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CAPÍTULO III DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE Dano x Perigo Crimes de dano, que são aqueles em que ocorre efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. Ex.: Art. 121-CP, homicídio. b) Crimes de perigo, que se caracterizam pela mera possibilidade de dano, bastando, portanto, que o bem jurídico tutelado seja exposto a uma situação de risco; já em relação ao dolo, basta que o agente tenha a intenção de expor a vítima a tal situação de perigo. Ex.: Art. 133-CP, abandono de incapaz. o crime de perigo é um degrau antecedente do crime de dano. Dano x -Pune-se a conduta perigosa a fim de que se possa no futuro evitar o dano. Poder-se-ia punir apenas quando efetivamente a vítima viesse a ser contagiada, porém o legislador penal preferiu punir o mero perigo de dano a fim de coibir a realização da conduta capaz de provocar dano. -Os crimes de perigo são subsidiários em relação aos crimes de dano, uma vez ocorrido o dano, o crime de dano absorve o de perigo. Perigo de contágio venéreo Professor Bruno Marques Castanhal, 2017 Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. § 2º - Somente se procede mediante representação. Noção: o referido artigo contém três figuras: a) o agente sabe estar contaminado (caput, 1ª Parte). b) o agente não sabe, mas devia saber achar-se contaminado (caput, 2ª parte). c) sabe e tem a intenção de transmitir a moléstia (§ 1º do art. 130). 2) Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. 3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, portador de moléstia venérea. 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher. 5) Tipo objetivo: a ação de expor deve ser praticada mediante relações sexuais (cópula, conjunção carnal normal), ou qualquer ato libidinoso (qualquer ação atentatória ao pudor, praticada com o fim de satisfazer a própria concupiscência, ou por lascívia) capaz de produzir o contágio. 6) Tipo subjetivo: será diverso em cada uma das três figuras: Caput 1ª parte: dolo de perigo direto. Caput, 2a. parte: dolo eventual. §1º, art. 130: dolo de dano direto. 7) Consumação e tentativa: consuma-se com a prática do ato sexual (crime instantâneo), independentemente do efetivo contágio que, se ocorrer, será simples exaurimento do delito. É possível, em tese, a tentativa. 8) Ação penal: pública condicionada à representação. Perigo de contágio de moléstia grave Professor Bruno Marques Castanhal, 2017 Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. Sujeito ativo: próprio, homem ou mulher, contaminada por moléstia grave. Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que não esteja contaminado. Tipo objetivo: praticar ato capaz de produzir o contágio. Trata-se de forma livre, que abrange qualquer ato, desde que idôneo a transmitir a doença; a conduta pode ser direta ou indireta. O perigo deve ser iminente. Tipo subjetivo: dolo de dano (direto e não eventual) e elemento subjetivo do tipo (especial fim de agir): “com o fim de transmitir”. É o dolo específico da doutrina tradicional. Não há forma culposa. 6) Consumação e tentativa: consuma-se com ato capaz de contagiar, sendo indiferente que a transmissão ocorra. A tentativa é possível teoricamente. 7) Ação penal: pública incondicionada. Perigo para a vida ou saúde de outrem Professor Bruno Marques Castanhal, 2017 Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Bem jurídico: a vida e a saúde da pessoa humana. Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa, mas deve haver uma vítima determinada. Tipo objetivo: a conduta é expor a perigo e o comportamento pode ser comissivo ou omissivo. O perigo deve ser direto e iminente. Tipo subjetivo: dolo de perigo (direto ou eventual). Consumação e tentativa: na efetiva superveniência de perigo para a vida ou para a saúde da vítima. Admite-se a tentativa. Aumento de pena: há aumento de pena de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Ação penal: pública incondicionada. Abandono de Incapaz Professor Bruno Marques Castanhal, 2017 Abandono de incapaz Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de seis meses a três anos. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Aumento de pena § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos ELEMENETOS DO TIPO * O ato de abandonar: Abandonar tem sentido de deixar a própria sorte, desamparar, deixar só, o agente afasta-se da pessoa que estava sob sua guarda, proteção, vigilância ou autoridade. Pessoa que está sob cuidado, guarda, vigilância ou autoridade do agente: Cuidado: é a assistência eventual. Ex.: o enfermeiro que cuida de portador de doença grave. Guarda: é a assistência duradoura. Ex.: menores sob a guarda dos pais. Vigilância: é a assistência acauteladora. Ex.: guia alpino em relação ao turista. Autoridade: é o poder de uma pessoa sobre outra, podendo de ser direito público ou privado”. Ex.: Carcereiro em relação ao preso. ELEMENETOS DO TIPO Incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: A incapacidade pode ser absoluta (criança de colo) ou relativa, durável (paralíticos) ou temporária (embriaguez). Ex.: Comete o crime o pai que deixa filho de 3 anos em carro para ir conversar com amigos. IMPORTANTE: o abandono pode ser temporário ou definitivo. Sua duração é indiferente, desde que seja por espaço de tempo juridicamente relevante (capaz de pôr em risco o bem jurídico tutelado) (FRAGOSO). OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO Objeto material: A pessoa que sofre o abandono. Ação penal: pública incondicionada. Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde. Sujeito ativo: Crime próprio: somente quem está obrigado a cuidar da vítima, a guardá-la, vigiá-la ou tê-la sob sua autoridade. IMPORTANTE: A pessoa que não tem a vítima sob seus cuidados e a encontra em situação de abandono, mas não lhe presta assistência, comete delito de omissão de socorro. Sujeito passivo: É a pessoa que está sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade desde que incapacitada para defender-se dos riscos do abandono. CONSUMAÇÃO E TENTAIVA Consumação: consuma-se no momento em que o abandono produza efetiva situação de perigo concreto para a vítima(GRECO). Pressuposto do crime em análise é a ocorrência de perigo concreto, efetivo, como consequência do abandono (GONÇALVES). IMPORTANTE: mesmo que o agente, posteriormente, reassuma o dever de assistência, o delito jáestará consumado Tentativa: se o abandono não trouxer nenhum perigo concreto, fica na esfera da tentativa. Dolo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. Culpa: Não se admite a modalidade culposa. Ex.: Pai esquece filho em local por tempo suficiente para a configuração do tipo. (conduta atípica por ausência do elemento subjetivo) IMPORTANTE: Não há crime quando é o próprio assistido quem se afasta sem que o agente perceba o ocorrido. ELEMENTO SUBJETIVO COMISSÃO E OMISSÃO *Comissão: O verbo do núcleo “abandonar” pressupõe um comportamento tanto comissivo quanto omissivo. O agente pode abandonar a vítima levando-a a algum lugar (comissão) ou deixando-a no lugar onde se encontra (omissão). Obs.: Se o crime for cometido na modalidade comissiva, cabe omissão imprópria. § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a cinco anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Obs.: Ambas as qualificadoras são preterdolosas, dolo no abandono e culpa no resultado mais gravoso. MODALIDADE QUALIFICADA Causas de aumento de pena § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos Lugar ermo: lugar abandonado, deserto. O abandono praticado nestas condições aumentam a probabilidade resultar em dano à saúde ou a vida da vítima. Inciso II: Maior reprovabilidade pelo laço afetivo. União estável não entra como cônjuge, não se permite analogia in malam partem. Maior de 60 anos: Influência do estatuto do idoso. Obs.: Mesmo que incida mais de uma majorante, aumenta-se apenas 1/3. Art. 134- Exposição ou abandono de recém nascido Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. -Trata-se de uma modalidade especial de abandono de incapaz, uma vez que o recém-nascido é incapaz. A situação de exposição ou abandono: Aqui não há diferença de sentido entre expor e abandonar (GRECO). A condição de recém-nascido: Aquele que acabou de nascer; Aquele que possui poucas horas ou mesmo alguns dias de vida. Não inclui o bebê que já tem meses. Elementos do tipo Ocultar desonra própria: Trata-se do especial fim de agir com que atua a mãe. A honra que o agente visa preservar é a de natureza sexual, a boa fama, a reputação. Quando o fato já é conhecido da coletividade, não há como se ocultar desonra própria, configurando o abandono o crime do art. 133 do CP. Ex.: Por isso, se todos viram uma mulher solteira grávida durante o período gestacional, não há que cogitar de ocultação de desonra após o nascimento. Haverá, todavia, o crime, se ela havia conseguido esconder a gravidez, com uso de roupas largas ou mudando-se de cidade. Mãe deseja ocultar a gravidez para que sua honra não seja maculada. Ex.: Gravidez de mãe solteira (era algo severo no passado). Elementos do Tipo *Objeto material: O recém-nascido abandonado. Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde do recém-nascido. Sujeito ativo: Crime próprio: somente a mãe. O crime pode ser cometido por mãe solteira ou casada, que concebeu fora do casamento, e que venha a abandonar o recém-nascido para ocultar a própria desonra. Sujeito passivo: É o recém-nascido. Consumação: consuma-se no momento em que o abandono produza efetiva situação de perigo concreto para o recém-nascido. Tentativa: se o abandono não trouxer nenhum perigo concreto, fica na esfera da tentativa. Ex.: Mãe que abandonou o neonato próximo à uma creche, não vindo este a correr perigo à sua vida ou saúde por ter sido encontrado por funcionárias da creche. Dolo: - O elemento subjetivo é o dolo, o desejo consciente de abandonar, o abandono pode ser temporário desde que tempo suficiente para por em risco a vida ou a saúde do recém-nascido. Há um dolo específico que é o de ocultar desonra própria. Obs.: Se a causa do abandono for miséria, excesso de filhos ou outra, o crime será também o de abandono de incapaz do art. 133 do Código Penal, delito que também ocorrerá se o agente não for pai nem mãe da vítima. Culpa: Não se admite a modalidade culposa. ELEMENTO SUBJETIVO COMISSÃO E OMISSÃO *Comissão: Os verbos do núcleo “expor” ou “abandonar” pressupõe um comportamento tanto comissivo quanto omissivo. O agente pode abandonar a vítima levando-a a algum lugar (comissão) ou deixando-a no lugar onde nasceu, no ermo (omissão). Obs.: Se o crime for cometido na modalidade comissiva, cabe omissão imprópria. * Ação Penal: pública incondicionada. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de um a três anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - detenção, de dois a seis anos. Obs.: Ambas as qualificadoras são preterdolosas, dolo na exposição ou abandono e culpa no resultado mais gravoso. MODALIDADE QUALIFICADA Art. 135- Omissão de Socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal: O núcleo deixar tem sentido de não fazer algo, não prestar assistência, não ajudar quando possível fazê-lo sem risco pessoal. IMPORTANTE: Se a prestação de socorro implicar produção de risco à terceira pessoa, a omissão não constituirá crime. Ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: A elementar do tipo traduz a possibilidade de um comportamento alternativo, ou o agente presta ele próprio o socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, ou, diante do risco, pode optar por procurar socorro à autoridade pública (quem tem o dever legal de afastar o perigo: bombeiro, policial...). Obs.: Não cabe ao agente optar por uma ou outra hipótese, é a situação que determina. Elementos do Tipo À criança abandonada ou extraviada: Criança, segundo o ECA, é quem ainda não completou 12 anos. Criança abandonada: É aquela que, propositadamente, foi deixada por seus responsáveis e que, assim, está entregue a si mesma, sem poder prover a própria subsistência. Criança extraviada: É aquela que se perdeu, ou seja, que não sabe retornar ao local onde estão seus responsáveis. Elementos do Tipo À pessoa inválida ou ferida, ao desamparo: Pessoa inválida, ao desamparo: Inválida é a pessoa que não pode valer de si própria para a prática dos atos normais dos seres humanos. Pode decorrer de defeito físico, de idade avançada, de doença etc. A pessoa deve, ainda, estar ao desamparo, ou seja, impossibilitada de se afastar de situações de perigo por suas próprias forças e sem contar com a assistência de outra pessoa. Pessoa ferida: É aquela que está lesionada, de forma acidental ou por provocação de terceiro, e que está desamparada. Obs.: Em ambos os casos a vítima deve estar desamparada. Obs.: Grave e iminente perigo é a ameaça atual à vida ou à integridade física da vítima. Elementos do Tipo Pessoa em grave e iminente perigo: Nos termos do texto legal, o perigo a que a vítima está submetida deve ser de grandes proporções e estar prestes a desencadear o dano. Ex.: pendurada em um abismo ou isolada em uma grande enchente, no interior de uma casa na encosta de um morroprestes a desabar etc. Obs.: Mesmo que a vítima não queira ser socorrida, haverá o crime se o agente não lhe prestar socorro ou não acionar as autoridades, já que a vida e a incolumidade física são bens indisponíveis. Não haverá crime de omissão de socorro se a oposição da vítima inviabilizar a sua prestação. Elementos do Tipo OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO Objeto material: A criança abandonada A criança extraviada. A pessoa inválida desamparada. A pessoa ferida desamparada. A pessoa em grave e iminente perigo (não necessita ser inválida ou ferida (Capez). Bem juridicamente protegido: - A vida e a saúde da vítima. SUJEITO ATIVO E PASSIVO Sujeito ativo: Crime comum: pode ser realizado por qualquer pessoa que não goze do status de garantidor. “Infringe o disposto no art. 135, parágrafo único, do CP, aquele que se recusa a transportar em seu veículo, para ser socorrida, pessoa gravemente ferida e que, logo após, vem a falecer” (Tacrim-SP — RT -522/397). Sujeito passivo: Sujeito passivo próprio (Capez): A criança abandonada ou extraviada. (perigo presumido) Pessoa inválida ou ferida: não importando idade. (perigo presumido) A pessoa em iminente perigo. (perigo in concreto: deve-se demonstrar que a pessoa estava em situação de perigo) Consumação: consuma-se no momento em que a inação do agente trouxer efetivo perigo à vida ou à saúde da vítima. Tentativa: Não é possível em crimes omissivos próprios, pois se o sujeito se omite, o crime se consuma, se não se omite, realiza a conduta mitigando a omissão. “o crime de omissão de socorro constitui infração instantânea, que não admite tentativa, consumando-se no instante em que o sujeito omite a prestação de socorro” (Tacrim-SP —Jutacrim 35/152). Dolo: O elemento subjetivo é o dolo de perigo direto ou eventual. Culpa: Não se admite a modalidade culposa. Omissivo próprio: O tipo penal é omissivo próprio. Ação penal: De iniciativa pública incondicionada Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. -O resultado qualificador é preterdoloso. -O resultado qualificador é um dano concreto. Obs.: Somente serão aplicadas as qualificadoras se ficar provado que, caso o agente tivesse socorrido a vítima, poderia ter-se evitado a ocorrência do resultado agravador. “ainda que a morte da vítima não resulte da omissão de socorro, é suficiente para que se configure o delito em sua forma qualificada, que se comprove que a atuação do sujeito ativo poderia evitar o resultado, tanto mais tratando-se o agente de médico no exercício dessa atividade” (Tacrim-SP — RT 636/301). CAUSAS DE AUMENTO DE PENA Art. 135- A. Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. O tipo surgiu para coibir a prática comum de exigir caução como condição para atendimento médico. Trata-se de forma especial de Omissão de Socorro. Infelizmente, é comum pessoas que se encontram gravemente enfermas ou acidentadas verem protelado o atendimento médico de emergência em hospitais ou clínicas da rede privada, caso não assinem documento se comprometendo a pagar pelo atendimento. A falta de socorro nesses casos já configuraria o crime de omissão de socorro. O legislador, contudo, aprovou a Lei n. 12.653, publicada em 29 de maio de 2012, a fim de evitar a própria exigência da assinatura do cheque caução, da nota promissória ou de outra garantia como condição para o atendimento, e, assim, tipificou tais condutas como crime no art. 135-A do Código Penal (GONÇALVES). Generalidades OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO Objeto material: A pessoa em estado de emergência. A pessoa de quem é exigida a caução. Bem juridicamente protegido: - A vida e a saúde da vítima. SUJEITO ATIVO E PASSIVO Sujeito ativo: Crime próprio Só pode ser realizado por quem tenha autoridade para impedir o tratamento condicionando-o à garantia de pagamento ou preenchimento prévio de formulário administrativo (administradores da unidade hospitalar) (GRECO). Somente os funcionários e responsáveis pela recepção em hospital ou clínica de atendimento emergencial, além de seus superiores que tenham determinado que assim agissem (chefe de serviço, diretores do hospital, proprietários). Obs.: Se os médicos se recusam a prestar o atendimento, incorrem em crime de omissão de socorro (GONÇALVES). Sujeito passivo: A pessoa em estado de emergência (GRECO). A pessoa de quem é exigida a caução ou promissória e aquela que necessita do atendimento Emergencial (GONÇALVES). Consumação: -Com a simples exigência da garantia ou do preenchimento do formulário, ainda que a vítima venha a ser posteriormente atendida (GONÇALVES). -Consuma-se no momento da exigência da garantia ou burocracia impedindo o atendimento emergencial (GRECO). Tentativa: - É possível por ser crime plurissubsistente (CAPEZ). -Não é possível, por ser crime instantâneo (GONÇALVES). Ação penal: De iniciativa pública incondicionada Comissivo: O tipo penal é comissivo, admite apenas a omissão imprópria. Dolo: O elemento subjetivo é o dolo. Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. -O resultado que aumenta a pena é a título de preterdolo. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA Art. 136. Maus Tratos Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa: Sob sua autoridade, guarda ou vigilância: Autoridade: estabelece uma relação de poder entre os indivíduos. Guarda: é a assistência a pessoa que não prescinde dela. Vigilância: zelo pela segurança pessoal, é compreendida pela guarda. Para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia: Especial fim de agir daquele que tem a autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima. O agente maltrata para educar, ensinar, tratar ou custodiar. Sem esse fim especial o tipo desqualifica para outro tipo penal. Tratamento: não são apenas os cuidados clínicos e assistência ao doente, alcança também a necessidade de prover as necessidades de subsistência da pessoa. Custódia: É a detenção de alguém em razão de motivos que a lei autoriza. Elementos do Tipo Meios de execução de maus tratos Privação de alimentação: A lei se refere a vítimas que não têm condições de obter o próprio alimento, de modo que o agente comete o crime deixando de alimentar a pessoa que está sob sua guarda, autoridade ou vigilância. Privação dos cuidados indispensáveis: Cuidados indispensáveis são cuidados mínimos relativos à acomodação, vestuário, higiene, assistência médica e odontológica dentro das possibilidades. Ex.: O fato de não higienizar pessoa que está sob sua guarda pode, por exemplo, provocar-lhe doenças, assaduras, brotoejas na pele etc. Sujeição a trabalhos excessivos: A vítima trabalha além de suas forças, alémdo padrão de normalidade atribuído às pessoas. Diz respeito ao tempo de trabalho. Meios de execução de maus tratos Sujeição a trabalhos inadequados: - Trabalho inadequado é aquele impróprio ou inconveniente às condições de idade, sexo, desenvolvimento físico da vítima etc. Diz respeito à qualidade do trabalho. Ex.: Pai que para ensinar ao filho, de 10 anos, o valor do trabalho, o põe para carregar saco de cimento de 50 Kg. Abuso nos meios de correção ou disciplina: -Abusar tem o sentido de ir além do permitido no direito de disciplinar (animus corrigendi ou disciplinandi). EXEMPLOS: “Pratica o delito do art. 136 do CP o agente que agride a filha, desferindo-lhe chineladas no rosto, máxime quando testemunhas afirmem ser tal conduta uma constante” (Tacrim-SP— RJD 22/283); Objeto material: A pessoa contra quem é dirigida a conduta do agente. Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde da vítima. Consumação: consuma-se com a efetiva criação de perigo à vida ou à saúde da vítima, o que deve ser demonstrado no caso concreto. Tentativa: é possível na conduta comissiva por ser crime plurissubsistente. Ex.: Pai que vai corrigir filho com uma barra de ferro, mas é impedido por terceiro. Comissão e omissão: Por ser crime de ação múltipla, o delito de maus-tratos admite tanto a modalidade comissiva quanto a omissiva. Ex. 1: Omissão: Deixar de dar alimento. Ex. 2: Comissão: Abusar nos meios de correção ou disciplina. Ação penal: De iniciativa pública incondicionada SUJEITO ATIVO E PASSIVO Sujeito ativo: Crime próprio: só pode ser realizado por quem tem autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima. “Embora não sendo pai da vítima, pode o amásio de sua mãe figurar como sujeito ativo do delito de maus-tratos se restar comprovado que, na ocasião dos fatos, encontrava-se aquela sob sua autoridade, guarda ou vigilância” (Tacrim- RJD 17/119). Sujeito passivo: Crime próprio: somente aquele que está sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente. A esposa não pode ser vítima de maus tratos, pois não há um vínculo de sujeição jurídica entre ele e o marido, o que é exigido pelo tipo. Também não pode ser sujeito do tipo os filhos maiores de 18 anos. Dolo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual. “O agente que coloca crianças que estão sob sua guarda, sem camisa, sobre formigueiro, com o fim de corrigi-las, comete o crime de maus-tratos, pois o elemento subjetivo do delito abarca a aceitação do risco de exposição a perigo, ou seja, o dolo eventual” (Tacrim-SP –JD 25/271). Apesar de estar em um título de crimes de perigo no crime de maus-tratos, na hipótese de o agente abusar nos meios de correção e disciplina, há crime de dano. Assim o tipo apresenta crime de perigo na primeira parte e crime de dano na última. O que faz a lesão corporal praticada pelo agente ser crime de maus-tratos, é o especial fim de agir: educar, ensinar... Culpa: Não se admite a modalidade culposa. ELEMENTO SUBJETIVO § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. -O resultado que qualifica a pena é preterdoloso. “Se não pretendia o acusado eliminar o filho e tampouco assumiu o risco de fazê-lo, mas objetivava corrigi-lo, ainda que de forma despropositada, descontrolada e brutal, a ponto de provocar-lhe a morte, deverá responder pelo delito de maus tratos, na forma qualificada (§ 2º do art. 136, do CP), e não por homicídio qualificado” (TJSP —RT 561/328). MODALIDADES QUALIFICADAS Causa de aumento de pena § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos. -Procura punir com maior severidade a conduta praticada contra menor de 14 anos. -Acréscimo legislativo influenciado pelo ECA. Obrigado!
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