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EVICÇÃO 1. Definição: - É a perda da coisa diante de uma decisão judicial ou de um ato administrativo que a atribui a um terceiro; - Ligada à idéia de perda, funciona como o vício redibitório, isto é, a proteção dos seus efeitos visam à garantia contratual nos contratos onerosos; - Consiste a evicção na perda, pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da coisa transferida, por força de uma sentença judicial ou ato administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado evictor; - Protege-se o adquirente de alienação de coisa não pertencente ao alienante; - Cristiano Chaves: “Perda da coisa em virtude de decisão judicial ou administrativa que concede o direito (total ou parcial) sobre ela, a um terceiro estranho à relação contratual em que se deu a aquisição”. 2. Origem: - Direito romano; - Se originou dos institutos denominados mancipatio e do stipulatio. Assim, caso o adquirente viesse a ser demandado por terceiro, antes de ocorrer o usucapião, poderia chamar o vendedor, a fim de que ele se apresentasse em juízo para assisti-lo e defendê-lo na lide. Se o vendedor se recusasse a comparecer, ou, se mesmo comparecendo, o adquirente se visse privado da coisa, teria este último direito à denominada actio auctoritatis, para obter o dobro do preço que havia pago no negócio. 3. Partes: a) alienante – aquele que transfere a coisa viciada, de forma onerosa; b) adquirente (evicto) – aquele que perde a coisa adquirida; c) terceiro (evictor) – aquele que tem a decisão judicial ou a apreensão administrativa a seu favor; 4. Fundamentos jurídicos: - A responsabilidade pela evicção decorre da lei, assim não precisa estar prevista no contrato; - Caráter eminentemente garantista; - * Recomposição do Sinalagma – Cristiano Chaves; - Princípio da proibição do enriquecimento sem causa; - Boa-fé objetiva; 5. Requisitos: art. 447 a) aquisição de um bem; b) perda da posse ou da propriedade; c) Preexistência do direito de Terceiro d) prolação de uma sentença judicial ou execução de ato administrativo; 5.1 Aquisição de um bem: - Contratos onerosos: estão fora da proteção contra os efeitos da evicção todos os contratos gratuitos translativos de posse e propriedade de bens. Ex: doação pura, uma vez que há ônus patrimoniais para apenas uma das partes; - Aquisição em hasta pública: arrematação de bem móvel (leilão) ou imóvel (praça); Observe-se que não obstante a utilização do termo “hasta pública”, que tem como consequência a arrematação, nada impede que o instituto da evicção exista também na “adjudicação”; novidade do Código Civil de 2002. 5.2 Perda da posse ou da propriedade: - o prejudicado, quando consumada a perda do bem, e consequentemente, a evicção, é o adquirente, também denominado evicto; * Parcela da doutrina entende que basta a perda da posse para que o adquirente possa fazer valer o seu direito contra o alienante, isto é, não seria necessário que a sentença transitasse em julgado, nem tampouco a transferência do domínio. 5.3 Preexistência do direito de Terceiro: - A privação do direito será inexoravelmente justificada por uma causa anterior ao contrato que serviu como título da aquisição do direito pelo evicto; OBS: Evicção Invertida: decorre do direito italiano, trata-se de situação em que o adquirente não obteve o direito eficazmente, mas acaba por adquirir o direito por outro título, mas sem a cooperação do devedor. 5.4 Prolação de uma sentença judicial ou execução de ato administrativo: - o evicto sucumbe ante o evictor no bojo de uma ação reivindicatória, em que este último formula a sua pretensão de direito real em face da coisa, que acaba por ser acolhida; - também há a perda em razão de um ato administrativo, como, por exemplo, uma apreensão policial; nesse caso, ainda que não haja sentença judicial, seria possível o manejo de ação judicial do evicto contra o alienante do veículo no sentido de pleitear a justa compensação por sua perda; 6. Direitos do evicto: art. 450 - Pretensão tipicamente indenizatória: a) restituição integral do preço ou das quantias que pagou; b) indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir; c) indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da evicção; d) custas judiciais e os honorários do advogado por ele constituído; * Vale notar que a obrigação subsiste para o alienante, ainda que a coisa esteja deteriorada, exceto se tiver havido dolo do adquirente – art. 451; * Caso o evicto já tenha sido compensado pelas deteriorações, o alienante poderá, obviamente, deduzir o valor dessas vantagens da quantia que teria de restituir-lhe – art. 452; 7. Espécies de evicção: 7.1 Evicção parcial: - Nesse caso, isto é, quando da perda não-integral da coisa alienada, poderá o evicto optar entre a dissolução do contrato ou a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido - art. 455, 1ª parte; - Ex: fazenda, lotes de carros, prédio de apartamentos; - caso não seja considerável a evicção, terá direito apenas à indenização – art. 455, 2ª parte; 8. Cláusula de não-evicção – art. 448: - As partes podem excluir, diminuir ou aumentar a garantia decorrente da evicção;[1: Quanto ao reforço em relação à evicção, diante da vedação do enriquecimento sem causa, tem-se entendido que o limite é o dobro do valor da coisa, o que é correto, pela função social dos pactos.] - Essa possibilidade só pode ocorrer mediante cláusula expressa nesse sentido, nunca podendo, pois, ser implícita (presumir-se), consoante deflui claramente da primeira parte do art. 448; - Conforme exposto no art. 449 c/c art. 457, mesmo que no contrato conste a cláusula “o alienante não responde pelos riscos da evicção”, ainda assim o evicto (a quem não houvesse sido noticiado o risco de perda ou, mesmo informado, que não tenha assumido esse risco) terá, ao menos, o direito de receber o preço pago. Não terá, portanto, direito à indenização pelos frutos restituídos, benfeitorias ou outras despesas, assistindo-lhe apenas o direito de haver de volta a quantia que pagou pela coisa que evenceu. OBS: Segundo a doutrina dominante, portanto, o alienante somente ficará totalmente isento de responsabilidade se pactuada a cláusula de exclusão e o adquirente for informado sobre o risco da evicção (sabia do risco e a aceitou). 9. Benfeitorias – art. 453 e 454: - As benfeitorias necessárias ou as úteis, não pagas (abonadas) ao que sofreu a evicção, serão devidas pelo alienante. ou seja, caso o terceiro (evictor) não as pague, a responsabilidade recai sobre a pessoa que alienou a coisa perdida – art. 453. - Evictor é o responsável original; - Caso as benfeitorias tenham sido feitas pelo alienante, seu valor, abonado pelo evictor, será descontado da quantia a ser restituída por ele ao evicto;
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