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PROCESSO DE PRODUÇÃO JORNALÍSTICA AULA 4 Prof.a Alessandra Lemos Fernandes 2 CONVERSA INICIAL Olá, aluno! Chegou a hora de nos aprofundarmos nas técnicas de produção jornalística, ou seja, entender como cumprir cada uma das etapas que aprendemos nas últimas aulas. O domínio dessas técnicas é o que diferencia o jornalista como profissional fundamental para a nossa sociedade, uma vez que é o responsável por levar ao público informações de relevância. Logo você estará diante de entrevistados, o que fazer? O que perguntar? É claro que isso vai depender de quem é a pessoa, mas existem técnicas para preparar boas perguntas e você precisa estar atento a elas. Além disso, existem diferentes maneiras de fazer uma reportagem as quais devem ser conhecidas não apenas pelo repórter, mas por todos que atuam na produção de notícias. Vamos conhecer mais sobre esse assunto? Bons estudos! CONTEXTUALIZANDO Antes de começar, acesse o link a seguir e assista a um trecho do famoso filme de Charles Chaplin, chamado “Tempos Modernos”, em que o ator atua como operário em uma linha de produção. https://www.youtube.com/watch?v=4PaGw4ZRmWY Esse filme mostra uma linha de produção industrial conhecida como modelo fordista. Cada um é responsável por uma etapa, ou seja, o trabalhador não é responsável pelo todo. Em alguns casos, o operário nem sabe o que está sendo fabricado e cuida apenas daquela função específica. Quando se fala em Jornalismo, defende-se que o modo de produção de notícias não seja um modelo fordista. Pelo contrário, embora haja uma divisão de tarefas, cada profissional deve ser ter em vista o resultado final: a notícia. Seja na pauta, na apuração, nas entrevistas, na redação ou na edição, cada profissional deve ter como objetivo claro coletar o máximo de informações 3 que sejam relevantes ao público e que vão trazer novidades sobre o caso em questão. Exercer cada uma dessas etapas é um desafio cada vez maior. Se décadas atrás era a falta de estrutura ou de meios de telecomunicação que limitavam o trabalho do jornalista, hoje o impasse é econômico. As empresas jornalísticas querem faturar cada vez mais e gastar cada vez menos com isso, em um cenário típico da nossa sociedade, que é capitalista. Para isso, um único repórter deve cobrir vários assuntos e redigir vários textos em um só dia. Para isso, o profissional que quer trabalhar como jornalista nesse contexto precisa ter uma habilidade essencial: a agilidade. Pensar rápido, compreender os fatos, elaborar rapidamente perguntas, detectar o que é relevante na fala das fontes e escrever textos em poucos minutos. Para isso, é preciso ter técnicas como: pesquisar de forma ágil, dominar os tipos de entrevista, saber elaborar perguntas, conhecer diferentes tipos de notícias e reportagem e, por fim, conseguir colocar tudo isso em prática. Acesse o material on-line e confira a videoaula da professora Alessandra com mais informações sobre os requisitos necessário para o jornalista hoje. Nesta aula, você vai encontrar os seguintes temas: Tipos de pesquisa; Tipos de entrevista; Técnicas de entrevista; Técnicas de notícia; Técnicas de reportagem. Para introduzir esses assuntos, assista a um vídeo que faz uma sátira a um tipo comum de entrevista: a coletiva. No caso, a entrevista é com um jogador de futebol que perdeu uma partida. Observe que, nesse caso, os repórteres não 4 se reservam a fazer perguntas, mas também criam respostas — o que não é uma prática ética. Vale como descontração e introdução ao tema. https://www.youtube.com/watch?v=RLF4jSMDTrk TEMA 1 – TIPOS DE PESQUISA Segundo o dicionário “Houaiss” eletrônico, pesquisa é a investigação ou indagação minuciosa sobre um determinado fato ou assunto. Ou ainda é o "conjunto de atividades que têm por finalidade a descoberta de novos conhecimentos no domínio científico, literário, artístico, etc.". Em resumo, pesquisar é buscar descobrir algo que ainda não se conhece. Como é da natureza do Jornalismo trazer à luz aquilo que está encoberto, contar aquilo que os outros ainda não sabem, revelar fatos novos sobre um determinado assunto, podemos dizer que a pesquisa é uma atividade essencial na rotina de um jornalista. Mas como pesquisar sobre um determinado fato? Como descobrir coisas que os outros não sabem? Quais os tipos de pesquisa que podem nos levar a informações novas e relevantes? Primeiramente, é preciso saber que existem dois tipos principais de pesquisa usadas não apenas por jornalistas, mas por pesquisadores das mais diversas áreas: a quantitativa e a qualitativa. A seguir você tem mais informações sobre cada uma delas: Pesquisa quantitativa Busca saber a quantidade de pessoas, empresas, cidades ou países atingidos por determinados fenômenos. Os dados são apresentados na forma de estatísticas, números e percentuais. Geralmente não são feitas diretamente pelos jornalistas, embora alguns veículos tenham seus institutos de pesquisa. Na maior parte dos casos, são realizadas por Universidades, institutos (como 5 IBGE) ou empresas especializadas em opinião pública e depois são noticiadas pelos veículos de comunicação. Um exemplo é a matéria disponível no link a seguir, que apresenta o resultado de uma pesquisa sobre o número de usuários de internet móvel no Brasil em 2015. A Folha de S. Paulo usou dados da empresa comScore, que faz mediação e análise de internet. http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/05/1632742-numero-de- usuarios-da-internet-movel-no-pais-sobe-7-em-6-meses.shtml Outro exemplo podem ser as enquetes feitas pelos veículos jornalísticos, que são levantamentos informais sobre a opinião de um determinado grupo a respeito de um tema. Como exemplo, pode-se citar a enquete feita pelo Portal G1 sobre a opinião em relação ao processo de impedimento contra a presidente Dilma Rousseff, em 2015. Não se trata de um levantamento estatístico a favor e contra o impeachment, mas uma enquete (fala povo) para saber a opinião de algumas pessoas. Não há valor científico e não necessariamente reflete a opinião de todos os brasileiros, mas serve de ponto para discussão do assunto. Acesse o link a seguir e veja um vídeo do Jornal “O Globo” sobre esse assunto: http://oglobo.globo.com/brasil/nas-ruas-opiniao-dos-brasileiros-sobre- votacao-do-impeachment-18213405 Pesquisa qualitativa É mais analítica, preocupa-se menos com números e mais com a interpretação dos acontecimentos e o registro da opinião e das impressões das pessoas envolvidas ou que são afetadas por determinado assunto. A maioria das entrevistas jornalísticas tem caráter qualitativo, pois não busca saber a porcentagem de pessoas que pensam de forma A ou B sobre um tema, mas levantar dados junto a fontes selecionadas sobre o assunto que está 6 sendo abordado. Busca-se opinião, interpretação, informação, documentos e registros que se somam na busca de um relato. Agora que você conheceu mais sobre esses dois tipos de pesquisa bastante difundidos, vamos para o livro de Felipe Pena (2008) para descrever alguns métodos de pesquisa que podem ser usados por nós, jornalistas. Essas possíveis metodologias estão resumidas a seguir. O autor usa ideias de João Corrêa de Deus (2003) na obra “Pesquisa em Jornalismo”. Observação direta: o pesquisador, no caso o jornalista, tem contato direto com o fato, sem intermediários. Exemplo: repórter que presencia diretamente um acontecimento e faz a cobertura do fato para a produção da notíciaou reportagem. Observação direta participativa: aqui, o jornalista não apenas presencia o fato, mas se insere naquele cenário, participando do que está acontecendo, para se sensibilizar com a situação. Exemplo: produtor que se veste de morador de rua e passa uma noite dormindo na calçada para entrevistar pessoas que vivem nessa situação e sentir “na pele” circunstâncias vividas por eles. Observação indireta: é caracterizada pelo uso de intermediários, pessoas “enviadas” pelo jornalista para vivenciar ou observar um fato e depois repassar as informações. Exemplo: repórter entra em contato com o amigo que mora em Paris para que ele possa andar por pontos da cidade que foram alvo dos ataques terroristas de 2015 e relatar como está o clima na cidade. O jornalista está no Brasil e impossibilitado de ir até a França. Coleta: é o acesso facilitado do jornalista a dados, sem que ele precise de um esforço maior para descobrir informações. Exemplos: relatórios contáveis de empresas disponíveis na Internet, pesquisas divulgadas no site de institutos como IBGE, IPEA ou de governos. Levantamento: diferentemente da coleta, exige um esforço maior do jornalista em conseguir os dados e as informações. Geralmente, 7 começa a partir da “desconfiança” de que há algo errado ou uma denúncia. A partir disso, o jornalista começa a vasculhar sites, documentos e bibliotecas a fim de descobrir algo que ainda não veio a público. Exemplo: o jornalista Mauri König começou a acompanhar a rotina de policiais do Estado do Paraná e descobriu irregularidades, como o uso indevido de carros oficiais para atividades particulares e o repasse de recursos para delegacias que nem existiam. O levantamento resultou na premiada reportagem “Polícia Fora da Lei”, publicada pelo jornal “Gazeta do Povo”. Saiba mais sobre essa série de reportagens e suas repercussões acessando o link a seguir: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e- cidadania/especiais/policia-fora-da-lei/ Análise: é um método que exige grande habilidade por parte do jornalista. É preciso não apenas levantar e coletar dados, mas examinar e confrontar essas informações, interpretando seus resultados e impactos. Exemplos: artigos de opinião, editoriais e reportagens interpretativas. Que tal assistir a um filme que vai ajudar você a conhecer mais sobre o universo da pesquisa jornalística? A dica é o filme “Spotlight: Segredos Revelados” (2015), que é baseado em uma história real, sobre o trabalho de investigação de um grupo de repórteres especiais do jornal “Boston Globe”, dos Estados Unidos. Eles trabalham durante meses para reunir documentos capazes de provar casos de pedofilia envolvendo padres católicos. O filme é uma inspiradora aula de jornalismo e está disponível em alguns sites para ser assistido on-line. TEMA 2 –TIPOS DE ENTREVISTA Antes de apresentarmos os principais tipos de entrevista utilizados, é preciso lembrar que a entrevista é um dos instrumentos mais usados pelo jornalista para obter dados sobre um determinado assunto ou acontecimento, que servirão como base para a construção da reportagem. Em resumo, entrevista é o conjunto de perguntas feitas pelo jornalista e respondidas pela 8 fonte selecionada, seja um cidadão comum, um governante ou um estudioso de determinado tema. Isso pode ser feito de diferentes formas. Nilson Lage (2004, p. 74-75) resume os tipos de entrevista, que estão compiladas abaixo. Elas se diferenciam em relação ao objetivo e à circunstância em que ocorrem: Ritual: breve e com o objetivo de ter a voz do entrevistado ou um breve trecho para aspas. Importa mais “quem diz” do que “o que diz”. Exemplos: fala do jogador após a partida e chegada de uma celebridade à cidade. Temática: aborda um tema que o entrevistado tenha autoridade ou experiência para responder. É centrado em um determinado assunto, espera-se que com aquela fala sejam encontradas novas informações sobre o tema. Exemplo: entrevista com um médico infectologista sobre o surto da grite H1N1. Testemunhal: entrevista com alguém que viu ou participou de um determinado acontecimento, trazendo seu ponto de vista e as impressões sobre o fato. Exemplo: entrevista com sobreviventes de uma enchente no litoral do Rio de Janeiro. Em profundidade: o objetivo não é o tema em si, mas a figura do entrevistado ou um conhecimento específico que ele tenha. Exemplo: vencedor do Prêmio Nobel da Paz vem ao Brasil e é entrevistado sobre sua visão sobre a situação atual e as perspectivas para o futuro em relação à violência urbana em países subdesenvolvidos. O autor ainda classifica as entrevistas de acordo com as circunstâncias em que elas são realizadas: Ocasional Não é programada nem agendada previamente, já que surge diante de uma oportunidade ou presença de algum político ou personalidade em um local em que o repórter cobre outro assunto. 9 Exemplo: repórter acompanha a inauguração da nova ala do hospital e chega o governador do Estado. É uma oportunidade de perguntar mais do que sobre a unidade hospitalar, mas sobre os últimos acontecimentos sob responsabilidade da administração estadual. Deve-se sempre aproveitar as oportunidades. De confronto Esse tipo de entrevista se caracteriza pelo fato de o repórter apresentar diretamente ao entrevistado contradições às respostas que ele está apresentando. Como o nome já diz, o repórter confronta o entrevistado, incluindo nas perguntas dados que demonstrem incoerência na fala daquela fonte. Exemplo: um repórter entrevista um político acusado de corrupção. Quando o entrevistado afirma que não tem ligação com o caso, o repórter apresenta um documento do Ministério Público em que o nome daquele político é citado. Mesmo diante das negativas do entrevistado, o repórter permanece perguntando cada ponto presente no processo da Promotoria. Coletiva A entrevista coletiva é o momento em que uma empresa, artista ou órgão público convoca a imprensa para fazer certo esclarecimento, anunciar novidades do caso ou fazer uma divulgação que deve gerar interesse não apenas de um veículo de comunicação, mas de diversos meios jornalísticos. Exemplo: entrevista coletiva do ministro da Saúde para anunciar a descoberta da vacina contra o vírus da gripe H1N1 e os dados sobre o controle da doença no país. Dialogal Esse tipo de entrevista é marcado com antecedência pelo repórter ou pela equipe da redação com o entrevistado. As perguntas e respostas são feitas como um diálogo, um “bate-papo”. 10 Exemplo: entrevista agendada com um cientista político que, calmamente, explica ao repórter precedentes e consequências da crise política, esclarecendo termos técnicos e comentando situações colocadas pelo repórter. Uma das entrevistas de confronto mais conhecidas da história do jornalismo brasileiro foi a do jornalista Roberto Cabrini, na época na emissora de televisão SBT, com o ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, que renunciou ao poder depois de um processo de impeachment. A entrevista, exibida em 1995, começa com o repórter perguntando, de forma direta, se o ex-presidente é corrupto. O jornalista usa recortes de jornais e documentos para ir confrontando as respostas dadas pelo entrevistado. Vale a pena assistir e conhecer na prática um exemplo de entrevista sob circunstância de confronto. Ela está disponível no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=CIznFkvr-0E TEMA 3 - TÉCNICAS DE ENTREVISTA A entrevista consiste em uma dinâmica de perguntas e respostas. Descobrir o que se quer parece uma tarefa fácil (e pode ser paraalguns), mas a principal chave é fazer a pergunta certa, ouvir a resposta atentamente e fazer novas perguntas que confirmem e complementem as informações. O repórter — geralmente o profissional responsável por esse contato direto com o entrevistado — não pode ter medo de perguntar, de insistir e de confrontar quando necessário, como no exemplo que vimos entre o jornalista Roberto Cabrini e o ex-presidente Fernando Collor de Mello. A curiosidade é outra característica fundamental. É preciso querer saber mais, "especular", insistir e estar atento a detalhes, tanto para não registrar nenhum dado errado quanto para descobrir possíveis inverdades que os entrevistados possam dizer. A experiência conta muito, mas para isso é preciso começar e se aplicar para render boas entrevistas. Para ajudá-lo nessa missão, compilamos algumas 11 dicas simples, mas muito importantes que, seguidas com atenção, vão auxiliar você a ser um grande entrevistador: Pesquise tudo sobre a pessoa que irá entrevistar e o tema da pauta. Bem preparado, você terá repertório para discutir o assunto, não aceitar "qualquer" resposta e fazer novas perguntas. Prepare um roteiro de perguntas. A ideia não é que você fique preso a essa lista de questões, mas que pense antecipadamente no que pode ser perguntado para se garantir no caso de um possível "branco". Na hora da entrevista, não precisa seguir todo o roteiro, isso porque novas perguntas podem — e devem — ser criadas sempre que necessário. Isso ocorre quando a resposta do entrevistado dá gancho para diferentes questões ou quando, em um só retorno, o entrevistado já responder mais de uma questão. Elabore perguntas fundamentadas em dados e afirmações já confirmadas. Para isso, uma dica é que sua pergunta tenha sempre duas frases: uma afirmação e uma indagação. Na videoaula do final desse tema, há informações de como fazer isso. Registre as respostas. Gravador, bloco de papel, notas no celular ou tablet? Cada repórter desenvolve seu método, mas eu diria que adotar mais de um deles é o ideal. Anote o que está sendo dito e garanta gravando a entrevista na íntegra. Assim você poderá checar detalhes na hora de escrever seu texto. Se for para TV ou rádio ao vivo, dispensa anotações, já que o material já vai ao ar. Acesse a Biblioteca Virtual, por meio do Único, e procure pelo livro “A arte de entrevistar bem”, da jornalista Thaís Oyama (São Paulo: Contexto, 2008). Nele você vai encontrar orientações sobre como se preparar para a entrevista, como se comportar durante e depois dela, além de como agir quando o entrevistado é difícil ou rude. A autora ainda fala de diferenças de entrevistas em diferentes veículos. O site “Observatório de Mídia”, uma das mais conceituadas páginas voltadas à discussão da profissão, tem uma seção chamada “sala de aula”. Uma 12 das edições tratou das técnicas de entrevista, segundo Pedro Celso Campos (2003). São dicas preciosas que podem auxiliar você ainda mais a ser um grande entrevistador e, consequentemente, um grande repórter. O artigo está disponível no link a seguir: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/da130320024.htm TEMA 4 - TÉCNICAS DE NOTÍCIAS Utilizamos o termo “notícia” dentro do Jornalismo em duas ocasiões principais já mencionadas em nossas aulas, mas que é importante reforçarmos aqui: O que aconteceu, algo novo, atual, um fato selecionado dentro de critérios que o destaque perante os demais acontecimentos. Notícia é o fato que é alvo da cobertura jornalística e vai parar na página de um jornal ou revista, no portal de notícias, no rádio ou na televisão. Forma de texto jornalístico do gênero informativo em que se divulga apenas o lead, ou seja, as informações principais sobre o acontecimento: quem fez o quê, quando, onde, como e por quê. Também chamado de nota em alguns veículos, a notícia não tem o aprofundamento dos fatos, como ocorre na reportagem. Desse modo, para escrever uma notícia, é preciso levantar os dados preliminares sobre um determinado acontecimento. A prioridade é informar de forma rápida e concisa o público sobre o que ocorreu. Um exemplo é a seção “Últimas Notícias”, nos sites de notícias. Geralmente, são textos curtos no qual é informado de forma objetiva sobre um acontecimento. Dica: visite alguns sites e leia as notícias do dia, aproveitando para verificar as características citadas acima. As notícias podem ser caracterizadas segundo o tema e a circunstância do ocorrido. A forma mais comum de categorizá-las é por meio da distinção entre 13 hard news (também chamadas de notícias factuais) e soft news (conhecidas nas redações como pautas frias). Confira mais detalhes abaixo: Hard news: caracterizadas por pautas nas áreas de política, ciência e economia. Podem ser imprevistos, situações presentes ou casos que estão acontecendo. São chamados de assuntos do dia ou factuais. Essas notícias têm data de validade e não podem esperar para serem divulgadas, pois as informações correm o risco de ficar desatualizadas. Soft News: também chamadas de pautas frias, são ligadas a áreas de entretenimento, esportes, cultura e comportamento. Estão em todos os veículos, mas ganham cada vez mais espaço no Jornalismo Segmentado, que cobre os mais variados assuntos: cuidado com animais (pet), arquitetura, beleza e saúde. Em alguns casos, são chamadas de notícias de gaveta, pois podem ser publicadas a qualquer data. TEMA 5 – TÉCNICAS DE REPORTAGEM A figura do repórter é bastante consolidada na sociedade atual, especialmente em países democráticos como o Brasil. Esse profissional é “acionado para cobrir os fatos sociais — os crimes, as agitações de rua, as guerras e os debates parlamentares”, como lembra Nilson Lage (2004, p. 16), ao falar do surgimento da reportagem. O autor destaca a importância que as reportagens passam a ter na sociedade. Leia a passagem abaixo, quando ele trata dessa relevância social. Repórteres passaram a ser bajulados, temidos e odiados. A reportagem colocou em primeiro plano novos problemas, como discernir o que é privado, de interesse individual, do que é público, de interesse coletivo, o que o Estado pode manter em sigilo e o que não pode, os limites éticos do comércio e os custos sociais da expansão capitalista (LAGE, 2004, p. 17). Para que tenha essa repercussão, a reportagem deve conter alguns elementos importantes, alguns já citados ao longo da nossa disciplina e que serão aprofundados aqui. Primeiramente, a reportagem deve conter notícia, mas deve ir além dela. Considera-se reportagem um relato mais aprofundado sobre 14 algum tema, sempre respeitando os critérios de noticiabilidade (proximidade, atualidade, curiosidade, interesse público, proeminência etc.). O que diferencia uma reportagem de uma grande reportagem, como o nome já diz, é o tamanho dela. Não apenas no número de caracteres ou no tempo dentro do noticiário. Mas em relação à quantidade de horas dedicadas à produção e à profundidade dos dados apresentados. A reportagem também é conhecida por matéria, dentro do jargão jornalístico. A grande reportagem também pode ser chamada de reportagem especial. Segundo o glossário do Manual de Redação do jornal “O Estado de S. Paulo”, ela “requer minucioso levantamento de informações. Pode aprofundar um fato recém-noticiado ou revelar um fato inédito com ampla documentação e riqueza de detalhes”. Porém, esse aprofundamento é cada vez mais raro e, quando ocorre, existe um esforço extra por parte do repórter. Isso porque o jornalismo passa por transformações constantes e atualmenteas redações estão cada vez menores, dessa forma o profissional precisa fazer várias matérias em um só dia e cumprir mais de uma função, se preciso. A consequência disso é que se vê mais notícias do que reportagens. As pautas são focadas na cobertura dos assuntos do dia e não nos temas que merecem investigação mais aprofundada. É um impacto econômico sobre a atividade jornalística que deixa o resultado, em muitos casos, mais superficial. Dizem que o bom repórter é aquele que não se conforma com esse quadro e sempre briga por mais espaço e mais tempo para fazer uma reportagem de mais qualidade. Mas como fazer essa reportagem? Antes de tudo, é preciso lembrar dos passos da produção da reportagem, que já citamos durante a nossa disciplina: 15 A reportagem, quando vai além da cobertura dos fatos do dia, geralmente parte da observação do repórter ou do pauteiro, que percebe um fato do cotidiano que merece uma investigação mais aprofundada. Pode ter origem, ainda, numa denúncia ou sugestão do público. A partir dessa ideia, o jornalista vai buscar informações que o ajudem a saber mais detalhes sobre aquele assunto ou acontecimento. A grande pergunta a ser feita é: isso pode render uma história que interesse ao público? Existe algo fundamental para uma “boa história”: a existência de personagens, pessoas que convivem com a problemática a ser abordado pela reportagem. Os personagens são fundamentais para a humanização da notícia: não são apenas números e palavras, são pessoas, alguns cidadãos comuns como eu e você, convivendo com situações. Os personagens geram identificação, exemplificam e dão peso às reportagens. São fontes importantes a serem consultadas e dão vida ao texto. Além disso, o bom repórter deve agregar a essas “histórias reais”, dados e estatísticas que demonstrem que aquela não é uma situação isolada, mas que reflete um quadro social. Isso dá relevância ao tema. Como falado no tópico sobre pesquisas, nem sempre é o jornalista que precisa levantar esses dados, mas o bom repórter deve saber coletar essas informações em sites, departamentos e organizações que tenham estatísticas que vão fundamentar o tema a ser reportado. Entrevistar autoridades sobre o tema, especialistas no assunto e ouvir a opinião da população nos chamados “fala povo” são também passos fundamentais para reportagens. Cada uma dessas entrevistas vai formando esse emaranhado de informações sobre o tema, que precisa ser compilado e selecionado para a próxima etapa: a redação. Não adianta ter feito grandes entrevistas, ter dados fantásticos e personagens significativos se você não souber contar essa história por meio de um belo texto. A narrativa jornalística é parte crucial para a reportagem. Independentemente do meio de comunicação que você trabalha — rádio, TV, web, jornal, revista etc. — você precisa ter um texto de qualidade em que vai 16 contando cada uma das suas descobertas, revelando a notícia para o seu público. O editor vai ajudá-lo nesse sentido, ajudando o repórter a encontrar o lead da matéria, ou seja, as respostas que a reportagem deve trazer e as informações principais que merecem destaque nos títulos e imagens. O jornalista Ricardo Kotscho é autor do clássico da década de 1990, “A Aventura da Reportagem”, escrito em parceria com o também jornalista Gilberto Dimenstein. Em 2009, Kotscho lançou uma nova obra sobre o tema com o título “A prática da reportagem”, em que fala da vida do repórter e sua rotina para produção de material jornalístico. Fica a dica para a leitura: KOTSCHO, Ricardo. A prática da reportagem. 4. ed. São Paulo: Ática, 2009. TROCANDO IDEIAS Na aula de hoje, falamos sobre técnicas de produção jornalística. Entre elas, a pesquisa, a entrevista, a notícia e a reportagem. Com qual delas você se identifica mais? Gostaria de atuar mais na área da pesquisa do jornalismo investigativo ou prefere a agilidade da produção de notícias, por exemplo, para portais on-line? Qual sua lista de entrevistados dos sonhos? Entre no fórum e dê sua opinião. Vamos trocar ideias sobre esses tópicos, relembrando o conceito de cada um deles. NA PRÁTICA O objetivo aqui é fazer um estudo de caso buscando compreender as técnicas de produção de uma reportagem. Para isso, siga os passos a seguir: Comece acessando o link a seguir para assistir à reportagem que será estudada: http://glo.bo/1rrJtHB. Após assistir à reportagem, qual categoria ela se enquadra: hard news ou soft news? 17 Quem foram as fontes entrevistadas para a construção da reportagem? Que elementos (dados, imagens, documentos etc.) fundamentaram a reportagem? Apresente a sua resposta a cada pergunta deste caso. REFERÊNCIAS CAMPOS, Pedro Celso. Técnicas de Entrevista. In: Observatório de Mídia. Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/da130320024.htm>. Acesso em: 18 maio 2016. ERBOLATO, Mario L. Técnicas de codificação em jornalismo: redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Ática, 2008. KOTSCHO, Ricardo. A prática da reportagem. São Paulo: Ática, 2009. LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. São Paulo: Record, 2008. OYAMA, Thais. A arte de entrevistar bem. São Paulo: Contexto, 2008. PENA, Felipe. Teoria do jornalismo. São Paulo: Contexto, 2008. PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. A apuração da notícia: métodos de investigação na imprensa. Petrópolis, R: Vozes, 2009. ______. Guia para edição jornalística. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009. SCHIMITZ, Aldo Antonio. Fontes de notícias: ações e estratégias das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook, 2011. Disponível em: <http://www.cairu.br/biblioteca/arquivos/Comunicacao/Fontes_noticias.pdf>. Acesso em: 18 maio 2016.
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