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O desenvolvimento mental da criança segundo Piaget Análise textual do Curso de Extensão – Leitura, análise e interpretação de textos acadêmicos Jean Piaget é referência entre os psicólogos e educadores de todo mundo, devido a sua pesquisa na área de construção de conhecimento. Com base na importância dada à epistemologia genética no tocante a construção do conhecimento, o objetivo desta análise textual é aprimorar habilidades e competências técnicas e conceituais ao se deparar com um conceito tão amplamente difundido e tão pouco compreendido. 2015 Laynne Cris Estudante do 7º semestre de Pedagogia 25/02/2015 P á g i n a | 2 Análise Textual – O desenvolvimento mental da criança segundo Piaget Jean Piaget é referência entre os psicólogos e educadores de todo mundo, devido a sua pesquisa na área de construção do conhecimento. Grande parte de sua importância foi alcançada graças ao seu sólido estudo sobre “epistemologia genética”, que dá sustentação científica a teorias acerca do processo de como o homem constrói o conhecimento. Segundo Murani (2010, p. 13), Piaget tem sua formação ancorada na pesquisa científica, acreditando que o método científico é o caminho mais racional para a construção do conhecimento. Com base na importância dada à epistemologia genética no tocante a construção do conhecimento, o objetivo do texto é realizar uma análise textual do trecho do livro “Seis estudos de Psicologia”, de Jean Piaget, sugerido pelo curso de Extensão – Leitura, Análise e interpretação de textos acadêmicos. Sendo objeto para estudo a primeira parte do capítulo um: o desenvolvimento mental da criança, que visa aprimorar habilidades e competências técnicas e conceituais. Num primeiro momento se faz necessário compreender que Epistemologia Genética é o estudo da gênese do conhecimento e não um estudo sobre genética. A intenção de Piaget foi construir um método que fosse capaz de fornecer dados para remontar a origem de como aprendemos. O caráter próprio da Epistemologia Genética é, assim, procurar distinguir as raízes das diversas variedades de conhecimento a partir de suas formas elementares, e acompanhar seu desenvolvimento nos níveis ulteriores até, inclusive, o pensamento científico (PIAGET, 2007, p.2). Piaget considera que o desenvolvimento psíquico inicia-se com o nascimento da criança e vai até ela atingir a fase adulta. Comparável ao crescimento orgânico, a psiquê humana tem como finalidade atingir um equilíbrio, conhecido como equilibração progressista. A equilibração progressista, segundo o autor, possui a característica de passar de um estado menor para um estado superior. Sendo ela um processo que ocorre de forma contínua através da interação que o indivíduo realiza com o meio físico, suas descobertas e experiências (PIAGET, 1999, p.13). Acrescenta que a equilibração é uma situação dinâmica, nunca estática, ocorrendo em movimentos contínuos na busca por equilíbrio. Estes movimentos são nomeados de ação e são motivados por necessidades intrínsecas e exteriores ao indivíduo, podendo ser necessidades fisiológica, afetivas ou intelectuais (PIAGET, 1999, p.16). P á g i n a | 3 A ação é sempre despertada por um interesse ou necessidade e a inteligência procura responder, compreender ou explicar. Piaget defende que existe uma ordem geral para o aparecimento dessas necessidades ou interesses que é comum á todas as idades: 1º tende a incorporar as coisas e pessoas à atividade própria do sujeito, isto é, “assinalar” o mundo exterior às estruturas já construídas, 2º reajustar estas últimas em função das transformações ocorridas, ou seja, “acomodá-las” aos objetos externos (PIAGET, 1999, p.17). Portanto, a ocorrência desses movimentos organiza a atividade mental e são conhecidos também como estruturas variáveis. Os movimentos realizados em resposta aos interesses ou às necessidades do indivíduo fazem com que a mente realize adaptações de ordem motora, intelectual e afetiva, sendo a afetiva com suas dimensões individuais e sociais. Esses movimentos ou estruturas variáveis são comumente conhecidos como: assimilação, adaptação, acomodação e equilibração, e são considerados fundamentais no processo de construção do conhecimento. Piaget (1999, p.14) afirma que é necessário compreender as estruturas variáveis, a fim de diferenciar a conduta de uma criança, a de um adolescente ou a de um adulto. Condutas essas que assumem formas diferentes de acordo com o grau de desenvolvimento. Sendo conduta a forma do comportamento representada na ação do sujeito; que, através do desenvolvimento natural do processo orgânico e físico do corpo, somado às experiências anteriores faz a mente evoluir. Essa evolução se apresenta numa construção de novas e diferentes soluções que a mente realiza para responder às necessidades e interesses quando o indivíduo se relaciona com o meio a cada etapa do desenvolvimento. Por exemplo: Uma criança aos dois anos de idade não vai assimilar um objeto do mesmo modo que uma criança de dez anos faria ao ter contato com esse mesmo objeto. Pois, a compreensão deste objeto dependerá do nível de conhecimento anterior que cada um construiu durante o seu processo de desenvolvimento. São esses diferentes níveis de conhecimento, mencionado no exemplo acima, que um indivíduo constrói desde o seu nascimento e que todas as características que são aprendidas e acomodadas resultam nos estágios de desenvolvimento. O autor sistematizou e organizou as estruturas que são originais de cada estágio da vida humana, a fim de obter um método investigativo que servisse como suporte para estudos de como o homem constrói seu conhecimento. Distinguem-se, então, seis estágios ou períodos de desenvolvimento: 1º reflexos, mecanismos hereditários, tendências instintivas e as primeiras emoções; 2º primeiros hábitos motores, primeiras percepções organizadas, primeiros sentimentos diferenciados; 3º início da inteligência senso-motora ou prática (antes da linguagem), regulações das afeições elementares, fixações exteriores da afetividade; (período de lactância, antes da linguagem e do pensamento) 4º P á g i n a | 4 Inteligência intuitiva, sentimentos interindividuais espontâneos, relações sociais e submissão ao adulto; (de 02 a 07 anos) 5º Operações intelectuais concretas (início da lógica), sentimentos morais e sociais de cooperação; (07 a 11/12 anos); 6º Operações intelectuais abstratas, formação da personalidade e da inserção afetiva e intelectual na vida adulta (adolescência) (PIAGET, 1999, p.15). Nota-se que em cada estágio de desenvolvimento há características de estruturas originais próprias e comuns a todos os seres humanos em desenvolvimento. Características que coincidem com a maturação biológica do corpo e a progressão que a mente realiza conforme ocorre o processo de construção de conhecimento. Piaget (1999, p.17) afirma que o desenvolvimento mental é composto de pequenas construções progressivas que buscam uma equilibração cada vez mais completa; ora assimilando objetos, a ação ou o pensamento, acomodando-se a cada variação exterior ou interior. Identifica-se nesse processo de assimilação e acomodação de novos conhecimentos, a adaptação, um processo de reorganização mental, movimento que leva a um estado de equilíbrio momentâneo. A teoria piagetiana é complexa por envolver várias áreas de conhecimento, tais como, o conhecimento lógico-matemático, biologia, física, etc. Na leitura de um texto de Piaget é possível observar a movimentação do seu raciocínio e reflexão acerca da observação do seu objeto de pesquisa e isso requer várias leituras euma rica pesquisa dos conceitos e termos empregados a fim de uma acomodação precisa deste conhecimento. A Epistemologia Genética é pouco compreendida por estes aspectos apesar de ser muito divulgada nos meios acadêmicos. Referências Bibliográficas MURANI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e organização: Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim Nabuco: Editora Massangana, 2010 (Coleção Educadores). PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Tradução: Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999. PIAGET, Jean. Epistemologia Genética. Tradução: Álvares Cabral. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. P á g i n a | 5 Anexo 01 Sobre o autor Jean Piaget, como já mencionado no texto principal, através de seus estudos sobre Epistemologia Genética, agregou grandes valores na área da educação. Apesar de sua atuação ser apenas no âmbito da epistemologia, psicologia e biologia, suas descobertas foram fundamentais para que os conceitos educacionais evoluíssem. Piaget nunca chegou a lecionar para crianças e, segundo Murani (2010, p.11), ele não se considerava um pedagogo, declarava que: “Em matéria de pedagogia, não tenho opinião” (MURANI, 2010, p.10). Ainda assim, suas descobertas revolucionaram o mundo educacional, com cerca de 70 livros publicados e inúmeros artigos. Formado em biologia, psicologia e epistemologia genética. Nasceu em 1896, na cidade de Neuchâtel, Suiça. Filho de um historiador, especializado em história medieval, se interessava, quando criança, por mecânica e pássaros. Uma de suas primeiras pesquisas começa ainda na infância, quando publica um artigo sobre um pardal albino. Com esse artigo surge a oportunidade de trabalho e inicia sua experiência profissional como ajudante num Museu Zoológico, em um estudo da sistemática dos moluscos. Piaget considera esta experiência impactante para a sua pesquisa e para o seu interesse na gênese do conhecimento. O estudo de nome “esboço de um neopragmatismo”, desenvolvido ainda na adolescência por influência de seu padrinho, demonstra o caminho que tomariam os pensamentos de Piaget no tocante a sua obra, conta Augras (1977) em um artigo em homenagem aos 80 anos de Piaget. Mais tarde destacou-se na área de pesquisa científica com seus estudos sobre zoologia. Toda sua vida acadêmica passa a ser centrada no método científico e, aos 21 anos, obtém licenciatura em ciências naturais. Segundo Murani (2010, p.13-14), Piaget considerava o método científico o caminho mais legítimo para o conhecimento, portanto, seu compromisso em dar uma explicação biológica acerca da construção do conhecimento o direciona a levar o método científico para dentro da escola. Piaget concentra suas pesquisas no campo da biologia e da epistemologia genética do estudo da inteligência. Em 1919, adentrou no campo da psicopatologia, tendo como influências, teóricos como Freud, Jung e Pfister. Entretanto, é quando vai trabalhar em Paris, nos laboratórios fundados por Binet, que Piaget dá um passo importante para o fundamento que sua pesquisa precisa, a riqueza do pensamento infantil. P á g i n a | 6 Os laboratórios de Binet eram locais de teste de raciocínio. Piaget é convidado a padronizar estes testes, conhecidos como “raciocínio de Burt”. Augras (1977, p.3) relata que Piaget considera “sorte extraordinária” essa experiência. No laboratório se depara, pela primeira, vez com a oportunidade de avaliar o pensamento infantil. Observava enquanto as crianças construíam concretamente os conceitos de inclusão, adição, multiplicação por classes, algo que é difícil compreender de maneira abstrata. Adapta à sua pesquisa genética o modelo lógico-matemático. Em Genebra, Piaget aprofunda sua pesquisa interrogando as crianças em seu meio de vida normal. Diferente da atuação em Paris, no qual, seu trabalho era realizado com crianças hospitalizadas (MURANI, 2010, p.15). E, é na escola “A casa das crianças”, do Instituto Jacques Rousseau, que inicia uma investigação sistemática da construção psicológica dos principais conceitos de inteligência, observando e interrogando crianças saudáveis num ambiente escolar. Outro fator de impacto na pesquisa de Piaget, citado por Augras (1977, p.4), é acerca do estudo dos processos cognitivos da primeira infância realizado a partir da observação dos filhos, Laurent e Jacqueline. Com base nestes estudos levanta a hipótese de que as observações simbólicas se fundamentam no domínio das operações concretas. Em 1929, assume o cargo de diretor do Bureau Internacional de Educação (Murani, 2010, p.15), fato importante para sua carreira, uma vez que o leva a pensar num grande projeto de uma educação internacional, ligado a UNESCO. Muito dedicado à pesquisa e ao exercício de sua função de professor universitário de psicologia experimental, recebe vários títulos de doutor honoris, em Soubornne, Harvard, Bruxelas e também no Rio de Janeiro. Mais de vinte universidades concedem graus honoríficos para Piaget em diversos países. Aos 50 anos dedica-se mais a investigações no campo da Epistemologia Genética, ministra aulas dessa disciplina em Soubornne e, a partir de 1963, dedica-se exclusivamente às atividades do Centro Educacional de Epistemologia Genética, fundado por ele em 1956. A valorização da teoria de Piaget, citada no início do texto, se faz por possuir um vasto material de pesquisa e de estudos de desenvolvimento humano comprovados cientificamente. Uma teoria que abrange diversas áreas do saber, pois é possível, depois de compreendida, aplicá-la em qualquer segmento em que se constrói o conhecimento. P á g i n a | 7 Referências Bibliográficas AUGRAS, Monique. Jean Piaget. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 29, n. 2, 1977. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abpa/article/view/17815>. Acesso em: 22 de outubro de 2014. MURANI, Alberto. Jean Piaget. Tradução e organização: Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010 (Coleção Educadores). P á g i n a | 8 Anexo 02 Glossário Assimilação Assimilar é um dos fatores que predominam nos processos de aprendizagem e desenvolvimento. Cabral (2006, p.32) explica que é a incorporação de novos conteúdos e situações que já são conhecidas e que são reajustadas para uma nova organização cognitiva. Acomodação Segundo Piaget (1999, p.17), a acomodação é um processo que completa o processo de assimilação. Assim que os objetos são assimilados, a ação ou os pensamentos são reajustados e acomodados á estruturas construídas num processo anterior de conhecimento. O novo conhecimento representa essa acomodação. Adaptação Cabral (2006, p.13) refere-se à adaptação como um processo que efetua as modificações realizadas nos processos de assimilação e acomodação de um novo conhecimento. Em consenso com a afirmação de Cabral, Piaget (1999, p.17) afirma que a adaptação é o equilíbrio encontrado no processo de assimilação e acomodação. A evolução progressiva deste processo conduz a mente a uma adaptação cada vez mais precisa da realidade. Ajustamento Ajustamento, segundo Cabral (2006, p. 15), é quando a pessoa desenvolve um repertório próprio de respostas ás exigências do seu mundo material, psicológico ou social. Ou seja, a pessoa ajusta-se ao meio inserido. Apesar de ajustamento e adaptação possuíremformas similares, Cabral defende que: [...] É possível distinguir entre conceito de adaptação, que confere maior importância às modificações que se efetuem para fazer face às circunstâncias e implica P á g i n a | 9 flexibilidade na sua efetivação, e ajustamento, como capacidade de discernimento e realização dessas modificações (CABRAL, 2006, p. 13). Binet, Alfred Segundo Cabral (2006, p. 46) Alfred Binet foi um dos primeiros a investigar o processo de desenvolvimento mental. Binet, com a colaboração do Dr. Thomas Simon, publica em 1905 a primeira escala de medição individual da Inteligência. Conduta Piaget faz uso desta palavra “conduta” para explicar a forma de ação do comportamento do indivíduo mediante algum estímulo externo ou interno a ele mesmo. Nota- se essa afirmação no trecho abaixo: A criança, como o adulto, só executa alguma ação exterior ou mesmo inteiramente interior quando impulsionada por um motivo e este se traduz sempre na forma de uma necessidade (uma necessidade elementar ou um interesse, uma pergunta, etc) (PIAGET, 1999, p.16) Segundo o dicionário técnico de psicologia, a palavra em questão é decorrente da psicologia comportamentalista – o behaviorismo ou condutismo. Para o condutismo, os acontecimentos objetivos e observáveis são de suma importância para a ação do sujeito, denominados de estímulo-resposta. Ou seja, a teoria sustenta que o desenvolvimento do comportamento humano é determinado pelas condições e estímulos que o meio favorece a esse indivíduo (CABRAL, 2006, p.41). Equilibração Progressista Piaget (1999, p. 13) define equilibração progressista como a evolução mental rumo a uma direção de equilíbrio final. Ou seja, conforme o indivíduo modifica suas estruturas mentais através da interação com o meio na busca da satisfação de suas necessidades, sempre ocorrerá um equilíbrio superior ao anterior. Sempre o organismo tende a progredir seu conhecimento enquanto cresce e se desenvolve. P á g i n a | 10 Epistemologia Genética Para Cabral (2006, p.101), Epistemologia Genética, trata-se de uma ciência positiva, empírica e teórica que, visa aplicar um método experimental ao estudo dos conhecimentos. [...] Estudo dos mecanismos e do aumento de conhecimento. O seu objeto próprio é a análise – em todos os planos de interesse para a gênese e elaboração dos conhecimentos científicos – da transição de um estado mínimo aos de conhecimentos mais avançados e complexos... (CABRAL, 2006, p.101) Estruturas Variáveis Segundo Piaget (1999, p.14), estruturas variáveis são aquelas que variam de um nível mental ao outro, e nas quais as explicações assumem formas diferentes de acordo com o grau de desenvolvimento intelectual. Referências Bibliográficas CABRAL, Álvaro. Dicionário Técnico de Psicologia. 14ª Ed. São Paulo : Cultrix, 2006. PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Tradução: Maria Alice Magalhães D’Amorim e Paulo Sérgio Lima Silva 24ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999.
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