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EM_V08_FILOSOFIA PROFESSOR

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Prévia do material em texto

Livro do Professor
Filosofia
Volume 8
©Editora Positivo Ltda., 2015
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)
(Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)
M386 Martins, Alexandre.
 Filosofia : ensino médio / Alexandre Martins ; reformulação dos originais de: Michele 
Czaikoski Silva. – Curitiba : Positivo, 2016.
 v. 8 : il.
 Sistema Positivo de Ensino
 ISBN 978-85-467-0418-7 (Livro do aluno)
 ISBN 978-85-467-0419-4 (Livro do professor)
 1. Filosofia. 2. Ensino médio – Currículos. I. Silva, Michele Czaikoski. II. Título.
CDD 373.33
Presidente: Ruben Formighieri
Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos
Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior
Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto
Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy
Autoria: Alexandre Martins; reformulação dos originais de Michele Czaikoski Silva
Supervisão Editorial: Jeferson Freitas
Edição de Conteúdo: Lysvania Villela Cordeiro (Coord.) e Michele Czaikoski Silva
Edição de Texto: Kathia Gavinho Paris
Revisão: Priscila Rando Bolcato e Willian Marques
Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka 
Edição de Arte: Cassiano Darela
Projeto Gráfico: YAN Comunicação
Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©ShutterStock/Myvector, ©Shutterstock/Macrovector, 
©Shutterstock/Goritza, ©ShutterStock/style-photography e ©Shutterstock/Chalermpol
Imagens de abertura: ©Shutterstock/Arthimedes e ©Shutterstock/Stokkete
Editoração: Debora Cristina Vilar Scarante
Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Júnior Guilherme Madalosso
Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz
Produção
Editora Positivo Ltda.
Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário
80440-120 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3312-3500
Site: www.editorapositivo.com.br
Impressão e acabamento
Gráfica e Editora Posigraf Ltda.
Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC
81310-000 – Curitiba – PR
Tel.: (0xx41) 3212-5451
E-mail: posigraf@positivo.com.br
2018
Contato 
editora.spe@positivo.com.br
Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.
08
Sumário
Filosofia Política Moderna e 
Contemporânea ...........................................4
Pacto social e jusnaturalismo ......................................................................... 6
Estado soberano ............................................................................................ 18
Luta de classes, ideologia e revolução ............................................................ 20
Cidadania ...................................................................................................... 22
Poder disciplinador e biopoder ...................................................................... 25
Acesse o livro digital e 
conheça os objetos digitais 
e slides deste volume.
Filosofia Política 
Moderna e 
Contemporânea 
Ponto de partida 
08
1. Em sua opinião, viver em sociedade nos corrompe ou nos ajuda a controlar nossos impulsos negativos?
2. A organização política da sociedade, por meio de governos e autoridades, está de acordo com a natureza humana?
3. A desigualdade social e a exploração do trabalho são problemas políticos?
4. Que tipos de poder existem em uma sociedade?
Getty Images/Ikon Images
4
A Filosofia Política aborda questões como autoridade, governo, origem e legitimidade das formas 
de poder presentes nas sociedades humanas.
Nos pensamentos moderno e contemporâneo, os filósofos políticos abordaram diferentes modos 
de organização social, passando por diversos conceitos, entre os quais os de pacto social, soberania 
do Estado, luta de classes, cidadania e biopoder, que serão apresentados nesta unidade. 
toridade, governo, origem e legitimidade das formas
Entre a Baixa Idade Média (séculos XI a XV) e a Modernidade (séculos XV a XVII), houve uma grande reorgani-
zação política na Europa, marcada pela crise do sistema feudal, pelo enfraquecimento do poder político da Igreja 
Católica e pela formação dos Estados Nacionais Modernos. Nesse cenário de grandes transformações, despontou 
uma nova mentalidade política, fundamentada na autoridade suprema do monarca e na existência de Estados 
fortes. No entanto, o processo de transição para novas formas de organização do poder não foi isento de conflitos, 
ocorrendo, por exemplo, inúmeras revoltas de camponeses, artesãos e comerciantes contra os poderes estabe-
lecidos, o que contribuía para gerar um clima de instabilidade social. Esse contexto instigou alguns pensadores 
a refletir filosoficamente sobre a natureza e a legitimidade do poder político. Assim, entre os séculos XVI e XVII, 
ganharam força as seguintes ideias:
 • a virtude política distingue-se das virtudes morais ou cristãs;
 • a origem do poder está no conflito e não na harmonia;
 • a melhor forma de governo é a república, por submeter-se a leis e garantir o direito de participação política a 
todas as classes sociais.
A seguir, você conhecerá algumas teorias políticas modernas que se baseiam em uma ou mais dessas ideias, além 
de poder refletir sobre alguns aspectos da política na atualidade. 
Troca de ideias 
 A política pode ser um meio para as sociedades se organizarem em prol de interesses coletivos. Porém, não está livre 
de problemas, como a corrupção, destacada na charge a seguir.
LEITE, Will. Disponível em: <http://www.willtirando.com.br/?post=1728>. Acesso em: 20 maio 2015.
 Com base na leitura da charge, discuta, argumentando a favor de suas opiniões: Que relações existem entre a ação 
dos indivíduos e a organização política de uma sociedade?
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1 Orientações didáticas.
5
DEBRET, Jean-Baptiste. Selvagens civilizados. Soldados índios da província 
de Curitiba escoltando prisioneiros selvagens. 1834. 1 litografia em 
papel, color., 21,2 cm × 32,6 cm. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. 
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Coleção Brasiliana.
1. A passagem do estado de natureza ao estado de sociedade é um fato histórico e responde ao problema 
antropológico de encontrar a origem do ser humano civilizado.
2. O estado de natureza é uma hipótese meramente lógica e ressalta a ideia racional ou jurídica de Estado 
tal qual ele deve ser, além de fundamentar a obrigação política no consenso, expresso ou subentendido, 
dos indivíduos em relação a uma autoridade que os representa.
3. O contrato social é um instrumento capaz de impor limites à ação de quem detém o poder.
 Essa gravura, produzida no século XIX, retrata o 
aprisionamento de indígenas guaranis, nativos do 
Brasil, considerados selvagens e incivilizados pe-
los colonizadores europeus. No entanto, observe 
que os soldados da cena, também nativos, são 
classificados no título da obra como “selvagens 
civilizados”.
 Considerando a gravura, discuta as questões a 
seguir e registre as conclusões a que você chegar.
a) Qual o conceito de “civilizado” implícito na obra? 
b) Você diria que os soldados da cena estão agindo 
de modo civilizado? Por quê?
ConexõesConexões
2 Sugestões de respostas.
Fonte: BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. Brasília: Universidade de Brasília, 1998. p. 272.
Pacto social e jusnaturalismo
No século XVI, as grandes navegações europeias possibilitaram o contato com povos até então desconhecidos, en-
tre os quais diversos indígenas, que foram classificados como selvagens pelos colonizadores. Nos séculos seguintes, os 
costumes de alguns desses povos foram retratados em obras de arte e descritos em livros de História Natural, de modo 
que a diversidade social e cultural representada por eles despertou muita perplexidade e curiosidade entre os intelec-
tuais da Europa. Nesse contexto, destacou-se a indagação sobre qual teria sido o estado de natureza do ser humano, ou 
seja, sua condição original, anterior à civilização e às formas de organização social conhecidas pelos europeus. 
Assim, alguns pensadores dos séculos XVII e XVIII, que serão apresentados a seguir, concluíram que os “selva-
gens”, distantes da civilização, viviamde acordo com o direito natural (jus naturale) – a liberdade de preservar a 
própria vida – e com a lei natural (lex naturalis) – o dever de preservar-se. Esses conceitos formaram a base de uma 
corrente filosófica denominada jusnaturalismo, cujos representantes buscaram compreender como se dera a pas-
sagem do estado de natureza para o Estado Civil, ou seja, para a organização política, por meio de governos e leis 
humanas. Nesse contexto, destacou-se um posicionamento teórico que ficou conhecido como contratualismo, por 
explicar a submissão das pessoas ao poder político por intermédio do conceito de pacto social, ou contrato social, 
um hipotético acordo de transferência das liberdades individuais em favor da autopreservação. 
Ao estudar essas ideias, Norberto Bobbio, historiador e filósofo político italiano do século XX, identificou três formas 
de entender o contratualismo. Você poderá identificá-las nas obras dos filósofos que serão analisados a seguir.
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2
3
6 Volume 8
O pacto segundo Thomas Hobbes
No século XVII, o filósofo inglês Thomas Hobbes contrariou o pensamento político clás-
sico, fundamentado na ideia de uma natureza humana racional e virtuosa. Ele descreveu o 
estado de natureza como uma “guerra de todos contra todos”, afirmando, assim, que os seres 
humanos apresentavam uma disposição universal e permanente para a disputa e a violência.
Segundo Hobbes, o estado de natureza era uma condição de vida isenta de justiça, de 
leis ou punições que pudessem garantir a autopreservação das pessoas e a propriedade 
dos bens disponíveis. Nessa situação de barbárie, os indivíduos permaneceriam dispersos, 
em virtude do conflito de interesses particulares, vivendo sob a pressão da astúcia e da 
força uns dos outros. Assim, o eterno risco de morte violenta os manteria desconfiados, 
com medo, isolados e buscando a autodefesa por meio de cercas e armas. 
Diante dessa situação, a lei natural levaria os indivíduos a estabelecer um pacto entre 
si, renunciando à sua liberdade em favor de um governante, o soberano. Assim, todos 
passariam a se submeter, igualmente, aos poderes a ele transferidos e que apenas ele 
poderia exercer. Tais poderes permitiriam a criação e a aplicação de leis civis, bem como 
a prática da coerção, ou seja, o uso da força para reprimir certos comportamentos. 
O filósofo afirmava que o pacto, caracterizado pela renúncia dos poderes e liber-
dades individuais de todos em favor de um governante, resultaria na instituição da 
soberania e do Estado Civil. Desse modo, o poder soberano, representado pelo governante e pelo Estado, defenderia 
o cumprimento do pacto, ainda que à força, mas sempre respeitando o direito natural. Somente assim poderiam ser 
garantidas aos indivíduos a preservação da vida, a justiça e a propriedade. Afinal, para Hobbes, cujas ideias foram 
acusadas de justificar o absolutismo monárquico de sua época, a sociedade não era uma comunidade harmoniosa, de 
origem natural e divina. Ele a definia como uma associação humana, histórica e artificial que contrariava o estado de 
natureza por meio do consentimento dos indivíduos à instituição do Estado Civil e de um poder soberano – represen-
tado por um rei, uma aristocracia ou uma assembleia – a quem todos deveriam reconhecer e respeitar.
WRIGHT, John Michael. Thomas 
Hobbes. [16--]. 1 óleo sobre tela, 
color., 66 cm × 54,6 cm. Galeria 
Nacional do Retrato, Londres.
As leis civis, estabelecidas por um po-
der soberano, formam o Direito Civil ou 
Direito Positivo. As leis naturais formam 
o jusnaturalismo ou direito natural.
Para ler e refletir
Hobbes comparava o Estado ao Leviatã, uma figura mitológica cheia de olhos para vigiar e braços para agir. Logo, 
apresentou suas ideias políticas em um livro com esse nome. Leia, a seguir, alguns trechos dessa obra.
Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de guerra, em que todo homem é inimigo de todo ho-
mem, o mesmo é válido também para o tempo durante o qual os homens vivem sem outra segurança senão a 
que lhes pode ser oferecida por sua própria força e por sua própria invenção. [...]
Desta guerra de todos os homens contra todos os homens [...] isto é consequência: que nada pode ser injusto. 
[...] Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça. [...] Outra consequência da mesma 
condição é que não há propriedade, nem domínio, nem distinção entre o meu e o teu; só pertence a cada homem 
aquilo que ele é capaz de conseguir, e apenas enquanto for capaz de conservá-lo. É pois esta a miserável condi-
ção em que o homem realmente se encontra, por obra simples da natureza. Embora com uma possibilidade de 
escapar a ela, que em parte reside nas paixões, e em parte em sua razão.
As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que 
são necessárias para uma vida confortável e a esperança de consegui-las através do trabalho. E a razão sugere 
adequadas normas de paz, em torno das quais os homens podem chegar a acordo. Essas normas são aquelas 
a que por outro lado se chama leis de natureza [...]
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Filosofia 7
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e civil. São Paulo: Nova Cultural, 2004. p. 109-118; 143-144. (Os 
pensadores). 
Uma lei de natureza (lex naturalis) é um preceito ou regra geral, estabelecido pela 
razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir sua 
vida ou privá-lo dos meios necessários para preservá-la, ou omitir aquilo que se 
pense poder contribuir melhor para preservá-la. [...]
[...] Consequentemente é um preceito ou regra geral da razão, que todo homem 
deve esforçar-se pela paz, à medida que tenha esperança de consegui-la [...].
Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os ho-
mens que procurem a paz, deriva esta segunda lei: que um homem concorde, quando 
outros também o façam, e à medida que tal considere necessário para a paz e para a defesa 
de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos 
outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si 
mesmo. [...]
Abandona-se um direito simplesmente renunciando a ele, ou transferindo-o para 
outrem. Simplesmente renunciando, quando não importa em favor de quem irá re-
dundar o respectivo benefício. Transferindo-o, quando com isso pretende beneficiar 
uma determinada pessoa ou pessoas. [...]
A única maneira de instituir um tal poder comum, capaz de defendê-los [os homens] das invasões dos es-
trangeiros e das injúrias uns dos outros, garantindo-lhes assim uma segurança suficiente para que, mediante seu 
próprio labor e graças aos frutos da terra, possam alimentar-se e viver satisfeitos, é conferir toda sua força e poder 
a um homem, ou a uma assembleia de homens, que possa reduzir suas diversas vontades, por pluralidade de vo-
tos, a uma só vontade. O que equivale a dizer: designar um homem ou uma assembleia de homens como repre-
sentante de suas pessoas [...]; todos submetendo assim suas vontades à vontade do representante, e suas decisões 
a sua decisão. Isto é mais do que consentimento, ou concórdia, é uma verdadeira unidade de todos eles, numa 
só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens, de um modo que é como se 
cada homem dissesse a cada homem: Cedo e transfiro meu direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a 
esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira semelhante todas as 
suas ações. Feito isso, a multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. [...]
Aquele que é portador dessa pessoa se chama soberano, e dele se diz que possui o poder soberano. Todos 
os restantes são súditos. [...]
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1. De acordo como texto de Hobbes, defina o termo e as expressões a seguir.
Estado de natureza
Consiste na guerra de todos contra todos, em virtude da condição de insegurança em que o ser humano 
se encontra, podendo contar apenas com a própria força. 
Lei natural
É uma espécie de regra geral, fruto da razão, a qual impede o ser humano de fazer aquilo que possa 
prejudicar sua autopreservação.
Pacto social
Consiste na transferência de toda força e todo poder a um governante ou a uma assembleia de pessoas, 
reduzindo as diversas e plurais vontades a somente uma, a fim de favorecer a coletividade.
Soberania
Poder que o governante ou assembleia detém, após a transferência do direito de autogoverno dos 
indivíduos, em troca de tratamento igual e garantia de segurança.
2. Transcreva as duas leis naturais citadas no texto.
1ª. lei: “todo homem deve esforçar-se pela paz, à medida que tenha esperança de consegui-la”; 2ª. lei: “que um homem concorde, quando outros 
também o façam, e à medida que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as
 coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em relação a si mesmo”.
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 Estudiosos do 
pensamento de Hobbes 
sintetizaram a descrição 
do filósofo sobre a 
natureza humana com 
a afirmação: “o homem 
é o lobo do homem”.
8 Volume 8
Reflexão em ação
1. Com base no texto, responda à questão proposta.
A história da humanidade já teve inúmeras 
ocorrências em que situações extremas põem em 
xeque as condutas morais dos indivíduos. [...] 
[como o] comportamento dos grupos que vive-
ram em campos de concentração nazista ou de 
outros regimes totalitários. Segundo relatos, a 
vida moral dos detentos era reduzida a zero. Um 
sobrevivente disse que o direito natural do ser 
humano não existia. Outro afirmou que era uma 
constante guerra de todos contra todos. [...]
PACIULLO, Luisa; GARRIDO, Leandro. O homem é o lobo do 
homem. Até que ponto as condutas morais influenciam nas 
atitudes dos indivíduos? Matar, roubar, mentir para sobreviver é 
certo ou errado? Revista Eclética: Incivilidades, n. 34. Disponível 
em: <http://puc-riodigital.com.puc-rio.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?infoid=13378&sid=180>. Acesso em: 13 abr. 2015.
3 Sugestões de respostas.
 Que relações é possível estabelecer entre o conceito de 
estado de natureza, tal como proposto por Hobbes, e o 
relato do texto sobre as consequências de “situações 
extremas” impostas aos seres humanos?
2. Você concorda com a ideia de que o homem é, por 
natureza, “lobo do próprio homem”? Justifique sua 
opinião.
3. Relacione as ideias centrais de Hobbes com os versos 
a seguir, de uma canção da artista brasileira Pitty.
O lobo
Não houve tempo em que o homem
Por sobre a Terra viveu em paz
Desde sempre tudo é motivo
Pra jorrar sangue cada vez mais
O homem é o lobo do homem, o lobo.
PITTY. O lobo. Intérprete: Pitty. Admirável Chip Novo. São Paulo: 
Deckdisc/Polysom, 2003, 1 CD. Faixa 5.
O pacto segundo John Locke
Ainda no século XVII, outro pensador inglês teve grande influência na Filosofia Política. Trata-se de John Locke, tido 
como referência para o surgimento de uma doutrina conhecida como liberalismo. Assim como Hobbes, ele também 
construiu suas teorias com base nos conceitos de estado de natureza e contrato social. Porém, contrariamente às afir-
mações de Hobbes, Locke considerava o estado de natureza uma condição de liberdade e igualdade, em que o direito 
natural possibilitava a cada indivíduo a busca de seu próprio bem. 
No entanto, sendo essa condição comum a todos, o início da acumulação de riquezas teria gerado conflitos, 
levando à instituição do pacto social, cujo maior objetivo seria defender o direito à propriedade privada. Afinal, 
enquanto Hobbes entendia a propriedade como fruto das leis instituídas pelo soberano e, portanto, do Direito Civil, 
Locke a considerava um direito natural e afirmava que os indivíduos estabeleciam o contrato social justamente em 
defesa do direito natural, tornando-se, assim, cidadãos com garantias de preservação da vida, da liberdade e da 
propriedade. Além disso, ele destacava a existência de uma teia de relações econômicas e sociais livremente instau-
radas entre os indivíduos e as classes, a qual denominava sociedade civil.
De acordo com o pensamento de Locke, o Estado deveria agir a favor de sua própria manutenção e também da 
conservação dos indivíduos, além de empregar a força para punir os crimes cometidos contra as leis naturais e civis. 
Sendo assim, ele defendia a existência de dois poderes distintos entre si: 
 • o Legislativo, responsável pela criação de leis e pela determinação de como se deveriam empregar as forças de 
um Estado, tendo em vista a conservação da sociedade e de seus membros; 
 • o Executivo, responsável por assegurar a execução das leis e garantir o cumprimento dos tratados de paz e 
guerra.
4 Fundamentação teórica.
Filosofia 9
Para ler e refletir
Leia atentamente os trechos a seguir. Eles fazem parte da obra Dois tratados sobre o governo, na qual Locke apresen-
tou sua concepção contratualista e liberal acerca da natureza do poder político.
Para entender o poder político corretamente, e derivá-lo de sua origem, devemos considerar o estado em 
que todos os homens naturalmente estão, o qual é um estado de perfeita liberdade para regular suas ações e 
dispor de suas posses e pessoas do modo como julgarem acertado, dentro dos limites da lei da natureza, sem 
pedir licença ou depender da vontade de qualquer outro homem. [...]
[...] embora o homem nesse estado tenha uma liberdade incontrolável para dispor de sua pessoa ou pos-
ses, não tem liberdade para destruir-se ou a qualquer criatura em sua posse, a menos que um uso mais nobre 
que a mera conservação desta o exija. O estado de natureza tem para governá-lo uma lei da natureza, que a 
todos obriga; e a razão, em que essa lei consiste, ensina a todos aqueles que a consultem que, sendo todos 
iguais e independentes, ninguém deveria prejudicar a outrem em sua vida, saúde, liberdade ou posses. [...] E 
tendo todos as mesmas faculdades, compartilhando todos uma mesma comunidade de natureza, não se pode 
presumir subordinação alguma entre nós que possa autorizar a destruir-nos uns aos outros [...] Cada um está 
obrigado a preservar-se, e não abandonar sua posição por vontade própria; logo, pela mesma razão, quando sua 
própria preservação não estiver em jogo, cada um deve, tanto quanto puder, preservar o resto da humanidade, 
e não pode, a não ser que seja para fazer justiça a um infrator, tirar ou prejudicar a vida ou o que favorece a 
preservação da vida, liberdade, saúde, integridade ou bens de outrem. [...]
[...] não duvido que se objetará que não é razoável que os homens sejam juízes em causa própria, que 
o amor-próprio os fará agir com parcialidade em favor de si mesmos e de seus amigos. E, por outro lado, a 
natureza vil, a paixão e a vingança os levarão longe demais na punição 
dos demais, da qual nada resultará além de confusão e desordem e, por-
tanto, Deus certamente designou o governo para conter a parcialidade 
e a violência dos homens. Admito sem hesitar que o governo civil é o 
remédio adequado para as inconveniências do estado de natureza, que 
certamente devem ser grandes quando aos homens é facultado serem 
juízes em suas próprias causas, pois é fácil imaginar que aquele que foi 
injusto a ponto de causar injúria a um irmão dificilmente será justo o 
bastante para condenar a si mesmo por tal. Mas desejo lembrar àqueles 
que levantem tal objeção que os monarcas absolutos são apenas homens, 
e, se o governo há de ser o remédio aos males que necessariamente se 
seguem de serem os homens juízes em suas próprias causas, razão pela 
qual o estado de natureza não pode ser suportado, gostaria de saber que 
tipo de governo é esse e em que é elemelhor do que o estado de nature-
za, no qual um homem, no comando de uma multidão, tem a liberdade 
de ser juiz em causa própria e pode fazer a todos os seus súditos o que 
bem lhe aprouver, sem que qualquer um tenha a mínima liberdade de 
questionar ou controlar aqueles que executam o seu prazer. 
Por meio dos poderes Legislativo e Executivo, o Estado poderia garantir o direito natural à propriedade, arbitrar nos 
conflitos da sociedade civil e legislar sobre a vida pública, mas sem interferir na vida econômica e respeitando a liber-
dade de pensamento – ou seja, o Estado poderia censurar apenas aquilo que o pusesse em risco. 
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 381-392.
KNELLER, Godfrey. Retrato de John Locke. 1697. 
1 óleo sobre tela, color., 76 cm × 64 cm. Galeria 
Nacional do Retrato, Londres.
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10 Volume 8
1. Leia a afirmação a seguir, escrita por John Locke.
Atividades
5 Sugestões de respostas.
Muito melhor é o estado de natureza, no qual os homens não são obrigados a se submeterem à von-
tade injusta de outrem e no qual aquele que julgue erroneamente em causa própria ou na de qualquer 
outro terá de responder por isso ao resto da humanidade.
LOCKE, John. Dois tratados sobre o governo. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p. 392.
 De acordo com essa afirmação e com seus conhecimentos sobre o pensamento liberal de Locke, responda se é cor-
reto ou não concluir que, segundo esse filósofo, o ser humano deveria permanecer no estado de natureza. Justifique.
2. Registre algumas semelhanças e diferenças entre as teorias políticas de Locke e Hobbes.
 Sugestão de atividade: questão 1 da seção Hora de estudo.
O pacto segundo Montesquieu
Charles-Louis de Secondat, o Barão de Montesquieu, foi um dos representantes franceses do contratualismo 
no século XVIII. Ele refletiu sobre a relação entre as leis e as diferentes formas de governo. Além disso, defendeu a 
instituição de três poderes autônomos no Estado Civil. 
Assim como Locke, Montesquieu discordava do conceito hobbesiano de estado de natureza. Segundo ele, a 
condição humana original não se caracterizava pela guerra, mas pela fraqueza e pelo medo. Esses fatores teriam 
levado os seres humanos à aproximação mútua, uma vez que apenas organizados em sociedade eles poderiam 
adquirir força suficiente para disputar interesses entre si e com outros grupos. Portanto, a guerra, as armas e as 
dominações teriam surgido somente na vida em sociedade. Afinal, Montesquieu acreditava que a natureza era 
regida por leis harmônicas, de origem divina. Infelizmente, porém, em sua concepção, os indivíduos nem sempre 
respeitavam as leis naturais, havendo a necessidade de instituir leis racionais, no Estado Civil, organizado com base 
no pacto social. Da mesma forma, essas novas leis acabariam sendo desrespeitadas por alguns indivíduos. Por isso, 
era preciso instituir formas de punição no Estado. 
De acordo com Montesquieu, as leis civis variavam (e deveriam fazê-lo) segundo o contexto de cada povo e 
a forma de governo adotada por ele. Na obra O espírito das leis, o filósofo apresentou a seguinte classificação dos 
governos e sua relação com as leis civis:
DASSIER, Jean-Antoine. Barão de Montesquieu, filósofo. 
[ca. 1728]. 1 óleo sobre tela, color., 63 cm × 52 cm. Museu 
Nacional do Palácio de Versalhes e do Trianon, Versalhes.
Existem três espécies de governo: o republicano, o monárquico e 
o despótico. [...] o governo republicano é aquele no qual o povo em 
seu conjunto, ou apenas uma parte do povo, possui o poder sobera-
no; o monárquico, aquele onde um só governa, mas através de leis 
fixas e estabelecidas; ao passo que, no despótico, um só, sem lei e 
sem regra, impõe tudo por força de sua vontade e de seus caprichos. 
MONTESQUIEU, Charles de Secondat, Barão de. O espírito das leis. São Paulo: Martins 
Fontes, 1996.
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Filosofia 11
Montesquieu reconheceu a igualdade e o sufrágio (votação) como qualidades da república e apontou o dinamismo 
como qualidade da monarquia. Ele se referia a ambas como governos moderados e aceitava que houvesse transição entre 
elas nos casos de mudança na configuração dos territórios. No entanto, alertou para o risco de que monarquias e repúbli-
cas se tornassem despotismos, ou seja, governos marcados por abusos no exercício do poder. Para evitar esse problema, 
ele defendeu a instituição de três poderes no Estado, ressaltando a necessidade de haver distinção entre seus membros, 
além da importância da independência de cada um a fim de resistirem um ao outro quando houvesse discordância entre 
eles. Assim, o governante deveria executar os atos de governo (Poder Executivo), submetendo-se às leis civis instituídas 
(Poder Legislativo), e não poderia atuar como juiz (Poder Judiciário), pois não poderia julgar com total imparcialidade. 
Tal como Locke, Montesquieu aproximou-se do liberalismo, sendo contrário ao absolutismo, regime de governo 
que Hobbes foi acusado de justificar e que seria abalado pelas Revoluções Burguesas dos séculos XVIII e XIX.
Para ler e refletir
Leia este trecho da obra Do espírito das leis, no qual Montesquieu apresenta sua concepção sobre o estado de natu-
reza e a passagem das leis naturais para as leis civis.
Antes de todas essas leis, existem as da nature-
za, assim chamadas porque decorrem unicamente da 
constituição de nosso ser. Para conhecê-las bem, é 
preciso considerar o homem antes do estabelecimen-
to das sociedades. As leis da natureza seriam as que 
ele receberia em tal caso. 
[...] Tal homem sentiria, antes de tudo, sua fra-
queza e seu medo seria grande; e, se tivéssemos ne-
cessidade da experiência para comprovar isso, en-
contraram-se, nas florestas, homens selvagens: tudo 
os faz tremer, tudo os faz fugir. 
Nesse estado, todos se sentem inferiores e dificil-
mente alguém se sente igual. Ninguém procuraria, 
portanto, atacar e a paz seria a primeira lei natural. 
Não é razoável o desejo que Hobbes atribui aos 
homens de subjugarem-se mutuamente. A ideia de 
supremacia e de dominação é tão complexa e depen-
dente de tantas outras que não seria ela a primeira 
ideia que o homem teria. 
[...]
Ao sentimento de sua fraqueza, o homem acres-
centaria o sentimento de suas necessidades. Assim, 
outra lei natural seria a que o incitaria a procurar ali-
mentos. Disse que o medo levaria os homens a afas-
tarem-se uns dos outros, mas a comprovação de um 
medo recíproco levá-los-ia logo a se aproximarem. 
Aliás, eles seriam levados pelo prazer que sente um 
animal à aproximação de outro da mesma espécie. 
Demais, este encanto que os dois sexos, pela sua di-
ferença, inspiram-se mutuamente aumentaria esse 
prazer, e o pedido natural que sempre fazem um ao 
outro seria uma terceira lei. 
Além do sentimento que os homens inicialmente 
possuem, conseguem eles também ter conhecimen-
tos; assim, possuem um segundo liame que os outros 
animais não têm. Existe, portanto, um novo motivo 
para se unirem, e o desejo de viver em sociedade 
constitui a quarta lei natural.
Logo que os homens estão em sociedade, per-
dem o sentimento de suas fraquezas; a igualdade 
que existia entre eles desaparece, e o estado de guer-
ra começa. 
Cada sociedade particular passa a sentir sua força; 
isso gera um estado de guerra de nação para nação. 
Os indivíduos, em cada sociedade, começam a sentir 
sua força: procuram reverter em seu favor as princi-
pais vantagens da sociedade; isso cria, entre eles, um 
estado de guerra. Essas duas espécies de estado de 
guerra acarretam o estabelecimento de leis entre os 
homens. [...]
A lei, em geral, é a razão humana, na medida em 
que governa todos os povos da terra, e as leis políticas 
e civis de cada nação devem ser apenas os casosparti-
culares em que se aplica essa razão humana. 
MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Nova Cultural, 2005. p. 39-42 (Os pensadores). 
12 Volume 8
Tripartição dos poderes no Brasil
Atualmente o modelo da tripartição dos poderes está 
adequado à teoria de Montesquieu. Há, então, o Poder 
Executivo [...]; o Poder Legislativo, composto pelo siste-
ma bicameral (câmara de deputados e senado), e ainda, 
o Poder Judiciário.
Constatamos esta divisão de poderes no Estado Bra-
sileiro por meio do art. 2.º da Constituição Federal de 
1988 onde lê-se: “São Poderes da União, independentes 
e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o 
Judiciário.” Este sistema foi adotado com o intuito de 
melhor organizar as funções estatais.
Como observado no artigo constitucional mencio-
nado anteriormente, os poderes devem manter-se, pri-
meiramente, independentes uns dos outros, devendo 
ter, então, sua própria autonomia dentro do Estado bra-
sileiro. Precisam, também, para que seja possível sua 
coexistência ter o comprometimento um com outro. 
Assim sendo funcionarão em harmonia.
ConexõesConexões
6 Sugestões de respostas.
DOURADO, Edvânia A. Nogueira; AUGUSTO, Natália Figueiroa; ROSA, Crishna Mirella de Andrade Correa. Dos três poderes de Montesquieu 
à atualidade e a interferência do Poder Executivo no Legislativo no âmbito brasileiro. Congresso Internacional de História, 2011. Disponível em: 
<http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/213.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2015.
 Tendo como referência a tripartição dos poderes no Brasil, tal como descrita no texto, faça uma pesquisa e responda 
às questões.
a) Que cargos compõem o Poder Executivo e quais as suas funções?
b) Que cargos compõem o Poder Legislativo e quais as suas funções?
c) Que cargos compõem o Poder Judiciário e quais as suas atribuições?
GIORGI, Bruno. Os guerreiros/os candangos. 1957. 1 escultura em 
bronze. Praça dos Três Poderes, Brasília.
 Na Praça dos Três Poderes, em Brasília, encontram-se o Palá-
cio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal 
Federal, edifícios que representam, respectivamente, os 
poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Brasil.
 Identifique as quatro leis da natureza descritas no texto de Montesquieu e registre-as no quadro a seguir.
1ª. lei natural A paz
2ª. lei natural A busca dos alimentos
3ª. lei natural A união entre indivíduos de sexos opostos
4ª. lei natural O desejo de viver em sociedade
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Filosofia 13
Para ler e refletir
O pacto segundo Rousseau
Ainda na França do século XVIII, o filósofo de origem suíça Jean-Jacques Rousseau 
também abordou o contratualismo em suas obras. Ele apresentava o estado de natu-
reza como uma condição de liberdade e inocência, em que haveria somente diferenças 
físicas entre os indivíduos, uma vez que eles viveriam sem propriedades ou autoridades 
instituídas.
Para representar o estado de natureza, Rousseau propunha uma descrição hipoté-
tica e idealizada do ser humano em sua condição anterior à civilização. Na atualidade, 
alguns estudos referem-se a ela com a expressão o “mito do bom selvagem”, pois o fi-
lósofo apontava a vida social como causa da corrupção dos indivíduos. De acordo com 
ele, originariamente, o seres humanos viviam em um ambiente abundante, relacionan-
do-se com base em uma predisposição natural para a autopreservação e também para 
a compaixão. No entanto, a instituição da propriedade privada teria rompido o equilí-
brio dessa relação, levando-os ao estado de sociedade, marcado por insegurança, vio-
lência e corrupção, em contraponto à liberdade e à inocência do estado de natureza. 
Segundo Rousseau, os conflitos do estado de sociedade teriam levado os indivíduos à renúncia do poder pessoal 
ilimitado e à realização do contrato social. Porém, diferentemente de outros pensadores, ele considerava que essa 
renúncia ocorria em favor da vontade geral, correspondente ao interesse comum, colocado acima dos diversos inte-
resses particulares. Logo, o contrato não representava a transferência de poderes e liberdades a um indivíduo ou a uma 
assembleia, mas a associação dos cidadãos para exercê-los em prol do corpo político. 
Essa associação teria gerado o Estado Civil, no qual os indivíduos deveriam ser compreendidos como cidadãos, pes-
soas morais, livres e obedientes às leis que estabeleceram pelo bem comum. Desse ponto de vista, o soberano era o povo, 
um corpo coletivo e ético que deveria estar acima do Poder Executivo, exercido por um governante. Além disso, este de-
veria ser um funcionário e não o senhor do povo, ou seja, poderia ser destituído caso não se submetesse à vontade geral. 
Por outro lado, ao contrário de Montesquieu, Rousseau não defendia a independência entre os poderes no Estado 
Civil. No seu modelo político, as leis deveriam garantir a liberdade e a igualdade, bens supremos para esse filósofo, que 
negava a escravidão e louvava o Estado republicano – aquele que, sob qualquer forma de governo, era regido por leis 
voltadas ao interesse público e não à vontade particular do governante. 
No pensamento de Rousseau, o governo poderia variar sua forma segundo a extensão e as características do Esta-
do, mas apenas seria legítimo se agisse de acordo com a vontade geral. Ele apresentava a democracia como forma ideal 
de governo para os Estados pequenos, que julgava serem os melhores; a aristocracia para os médios; e a monarquia 
para os grandes. No entanto, alertava para a tendência negativa das monarquias ao absolutismo.
LA TOUR, Maurice Quentin de. 
Jean-Jacques Rousseau. 1753. 1 pastel 
sobre papel, color., 45 cm × 35,5 cm. 
Museu de Arte e de História, Genebra.
O pensamento de Rousseau destaca-se pela crítica ao individualismo e à corrupção presentes na vida social, mar-
cada pela valorização do luxo e das aparências, em detrimento da razão, do sentimento, da liberdade e da dignidade. 
Ao escrever sobre política e educação, ele defendeu a liberdade com veemência, definindo-a como a própria essência 
da condição humana.
Leia o trecho a seguir, retirado da obra Do contrato social, no qual Rousseau comenta a instituição do pacto ou 
contrato social e sua relação com o conceito de vontade geral, além de expressar sua visão sobre a passagem da 
liberdade natural, no estado de natureza, para a liberdade convencional, no Estado Civil.
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14 Volume 8
Suponhamos os homens chegando àquele ponto em que os obstáculos prejudiciais à sua conservação no 
estado de natureza sobrepujam, pela sua resistência, as forças de que cada indivíduo dispõe para manter-se 
nesse estado. Então, esse estado primitivo já não pode subsistir, e o gênero humano, se não mudasse de modo 
de vida, pereceria.
Ora, como os homens não podem engendrar novas forças, mas somente unir e orientar as já existen-
tes, não têm eles outro meio de conservar-se senão formando, por agregação, um conjunto de forças, que 
possa sobrepujar a resistência, impelindo-as para um só móvel, levando-as a operar em concerto.
Essa soma de forças só pode nascer do concurso de muitos: sendo, porém, a força e a liberdade de cada 
indivíduo os instrumentos primordiais de sua conservação, como poderia ele empenhá-los sem prejudicar e 
sem negligenciar os cuidados que a si mesmo deve? Essa dificuldade, reconduzindo ao meu assunto, poderá 
ser enunciada como segue:
“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com 
toda força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo 
assim tão livre quanto antes.” Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece.
[...]
Se separar-se, pois, do pacto social aquilo que não pertence à sua essência, ver-se-á que ele se reduz aos 
seguintes termos: “Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da 
vontadegeral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo”.
Imediatamente, esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um cor-
po moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia, e que, por esse mesmo 
ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. [...]
[...]
A passagem do estado de natureza para o estado civil determina no homem uma mudança muito notável, 
substituindo na sua conduta o instinto pela justiça e dando às suas ações a moralidade que antes lhes faltava. 
É só então que, tomando a voz do dever o lugar do impulso físico, e o direito o lugar do apetite, o homem, até 
aí levando em consideração apenas sua pessoa, vê-se forçado a agir baseando-se em outros princípios e a con-
sultar a razão antes de ouvir suas inclinações. Embora nesse estado se prive de muitas vantagens que frui da 
natureza, ganha outras de igual monta: suas faculdades se exercem e se desenvolvem, suas ideias se alargam, 
seus sentimentos se enobrecem, toda a sua alma se eleva a tal ponto, que, se os abusos dessa nova condição 
não o degradassem frequentemente a uma condição inferior àquela donde saiu, deveria sem cessar bendizer 
o instante feliz que dela o arrancou para sempre e fez, de um animal estúpido e limitado, um ser inteligente 
e um homem.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 2005. p. 69-71; 77. (Os pensadores).
 O “mito do bom selvagem” relaciona-se à crença de Rousseau de que a natureza humana é boa e de que a maldade 
resulta da corrupção dos costumes no estado de sociedade. Em sua opinião, o ser humano deve ser considerado 
naturalmente bom ou mau? Por quê?
Pessoal. O aspecto mais relevante da resposta é a argumentação. 
Sugestão: Para promover esse debate, apresente fatos recentes que apontem atitudes individuais capazes de exemplificar a crueldade 
e também o altruísmo, lembrando que o filósofo considerava a compaixão como uma predisposição natural do ser humano. 
Sugestão de atividade: questão 2 da seção Hora de estudo.
Filosofia 15
Para ler e refletir
O pacto segundo Kant 
As teorias do jusnaturalismo e do contratualismo repercutiram também no pensamento ale-
mão. Assim, no século XVIII, o filósofo Immanuel Kant adotou o contrato social como hipótese 
para explicar a origem e os objetivos do poder político. Ele apresentava o contrato social (ou 
contractus originarius) como um princípio a priori (anterior à experiência), isto é, uma ideia 
racional, e não como um fato ocorrido em determinado momento histórico. Sendo assim, em 
vez de revelar a origem histórica do Estado, esse princípio indicava como ele deveria ser.
Leitor da obra de Rousseau, Kant também valorizava profundamente a ideia de liberdade. 
Além disso, a sua concepção de contratualismo se aproximava do pensamento liberal, assim 
como as de Locke e Montesquieu. Ele afirmava que o Estado Civil nascera com o objetivo 
de garantir as liberdades individuais, organizando-as de acordo com as leis civis. 
Somente assim os indivíduos deixariam de prejudicar a liberdade uns dos ou-
tros, na tentativa de desfrutar da liberdade brutal, característica do estado de 
natureza. Logo, o filósofo julgava necessária a limitação da liberdade original 
dos indivíduos, para que eles pudessem obter uma nova forma de liberdade, 
garantida pelo Estado, na condição de participantes de uma comunidade, isto é, 
do povo. Para que isso fosse possível, Kant elencava três princípios, denominados 
imperativos, que deveriam nortear as ações dos indivíduos no Estado:
 • Viver honestamente.
 • Não cometer injustiça contra ninguém.
 • Receber o que lhe cabe como direito.
De acordo com esse filósofo, a condição 
dos Estados entre si era comparável à dos indivíduos no estado de natureza, ou 
seja, uma liberdade brutal capaz de gerar disputas. Sendo assim, ele buscou es-
tabelecer um acordo entre política e moral, por meio do cosmopolitismo. Dessa 
maneira, propôs uma ordem internacional que unisse os Estados na forma de 
uma liga ou federação. Acreditava que essa “república mundial” poderia conso-
lidar o ideal de cosmopolitismo, uma vez que todos os indivíduos seriam seus 
cidadãos, condição a que denominava Erdbürger (cidadão da Terra).
cosmopolitismo: doutrina que vê o ser 
humano como “cidadão do mundo”. Kant o 
entendia como princípio regulador do pro-
gresso e “destino do gênero humano”, pos-
sibilitando a integração universal.
Estátua de Immanuel Kant em área da 
Universidade Estadual Kaliningrado, 
Kaliningrado, Rússia.
 Para Kant, a existência de um Estado 
mundial poderia garantir a igualdade 
entre os cidadãos.
As teorias do
mão. Assim, no
para explicar a
contractus orig
racional, e não
vez de revelar
Leitor da 
Além disso, a
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Leia, no texto a seguir, algumas reflexões de Kant sobre as disputas entre os Estados e sobre o cosmopolitismo. 
De que serve trabalhar por uma constituição civil legal entre os indivíduos, isto é, pelo estabelecimento 
de uma comunidade? A mesma insociabilidade, que obrigou os homens a estabelecer tal comunidade, é de 
novo a causa por que cada comunidade se encontre numa relação exterior, isto é, como Estado em relação 
a outros Estados, numa liberdade irrestrita e, por conseguinte, cada um deve esperar do outro os males 
que pressionaram e constrangeram os homens singulares a entrar num estado civil legal. Por conseguinte, a 
Natureza utilizou uma vez mais a incompatibilidade dos homens, e até das grandes sociedades e corpos 
insociabilidade: apatia, individualismo.
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16 Volume 8
estatais que formam estas criaturas, como meio para encontrar no seu inevitável antagonismo um estado de 
tranquilidade e de segurança; isto é, por meio das guerras, do armamento excessivo e jamais afrouxado em 
vista das mesmas, da necessidade que, por fim, cada Estado deve por isso sentir internamente até em tempo 
de paz, a Natureza compele-os, primeiro, a tentativas imperfeitas e, finalmente, após muitas devastações, 
naufrágios e até esgotamento interno geral das suas forças, ao intento que a razão lhes podia ter inspirado, 
mesmo sem tantas e tão tristes experiências, a saber: sair do estado sem leis dos selvagens e ingressar numa 
liga de povos, onde cada Estado, inclusive o mais pequeno, poderia aguardar a sua segurança e o seu direito, 
não do seu próprio poder ou da própria decisão jurídica, mas apenas dessa grande federação de nações, [...] 
de uma potência unificada e da decisão segundo leis da vontade unida. Embora esta ideia pareça ser fanta-
siosa e tenha sido objeto de escárnio [...], nem por isso deixa de ser a inevitável saída da necessidade em 
que os homens se reciprocamente colocam, que deve forçar os Estados à decisão (por muito duro que lhes 
seja consentir), à qual também o homem selvagem se viu de mau grado compelido, a saber: renunciar à sua 
liberdade brutal e buscar a tranquilidade e a segurança numa constituição legal. [...] até que, por fim, em 
parte pelo melhor ordenamento possível da constituição civil no plano interno, em parte por um acordo e 
legislação comuns no campo externo, se erija um estado que, semelhante a uma comunidade civil, se possa 
manter a si mesmo como um autômato.
KANT, Immanuel. Ideia de uma História Universal com um propósito cosmopolita. Tradução de Artur Morão. Covilhã: LusoSofia. p. 13-14.
antagonismo: oposição, incompatibilidade.
escárnio: zombaria, menosprezo, desdém.
autômato: que se coloca em movimento de forma autossuficiente.
Reflexão em ação
7 Sugestões de respostas.
1. Retome as três formas de compreender o contratualismo, descritas por Norberto Bobbio e apresentadas na página 6. 
Registre aquela que melhor descreve o contratualismo de Kant e justifique sua escolha. 
2. Leia atentamente o texto.
No ano de 1998 uma reportagem de TVde grande audiência tornou público um problema invisível para 
a sociedade até então. A matéria abordava o caso de crianças que foram intoxicadas e hospitalizadas após 
comerem carne de um lixão de Pernambuco. Suspeitava-se que as crianças haviam comido carne humana 
de restos de lixo hospitalar depositados no lixão. A notícia comoveu o país e deu visibilidade a um povo 
que estava esquecido, mas que já lutava por melhores condições de trabalho e vida. Iniciativas [...] foram 
desenvolvidas, dando início ao debate público sobre a inclusão socioprodutiva dos catadores de materiais 
recicláveis. 
PINHEL, Julio Fuffin. (Org.). Do lixo à cidadania: guia para a formação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis. São Paulo: Peirópolis, 
2013. p. 6.
 O texto relata um exemplo de exclusão de pessoas em relação aos direitos humanos e à cidadania dentro de seu 
próprio país. Anteriormente, você verificou que Kant defendia o cosmopolitismo como meio de promover a paz entre 
as nações e de universalizar os direitos humanos e a cidadania. Diante disso, reflita sobre as questões a seguir e 
responda a elas.
a) A universalização da cidadania em uma nação é uma questão de política? Explique.
b) É possível conciliar os interesses das nações para concretizar o ideal do cosmopolitismo? Justifique sua opinião.
Filosofia 17
Estado soberano
No século XIX, o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel criticou o liberalismo, pois julgava que este favore-
cia o individualismo, contrapondo os interesses particulares e os coletivos. Segundo o filósofo, o ser humano expres-
sava sua liberdade individual por meio da propriedade privada de bens, tanto no âmbito da família quanto no mundo 
do trabalho, denominado sociedade civil. Porém, alcançava a verdadeira liberdade somente no Estado, pois, ao fazer 
parte dele, o indivíduo ultrapassava os interesses particulares e, desse modo, o espírito (a razão humana) adquiria 
autoconsciência, uma vez que cada indivíduo passava a se entender como parte de um organismo político e ético. 
De acordo com Hegel, a autoconsciência do espírito ainda estaria encoberta pelas paixões, na família, e pela falta 
de percepção do trabalho como algo universal, na sociedade civil. Todavia, no Estado, os indivíduos podiam ultrapassar 
todas as particularidades, alcançando a liberdade. Afinal, o filósofo não associava a liberdade à realização de desejos 
particulares e arbitrários, mas, sim, à realização da ética e da razão. Afirmava que o ser humano iniciava a superação do 
egoísmo primitivo na família e na sociedade civil, mas no Estado é que ele se tornava ético, sendo absorvido num todo 
orgânico, apto a garantir a ordem, a paz, a moralidade, a liberdade e a perfeição do espírito.
Sendo assim, Hegel não aceitava o contratualismo. Para ele, a soberania não deveria ser atribuída a um governante 
ou ao povo, mas ao Estado, uma vez que este constituía um organismo indivisível, no qual a individualidade se transfor-
mava em eticidade. Além disso, o filósofo rejeitava a hipótese do contrato social para explicar a origem do Estado por 
acreditar que a construção deste ocorria por meio de um movimento, denominado dialético, no qual as contradições 
sociais geravam sínteses que, por sua vez, iniciavam novas contradições e produziam novas sínteses. Assim, a contra-
dição entre os interesses particulares e as normas universais, por exemplo, superava-se no Estado, uma vez que nele 
as relações passavam a ser regidas pelo Direito. Nesse caso, a síntese consistia no fato de o Estado garantir os direitos 
individuais e, ao mesmo tempo, os indivíduos se considerarem partes de uma totalidade racional. 
SCHLESINGER, Jakob. Retrato do filósofo 
Georg Wilhelm Friedrich Hegel. 1831. 
1 óleo sobre tela, color. Galeria 
Nacional, Berlim.
 Com a concepção de Estado orgânico, 
Hegel retomou uma questão proble-
matizada por Maquiavel e sempre 
atual: a determinação do papel da 
ética no Estado e nas relações políticas. 
Além disso, seu conceito de dialética 
teve grande repercussão e fundamen-
tal importância para teorias políticas 
posteriores, com destaque para o 
marxismo.
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limSegundo Hegel, a observação do movimento dialético revelava o progres-
so do espírito de um povo, de uma época, da humanidade. Assim, ele definia 
a história como o “progresso da consciência da liberdade”, construído diale-
ticamente. Portanto, considerava o Estado a maior realização da história, ou 
seja, a mais alta expressão do espírito humano. Isso porque somente nele o 
espírito absorvia a natureza, afirmando-se como cultura, ao manifestar-se em 
instituições (artísticas, religiosas, filosóficas, sociais, políticas), podendo tomar 
consciência de si mesmo, por meio delas.
Quanto à forma do Estado, Hegel defendia a monarquia constitucional e 
negava a soberania popular, tal como fora defendida no século XVIII. Para ele, 
o Estado se manifestava na figura do monarca e na Constituição que regesse 
o poder, expressando os ideais de um povo e sua organização em busca de 
uma unidade. Na concepção do filósofo, o verdadeiro povo não era um con-
junto de indivíduos que, numa mesma nação, cuidaria apenas de seus interes-
ses particulares e, até mesmo, conflitantes entre si. O verdadeiro povo existia 
como um corpo orgânico e ético, capaz de superar o individualismo e realizar 
o progresso do espírito. 
Assim, Hegel apresentava o Estado como uma ideia perfeita, mesmo que 
ele se realizasse de modo imperfeito no mundo, conforme as limitações de 
cada povo e de cada época. Essa idealização do Estado rendeu ao seu pensa-
mento a acusação de inspirar regimes autoritários. Porém, ainda no século XIX, 
conceitos utilizados por ele, como os de dialética e história, foram reelaborados 
e aplicados ao revolucionário pensamento marxista, que será visto a seguir.
18 Volume 8
Para ler e refletir
Nesse trecho da obra Princípios da Filosofia do Direito, Hegel diferencia o Estado da sociedade civil, revelando carac-
terísticas necessárias para constituí-lo como um todo orgânico: unidade, eticidade e universalidade.
espírito objetivo: a razão humana, 
manifesta como cultura, nas institui-
ções, na moral e no Direito.
Quando se confunde o Estado com a sociedade civil, destinando-o à segurança 
e proteção da propriedade e da liberdade pessoais, o interesse dos indivíduos en-
quanto tais é o fim supremo para que se reúnam, do que resulta ser facultativo ser 
membro de um Estado. Ora, é muito diferente a sua relação com o indivíduo. Se o 
Estado é o espírito objetivo, então só como membro é que o indivíduo tem obje-
tividade, verdade e moralidade. A associação como tal é o verdadeiro conteúdo e o 
verdadeiro fim, e o destino dos indivíduos está em participarem numa vida coletiva; quaisquer outras satisfações, 
atividades e modalidades de comportamento têm o seu ponto de partida e o seu resultado neste ato substancial e 
universal. Considerada abstratamente, a racionalidade consiste essencialmente na íntima unidade do universal e 
do indivíduo e, quanto ao conteúdo no caso concreto de que aqui se trata, na unidade entre a liberdade objetiva, 
isto é, entre a vontade substancial e a liberdade objetiva como consciência individual, e a vontade que procura 
realizar os seus fins particulares; quanto à forma, constitui ela, por conseguinte, um comportamento que se de-
termina segundo as leis e os princípios pensados, isto é, universais. Esta ideia é o ser universal e necessário em si 
e para si do espírito.
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 217-218. 
(Clássicos).
Leia o texto a seguir e responda às questões propostas.
Para Hegel, a dialética é uma forma de pensamento concreto, na medida em que é capaz de perceber que a 
realidade não é simples nem homogênea, mas marcada por diferenças e contradições. Nesse sentido, o filósofo 
alemão talvezapreciasse o quadro As férias de Hegel [...], em que Magritte faz uma homenagem à dialética. O 
artista francês imaginou que o filósofo se divertiria muito, como se es-
tivesse de férias de seu trabalho filosófico, ao ver na mesma tela objetos 
tão opostos, como um copo, que contém água, e um guarda-chuva, 
que a repele. Observe que, dispostos um sobre o outro, suas funções 
se invertem: o copo sobre o guarda-chuva passa também a repelir a 
água; por sua vez, o guarda-chuva, ao sustentar o copo, torna-se capaz 
também de contê-la.
Reflexão em ação
8 Orientações didáticas e sugestões de respostas para as atividades.
MAGRITTE, René. As férias de Hegel. 1958. 
1 óleo sobre tela, color., 61 cm × 50 cm. 
Coleção particular, Bélgica.
FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com arte. São Paulo: Ediouro, 2004. p. 34. 
1. Inspirando-se nessa obra de Magritte, busque um modo criativo de expres-
sar o conceito hegeliano de dialética, movimento dividido em momentos 
contrários, a tese e a antítese, dos quais resulta a síntese.
2. Em forma de texto, analise o Estado em que você vive. Refletindo sobre a 
história dele, você percebe o movimento de progresso contínuo do espírito 
(razão humana) apontado por Hegel? Justifique seu ponto de vista.
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Filosofia 19
Luta de classes, ideologia e revolução
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, contribuiu para um novo cenário 
político e econômico na Europa, caracterizado pelos seguintes aspectos: maior domí-
nio tecnológico sobre a natureza; produção industrial de manufaturas; contratação de 
operários livres, mas com poucos direitos garantidos; enriquecimento da burguesia, 
que utilizava o pensamento liberal para influenciar de maneira mais efetiva o poder 
político. A soma desses fatores levou ao predomínio do capitalismo nos recém-for-
mados Estados Nacionais, gerando riquezas para alguns, além de conflitos e reivin-
dicações de muitos por igualdade social, política e econômica. Assim, no século XIX, 
os filósofos alemães Karl Marx e Friedrich Engels propuseram o socialismo, também 
conhecido como marxismo, com o objetivo de construir uma nova forma de organi-
zação das relações políticas e econômicas, em contraposição ao sistema capitalista.
Marx e Engels definiam o ser humano como um ser histórico, produtor das pró-
prias condições de existência por meio da força produtiva, isto é, do trabalho. Segun-
do eles, a história era o palco da luta de classes, ou seja, uma construção dialética 
resultante da contradição entre os interesses econômicos de classes opostas: se-
nhores e escravizados na Antiguidade, senhores feudais e servos na Idade Média, 
burgueses e proletários (ou classe operária) na era do capitalismo industrial moderno. Ao analisar o modelo capitalista 
de produção, eles ressaltaram que a classe operária produz a mercadoria (os bens consumidos na sociedade) por meio 
de seu trabalho. À mercadoria, por sua vez, é atribuído o valor de troca (preço), com base 
nos custos de produção, o que envolve o cálculo das horas trabalhadas para produzi-la. 
Porém, o trabalhador recebe somente por uma parte do tempo que emprega nessa 
produção. A parcela restante, denominada mais-valia, forma o lucro dos proprietários 
dos meios de produção, multiplicando o seu capital. 
Outro aspecto destacado pelos filósofos nesse processo produtivo é a alienação. Esta 
consiste no fato de o trabalhador deixar de ser dono de seu trabalho e de reconhecer a 
mercadoria como trabalho social acumulado, já que ele produz algo que não pode con-
sumir, em razão de seu preço. Assim, o esquecimento de que o preço é atribuído à mer-
cadoria pelos proprietários dos meios de produção leva ao fetichismo da mercadoria, ou 
seja, à falsa impressão de que o valor de troca é algo que pertence à mercadoria em si, 
independentemente das relações sociais concretas em meio às quais ela é produzida. 
Ao denunciar esse processo de exploração e alienação do trabalhador, Marx e Engels 
ressaltaram que as ideias morais, científicas, religiosas, políticas e filosóficas vigentes na 
cultura contribuem para que ele não seja percebido, ao construir aparências que en-
cobrem a realidade da luta de classes. Afinal, segundo os filósofos, a alienação gera a 
ideologia, ou seja, a produção de ideias legitimadoras de uma ordem social favorável à 
classe dominante. Essas ideias apresentam como naturais e universais condições que, 
na realidade, são historicamente determinadas, resultando da luta de classes. 
Por outro lado, o marxismo afirmava que o avanço do capitalismo tornaria cada vez 
mais explícita a opressão da burguesia sobre o proletariado, favorecendo a conscientiza-
ção dessa classe a respeito da sua condição. Logo, a classe operária poderia se organizar 
e realizar a revolução comunista, desmontando o poder jurídico, burocrático, policial e 
militar do Estado. O primeiro estágio dessa mudança radical nas relações sociais seria a 
“ditadura do proletariado”. Somente depois dessa etapa, seria possível a construção de 
uma sociedade comunista, justa e igualitária.
 
burguesia: termo surgido aproxima-
damente no ano 1000, para designar 
os habitantes dos burgos, espécie de 
vilas organizadas em torno de uma 
construção fortificada (castelo, mos-
teiro). Passou a ser utilizado para 
se referir à classe social formada na 
Baixa Idade Média, por comerciantes, 
artesãos, profissionais liberais, entre 
outros. No contexto da Revolução 
Industrial, refere-se à classe dos pro-
prietários das indústrias em formação.
capitalismo: sistema econômico 
surgido no Ocidente, na Idade Mo-
derna, fundamentado na ideia de 
acumulação de capital, ou seja, de 
riqueza financeira, por meio do lucro 
obtido na produção e na comerciali-
zação de mercadorias.
9 Conceituação.
MAYALL, John Jabez Edwin. 
Retrato de Karl Marx. [ca. 1875]. 
Instituto Internacional de História 
Social, Amsterdã, Países Baixos. 
 Friedrich Engels em selo da 
União Soviética, 1970. Série: 
Aniversário de nascimento, 
150 anos de Friedrich Engels 
(1820-1895).
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20 Volume 8
No pensamento marxista, o conceito de comunismo referia-se à construção de uma sociedade igualitária, livre do 
Estado, da propriedade privada e da distinção de classes. Marx e Engels acreditavam que sua instituição resultaria da 
revolução proletária, após um período de transição, a ditadura do proletariado. 
Esse conceito influenciou movimentos políticos do século XX, entre os quais a Revolução Russa de 1917. Porém, 
nesse contexto, comunismo passou a significar a ditadura do Partido Comunista. Afinal, Lenin, o fundador do Estado 
Soviético, defendia o destaque do partido no processo revolucionário e Stalin, que governou a URSS até 1953, ampliou 
ao máximo esse papel, promovendo a “partidarização” de atividades intelectuais, como Arte, Ciência e Filosofia, ou seja, 
subordinando-as ao Partido Comunista.
Conceito
Para ler e refletir
No texto a seguir, retirado da obra Manifesto comunista, Marx e Engels descrevem a História como palco da luta 
de classes, além de abordar a afirmação da burguesia como classe dominante e a constituição do proletariado como 
classe dominada, mas com potencial revolucionário.
A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das lutas de classes. 
[...]
Nas épocas históricas mais remotas, encontramos, em quase toda parte, uma complexa divisão da socieda-
de em classes diferentes, uma múltipla gradação de posições sociais. [...]
No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma característica distintiva: simplificou os an-
tagonismos de classe. A sociedade global divide-se cada vez mais em dois campos hostis, em duas grandes 
classes diretamente opostas entre si: a burguesiae o proletariado.
Dos servos da Idade Média originaram-se os moradores dos burgos, das primeiras cidades. Desta popula-
ção surgiram os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América e a circum-navegação da África abriram um novo campo de ação para a burguesia 
nascente. [...]
A antiga organização feudal da indústria, na qual a produção industrial era monopolizada pelas guildas fe-
chadas, agora não mais atendia às crescentes necessidades dos novos mercados. A manufatura tomou o seu lugar. 
Os mestres das guildas foram postos de lado pela classe média industrial; a divisão do trabalho entre as diferentes 
guildas corporativas desapareceu em face da divisão do trabalho dentro de cada oficina.
Enquanto isso, os mercados continuavam sempre a ampliar-se; a procura sempre a aumentar. A própria ma-
nufatura tornou-se insuficiente. Em consequência, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. 
O lugar da manufatura foi ocupado pela grande indústria moderna; a classe média industrial cedeu lugar aos 
milionários industriais, aos líderes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.
A grande indústria estabeleceu o mercado mundial, para o qual a descoberta da América preparou terreno. 
Este mercado deu um imenso desenvolvimento ao comércio, à navegação e à comunicação por terra. Este 
desenvolvimento, por sua vez, reagiu sobre a extensão da indústria; e, na proporção em que a indústria, o 
comércio, a navegação e as estradas de ferro se estendiam, na mesma proporção a burguesia se desenvolvia, 
aumentava seu capital, e punha em plano secundário as classes legadas pela Idade Média.
guildas: associações medievais que previam o auxílio mútuo entre as corporações de artesãos, negociantes, artistas e outros.
Filosofia 21
Vemos, portanto, como a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvi-
mento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca.
[...]
As armas com que a burguesia abateu o feudalismo voltam-se agora contra ela mesma.
A burguesia, porém, não forjou apenas as armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que 
manejarão essas armas – os operários modernos, os proletários.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Cartas filosóficas & Manifesto comunista de 1848. São Paulo: Moraes, 1977. p. 102-109.
1. Com base no texto, debata a seguinte afirmação de Marx e Engels: “A história de todas as sociedades existentes até 
hoje é a história das lutas de classes.”. Registre as conclusões a que você chegar em forma de texto argumentativo.
2. Com a exploração do trabalho do proletariado, intensificou-se o desemprego. Com base nessa constatação, estabe-
leça relações entre a charge a seguir e a situação de desemprego na atualidade.
PANCHO. Disponível em: <http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/charges/pancho/2015-04-29-
5zlxmyue6jtjfenjg6ejv7zox>. Acesso em: 25 maio 2015.
Sugestão de atividade: questão 3 da seção Hora de estudo.
No século XIX, Marx analisou criticamente os aspectos da Economia política do seu tempo, tornando-se um im-
portante teórico dessa área. Atualmente, o profissional formado em Economia tem suas atividades voltadas ao plane-
jamento, à projeção e à análise do comportamento de pessoas, instituições e governos diante dos diversos fenômenos 
econômicos. Ele desenvolve estudos sobre o cenário financeiro e mercadológico, além de auxiliar no planejamento das 
ações de instituições públicas e privadas.
Mundo do trabalho
Cidadania
Além de abordar a questão da legitimidade do poder dos governantes, os representantes da Filosofia Política re-
fletem sobre a participação política dos cidadãos, da qual depende o bom funcionamento dos regimes democráticos. 
Uma das mais importantes reflexões a esse respeito foi realizada, no século XX, pela filósofa alemã de origem judaica 
Hannah Arendt. Ela produziu sua obra em um contexto de proliferação de regimes totalitários, sendo vítima da persegui-
ção nazista. Entre os temas que investigou, destacam-se a condição humana, as origens do totalitarismo e a cidadania. 
10 Encaminhamentos metodológicos e sugestão de resposta.
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22 Volume 8
Ao refletir sobre a essência e as origens do totalitarismo, Hannah Arendt realizou 
uma leitura crítica do nazismo e do fascismo, mas também dos recém-formados Es-
tados socialistas. Para ela, o sentido da política estava na liberdade, a qual era impos-
sibilitada por esses regimes. Além disso, Arendt identificou e denunciou um processo 
de despolitização das sociedades contemporâneas. Ao buscar as origens desse fato, 
abordou a condição humana, identificando três formas de atividade exercidas pelos 
seres humanos, ligadas às questões existenciais do nascimento e da morte: o labor, o 
trabalho ou fabricação e a ação.
 • No labor, que se relaciona aos processos biológicos do corpo, o ser humano 
(animal laborans) busca atender às necessidades de sobrevivência do indi-
víduo e da espécie. 
 • No trabalho ou fabricação, que aponta para o artificialismo da existência 
humana, o ser humano (homo faber) dedica-se à produção de bens durá-
veis. Assim, ultrapassando o ciclo vital, busca melhores condições para a 
manutenção de sua existência.
 • Na ação, marcada pela pluralidade e única atividade exercida diretamente entre as pessoas, sem a mediação 
das coisas, o ser humano (zoon politikon) atua de forma política, fundando e mantendo as instituições que 
recebem os recém-chegados ao mundo.
Segundo Arendt, a Antiguidade grega ressaltava a relevância da ação, destinando-a ao espaço público, onde se 
dava a participação política dos cidadãos, ou seja, onde ocorriam as relações entre os iguais. Tais relações não se 
caracterizavam pela violência, mas pela persuasão obtida por meio de discursos. Enquanto isso, o labor e a fabrica-
ção destinavam-se ao espaço privado de interesses domésticos. Durante a Idade Média, a vida ativa foi subordinada 
à vida contemplativa e, portanto, as três atividades permaneceram secundárias, pois o olhar humano voltou-se 
para um mundo transcendente, que o indivíduo habitaria após a morte, mediante a salvação de sua alma. Na 
Modernidade, houve uma retomada da vida ativa. Porém, invertendo-se o ideal grego, pois o labor e a fabricação 
foram trazidos para o espaço público. Numa primeira etapa, a fabricação foi privilegiada, com o aprimoramento de 
técnicas de produção relacionadas ao desenvolvimento das ciências. Em seguida, priorizou-se o labor, por meio da 
reprodução científica dos processos biológicos da vida. Assim, a ação política deixou de ocupar seu antigo papel no 
espaço público, o que comprometeu a liberdade, pois a vida humana passou a se desenvolver apenas em busca da 
sobrevivência, em uma cultura de consumo e desperdício.
Atualmente, a reflexão sobre esse processo é fundamental para evitar que a ideia de cidadania seja reduzida a 
um mero instrumento de legitimação dos governos por meio do voto, deixando de instituir na vida política a plura-
lidade humana, formada pela singularidade dos indivíduos que dela participam.
 Para Arendt, o sentido da 
política é a liberdade e a 
cidadania corresponde a 
poder agir livremente. 
Para ler e refletir
No texto a seguir, que faz parte da obra A condição humana, Hannah Arendt fala sobre a ação política e a importân-
cia da participação dos cidadãos nos processos políticos, garantindo-se a pluralidade.
Ao contrário da fabricação, a ação jamais é possível no isolamento. Estar isolado é estar privado da capaci-
dade de agir. A ação e o discurso necessitam tanto da circunvizinhança de outros quanto a fabricação necessita 
da circunvizinhança da natureza, da qual obtém matéria-prima, e do mundo, onde coloca o produto acabado. 
A fabricação é circundada pelo mundo e está em permanente contato com ele; a ação e o discurso são circun-
dados pela teia de atos e palavras de outros homens, e estão em permanente contato com ela. O mito popular
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Filosofia 23
de um “homem forte”, que, isolado dos outros, deve sua força ao fato de estar só, é mera superstição basea-
da na ilusão de que podemos “fazer” algo na esfera dos negócios humanos – “fazer” instituições ou leis, por 
exemplo, como fazemos mesas e cadeiras, ou fazer o homem “melhor” ou “pior” – ou é, então, a desesperança 
consciente de toda ação, política ou não, aliada à esperança utópica de que seja possível lidar com os homens 
como se lida com qualquer “material”. A força de que o indivíduo necessita para qualquer processo de produ-
ção, seja intelectual ou puramente física, torna-se inteiramente inútil quando se trata de agir. [...] 
Como exemplo do que está em jogo neste particular, podemos lembrar que o grego e o latim, ao con-
trário das línguas modernas, possuem duas palavras totalmente diferentes, mas correlatas, para designar o 
verbo “agir”. Aos dois verbos gregos archein (“começar”, “ser o primeiro” e, finalmente, “governar”) e pratein 
(“atravessar”, “realizar” e “acabar”) correspondem os dois verbos latinos agere (“pôr em movimento”, “guiar”) 
e gerere (cujo significado original é “conduzir”). É como se toda ação estivesse dividida em duas partes: o co-
meço, feito por uma só pessoa, e a realização, à qual muitos aderem para “conduzir”, “acabar”, levar a cabo o 
empreendimento. Não só as palavras se correlacionam de modo análogo, como a história do seu emprego é 
também semelhante. Em ambos os casos, as palavras que originalmente designavam apenas a segunda parte 
da ação, ou seja, sua realização – pratein e gerere – passaram a ser os termos aceitos para designar a ação em 
geral, enquanto as palavras que designavam o começo da ação ganharam significado especial, pelo menos na 
linguagem política. Archein passou a significar, principalmente, “governar” e “liderar”, quando empregada de 
maneira específica, e agere passou a significar “liderar”, ao invés de “pôr em movimento”. 
Desse modo, o papel do iniciador e líder, que era um primus inter pares [...], passou a ser o papel do go-
vernante; a interdependência original da ação – a dependência do iniciador e líder em relação aos outros no 
tocante a auxílio, e a dependência de seus seguidores em relação a ele no tocante a uma oportunidade de agir 
– dividiu-se em duas funções completamente diferentes: a função de ordenar, que passou a ser a prerrogativa 
do governante, e a função de executar, que passou a ser o dever dos súditos. O governante está só, isolado 
contra os outros por sua força tal como o iniciador estava, a princípio isolado por sua própria iniciativa, até 
encontrar a adesão dos outros. Contudo, a força do iniciador e líder reside apenas em sua iniciativa e nos riscos 
que assume, não na realização em si. No caso do governante bem-sucedido, ele não pode reivindicar para si 
aquilo que, na verdade, é a realização de muitos [...]. Através dessa reivindicação, o governante monopoliza, 
por assim dizer, a força daqueles sem cujo auxílio ele jamais teria realizado coisa alguma. E assim surge a ilusão 
de força extraordinária e, com ela, a falácia do homem forte que é poderoso por estar só.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Tradução de Roberto Raposo. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. p. 201-203.
primus inter pares: expressão latina que pode ser traduzida como “o primeiro entre iguais”.
1. Hannah Arendt afirma que “estar isolado é estar privado da capacidade de agir”. Você concorda com essa afirmação? Por quê?
Pessoal. O aluno deve apresentar argumentos para defender seu ponto de vista. 
2. Pesquise aspectos da biografia de um grande líder político, historicamente reconhecido. Em seguida, relacione a 
atuação dele com o conceito de liderança, associada à possibilidade de ação, de acordo com as ideias de Arendt.
Reflexão em ação
11 Orientações para a resposta.
24 Volume 8
Poder disciplinador e biopoder
No século XX, o filósofo francês Michel Foucault apontou duas formas assumi-
das pelo poder a partir da Modernidade e que se desenvolveram amplamente no 
mundo contemporâneo, com grandes reflexos sobre a vida humana: o poder dis-
ciplinador e o biopoder. Estes foram fundamentados no saber científico, aplicado 
para investigar de modo profundo a intimidade humana. 
Segundo Foucault, o poder disciplinador é aquele que possibilita subjugar o cor-
po e os desejos dos indivíduos, fixando padrões de normalidade e tratando clinica-
mente os comportamentos que se desviem desses padrões. Nesse sentido, o filósofo 
afirmava que a loucura, padrão de comportamento considerado anormal, é um con-
ceito que se contrapõe ao ideal de ser humano racional, estabelecido na Modernida-
de. De acordo com esse conceito, quem não se enquadrasse nos comportamentos 
socialmente convencionados e bem-aceitos receberia o rótulo de doente. Além disso, 
a eficiência do poder disciplinador seria garantida por um conjunto de dispositivos 
para propiciar a vigilância e o controle social, em nome da normalidade e da verdade, conforme os padrões sociais e cul-
turais estipulados. Ao mencionar esses dispositivos, Foucault retomou o conceito de pan-óptico, proposto no século XVIII 
pelo filósofo e jurista inglês Jeremy Bentham.
Quanto ao biopoder, Foucault destacou o fato de ele possibilitar o controle das populações, abordando o ser hu-
mano como ser vivo e envolvendo a própria vida em uma complexa teia, constituída pela relação entre o saber e o 
poder. Nesse contexto, o biopoder exerceria controle sobre questões ligadas aos nascimentos, às mortes e à saúde 
dos membros de uma população. Além disso, o filósofo denunciou que o poder se encontra diluído por toda a parte, 
assumindo diversas formas, às quais denominava micropoderes. Assim, ele não acreditava na possibilidade de derrubar 
o poder “em bloco”, tal como previra Marx. De acordo com Foucault, os indivíduos deveriam agir de modo a minar os 
micropoderes, ao estabelecer focos de resistência onde quer que percebessem tentativas de controle e de normaliza-
ção de comportamentos, assumindo, assim, a liberdade para constituir suas próprias subjetividades.
12 Sugestão de leitura.
 Perpassando a História, a Psicologia 
e a Filosofia, a obra de Michel 
Foucault ressaltou as relações entre 
o ideal moderno de razão e o poder.
Para ler e refletir
No texto a seguir, Foucault discorre sobre os conceitos de poder disciplinador e biopoder.
Concretamente, esse poder sobre a vida desenvolveu-se a partir do século XVII, em duas formas princi-
pais [...], dois polos de desenvolvimento interligados por todo um feixe intermediário de relações. Um 
dos polos, o primeiro a ser formado, ao que parece, centrou-se no corpo como máquina: no seu ades-
tramento, na ampliação de suas aptidões, na extorsão de suas forças, no crescimento paralelo de sua uti-
lidade e docilidade, na sua integração em sistemas de controle eficazes e econômicos – tudo isso assegura-
do por procedimentos de poder que caracterizam as disciplinas: anatomopolítica do corpo humano. 
O segundo, que se formou um pouco mais tarde, por volta da metade do século XVIII, centrou-se no corpo-
-espécie, no corpo transpassado pela mecânica do ser vivo e como suporte dos processos biológicos: a pro-
liferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a duração da vida, a longevidade, com todas as 
condições que podem fazê-los variar; tais processos são assumidos mediante toda uma série de intervenções e 
controles reguladores: uma biopolítica da população. As disciplinas do corpo e as regulações da população
anatomopolítica do corpo: política relacionada ao poder disciplinador.
biopolítica da população: política relacionada ao biopoder.
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constituem os dois polos em torno dos quais se desenvolveu a organização do poder sobre a vida. A instalação 
– durante a época clássica, desta grande tecnologia de duas faces – anatômica

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