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MÓDULO – FUNDAMENTOS DE SAÚDE DISCIPLINA - ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO SUS AULA 06 – PLANEJAMENTO E FINANCIAMENTO DO SUS PROFESSORA TANIA MARIASANTOS PIRES Introdução: Quem paga a conta? Como fazer para fechar esta conta? São perguntas que fazemos na nossa rotina diária. Qualquer pessoa, família ou empresa terá que conviver com as questões financeiras que envolvem seus projetos e sonhos. Para que estes projetos sejam bem sucedidos, há necessidade de se fazer um bom planejamento de ações e de custos. Imagine então esta mesma regra aplicada na dimensão de um sistema de saúde de um país continental como o nosso. Hoje vamos estudar este tema e discutir as estratégias de planejamento e financiamento do SUS. Contextualizando: O desenvolvimento tecnológico na saúde trouxe muitos ganhos no desenvolvimento de diagnóstico e das intervenções médicas, sobretudo no campo da cirurgia. Neste aspecto o aparato médico hospitalar não cessa de avançar, tornando o diagnóstico mais preciso e seguro para médicos e pacientes, muito diferente da medicina quase artesanal das primeiras décadas do século XX. Quando vemos as fotografias que retratam uma cirurgia na década de 30 e uma sala cirúrgica dos tempos atuais, não há como não sentir-se impactado com as diferenças, porém estes avanços também significam maior custo para o sistema de saúde e devem ser utilizados com critério. Para exercer um bom controle de custos, contamos hoje com um importante instrumento que a informatização do sistema de saúde. Os dados ajudam os gestores no diagnóstico do serviço, permitindo a verificação de pontos de estrangulamento, fazer a detecção de desperdícios, subsidiando o gestor na tomada de decisão e planejamento das ações, além de corrigir procedimentos que prejudiquem os serviços de saúde. Portanto um bom planejamento é fundamental para a melhoria na qualidade de vida da população. No intuito de normalizar este planejamento e torna-lo mais hegemônico nos municípios, o Ministério da Saúde publicou a portaria 399 de 22 de fevereiro de 2006 para divulgar o pacto pela saúde. “O Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS pactuado entre as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios) com o objetivo de promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior eficiência e qualidade das respostas do Sistema Único de Saúde. Ao mesmo tempo, o Pacto pela Saúde redefine as responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da população e na busca da equidade social” (BRASIL, 2006). O pacto pela saúde surge das necessidade dos municípios de discutir o formato de repasse de recursos da união e definir as responsabilidades financeiras de cada nível de gestão, porém o seu principal objetivo era a consolidação do SUS, estabelecendo as ações prioritárias e as formas de financiamento de cada uma delas. Três blocos foram formatados dentro deste acordo : O pacto em defesa do SUS, o pacto pela vida e o pacto de gestão. O pacto em defesa do SUS reafirma o compromisso do estado com o provimento das ações de saúde e o direito do cidadão de ter acesso a todos os serviços de saúde dos quais necessitar. Como estratégia para alcançar esta meta, acentuou-se a pressão para a aprovação da emenda constitucional numero 29, pelo congresso nacional, que mudaria a forma de provimento para o setor saúde. O pacto pela gestão traz as definições dos investimentos financeiros de cada nível de gestão, mediante acordos entre a federação, estados e municípios, sobre os percentuais de investimentos e quais seriam suas responsabilidades nas diversas ações de saúde . A inclusão dos estados e municípios aconteceria por meio de adesão voluntária do município ou estado, mediante assinatura do termo de compromisso de gestão. A tão sonhada aprovação pelo congresso nacional da emenda constitucional número 29, promulgada em setembro de 2000, somente aconteceu em setembro de 2011, e tornou-se um importante instrumento legal de gestão. Esta lei determina que os municípios deverão aplicar 15% de suas receitas no setor da saúde, os estados 12% e o governo federal deve aplicar o valor empenhado no exercício financeiro anterior, acrescido do percentual relativo à variação do Produto Interno Bruto (PIB) . A forma como ficou aprovada esta lei, no quesito de investimentos do governo federal, não agradou a todos os segmentos. Há vários grupos sociais que compõem os conselhos de saúde que defendem a fixação de um percentual mínimo de investimentos por parte do governo, como estava na proposta original da emenda , que definia o investimento federal em 10% acrescido da variação do PIB. Apesar de tudo, a aprovação da lei trouxe avanços no aporte de recursos para a saúde porque delimitou os gastos da saúde apenas com as despesas especificas do setor. Na formatação anterior, os recursos da saúde poderiam ser usados em investimentos de outros setores, que apesar de serem igualmente importantes para a sociedade e com interface com a saúde, limitavam os investimentos específicos pelo desvio das verbas para outros setores . Exemplo desse desvio, era o investimento do dinheiro da saúde em esgoto, na merenda escolar, na alimentação de presidiários. Apesar de importantes, estes setores tem orçamentos próprios e deveriam demandar recursos de suas pastas correspondentes. Os principais destaques do pacto de gestão são a definição financeira das responsabilidades, o monitoramento das ações implementadas e as auditorias. Ordenar ações e atividades; Monitorar as ações de saúde; Estabelecer metas que permitam avaliação contínua através dos indicadores de saúde (BRASIL 2006) . O Pacto pela Vida é constituído por um conjunto de compromissos sanitários, expressos em objetivos e metas, derivados da análise da situação de saúde da população e das prioridades definidas pelos governos federal, estaduais e municipais. O Pacto pela vida deverá ser permanente (BRASIL, 2006). As principais ações de saúde pactuadas foram: 1- Pacto da Atenção Básica (ou Atenção Primária) Ações de Saúde da Criança Ações de Saúde da Mulher Controle da Hipertensão Controle da Diabetes Controle da Tuberculose Eliminação da Hanseníase Saúde Bucal Gerais (ampliação da cobertura ESF) 2- saúde do trabalhador 3- saúde mental 4- fortalecimento da capacidade resposta do sistema de saúde às pessoas com deficiência 5- atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência 6- saúde do homem 7- Fortalecer a capacidade de resposta às doenças emergentes e as endemias (dengue, hanseníase, tuberculose, malária; 8- Promoção de Saúde 9- Fortalecimento da APS Resultados de levantamentos e pesquisas em saúde justificam a escolha das prioridades. O pesquisador Dr. Eugenio Vilaça Mendes fez um levantamento das 10 maiores causas de internação no país entre agosto de 2004 e julho de 2005. O resultado mostrou 13 causas de maior prevalência pelo fato de 3 doenças ficarem empatadas. O destaque nesta pesquisa é notar-se que entre as 13 causas, pelo menos 10 causas seriam modificáveis com um bom trabalho de atenção primária à saúde. Analise a situação de um paciente que fumou durante 30 anos e agora encontra-se com insuficiência respiratória crônica, diagnosticada como Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC). Este paciente cursa com diversas internações e, provavelmente em algum momento da evolução de sua doença vai precisar de oxigenação contínuo em domicílio. Imagine o custo que a doença do paciente vai trazer ao sistema de saúde. Porém esta situaçãopoderia ser evitada se houvesse mais investimentos em ações preventivas e de promoção de saúde, investir em ações educativas para desestimular o início do tabagismo, abordagens aos fumantes no intuito de conseguir a interrupção do tabagismo antes que se instale a insuficiência respiratória, dando suporte medicamentoso e emocional aqueles que desejam parar de fumar. Mesmo que estas ações sejam custosas ao estado, ainda assim serão incomparavelmente menores do que o ônus pessoal, emocional, social e financeiro que o agravamento da doença provoca. A fonte de receita do SUS está garantida através das receitas da união, estados e munícipios, cujas fontes estão nos diversos impostos e taxas cobradas dos contribuintes, portanto todos os brasileiros pagam pelo sistema único de saúde e têm o direito de utiliza-lo nas suas várias ações e serviços. Apesar de haver ainda um longo caminho a percorrer, o pacto pela saúde já pode comemorar alguns bons resultados. O país avançou nos indicadores de saúde e estamos a caminho de outras importantes metas também pactuadas em nível internacional como a redução ainda maior da mortalidade infantil. Os resultados deste indicador ainda são desiguais. A questão das desigualdades regionais ainda é muito forte no país com grandes diferenças entre os estados do norte /nordeste e o bloco sul/sudeste tanto nos indicadores de saúde como sociais, além da estrutura dos serviços de saúde. Neste aspecto, a existência de um pacto norteador de ações em âmbito nacional é um grande passo para diminuir essas desigualdades. Resultados positivos: • Diminuição significativa da mortalidade infantil • Ampliação do numero de consultas de pré-natal • Diminuição da desnutrição • Aumento da adesão à vacinação • Em 2005 o Brasil interrompeu a transmissão do cólera; • Em 2006 o Brasil interrompeu a transmissão vetorial do chagas; • Em 2007 eliminamos o sarampo; • Em 2009 eliminamos a rubéola; • Foram reduzidas as mortes de outras 11 doenças transmissíveis, como tuberculose, hanseníase, malária e Aids. • As políticas brasileiras de saúde também reforçam a luta contra o tabaco e nos últimos anos reduziram em 15% o percentual de fumantes no país (precisamos reduzir muito mais, principalmente nos estados do sul). Os bons resultados alcançados servem para mostrar que estamos no caminho certo do planejamento de ações e gestão financeira. Mas desafios importantes precisam ser vencidos e grandes barreiras ultrapassadas para que cheguemos na estruturação de um sistema público de saúde que seja adequado e de confiança dos cidadãos brasileiros. Na questão financeira, a grande barreira é a corrupção que desvio os recursos, que já não são suficientes para a manutenção. Combater a corrupção , extirpa-la da cultura social onde ela subsiste como natural desde os tempos do descobrimento é um desafio para toda a sociedade . Esta situação jamais será resolvida no país se princípios éticos sociais não forem revistos no consciente coletivo da sociedade. Se desde cedo educarmos nossos filhos com princípios de ética eles vão entender que colar na escola não é natural, traição conjugal não é natural e corrupção na politica não é natural. A prevenção é de fato a única estratégia eficiente. Pesquisa Diversos grupos que trabalham com o controle social estão se movimentando no intuito de modificar o compromisso financeiro da união com o SUS. Um destes movimentos é o “saúde mais 10” que defende que o governo tenha um investimento mínimo fixo em saúde, que correspondesse a 10% do PIB. Conheça mais sobre estas reivindicações , assistindo as entrevistas com os lideres deste movimento e outras pessoas envolvidas, no link http://pensesus.fiocruz.br/financiamento . Trocando Ideias. Sabemos que o dinheiro que financia o sistema único de saúde sai do bolso de todos os brasileiros através de taxas e impostos. Já passamos pela Contribuição Provisória Sobre Contribuição Financeira (CPMF), que ficou conhecida como o Imposto do Cheque, com a justificativa de aumentar os recursos para a saúde, mas percebemos que tais serviços ainda não chegaram a todos os brasileiros. Como você poderia contribuir para a fiscalização destes serviços e da aplicação dos recursos do seu município? Discuta este assunto com o seus colegas. Síntese Estudamos hoje sobre o planejamento e sobre o financiamento do SUS; Vimos que o custo da saúde aumentou devido o aparato tecnológico necessário aos grandes hospitais, diferente da medicina artesanal do inicio do século. Estudamos o pacto pela saúde nos seus 3 grandes blocos de ação. Entendemos que os objetivos principais do pacto de gestão é criar um modelo que possa ser aplicado em todos os municípios brasileiros. O pacto de gestão está apoiado na emenda constitucional 29 que define os compromissos financeiros de cada nível de gestão. Há prioridades a serem seguidas e estas obedecem a lógica do maior resultado com menor custo. O pacto pela vida elenca ações prioritárias a serem implementadas em todos os municípios. O pacto pela vida é de caráter permanente. Bons resultados já apareceram desde a implantação do SUS e do pacto pela saúde.
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