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~ CAPÍTULO 55 ORIENTAÇÕES BÁSICAS PARA PESQUISA QUANTITATIVA Paulo V. N. Fontanive Liége Teixeira Fontanive Aspectos-chave ..,. Um dos fundamentos mais importantes em pesquisa quantitativa é estabelecer claramente a questão de pesquisa, os sujeitos de es- tudos e a metodologia de mensuração (escolha das técn icas, dos desfechos e das variáveis em análise). ..,. As características e os atributos essenciais de questões de pesquisa estão listadas na Tabela 55.1. Caso clínico ..,. A pesquisa quantitativa deve considerar, em especial, a importancia de etapas preparatórias à execução, como o cálculo do tamanho da amostra, bem como avaliar o método de amostragem escolhi- do, verificar o número de variáveis independentes mensuradas para montagem dos modelos estatísticos e avaliar o t ipo de desfecho ou variável dependente que está sendo usado (surrogate endpoínts ou desfechos clínicos orientados à pessoa). Estudo realizado por uma Unidade de Saúde do município de Florianópolis buscou informações contidas nos prontuários para avaliar os níveis de colesterol em uma amostra de indivíduos por meio de seus prontuários. A amostra de conveniência era de pessoas que consultavam na Uni- dade de Saúde ao menos 2 vezes ao ano. De acordo com o SIAB, a população de 60 anos ou mais era superior a 18%, ou seja, uma população com características de envelhecimento. A hipótese era de que a média de colesterol total no sangue encontrado na amostra era superior a 200 mg/dl (valor verificado em pessoas sadias). A média encontrada foi de 184 mg/dL entre os 88 indivíduos avaliados. Como pode-se considerar essa informação? Para isso, deve-se considerar o desvio-padrão como 45 mg/dL, um erro a de 0,05 e que o valor encontrado para o intervalo de confiança foi (196,3 - 174,4). Teste seu conhecimento 1 O estudo realizado verificou que: a) A hipótese de nulidade foi aceita. b) A média encontrada na amostra não permitiu verificar diferen- ça estatisticamente significativa aos parametros citados. c) A hipótese de nulidade foi rejeitada. d) Apenas se o erro t ipo a considerado fosse de 0,2, poder-se- -ia afirmar que a amostra apresentou média estatisticamente inferior aos parametros. 2 Quanto à fonte de dados, podem-se considerar: a) Dados primários de levantamentos contínuos. b) Dados primários de levantamentos ocasionais. c) Dados secundários de levantamentos periódicos. d) Dados secundários de levantamentos ocasionais. 3 Diante das informações do caso, pode-se afirmar que o delinea- mento do estudo em questão é um: a) Estudo ecológico. b) Estudo de caso-controle. c) Estudo de coorte histórica. d) Estudo transversal. 4 De acordo com os achados do estudo, é possível inferir que: a) Em geral, indivíduos em acompanhamento em serviços de APS apresentavam valores de colesterol total no sangue dentro de níveis sadios. Tabela 55.1 CARACTER(STICAS E ATRIBUTOS ESSENCIAIS DE QUESTÕES DE PESQUISA Atributo Factível Interessante Inovadora ~tica Relevante Subdimensões relacionadas - Número adequado de sujeitos de pesquisa com po- der (1 - ~)adequado - Domínio da técnica adequada - Viabilidade logística (tempo e recursos financeiros adequados) - Escopo manejável adequado a capacidade dos pes- quisadores - Tema de interesse para o investigador - Confirma ou refuta achados anteriores - Expande conhecimentos anteriores - Fornece novos achados - A questão de pesquisa atende aos princípios éticos. - Para o conhecimento científico - Para diretrizes clínicas em saúde - Para direcionamentos futuros de pesquisas A elaboração do plano de estudo ou do anteprojeto é uma oportunidade para refinar e clarear as questões de pesquisa. , E nessa etapa que são vislumbrados potenciais problemas na execução da pesquisa. Quando a questão de pesquisa não atende aos atributos listados anteriormente, pode haver o uso de técnicas e modelos de estudo que suplantam a habilidade do pesquisador - limitação no número de sujeitos disponí- veis, custo elevado ou ainda uma questão de pesquisa muito , ampla ou não factível. E importante salientar que os delinea- mentos em pesquisa quantitativa possibilitam que esses pro- blemas sejam contornados mediante a redução no número de variáveis, a redução no escopo da questão, a flexibilização dos critérios de escolha por meio de outras fontes de ingresso de sujeitos ou a redefinição dos critérios de exclusão, revisan- do a literatura que enfoca o uso do modelo de pesquisa e das técnicas a serem adotados, entre outras formas de adequar a questão de pesquisa. Nesse sentido, pretende-se com este b) A distribuição da ocorrência de idosos e de crianças não se configura em um viés de seleção na pesquisa. c) A opção por uma amostra de conveniência não limita a valida- de externa do estudo. d) A amostra de indivíduos avaliados apresentou o colesterol total dentro de limites saudáveis em média. P ·v 'p ·e 'p ·z ') · ~ seisodsa~ capítulo abordar inúmeras questões que são fundamentais ao desenvolvimento da pesquisa quantitativa voltada à Atenção Primária. Para pesquisadores com alguma experiência, as questões de pesquisa mais relevantes surgem de achados e de proble- mas verificados em pesquisas anteriores. Para pesquisadores iniciantes, buscas na literatura mediante overviews e revisões sistemáticas podem ser fontes de questões de pesquisa. Outras fontes comumente citadas são fóruns, seminários de discus- são, congressos e a prática clínica do cotidiano. ~ VIESES A tendência a produzir resultados que se afastem sistemati- camente dos valores verdadeiros denomina-se viés. Todo tipo de tendência que pode levar a conclusões que sejam sistemati- camente diferentes da verdade como tendências na coleta, na análise, na publicação e na revisão de dados podem assim ser denominadas. Os vieses podem ser chamados também de erros sistemáticos. Viés de seleção ~ ocorre quando as comparações entre gru- pos de pessoas diferem não pelos principais fatores em estudo, mas por outros, que podem afetar o desfecho, p. ex., idade, sexo, gravidade da doença, entre outros. Viés de aferição ~ ocorre quando os métodos de avaliação/ aferição são diversos entre os diferentes grupos de pessoas. Viés de confusão ~pode ocorrer em virtude da presença de uma variável interveniente ou confundidora, que pode estar mascarando o efeito de um fator em estudo sobre o desfecho. Dessa forma, o efeito de um pode ser confundido ou distorcido pelo efeito do outro. Cabe salientar que uma variável não será confundidora se estiver diretamente entre a causa e o efeito. Acaso ~ a divergência entre os resultados em uma amostra e o valor verdadeiro na população, devido exclusivamente ao acaso, chama-se variação aleatória. ~ AMOSTRAGEM E CÁLCULO DE TAMANHO DE AMOSTRA Para que os procedimentos estatísticos sejam adequadamen- te executados, alguns processos devem ser rigorosamente seguidos. A escolha pelo método de amostragem e o cálculo do tamanho da amostra são etapas fundamentais ao desenvol- vimento da pesquisa quantitativa. A amostragem pode ser de inúmeros tipos, entre os quais pode-se relacionar: • Amostra de conveniência (não probabilística): é estabele- cida mediante critérios do pesquisador. No entanto, apre- senta limitação quanto à validade interna da população em estudo (representatividade) e risco para potenciais vieses. • Amostras aleatórias: vale-se da aleatorização da escolha dos indivíduos da amostra para garantir a representati- vidade destes para a população estudada e a distribuição aleatória das variáveis de interesse ou intervenientes. Amostra aleatória simples: é obtida pela numeração simples da população e pela escolha aleatória dos in- divíduos da amostra. Por exemplo, a tabelade número aleatórios e sorteio simples. Amostra aleatória estratificada: a aleatorização se dá após a delimitação de estratos populacionais de interes- se para o pesquisador ou em que as incidências de agra- vos ocorrem de formas diferenciadas entre os subgru- pos: sexo, cor, grau de instrução e outras características. Amostra por conglomerados: a aleatorização se dá em dois momentos, após a seleção de agrupamentos naturais de indivíduos (p. ex., escolas, quarteirões, se- tores censitários) e, após a listagem dos indivíduos e dos domicílios, uma nova seleção. O uso desse método é útil em casos em que a população de estudo é muito dispersa abrangendo grande área territorial. • Amostras sistemáticas: obtidas por uma amostra simples aleatória, apresentam, porém, um componente de perio- dicidade pré-estabelecido. Esse tipo de amostragem tem como risco a ocorrência de viés de seleção em função das periodicidades naturais humanas que permitem atuar sobre o resultado da amostra final resultante (devido à previsibilidade). Para cálculo do tamanho da amostra, algumas informa- , ções deverão ser delimitadas pelo pesquisador. E necessário saber qual o tamanho da população em estudo, qual o valor do erro tipo I que será usado (ou erro tipo a) e do erro tipo II (ou 13) e por consequência o poder estatístico. Outra informação importante é a magnitude do evento como, por exemplo, a pre- valência do problema que será investigado. Todo investigador deve partir de uma hipótese sobre a questão a ser pesquisada. Em geral, parte-se do princípio de que não existe associação entre a variável independente ou preditora e o desfecho ou variável dependente na população em estudo. Quando essa hipótese é verificada, pode-se afir- mar que a hipótese inicial nula ou de igualdade foi aceita. O erro tipo I diz respeito à probabilidade de rejeitar-se a hipótese nula de que não existe diferença entre as populações estudadas quando ela é verdadeira (falso-positivo). Ou seja, verifica-se que há diferença quando efetivamente não há. Já o erro tipo II, ou 13, ocorre quando aceita-se a hipótese nula, quando, na verdade, ela deveria ser rejeitada (falso-negativo). Antes de iniciar o estudo, o pesquisador deve determinar o nível de significância estatística máximo tolerado (tipo I) e a probabilidade para o erro tipo II. A Tabela 55.2, a seguir, exemplifica em que condições se verificam os erros. As técnicas para determinar o tamanho de amostra po- dem variar ainda conforme o delineamento de pesquisa (estu- dos descritivos, analíticos e experimentais), conforme os tipos de variáveis no desfecho ou na variável preditora e conforme a direcionalidade dos valores encontrados para os desfechos. A Tabela 55.3, a seguir, sintetiza os tipos de testes estatísticos Tabela 55.2 CONDIÇÕES DE VERIFICAÇÃO DE ERROS Resultados na amostra do estudo Verdade na população Associação entre o preditor e o desfecho Rejeitam a hipó- Correta tese nula. Não rejeitam a Erro Tipo li hipótese nula. Tabela 55.3 Ausênc.ia de associação entre o preditor e o desfecho Erro Tipo 1 Correta TESTES ESTATISTICOS DE ACORDO COM AS VARIÁVEIS Variável independente Variável dependente Dicotômica Contínua Dicotômica Teste do Qui-quadrado Teste t Contínua Teste t Coeficiente de correlação de acordo com as variáveis encontradas no estudo. Com esses testes, é possível verificar o tamanho da amostra. Como visto, há inúmeras maneiras de se estimar o tama- nho da amostra, mas todas apresentam os seguintes passos em comum: • Definir a hipótese de pesquisa (nula); • Selecionar o teste estatístico adequado conforme a tabela acima segundo o tipo de variável dependente e indepen- dente; • Verificar a magnitude de efeito e se possível sua variabi- lidade; • Estabelecer o nível de significância estatística (a- ou erro tipo I) e o erro tipo 13 (tipo II); • Utilizar uma das fórmulas de acordo com o delineamento de pesquisa e com as variáveis no estudo. .,_ CAUSALIDADE É importante salientar que as variáveis estudadas pelos diferen- tes delineamentos devem apresentar associações estatísticas e atender aos critérios de causalidade. As associações causais en- contradas devem atender aos seguintes critérios conforme Hill: • Força de associação; • Consistência (refere-se à repetição dos achados para dife- rentes populações); • Especificidade (uma causa é específica para um determi- nado efeito); • Temporalidade (a causa deve preceder o efeito); • Gradiente biológico (possuir curva dose-resposta); • Plausibilidade (o efeito verificado é plausível à luz dos co- nhecimentos biológicos atuais); • Coerência (a causalidade encontrada não entra em conflito com conhecimento consolidado sobre a história natural da doença); • Evidência experimental (por questões éticas, é raramente disponível em estudos envolvendo populações humanas); • Analogia (se determinado efeito adverso foi observado em um fármaco similar ao do estudo em questão, por analo- gia, supõe-se que o mesmo deve acontecer com o medica- mento em estudo). .- DELINEAMENTOS DE ESTUDO Como colocado anteriormente, a transformação das hipó- teses conceituais em hipóteses operacionais é intermediada pelos desenhos de estudo. Esses desenhos têm em comum a observação sistemática dos eventos de interesse, o uso de métodos estatísticos para interpretar os resultados e a com- paração entre diferentes grupos para evidenciar associações estatísticas entre as variáveis. Cabe distinguir os diferentes tipos de população: • População de estudo ou amostra: grupo de indivíduos que são observados ou recebem intervenções; • População fonte (universo amostral): população represen- tada pelo estudo; • População alvo: grupo a quem se destinam as inferências estatísticas. Os delineamentos de pesquisa diferem entre si no modo pelo qual selecionam suas unidades de observação/análise, mensuram os fatores de risco ou proteção, identificam as va- riáveis de desfechos e asseguram a comparabilidade entre os Tabela 55A TAXONOMIA DOS DELINEAMENTOS DE PESQUISA Controle sobre diferentes grupos avaliados. A Tabela 55.4, a seguir, explicita as características de cada delineamento de estudo. Estudos transversais O estudo em questão diz respeito à coleta de dados observa- cionais em um único momento em que os indivíduos são se- lecionados da população fonte inteira (esquema completo). Apresenta limitada capacidade de inferência causal devido às características das coletas. Esse delineamento é mais apro- priado para levantar hipóteses etiológicas ou para estimativas populacionais como prevalências e médias. Estudos de coorte Estudo em que indivíduos sem doença prévia são alocados em grupos conforme o grau de exposição a fatores de ris- co ou de prognóstico. Esses indivíduos são acompanhados por determinado período para comparar a incidência de agravos entre os diferentes grupos. Essa coorte pode ser fixa ou dinâmica. Toda a população predefinida é obser- vada (esquema de seleção completo), sendo as informações obtidas por indivíduo e não por conglomerado. Como há seguimento, a observação não é pontual como nos estudos transversais, portanto, considera-se as coortes como estu- dos longitudinais. Estudos ecológicos Esse tipo de estudo avalia informações obtidas de forma sec- cional e os analisa no nível de agregados. Nesse tipo de estudo, não se conhece a distribuição de doença e de exposição a fa- tores de risco no nível individual. Esse tipo de estudo permite o levantamento de hipóteses para novos estudos com outros delineamentos. Unidade de Alocação de Tipo de Subtipos de a exposição ao Estratégia de análise ou Esquema de indivíduos fatorem estudo fator de risco observação observação seleção entregrupos estudo Transversal Observacionais Não Seccional Indivíduos Completo Não Casos e controles Observacionais Não Longitudinal Indivíduos Incompleto Não Coorte Observacionais Não Longitudinal Indivíduos Completo Não Ecológico Observacionais Não Seccional Comunidades Completo Não Quase-experimentais De intervenção Sim Indivíduos Sim, sem alea- (semi experimentais) torização Ensaios comunitários Sim Comunidades Sim, aleatori- Profilático zado Ensaios profiláticos De intervenção Sim Indivíduos Sim, aleatori- Profilático (experimentais) zado Ensaios clínicos terapêu- Sim Indivíduos Sim, aleatori- Terapêuticos ticos zado Estudo de casos e controles , E um tipo de estudo em que os casos de doenças de interesse são identificados e classificados de acordo com a exposição aos fatores de riscos de interesse. Como as informações sobre a doença e a exposição a fatores de riscos referem-se a mo- mentos diferentes, considera-se esse delineamento como um estudo longitudinal. O esquema de seleção é incompleto em virtude de o grupo controle ser formado por uma amostra da base populacional. Os indivíduos são avaliados também por meio da classificação conforme o grau de exposição ao fator em estudo. Estudos de intervenção Os indivíduos são alocados aleatoriamente em grupos garan- tindo ao indivíduos a mesma probabilidade de fazer parte de um dos grupos comparados. Nesse tipo de estudo, o investi- gador controla a exposição ao fator em investigação. Dessa forma, esse delineamento, por questões éticas, avalia apenas fatores que se acredita serem protetores à saúde. A escolha pelo tipo de desenho de pesquisa para avaliação de uma hipótese varia conforme a natureza do agravo, dos re- cursos existentes e da logística para tal, do tipo de exposição a fatores de proteção ou de risco e do conhecimento prévio da história natural do agravo. "' MEDIDAS DE EFEITO EM ESTUDOS QUANTITATIVOS Para comparar os riscos, diversas medidas de associação entre as variáveis dependentes e independentes, ou a exposição e a Tabela 55.5 MEDIDAS DE EFEITO EM ESTUDO QUANTITATIVO Expressão Questão doença, chamadas de medidas de efeito, são utilizadas para quantificar essa relação. Essas medidas representam diferen- tes usos para conceitos de risco diferentes. É importante sa- lientar que a expressão mais simples de risco é delimitada pela incidência, que é a razão entre o número de casos novos de doença que surgem em um determinado período em uma po- pulação definida inicialmente livre de doença. A Tabela 55.5 facilita o entendimento dessas equações. Risco absoluto lll> é a probabilidade de um evento ocorrer em uma população em estudo. Risco atribuível lll> é a diferença verificada entre o risco veri- ficado entre os indivíduos expostos a fator de risco e os indiví- duos não expostos. Risco relativo lll> é o número de vezes que o risco é maior en- tre os indivíduos expostos a fator de risco em relação ao risco entre indivíduos não expostos. Risco atribuível na população lll> é o resultado na popula- ção do efeito de um fator risco sobre as taxas globais de doença medindo o excesso de incidência da doença em uma população. Odds ratio lll> é o resultado de razão da chance de adoecer no grupo exposto sobre a chance de adoecer no grupo não expos- to. A vantagem do OR é que pode ser estimado diretamente em estudos de casos e controles, tem propriedades estatísticas que permitem modelos múltiplos como a regressão logística e modelos log-lineares. Quando a doença não é comum (preva- lência menor que 10 % ), o OR calculado pode ser interpretado como a razão de riscos (Tabela 55.6). Definição Risco absoluto Qual é a incidência da doença em um grupo inicialmente livre dela? 1 = Nª de casos novos durante período Risco atribuível (diferença de riscos) Risco relativo (razão de riscos) Risco atribuível na população Fração atribuível na população Razão de chances (odds ratio) Nª de pessoas no grupo Qual é a incidência da doença atribuível à exposição? Quantas vezes é mais provável as pessoas expostas se tornarem doen- RR = IE/ 1, tes, em relação às não expostas? Qual a incidência da doença em uma população associada com apre- RAP= RA x P valência de um fator de risco? Que fração da doença em uma população é atribuível à exposição a FAP= RAp/11 um fator de risco? A chance de desenvolver doença no grupo de expostos é maior ou OR = ad I bc* menor do que no grupo de não expostos? IE = incidência nas pessoas expostas; 1. = incidência em pessoas nao expostas; P = prevalência da exposiçao a um fator de risco; 11 = incidência total da doença em uma populaçao Fonte: Fletcher & Fletcher. 1 Tabela 55.6 CONTING~NOA PARA CÁLCULO DO ODDS RATIO Pessoa doente Pessoa não doente Total Exposto a b a+b Não exposto c d c+d Total a+c b+d a+b+c+d ~ LEVANTAMENTO DE DADOS O levantamento de dados pode ser realizado de três formas para construção de um banco: de forma contínua, periódica ou ocasional. Levantamentos contínuos ._quando os dados vão sendo registrados na medida em que ocorrem. Exemplos: óbitos, in- ternações, doenças de notificação, consultas. Tabela 55.7 PROPÕSITO DE TESTE Propósito do teste Teste paramétrico Levantamentos periódicos ._são aqueles que acontecem periodicamente. Exemplo: os censos. Levantamentos ocasionais ._ são realizados por demanda e sem a preocupação da continuidade ou periodicidade. Exem- plos: estudo longitudinal da saúde do adulto (ELSA), Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD). Com relação às fontes onde os dados podem ser obtidos, pode-se considerar a classificação do Quadro 55.1. ~ AVALIAÇÃO DE TESTES ESTATÍSTICOS Não é necessário que uma pessoa construa um celular, conhe- ça suas peças ou programe seu software para que possa usá-lo. Da mesma forma, boa parte do que foi visto em capítulo ante- rior sobre fundamentos de bioestatística não precisam, neces- sariamente, ser o dia a dia do clínico. O que é relevante saber sobre os testes estatísticos é qual é o melhor teste para usar em problemas comuns. Dessa forma, a Tabela 55.7, a seguir, sumariza o propósito do teste, os tipos de testes paramétricos (distribuição normal) e não paramétri- cos (distribuição assimétrica ou anormal/polarizada) a serem Teste não paramétrico Exemplo Comparar duas amostras independentes de uma mes- Duas amostras (não pareadas) Mann-Whitney Comparar peso de mulheres e homens. ma população. Teste t Comparar dois conjuntos de observações em uma úni- Uma amostra ca amostra (teste de hipótese de que a diferença das médias entre as duas medidas é zero). Teste t pareado Teste U Wilcoxon Teste pareado Generalizar o teste t ou o teste pareado de Wilcoxon ANOVA usando a soma dos Teste de Kruskall-Wallis quando três ou mais conjuntos de observações são fei- quadrados (uma via) tos em uma amostra. Comparar o peso em crianças antes e após a alimentação. Determinar se o nível de glicose no plasma é maior em 1, 2 ou 3 horas após a refeição. Como no anterior, mas com testes de influência (e in- ANOVA (duas vias) teração) de duas diferentes covariáveis. ANOVA (duas vias) por No exemplo anterior, para determinar se o categoria resultado difere entre homens e mulheres. Teste para hipótese de nulidade de que as proporções Sem um equivalente das variáveis estimadas para duas ou mais amostras in- dependentes são a mesma. Teste para hipótese de nulidade de que as proporções Sem um equivalente estimadas para uma amostra pareada são a mesma. Teste Qui-quadrado Teste de McNemar Avaliar a força da regressão linear entre duas variáveis Coeficiente de correlação de Coeficiente de correlação contínuas. Pearson de Spearman Descrever a relação numérica entre duas variáveisRegressão pelo método dos Sem um equivalente quantitativas permitindo a previsão de um valor para quadrados mínimos a outra. Descrever uma relação numérica entre uma variável Regressão múltipla pelo Sem um equivalente dependente e várias variáveis preditoras. método dos quadrados mí- nimos Fonte: Greenhalg.2 Para avaliar se a aceitação na faculdade de medicina é mais provável se o requerente nasceu no Reino Unido. Para comparar a sensibilidade e especifici- dade de dois diferentes testes diagnósticos quando aplicados a uma mesma amostra. Para avaliar se a quantidade de HbA 1 plas- mático está relacionado com os níveis de triglicerídeos plasmáticos em pessoas dia- béticas. Para ver como a taxa de pico de fluxo expi- ratório varia com a altura. Determinar se a idade da pessoa, a gordura corporal, a ingestão de sódio determinam sua pressão sanguínea. Quadro 55.1 FONTES PARA OBTENÇÃO DE DADOS Dados secundários (fonte secundária) Quando os dados se originam de arqui- vos, registros, publicações, sistemas de informações. Ou seja, já são existentes. Dados de internações do Estado do Pará proveniente do sistema de informações hospitalares (SIH). Dados primários (fonte primária) São dados levantados direta- mente da população pesqui- sada. Dados coletados em pes- quisa de satisfação de serviços de Atenção Primária. usados e um exemplo de aplicação. Caso julgue demasiada- mente simplificado, há a possibilidade de buscar uma explica- ção mais abrangente em outras obras voltadas exclusivamente para análise estatística. IJJi. INSTRUMENTOS DE PESQUISA QUANTITATIVA EM ATENÇÃO PRIMÁRIA Inúmeros instrumentos de avaliação da Atenção Primária têm sido propostos a partir de instrumentos da área da adminis- tração avaliando o desempenho e a efetividade de serviços de saúde e de Atenção Primária (5H2w, 5S, avaliação da estru- tura processos e resultados). Esses instrumentos de pesquisa têm sido aplicados junto aos provedores de serviços de saúde, por meio de auditorias ou através de avaliações institucionais. Porém, poucos se fundamentaram a partir dos pressupostos que orientam a Atenção Primária à Saúde (APS). . A partir da definição de APS sistematizada por Starf1eld B., pode-se considerar um serviço de atenção básica como provedor de atenção primária quando os atributos essen- ciais estão presentes em suas práticas. Os atributos deriva- dos são características dos serviços orientados à APS por apresentarem competências como o reconhecimento cultu- ral e comunitário. Os atributos da atenção primária são: • Acesso de primeiro contato • Longitudinalidade • Integralidade • Coordenação • Atenção centrada na família • Orientação comunitária • Competência cultural Pesquisas internacionais relacionam os atributos da APS com a efetividade e a equidade da atenção. Vários estudos têm sido conduzidos no país utilizando instrumentos valida- dos para o português e adaptados à realidade da rede de APS presente hoje no Sistema Único de Saúde. Na literatura inter- nacional, o PCATool (primary care assessment toai) foi desen- volvido nos Estados Unidos da América pela John Hopkins School of Public Health. Após o processo de validação e adaptação, pesquisa- dores têm aplicado esse instrumento para avaliar diferen- tes serviços e sistemas municipais de saúde e até mesmo modelos tecnoassistencias. Esse instrumento foi chamado pelos pesquisadores como PCATool Brasil (primary ca~e assessment toai Brasil). Cidades como Porto Alegre, Curi- tiba, Petrópolis, Florianópolis e outros grandes centros têm utilizado esse instrumento para avaliar seu desempenho e a orientação aos princípios e propósitos da Atenção Primária à Saúde. Esse instrumento foi construído para avaliar inúmeras fa- cetas do modelo assistencial em APS. Dessa forma, há as ver- sões da avaliação dos atributos da APS para usuários (adultos e crianças), da avaliação da orientação à APS por parte dos profissionais e para avaliação dos sistemas municipais de saú- de (avaliação sistémica). O instrumento original em inglês é constituído de 77 per- guntas distribuídas entre os atributos essenciais e derivados contendo uma escala do tipo likert de 4 pontos para respostas que variam de "com certeza não" a "com certeza sim". Cada uma das versões apresenta um número variável de questões de acordo com o processo de validação. A soma dos escores por atributo gera um escore geral da APS que pode variar entre O e 10, sendo O a ausência de qualquer orientação dos princípios que fundamentam a APS e 10, o atendimento pleno de todos os atributos para os serviços de APS. Serviços que apresentam valores acima de 6,6 no escore são considerados de alto escore, ou seja, desenvolvem suas ativida- des pautadas respeitando os atributos citados anteriormente. REFERÊNCIAS 1. Fletcher RH, Fletcher SW. Epidemiologia clínica: elementos essenciais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed; 2006. 2. Greenhalg T. How to read a paper: the basics of evidence based medicine. 2nd ed. London: BMJ Group; 2004. LEITURAS RECOMENDADAS Andrade SM, Soares DA, Cordoni Jr L. Bases da saúde coletiva. 2. ed. Londrina: Abrasco; 2001. Callegari-Jacques SM. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Art- med; 2003. Hulley SB, Cummings SR, Browner WS, Grady D~, He.ar~t ~· Newman TB. Delineando a pesquisa clínica: uma abordagem ep1dem1olog1ca. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 2008. Medronho RA, Block KV, Luiz RR, Werneck GL. Epidemiologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Atheneu; 2009.
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