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Desenvolvimento Sustentável e Turismo

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Aula 05 – A Sustentabilidade e o Turismo
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as das próximas gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
Em 1983 foi criada pela Assembleia Geral da ONU, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento - CMMAD, que foi presidida por Gro Harlem Brundtland, à época primeira-ministra da Noruega, com a incumbência de reexaminar as questões críticas do meio ambiente e de desenvolvimento, com o objetivo de elaborar uma nova compreensão do problema, além de propostas de abordagem realistas. Essa Comissão deveria propor novas normas de cooperação internacional que pudessem orientar políticas e ações internacionais de modo a promover as mudanças que se faziam necessárias (WCED, 1987, p.4). No trabalho surgido dessa Comissão, apareceu pela primeira vez de forma clara, o conceito de "Desenvolvimento Sustentável", embora ele já estivesse em gestação, com outros nomes, desde a década anterior.
O relatório “Nosso Futuro Comum”, lançado em 1987 (também conhecido como "Relatório Brundtland"), veio atentar para a necessidade de um novo tipo de desenvolvimento capaz de manter o progresso em todo o planeta e, no longo prazo, ser alcançado pelos países em desenvolvimento e também pelos desenvolvidos. Nele, apontou-se a pobreza como uma das principais causas e efeitos dos problemas ambientais do mundo. O relatório criticou o modelo adotado pelos países desenvolvidos, por ser insustentável e impossível de ser copiado pelos países em desenvolvimento, sob pena de se esgotarem rapidamente os recursos naturais. Cunhou, desta forma, o conceito de desenvolvimento sustentável, ou seja, "o atendimento das necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades" (WCED, 1991).
Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou a proposta de uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta, com seriedade, o meio ambiente. Muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende.
O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
Uma pergunta que sempre se faz é se os modelos de desenvolvimento dos países industrializados devem ser seguidos? 
O desenvolvimento econômico é vital para os países mais pobres, mas o caminho a seguir não pode ser o mesmo adotado pelos países industrializados. Mesmo porque não seria possível. Caso as sociedades do Hemisfério Sul copiassem os padrões das sociedades do Norte, a quantidade de combustíveis fósseis consumida atualmente aumentaria 10 vezes e a de recursos minerais, 200 vezes.
Ao invés de aumentar os níveis de consumo dos países em desenvolvimento, é preciso reduzir os níveis observados nos países industrializados. Os crescimentos econômico e populacional das últimas décadas têm sido marcados por disparidades. Embora os países do Hemisfério Norte possuam apenas um quinto da população do planeta, eles detêm quatro quintos dos rendimentos mundiais e consomem 70% da energia, 75% dos metais e 85% da produção da madeira mundial. Esse quadro precisa ser alterado.
Para se colocar todo esse projeto em prática, uma teia de relações é criada, na qual além dos aspectos naturais e econômicos, os sócioculturais e os político- administrativos também devem ser considerados.
Transferindo essa questão para o turismo, o desenvolvimento sustentável parte do pressuposto de que os benefícios devem favorecer a todos os envolvidos no processo. Não se pode entendê-lo somente do ponto de vista do crescimento, compreendido de maneira quantitativa e centrado em variáveis estritamente econômicas. Daí a ênfase no conceito de desenvolvimento na escala humana, ou seja, tomando as pessoas como coluna vertebral do desenvolvimento.
Tipos de sustentabilidade
- Sustentabilidade ambiental: Assegura a compatibilidade do desenvolvimento com a manutenção dos processos ecológicos essenciais à diversidade dos recursos. Para que haja a compreensão da relação entre meio ambiente e turismo é necessário estimular, tanto no turista como na comunidade receptora, a capacidade de perceber o ambiente que os cerca. A compreensão do meio ambiente pode levar a ações transformadoras, mas para que isso ocorra é necessário participar de forma ativa e não somente observar passivamente. Tratar os temas ambientais de forma abstrata e citando normas, como se existissem fora do tempo e do espaço, sem nenhuma conexão com o cotidiano, não contribui para a melhoria da qualidade de vida de uma comunidade nem para a qualidade do produto turístico.
 - Sustentabilidade sociocultural: Assegura que o desenvolvimento aumente o controle das pessoas sobre suas vidas, preserve a cultura e os valores morais da população e fortaleça a identidade da comunidade. Tem por objetivo construir uma civilização mais igualitária, ou seja, com mais eqüidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. Evidencia-se que essa dimensão da sustentabilidade é particularmente importante para o desenvolvimento do turismo regional e só será alcançada se, ao longo do processo, for valorizado o patrimônio cultural e histórico, preservados os costumes locais e incentivado o resgate das tradições e da cultura popular, incluindo manifestações artísticas, como a música, o folclore, as danças, o teatro e o artesanato, entre outras. Assim, pode-se afirmar que sustentabilidade sociocultural implica o reconhecimento da contínua necessidade de mecanismos de mediação entre as partes interessadas no desenvolvimento da comunidade, da sociedade, tanto com relação aos diferentes grupos de interesses internos, quanto com relação aos grupos de interesse externos.
- Sustentabilidade econômica: Assegura que o desenvolvimento seja economicamente eficaz, garanta a eqüidade na distribuição dos benefícios advindos desse desenvolvimento e gere os recursos de modo que possam suportar as necessidades das gerações futuras. Com a  atividade turística sabemos que esta  possui características que a torna única dentre as atividades econômicas de um país, especialmente naqueles em vias de desenvolvimento como o Brasil, por isso essa sustentabilidade deve abarcar os seguintes fatores: apesar de comportar o funcionamento de um grande número de pequenos negócios que necessitam de um grande número de mão de obra.; em suas ocupações há espaço pessoas das classes com baixa escolaridade  como empregados em hotéis, restaurantes, bares e áreas de diversão, meios de transporte etc; em momento onde o desemprego apresenta números muito significativos a atividade turística surge com uma grande vantagem comparativa ao gerar empregos a um custo menor, se comparado a outros setores econômicos.
- Sustentabilidade político-institucional: Para entendermos a importância da sustentabilidade político-institucional, é preciso que se compreenda que por trás de qualquer iniciativa política existem pessoas, cujos compromissos e visões de mundo podem ou não estar de acordo com os princípios da sustentabilidade. Nesse sentido, um dos instrumentos gerenciais mais utilizados para estimular a sustentabilidade político-institucional é a política da instituição que promove ou realiza alguma ação.
A política da instituição rege seus regulamentos,seu compromisso social e até orienta o comportamento que ela espera dos seus integrantes, diante da sociedade e entre eles mesmos. É um dos instrumentos mais tradicional e utilizado por qualquer organização pública ou privada. Os partidos políticos, por exemplo, têm políticas internas que regem a ideologia e o comportamento ético de seus membros.
A sustentabilidade econômica e político institucional- Estudo de caso
O estudo de caso que será apresentado a seguir - Meio ambiente e turismo na Ilha do Mel, PR: enfoque sobre a legislação aplicada de Matias Poli Sperb, Leandro Fontoura,  Daniel Hauer Queiroz Telles- . procura responder às seguintes perguntas:
- Qual é a legislação incidente na Ilha do Mel voltada a sustentabilidade do turismo local e a preservação ambiental?
- Qual é a perspectiva de gestores privados e públicos sobre a legislação voltada a sustentabilidade do turismo local e a preservação ambiental?
Leia-o com atenção e reflita sobre os itens da sustentabilidade econômica e político administrativa estudadas por você.
A Ilha do Mel está situada no Litoral Norte do Estado do Paraná, entre Pontal do Paraná e a Ilha das Peças, subdividindo a barra da Baía de Paranaguá em dois setores, representados pelos canais Norte e da Galheta. Com superfície aproximada de 2710 hectares (FIGUEIREDO, 1954), esta Ilha localiza-se na desembocadura da baía de Paranaguá, na latitude de 25° 30’S e na longitude de 48° 20’W (GIANNINI et al., 2004). 
De todo o território desta Ilha, cerca de 95% pertence a áreas de preservação ambiental compostas por ecossistemas de Restinga e Floresta Atlântica. Compõem as áreas de preservação da Ilha do Mel uma Estação Ecológica e um Parque Estadual.
A Estação Ecológica da Ilha do Mel foi criada em 1982, pelo governo do Paraná, numa área de 2241 hectares com Ecossistemas Costeiros, apresentando mangues e restinga associado com floresta atlântica (Bioma de Floresta Atlântica). Já o Parque Estadual da Ilha do Mel é mais recente, tendo sido criado em 2002. É um dos 45 parques existentes na Região Sul do país. Também abriga o bioma de Floresta Atlântica numa área de 337,84 hectares.
Além das belezas cênicas que caracterizam a paisagem natural da Ilha do Mel, cita-se a presença de elementos históricos importantes com destaque para a Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres datada de 1779 (Morro da Baleia) e o Farol das Conchas (Morro do Farol).
Quanto à ocupação física e econômica, na Ilha do Mel existem quatro localidades distintas e relevantes no sentido norte-sul: Fortaleza; Nova Brasília; Farol e Prainha (Encantadas). Além destas, também existem as áreas de Praia Grande e a Ponta Oeste, que possuem menos representatividade econômica e habitacional.
Conforme Kraemer (1978, p.83), até a década de 1970, predominava na Ilha uma ocupação de baixa densidade, com construções simples, destinadas à moradia dos pescadores locais. No entanto, “nas décadas que se seguiram, estas peculiaridades da Ilha se modificaram para sempre”. Com relação à ocupação populacional, em 2002 a população fixa atingia 906 habitantes, tendo havido aumento de pouco mais de 35% desde 1970. Já com relação ao número de edificações a Ilha recebeu aumento bem maior, pois em 2004 havia 758 edificações, um número quinze vezes maior do que havia em 1970, representando aumento de 531% em novas edificações neste período.
Portanto a realidade de ocupação da Ilha do Mel colocado por Kraemer (1978) sobre 1970 muda radicalmente, visto que o desenvolvimento do turismo teve grande influência nas alterações ocorridas na forma de ocupação das vilas e localidades da Ilha do Mel. Segundo Esteves (2004), devido ao aumento da procura turística, houve “intenso partilhamento de lotes e ritmo acelerado de construções” para atender esta demanda.
Com relação à atuação do setor público no local, a Ilha do Mel está vinculada aos poderes de gerenciamento do governo estadual desde 1982.
Atualmente, o principal órgão público responsável pela gestão pública da Ilha do Mel é o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), destacando-se como responsabilidade deste órgão, além dos aspectos normativo e deliberativo, fiscalizar todas e quaisquer ações que venham a causar potencial dano ambiental no local, tais como: construções, controle dos limites das áreas de reserva, extração de recursos naturais, serviços públicos de saneamento, dentre outras, assim como desenvolver e executar a Educação Ambiental voltada à comunidade local e aos turistas.
A gestão municipal está aos cuidados do município de Paranaguá, no que diz respeito aos serviços públicos de saúde, educação fundamental e saneamento. Com relação ao saneamento, no que diz respeito à gestão do fornecimento de água e do suposto tratamento de esgoto, a CAGEPAR (Companhia de Água e Esgoto de Paranaguá) é o órgão executivo responsável.
Questões para estudo
Questões para estudo e análise do caso sobre a sustentabilidade econômica e político administrativa da Ilha do Mel:
- Localizar com um mapa a Ilha do Mel escrevendo sobre as suas características.
- Identificar a divisão administrativa da Ilha analisando o seu crescimento.
- Destacar pontos importantes do desenvolvimento do turismo na Ilha  a partir de uma linha de tempo.
- Identificar as causas da redução do turismo na Ilha.
- Caracterizar a apropriação pelos gestores de turismo do arcabouço legal da Ilha do Mel.
- Levante as questões polêmicas referentes ao tipo de sustentabilidade analisada.
- Análise a conclusão dos autores.
VER O VÍDEO DA PÁGINA 7

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