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Projeto UFRGS - TEA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
 VI CURSO DE NEUROCIÊNCIAS
Avaliação do controle inibitório cognitivo e da função cortical frontal em portadores do Transtorno do Espectro Autista
Bárbara Ferreira Marinho
Lorena de Lima Rosa
Mab Suellen Abreu Nunes
Orientador: Profª. Mellanie Fontes Dutra da Silva
Prof. Gustavo Della Flora Nunes
Porto Alegre, Brasil
2015
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) constitui um grupo de desordens no neurodesenvolvimento, de causas multifatoriais que abrangem alterações na interação social, incluindo a reciprocidade social e expressão afetiva, bem como padrões de comportamentos repetitivos. Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, pessoas com o TEA apresentam déficits na habilidade de comunicação, tais como responder inapropriadamente a perguntas, incompreensão de interações não verbais. 
A apresentação clínica da doença varia entre indivíduos, possuindo uma grande variedade e intensidade dos sintomas” (DSM V, 2013). “Algumas disfunções cerebrais já foram associadas ao autismo: presença de retardo mental em 70% dos casos (QI<70) e convulsões em 33% destas manifestações. O TEA ocorre em aproximadamente 1 a 5 casos em cada 10.000 crianças, numa proporção de 4 homens para 1 mulher (Assumpção et al, 2000).
Associados a essas evidências de disfunção cerebral e o autismo, estudos com exames de imagens indicaram vários pontos com anormalidades anatômicas no córtex cerebral, nos ventrículos e no cerebelo. Posterior a isso, um dos primeiros estudos a focalizar a relação entre lobo frontal e atenção compartilhada foi o realizado por McEvoy, Rogers e Pennington (1993), no qual esses autores demonstraram que um grupo de crianças com autismo comparados aos grupos de controle apresentou a mesma tendência de perseveração na estratégia incorreta em uma tarefa de reversão espacial, utilizada para medir função executiva. A performance nessa tarefa correlacionou-se positivamente com a habilidade no comportamento de atenção compartilhada, sugerindo que essa habilidade pode estar relacionada à maturação dos lobos frontais. Contudo, a dificuldade em inibir uma região cortical, enquanto outra é excitada, pode ser um dos grandes motivos da relação do TEA com atenção compartilhada e tomada de decisão gerando um desequilíbrio entre componentes excitatórios e inibitórios nessa região no sistema nervoso central. Bailey, Philips e Rutter (1996) discutiram a controvérsia acerca da relação entre comportamento social e função executiva, a qual girou na existência de uma direção causal – se é o comprometimento na habilidade de metarrepresentar relações interpessoais que afeta a função executiva ou o contrário.
No estudo proposto será analisada a função cortical frontal dos pacientes a partir de eletroencefalografia durante a realização de testes comportamentais que avaliam e estimulam funções cognitivas do lobo frontal.
JUSTIFICATIVA
A busca da direção causal entre comportamentos que necessitam da ação inibitória e excitatória simultaneamente e a revisão literária do TEA, deixou evidente a dificuldade desses sujeitos em elaborar a função executiva, surgindo então a proposta desta análise. Diante do exposto, a pesquisa torna-se de interesse social e científico, por suscitar melhores tratamentos para pacientes com TEA.
MÉTODOS
Desenho do estudo
Trata-se de um estudo analítico, observacional do tipo caso-controle.
População estudada
Serão avaliadas 40 crianças residentes no município de Porto Alegre - RS com faixa etária entre 5 e 10 anos, divididas em dois grupos. Grupo 1: indivíduos neurotípicos (n=20). Grupo 2: crianças diagnosticadas com TEA (n=20), de acordo com critérios de inclusão e exclusão estabelecidos.
Critérios de inclusão
Crianças residentes no município de Porto Alegre – RS, com faixa etária entre cinco e dez anos assistidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Bem como os pais ou responsáveis legais terem assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Crianças diagnosticadas com TEA, dentro dos critérios do DSM V, que apresentem clinicamente déficit na habilidade comunicacional e de coesão central. 
Critérios de exclusão
Crianças com transtorno do espectro autista que fazem uso contínuo de qualquer fármaco que não anti-convulsivantes e/ou apresentem outros distúrbios neuropsiquiátricos. Desistência do protocolo e preenchimento incompleto do TCLE.
Procedimentos
Este estudo será realizado no Programa de Pós Graduação de Neurociências (PPG) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no período de fevereiro a maio de 2015, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS). Esta pesquisa seguirá todas as recomendações da resolução 466/12, do CNS. Após serem esclarecidos sobre à pesquisa, os pais ou responsáveis dos pacientes assinarão o TCLE; seguir-se-á com a avaliação e reavaliação das crianças do grupo controle e do grupo típico a partir da verificação dos dados sociodemográficos, prontuários dos pacientes e realização do teste WCST e do teste de Stroop, concomitante à eletroencefalografia da região frontal. Os testes e intervenções serão realizados em dias úteis, das 08h às 17h, nos meses de março e abril, sendo precedidos pela montagem dos grupos e coletas de dados no mês de fevereiro.
Em relação à avaliação cortical por exame de imagem, as alterações no eletroencefalograma (EEG) são comuns em crianças com TEA; o EEG é um método não invasivo e complementar de registros elétricos na superfície do cérebro, que serve para descartar possíveis comorbidades neurológicas associadas. Demonstra uma contínua atividade elétrica cerebral, identificada por flutuações de potenciais e registrada sob a forma de ondas cerebrais. 
Resultados esperados
Espera-se comprovar a associação de diminuição de atividade elétrica córtico-frontal a partir do EEG em portadores do TEA, com associação ao desequilíbrio inibitório-excitatório existente nessa região cerebral, estabelecendo assim uma relação causal entre a atividade diminuída do lobo frontal como função executiva e atenção compartilhada prejudicadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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