si, mas um processo histórico que levou a este fato. 
Embora a equiparação entre salários de homens e mulheres de um 
mesmo nível educacional ainda seja lenta, vemos traços para que essa 
situação seja mudada. Isso vem sendo acelerado pela entrada de mulheres em 
profissões que anteriormente eram exclusivamente masculinas. Mesmos após 
décadas de luta pelos direitos da mulher, ainda ouvimos falar em mulheres que 
sofrem diferentes tipos de violência e nada fazem contra seus agressores. 
Muitos fatos mostram que se processa uma mudança e grande evolução 
no papel feminino principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho. 
 A sociedade deve reconhecer que o mundo é ocupado por dois sexos e 
não apenas por um. Antes o homem era o único protagonista, a mulher estava 
confinada, onde o perfil dela não aparecesse hoje à mulher conquista seu 
espaço na sociedade. 
Com o desenvolvimento das indústrias e o avanço educacional, a 
participação das mulheres nas indústrias aumentou. Mais ao mesmo tempo as 
mulheres passaram a fazer uma dupla jornada de trabalho, pois continuaramfazendo os afazeres domésticos e cuidando dos filhos. 
No ano de 2001 o estaleiro Brasfels é aberto com uma perspectiva de 
retomar a indústria naval em Angra dos Reis. Assumindo as atividades do 
antigo estaleiro Verolme. Há dois anos ele abre suas portas às mulheres, ainda 
em caráter experimental, nos curso de solda, elétrica e instrumentista tubista. 
 
 
 
 
 
32
3.1 O centro de treinamento – escola técnica 
 
 A experiência de inserção de mulheres no quadro de funcionários, foi 
uma experiência que deu certo. Tanto que a partir daí já foram formadas novas 
turmas para os diferentes cursos. 
 O centro de treinamento é a via de acesso das mulheres ao estaleiro, 
através dos cursos ministrados. Os requisitos para o ingresso nos cursos são o 
ensino fundamental (1º grau) para o curso de solda e o ensino médio (2º grau) 
para o curso de elétrica, instrumentação e demais cursos. A primeira turma de 
mulheres foi formada por indicação, mas devido a grande procura foi 
necessária a realização de um processo de seleção, com a realização de uma 
prova obedecendo aos níveis de escolaridade específicos de cada curso. Com 
provas de português e matemática. Lembrando que os homens também 
passaram por esse mesmo processo de seleção. 
 Os cursos têm duração média de três meses na escola e depois os 
alunos e alunas vão para a prática na obra. Em aproximadamente um ano a 
aluna/aluno é qualificada como profissional da área, dependendo para isto da 
indicação do encarregado responsável por esta qualificação. Hoje há uma 
média de 300 mulheres em treinamento, distribuídas nos diferentes cursos. 
Elas são contratadas como ajudantes da área na qual fazem o curso. Entram 
às 7 horas e saem às 17:20. Recebem um salário de aproximadamente 
R$550,00 por mês, alimentação, plano de saúde e transporte. Tendo garantia 
de todos seus direitos trabalhista. 
 As alunas e alunos promovem festas e encontros, possuem um grupo 
de teatro formado por 96% de mulheres. Estas atividades fazem parte da 
preocupação e incentivo da coordenação e estar buscando outras alternativas 
de aprendizado, através de atividades que visem formar não apenas para o 
trabalho, para a obra, mas também para a vida. Durante o DDS (discurso diário 
de segurança) aborda sobre temas ligados a qualidade de vida, família, meio 
 
 
 
 
33
ambiente e principalmente sobre segurança no trabalho. Trazendo pessoas de 
fora do convívio da escola para ministrarem palestras. 
 A parte de supervisão e coordenação da escola, dentro deste princípio 
de não formar apenas para o trabalho, acaba fazendo um trabalho de 
orientação psicológica e social, nos referindo aos problemas pessoais e de 
comportamento das alunas e alunos. 
No que se refere ao trabalho, deixam bem claro que não há diferença de 
tratamento entre homens e mulheres. Porém há uma preocupação da empresa 
quanto ao tratamento dado às mulheres e também aos homens, visto que a 
presença das mulheres despertou curiosidade e incomodo. 
 
3.2 As meninas envolvidas 
 
Elas vêm de toda parte do município, são mães, esposas, noivas, 
namoradas. solteiras, casadas. jovens e adultas. Mulheres que deixaram suas 
casas, seus filhos, maridos e outras profissões em busca de outros espaços. 
Ex-secretárias, professoras, estudantes, universitárias e muitas outras que 
deixaram o preconceito de lado e foram em busca de novas oportunidades. 
 A família é um importante ponto de referência na hora das decisões. E 
muitas vezes ela não concorda com o que é decidido. Por conta até das 
tradições culturais construídas ao longo da história de cada grupo. Quando 
crianças nossos pais sonham com o nosso futuro e um pai dificilmente 
imaginaria a sua garotinha, a sua bonequinha usando capacete, botina e 
trabalhando em uma oficina de construção de navios. O que piora ainda mais 
em se tratando da relação com o marido ou namorado. Reflexo da educação e 
dos esteriótipos criados para a mulher. Carregados de preconceitos e 
ideologias. 
 
 
 
 
34
 A vida profissional traz muitos frutos, mas ela também traz alguns 
espinhos. Esse novo movimento trouxe algumas mudanças na vida dessas 
mulheres. Para a mãe, para a estudante, para a que mora longe do trabalho. 
 A mãe se sente culpada por deixar seus filhos em casa com parentes ou 
na creche quando possível. Tendo que dividir seu tempo de trabalho e sua 
atenção e preocupação com seus filhos, a casa e o marido, no caso das 
trabalhadoras casadas. 
 A chegada das mulheres na fábrica incomodou a muita gente. Estar em 
uma atividade onde a masculinidade imperava causou muitos tipos de 
preconceitos e comentários sobre as mulheres. Principalmente em relação aos 
homens. Por conta de todo processo histórico, que vivemos, mais uma vez 
vemos a representação dos esteriótipos de mulher, recriados na fábrica. 
 A estimativa é que no navio de uma população de quatro mil 
funcionários, cinqüenta eram mulheres. Uma proporção de diferença bem 
significativa. Para elas e para eles era necessária uma nova postura diante do 
trabalho e da convivência. Diferentes atitudes diante dos fatos, um novo 
vocabulário para eles, que se encaixassem a convivência com elas. E a elas 
uma postura mais discreta para que não fossem mal interpretadas com 
simpatia exagera. 
Fica evidente então a necessidade de se rever algumas atitudes e 
comportamentos dentro deste espaço da fábrica para acabar ou pelo menos 
diminuir o preconceito existente. Palestras e orientações foram necessárias, 
principalmente aos líderes de equipe, mestres e encarregados, na busca de 
uma conscientização e aceitação dessas novas personagens no contexto da 
fábrica. Para que as piadinhas sobre as mulheres, as gracinhas do tipo oh! 
Gostosa, ou então lugar de mulher é no fogão, o assédio e qualquer tipo de 
preconceito que viesse a acontecer, não se tornassem algo constrangedor. 
No mundo moderno há também a rivalidade, força de competição 
capitalista aumentando ainda mais a complexidade na relação homem/mulher. 
Elas passaram a ocupar um posto onde eles dominavam. Causando um certo 
 
 
 
 
35
medo e dúvida quanto a manutenção da posição de liderança frente aos 
postos de trabalho. Devido à competição acirrada causada pela possibilidade 
de desemprego. 
O trabalho, desde a era primitiva, surgiu como uma reação às 
necessidades vitais, em relação direta com a natureza. É uma atividade a qual 
o homem faz para atender as suas necessidades, criando produtos e meios 
para consegui-las. Atuando sobre os meios de produção, utilizando sua 
capacidade física, intelectual, suas habilidades e experiências. No capitalismo 
o trabalhador vende sua força de trabalho em troca de um salário. 
O trabalho ultrapassa as dimensões do capital. E passa a se considerar 
todo tipo de atividade como trabalho. Porém a marca do capitalismo é mais 
forte quando se trata de relacionar a trabalho aos bens de consumo. 
Neste caso o trabalho vem como forma de suprir as necessidades do 
mercado consumidor. 
 Com o trabalho são construídas práticas e experiências que serão úteis 
na formação de cada indivíduo e do coletivo do qual faz parte. Através do 
trabalho vão se abrir novos espaços de atuação. 
E para nossas operárias o sentimento não é diferente. A busca de 
remuneração, de crescimento e de reconhecimento. Como valorização de si 
mesma e de seu trabalho. 
 
“Antigamente ninguém pensava: vou lá na Verolme (Atualmente Brasfels) ver se 
tem um a vaga para mim. E se pensava era no escritório. É um avanço paraa 
mulher, porque o homem já tem o seu espaço praticamente todo dominado. Agora 
a gente esta invadindo o espaço deles, com tanta capacidade de fazer o que eles 
fazem. E com mais perfeição, porque a mulher é mais detalhista. É mais uma força 
de trabalho”. (Eletricista) 
 
 
 
 
 
36
“Cada dia a gente aprende um pouco mais”. (Soldadora) 
 
 “A intenção é estar sempre crescendo. Se agente está aprendendo e se eles estão 
nos pagando para depois mostrarmos o nosso trabalho. A gente quer fazer o 
melhor. E o nosso melhor é crescer”. (Eletricista) 
 
 
 “É uma nova adaptação. Vai ser difícil. Vai continuar existindo preconceito. Mas 
com o tempo a gente consegue. Do mesmo modo que eles lideram uma equipe de 
eletricistas, de soldadores de instrumentistas ou que qualquer outra. A gente 
também tem capacidade para fazer”. (Eletricista) 
 
 
 “Com determinação a gente vai tranqüila”. (Eletricista) 
 
Elas foram o ponta pé inicial neste contexto. Mostrando a sua condição 
de mulher enquanto profissional tão capaz quanto o homem nas atividades que 
realiza. 
Esse processo que levou as mulheres a estes cursos modificou a 
paisagem do estaleiro. O discurso faz com que as trabalhadoras e 
trabalhadores se envolvam com o seu trabalho e não percebam o que há por 
trás de todo aparato técnico apresentado. Que levam a acreditar que cada 
trabalhador ou aprendiz é remunerado para somente aprender, mas não 
percebem que estão vendendo as suas forças de trabalho a empresa. Que 
lucra com a contratação de ajudantes que fazem o serviço de um profissional 
qualificado, mas recebem como ajudante. 
 Conformam as consciências que se mantêm a favor da condição que se 
apresenta. 
 
 
 
 
 
 
37
CONCLUSÃO 
 
 
 A entrada da mulher como sujeito maior na história, começa a 
transformar a estrutura da força de trabalho dos países, na prática bem como a 
administração do estado e do mercado econômico. Fazendo com que esta 
mulher tenha novos posicionamentos diante da nova situação que se 
apresenta. A saída da mulher do espaço da casa, do lar e sua entrada no 
mercado de trabalho. 
 Com o desenvolvimento da sociedade capitalista e o surgimento da 
indústria, a família que possuía um caráter produtivo, privatizou-se. O local de 
trabalho se separa do espaço do lar. O que antes era constituído pelo espaço 
privado da casa, um mundo da mulher, de referencias femininas em oposto ao 
mundo público tido como espaço masculino, o qual a mulher não estava 
preparada para freqüentar. A elas ficaram destinadas as relações familiares 
atreladas as forças patriarcais. 
 Porém os fatos históricos contam que anteriormente as mulheres se 
ocupavam dos trabalhos manuais e da educação dos filhos ou então ajudavam 
no trabalho no campo, ajudando nas tarefas e cuidando da casa. Isto vai se 
tornar um conflito para estas trabalhadoras quando se vê a necessidade da 
saída destas mulheres para o trabalho fora do lar. Na medida que há a 
necessidade de se conciliar a vida privada com a vida pública, dando conta das 
diferentes jornadas de trabalho a serem enfrentadas no dia - a - dia. Quando a 
tudo isto se junta a existência de filhos, ainda há a preocupação com a 
educação em virtude da falta de uma estrutura que possa fazer o atendimento 
social a estas mães trabalhadoras, como creches e escolas que atendam a 
toda demanda.Parece claro que a mulher trabalhadora necessita de proteções 
específicas contra a exploração capitalista. 
 
 
 
 
38
 A busca de igualdade entre mulheres e homens é uma luta constante, 
mas que implica na reflexão sobre de que forma poderá abrir brechas nessa 
equivocada igualdade, vendo até que ponto é possível a mulher abrir mão de 
algumas de suas jornadas, sejam elas o trabalho, a família, a maternidade e 
tantas outras. 
Uma verdadeira igualdade de direitos entra homens e mulheres só 
poderá ser verdadeira quando se tiver eliminado a exploração capitalista sobre 
ambos e o trabalho doméstico privado seja convertido em público. 
Compreendendo que o espaço do lar e as atividades desenvolvidas pela 
mulher são contabilizados como trabalho em seu sentido mais amplo de 
atividade de transformação da natureza e das pessoas que o realizam. E que é 
tão necessário quanto o trabalho realizado pelos homens fora do espaço do 
lar. Para tanto é necessário rever a organização desta sociedade existente 
possibilitando o encontro entre homens e mulheres como iguais. 
O mundo da mulher passou por uma grande transformação. Nos últimos 
30 anos, as mulheres conquistaram muito mais liberdade do que ao longo de 
toda a sua história. A elevação do seu nível educacional e a redução do 
tamanho da família, além das necessidades econômicas de contribuir para o 
orçamento doméstico, fizeram da mulher um elemento essencial no 
desenvolvimento. 
 Depois de passar por várias décadas de confrontação com o homem, a 
mulher entra numa fase de igualdade crescente. O talento profissional e a 
disciplina de trabalho estão transformando as mulheres em sérios concorrentes 
dos homens no mercado de trabalho. Isso traz benefícios para as mulheres e 
os homens. Ao exaltar a competição profissional, a força de trabalho como um 
todo avança na produtividade e na qualidade do trabalho realizado. 
 Mas, se as conquistas foram de grande importância, há muito para se 
conseguir. Muitas das dificuldades. No Brasil, a informalidade, embora mais 
alta entre as mulheres, atinge em cheio a maior parte dos homens. A baixa 
qualidade do trabalho é um problema de grande maioria dos brasileiros. O 
 
 
 
 
39
desemprego, embora mais alto entre as mulheres, atinge uma parcela dos 
homens chefes de família. A falta de uma estrutura de atendimento 
assistencial com creches e escolas de educação infantil, que possam atender 
os filhos das mães trabalhadoras. 
 Ou seja, a resolução dos problemas pendentes dependerá, em grande 
escala, da melhoria das condições do mercado de trabalho como um todo. 
Mas, isso dependerá também da continuidade da transformação dos valores. 
 Para os homens inconformados com essa grande guinada histórica só 
resta recomendar: homens de todo o mundo se unam! Preparem – se tanto 
quanto as mulheres. Trabalhem tanto quanto elas. Tenham zelo no trabalho. 
Compartilhe com as mulheres uma grande parte das responsabilidades que 
sempre foram suas também embora nunca tenha percebido. Em uma palavra: 
homens de todo o mundo: acordem! As mulheres venceram as barreiras que o 
processo histórico que vivemos impôs e passaram a ocupar os diferentes 
espaços no mercado de trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40
ANEXOS 
Índice de anexos 
 
 
Anexo 1 >> Questionário de entrevista 
 
 
 
 
 
41
 
ANEXO 1 
QUESTIONÁRIO 
 
1- Nome: 
2- Idade: 
3- Filhos: 
4- Estado civil: 
5- Profissão: 
6- Local de trabalho: 
7- Escolaridade: 
8- Tempo de trabalho: 
9- Outras profissões que já trabalhou? 
10- Como e por que escolheu este trabalho? 
11- Descreva seu trabalho: 
12- O que a sua função exige? 
Quais as suas expectativas em relação ao trabalho? 
13- O que significa trabalho para você? 
14- Como foi a sua relação com a família em relação aos estudos e ao 
trabalho? Houve algum tipo de imposição? 
15- Como a sua vida profissional (o seu trabalho) afeta a sua vida fora do 
trabalho? 
16- Há diferença no tratamento entre homens e mulheres? 
17- Existe algum tipo de preconceito? 
18- Como outras mulheres vêem o seu trabalho? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42
 
BIBLIOGRAFIA 
 
ARANHA,Maria Lúcia de arruda. Filosofia da educação. 
São Paulo: Editora moderna, 1996. 
 
CARNEIRO, Sueli. Identidade Feminina In: SAFFIOTI, Heleieth. MUÑOZ - 
VARGAS, Mônica.(orgs.). Mulher Brasileira é Assim. Rio de Janeiro. Rosa dos 
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LOURO. Guacira Lopes. Mulheres na Sala de Aula In: DEL PRIORE, Marly 
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43
ÍNDICE 
 
FOLHA DE ROSTO 2 
AGRADECIMENTO 3 
DEDICATÓRIA 4 
RESUMO 5 
METODOLOGIA 6 
SUMÁRIO 7 
INTRODUÇÃO 8 
 
CAPÍTULO I 
PANORAMA HISTORICO SOBRE AS MULHERES: A CONSTRUÇÃO DA 
CONDIÇÃO FEMININA 11 
1.1 – As relações familiares 12 
1.2 – Um pouco da historia das mulheres brasileiras 15 
1.3 – Mexe e remexe: o movimento de mulheres no Brasil 17 
 
CAPÍTULO 2 
MULHER E EDUCAÇÃO: EXPANSÃO DAS OPORTUNIDADES AO LONGO 
DO SÉCULO 20 
2.1 – A inserção da mulher no mercado de trabalho 26 
 
CAPÍTULO 3 
CONDIÇOES DE TRABALHO: EXPECTATIVAS E A REALIDADE DA 
MULHER OPERÁRIA 30 
3.1 – O centro de treinamento – escola técnica 32 
3.2 – As meninas envolvidas 33 
 
CONCLUSÃO 37 
ANEXOS 40 
BIBLIOGRAFIA 42 
ÍNDICE 43 
	AGRADECIMENTOS
	SUMÁRIO
	Anexo 1 >> Questionário de entrevista
	FOLHA DE ROSTO						2
	AGRADECIMENTO						3

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