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Resenha do texto “O desamparo parental perante a chegada do bebê”, de Claude Boukobza. Discente: Elton Carneiro de Oliveira Docente: Wilza Assunção Braz Disciplina: Psicanálise II Curso de Psicologia – UFG-CAJ O trabalho de Boukobza traz uma reflexão sobre a depressão pós-parto, considerando o que a psicanálise e as vivências na Unidade de Acolhimento (U.A.) Mães-Bebês do Hospital Saint Denis, Paris, trouxeram como contribuição para a compreensão desse momento singular na vida das mães e seus filhos. A autora nota que, a partir das queixas da mãe, percebe-se mais ansiedade que tristeza e que as depressões pós-parto favorecem o surgimento de distúrbios na criança, ao passo que a mãe projeta e introjeta todo o campo de sensações de sua própria história na relação com o bebê. Mães, em estados depressivos, geralmente queixam-se de cansaço e irritabilidade e a necessidade de cuidados maternos torna-se fonte de angústia, o que culmina em fobia de impulsão – fantasia de jogar a criança pela janela. Boukobza ressalta que não há ligação entre a depressão pré-parto e a depressão pós-parto, a partir das consultas realizadas na U.A., no mesmo hospital em que também há uma grande maternidade. As mães que atravessam depressão após o parto geralmente tem gravidez tranqüila, quando o filho imaginário não criava problemas, salvo no caso de mulheres psicóticas crônicas. O nível fantasmático ocorre quando a mãe ou os pais revivem e remanejam sua própria história em função do novo nascimento, o que só se percebe nas entrevistas psicanalíticas. Já o nível das inter-relações precoces é onde ocorre a estruturação bebê- cuidados maternos, descrita por Winnicott como a capacidade da mãe de dedicar-se, nas últimas semanas de gestação e nas primeiras semanas pós-parto, exclusivamente ao bebê em função das suas necessidades. É um momento de intensa introspecção, que exige estado de boa-saúde da mãe, traduzido por Winnicott como um equilíbrio narcísico suficiente para que ela possa deslocar o seu próprio narcisismo para o filho. Dessa forma, quando a mãe expressa um investimento ativo, fálico, realiza- se um circuito de prazer, que dá à criança sentimento de coesão, continuidade de existência, resultado de um contato corporal que desperta a libido do filho. A depressão se configura como impedimento de sentir prazer, assim torna-se possível compreender seus impactos, refletidos nos registros pulsionais entre a mãe e o bebê, como o olhar, por exemplo – quando o bebê olha para a mãe, ele procura ver o reflexo de suas próprias emoções nos olhos da mãe, a imagem de si próprio. Para evidenciar esse reflexo que é projetado e introjetado, Boukobza traz o exemplo de Maria, jovem deprimida, que tinha dificuldade em banhar a própria filha Inês de um ano e meio. A jovem mãe vivia crises visuais, vertigens entendidas como crises de violência, onde os momentos de cuidado eram tidos por obrigação e não por prazer. Na U.A., foi proposto pela psicanalista que Maria desse o primeiro banho na filha, acompanhada de uma atendente, o que foi aceito por ela após um mês; nesse momento, Maria relata que “a angústia subiu” e ela não via mais a filha na banheira. A mãe, já analisada, associou espontaneamente esse fato com o comportamento de sua própria mãe, sob efeito de álcool, que a afogava na banheira. Dessa forma Inês, o bebê, via no olhar de Maria o pavor e o horror pela violência sofrida e não o prazer que procurava sentir. Esse prazer, felizmente, foi promovido pela atendente, que se configurou como possibilidade de apoio, de holding, complementando o papel da mãe, nesse momento de face-a-face mortífero. Portanto, a atitude materna modela a expressão das pulsões da criança e ajudar as mães a encontrarem ou reencontrarem o prazer de cuidar dos seus filhos é uma tarefa criteriosa, que a autora descreve como definição para o trabalho na U.A.. As atendentes, antes de trabalhar no local, passaram por trabalho psicanalítico pessoal, levando em conta também o seu próprio desamparo, permitindo-lhes reencontrar seu narcisismo e sua identidade. O trabalho de Claude Boukobza traduz a importância de um apoio para as pessoas que atravessam esse período tão íntimo, o pós-parto, em que estão implicados os momentos de história individual, as fantasias inconscientes e a necessidade de ajuda. Nesse contexto, é imprescindível um trabalho em equipe, onde mães (e pais) poderão se espelhar em outras (os) iguais, procurando trabalhar e refletir os cuidados geradores de prazer, evitando o face-a-face mortífero, momento de fluxo de energia intenso que traduz as próprias vivências de desamparo.
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