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TGE - Trabalho Justificação do Estado

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Teoria Geral do Estado
Justificação do Estado
Lauriano Luz�
Justificação do Estado
Justificações Teológico-religiosas
O poder de governo, sob o ponto de vista social, político ou jurídico, precisou sempre de crenças ou doutrinas que o justificassem, tanto para legitimar o comando quanto para legitimar a obediência.
A princípio, o poder de governo era exercido em nome e sob a influência dos deuses, contanto, assim, pacificamente com uma justificação natural, de ordem carismática, aceitável de pronto pela simples crença religiosa. Mas, desde os primeiros esboços do governo como organização da soberania popular, a necessidade de uma firme justificação doutrinária do poder foi se tornando cada vez mais imperiosa, até apresentar-se, na atualidade, como problema crucial da ciência política.
As diversas doutrinas ou correntes filosóficas que visam justificar o estado assinalam, precisamente, a marcha da evolução estatal no tempo, da antiguidade remota à atualidade, ou seja, a partir do Estado fundado no direito divino, entendido como expressão sobrenatural da vontade de Deus, ao Estado moderno, entendido como expressão concreta da vontade popular.
Este trabalho visa demonstrar este conjunto de justificativas do Estado, na seguinte estrutura:
Teorias teológico-religiosas
Teoria do direito divino sobrenatural
Teoria do direito divino providencial
Teorias racionalistas
Jusnaturalismo – Grotius e outros
Contratualismo – Hobbes e outros
Contratualismo de J. J. Rousseau
Teorias idealistas
Panteísmo
Organicismo
Neopanteísmo
Teorias socialistas (totalitárias)
Teorias sociais democráticas
Teoria do Direito Divino Sobrenatural
Segundo esta teoria, o Estado foi fundado por Deus, através de um ato concreto de manifestação de sua vontade. O Rei é ao mesmo tempo sumo-sacerdote, representante de Deus na ordem temporal e governador civil.
Como aponta esta teoria, cada povo possuía (e muitos deles conservam ainda) a sua concepção tradicional sobre a origem do poder, na qual repousa o princípio de legitimidade da autoridade soberana.
Cabe citar um exemplo concreto dessas concepções: no Tibete o soberano é considerado como o próprio deus, isto é, uma reencarnação de Buda. Cada vez que morre um soberano, cabe a um conselho de sacerdotes descobrir imediatamente, entre os meninos recém-nascidos, a nova encarnação de Buda. Esses sacerdotes percorrem o país, examinam todas as crianças, e, logo que descobrem o menino em que reencarnou o espírito de Buda, se apoderam dele e o preparam para o exercício da missão soberana.
Em todas as monarquias orientais, fundadas na crença do direito divino sobrenatural, cada uma a seu título e a seu modo, o Estado não é apenas de fundamento teológico; é o Estado teocrático, governado pelo Rei-Deus.
Na Idade Média, a teoria do direito divino sobrenatural teve o beneplácito de muitos cristãos proeminentes e poderosos, mas não do Cristianismo, tanto que a Igreja Romana a rejeitou formalmente, havendo-a por herética.
Teoria do Direito Divino Providencial
Esta teoria, dominante na Idade Média e nos tempos modernos, é mais racional. Admite que o Estado é de origem divina, porém por manifestação providencial da vontade de Deus.
Deus dirige providencialmente o mundo, guiando a vida dos povos e determinando os acontecimentos históricos. Dessa direção suprema resulta a formação do Estado; o poder vem de Deus, mas não por manifestação visível e concreta da sua vontade. O poder vem de Deus através do povo – per pupulum –, como doutrinou Santo Tomás de Aquino. Em outras palavras: todo poder vem de Deus, in abstracto, não in concreto. Os homens, conformando-se com a vontade divina, devem reconhecer e acatar a vontade do Estado. Dotados de livre-arbítrio no seu procedimento, como ensina Queiroz Lima, os homens organizam os governos, estabelecem as leis e confirmam as autoridades nos cargos e ofícios, sob a direção invisível da providência divina sempre presente.
A doutrina do direito divino providencial fez-se doutrina da Igreja, por estar conforme com os ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos. Afirmou Cristo que o seu reino não era deste mundo e, ao ser tentado pelos fariseus que lhe perguntavam se deviam pagar tributos ao Imperador romano, respondeu: Daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Nessas palavras o Divino Mestre traçou a linha divisória entre os dois poderes: ao poder temporal, o governo do corpo e dos bens terrenos; ao poder espiritual, o governo da alma.
Esta doutrina foi uma doutrina de franca reação ao absolutismo monárquico; ela pregou a separação dos dois poderes – temporal e espiritual – sob o dogma de que o poder divino é originário e superior, devendo o Estado respeitar as leis eternas e imutáveis do Criador na ordem temporal. Comentando esta doutrina observou Loysseau que o Rei é senhor e servo ao mesmo tempo, tanto aos olhos de Deus como aos olhos do povo.
Teorias Racionalistas (Jusnaturalismo)
Sob a denominação de teorias racionalistas, agrupam-se todas aquelas que justificam o Estado como de origem convencional, isto é, como produto da razão humana. São as chamadas teorias contratualistas ou pactistas. Partem de um estudo das primitivas comunidades, em estado de natureza, e, através de uma concepção metafísica do direito natural, chegam à conclusão de que a sociedade civil (o Estado organizado) nasceu de um acordo utilitário e consciente entre os indivíduos.
Essas teorias foram corporificadas e ganharam maior evidência com a Reforma religiosa, a qual foi uma autêntica rebelião racionalista contra a Igreja Romana, que culminou com a revisão das Sagradas Escrituras. Fazendo coro com a filosofia de Descartes, delineada em Discursos sobre o método, filosofia esta que ensinou o raciocínio sistemático que conduz à dúvida completa, sustentou Lutero a supremacia da inteligência individual e pregou a liberdade de interpretação da lei religiosa revelada.
Como conseqüência da linha de pensamento sugerida por esta doutrina, o direito divino dos reis cedeu lugar ao direito humano.
Hugo Grotius
Holandês (1582-1647), foi precursor da doutrina do direito natural e, de certo modo, do racionalismo na ciência do Estado. Em sua famosa obra De Jure Belli et Pacis, esboçou a divisão dicotômica do Direito em positivo e natural: acima do direito positivo, contingente, variável, estabelecido pela vontade dos homens, existe um direito natural, imutável, absoluto, independente do tempo e do espaço, decorrente da própria natureza humana, alheio e superior à vontade do soberano.
Hugo Grotius conceituou o Estado como uma sociedade perfeita de homens livres que tem por finalidade a regulamentação do direito e a consecução do bem-estar coletivo.
Emmanuel Kant
Emmanuel Kant, o grande filósofo de Koenigsberg (1724-1804), doutrinou o seguinte: O homem reconhece que é a causa necessária e livre das suas ações (razão pura) e que deve obedecer a uma regra de comportamento preexistente, ditada pela razão prática (imperativo categórico). O direito tempo por fim garantir a liberdade, e por fundamento, um conceito geral, inato, inseparável do homem, fornecido a priori pela razão prática, sob a forma de um preceito absoluto: conduze-te de modo tal que a tua liberdade possa coexistir com a liberdade de todos e de cada um.
Concluiu Kant que, ao saírem do estado de natureza para o de associação, submeteram-se os homens a uma limitação externa, livre e publicamente acordada, surgindo, assim, a autoridade civil, o Estado.
Thomas Hobbes
Filósofo inglês (1588-1679), o mais reputado dentre os escritores do século XVII, foi o primeiro sistematizador do contratualismo como teoria justificativa do Estado. É havido também como teórico do absolutismo, embora não o tenha pregado à maneira de Filmer e Bossuet, com fundamento no direito divino. Seu absolutismo é racional e sua concepção do Estado tende a conformar-se com a natureza humana.
Para justificar o poder absoluto, Hobbes parte da descriçãodo estado de natureza: o homem não é naturalmente sociável como pretende a doutrina aristotélica. No estado de natureza o homem era inimigo feroz dos seus semelhantes. Cada um devia se defender contra a violência dos outros. Cada homem era um lobo para os outros homens – homo homini lupus. Por todos os lados havia a guerra mútua, a luta de cada um contra todos – bellum omnium contra omnes. E continua:
Cada homem alimenta em si a ambição do poder, a tendência para o domínio sobre os outros homens, que só cessa com a morte. Só triunfam a força e a astúcia. E, para saírem desse estado caótico, todos os indivíduos teriam cedido os seus direitos a um homem ou a uma assembléia de homens, que personifica a coletividade e que assume o encargo de conter o estado de guerra mútua. A fórmula se resumiria no seguinte: - Autorizo e transfiro a este homem ou assembléia de homens o meu direito de governar-me a mim mesmo, com a condição de que vós outros transfirais também a ele o vosso direito, e autorizeis todos os seus atos nas mesmas condições como o faço.
Ao se associarem, portanto, segundo Hobbes, procederam os homens por interesse e necessidade, reconhecendo a conveniência de se armar um poder forte, capaz de conter a fúria natural dos indivíduos. Esse poder, em vista da missão que lhe cabe, há de ser irresistível e ilimitado.
Assim, a sociedade civil é um produto artificial de um pacto voluntário, que se explica pelo cálculo egoísta.
Embora teórico do absolutismo e partidário do regime monárquico, Hobbes, admitindo a alienação dos direitos individuais em favor de uma assembléia de homens, não afastou das suas cogitações a forma republicana.
Hobbes admitia a existência de Deus, mas atribuía ao Estado a regulamentação dos cultos: o domínio do poder coativo há de estender-se ao espírito, para que nenhuma ação do homem escape ao poder de dominação livremente instituído e destinado a reprimir os maus instintos naturais de cada um. E, para isso, o Estado deve governar também a Igreja. O reino de Deus, na terra, é um reino civil. Cada Estado é um imediato de Deus, sendo que Deus fala aos homens pela boca do Estado.
Benedito Spinoza
Filósofo holandês (1632-1677), em sua obra principal, Tractutus theologicus politicus, defendeu as mesmas idéias de Hobbes, embora com conclusões diferentes: a razão ensina ao homem que a sociedade é útil, que a paz é preferível à guerra e que o amor deve prevalecer sobre o ódio. Os indivíduos cedem os seus direitos ao Estado para que esse lhes assegure a paz e a justiça. Falhando nestes objetivos, o Estado deve ser dissolvido, formando-se outro. O indivíduo não transfere ao Estado a sua liberdade de pensar, por isso que o governo há de harmonizar-se com os ideais que ditaram a sua formação. Conclui, pois, por colocar a Nação acima do Estado.
John Locke
Filósofo inglês (1632-1704), desenvolveu o contratualismo em bases liberais, opondo-se ao absolutismo de Hobbes. Foi Locke o vanguardeiro do liberalismo na Inglaterra. Em sua obra Ensaio sobre o governo civil (1690), em que faz a justificação doutrinária da revolução inglesa de 1688, desenvolve os seguintes princípios: o homem não delegou ao Estado senão os poderes de regulamentação das relações externas na vida social, pois reservou para si uma parte de direitos que são indelegáveis. As liberdades fundamentais, o direito à vida, como todos os direitos inerentes à personalidade humana, são anteriores e superiores ao Estado.
Locke encara o governo como troca de serviços: os súditos obedecem e são protegidos; a autoridade dirige e promove justiça; o contrato é utilitário e sua moral é o bem comum.
No tocante à propriedade privada, afirma Locke que ela tem sua base no direito natural: o Estado não cria a propriedade, mas a reconhece e protege.
Pregou Locke a liberdade religiosa, sem dependência do Estado, embora tivesse recusado tolerância para com os ateus e combatido os católicos porque estes não toleravam as outras religiões.
Locke foi ainda o precursor da teoria dos três poderes fundamentais, desenvolvida posteriormente por Montesquieu.
Teoria do Contrato Social – Jean Jacques Rousseau
A este genial filósofo coube a tarefa de dar à teoria contratualista a sua máxima expressão. Natural de Genebra (1712-1778), destacou-se, dentre todos os teóricos do voluntarismo, pela profundidade da sua construção filosófica e pela amplitude da sua influência em todo o panorama do mundo moderno. Seus livros a respeito da formação e da fundamentação dos Estados tiveram a mais ampla divulgação em todos os tempos, sendo recebidos como evangelhos revolucionários da Europa e da América, no século XVIII.
O Estado é convencional, afirmou Rousseau. Resulta da vontade geral, que é uma soma da vontade manifestada pela maioria dos indivíduos. A nação (povo organizado) é superior ao rei. Não há direito divino da Coroa, mas, sim, direito legal decorrente da soberania nacional. A soberania nacional é ilimitada, ilimitável, total e inconstrangível. O governo é instituído para promover o bem comum, e só é suportável enquanto justo. Não correspondendo ele com os anseios populares que determinaram a sua organização, o povo tem o direito de substituí-lo, refazendo o contrato... (sustenta, pois, o direito de revolução).
Sob o martelar constante dessas máximas que empolgaram a alma da humanidade sofredora, ruíram-se os alicerces da construção milenária do Estado teológico e desencadeou-se a revolução francesa contra a ordem precária do absolutismo monárquico.
No seu ponto de partida, a filosofia de Rousseau é diametralmente oposta à de Hobbes e Spinoza. Segundo a concepção destes, o estado natural primitivo era de guerra mútua. Para Rosseau o estado de natureza era de felicidade perfeita: o homem, em estado de natureza, é sadio, ágil e robusto. Encontra facilmente o pouco de que precisa. Os únicos bens que conhece são os alimentos, a mulher e o repouso. Os únicos males que teme são a dor e a fome.
Entretanto, para sua felicidade, a princípio, e para sua desgraça, mais tarde, o homem adquiriu duas virtudes que o extremam dos outros animais e que, pouco a pouco, modificaram o seu estado primitivo: a primeira, a faculdade de aquiescer ou resistir; e a segunda, a faculdade de aperfeiçoar-se. Essas duas capacidades, auxiliadas por múltiplas circunstâncias fortuitas, sem as quais a humanidade teria ficado eternamente na sua condição primitiva, desenvolveram a inteligência, a linguagem, e todas as outras faculdades que os homens haviam recebido em potencial. Por outro lado, o surgimento da metalurgia e da agricultura veio engendrar a desigualdade. Os que acumulavam maiores posses passaram a dominar e submeter os mais pobres. A propriedade individual do solo, a riqueza, a miséria, as rivalidades, os sentimentos violentos, as usurpações dos ricos, os roubos dos pobres, desencadearam as paixões, abafaram a piedade e a justiça, tornando os homens avaros, licenciosos e perversos. Nesse período, que foi de transição do estado de natureza para a sociedade civil, os homens trataram de reunir suas forças, armando um poder supremo que a todos defenderia, mantendo o estado de coisas existente. Ao se associarem, porém, tinham necessidade de salvaguardar a liberdade, que é própria do homem e que, segundo o direito natural, é inalienável. O problema social consistia, assim, em encontrar uma forma de associação capaz de proporcionar os meios de defesa e proteção, com toa a força comum, às pessoas e aos seus bens, e pela qual cada um, unindo-se a todos, não tivesse de obedecer senão a si próprio, ficando tão livre como antes do pacto.
Esse convênio determinante da sociedade civil, isto é, esse contrato social, teria resultado, assim, das seguintes proposições essenciais: cada um põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a suprema direção da vontade geral; e cada um, obedecendo a essa vontade geral, não obedece senão a si mesmo. A liberdade consiste, em última análise, em trocar cada um a sua vontade particular pela sua vontade geral. Ser livreé obedecer ao corpo social, o que equivale a obedecer a si próprio. O homem transfere o seu eu para a unidade comum, passando a ser parte do todo coletivo, do corpo social, que é a soma de vontades da maioria dos homens. O povo, organizado em corpo social, passa a ser o soberano único, enquanto a lei é, na realidade, uma manifestação positiva da vontade geral.
Escola Histórica
Opondo-se ao artificialismo da teoria contratualista, surgiu no cenário político a escola histórica, afirmando que o Estado não é uma organização convencional, não é uma instituição jurídica artificial, mas é o produto de um desenvolvimento natural de uma determinada comunidade estabelecida em determinado território.
Quando uma comunidade social alcança um certo grau de desenvolvimento, a organização estatal surge por um imperativo indeclinável da natureza humana, e se desenvolve demandando o seu aperfeiçoamento em consonância com os fatores telúricos e sociais que determinam fatalmente as leis da evolução. Os usos e costumes do agrupamento humano influem preponderantemente nesse desenvolvimento. Logo, o Estado é um fato social e uma realidade histórica; não uma manifestação formal de vontades apuradas num dado momento.
O Estado reflete a alma popular, os espírito da raça. A sua atuação, como poder político organizado, deve traduzir a vontade coletiva segundo a sua revelação no correr dos tempos.
Segundo esta concepção, as instituições sociais, políticas e jurídicas somente são legítimas quando condizentes com as tradições históricas.
Apóia-se esta escola nos ensinamentos de Aristóteles: o homem é um ser eminentemente político; sua tendência natural é para a vida em sociedade, para a realização das superiores formas associativas. No espírito associativo está a gênese da Polis (Estado-cidade da Grécia antiga). A família é a célula primária do Estado; a associação da família constitui o grupo político menor; a associação destes grupos constitui o grupo maior, que é o Estado. É o Estado uma união de famílias e de comunas, união bastante em si mesma, não apenas para viver, mas, ainda, para viver bem e feliz. O fim do Estado, em suma, é a prosperidade da vida.
Edmundo Burke
O principal expoente da escola histórica, no vasto campo do direito público, foi Edmundo Burke, notável orador e parlamentar inglês, membro da Câmara dos Comuns a partir de 1766 pelo partido Whig, e autor da monumental obra Reflexões sobre a Revolução Francesa.
Burke condenou corajosamente certos princípios da revolução francesa, notadamente a noção dos direitos do homem na sua abstração e seu absoluto e a impessoalidade das instruções.
Na teoria deste eminente pensador britânico, somente é natural e justo o que provém do desenvolvimento histórico, do longo hábito: a natureza e a história se identificam como determinantes e justificativas dos fenômenos sociais. E acrescenta: “deixadas a si mesmas, as coisas encontram geralmente a ordem que lhes convém”.
Panteísmo
A escola orgânica é um ramo político da filosofia panteísta.
A palavra panteísmo vem do grego: pan, todo, tudo; théos, Deus; mais o sufixo ismo.
O panteísmo é um sistema filosófico monista que integra em uma só realidade Deus e o mundo. Identifica o sujeito com o objeto no absoluto. O absoluto manifesta-se na natureza, pelos reinos animal, vegetal e mineral; e na história, através da família, da sociedade, do Estado. O Estado é uma das expressões do absoluto. Nega este sistema o livre-arbítrio e todas as formas de convencionalismo jurídico, para admitir em tudo um fatalismo cego, um determinismo invencível. Deus está presente em todas as manifestações da natureza; assim, no Direito e no Estado. Como resumiu Krause, Deus é infinito e contém em si todos os seres finitos; é o todo que contém em si todas as partes. O Direito é imanente a Deus, irradiando-se por todos os seres finitos; e para manifestá-lo é que existe o Estado. O poder do Estado é um poder absoluto, já que essa entidade é a suprema encarnação da idéia.
O objetivo do panteísmo é o conhecimento do verdadeiro; a sua moral, a prática do bem; e a sua estética, o culto do belo. Pela união natural e complemento recíproco desses três pontos é que obtém o monismo panteísta o conceito natural de Deus.
Sobretudo, o panteísmo é contraditório em si, porque encerra num todo íntegro, numa só idéia, os princípios opostos – o absoluto e o relativo, o espírito e a matéria, o infinito e o finito, o eterno e o efêmero, a perfeição e a imperfeição...
Escola Orgânica
O Estado, segundo esta doutrina, é um organismo natural, semelhante aos organismos dos seres vivos, sujeito às mesmas leis biológicas. É um ser coletivo, um superser, dotado de membros, órgãos, unidade biológica e fisiologia própria, tal como os seres do reino animal.
Tal como os seres vivos, disse Montigne, o Estado nasce, floresce e morre.
Neopanteísmo
Bluntschli (1808-1881), jurisconsulto suíço (Teoria do Estado Moderno), deu nova orientação ao organicismo, abandonando o paralelismo do Estado com os organismos biológicos para compará-lo com os organismos psicológicos ou éticos, por lhe parecer mais defensável esta segunda atitude.
A corrente neopanteísta, entretanto, continuou no mesmo campo da ficção.
Teoria da Supremacia de Classes
A escola sociológica alemã, coordenada por Gumplowicz e Oppenheimer, reunindo os princípios da força e do interesse patrimonial, formulou uma teoria justificativa do Estado baseada na supremacia de classes.
Gumplowicz e Oppenheimer
Ludwig Gumplowicz (1838-1909), professor de ciência política em Graz, Alemanha, estabeleceu uma dupla noção de propriedade: a propriedade individual sobre bens móveis, resultante do trabalho do indivíduo, é um direito natural; mas a propriedade sobre a terra é ilegítima e inadmissível. O solo, por sua natureza, não comporta apropriação individual; pertence à coletividade.
Afirma esse autor que a propriedade da terra começou quando uma horda se assenhoreou de outra e obrigou os homens vencidos a cultivarem a terra em seu proveito. Em seguida, a horda vencedora armou o poder para manter a defesa das suas conquistas.
O Estado, como o definem ambos os autores citados, é a organização da supremacia da classe dominante. Textualmente: é um conjunto de instituições que tem por finalidade assegurar o domínio de uma minoria vencedora sobre uma maioria vencida.
Completa essa concepção doutrinária o princípio do fato consumado; o emprego da violência não é permanente e toda guerra chega a um fim, quando os mais fracos renunciam a continuar uma inútil resistência. Portanto, a natureza se encarrega de estabilizar uma situação criada pela força predominante. A ordem estabelecida produz o hábito, o costume e o direito.
Franz Oppenheimer, professor de ciência política da Universidade de Frankfurt, deu a essa teoria um sentido diretamente marxista: todo Estado é uma organização de classe; toda teoria política é uma teoria de classe. Somente por meio de uma pesquisa histórico-sociológica se pode chegar à compreensão do Estado como fato historicamente universal. O poder político é sempre a organização de uma classe vencedora, destinada a manter seu domínio no interior e a proteger-se contra ataques exteriores.
Fundamento Doutrinário do Estado Bolchevista
Marx e Engels deram ampla desenvoltura a esse pensamento, conceituando o Estado como instrumento de dominação da classe operária e, nessa base, construindo o arcabouço doutrinário do Estado comunista.
Lenin e Stalin conceituaram o Estado, precisamente, como instrumento de dominação da classe operária.
O Estado Como Diferenciação Entre Governantes e Governados
Dentre as doutrinas que tendem a explicar e justificar o fenômeno estatal, destaca-se a de Léon Duguit, famoso mestre do direito social na França (1859-1928).
Essa doutrina, pela sua simplicidade, pela sua lógica aparente e pela sua consonância com os relevos superficiais da ordem constituída, empolgou a opinião pública universal e os meios culturais de todos os países,tornando-se objeto de comentários e polêmicas entre os mais categorizados expoentes da ciência política.
Teoria de Léon Duguit
Duguit reduz o Estado a uma expressão simplíssima, tanto que o define como “uma sociedade onde vontades individuais mais fortes se impõem às outras vontades”. Perfilha, como se vê, a teoria da força, em sua essência, desenvolvendo o pensamento de Gumplowicz.
Sua doutrina acolhe um conceito encontrado na filosofia de Aristóteles, referindo-se a que o Estado é formado de governantes e governados. Partindo desse fato facilmente aceitável, chega Duguit a construir a sua teoria eminentemente subjetiva e profundamente impressionante, que pode ser condensada no seguinte resumo: A organização política do Estado repousa na diferenciação entre governantes e governados; a classe dos governantes, dispondo de uma maior força, impõe a sua vontade aos governados.
Não obstante haver certa aparência de verdade, não é juridicamente certo nem democraticamente admissível que o Estado seja formado por duas classes antagônicas, uma dirigente e outra dirigida.
Também não é exato que o fenômeno governo possa ser reduzido a uma simples manifestação de vontades pessoais. O poder de governo, em verdade, baseia-se na lei que é expressão da vontade geral.
O que distingue o regime democrático – diz Queiroz Lima – é a sistematização do equilíbrio das duas correntes de forças: a do governo, poder de mando, e a do povo, poder de resistência. Não há vontade individual nem grupal armada de maior força, mas um crescente automatismo de funções de disciplina tendendo idealmente para a completa supressão do arbítrio da autoridade. O direito superintende a organização administrativa, regula as funções de governo e define as normas de conta dos agentes do poder público.

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