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AULA 6 DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

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CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE
Dano x Perigo
Crimes de dano, que são aqueles em que ocorre efetiva lesão ao bem jurídico tutelado. Ex.: Art. 121-CP, homicídio.
b) Crimes de perigo, que se caracterizam pela mera possibilidade de dano, bastando, portanto, que o bem jurídico tutelado seja exposto a uma situação de risco; já em relação ao dolo, basta que o agente tenha a intenção de expor a vítima a tal situação de perigo. Ex.: Art. 133-CP, abandono de incapaz.
o crime de perigo é um degrau antecedente do crime de dano.
Dano x
-Pune-se a conduta perigosa a fim de que se possa no futuro evitar o dano. Poder-se-ia punir apenas quando efetivamente a vítima viesse a ser contagiada, porém o legislador penal preferiu punir o mero perigo de dano a fim de coibir a realização da conduta capaz de provocar dano.
-Os crimes de perigo são subsidiários em relação aos crimes de dano, uma vez ocorrido o dano, o crime de dano absorve o de perigo.
  Perigo de contágio venéreo
Professor Bruno Marques
Castanhal, 2017 
  
        Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
        § 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
        § 2º - Somente se procede mediante representação.
Noção: o referido artigo contém três figuras: 
a) o agente sabe estar contaminado (caput, 1ª Parte). 
b) o agente não sabe, mas devia saber achar-se contaminado (caput, 2ª parte). 
c) sabe e tem a intenção de transmitir a moléstia (§ 1º do art. 130). 
 
2) Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. 
3) Sujeito ativo: qualquer pessoa, homem ou mulher, portador de moléstia venérea. 
 4) Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher. 
5) Tipo objetivo: a ação de expor deve ser praticada mediante relações sexuais (cópula, conjunção carnal normal), ou qualquer ato libidinoso (qualquer ação atentatória ao pudor, praticada com o fim de satisfazer a própria concupiscência, ou por lascívia) capaz de produzir o contágio.
6) Tipo subjetivo: será diverso em cada uma das três figuras: 
Caput 1ª parte: dolo de perigo direto. 
Caput, 2a. parte: dolo eventual. 
§1º, art. 130: dolo de dano direto. 
7) Consumação e tentativa: consuma-se com a prática do ato sexual (crime instantâneo), independentemente do efetivo contágio que, se ocorrer, será simples exaurimento do delito. É possível, em tese, a tentativa. 
8) Ação penal: pública condicionada à representação. 
Perigo de contágio de moléstia grave
Professor Bruno Marques
Castanhal, 2017 
        Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
       
Bem jurídico: a incolumidade física da pessoa. 
Sujeito ativo: próprio, homem ou mulher, contaminada por moléstia grave. 
Sujeito passivo: qualquer pessoa, homem ou mulher, desde que não esteja contaminado.
Tipo objetivo: praticar ato capaz de produzir o contágio. Trata-se de forma livre, que abrange qualquer ato, desde que idôneo a transmitir a doença; a conduta pode ser direta ou indireta. O perigo deve ser iminente. 
Tipo subjetivo: dolo de dano (direto e não eventual) e elemento subjetivo do tipo (especial fim de agir): “com o fim de transmitir”. É o dolo específico da doutrina tradicional. Não há forma culposa. 
6) Consumação e tentativa: consuma-se com ato capaz de contagiar, sendo indiferente que a transmissão ocorra. A tentativa é possível teoricamente. 
7) Ação penal: pública incondicionada. 
 Perigo para a vida ou saúde de outrem
Professor Bruno Marques
Castanhal, 2017 
 
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
        Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
        Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Bem jurídico: a vida e a saúde da pessoa humana. 
Sujeito ativo: qualquer pessoa. 
Sujeito passivo: qualquer pessoa, mas deve haver uma vítima determinada. 
Tipo objetivo: a conduta é expor a perigo e o comportamento pode ser comissivo ou omissivo. O perigo deve ser direto e iminente. 
Tipo subjetivo: dolo de perigo (direto ou eventual). 
 Consumação e tentativa: na efetiva superveniência de perigo para a vida ou para a saúde da vítima. Admite-se a tentativa. 
Aumento de pena: há aumento de pena de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. 
Ação penal: pública incondicionada. 
Abandono de Incapaz
Professor Bruno Marques
Castanhal, 2017 
Abandono de incapaz  
        Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
        Pena - detenção, de seis meses a três anos.
        § 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        Aumento de pena
        § 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
        I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
        II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
        III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
ELEMENETOS DO TIPO
* O ato de abandonar:
Abandonar tem sentido de deixar a própria sorte, desamparar, deixar só, o agente afasta-se da pessoa que estava sob sua guarda, proteção, vigilância ou autoridade.
Pessoa que está sob cuidado, guarda, vigilância ou autoridade do agente:
Cuidado: é a assistência eventual. Ex.: o enfermeiro que cuida de portador de doença grave. 
Guarda: é a assistência duradoura. Ex.: menores sob a guarda dos pais.
Vigilância: é a assistência acauteladora. Ex.: guia alpino em relação ao turista. 
Autoridade: é o poder de uma pessoa sobre outra, podendo de
ser direito público ou privado”. Ex.: Carcereiro em relação ao preso.
ELEMENETOS DO TIPO
Incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
A incapacidade pode ser absoluta (criança de colo) ou relativa, durável (paralíticos) ou temporária (embriaguez).
Ex.: Comete o crime o pai que deixa filho de 3 anos em carro para ir conversar com amigos.
IMPORTANTE: o abandono pode ser temporário ou definitivo. Sua duração é indiferente, desde que seja por espaço de tempo juridicamente relevante (capaz de pôr em risco o bem jurídico tutelado) (FRAGOSO).
OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO
Objeto material: A pessoa que sofre o abandono.
Ação penal: pública incondicionada.
Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde.
Sujeito ativo: Crime próprio: somente quem está obrigado a cuidar da vítima, a guardá-la, vigiá-la ou tê-la sob sua autoridade.
IMPORTANTE: A pessoa que não tem a vítima sob seus cuidados e a encontra em situação de abandono, mas não lhe presta assistência, comete delito de omissão de socorro.
Sujeito passivo: É a pessoa que está sob o cuidado, guarda, vigilância ou autoridade desde que incapacitada para defender-se dos riscos do abandono.
CONSUMAÇÃO E TENTAIVA
Consumação: consuma-se no momento em que o abandono produza efetiva situação de perigo concreto para a vítima(GRECO).
Pressuposto do crime em análise é a ocorrência de perigo concreto, efetivo, como consequência do abandono (GONÇALVES).
IMPORTANTE: mesmo que o agente, posteriormente, reassuma o dever de assistência, o delito jáestará consumado
Tentativa: se o abandono não trouxer nenhum perigo concreto, fica na esfera da tentativa.
Dolo:
O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual.
Culpa:
Não se admite a modalidade culposa.
Ex.: Pai esquece filho em local por tempo suficiente para a configuração do tipo. (conduta atípica por ausência do elemento subjetivo)
IMPORTANTE: Não há crime quando é o próprio assistido quem se afasta sem que o agente perceba o ocorrido.
ELEMENTO SUBJETIVO
COMISSÃO E OMISSÃO
*Comissão: O verbo do núcleo “abandonar” pressupõe um comportamento tanto comissivo quanto omissivo.
O agente pode abandonar a vítima levando-a a algum lugar (comissão) ou deixando-a no lugar onde se encontra (omissão).
Obs.: Se o crime for cometido na modalidade comissiva, cabe omissão imprópria.
§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a cinco anos.
§ 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Obs.: Ambas as qualificadoras são preterdolosas, dolo no abandono e 
culpa no resultado mais gravoso.
 
MODALIDADE QUALIFICADA
Causas de aumento de pena
§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:
        I - se o abandono ocorre em lugar ermo;
        II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima.
        III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos 
Lugar ermo: lugar abandonado, deserto. O abandono praticado nestas condições aumentam a probabilidade resultar em dano à saúde ou a vida da vítima.
Inciso II: Maior reprovabilidade pelo laço afetivo. União estável não entra como cônjuge, não se permite analogia in malam partem.
Maior de 60 anos: Influência do estatuto do idoso.
Obs.: Mesmo que incida mais de uma majorante, aumenta-se apenas 1/3.
Art. 134- Exposição ou abandono de recém nascido
Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra 
própria:
        Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - detenção, de um a três anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.
-Trata-se de uma modalidade especial de abandono de incapaz, uma vez que o recém-nascido é incapaz.
A situação de exposição ou abandono:
Aqui não há diferença de sentido entre expor e abandonar (GRECO).
A condição de recém-nascido:
Aquele que acabou de nascer;
Aquele que possui poucas horas ou mesmo alguns dias de vida. Não
inclui o bebê que já tem meses.
Elementos do tipo
Ocultar desonra própria:
Trata-se do especial fim de agir com que atua a mãe.
A honra que o agente visa preservar é a de natureza sexual, a boa
fama, a reputação. Quando o fato já é conhecido da coletividade, não há como se ocultar desonra própria, configurando o abandono o crime do art. 133 do CP. 
Ex.: Por isso, se todos viram uma mulher solteira grávida durante o período gestacional, não há que cogitar de ocultação de desonra após o
nascimento. Haverá, todavia, o crime, se ela havia conseguido esconder a gravidez, com uso de roupas largas ou mudando-se de cidade.
Mãe deseja ocultar a gravidez para que sua honra não seja maculada.
Ex.: Gravidez de mãe solteira (era algo severo no passado).
Elementos do Tipo
*Objeto material: O recém-nascido abandonado.
Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde do recém-nascido.
Sujeito ativo: Crime próprio: somente a mãe.
O crime pode ser cometido por mãe solteira ou casada, que concebeu fora do casamento, e que venha a abandonar o recém-nascido para ocultar a própria desonra.
Sujeito passivo: É o recém-nascido.
Consumação: consuma-se no momento em que o abandono produza efetiva situação de perigo concreto para o recém-nascido. 
Tentativa: se o abandono não trouxer nenhum perigo concreto, fica na esfera da tentativa.
Ex.: Mãe que abandonou o neonato próximo à uma creche, não vindo este a correr perigo à sua vida ou saúde por ter sido encontrado por funcionárias da creche.
Dolo:
- O elemento subjetivo é o dolo, o desejo consciente de abandonar, o abandono pode ser temporário desde que tempo suficiente para por em risco a vida ou a saúde do recém-nascido.
Há um dolo específico que é o de ocultar desonra própria.
Obs.: Se a causa do abandono for miséria, excesso de filhos ou outra, o crime será também o de abandono de incapaz do art. 133 do Código Penal, delito que também ocorrerá se o agente não for pai nem mãe da vítima.
Culpa:
Não se admite a modalidade culposa.
ELEMENTO SUBJETIVO
COMISSÃO E OMISSÃO
*Comissão: Os verbos do núcleo “expor” ou “abandonar” pressupõe um comportamento tanto comissivo quanto omissivo.
O agente pode abandonar a vítima levando-a a algum lugar (comissão) ou deixando-a no lugar onde nasceu, no ermo (omissão).
Obs.: Se o crime for cometido na modalidade comissiva, cabe omissão imprópria.
* Ação Penal: pública incondicionada.
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - detenção, de um a três anos.
        
§ 2º - Se resulta a morte:
        Pena - detenção, de dois a seis anos.
Obs.: Ambas as qualificadoras são preterdolosas, dolo na exposição ou 
abandono e culpa no resultado mais gravoso.
MODALIDADE QUALIFICADA
Art. 135- Omissão de Socorro
Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
        Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
        Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal:
O núcleo deixar tem sentido de não fazer algo, não prestar assistência, não ajudar quando possível fazê-lo sem risco pessoal.
IMPORTANTE: Se a prestação de socorro implicar produção de risco à terceira pessoa, a omissão não constituirá crime.
Ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
A elementar do tipo traduz a possibilidade de um comportamento alternativo, ou o agente presta ele próprio o socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, ou, diante do risco, pode optar por procurar socorro à autoridade pública (quem tem o dever legal de afastar o perigo: bombeiro, policial...). 
Obs.: Não cabe ao agente optar por uma ou outra hipótese, é a situação que determina.
Elementos do Tipo
À criança abandonada ou extraviada:
Criança, segundo o ECA, é quem ainda não completou 12 anos.
Criança abandonada: É aquela que, propositadamente, foi deixada por seus responsáveis e que, assim, está entregue a si mesma, sem
poder prover a própria subsistência.
Criança extraviada: É aquela que se perdeu, ou seja, que não sabe retornar ao local onde estão seus responsáveis.
Elementos do Tipo
À pessoa inválida ou ferida, ao desamparo:
Pessoa inválida, ao desamparo: Inválida é a pessoa que não pode valer de si própria para a prática dos atos normais dos seres humanos. Pode
decorrer de defeito físico, de idade avançada, de doença etc. A pessoa deve, ainda, estar ao desamparo, ou seja, impossibilitada de se afastar de situações de perigo por suas próprias forças e sem contar com a assistência de outra pessoa.
Pessoa ferida: É aquela que está lesionada, de forma acidental ou por provocação de terceiro, e que está desamparada.
Obs.: Em ambos os casos a vítima deve estar desamparada.
Obs.: Grave e iminente perigo é a ameaça atual à vida ou à integridade física da vítima.
Elementos do Tipo
Pessoa em grave e iminente perigo:
Nos termos do texto legal, o perigo a que a vítima está submetida deve ser de grandes proporções e estar prestes a desencadear o dano. 
Ex.: pendurada em um abismo ou isolada em uma grande enchente, no interior de uma casa na encosta de um morroprestes a desabar etc. 
Obs.: Mesmo que a vítima não queira ser socorrida, haverá o crime se o
agente não lhe prestar socorro ou não acionar as autoridades, já que a vida e a incolumidade física são bens indisponíveis.
Não haverá crime de omissão de socorro se a oposição da vítima inviabilizar a sua prestação.
Elementos do Tipo
OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO
Objeto material:
A criança abandonada 
A criança extraviada.
A pessoa inválida desamparada.
A pessoa ferida desamparada.
A pessoa em grave e iminente perigo (não necessita ser inválida 
ou ferida (Capez).
Bem juridicamente protegido:
- A vida e a saúde da vítima.
SUJEITO ATIVO E PASSIVO
Sujeito ativo:
Crime comum: pode ser realizado por qualquer pessoa que não goze do status de garantidor.
“Infringe o disposto no art. 135, parágrafo único, do CP, aquele que se recusa a transportar em seu veículo, para ser socorrida, pessoa gravemente ferida e que, logo após, vem a falecer” (Tacrim-SP — RT -522/397).
Sujeito passivo: Sujeito passivo próprio (Capez):
A criança abandonada ou extraviada. (perigo presumido)
Pessoa inválida ou ferida: não importando idade. (perigo presumido)
A pessoa em iminente perigo. (perigo in concreto: deve-se demonstrar que a pessoa estava em situação de perigo)
Consumação: consuma-se no momento em que a inação do agente trouxer efetivo perigo à vida ou à saúde da vítima. 
Tentativa: Não é possível em crimes omissivos próprios, pois se o sujeito se omite, o crime se consuma, se não se omite, realiza a conduta mitigando a omissão.
“o crime de omissão de socorro constitui infração instantânea, que não admite tentativa, consumando-se no instante em que o sujeito omite a prestação de socorro” (Tacrim-SP —Jutacrim 35/152).
Dolo: O elemento subjetivo é o dolo de perigo direto ou eventual.
Culpa: Não se admite a modalidade culposa.
Omissivo próprio: O tipo penal é omissivo próprio.
Ação penal: De iniciativa pública incondicionada
Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
-O resultado qualificador é preterdoloso.
-O resultado qualificador é um dano concreto.
Obs.: Somente serão aplicadas as qualificadoras se ficar provado que, caso o agente tivesse socorrido a vítima, poderia ter-se evitado a ocorrência do resultado agravador. 
“ainda que a morte da vítima não resulte da omissão de socorro, é suficiente para que se configure o delito em sua forma qualificada, que se comprove que a atuação do sujeito ativo poderia evitar o resultado, tanto mais tratando-se o agente de médico no exercício dessa atividade” (Tacrim-SP — RT 636/301).
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
Art. 135- A. Condicionamento de atendimento 
médico-hospitalar emergencial
        Art. 135-A.  Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial:  
    Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. 
    Parágrafo único.  A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
O tipo surgiu para coibir a prática comum de exigir caução como 
condição para atendimento médico.
Trata-se de forma especial de Omissão de Socorro.
Infelizmente, é comum pessoas que se encontram gravemente enfermas ou acidentadas verem protelado o atendimento médico de emergência em hospitais ou clínicas da rede privada, caso não assinem documento se comprometendo a pagar pelo atendimento. A falta de socorro nesses casos já configuraria o crime de omissão de socorro. O legislador, contudo, aprovou a Lei n. 12.653, publicada em 29 de maio de 2012, a fim de evitar a própria exigência da assinatura do cheque caução, da nota promissória ou de outra garantia como condição para o atendimento, e, assim,
tipificou tais condutas como crime no art. 135-A do Código Penal (GONÇALVES).
Generalidades
OBJETO MATERIAL E BEM JURIDICAMENTE PROTEGIDO
Objeto material:
A pessoa em estado de emergência.
A pessoa de quem é exigida a caução.
Bem juridicamente protegido:
- A vida e a saúde da vítima.
SUJEITO ATIVO E PASSIVO
Sujeito ativo: Crime próprio
Só pode ser realizado por quem tenha autoridade para impedir o tratamento condicionando-o à garantia de pagamento ou preenchimento prévio de formulário administrativo (administradores da unidade hospitalar) (GRECO). 
Somente os funcionários e responsáveis pela recepção em hospital ou clínica de atendimento emergencial, além de seus superiores que tenham determinado que assim agissem (chefe de serviço, diretores do hospital, proprietários). 
Obs.: Se os médicos se recusam a prestar o atendimento, incorrem em crime de omissão de socorro (GONÇALVES).
Sujeito passivo:
A pessoa em estado de emergência (GRECO).
A pessoa de quem é exigida a caução ou promissória e aquela que necessita do atendimento Emergencial (GONÇALVES).
Consumação: 
-Com a simples exigência da garantia ou do preenchimento do formulário, ainda que a vítima venha a ser posteriormente atendida (GONÇALVES).
-Consuma-se no momento da exigência da garantia ou burocracia impedindo o atendimento emergencial (GRECO).
Tentativa: 
- É possível por ser crime plurissubsistente (CAPEZ).
-Não é possível, por ser crime instantâneo (GONÇALVES).
Ação penal: De iniciativa pública incondicionada
Comissivo: O tipo penal é comissivo, admite apenas a omissão imprópria.
Dolo: O elemento subjetivo é o dolo.
Parágrafo único.  A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. 
-O resultado que aumenta a pena é a título de preterdolo.
CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
Art. 136. Maus Tratos
        Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:
        Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.
        § 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos.
        § 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
        § 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa:
Sob sua autoridade, guarda ou vigilância:
Autoridade: estabelece uma relação de poder entre os indivíduos.
Guarda: é a assistência a pessoa que não prescinde dela.
Vigilância: zelo pela segurança pessoal, é compreendida pela guarda. 
Para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia:
Especial fim de agir daquele que tem a autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima. O agente maltrata para educar, ensinar, tratar ou custodiar.
Sem esse fim especial o tipo desqualifica para outro tipo penal. 
Tratamento: não são apenas os cuidados clínicos e assistência ao doente, alcança também a necessidade de prover as necessidades de subsistência da pessoa.
Custódia: É a detenção de alguém em razão de motivos que a lei autoriza.
Elementos do Tipo
Meios de execução de maus tratos
Privação de alimentação:
A lei se refere a vítimas que não têm condições de obter o próprio alimento, de modo que o agente comete o crime deixando de alimentar a pessoa que está sob sua guarda, autoridade ou vigilância.
Privação dos cuidados indispensáveis:
Cuidados indispensáveis são cuidados mínimos relativos à acomodação, vestuário, higiene, assistência médica e odontológica dentro das possibilidades.
Ex.: O fato de não higienizar pessoa que está sob sua guarda pode, por exemplo, provocar-lhe doenças, assaduras, brotoejas na pele etc.
Sujeição a trabalhos excessivos:
A vítima trabalha além de suas forças, alémdo padrão de normalidade atribuído às pessoas.
Diz respeito ao tempo de trabalho.
Meios de execução de maus tratos
Sujeição a trabalhos inadequados:
- Trabalho inadequado é aquele impróprio ou inconveniente às condições de idade, sexo, desenvolvimento físico da vítima etc. 
Diz respeito à qualidade do trabalho.
Ex.: Pai que para ensinar ao filho, de 10 anos, o valor do trabalho, o põe para carregar saco de cimento de 50 Kg. 
Abuso nos meios de correção ou disciplina:
-Abusar tem o sentido de ir além do permitido no direito de disciplinar (animus corrigendi ou disciplinandi).
EXEMPLOS: 
 “Pratica o delito do art. 136 do CP o agente que agride a filha, desferindo-lhe chineladas no rosto, máxime quando testemunhas afirmem ser tal conduta uma constante” (Tacrim-SP— RJD 22/283); 
Objeto material: A pessoa contra quem é dirigida a conduta do agente.
Bem juridicamente protegido: A vida e a saúde da vítima.
Consumação: consuma-se com a efetiva criação de perigo à vida 
ou à saúde da vítima, o que deve ser demonstrado no caso concreto.
Tentativa: é possível na conduta comissiva por ser crime plurissubsistente.
Ex.: Pai que vai corrigir filho com uma barra de ferro, mas é impedido por terceiro.
Comissão e omissão: Por ser crime de ação múltipla, o delito de maus-tratos admite tanto a modalidade comissiva quanto a omissiva.
Ex. 1: Omissão: Deixar de dar alimento.
Ex. 2: Comissão: Abusar nos meios de correção ou disciplina.
Ação penal: De iniciativa pública incondicionada
SUJEITO ATIVO E PASSIVO
Sujeito ativo:
Crime próprio: só pode ser realizado por quem tem autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima.
“Embora não sendo pai da vítima, pode o amásio de sua mãe figurar como sujeito ativo do delito de maus-tratos se restar comprovado que,
na ocasião dos fatos, encontrava-se aquela sob sua autoridade, guarda ou vigilância” (Tacrim- RJD 17/119).
Sujeito passivo:
Crime próprio: somente aquele que está sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente.
A esposa não pode ser vítima de maus tratos, pois não há um vínculo de sujeição jurídica entre ele e o marido, o que é exigido pelo tipo.
Também não pode ser sujeito do tipo os filhos maiores de 18 anos.
Dolo: O elemento subjetivo é o dolo direto ou eventual.
“O agente que coloca crianças que estão sob sua guarda, sem camisa, sobre formigueiro, com o fim de corrigi-las, comete o crime de
maus-tratos, pois o elemento subjetivo do delito abarca a aceitação do risco de exposição a perigo, ou seja, o dolo eventual” (Tacrim-SP –JD 25/271).
Apesar de estar em um título de crimes de perigo no crime de maus-tratos, na hipótese de o agente abusar nos meios de correção e disciplina, há crime de dano.
Assim o tipo apresenta crime de perigo na primeira parte e crime de dano na última.
O que faz a lesão corporal praticada pelo agente ser crime de maus-tratos, é o especial fim de agir: educar, ensinar...
Culpa: Não se admite a modalidade culposa.
ELEMENTO SUBJETIVO
§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
        Pena - reclusão, de um a quatro anos.
        
§ 2º - Se resulta a morte:
        Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
       
-O resultado que qualifica a pena é preterdoloso.
“Se não pretendia o acusado eliminar o filho e tampouco assumiu o risco de fazê-lo, mas objetivava corrigi-lo, ainda que de forma despropositada, descontrolada e brutal, a ponto de provocar-lhe a morte, deverá responder pelo delito de maus tratos, na forma qualificada (§ 2º do art. 136, do CP), e não por homicídio qualificado” (TJSP —RT 561/328).
MODALIDADES QUALIFICADAS
Causa de aumento de pena
§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) anos.
-Procura punir com maior severidade a conduta praticada contra menor de 14 anos.
-Acréscimo legislativo influenciado pelo ECA.
Obrigado!

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