Buscar

acucar e escravida

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

7
HISTÓRIA
Açúcar e escravidão 
no Brasil colônia
CAPÍTULO 20
Açúcar e escravidão no 
Brasil Colônia
Explorando
Ser escravo no Brasil
Kátia Mattoso, Editora 
Brasiliense.
O livro mostra uma visão de conjunto 
que abrange características locais 
e regionais do escravismo.
Objetivos específicos:
•	compreender	a	importância	da	economia	
açucareira	no	Brasil	Colônia;
•	identificar	como	era	formada	a	socieda-
de	açucareira;	
•	identificar	a	escravização	africana	como	
mão	de	obra	na	produção	açucareira;	
•	analisar	 os	principais	 aspectos	da	es-
cravização	africana	no	Brasil;
•	identificar	 as	 formas	de	 resistência	 à	
escravidão.
No Período Colonial, a economia brasileira desenvolveu-se atrelada 
aos interesses mercantilistas que vigoravam na Europa, no início dos 
tempos modernos.
De acordo com a doutrina mercantilista, a colônia deveria satisfazer 
os interesses da metrópole, empregando o excedente de mão de obra 
e consumindo artigos produzidos por esta. Havia ainda, entre ambas, 
subordinação política e, no caso do Brasil, o chamado Pacto Colonial, 
por meio do qual a Coroa detinha o monopólio comercial.
Com a queda da produção de pau-brasil, que aconteceu em de-
corrência da exploração predatória, foi necessário desenvolver uma ati-
vidade econômica que desse lucro e atraísse colonizadores lusitanos. 
O produto escolhido pelos portugueses foi o açúcar, largamente con-
sumido na Europa, naquela época.
Frans	Post.	Engenho,	1661.	Óleo	sobre	madeira,	45,7	×	71,3	cm.	A	cana-de-açúcar	foi	escolhida	pelos	portugueses	para	
ser	cultivada	em	terras	brasileiras.	Com	isso,	cenas	como	a	dessa	imagem	se	tornaram	comuns,	principalmente	no	
Nordeste,	onde	se	formaram	os	grandes	engenhos	para	a	produção	de	açúcar.
In
st
itu
to
	R
ic
ar
do
	B
re
nn
an
d,
	R
ec
ife
321
pah7_321_336_cap20_u4.indd 321 11/7/13 9:52 AM
A solução açucareira 
No século XV, o açúcar deixou de ser especiaria para se tornar um 
produto de consumo cada vez mais requisitado. Diante disso, os portu-
gueses começaram o cultivo de cana-de-açúcar na América Portuguesa 
pela Vila de São Vicente, no atual estado de São Paulo. Em seguida, as 
plantações espalharam-se pelo litoral nordestino, multiplicando-se os 
engenhos, que em 1610 já eram 400.
A decisão de cultivar cana-de-açúcar tinha várias razões, entre elas:
 V o solo fértil e o clima quente e úmido eram ideais;
 V havia mercado certo na Europa;
 V os portugueses já tinham experiência no cultivo;
 V o preço elevado compensava os altos custos do frete marítimo;
 V eram boas as condições de atrair recursos para o investimento 
inicial;
 V havia a possibilidade de aumentar o mercado consumidor.
Com grande mercado externo era preciso garantir o máximo de 
produção, motivo pelo qual no Brasil se plantava quase exclusivamente 
a cana, em regime de monocultura, que ocupava grandes extensões 
de terra. A mão de obra para a produção foi inicialmente de indígenas 
escravizados e, a partir de meados do século XVI, passou a ser de escra-
vos trazidos da África. Além dos escravos, que trabalhavam em quase 
todos os setores da produção, havia alguns trabalhadores livres, como o 
mestre de açúcar, especialista na produção, e o feitor-mor, encarregado 
geralmente de cuidar da escravaria.
A unidade de produção açucareira era o engenho. Ele englobava 
não só o maquinário e as ferramentas necessárias para a produção mas 
também todo o complexo da fazenda de cana: as terras, a plantação 
(canavial) e as construções (casa-grande, senzala e casa do engenho).
As despesas para instalar toda 
essa estrutura eram muito altas, e, 
por isso, poucos colonos tinham 
um engenho completo. Alguns ape-
nas plantavam a cana e levavam sua 
colheita para ser transformada em 
açúcar em fazendas maiores.
Além dos gastos com instala-
ção e manutenção, havia o custo 
da mão de obra, ou seja, a compra 
de escravos africanos para plantar e 
colher a cana e produzir o açúcar.
Palavra-chave
Monocultura: cultura de 
um só produto.
Jean-Baptiste	Debret.	
Engenho manual que faz 
caldo de cana,	c.	1822.	
Aquarela,	17,6	×	24,5	cm.
In
:	V
ia
ge
m
	p
ito
re
sc
a	
e	
hi
st
ór
ic
a	
ao
	B
ra
si
l.C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
322
pah7_321_336_cap20_u4.indd 322 11/7/13 9:52 AM
A sociedade no nordeste 
açucareiro
No alto da pirâmide social estava o senhor de engenho, e na base, a 
massa de escravizados e indígenas.
Os grandes proprietários de engenho, de escravos e de fazendas de 
gado formavam uma aristocracia rural, detentora do poder econômico 
e político. Nessa sociedade patriarcal, o senhor de engenho era a auto-
ridade maior sobre sua família, seus empregados e agregados.
Abaixo dele, nas classes intermediárias, estavam os colonos – me-
nos abastados –, os mercadores e os trabalhadores assalariados, e por 
último os libertos.
No engenho, havia os trabalhadores livres e assalariados. Em geral eram 
os especialistas na produção de açúcar e executavam as funções de mestres 
de açúcar, purgadores e caldeireiros; cada um deles ficava responsável por 
uma das etapas do processo. Havia também pedreiros, carpinteiros, ferreiros 
etc., que recebiam por dia de trabalho ou tarefa realizada.
Outra função exercida por assalariado livre era a de feitor-mor. Su-
bordinado ao senhor, esse profissional era praticamente o administra-
dor do engenho, responsável por comandar os outros trabalhadores.
No entorno havia os agricultores que cultivavam cana em pequenas 
propriedades, mas que também acabavam dependentes dos grandes 
senhores de engenho, já que levavam sua colheita para ser moída nos 
engenhos, pois não tinham maquinário, deixando como pagamento 
parte do açúcar obtido nesse processo.
Havia ainda os proprietários apenas de escravos, que geralmente ar-
rendavam pedaços de terra dos senhores e nela cultivavam suas lavouras 
de cana. Como pagamento, deixavam boa parte da safra, contribuindo 
para aumentar a produção de açúcar nos engenhos sem ônus para os 
grandes senhores.
Entretanto, essa sociedade ia 
além das fronteiras do engenho. 
Havia os criadores de gado, os re-
ligiosos, os funcionários públicos 
e principalmente os comercian-
tes de mantimentos, roupas, bois, 
mulas, escravos e outros tantos 
artigos. Como trabalhadores livres, 
muitas vezes conseguiam se tor-
nar proprietários de terra, graças a 
seus ganhos no comércio.
As mulheres, exceto as espo-
sas dos senhores de engenho, 
exerciam as mais diversas profis-
sões. De modo geral, a situação 
Johann	Moritz	Rugendas.	
Família de fazendeiros,	
c.1822-1825.	Aquarela,	
19 × 26 cm.
Palavras-chave
Senhor de engenho: 
dono de engenho. Ele 
desfrutava de poder 
econômico e político em 
sua região. Também tinha 
autoridade sobre todas as 
pessoas que viviam em 
seu entorno: escravos, 
trabalhadores livres do 
engenho, familiares 
(esposa, filhos, genros, 
noras etc.) e agregados 
(afilhados, por exemplo).
Libertos: escravos 
alforriados.
In
:V
ia
ge
m
 p
ito
re
sc
a 
ao
 B
ra
si
l.C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
323
pah7_321_336_cap20_u4.indd 323 11/7/13 9:52 AM
DIVERSIFICANDO LINGUAGENS
TEXTO 1
 No centro de sua família, o senhor de engenho devia irradiar autoridade, respeito e ação.
Sob seu comando dobravam-se filhos, parentes pobres, irmãos, bastardos, afilhados, agre-
gados e escravos. Uma esposa, às vezes bem mais jovem, movia-se em sua sombra. Ela 
vivia para gerar filhos, desenvolvendo, entretempo, uma atividade doméstica – costura, 
doçaria, bordados – alternada com práticas de devoção piedosa. Na sua ausência, contudo, 
assumia as responsabilidades de trabalho com vigor igual ao do marido. Sua família era a 
formulação exterior de uma sociedade, mas não odomínio do prazer sexual. A possibilidade 
de se servirem de escravas criou no mundo dos senhores uma divisão racial do sexo. A es-
posa branca era a dona de casa, a mãe dos filhos. A indígena, e depois a negra e a mulata, 
o território do prazer. 
Mary	Del	Priore	e	Renato	Pinto	Venâncio.	O	livro	de	ouro	da	história	do	Brasil.	Rio	de	Janeiro:	Ediouro,	2001.	p.	63.
TEXTO 2
 [...] A sociedade açucareira arrastava consigo uma legião de marginalizados, de ex-
cluídos, que compunham o pano de fundo do ‘paraíso do açúcar’: prostitutas, ladrões, 
mendigos, feiticeiros, biscateiros.
Em Salvador, no século XVIII, a prostituição era praticada por mulatas livres e mesmo por 
mulheres brancas, oriundas das camadas mais pobres [...]. O mulato e a mulata eram os 
mais estigmatizados nessa sociedade. Criados à sombra da casa-grande e à margem da 
senzala, não se enquadravam no mundo dos brancos nem dos negros [...].
Muitos desses pobres livres viviam à sombra do engenho, onde obtinham comida e prote-
ção, em troca de pequenos serviços. Formavam a legião de agregados da casa-grande [...]. 
Outros excluídos da riqueza do açúcar viviam na cidade, exercendo profissões humildes: 
barbeiros, sapateiros, ferreiros, pobres alfaiates, vendedores de cestos, quituteiras a oferecer 
em tabuleiros seus doces e guloseimas [...]. 
Vera	Lúcia	do	Amaral	Ferlini.	A	civilização	do	açúcar	(séculos	XVI	a	XVIII).	São	Paulo:	Brasiliense,	1984.	p.	94-95.
1. O que significa dizer que o senhor de engenho irradiava autoridade?
2. Em filmes, novelas e minisséries que retratam o universo dos engenhos, os senhores são represen-
tados como no texto? Explique.
3. Quem eram os excluídos da sociedade açucareira?
4. Por que podemos classificá-los como excluídos?
5. No Brasil de hoje, existem grupos sociais marginalizados ou considerados excluídos? Explique.
As	respostas	desta	seção	encontram-se	no	Guia	Didático.
feminina era de subordinação. Mas, ainda assim, algumas mulheres livres ou ex-escravas traba-
lhavam para sustentar a casa. 
Na estrutura social havia certo grau de mobilidade. Libertos podiam se tornar artesãos, co-
merciantes e lavradores. Mercadores e artesãos especializados tinham chances inclusive de virar 
senhores de engenho.
324
pah7_321_336_cap20_u4.indd 324 11/7/13 9:52 AM
Os trabalhadores escravos
No início do processo de colonização, a mão de obra indígena foi fundamental. Existentes 
em grande quantidade, os nativos eram suficientes para atender à demanda, o que fez deles uma 
solução relativamente barata.
Depois, os escravos trazidos da África passaram a ser a mão de obra, uma experiência que 
Portugal já tinha.
Tanto por portugueses como por outros povos, a utilização da mão de obra escrava nas 
colônias americanas encaixa-se no contexto e nas práticas mercantilistas da época, conforme 
explicado no texto a seguir.
 [...] O tráfico, o comércio intercontinental de escravos, foi uma atividade extremamente lucra-
tiva para as coroas europeias durante a época moderna, e é pela ótica das práticas mercantilistas 
que ele deve ser entendido. O escravo era uma das mais valiosas mercadorias que a metrópole 
vendia para a colônia, enriquecendo os traficantes portugueses e facilitando a exploração do im-
pério português. A captura do índio nativo não proporcionava lucro algum para a metrópole, no 
máximo gerava um comércio interno e um contato maior entre as diversas regiões da colônia, o 
que nem sempre era interessante para Portugal, uma vez que tal contato geraria o aquecimento 
de um mercado interno do qual a metrópole não participava, não recebia tributos e, portanto, 
não lucrava [...]. A relação entre escravidão e comércio fica mais evidente quando se percebe que, 
embora iniciado pelos portugueses, o tráfico de escravos foi praticado por todas as potências 
mercantilistas da época moderna, como Holanda, França e Inglaterra. 
Mauro	Bertoni	e	Jurandir	Malerba.	Nossa	gente	brasileira:	textos	e	atividades	para	o	Ensino	Fundamental.	
	Campinas:	Papirus,	2001.	p.	50.
Outras questões também contribuíram para a escolha da mão de obra africana. Os indígenas 
não tinham resistência às doenças contagiosas trazidas da Europa e assim havia grande morta-
lidade. Além disso, os nativos fugiam das fazendas com muita facilidade, já que eram profundos 
conhecedores das matas e dos caminhos do território brasileiro.
Dessa forma, adquirir mão de obra africana trazia uma série de consequências vantajosas: lucrati-
vidade do tráfico; aproveitamento da experiência dessa população em agricultura e metalurgia; me-
nos fugas, por não conhecerem o território; e menos perdas, por serem mais resistentes às doenças.
Por volta de 1570, alguns. milhares de africanos já realizavam as atividades produtivas no 
Brasil. Eram a força de trabalho não só nos engenhos mas em vários setores da economia: nas 
minas de ouro, em outros cultivos agrícolas (arroz, tabaco, algodão), na criação de animais, no 
transporte de mercadorias, no comércio e nos diversos serviços domésticos. Cabia também aos 
escravos as tarefas de limpar as ruas e carregar os dejetos e o lixo para serem jogados nos rios. 
Em lugares como o atual estado de Santa Catarina, os escravos também foram usados na pesca 
de baleias, das quais se extraía o óleo necessário principalmente para iluminação.
Mulheres escravas
No início, o tráfico de escravos da África ocorria numa proporção de quatro ou cinco homens 
para cada mulher. A justificativa era a demanda maior de escravos do sexo masculino. Essa situa-
ção, porém, causou um problema nas senzalas: era impedida a formação de casais. Isso não era 
vantajoso para os senhores, pois com menos filhos de escravos gerados, tendo em vista que eles 
325
pah7_321_336_cap20_u4.indd 325 11/7/13 9:52 AM
nasciam já nessa condição, aumentava o custo de compra da escra-
varia. Essa situação, segundo estudiosos, durou muito tempo, até o 
fim do tráfico, em 1850. Por isso, os senhores forçavam as relações 
entre uma mulher e vários homens.
O papel desempenhado pelas mulheres durante o período es-
cravocrata no Brasil foi de extrema importância. Nas sociedades 
agrícolas da África, as mulheres eram responsáveis por cultivar a 
terra – portanto, pela subsistência de seu grupo – e pelos cuidados 
maternos. No Brasil, além de realizarem os mesmos serviços dos 
homens em diversos setores, elas eram usadas como mucamas, 
cozinheiras, babás e amas de leite dos filhos de seus senhores, ou 
seja, cuidavam dessas crianças e muitas vezes as amamentavam. 
As mulheres escravas no Brasil se destacaram como ganhadei-
ras, ou escravas de ganho. Essa função consistia na venda de pro-
dutos, principalmente nos centros urbanos, e para isso as mulheres 
eram as mais utilizadas. Nesse trabalho, geralmente, uma pequena 
parte da renda do comércio ambulante realizado pelos escravos 
ficava para eles e o restante para seus senhores. Foi um dos meios que 
os escravos tiveram de juntar algum dinheiro e comprar sua liberdade.
De acordo com estudiosos, entre as contribuições das escravas es-
tavam a manutenção e a transmissão da cultura africana, bem como o 
ativismo político.
Palavra-chave
Mucama: escrava que 
auxiliava nos serviços 
caseiros e servia de 
acompanhante da patroa. 
Ajudava sua senhora em 
todas as tarefas cotidianas, 
incluindo o banho, a troca 
de roupas e os cuidados 
com os cabelos. 
 O fator mais negativo para a cidadania foi a escravidão [...]. Toda 
pessoa com algum recurso possuía um ou mais escravos. O Estado, 
os funcionários públicos, as ordens religiosas, os padres, todos eram 
proprietários de escravos.
Era tão grande a força da escravidão que os próprios libertos, uma 
vez livres, adquiriam escravos. A escravidão penetrava em todas as 
classes [...]. A sociedade colonial era escravista de alto a baixo. 
José	Murilode	Carvalho.	Cidadania	no	Brasil:	o	longo	caminho.	Rio	de	Janeiro:	Civilização	
Brasileira,	2001.	p.	20.
Séculos se passaram desde a escravidão na sociedade colonial brasi-
leira, comentada no texto acima pelo historiador José Murilo de Carvalho. 
Ainda assim, nos dias atuais é possível perceber algumas práticas que se 
originaram naquele período. 
Em grupo, converse com os colegas sobre a permanência do racismo 
no Brasil do século XXI. Juntos, levantem situações cotidianas em que essa 
prática é possível ser percebida e, em seguida, busquem na Constituição 
Brasileira de 1988 o texto que condena o racismo no Brasil.
CONEXÕES
Babá	com	menino	Eugen	
Keller.	Pernambuco,	
1874.	Fotografia	de	
Alberto	Henschel.
Respostas	pessoais.	Professor,	se	possível,	organize	um	debate	
em	sala	de	aula	com	base	nessas	respostas.	O	objetivo	é	levantar	
situações	cotidianas	de	racismo	e	preconceito	que	muitas	vezes	
são	ignoradas,	como	determinadas	frases,	piadas	etc.
C
ol
eç
ão
	G
eo
rg
e	
E
rm
ak
of
f
326
pah7_321_336_cap20_u4.indd 326 11/7/13 9:52 AM
O tráfico de escravos
Como já vimos, havia escravidão na África, e os europeus, aproveitando-se dessa realidade, 
iniciaram o comércio de africanos para além das fronteiras do continente. Os portugueses foram 
os primeiros a realizar o “comércio de gente” além do Oceano Atlântico, seguidos de outras po-
tências europeias do período, como França, Inglaterra e Holanda.
Os traficantes de escravos europeus instalaram-se em algumas regiões da África, onde fun-
daram feitorias ao longo dos séculos XV e XVI, e lá negociavam a aquisição dos escravos, que era 
facilitada por reinos escravistas, como os de Mali, Benin e Congo. 
O tráfico de escravos originou um comércio triangular, que envolvia a América, a Europa e 
a África. Os navios deixavam os países europeus levando produtos manufaturados até os portos 
africanos, seguiam depois para as colônias na América a fim de deixar os escravos e ali carrega-
vam produtos da colônia, partindo novamente para a Europa.
OCEANO
ATLÂNTICO
ÁFRICA
NOVA
INGLATERRA
INGLATERRA
ANTILHAS
manufa
turados
açú
car
m
el
aç
o
escravos
rum 
Equador
Trópico de Câncer p
es
ca
do
e 
ce
re
ai
s
90˚O
M
er
id
ia
no
 d
e 
Gr
ee
nw
ic
h
Fonte: AQUINO, Rubim Santos Leão de et. al. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 134.
OCEANO
PACÍFICO
N
0 2 548 km
1 cm – 2 548 km
No caso da colônia portuguesa, por exemplo, havia ainda outra rota: abarrotados de vinhos 
e manufaturas, os navios saíam de Portugal e dirigiam-se ao Brasil. Daqui seguiam para a África 
levando aguardente e fumo. Depois voltavam ao Brasil cheios de escravos e partiam para Lisboa 
carregados de açúcar.
Depois de aprisionados, os escravos eram embarcados em navios que ficaram conhecidos 
como “negreiros” ou “tumbeiros”. A travessia da África para a América era difícil e penosa para os 
africanos. Uma viagem para o Brasil podia durar de 35 a 60 dias.
©
	D
A
E
/S
tu
di
o	
C
ap
ar
ro
z
Fonte: Rubim Santos Leão de Aquino et al. História das sociedades americanas. Rio de Janeiro: Record, 2008. p. 134.
Comércio triangular
327
pah7_321_336_cap20_u4.indd 327 11/7/13 9:52 AM
Devido às condições de higiene e alimentação a bordo, a mortalida-
de na viagem era muito grande. Amontoados nos porões e mal alimen-
tados, muitos escravos não resistiam, e os que sobreviviam chegavam 
magros e debilitados.
Entre as causas das mortes estavam desidratação, disenteria, escor-
buto e banzo. Os que resistiam eram vendidos por valores dez vezes 
maiores que todas as despesas de aquisição, perdas e transporte – por-
tanto, um negócio extremamente lucrativo.
A taxa de mortalidade chegou, em alguns casos, a mais de 50%. No 
século XVII era de 20%, mas, com o passar do tempo, foram sendo feitas 
adaptações que, no início do século XIX, reduziram essas perdas para 
9%. Essas medidas não demonstram caráter humanitário, ou seja, preo-
cupação com a morte dos africanos nos navios, mas era uma forma de 
diminuir as mortes para garantir maior lucro com o tráfico.
Após o desembarque em portos brasileiros, os africanos recebiam 
cuidados para se restabelecerem (o que significava engordar a fim de 
melhorar a aparência), para 
então serem vendidos. A ida-
de, a boa saúde, a aparência, 
a procedência e o vigor físico 
eram fundamentais para obter 
um bom preço, que variava 
de acordo com as qualida-
des do cativo, da distância de 
onde se originou, da concor-
rência, da especulação e da 
conjuntura econômica.
Os leilões públicos e as 
vendas particulares foram os 
dois sistemas mais praticados 
no Brasil enquanto vigorou a 
escravidão.
Augustus	Earle.	Portão e mercado de escravos em Pernambuco,	1824.	
Óleo	sobre	tela,	45	×	68	cm.
Palavra-chave
Banzo: tipo de depressão 
profunda que levava a 
pessoa a não comer nem 
beber. 
C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
Chachá de Ajudá: um mercador de escravos
No fim do século XVIII, desembarcou no Golfo de Benin o baiano Fran-
cisco Félix de Souza – filho de um português com uma africana escravizada –, 
que foi o maior mercador de escravos de sua época. Depois de muitas aventuras no continente afri-
cano, Francisco Félix tornou-se aliado do rei do Daomé, o que fez a fortuna do escravagista brasileiro, 
que se transformou no homem mais poderoso de Ajudá e o mais rico do Daomé.
Casado com várias mulheres, ele vestia-se à brasileira e exigia que seus filhos e filhas aprendes-
sem o português e fossem católicos. Chachá (apelido que depois virou título) fornecia ao príncipe 
daomea no mercadorias e armas de fogo. Recebeu título de nobreza e obteve o monopólio do comér-
cio de escravos local. Faleceu em 1849, aos 94 anos.
328
pah7_321_336_cap20_u4.indd 328 11/7/13 9:52 AM
DOCUMENTOS EM ANÁLISE
TEXTO 1
 No transporte de negros de Angola para o estado do Brasil os carregadores e capitães 
dos navios têm a prática escandalosa de colocá-los a bordo tão juntos uns dos outros que 
não só lhes falta a necessária facilidade de movimento indispensável à vida […] mas devido 
à condição de superlotação em que viajam muitos morrem, e aqueles que sobrevivem 
chegam em estado deplorável. 
Decreto	real,	Lisboa,	1684.	In:	Edgar	Robert	Conrad.	Os	tumbeiros:	o	tráfico	de	escravos	para	o	Brasil.	
	São	Paulo:	Brasiliense,	1985.	p.	52-53.
TEXTO 2
As	respostas	desta	seção	encontram-se	no	Guia	Didático.	
1 	Como	eram	transportados	os	africanos	na	vinda	para	o	Brasil?
2 	Quais	eram	as	condições	impostas	a	eles	e	quais	foram	as	consequências	disso?
3 	A	imagem	comprova	o	descrito	no	texto?	Justifique.
Autoria	desconhecida.	Um	navio	negreiro.	Litogravura	da	obra	Notícias do Brasil em 1828-1829,	de	
Robert Walsh,	publicada em	1830.
C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
329
pah7_321_336_cap20_u4.indd 329 11/7/13 9:52 AM
A diversidade cultural dos africanos
Os africanos que foram trazidos para o território brasileiro no início da colonização vinham 
da região da Guiné. A partir de 1600 começaram a ser trazidos de Angola e do Congo.
Como já estudamos, a África é um continente de grande diversidade étnica e cultural. Por-
tanto, apesar de serem chamados genericamente de africanos, os homens, as mulheres e as 
crianças provinham de diferentes grupos linguísticos e culturais. De acordo com estudiosos do 
período, vieram para o Brasil africanos dos grupos descritos a seguir.
Culturas sudanesas: representadas principalmente pelos iorubás, da Nigéria – introduzidos 
no Brasil em fins do século XVIII, estavam divididos em vários grupos (nagôs, eubá, ketu etc.); 
povos daomeanos (jeje, fon etc.); fânti, axânti e diversos outros povos da região.
Culturas guineano-sudanesasislamizadas: 
que adotavam a religião islâmica, como os per-
tencentes aos grupos fula, mandinga, hauçá etc.
Culturas bantus (ou bantos): como cabindas, 
benguelas, angolas, congos.
Ao chegarem à colônia portuguesa na América, 
os escravos eram classificados em dois grupos, 
sem considerar sua origem, etnia, cultura:
 V os boçais, recém-chegados que não tinham 
conhecimento da língua nem da cultura 
portuguesa;
 V os ladinos, africanos que já conheciam a lín-
gua portuguesa.
Havia ainda a denominação de crioulos para 
os descendentes de africanos nascidos na colônia.
Cotidiano dos escravos
O tratamento dispensado 
aos escravos, a forma de viver 
e a maneira como resistiam à 
situação variaram no tempo e 
no espaço. Os dados são aqui 
apresentados de forma pa-
norâmica e não específica. É 
preciso considerar que houve 
variações ao longo do tempo e 
de grupo para grupo, de acor-
do com o tipo de trabalho e a 
localidade no Brasil.
De forma geral, nas diferen-
tes frentes de trabalho em que 
foi usada a mão de obra dos 
Johann	Moritz	Rugendas.	Benguela, Angola, Congo 
e Monjolo,	c. 1822-1825.	Aquarela,	30	×	25,5	cm.
Johann	Moritz	Rugendas.	Punições públicas,	c. 1822-1825.	Aquarela,	21	×	28	cm.
	In
:	V
ia
ge
m
 p
ito
re
sc
a 
ao
 B
ra
si
l.	
C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
In
:	V
ia
ge
m
 p
ito
re
sc
a 
ao
 B
ra
si
l.	
C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
	
330
pah7_321_336_cap20_u4.indd 330 11/7/13 9:52 AM
DOCUMENTOS EM ANÁLISE
 ’Quais seriam, portanto, no escravismo, as ideias que, passando pelos dois polos da 
relação de produção, lhe dariam condição de existência, assegurando-lhes continuidade, 
sendo percebidos como ‘naturais’, comuns a todos os membros da sociedade? Quais se-
riam, em outras palavras, os mecanismos encarregados de manter os escravos na sua con-
dição de trabalhadores submissos, de fazê-los trabalhar e produzir para seu senhor?’ [...]
No final do século XVII, um jesuíta italiano residente na Bahia pregou aos senhores um lon-
go sermão sobre as ‘Obrigações dos senhores para com os escravos’. Modificado, o texto foi 
publicado em 1705 com o título Economia Cristã dos Senhores no Governo dos Escravos. 
Neste livro, explicava aos senhores, com bases teológicas e filosóficas, as regras, normas e 
modelos que deviam seguir na relação com seus cativos. Para esse autor, a relação senhor-
-escravo era um complexo de obrigações recíprocas. O escravo devia sujeitar-se a trabalhar 
para seu senhor. O que os senhores deviam dar aos escravos resumia-se na seguinte fór-
mula: ‘panis, et disciplina, et opus servo’, isto é, pão, disciplina e trabalho para o servo. Pão 
(sustento, vestuário, cuidado nas enfermidades e obrigações de ensinar a doutrina cristã) 
para que não sucumbissem; castigo, para que não errassem, e trabalho, para que mereces-
sem o sustento e não se fizessem insolentes contra os próprios senhores e contra Deus.
Na parte do livro que trata especificamente do castigo, Jorge Benci inicia sua exposição afir-
mando que ‘para trazer bem domados e disciplinados os escravos é necessário que o senhor 
lhes não falte com o castigo, quando eles se desmandam e fazem por onde o merecem’. 
Silvia	Hunold	Lara.	Campos	da	violência:	escravos	e	senhores	na	capitania	do	Rio	de	Janeiro	(1750-1808).	
	Rio	de	Janeiro:	Paz	e	Terra,	1988.	p.	44-45.
1 	Segundo	o	jesuíta	Jorge	Benci,	como	os	senhores	deveriam	proceder	para	manter	seus	
escravos	nessa	condição?
2 	Qual	era	o	papel	do	castigo	nessa	relação?
3 	O	que	significa	dizer	que	escravos	e	senhores	tinham	obrigações	recíprocas?
As	respostas	desta	seção	encontram-se	no	Guia	Didático.	
escravos, o tratamento era rígido e cruel, com jornadas de trabalho de até 18 horas diárias e 
castigos dos mais diversos tipos.
Os escravos sofriam castigos caso não cumprissem as ordens do dono ou tomassem qual-
quer atitude que o contrariasse. De acordo com a mentalidade da época, os castigos eram 
necessários para manter a ordem e a hierarquia e, ainda, faziam parte dos direitos do dono 
sobre seus escravos. Essas punições ocorriam geralmente em público para servir de exemplo 
aos outros.
A partir do século XVII, algumas medidas foram tomadas para diminuir a violência dos casti-
gos. Entre elas, o escravo podia entrar com ação judicial contra seu dono e até pedir a troca de 
senhor caso estivesse sendo muito maltratado.
331
pah7_321_336_cap20_u4.indd 331 11/7/13 9:52 AM
A resistência à escravidão
Durante todo o período escravista no Brasil foram registrados diversos atos de resistência e 
rebeldia, demonstrando que os africanos e seus descendentes não ficaram passivos diante da 
situação de exploração que viviam. 
Essas formas de resistência incluíam diversos tipos de ações, como fugas, boicotes, sabo-
tagens, revoltas, assassinato de senhores, violência contra si mesmos (abortos, suicídios) e até 
mesmo formas negociadas. 
De todas, as fugas eram talvez a forma mais comum de resistência. Com o aumento de sua 
frequência, surgiu um profissional especializado nas capturas dos escravos fugidos, o capitão do 
mato. Muitos desses capitães do mato eram pardos ou ex-escravos. As fugas eram geralmente 
anunciadas nos jornais para facilitar a captura dos fujões. Os escravos recuperados sofriam ainda 
mais castigos e até mesmo marcas na pele para registrar sua ação. 
Com o aumento do número de fugas, 
muitos senhores, ao perceberem que isso 
poderia ocorrer, recorriam a negociações 
com os escravos para evitar maiores prejuí-
zos. Davam-lhes alguns benefícios em troca 
de não fugirem. 
Nem sempre as fugas ocorriam em gru-
pos. Nas fugas individuais, os cativos fugi-
tivos buscavam abrigo em casa de libertos 
ou de conhecidos livres, escondiam-se na 
periferia das cidades ou eram ajudados por 
irmandades contrárias à escravidão. 
Nas fugas coletivas, os escravos se es-
condiam nas serras e nas matas, buscando 
a sobrevivência e principalmente evitando 
ser encontrados. Muitos dos que fugiam for-
maram esconderijos na mata que ficaram 
conhecidos como quilombos, onde se reu-
niam centenas de pessoas – os quilombolas.
Os quilombos tinham organização social 
própria e uma rede de alianças com diver-
sos grupos da sociedade. Houve quilombos 
espalhados por quase todo o Brasil. Só na 
Capitania de Minas Gerais existiram mais de 
cem durante o século XVIII. No Rio Grande 
do Sul, destacaram-se os quilombos do Ca-
mizão, do Sertão Geral, da Ilha Barba Negra, da Preta Vitória. No Mato Grosso, durante os séculos 
XVIII e XIX, distinguiram-se o de Quariterê, de Sepotuba e do Rio Manso. O quilombo é uma das 
formas mais visíveis e conhecidas de resistência.
Entre os diversos quilombos surgidos por todo o Brasil, o mais famoso foi o de Palmares, lo-
calizado na Serra da Barriga, no atual estado de Alagoas – na época Capitania de Pernambuco. 
Ao que se sabe, os palmaristas viviam coletivamente e sempre com um líder, dos quais se des-
tacam Ganga Zumba e Zumbi. Leia no texto a seguir a descrição desse quilombo.
In
:	V
ia
ge
m
 p
ito
re
sc
a 
ao
 B
ra
si
l.	
C
ol
eç
ão
	p
ar
tic
ul
ar
Johann	Moritz	Rugendas.	Capitão do mato,	c.	1822-1825.	
Aquarela,	27,4	×	20,8	cm.	O	capitão	do	mato	era	contratado	
para	capturar	escravos	fugidos.	No	século	XIX,	esses	
profissionais	anunciavam	seus	serviços	nos	jornais.
332
pah7_321_336_cap20_u4.indd 332 11/7/13 9:52 AM
Revoltas, boicotes e sabotagens 
As revoltas, os boicotes e os atos de sabotagem envolviam planeja-
mento, sempre com uma liderança. Unidos, os escravizados promoviam 
vários tipos de atos de rebeldia, desde lutas contra seus senhores até a 
quebra de equipamentos para paralisar os trabalhos. 
Nos canaviais, entre as sabotagens mais usadas estavaa queima da 
cana-de-açúcar. Os escravos jogavam nas plantações um pedaço de ma-
deira acesa, que as destruía. 
Boicotes como trabalhar mais lentamente ou até paralisar o trabalho 
também aconteciam. Já as revoltas e rebeliões eram sempre as mais temi-
das, pois nelas era grande a violência de ambas as partes. 
Na década que antecedeu a abolição, as revoltas passaram a ter o 
apoio dos grupos abolicionistas, o que fortaleceu as ações dos escravos. 
Muitas vezes, abolicionistas, com a ajuda de escravos fugidos, conseguiam 
se infiltrar nas fazendas e organizar as rebeliões, cada vez mais frequentes. 
Liberdade negociada
As negociações entre senhores e escravos também fizeram parte da 
resistência à escravidão. Nesse rígido sistema de dominação, os escra-
vizados buscaram minimizar sua condição de exploração por meio de 
atos negociados, como trocar mais eficiência no trabalho por melhores 
condições de sobrevivência. Havia também acordos que visavam ga-
rantir a expressão de sua cultura, tão combatida pelos senhores. 
Explorando
Os africanos e seus 
descendentes no Brasil: 
a resistência quilombola
Alfredo Boulos Júnior, 
Editora FTD.
Nessa obra, os quilombos são 
compreendidos como um local 
abrangente, em que os africanos 
têm a possibilidade de expressar sua 
resistência à escravidão e um modo 
de manter suas tradições.
 [...] desde meados do século XVII, Palmares tinha milhares de habitantes, embora alguns cro-
nistas da época, com certo exagero, citem 30 mil. Para além de um território de refúgio, formaram-
-se inúmeras comunidades, reinventando culturas e identidades, de africanos, de indígenas e de 
seus descendentes.
Palmares estava dividido em inúmeros mocambos, e os mais importantes, em geral, recebiam os 
nomes de seus chefes ou comandantes. O quilombo principal, um centro político e administrativo 
que funcionava como se fosse a capital de Palmares, chamava-se Macaco. Também era o mais 
povoado, com milhares de casas, dentre elas, a de Ganga-Zumba, um de seus mais destacados 
líderes antes de Zumbi.
Os ‘palmaristas’, nome adotado pela documentação colonial, tinham complexa organização econô-
mica, política e militar, capaz de resistir às tropas enviadas tantas vezes, ora por portugueses, ora por 
holandeses. [...]
Palmares foi considerado destruído depois do assassinato de seu líder Zumbi, em novembro de 1695, 
com ataques de canhões, e da contratação de bandeirantes para derrubar as paliçadas. O que pouca 
gente sabe é que as batalhas contra Palmares continuaram. [...] A ocupação paulatina das serras per-
nambucanas foi empurrando os ‘palmaristas’ para outras regiões, e em 1730 comenta-se que o qui-
lombo do Cumbe, na capitania da Paraíba, teria sido formado por remanescentes de Palmares. [...] 
Flávio	Gomes	e	Rômulo	Xavier.	Além	de	Zumbi.	Nossa	História,	São	Paulo:	Vera	Cruz,	ano	3,	n.	25,	p.	67,	nov.	2005.
333
pah7_321_336_cap20_u4.indd 333 11/7/13 9:52 AM
Nessas negociações, houve até quem conseguira comprar ou ga-
nhar sua liberdade.
Os trechos a seguir são parte de um tratado proposto por um grupo 
de escravos a seu senhor num engenho de Santana de Ilhéus, na Bahia, 
por volta de 1789.
 Isolados ou integrados, dados à predação ou à produção, o objetivo da maioria dos qui-
lombolas não era demolir a escravidão, mas sobreviver em suas fronteiras, e se possível viver 
bem. [...] Abolicionistas e outros homens livres estiveram envolvidos na mobilização e organi-
zação desses quilombos, o que confirma uma história de aliança entre quilombolas e outros 
grupos que vinha de longe. Não procede, exceto talvez em poucos casos, a ideia de que os 
quilombolas fugiam para recriar a África no interior do Brasil, com o projeto de construir uma 
sociedade alternativa à escravocrata. Claro que os quilombos formados por africanos natos 
aproveitaram tradições e instituições originárias da África. Mas este não era um movimento 
privativo dos quilombos. Apesar da vigilância senhorial, o mesmo acontecia nas senzalas. 
[...] alguns historiadores com razão sugerem que a existência de quilombos pode ter funcio-
nado como uma válvula de escape para tensões escravistas que, de outra forma, explodiriam 
nas senzalas. Pode-se ver a questão sob um outro ângulo, porém. Talvez o temor de que seus 
escravos fugissem para os quilombos fizesse com que muitos senhores os tratassem melhor. 
Neste sentido, além de refúgio de escravizados, os quilombos tiveram um papel importante na 
melhoria de vida daqueles que permaneceram nas senzalas. 
João	José	Reis.	Ameaça	negra.	Revista	de	História.com.br,	Rio	de	Janeiro:	Biblioteca	Nacional,	14	jun.	2008.		
Disponível	em:	<www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/ameaca-negra>.	Acesso	em:	nov.	2013.
1. Qual foi a importância da rede de solidariedade para os quilombolas?
2. Os quilombos eram recriações da África no Brasil? Explique.
3. Por que a organização em quilombos resultava na melhoria de vida das senzalas?
DIVERSIFICANDO LINGUAGENS
Palavra-chave
Tarrafa: pequena rede de 
pescar de forma circular, 
de malha estreita, que se 
lança com as mãos.
 Meu Senhor, nós queremos paz e não queremos guerra; se meu senhor também quiser 
nossa paz há de ser nessa conformidade, se quiser estar pelo que nós quisermos a saber. 
Em cada semana nos há de dar os dias de sexta-feira e de sábado para trabalharmos para nós não 
tirando um destes dias por causa de dia santo. 
Para podermos viver nos há de dar rede, tarrafa e canoas. [...] 
Os atuais feitores não os queremos, faça eleição de outros com a nossa aprovação. [...]
Poderemos plantar nosso arroz onde quisermos, e em qualquer brejo, sem que para isso peça-
mos licença, e poderemos cada um tirar jacarandás ou qualquer pau sem darmos parte para isso. 
A estar por todos os artigos acima, e conceder-nos estar sempre de posse da ferramenta, esta-
mos prontos para o servirmos como dantes, porque não queremos seguir os maus costumes dos 
mais Engenhos. 
Poderemos brincar, folgar, e cantar em todos os tempos que quisermos sem que nos empeça e 
nem seja preciso licença. 
João	José	Reis	e	Eduardo	Silva.	Negociações	e	conflitos.	São	Paulo:	Companhia	das	Letras,	2009.	p.	123-124.
As	respostas	desta	seção	encontram-se	no	Guia	Didático.
334
pah7_321_336_cap20_u4.indd 334 11/7/13 9:52 AM
AGORA É COM VOCÊ
1 	Complete	 o	 quadro	 com	 informações	 referentes	 à	 economia	 açucareira	 no	 Período	
Colonial	brasileiro.
a)	Definição	de	Pacto	Colonial	 Monopólio	comercial	da	metrópole	sobre	a	colônia.
b)	Primeiro	produto	cultivado	no	Brasil cana-de-açúcar	
c)	Estrutura	da	produção	 Monocultura,	latifúndio	e	mão	de	obra	escrava.	
d)	Definição	de	engenho	
Unidade	de	produção	açucareira;	englobava	maquinário	e	as	
ferramentas	necessárias	para	a	produção,	e	todo	o	complexo	
da	fazenda	de	cana.
2 	Com	relação	à	estrutura	social	no	nordeste	açucareiro	colonial,	assinale	apenas	as	al-
ternativas	corretas.	
a)	( 	 )	 	Não	havia	trabalhadores	livres.
b)	( X )	 	O	senhor	de	engenho	estava	no	topo	da	pirâmide	social.
c)	( X )	 	Entre	os	trabalhadores	livres	estavam	os	especialistas	na	produção	de	açúcar.
d)	( 	 )	 	As	mulheres	ocupavam	altos	cargos	de	mando.
e)	( X )	 	A	base	da	pirâmide	social	era	formada	por	escravos	e	indígenas.	
3 	Assinale	C	para	as	afirmativas	corretas	e	I	para	as	afirmativas	incorretas.
a)	( C )	 	A	 escravização	africana	e	o	 tráfico	de	escravizados	 foram	atividades	bastante	
lucrativas	para	a	Coroa	portuguesa.		
b)	( I )	 	O	número	de	escravizados	africanos	trazidos	para	o	Brasil	foi	muito	menor	do	
que	para	outras	regiões	da	América.	
c)	( C )	 	Os	escravizados	africanos	foram	mão	de	obra	nos	engenhos,	nas	minas	de	ouro,	
em	atividades	agrícolas,	na	criação	de	animais,	no	transporte	de	mercadorias,	
no	comércio	e	em	serviços	domésticos.
d)	( C)	 	As	mulheres	escravizadas	desempenharam	diversas	funções,	como	mucamas,	
amas	de	leite	e	vendedoras	nas	ruas.	
e)	( I )	 	Os	africanos	foram	trazidos	para	o	Brasil	em	navios	confortáveis,	o	que	garantia	
que	chegassem	bem	nutridos	e	prontos	para	o	trabalho.	
335335
pah7_321_336_cap20_u4.indd 335 11/7/13 9:52 AM
4 	Complete	as	frases	corretamente.
a)	Os	escravos	sofriam	com	 castigos	físicos ,	que	eram	entendidos	pelos	
senhores	como	necessários	para	manter	a	ordem.	
b)	Entre	as	formas	de	resistência,	as	 fugas 	eram	as	mais	usuais.	
c)	Para	evitar	fugas,	em	muitos	ca	sos	os	senhores	preferiam	 negociar 	com	
os	escravos.	
d)	Nas	fugas	coletivas,	os	escravos	formaram	esconderijos	na	mata	que	ficaram	conhe-
cidos	como	 quilombos .
SUPERANDO DESAFIOS
1 		(PUC-RJ) Sobre	 as	 características	 da	 sociedade	 escravista	 colonial	 da	 América	
portuguesa	estão	corretas	as	afirmações	abaixo,	À	EXCEÇÃO	de	uma.	Indique-a.
a)	O	 início	do	processo	de	colonização	na	América	portuguesa	 foi	marcado	pela	
utilização	dos	índios	–	denominados	“negros	da	terra”	–	como	mão	de	obra.
b)	Na	América	portuguesa,	ocorreu	o	predomínio	da	utilização	da	mão	de	obra	es-
crava	africana	seja	em	áreas	ligadas	à	agroexportação,	como	o	nordeste	açuca-
reiro	a	partir	do	final	do	século	XVI,	seja	na	região	mineradora	a	partir	do	século	
XVIII.
c)	A	partir	 do	século	XVI,	 com	a	 introdução	da	mão	de	obra	escrava	africana,	 a	
escravidão	indígena	acabou	por	completo	em	todas	as	regiões	da	América	por-
tuguesa.
d)	Em	algumas	regiões	da	América	portuguesa,	os	senhores	permitiram	que	al-
guns	de	seus	escravos	pudessem	realizar	uma	lavoura	de	subsistência	dentro	
dos	latifúndios	agroexportadores,	o	que	os	historiadores	denominam	de	“brecha	
camponesa”.
e)	Nas	cidades	coloniais	da	América	portuguesa,	escravos	e	escravas	trabalharam	
vendendo	mercadorias	como	doces,	legumes	e	frutas,	sendo	conhecidos	como	
“escravos	de	ganho”.	Alternativa	c.
2 		(Fuvest-SP) Segundo	as	pesquisas	mais	 recentes,	 pode-se	afirmar,	 em	relação	
aos	quilombos	coloniais	brasileiros,	que	os	mesmos:
a) distinguiam-se	pelo	isolamento,	pela	marginalização,	sem	nenhum	vínculo	com	
os	arredores	que	os	cercavam.
b) eram	de	caráter	predominantemente	agrícola,	sobrevivendo	do	que	plantavam	e	
do	que	teciam.
c) eram	habitados	exclusivamente	por	escravos	fugidos,	constituindo-se	em	ver-
dadeiros	Estados	teocráticos.
d) dedicavam-se,	alguns,	à	agricultura,	outros,	à	mineração,	outros,	ainda,	ao	pas-
toreio,	articulando-se	com	os	núcleos	vizinhos	através	do	comércio.
e) existiram	apenas	durante	o	século	XVII,	tendo	Palmares	como	eixo	central.
	 Alternativa d.
336336
pah7_321_336_cap20_u4.indd 336 11/7/13 9:52 AM

Continue navegando