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a cultura indigena que se fortalece na escola (1)

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ARTE E CULTURA Na sala de aula, o
professor trabalha com os alunos os
significados dos desenhos: só as índias
katukinas fazem a pintura corporal nos
homens e nelas mesmas
Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/2819/a-cultura-
indigena-que-se-fortalece-na-escola
Publicado em NOVA ESCOLA Edição 245, 01 de Setembro | 2011
Educação Indígena
A cultura indígena que se
fortalece na escola
Currículo é instrumento da valorização da língua e dos
costumes dos índios Katukina e Puyanáwa
Elisângela Fernandes
A ideia de uma escola indígena capaz de
respeitar e valorizar os conhecimentos e a
cultura locais é recente no país. Na lei, o tema
foi contemplado pela primeira vez na
Constituição de 1988. Na prática, ainda há
muito a construir. Isso porque garantir um
Projeto Político-Pedagógico (PPP) específico
para cada uma das mais de 200 etnias que
existem no Brasil não é uma tarefa fácil. Cada
povo possui uma história própria - inclusive no
que diz respeito à assimilação ou à resistência
contra a descaracterização étnica. Estima-se
que o Brasil chegou a ter 10 milhões de índios.
Hoje, eles são pouco mais de 800 mil, ou 0,4%
da população (e apenas 2,2% dessas crianças
que frequentam o 3º ano do Ensino
Fundamental falam a língua indígena, um dos
menores porcentuais entre os países da América Latina). Alguns ainda
preservam a língua e os costumes. E a escola, que antes só trabalhava pela
aculturação, busca agora valorizar a diversidade. NOVA ESCOLA visitou duas
terras indígenas no Acre para ver como estudam os índios katukinas e
puyanáwas. Nesta reportagem, você vai ver como as diferenças entre elas
podem ajudar nesse processo de construção de escolas mais próximas das
necessidades de cada povo. 
Nas seis escolas da Terra Indígena Campinas Katukina, cujo centro urbano
mais próximo é o município de Cruzeiro do Sul, a 648 quilômetros de Rio
Branco, os alunos são alfabetizados em noke vana, língua que pertence à
MATEMÁTICA NA MATA Alunos
aprendem como era a Matemática de seu
povo: as mãos servem para medir os
cipós, utilizados para definir o tamanho
dos roçados
família pano - encontrada na Bolívia, no Peru, no Acre, no sul do Amazonas e
em Rondônia. Toda a proposta pedagógica tem como eixo norteador o
fortalecimento da cultura e dos saberes locais, com aulas sobre o processo
de demarcação do território, o uso dos recursos naturais e as técnicas de
artesanato e pintura corporal. Até o 5º ano, as aulas são restritas à cultura
noke koi - expressão que significa "nosso povo". A Língua Portuguesa e as
demais disciplinas obrigatórias da Educação regular só são ensinadas a partir
do 6ºano. 
Na zona rural de Mâncio Lima, a 617 quilômetros de Rio Branco, a realidade
da Terra Indígena Puyanáwa é diferente. A língua puyanáwa está
praticamente esquecida, resultado de um violento processo de repressão do
início do século passado e por isso o português é predominante. Para essas
pessoas, o grande desafio é resgatar a cultura e aproximá-la das crianças por
meio do currículo escolar. "Mais do que discutir uma Educação diferenciada,
defendemos que cada povo encontre o melhor caminho para atender às suas
especificidades", diz Maria do Socorro de Oliveira, coordenadora da Educação
Indígena no estado. Desde 2000, são realizadas reuniões entre os líderes das
aldeias, pesquisadores, professores e técnicos da Secretaria para fazer a
construção e revisão dos currículos e do PPP.
Português como língua estrangeira
Os primeiros contatos entre os katukinas e
não-índios ocorreram por volta de 1880,
época em que a região do alto do rio Juruá
foi invadida por brasileiros e peruanos para
a extração da borracha. Muitos índios foram
mortos, escravizados e outros se
dispersaram na floresta. Depois desse
processo, eles se fixaram na divisa entre os
estados do Acre e do Amazonas. Hoje, as
aldeias katukinas estão distribuídas ao
longo da rodovia BR-364 (Rio Branco-
Cruzeiro do Sul) e menos da metade da
população tem fluência em português.
Todos utilizam a língua noke vana para se
comunicar. 
Ao organizar suas escolas e o currículo, os
katukinas optaram por um ensino bilíngue,
mas há quem conteste a decisão de só
começar a trabalhar com o português no 6º
ano. "Muitas mulheres e crianças têm
dificuldade em se comunicar em situações
básicas, como uma consulta médica",
explica o linguista Aldir Paula dos Santos, da
ESPAÇO DE EXPRESSÃO A escola Ix
Bãy Rabu Puyanáwa luta pelo resgate da
cultura indígena: por quase 100 anos, os
conhecimentos dos índios não tiveram vez
APOIO DA COMUNIDADE Os índios mais
velhos vão à escola para ensinar alunos e
professores como eram feitos os
artesanatos, como o kãkã, utilizado para
carregar mandioca
ESCOLA BILÍNGUE Para os katukinas, o
português só aparece no 6º ano: a noke
vana, cuja tradução é nossa língua, é
ensinada em toda a Educação Básica
Universidade Federal de Alagoas (Ufal). "Em
2012, teremos a primeira formatura de uma
turma de Ensino Médio em nossa escola.
Uma grande conquista que vai ajudar a
valorizar e manter viva a nossa cultura",
comemora o diretor Fernando Katukina,
que também é o cacique. Das 36 terras
indígenas do estado, em apenas quatro há
escolas de Ensino Médio.
Campinas Katukina
Homologada pela Funai em 1993 
Área: 21.624 mil hectares 
População: 674 pessoas 
Total de professores: 24 
Total de alunos: 290
Uma luta contra o tempo
Na Terra
Indígena
Puyanáwa,
a
realidade
é bem
diferente.
A escola
Ixubãy
Rabui
Puyanáwa,
inaugurada em 1914, chamava-se 13 de Maio e nasceu para ensinar o
português a todos. Naquela época, os índios foram escravizados pelo coronel
Mâncio Lima e obrigados a trabalhar na exploração da borracha. Entre 1915 e
1950, o período chamado "cativeiro", homens e mulheres foram separados e
proibidos de falar o próprio idioma sob pena de serem torturados e até
mortos. "Minha avó era índia da mata, mas meu pai nem sequer aprendeu a
nossa língua", conta o coordenador pedagógico Jorge Constante. Em pouco
tempo, a cultura local quase desapareceu. 
O "reavivamento da língua", como diz o professor Aldir Santos, começou em
1990, quando ele iniciou o trabalho de construção da grafia da língua
puyanáwa. Hoje, só Railda Manaitá, 80 anos, é considerada fluente. O
trabalho do professor inclui a elaboração de materiais pedagógicos e livros
com mitos e canções indígenas. Toda a comunidade, sob a supervisão de
Santos e da Secretaria de Educação, participa desse processo. "Eles são
autores e atores. Isso contribui para o fortalecimento da própria língua",
explica. 
O professor Samuel Rondon Iraqui é quem ensina a língua puyanáwa para os
alunos da pré-escola e das séries iniciais do Ensino Fundamental. "Além da
dificuldade com a escrita, que ainda está em construção, as crianças não
falam a língua fora da escola." O que foi possível resgatar da cultura
poyanáwa é contemplado no currículo. E, apesar de muito do artesanato ter
se perdido, alguns itens ainda resistem, como peneiras, bolsas e chapéus.
Mesmo com as dificuldades, o professor Santos vê avanços importantes.
"Antes, em reuniões com outros índios, eles tinham vergonha de falar na sua
língua. Hoje, são os primeiros a tomar a iniciativa." E a escola tem muito a ver
com isso. 
Puyanáwa
Homologada pela Funai em 2001 
Área: 24.499 mil hectares 
População: 566 pessoas 
Total de professores: 19 
Total de alunos: 224
Reportagem sugerida por 2 leitores: Flaviana Alberton, São Miguel, PR, e Janndayr Jann, Feira de Santana, BA

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