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Desejo Sexual: Uma investigação filosófica - Roger Scruton - Resumo Parei na página 221 Prefácio: O desejo sexual foi, depois de alguns autores como Freud, cientificado demais. De tal forma que perdemos o elemento humano na analise do mesmo. O sexo para o autor, tem uma decência, mas para entende-la necessitamos entender a indecência. Capítulo 1 - O Problema Autores como Platão e posteriores como São Thomas de Aquino acreditavam que o desejo sexual era apenas um impulso, que fugia do amor racional e, para eles correto. Dai surge o amor platônico que é apenas a sensação erótica mas não instintiva. Para o autor isto não esta certo, e ele irá argumentar o que desejo sexual e fruto da intelectualidade humana, e por isso deve ter uma ética. Sexo normalmente é visto como algo "bom por si só", as coisas ruins que o envolvem não estão diretamente ligados a ele, como a violência sexual que é negativa por ser violenta e não sexual. Porém, ao analisar questões sexuais como masturbação, fornicação etc, ele tende a ir contra indivíduos como Freud e dizer que estão erradas, por mais que não seja judicialmente errado. O que será feito aqui será uma investigação filosófica, e tendo em vista isso precisamos entender alguns conceitos como transcendentais e empíricos. O primeiro da conta de explicar a experiência humana e o segundo o estudo da analise cientifica. Na analise cientifica por vezes não temos a dimensão que realmente nos afeta e que moldou determinada ação na sociedade ou individualmente. Como por exemplo as constelações, que são criações humanas devido as nossas contingências, mas que não tem padrão cientifico algum. Ou seja, ficar se atendo a questões cientificas por vezes nos fazem deixar de dar a real importância ao que nos afeta. Neste ponto, chamaremos essa nossa consciência do mundo externo (baseado em ideias como crença, percepção, imaginação) de "lebenswelt". O autor então tenta descrever o desejo sexual nesse Lebenswelt e assim percebe que uma descrição cientifica do mesmo não explica o fenômeno humano que o caracteriza. Considere se relacionar com alguém apenas se preocupando com sua dimensão química e molecular, seria impossível ter sentimentos como raiva ou alegria em relação a algo assim. Coisa e ser humano estão divididos filosoficamente a tempos, e Kant foi um expoente nesse ponto de vista. Ao fim desse capítulo o autor expõe que irá tratar de vários assuntos envolvendo sexualidade por vezes a luz da religião, mas não como fonte de conhecimento própria mas sim dos efeitos na sociedade, esses efeitos fazendo parte do Lebenswelt irão ser importantes para entender a dimensão ética desse desejo. Capítulo 2 - Excitação O fenômeno para seres racionais tem camadas de significado totalmente diferentes dos outros animais. Não podemos entendê-la apenas como um processo mecânico hormonal e reprodutivo. Podemos começar percebendo essas camadas no ato do beijo. Ele induz excitação mas não pelo seu processo físico, afinal de contas na boca não temos a mesma quantidade de promotores dessas sensações como em zonas erógenas. E, se o simples ato de beijar causasse esse tipo de professor, beijar um parente ou mesmo numa peça de teatro teriam os mesmos efeitos que o beijo de um casal apaixonado. O que transformar o prazer do beijo não prazer sexual é a excitação, ela muda o conteúdo intencional das ações. Para compreender melhor esses conceitos devemos entender prazeres intencionais dos não- intencionais. Um exemplo de não intencional é o prazer que se tem num banho quente, não há controle sobre esse prazer, a menos que uma racionalidade intencional, como descobrir que a água na verdade é ácido, muda o conteúdo da nossa sensação, por mais que a ação do banho seja a mesma. O autor cita o exemplo de uma condessa que sentia prazer em sentir as bicadas de uns patos nas suas coxas, nesse ponto ele argumenta que não era exatamente a sensação física que a deixava excitada, e sim o fato dela estar "se rebaixando" a ação dos patos sobre ela. A bestialização é sempre algo horripilante, a menos que se veja os animais como caricaturas humanas, e se sentir associada com uma delas, ou seja, se rebaixando e cortando o elemento de responsabilidade humana da relação, é isso que da o prazer. Ai temos o surgimento da fantasia, que são pensamentos ordenados para dar sentido a ações mecânicas. A excitação verdadeira é uma tendencia para o outro, ações como o carinho nos permitem entender melhor esse conceito. O carinho acaba por ser a "linguagem" que comunica que você está em função da outra pessoa e a outra pessoa em sua função (elementos de linguagens estão normalmente fora de fantasias, principalmente as bestiais). Claro, não podemos resumir todo o ato de desejo sexual como uma linguagem, algumas ações não podem ser "traduzidas". O desejo permite umas cadeias de pensamentos ad eternum, como Sartre dizia, a reciprocidade é uma delas (estou com desejo porque o outro esta com desejo, que esta com desejo porque eu estou com desejo etc.) e dentro desse contexto existe também a linguagem. Por exemplo, quando uma mulher demonstra traços de ninfomania, ela não está preocupada com a mensagem que um instrumento fálico a passa, pois, em geral, ele não pode corresponder a seu apetite. Da mesma forma que olhar por vários horas um desenho mal feito não vence o apetite olhar belas obras de arte. A excitação sexual tem uma intencionalidade epistêmica, ou seja, ela depende do conhecimento e descoberta do outro, e isso não tem como ser substituído por "outra pessoa" além daquela que você deseja. Essa excitação, por consequência, necessita de privacidade, essa entrega não pode ser completa aos olhos do outro. Por isso numa obra citada pelo autor, a figura das duas pessoas se olhando no espelho durante o ato toma tons cômicos. Para concluir o capítulo, o autor afirma que esses são elementos iniciais para a negação da teoria de Platão que desejo e excitação estão desvinculados. Capítulo 3 - Pessoas Para poder argumentar que o desejo sexual é algo presente apenas em pessoas o autor precisa definir o que é pessoa. Para ele um animal não é uma pessoa, por consequência ele não tem desejo. Mas o animal é um ser paradigmático, onde pode nos servir de laboratório para a compreensão de conceito de pessoa. Por exemplo, os animais podem ser definidor como uma Unidade Real, onde o todo vale mais que a soma das suas partes. Uma pedra continua sendo uma pedra quando repartida, mas um animal não. Porém, diferente de um animal, uma pessoa tem consciência de si mesma, e só um ser consciente pode sentir desejo, projetar coisas no futuro, presumir responsabilidades, todos conceitos presentes apenas em pessoas. A linguagem é ponto importante nesse conceito, pois com ela nos diferenciamos de animais ao interpretar eventos externos. Quando um cavalo se fere ele não consegue construir uma argumentação para não passar naquele lugar ou naquela situação que o feriu. Mesmo se existissem seres inteligentes sem linguagens, nós que a temos teríamos que criar uma linguagem para eles, caso eles a tivessem (parecido com o que fazemos com bebes). Neste ponto, podemos argumentar que um animal se distingue de outros como individuo, mas a sua individualidade é igual a qualquer outro. Aqui temos então o que chamamos de "caso em primeira pessoa" onde o individuo toma suas responsabilidades e pode arguir sobre coisas que o afetam, como dor por exemplo. Algo diferente de uma pessoa não teria como, mesmo um animal com dor não tem capacidade intelectual de se perceber como um individuo por ter dores. Um bebe, por mais queseja um ser humano, ainda não tem capacidade intelectual para dizer que está com dor, e quando criança pode suar essa frase sem realmente estar, não como uma mentira, mas por não estar a par das responsabilidades e intenções que este evento pode lhe causar. A ideia de intenção é bem ilustrativa para compreendermos o que é ser uma pessoa pois, quando uma pessoa não cumpre com uma intenção, não sendo por ter mudado de ideia ou por impossibilidade temporal, temos situações bem delicadas de insanidade ou irracionalidade. Agentes que tem desejos sexual tem em algum nível essas características. Então, o autor cita que tudo que se refere a pessoas está no espaço da interpessoalidade, e que: 1 - Não pode haver uso verdadeiro da linguagem sem os privilégios do “caso em primeira pessoa”; 2 - Com esses privilégios, ele se torna um ser racional; 3 - Então ele pode “dar e receber” razões de outros seres racionais. Para concluir, o autor diz que as ideias Kantianas de Eu transcendental, que é aquele que se percebe acima da natureza e não sofre os efeitos dela não existe, porque o único ambiente que este pode exercer sua individualidade é no mundo empírico. Conceitos como esse são apenas sobras da identidade atômica e real "eu". Capítulo 4 - Desejo Como já argumentado, animais tem muitas diferenças em relação aos humanos no que comete a individualidade. Uma pessoa, diferente de um animal, não está sujeita a erro quando algo que lhe caracteriza como ser único (por exemplo a dor) lhe ocorre. Questões como a "perspectiva em primeira pessoa" são importantes aqui para entendermos o desejo. Um ponto nesse estudo a a dependência da visão do outro sobre mim. Não nos excitamos apenas pelo outro como individuo, mas pela visão que ele tem de mim. Levando em conta que ele como humano racional sabe que também tenho essas competências, temos a mistura que inicia o processo. Como no exemplo citado pelo autor onde dois homens que não podiam se tocar e se comunicar conseguem ter seu momento de êxtase a distância apenas com mimica. Logo, o outro acaba se tornando parte de mim por ser em parte responsável pelo meu desejo involuntário. Este conceito de involuntariedade é importante na excitação, pois elementos como sorriso e rubor, que são totalmente involuntários, induzem muitas reações sexuais. Quando vemos uma pessoa sorrir ou ficar ruborizada, sem duvida temos a conclusão de que ela está devido a alguém ou algo. Por mais que esteja sozinha, em seus pensamentos existem coisas que a competem. Para compreender a diferença entre os desejos humanos em relação ao desejo sexual a compreensão da encarnação é importante. Alguns autores acham que o corpo é apenas um instrumento para a ação do eu, porém é mais valido, até mesmo por questões cientificas, associar o corpo ao individuo, eu sou meu corpo. E é justamente por eu ser meu corpo, que ações involuntárias destes são tão importantes no âmbito sexual: sorriso, choro, rubor etc comunicam vontades, pensamentos e desejos que nos caracterizam. Por é absurdo imaginar alguém que se apaixona apenas por órgãos sexuais, por mais que sejam eles que para alguns autores, tem toda a função sexual. O comum é nos apaixonarmos pelo resto, que é o ponto principal de toda demonstração involuntária. Existe o conceito de pessoas desencarnadas, estes podem ser instituições como empresas, o estado, ou até mesmo o próprio deus. Por mais que tenham alguns sentimentos humanos em relação a esses "indivíduos", não é possível que tenhamos desejos sexuais pelos mesmos, de tal forma que percebemos ai um vinculo entre desejo e encarnação. Enquanto alguns estudiosos como Freud e aqueles do Relatório Kinsey dizem, o desejo sexual está apenas associado a modificações nas glândulas e o orgasmo é o objetivo final de todas essas alterações no corpo. Porém, se olharmos a situação no ponto de vista humanos, percebemos que na verdade o desejo esta fora de si. Quando queremos nos relacionar com alguém, dizem que "queremos ela/ele". O desenvolvimento da linguagem nesse âmbito é muito revelador, porque normalmente nunca podemos substituir o "quero ela" por "quero fazer sexo com ela", não é o ato que se busca, e sim o individuo. Se fosse o ato, a substituição de ela por "outra" ela, ou simplesmente um animal ou objeto seria o suficiente. O pensamento individualizante está tão presente no âmbito do desejo sexual que por vezes na literatura, como em Romeu e Julieta, é necessário que exista a desvinculação da pessoa com seu nome para que o desejo da mocinha da obra seja concretizado. Dessa forma, observamos o fenômeno de que, ao imaginarmos que estamos diante do objeto do nosso desejo sentimos prazer mesmo que este não o seja, e a repulsa vem quando isso se descobre. Novamente, podemos desmistificar a associação de desejo sexual e fome, em enquanto a fome não denota a necessidade de individualização (posso comer um prato de cenoura, independente de ser "este" prato ou "aquele") o ato de sentir desejo por uma pessoa não lhe imbui de sentir por todas as outras. A ética kantiana, tão usada em nossa sociedade, não é muito feliz ao tentar explicar o desejo sexual, pois ela erroneamente associa desejo com apetite, mas diferente da fome, que necessita de fontes animais e vegetais, o desejo sexual necessitaria de seres humanos. Esta visão do "imperativo categórico" não leva em conta a "intencionalidade individualizante" e seu "foco na encarnação". Levemos em conta também a importância da curiosidade no desejo sexual, enquanto seres racionais temos essa necessidade e prazer pelas respostas de nossas duvidas, em geral isso é levado ao sexo, porém, para o autor, ele se dissolve na hora que o amante começa seus atos, sai a curiosidade entra a preocupação pessoal. De tal forma que vem a pergunta: qual o objetivo do desejo? Ao fazermos uma analogia com o jogo de futebol, por vezes podemos nos confundir que nesse jogo o objetivo é o gol, o que não é o caso. Podemos perceber 4 tipos de objetivos para este: o imediato (pontuar), o longínquo (vencer), o motivo (diversão) e a satisfação (experiencia significativa). A essa altura do livro ainda não temos todas essas respostas, mas temos a imediata que é a "união com o outro", o contato físico do tipo que é causa e objeto da excitação. De tal forma que quando alguém está sedento por sexo, ele não está com desejo por alguém, mas com desejo pelo desejo, este só se configura como desejo sexual quando a mulher (que no caso do exemplo do marinho a longos dias apenas vendo homens) é a primeira mulher que se apresenta. O prazer sexual mutuo também é um dos objetivos, quando um dos lados não se preocupada com o prazer de outrem, surgem as chamadas perversões. Nos casos mais graves pode chegar a perversões de necrofilia ou ao usar a imagem de outrem sem a sua permissão, em casos de justiça. Este ultimo caso curiosamente ocorre quando o outro é objeto de desejo e não o quer ser. O fenômeno de sê-lo é importante neste contexto pois, o mesmo ato sexual que causa desgosto em alguém pode não causá-lo caso seja desinteressado (esbarrações num ônibus), estes mesmos atos quando imbuídos de desejo de um só dos lados são criminosos, como já citado. Para concluir, o autor diz que orgasmo não é objetivo do prazer pois ele pode ser objetivo mecanicamente e mesmo assim não satisfaz todos os nossos interesses sexuais e que existem duas etapas importantes no caminho do desejo que irão ser comentadas, intimidade e a realização do desejo no amor erótico. Capítulo 5 - O Objetivo Individual Para definir a individualidade, o autor tem seis ideias: – O universal e o particular:para que você despreze alguém, é necessário que ele tenha algum elemento para isso, se outro individuo tiver o mesmo elemento, também será odiado. – O fundado em razões: algo que uma pessoa tem como qualidade pode ser motivo para ser amada, porém surge a discussão: você ama a pessoa se ela deixar de ter isso. Em geral, é um conjunto de razões que vai definir o "ele" que eu amo. – Atenção e desatenção: aqui o autor introduz o conceito kantiano de "interesse desinteressado" que surge de elementos que você não busca mas te encanta esteticamente. – O propósito e o despropositado: nem sempre um relacionamento tem objetivos, má amizade, por exemplo, é um tipo de relação interpessoal sem um objetivo a ser seguido, mas é um fim em si só. - O transferível e o intransferível: aqui o conceito fica mais claro, quando estamos gostando de alguém não podemos simplesmente transferir esse sentimento para outra pessoa. Ser tão bom quanto não vale, não é possível. – Mediato e imediato: Posso gostar de alguém sem conhecer simplesmente por alguma característica que sei que a pessoa tem, esse é o caráter imediato da individualidade. Aqui já podemos fazer uma distinção de amor e desejo, pois o amor tem objetivos e razões. Porém o desejo é muito forte também, o que normalmente o faz ter atitudes que não consegue estimar. O conceito de eu toma conta do capítulo, onde ele define que se relacionar com alguém é se relacionar com o "eu" dele. Mas ele não é tão individual ao ponto de não termos uma concepção clara do que ele experimentam, apenas por ser um ser individual, suas experiencias podem ser universais. Quando nos relacionamos com ele, levamos em conta o nosso eu, e de tal forma, ao eu único do próximo. O autor começa então a falar sobre o paradoxo de Sartre, que não explica a importância do "outro" na fenomenologia do prazer sexual. Para ele tem duas formas de consumar a união de duas pessoas, o desejo sexual normal e o sadomasoquismo. Para Sartre a primeira desaba na segunda, pois o objetivo é sempre se apropriar da encarnação do outro. Alguns autores como Hegel dizem que não é o desejo sexual que tem essas contradições, mas sim a luxúria, que é a bestialidade humana que em linhas mais pesadas chega ao estupro. Para o autor o desejo não tem contradições, pois ele leva ao trabalho mutuo, que é diferente das conclusões paradoxais de Sartre. Discorrendo sobre o objetivo do desejo, o autor conclui que este é entrar o outro em seu corpo. No qual nós acabamos por ter essa busca pelo corpo do outro, pois é lá que ele demonstra a sua individualidade, no sorriso que percebo que o estou afetando sem o seu controle. Por tanto, quando eu beijo, se não estou sendo perverso, estou beijando o sorriso e não a boca, o eu que se revela em ações involuntárias e não a ferramenta corpo. Então o autor propõe sobre o desejo as seguintes afirmações: – A intransferibilidade tem fundamento no objetivo do desejo – o objetivo do desejo é individualizante – Esses pensamentos individualizantes definem na individualidade ilusória (perspectiva de primeira pessoa) e da verdadeira (corpo humano). – O desejo tenta unir esses dois padrões. Alguns elementos de contato estão em outros tipos de relação, por exemplo com crianças, mas eles não denotam excitação, justamente porque a criança ainda não tem uma perspectiva em primeira pessoa formada para que tenhamos esses vínculos e buscas. Esta busca do perspectiva em primeira pessoa é extremamente importante no entendimento do desejo, devemos levar em conta que, por mais que busquemos este eu verdadeiro, nunca estaremos "na pele" da pessoa para vivenciá-lo. Esta vontade é tão forte, de ver o que o outro está vendo, que alguns cometem o erro de fazer sexo se olhando no espelho. Claro, algumas autores moralistas cristãos como Agostinho demonizavam totalmente o sentimento sexual, dizendo que ele era o reflexo da queda. Vale a pena destacar ao final do capitulo que por vezes os humanos empreendem para se amarem como animais, tirando o elemento individualizante da jogada, como por exemplo no poliamor. A experiencia mostra que esse tipo de desenvolvimento só destrói o desejo. Apenas quando acreditamos fielmente (por mais que cientistas digam o contrário) que cada individuo é único para nós no que compete a desejo sexual, é que nos livramos de ansiedades, sentimentos falsos e luxuria. Capítulo 6 - Fenômenos Sexuais Neste capítulo o autor refletirá sobre experiências sexuais fora da normalidade. - Obscenidade: quando algo se torna obsceno sexualmente falando isto ocorre quando vemos a relação sexual em terceira pessoa. Obras artísticas que observam o sexo em primeira pessoa normalmente não usam de elementos como órgãos sexuais para explicá-los. Diferente da pornografia que foca nisso. Neste âmbito, a curiosidade toma papel importantes, pois por vezes ela supera o desejo, e quando ocorre o fim da relação sexual, esses elementos nos envergonham. Como dizia os romanos, "animal post coitum triste". Dizendo que essa tristeza vem da nossa alma animal. De acordo com o autor isto é meio errado pois nosso desejo não surge disso. - Modéstia e vergonha: São sensações difíceis de lidar. A vergonha por exemplo é perigosa para o individuo que a sofre pois normalmente é fruto de uma evidencia que é impossível de ser contradita. O autor promove a ideia, baseado no estudo de Havelock Ellis, que a vergonha sexual é um tipo diferente deste fenômeno. E que possivelmente está associado com o lado escatológico dos órgãos sexuais. Podemos evidenciar isso até nas palavras utilizadas para se entender alguns conceitos sexuais (como puro e impuro). Levando em conta que seios também são fruto da vergonha sexual, esse estudo não está completamente certo. Essas teorias não explicam, então, a vergonha sexual. Podemos observar outros elementos interessantes,c omo por exemplo a vergonha no pós-sexo. Este desprezo por si mesma surge pois (a mulher em especifico) percebe que aquele que lhe fez mostrar sua nudez não o deseja mais. Percebemos então que essa "vergonha sexual" é fruto de uma questão maior, a vergonha do corpo, que em outras palavras tem medo de demonstrar a encarnação do eu no corpo para os outros. - Significado dos órgãos sexuais: O autor mostra que esses órgãos, como o corpo, indicam individualidades que não controlamos. Somos escravos desses órgãos, não os controlamos, como um sorriso ou choro. Os elementos escatológicos que esses órgãos permeiam demonstram a nossa dependência do corpo. Na arte, alguns homens demonstram ódio a seu pênis quando o mesmo não funciona, querendo que o mesmo pare de funcionar para aquilo que também serve, urinar. - Prostituição: Vencer o próprio corpo é endurecer a alma, pois é impossível desvincular sua individualidade do seu corpo. Tentar reduzir uma relação sexual a um custo monetário tende a minimizar a personalidade da pessoa, apoiando-se na perversão da transferibilidade sexual já discutida aqui. No fim, o homem que busca isso usa o corpo da mulher como uma ferramenta, transformando a mulher num meio. Numa sociedade de consumo como a nossa, a beleza da mulher acaba se "bonecalizando", por isso que as prostitutas e modelos de passarela tem esse aspecto. E assim, a mulher prostituta por sua vez, busca seu prazer no dinheiro, mas isso não é possível, pois o dinheiro não tem nem um aspecto individual admirável. No máximo, ela teria prazer sobre o poder do homem, mas esse elemento não se mostra potencializado numa relação de prostituição. – Enamoramento: Aqui o autor mostra a distinção entre a pessoa que ama (esta vê todos os atos e gestos dequem ama e fica encantada por eles) e a apaixonada, que faz a assimilação inversa (os gestos de outrem despertam seu desejo, e após o surgimento desse desejo, busca outros elementos importantes). - Ciúme: Para o autor, o ciúme é uma tirania, uma dependência ontológica (ou seja que detêm a natureza da realidade e da existência). Em suas palavras: Quanto maior o amor, maior será a inveja. O ciúme é uma catástrofe sofrida apenas por aqueles que entraram na condição de "dependência ontológica" que existe no amor erótico - a dependência de quem procurou, dentro e através do desejos sexual, as consolações de uma intimidade perfeita." Ele associa o ciume por completo ao desejo sexual mal estabelecido. Os elementos individualizante tomam papel principal aqui, pois é quando a individualidade um é humilhada e renegada por outro. Na sexo, em geral temos uma necessidade que além de nossa individualidade, a pessoa nos ame por sermos "o melhor membro do grupo", só que dessa forma outros membros do grupo podem tomar esse posto, dai surge o medo da traição. A teoria escatológica é um elemento a ser analisado em algumas obras clássicas, como em Espinosa que ele cita que essa raiva do ciúme pode surgir de sua mulher em contato com partes que produzem escatologias de outra pessoa. Obviamente isso perdeu força com o passar dos anos, mas o elemento sexual, que para o autor é o mais importante no ciúme, se mantêm. - Dom-juanismo: A busca desenfreada por sedução de pessoas. Não necessariamente com o ato sexual, mas que a pessoa seja sua. Nisto, o dom-juan lhe dá toda a atenção possível, tratando cada uma com uma atenção máxima. Pode parecer que este está buscando o "eu" de cada uma, mas na verdade a transferibilidade desse fenômeno sexual mostra que o individuo não importa. Este é um dos fenômenos mais perigosos pois lhe demanda muito tempo e trabalho para desenvolve, pois a demanda de novas pessoas é infinita. - Tristanismo: a pessoa se sente tão apaixonada por alguém, que só consegue se livrar desse sentimento esmador com a morte. Neste ponto, o suicida na verdade está procurando ter o controle sobre sua amada, destruindo seu corpo, o único elemento que os une. Saber como a sociedade leva em cota os mortos (os mantendo vivos em sua memória) faz parte da atitude do tristão, pois assim ele estará para sempre como um novo "ego" na cabeça da sua amada. - Sadomasoquismo: este nem sempre é pervertido, pois atos de amor como mordidas levam a dor mas são completamente aceitos. Atos assim refletem a vontade de se "entrelaçar" com a pessoa que ama, de buscar infundir-se nele. Também temos o elemento involuntário no sadomasoquismo, onde a pessoa demonstra ações que obviamente estamos causando nela, superando a vergonha (já citada aqui). Porém tudo isso é diferente da tortura, onde o sadista machuca o outro e tem prazer na consciência de que o outro tem de que esta sofrendo. O vê como uma ferramenta, não como alguém a alcançar uma individualidade. Para Sartre, o torturador busca o momento em que a vitima se trai e se humilha, em suas palavras: "Na abjuração, a liberdade opta por ser inteiramente identificada com este corpo; este corpo distorcido e decadente é a imagem mesma de uma liberdade quebrada e escravizada". Capítulo 7 - Ciência do Sexo No decorrer dos capítulos anteriores, o autor não se preocupou no aprofundamento de ideias cientificas associadas ao sexo. Neste, ele irá, analisando mais precisamente questões de Sociobiologia e psicologia freudiana. Como seres humanos, temos nossas atitudes racionais, mas levamos alguns pontos em comum com animais, como o instinto sexual. Para Montaigne, essa dicotomia entre o lado racional e bestial é uma questão sem resposta. No decorrer do desenvolvimento de nossa ciência, observamos comportamentos sexuais de alguns animais e fizemos as analogias com os nossos, colocando-os todos num mesmo caldeirão chamado sociobiologia, que tenta nos provar que todos estes comportamentos ocorreram por sua questão utilitarista ao desenvolvimento e evolução da espécie. Aqui encontramos o primeiro problema em reduzir tudo a ciência: o desejo sexual e seus fenômenos concomitantes, apesar de estarem em importantemente enraizados em nossa condição biológica enquanto seres que se reproduzem sexualmente, não são irredutiveis a nenhum aspecto da conduta humana que seja compartilhado com animais. Reduzir tudo a ciência nos afasta da relação fenomenal que temos com determinada ação interpessoal. No caso do sexo em específico, chegamos até a perder seu real efeito ao reduzi-lo a uma questão genética e química. Os cientistas, como os marxistas, não dão importância a questão fenomenal, reduzindo a "verdade real" biológica da condição humana, da mesma forma que os seguidores de Marx o fazem sobre a essência oculta social do materialismo. Aqui podemos fazer uma analogia com o pensamento matemático para entender porque a sociobiologia não está certa. Quando compreendemos que 2 mais 2 é quatro, sabemos isso não devido a ao surgimento da matemática e sua necessidade para a construção da espécie humana, mas antes de construirmos a matematica como entendemos hoje, essa ideia e que 2 mais 2 é quatro já estava posta. De tal forma que se descobrirmos o porque que a matemática é útil a espécie humana, isso não faria qualquer diferença ao conhecimento matemático e suas teorias em si. Trocando matemática por comportamentos sexuais, a analogia está feita. Um dos seus grandes defensores, E. O. Wilson, defende que o comportamento sexual humano, baseado na sociobiologia, é intrinsecamente poligâmico e não preocupado com a reprodução, apenas com a união entre indivíduos. Se assim o fosse, ele não seria poligâmico, pois a moralidade liberal não da valor a fidelidade, modestia e contenção, que são elementos importantes nas relações interpessoais. Alguns outros autores como Schopenhauer também analisaram o fenômeno do desejo sob a luz da sociobiologia, diferentemente de seus colegas cientificistas, Schopenhauer fez uma analise metafísica também, dizendo que este desejo surge não por um elemento genético, apenas, mas sim pelo fruto das duas individualidades que se encontram no ato, ou seja, outra individualidade que é o filho. Então, para ele, este desejo nos faz submeter a tirania do outro, e por consequência da criança. Tudo isso é fruto, claro, de instintos selvagens também. Porém aqui nossa situação biológica alimenta nossa compreensão intencional, que a coisa que nos supera em desejo funciona através do outro, mas não provém inteiramente dele. Isto vai de encontro a ideia de Aristófanes de que nós e nossos amados somos duas almas separadas. De elementos como este Hartmann deriva a conclusão de que essa busca desenfreada pela pessoa que nos deixa apaixonado é, novamente em termos genética, o projeto de construir um individuo que mais completamente represente a ideia de raça, ideia que surge do nosso subconsciente. Eventualmente estes elementos são sintetizados por Freud. Freud trata a mente em termos hidráulicos, onde fortes sentimentos são presos por barreiras e forças, estes sentimentos então barrados acabam causando outras reações. Ações mentais automáticas do ego na infância acabam levando a construções complexas na vida adulta. Três elementos dinâmicos que fazem a analise das informações que devem ou não chegar ao consciente são o ego,que é o "eu" dentro de cada um, pois é o "observador interno" dos estados mentais. Este nos protege da "id" nosso lado animal. E o "superego" é mestre e criação desse ego ao qual ele atormenta. Estes elementos metafóricos são base paratodas as explicações "cientificas" de Freud, mas por si só não são propriedades que realmente são observáveis. Freud diria que eles são fruto de realidades neurológicas, que curiosamente até hoje não foram observadas. Aqui temos uma primeira incongruência, pois se o "ego" não for uma espécie de homenzinho que vai nos protegendo de pensamentos que ele mesmo não observa (pois este é o "eu dentro da nossa mente) e sim uma região do espaço mental, por que então animais não tem ego e todas as suas consequências individualizantes? Agora analisemos apenas a questão sexual em Freud. Ele define como "libido" a força que nos leva a ter instinto sexual e a busca por objetos que nos satisfação sexualmente. Elementos que ele "catexisa" como os órgãos sexuais são chamado por ele de zona erógena, ao fim de seu desenvolvimento qualquer parte do corpo pode ser uma dessas zonas. Ele divide o desenvolvimento sexual em duas partes: a ocorrida na infância, onde ocorre a "repressão" (analogia hidráulica) e a segunda na adulta, onde "forças" mantêm. determinados desejos escondidos. Freud tenta se manter cientifico em sua analise, mas a transição da primeira fase para a segunda não é nem um pouco explicada em qualquer conceito cientifico que seja. Elementos como "ego", "id" e "superego" também não tem local nessa transição. Na crítica a libido freudiana, podemos observar elementos já discorridos no livro como suas analogias ao desejo sexual e fome. Ele diz, grosso modo, que os processos são os mesmos. No caso, podemos fazer a analogia freudiana com um amigo conversando à mesa conosco sendo o objeto de nosso desejo e a matar a fome o ato de se satisfazer sexualmente. Diferente do que Freud propõe na sua analogia alimentícia, não podemos inferir que estar sentado a mesa com o amigo vai matar nossa fome, e nem comer vai nos dar o prazer da amizade se o amigo está longe. Nestes termos, Freud também não leva em conta a transferibilidade de sentimentos. Assim, "o fato de a minha libido estar "engarrafada" não tem mais relevância para a questão se é certo fazer amor com esta mulher diante de mim do que o fato da minha adrenalina estar "engarrafada" para a questão de saber se eu deveria estar zangado com ela". Na crítica a "zona erógena" temos o mais baixo da estrutura de pensamento de Freud. Para ele o prazer da zona erógena tem a mesma estrutura superficial de se coçar, a mais da intencionalidade interpessoal. Nas palavras dele, os trejeitos de satisfação de um bebê apos ser amamenta-lo indicam que o prazer sexual já está no bebe, e mais propriamente dizendo, nos lábios dele, onde agora esta parte do corpo também é uma zona erógena. Ele desconhece o fato (talvez por falta de tato) que determinados órgãos não são zonas de prazer, mas canais de comunicação do mesmo (levemos em conta aqui o rubor, já citado anteriormente). O atual "funcionamento" das teorias de Freud é, para o autor, fruto de sua boa retórica. Esta aplicada na hora do tratamento de um paciente com determinados problemas de afirmação vem ao momento em que o psiquiatra induz ao seu paciente de que o problema está "realmente dentro dele", e assim, lhe dá respostas associadas a teoria freudiana que correspondem aos anseios de seu paciente como se estas respostas estivessem "na ponta da língua" do doente. Levando em conta que as teorias freudianas normalmente tiram do paciente a carga das responsabilidades (como por exemplo citando que seus sentimentos estão presos numa represa criada pela "sociedade ou pais opressores", assim, não sendo culpa dele quando esses sentimentos "vazam" e causam problemas) estas correspondem e são bem vistas pelos pacientes em seus tratamentos. A proibição do incesto é um bom exemplo para finalizarmos este capitulo: na visão da sociobiologia, esta ogerize ocorre porque a manutenção de mesmos genes na prole pode causar sérios problemas físicos e mentais. Para Freud, em contraste, está preocupada inteiramente com o conteúdo intencional da repulsa, mas onde está o pensamento que nos afasta desse ato e porque? No fim, percebemos que a teoria de Freud é na verdade um "revisionismo intencional", onde busca nas consequências os motivos de seus meios. Para o autor, o desejo sexual não é impedido pela moralidade, mas criado por ela. A vergonha só impede as expressões perversas do desejo. Sem vergonha, nossos desejos se reduzem a coceiras infantis. Capítulo 8 - Amor
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