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Instituições e Organização do Estado aula 02

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Instituições e Organização do Estado 
 
 
 
 
 
 
Aula 2 
 
 
 
 
 
Marcos da Cunha e Souza 
 
 
INTRODUÇÃO 
Na aula anterior você teve a oportunidade de estudar o Estado e 
a sociedade sob o ponto de vista das instituições. Certamente 
percebeu o quanto a adoção de uma instituição (boa ou ruim) 
pode auxiliar ou prejudicar o desenvolvimento dos povos. Notou 
também como algumas instituições foram incorporadas à 
Constituição Federal brasileira, dando ao nosso sistema 
econômico contornos marcadamente capitalistas. 
Contudo, a existência de Estados não é algo necessariamente 
“natural”. Há quem imagine formatos totalmente diferentes de 
vida em sociedade, inclusive com ausência de Estado. Veremos 
então algumas teorias que, não apenas buscaram legitimar a 
existência do Estado, como também serviram de base doutrinária 
para outras instituições reconhecidas por nós, como a 
propriedade privada e as sociedades empresárias. Isto ajudará 
você a compreender de forma mais detalhada os temas da aula 
anterior, como também abrirá caminho para questões mais 
profundas, como a refutação do Estado, da propriedade privada 
dos meios de produção e das classes sociais. 
Muita polêmica pela frente! Afinal de contas, o mundo em que 
vivemos não é o único possível. Ele é fruto de ideias adotadas e 
testadas no passado e está em constante transformação. Um 
exemplo disto, visto na aula anterior, deu-se quando a 
modernidade separou a religião da sociedade civil (DOMENACH, 
1995, p.82). Como empreendedor, é sempre importante 
conhecer o chão em que se pisa e compreender a lógica 
predominante na sociedade onde se deseja investir e trabalhar. 
Então, vamos em frente! 
PROBLEMATIZAÇÃO 
Os brasileiros vivem, inegavelmente, em uma 
economia de mercado. Grande parte da população 
mundial experimenta este estilo de vida e de 
organização econômica, com maior ou menor 
intensidade. Existem países que evitam influir no 
funcionamento do mercado, enquanto que outros 
nele atuam com frequência. 
O governo brasileiro, como vimos na aula passada, 
exercia inúmeras atividades econômicas, em 
concorrência com empresas privadas, entre as 
décadas de 1940 e 1980. Embora esta tendência 
tenha diminuído, outras questões se tornaram 
relevantes nas últimas décadas, levando à 
regulamentação das atividades econômicas para a 
proteção do Meio Ambiente e do consumidor. 
Após refletir sobre tudo isto, escreva uma vantagem e uma 
desvantagem sobre a regulamentação das atividades 
econômicas pelo Estado. 
Para os partidários do liberalismo econômico é difícil encontrar 
vantagens na intervenção do Estado, ainda que seja pela simples 
regulamentação. Mas para a maior parte dos estudiosos, a 
regulamentação em uma medida adequada (não exagerada) é 
necessária. 
Na área do Meio Ambiente, a falta de regulamentação leva 
alguns empresários a desprezar soluções ecológicas de descarte 
de resíduos como forma de redução de custos e obtenção de 
vantagens competitivas. Em uma outra linha de raciocínio, 
existem aqueles que acreditam na necessidade de uma 
economia altamente regulamentada. 
É o que vemos hoje na Argentina, que restringe enormemente as 
importações pagas em moedas estrangeiras, apenas para citar 
um exemplo. 
 
 
O excesso de regulamentação leva a deformações do processo 
de oferta e procura, criando preços artificiais e desabastecimento 
de produtos.
JUSTIFICANDO O ESTADO NA TEORIA POLÍTICA MODERNA 
A humanidade experimentou ritmos e formas diferentes de 
evolução social e política. A sociedade brasileira foi muito 
influenciada pela cultura europeia, dado que nosso país foi 
colonizado por Portugal. Assim, quando falamos em Idade 
Média, em influência da Igreja, em Renascimento, estamos nos 
referindo a uma visão eurocêntrica do mundo. A China, a Índia e 
a África Subsaariana, apenas para citar alguns exemplos, 
tiveram evoluções muito diversas. 
Feita esta advertência, percebemos na aula anterior a grande 
influência que a Igreja cristã teve sobre a política europeia 
durante a Idade Média, de modo que os reis tiveram sua 
autoridade muitas vezes colocada em dúvida por decisões dos 
papas e de outros príncipes da Igreja. Em virtude disto, as teorias 
políticas de então eram, direta ou indiretamente, teocráticas 
(CHAUI, 2010). O poder do monarca teria sua origem em Deus. 
Em fins do século XIV a Europa foi sacudida por um movimento 
cultural que viria a ser conhecido como Renascimento ou 
Renascença. Nele, o homem passa a ser o centro das 
preocupações e o mundo passa a ser regido pela racionalidade. 
Dentro deste novo cenário, surge a figura de Nicolau Maquiavel 
que, em 1513, vem a escrever o livro que seria a origem do 
pensamento político moderno: “O Príncipe” (CHAUI, 2010, 
p.458). Nele o autor abandona a argumentação baseada na 
religião e desenvolve suas teorias sobre a observação da 
realidade, dos fatos do seu tempo. Sua linguagem é crua e o seu 
príncipe perfeito está longe de ser um santo. 
 
 
Tanto que uma das passagens mais famosas do seu livro é a 
seguinte: 
Chegamos assim a uma questão: a de 
saber se é melhor ser amado do que 
temido, ou o inverso. Eu respondo que seria 
desejável ser ao mesmo tempo amado e 
temido, mas que, como tal combinação é 
bem difícil, é muito mais seguro ser temido 
do que amado, se for preciso optar. 
(MACHIAVEL, Nicolau. Le Prince et autres 
textes. Paris: Gallimard, 1980, p. 104.) 
Este e outros pensamentos deram origem ao adjetivo 
“maquiavélico”, que aponta aquela pessoa capaz de ferir 
qualquer valor ético para alcançar seus objetivos. Mas sua 
doutrina, ainda assim, tinha aspectos virtuosos. Ainda que 
partidário de soluções extremas para problemas extremos, ele 
era contrário à tirania e ao despotismo e somente via como 
legítimo “o regime no qual o poder não está a serviço dos 
desejos e interesses de um particular ou de um grupo de 
particulares” (CHAUI, 2010, p. 461). O Estado não seria mais 
obra de Deus, mas da sociedade, do homem. 
Mas por que o homem criou o Estado? 
Em que momento da sua organização social isto ocorreu? 
Qual foi o processo desta criação? 
Provavelmente nunca saberemos, até porque o desenvolvimento 
do Estado deve ter tido evoluções diferentes, em função de cada 
povo, de cada condição econômica e geográfica. Mas, a partir do 
século XVI, muitos filósofos buscaram desenvolver teorias sobre 
este assunto. Este esforço intelectual não resultava de uma mera 
curiosidade, mas também tinha aplicações práticas, como 
justificar o poder dos reis e o sistema econômico e social vigente. 
Dentre as teorias desenvolvidas, destacaram-se neste período as 
teorias contratualistas. 
Os contratualistas partem de uma hipótese de que, no início, os 
seres humanos viviam em um estado de natureza, pré-político. 
Nele, segundo Thomas Hobbes e Spinoza, as pessoas viviam 
em constante conflito, sem leis, inseguros e dominados pelas 
paixões. Ali o homem era o lobo do homem (STRECK; MORAIS, 
2001, p. 32), experimentando uma existência “solitária, pobre, 
sórdida, brutal e breve” (HOBBES, apud HEYWOOD, 2010a, p. 
49). 
Bem diferente era a visão de Jean-Jacques Rousseau, pensador 
do século XVIII. Para ele os indivíduos em estado de natureza 
viviam isolados pelas florestas, vivenciando a “felicidade original”, 
na condição de “bons selvagens” inocentes (CHAUI, 2010). 
De uma forma ou de outra, os homens de então eram livres e 
iguais entre si. Assim, foi de livre e espontânea vontade que, em 
um determinado momento, aceitaram firmar uma espécie de 
“contrato social” onde abriram mãode uma parcela da sua 
liberdade em favor de um indivíduo ou de um grupo com poderes 
para governa-los. 
Nas palavras de Marilena Chaui (2010, p. 465/466): 
Em nome da segurança e da paz, os 
indivíduos transferem ao soberano o direito 
exclusivo ao uso da força e da violência, da 
vingança contra os crimes, da 
regulamentação dos contratos econômicos, 
isto é, a instituição jurídica da propriedade 
privada e de outros contratos sociais (como, 
por exemplo, o casamento civil, a legislação 
sobre a herança, etc). 
 
 
Embora filósofos como Hobbes, Locke e Rousseau estivessem 
de acordo sobre a existência de um contrato social situado entre 
o estado de natureza e o Estado Civil, existem grandes 
divergências quanto ao conteúdo do contrato. 
Para Thomas Hobbes (1588–1679), o poder e a soberania 
pertencem “de modo absoluto ao Estado, que, por meio das 
instituições públicas, tem o poder para promulgar e aplicar as 
leis, definir e garantir a propriedade privada e exigir obediência 
incondicional dos governados, desde que respeite dois direitos 
naturais intransferíveis: o direito à vida e o direito à paz” (CHAUI, 
2010, p.466). Por conta disto, é considerado um dos teóricos do 
Absolutismo. 
Bem diferente é a visão de John Locke (1632-1704), cujas 
formulações ajudariam a fundamentar valores fundamentais do 
Estado Liberal. Para ele, os homens, ao firmarem o contrato 
social, abrem mão do direito de fazer justiça com as próprias 
mãos, mas conservam seus direitos naturais fundamentais: vida, 
propriedade e liberdade. 
O Estado nasce com poderes limitados, tanto que o cidadão 
conserva um “direito de resistência” contra ele. O próprio rei 
(titular do Poder Executivo) deve se submeter ao Parlamento 
(Poder Legislativo). 
Para Locke, a propriedade, como um direito natural, encontrava 
sua justificativa na utilização dos bens de forma produtiva e 
lucrativa. Assim, um proprietário ou empreendedor disposto a 
realizar os melhoramentos justificava seu direito de propriedade 
ainda que pela exploração produtiva da sua terra pelo trabalho 
de outras pessoas. 
Por fim, para Jean-Jacques Rousseau (1712–1778), o que dá 
legitimidade ao poder é a vontade geral. Assim, é a vontade geral 
que deve dirigir as forças do Estado, com vistas a cumprir sua 
finalidade, que é o bem comum. Para ele, cada um deve 
renunciar aos seus próprios interesses em favor da coletividade. 
Dentre as renúncias, ele inclui a renúncia ao direito de 
propriedade (STRECK; MORAIS, 2001, p. 38/40). 
A ideia de um “contrato social” ainda se encontra na base da 
maioria dos discursos que buscam, direta ou indiretamente, 
justificar a existência e as funções do Estado. Contudo, segue 
sendo uma construção teórica, uma hipótese. O polonês Ludwig 
Gumplowicz e o tcheco Karl Kautsky, no início do século XX, 
traçaram imagens menos idealizadas. Para eles, povos 
instalados em vales férteis, tornaram-se tão ligados à terra e à 
agricultura que perderam parte de suas habilidades guerreiras. 
Acabaram sendo subjugados por povos nômades, ainda 
habituados à caça e ao combate com outros nômades em terras 
onde os recursos eram escassos. 
Neste panorama, os guerreiros formaram a classe dominante, 
cobrando tributos dos agricultores em troca de proteção contra 
outras tribos guerreiras. (KAUTSKY, 1994). 
Karl Kautsky (1854–1938) era marxista. Para os marxistas o 
Estado existe apenas para possibilitar e legitimar a opressão de 
uma classe social sobre a outra. Daí porque eles preveem o seu 
desaparecimento após o estabelecimento do comunismo. De 
tudo isto, você agora pode perceber que as teorias sobre a 
origem do Estado não são discussões estéreis. Todas elas 
serviram e ainda servem para legitimar ou apenas explicar o 
Estado em diferentes partes do mundo. 
Sugestão de leitura 
STRECK, Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência 
Política e Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2001, p. 35/40 (2.2.3 Estado Civil) 
 
 
 
AS INSTITUIÇÕES ECONÔMICAS DA SOCIEDADE DE 
MERCADO 
O mercado e sua origem 
Nos primeiros agrupamentos humanos, havia uma divisão do 
trabalho entre os homens e as mulheres. Eles caçavam animais 
e elas coletavam frutos e outros alimentos disponíveis na 
natureza. Conforme novas tecnologias foram sendo 
desenvolvidas e as primeiras cidades foram sendo fundadas, a 
divisão do trabalho foi se tornando mais complexa. Os seres 
humanos foram se tornando sofisticados e passaram a demandar 
produtos e serviços desconhecidos pelos seus antepassados. 
Surgiram artesãos para produtos variados. 
Neste panorama, uma pessoa que tinha especial habilidade para 
fazer sandálias de couro preferia não perder tempo tentando 
fazer cestos de vime ou utensílios de bronze. Era muito mais 
eficiente e barato para ela trocar o excedente das sandálias que 
produzia com outras pessoas que haviam se especializado na 
produção de cestos e utensílios de metal (por exemplo). 
Nestas circunstâncias, a troca era um ato voluntário e benéfico 
para as partes envolvidas. E como cada um podia se dedicar à 
sua vocação, a produção das sandálias, dos cestos e dos 
utensílios ganhava em quantidade e qualidade. 
Com o passar do tempo, certos povoados passaram a ficar 
famosos pela produção de um ou outro bem de consumo e rotas 
comerciais acabaram surgindo naturalmente. Nas praças das 
grandes cidades da Antiguidade, longas linhas de tendas eram 
montadas para o comércio de produtos que vinham do campo, 
ou que eram fabricados por artesãos locais, mas também para 
produtos que haviam sido transportados por centenas de 
quilômetros. As caravanas comerciais eram valorizadas e 
desejadas pelos pequenos reinos que floresciam no Oriente 
Médio há 4 mil anos atrás. Tanto que os reis de Kanesh, rica 
cidade localizada na Turquia de hoje, ofereciam indenizações 
para as caravanas que fossem atacadas e assaltadas em seus 
domínios. 
O resultado disto é visível nas escavações arqueológicas da 
cidade de Mari, hoje localizada no norte da Síria. Ali foram 
encontrados vasos fabricados no Egito, vestígios de utensílios de 
couro da ilha de Creta, âmbar do Danúbio (rio da Europa), 
obsidiana da Grécia, armas do planalto da Anatólia e joias feitas 
de lápis lazuli (uma pedra azul que existe apenas no 
Afeganistão). (MILES, 2011). 
Este processo de divisão do trabalho e de especialização das 
cidades e das nações foi evoluindo ao longo dos séculos, apesar 
de alguns retrocessos momentâneos. No século XVIII, com a 
Revolução Industrial, ele se intensificou enormemente. 
Atualmente as pessoas se dedicam a trabalhos muito específicos 
e são incapazes de produzir por conta própria a enorme maioria 
das coisas que consumimos. 
Sobre este aspecto Milton Friedman (2014, p. 16), prêmio Nobel 
de Economia, afirma que: 
A especialização das funções e a divisão do 
trabalho não iriam longe se a derradeira 
unidade de produção fosse o domicílio. Na 
sociedade moderna, fomos muito mais 
longe. Desenvolvemos empresas que 
atuam como intermediários entre os 
indivíduos, nas condições de intermediários 
de serviços e como compradores de bens. 
E, do mesmo modo, a especialização das 
funções e a especialização do trabalho não 
iriam muito longe se ainda dependêssemos 
do escambo. Em consequência, 
 
 
desenvolveu-se o dinheiro como meio de 
facilitar trocas e possibilitar compras e 
vendas isoladas, entre diferentes partes. 
 
Foi justamente a existência de um excedente de produção, 
somado à divisão e especialização do trabalho, que permitiu o 
surgimento e o desenvolvimento do mercado. Na linguagem 
econômicamuito se fala no termo “mercado”, ora em sentido 
amplo, ora em sentido específico (como “mercado de imóveis” ou 
“mercado de carros usados”). 
Contudo, em sentido geral, o termo mercado designa: 
um grupo de compradores e vendedores 
que estão em contato suficientemente 
próximo para que as trocas entre eles 
afetem as condições de compra e venda 
dos demais. Um mercado existe quando 
compradores que pretendem trocar dinheiro 
por bens e serviços estão em contato com 
vendedores destes mesmos bens e 
serviços. Deste modo, o mercado pode ser 
entendido como o local, teórico ou não, do 
encontro regular entre compradores e 
vendedores de uma determinada economia. 
Concretamente, ele é formado pelo 
conjunto de instituições em que são 
realizadas transações comerciais (feiras, 
lojas, Bolsas de Valores ou de Mercadorias 
etc.). 
(SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário 
de Economia. São Paulo: Best Seller, 
1999) 
Uma das virtudes do mercado está em favorecer o surgimento de 
uma grande variedade de produtos, acompanhando as 
necessidades, os desejos – isto é, as demandas – dos 
consumidores. Assim, se uma pessoa com espírito 
empreendedor percebe que a sociedade demanda um produto 
ou serviço que não vem sendo ofertado em quantidade ou 
qualidade suficiente, ele poderá se ocupar em satisfazer este 
desejo coletivo, na medida da sua capacidade. Atrás de cada 
objeto que encontramos em nossas casas, seja um livro, um 
aspirador de pó ou um computador, existe a figura do 
empreendedor e do mercado. 
Assim, a vida do empreendedor depende bastante da liberdade 
do mercado. Lima (2008, p.18-19), ao tratar da “lei da oferta e da 
demanda”, explica o seguinte: 
O preço e a quantidade não são decididos e 
impostos pelo vendedor e muito menos pelo 
comprador. É necessário que haja interação 
entre eles, ofertantes e demandantes, para 
que surja no mercado um consenso que 
leve à decisão de compra e venda. Assim, é 
o mercado que determina o preço e a 
quantidade comprada e vendida, e não a 
vontade de um ou outro participante. 
Se o empreendedor tem liberdade para criar, produzir e vender, 
sem depender da autorização dos governantes, mais e mais 
empresas podem surgir. Para o consumidor este cenário também 
é atraente, pois permite que várias empresas apareçam para 
fabricar os mesmos produtos ou oferecendo os mesmos 
serviços. Disto resulta a concorrência entre os empreendedores, 
com redução dos preços ao consumidor e melhoria da qualidade. 
Obviamente, muitas atividades econômicas acabam sendo 
regulamentadas pelo Estado, para garantir, por exemplo, a 
 
 
segurança do consumidor ou do Meio Ambiente. Teme-se, 
também, a constituição de cartéis ou de monopólios. A maioria 
dos economistas admite um certo grau (maior ou menor) de 
controle estatal. 
Friedman (2014, p.17) argumenta que: 
A existência do mercado livre 
evidentemente não elimina a necessidade 
de governo. Ao contrário, o governo é 
essencial não só como fórum para 
determinar ‘as regras do jogo’, mas também 
como árbitro para interpretar e aplicar as 
regras aprovadas. O que o mercado faz é 
reduzir em muito a variedade de questões a 
serem decididas por meios políticos, e, 
assim, minimizar a extensão em que o 
governo precisa participar diretamente do 
jogo. 
Alguns liberais mais “puros” rejeitam qualquer regulamentação. 
Para estes “uma sociedade de mercado, ou seja, na qual fosse 
deixado ao mercado coordenar as relações, seria uma sociedade 
mais eficiente e mais livre” (PAIN; REINERT, 2013, p. 218). Para 
outros, porém, a liberdade de mercado acaba levando a uma 
competição selvagem que aprofunda a divisão entre as classes 
sociais, levando à miséria de muitos. Mas esta discussão será 
examinada mais tarde. 
CARTEL MONOPÓLIO e OLIGOPÓLIO 
“Grupo de empresas 
independentes que 
formalizam um acordo para 
sua atuação coordenada, 
com vistas a interesses 
comuns. (...) Os objetivos 
“O monopólio (...), que tanto pode 
ser de direito, como de fato, visa a 
subtrair uma soma de negócios ou 
de operações ao regime da livre 
concorrência ou à lei da procura e 
da oferta, facultando ao 
mais comuns dos cartéis 
são: 
1) controle do nível de 
produção e das condições 
de venda; 
2) fixação e controle de 
preços; 
3) controle das fontes de 
matéria-prima (cartel de 
compradores); 
4) fixação de margens de 
lucros e divisão de territórios 
de operação” 
(SANDRONI, 1999, p. 84). 
monopolizador em se tornar o 
exclusivo senhor da praça” 
(SILVA, 1991, p.206). 
O oligopólio é o “tipo de estrutura 
de mercado, nas economias 
capitalistas, em que poucas 
empresas detêm o controle da 
maior parcela do mercado. O 
oligopólio é uma tendência que 
reflete a concentração da 
propriedade em poucas empresas 
de grande porte, pela fusão entre 
elas, incorporação ou mesmo 
eliminação (por compra, dumping 
e outras práticas restritivas) das 
pequenas empresas” 
(SANDRONI, 1999, p.431). 
 
 
Sugestão de leitura 
LIMA, Gerson. Economia, Dinheiro e Poder Político. Curitiba: 
IBPEX, 2008. (1.1 “O funcionamento do mercado”, páginas 17 a 
20.) 
 
 
Saiba mais 
Assista este pequeno vídeo do acervo pessoal do professor 
Marcos em sua viagem ao Museu do Louvre em que ele trata das 
origens do capitalismo. 
https://www.youtube.com/watch?v=Z9TwbMX1eE0&feature=yout
u.be 
O EMPREENDEDOR E O ESTADO 
O nosso espírito empreendedor está por trás dos grandes 
avanços da humanidade, desde a Antiguidade. As cidades 
somente puderam surgir porque no campo alguns agricultores 
inovadores foram capazes de produzir mais comida do que 
precisavam para o seu sustento, permitindo que uma outra 
classe de empreendedores, os artesãos, pudessem abandonar 
as lavouras e se dedicar exclusivamente às suas atividades. 
A partir deste momento, produtos e serviços variados 
começaram a surgir. Porém, já na Antiguidade, os governantes 
sentiram a necessidade de regulamentar algumas atividades 
empresariais, por motivos variados. 
Sabemos por exemplo que, já no século XXI antes de Cristo, as 
leis da cidade de Ur (localizada na Mesopotâmia) limitavam as 
taxas de juros e tabelavam os preços de alguns produtos. 
(MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. São 
Paulo: Atlas, 2010, p. 2) 
Estas intervenções do Estado ainda ocorrem, mesmo em países 
que defendem o liberalismo econômico, como os Estados Unidos 
e a Grã-Bretanha. Nestes dois, elas tendem a ser brandas e 
pontuais. Fiscaliza-se o funcionamento da Bolsa de Valores e 
criam-se restrições à venda de novos medicamentos, apenas 
para citar dois exemplos. Tudo isto para evitar que o sucesso de 
alguns empresários possa representar riscos ou prejuízos para a 
sociedade . 
(MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. São 
Paulo: Atlas, 2010, p. 1) 
Em outros países, como aqueles que adotam regimes socialistas, 
os empreendimentos privados sofrem grandes restrições ou são 
simplesmente proibidos. Neles a economia é basicamente 
planificada e dirigida pelo Estado, a quem cabe identificar as 
necessidades da população e aquilo que deve ser produzido ou 
oferecido. Cuba e Coreia do Norte, cada uma com o seu próprio 
estilo de socialismo, são exemplos deste modelo. 
O Brasil tem uma economia de mercado, modelo que encontra 
reflexo na sua Constituição Federal, onde estão expressos o 
respeito à propriedade privada (art,170, II), à livre concorrência 
(art.170, IV) e ao “Estado Mínimo” (art. 173). 
Ainda assim, vivemos um modelo de Estado bastante atuante na 
ordem econômica.Inclusive, o artigo 175 da Constituição Federal 
atribuiu ao Poder Público a responsabilidade pela “prestação de 
serviços públicos”. 
São estes serviços monopólios do Estado, que poderá prestá-los 
diretamente ou, caso julgue necessário, entrega-los à iniciativa 
privada, após um procedimento de licitação onde se avaliará a 
proposta mais vantajosa ao interesse público. A sociedade 
empresária que sair vitoriosa do procedimento de licitação 
(doravante chamada de “concessionária”) terá que aceitar um 
contrato previamente redigido pela administração, repleto de 
cláusulas rigorosas voltadas ao atingimento dos objetivos 
anunciados pelas políticas públicas oficiais. 
Quanto às atividades tipicamente privadas, como o comércio e a 
agricultura, o Estado brasileiro buscará influenciar o seu 
desenvolvimento sustentável por meios indiretos, como a 
 
 
redução de tributos, a simplificação dos procedimentos para a 
abertura de empresas, empréstimos em condições especiais e a 
regulamentação de certas atividades. 
A experiência mostra que existem atividades que, ao mesmo 
tempo em que geram empregos e recolhem tributos, também 
causam danos à sociedade. Ocorre, por exemplo, quando uma 
sociedade empresária consegue absorver ou levar seus rivais à 
falência e passa a controlar a fabricação ou a distribuição de um 
produto, impondo aos consumidores um preço monopolista, 
superior àquele existente em uma situação de livre concorrência. 
No Brasil podemos testemunhar a ingerência do Estado nos mais 
diferentes planos. O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 
8.078/90), por exemplo, traz regras sobre o formato da 
publicidade, sobre as informações que devem constar nas 
embalagens dos produtos, além de apontar práticas e cláusulas 
contratuais abusivas, dentre outros aspectos. Mais 
recentemente, o Decreto 7.962/2013 buscou fazer o mesmo, em 
relação ao comércio eletrônico. Isto tudo, mantendo a livre 
iniciativa como um dos valores da nossa Constituição Federal. 
A regulamentação da atividade econômica pode ter efeitos 
positivos ou negativos. O Brasil, durante vários anos, restringiu a 
importação de produtos estrangeiros, como foi o caso dos 
computadores. Queria-se, com isto, criar um mercado interno 
protegido, capaz de estimular uma indústria nacional de 
computadores. Isto poderia ter sido uma intervenção positiva 
mas, na prática, os resultados foram desanimadores. Todos 
estes são aspectos que devem estar sempre presentes na mente 
dos empreendedores. 
De acordo com Mamede: 
O conhecimento das regras jurídicas 
aplicáveis à atividade empresarial, portanto, 
é um requisito indispensável para o 
sucesso. No planejamento, na organização 
e na condução da atividade empresarial, é 
indispensável saber o que é proibido e o 
que é obrigatório, compreendendo, assim, o 
amplo espaço que, entre tais limites, se 
define para a atuação mercantil. (MAMEDE, 
2010, p. 1-2). 
Por outro lado, o Estado brasileiro também tem sido responsável 
por políticas de fomento, voltadas para o estímulo às atividades 
econômicas e ao desenvolvimento tecnológico. 
Tradicionalmente, o Brasil é um país cujas empresas investem 
muito pouco em tecnologia. Os motivos desta deficiência são 
muitos, a incluir a falta de recursos financeiros dos nossos 
empreendedores e os riscos de investir em avanços tecnológicos 
que logo poderão ser suplantados por empresas estrangeiras 
maiores e mais dinâmicas. 
A indústria farmacêutica serve como um bom exemplo. Afinal, é 
um setor da economia onde a obtenção de vantagens 
competitivas está intimamente relacionada com a inovação 
tecnológica. Entretanto, o desenvolvimento de novos 
medicamentos demanda, em média, mais de uma década de 
pesquisas e centenas de milhões de dólares em investimentos. 
(BENETTI, Daniela V. N. Proteção às patentes de medicamentos 
e comércio internacional. In: BARRAL, Welber; PIMENTEL, Luiz 
Otávio. Propriedade Intelectual e Desenvolvimento. 
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2006 ,p. 349.) 
Por conta disto, o Estado brasileiro frequentemente se vê 
obrigado a assumir o papel de desenvolvedor de novas 
tecnologias, missão que nos países ricos geralmente cabe às 
empresas privadas e universidades. Um exemplo disto se deu na 
década de 1970, durante o governo do presidente Geisel. O país 
 
 
e o mundo atravessavam a chamada “Crise do Petróleo” 
desencadeada pelo aumento brutal do preço dos barris 
produzidos pelos países membros da OPEP. 
Uma das respostas do Estado para este problema foi a busca por 
alternativas energéticas, o que levou à criação do Programa 
Nacional do Álcool (Pró-Álcool) e ao desenvolvimento de um 
novo combustível para veículos automotores, o etanol (feito a 
partir da cana-de-açúcar). 
Ainda no tocante à relação entre o Estado e o empreendedor, é 
interessante referir o papel do primeiro como financiador do 
segundo. Este fenômeno também é típico da economia brasileira, 
em virtude da falta de poupança interna e dos juros elevados 
cobrados pelos bancos privados. Neste sentido é interessante 
mencionar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento 
Econômico e Social), fundado em 1952. De acordo com o site 
oficial desta instituição de fomento: 
O BNDES é um órgão vinculado ao 
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e 
Comércio Exterior e tem como objetivo 
apoiar empreendimentos que contribuam 
para o desenvolvimento do país. Suas 
linhas de apoio contemplam financiamentos 
de longo prazo e custos competitivos, para 
o desenvolvimento de projetos de 
investimentos e para a comercialização de 
máquinas e equipamentos novos, 
fabricados no país, bem como para o 
incremento das exportações brasileiras. 
Contribui, também, para o fortalecimento da 
estrutura de capital das empresas privadas 
e desenvolvimento do mercado de capitais. 
Disponível em: 
<http://www.bcb.gov.br/Pre/composicao/bnd
es.asp>. Acesso em: 22 fev. 2015. 
Por fim, é interessante referir que desde o século XIX os 
empresários brasileiros têm se reunido em associações e 
federações com vistas a discutir seus problemas comuns, mas 
também com o intuito de formar grupos de pressão capazes de 
negociar com os diferentes governos, nas três esferas da 
Federação (União Federal, Estados e Municípios). 
Destes movimentos surgiram as associações comerciais dos 
diferentes Estados brasileiros e que hoje possuem grande 
representatividade política. A Federação das Indústrias do 
Estado de São Paulo (Fiesp), maior entidade de classe da 
indústria brasileira, tem entre seus associados cerca de 130 mil 
indústrias de diversos setores. Destes diversos fóruns 
representativos já saíram inúmeras propostas de reformas 
administrativas e normativas, muitas das quais foram acatadas 
pela administração pública. 
Contudo é importante dizer que a relação do Estado com os 
empreendedores é frequentemente cercada por críticas e 
avaliações subjetivas. Os incentivos governamentais e mesmo os 
financiamentos às atividades privadas nem sempre são regidos 
de forma eficiente. Mas este não é um problema apenas 
brasileiro. 
Sugestão de leitura 
Disponível na biblioteca virtual: 
HACK, Érico. Noções preliminares de Direito Administrativo e 
Direito Tributário. Curitiba: Intersaberes, 2013, p.111 a 113. 
 
 
 
 
A SOCIEDADE EMPRESARIAL 
Quando uma sociedade limitada deixa de cumprir um contrato, 
causando prejuízo ao consumidor, isto nem sempre significa que 
os sócios que a criaram desejavam este resultado danoso. Na 
verdade, a vontade expressa por uma sociedade empresária 
nem sempre corresponde à vontade da maioria dos seus sócios. 
Muitasvezes pode ser reflexo das escolhas tomadas pelo seu 
diretor ou por um gerente que, em alguns casos, são meros 
empregados da sociedade. 
Isto se explica facilmente quando compreendemos que, no nosso 
sistema jurídico, uma sociedade limitada ou anônima 
corresponde a um tipo especial de pessoa, que chamamos de 
pessoa jurídica. 
Você, caro leitor, é uma pessoa física ou natural. Uma sociedade 
empresária é uma pessoa jurídica que, por força da lei, se 
personaliza, alcançando uma individualidade própria, “para 
constituir uma entidade jurídica, distinta das pessoas que a 
formam ou que a compõem” (SILVA, 1991, p.368). A 
consequência prática disto é que, assim como você, as 
sociedades têm um nome, um registro, um endereço, um 
patrimônio, além de direitos e obrigações distintos dos seus 
sócios. 
Foi a complexidade das relações econômicas e políticas que 
obrigou o Estado a reconhecer a existência de “pessoas 
jurídicas”. Por exemplo: Se uma imensa sociedade anônima 
(como a Petrobras ou a Vale) vem a me causar um dano, eu não 
irei brigar com seus acionistas, que nada podem fazer, 
individualmente, para me ajudar. 
Eu irei, eventualmente, ajuizar uma ação contra aquela 
sociedade anônima. Caso eu seja vitorioso, será o patrimônio da 
pessoa jurídica quem irá responder pelo prejuízo que sofri. Os 
acionistas talvez jamais venham a saber do meu processo. 
A questão é muito importante para você, futuro empreendedor. 
Afinal, nos dias de hoje, “as atividades econômicas de alguma 
relevância – mesmo as de pequeno porte – são desenvolvidas 
em sua maioria por pessoas jurídicas, por sociedades 
empresárias” (COELHO, 2013, p.126). Neste ponto, considero 
necessário fazer uma advertência de ordem conceitual. Na 
linguagem coloquial costumamos usar o termo “empresa” para 
nos referirmos a uma pessoa jurídica, como uma sociedade 
limitada ou uma sociedade anônima. 
Também usamos o termo “empresário” para designar o sócio de 
uma sociedade limitada ou sociedade anônima. Mas, para o 
Direito, especialmente depois do advento do novo Código Civil 
(2002), dizemos que: 
Empresário é a pessoa que toma a iniciativa 
de organizar uma atividade econômica de 
produção e circulação de bens ou serviços. 
Essa pessoa pode ser tanto a física, que 
emprega seu dinheiro e organiza a empresa 
individualmente, como a jurídica, nascida da 
união de esforços de seus integrantes. 
(COELHO, vol.1, 2013, p.126). 
 
Empresa, por outro lado, é a atividade econômica exercida pelo 
empresário. Inclui aspectos intangíveis como a sua história, sua 
imagem e o relacionamento que tem com a comunidade 
(MAMEDE, 2010, p.8). Neste sentido, a Volkswagen, pessoa 
jurídica do ramo automobilístico, é um empresário que tem por 
empresa (por atividade) a fabricação de automóveis. 
 
 
Por outro lado, quando nos referimos aos membros de uma 
sociedade limitada, o termo “sócio” é mais adequado do que o 
termo “empresário”. Para não causar confusão junto às pessoas 
que desconhecem todo este vocabulário técnico, eu costumo 
usar o termo “sociedade empresária” quando eu me refiro a uma 
pessoa jurídica que exerce atividade econômica. 
As sociedades empresárias regularmente constituídas adotam 
normalmente a forma de sociedade limitada (Ltda.) ou de 
sociedade anônima (S/A). 
 O Código Civil prevê ainda a “sociedade em 
nome coletivo” e a “sociedade em comandita 
simples”. Mas estas são pouco comuns na prática. 
Um outro tipo é a “sociedade simples”, que não é 
considerada uma sociedade empresária, embora seja comum 
para a constituição de escritórios de advocacia e de outras 
profissões liberais. 
A escolha entre uma ou outra forma de sociedade depende muito 
do tamanho do empreendimento ou da estratégia dos seus 
fundadores para a captação de recursos. Neste sentido Coelho 
(2013, p.128) leciona que: 
A sociedade limitada, normalmente 
relacionada à exploração de atividades 
econômicas de pequeno e médio porte, é 
constituída por um contrato celebrado entre 
os sócios. O seu ato constitutivo é, assim, o 
contrato social, instrumento que eles 
assinam para ajustarem os seus interesses 
recíprocos. 
O Contrato Social é o documento mais importante para a criação 
de uma sociedade limitada e o fim lucrativo é o objetivo que nele 
se expressa. “Seu objetivo é produzir vantagens que, partilhadas 
entre os contratantes, serão por eles apropriadas. Para tanto, 
será desenvolvida uma ou mais atividades específicas, lícitas e 
morais, que são o objeto do contrato de sociedade” (MAMEDE, 
2010, p.29). 
Na sociedade limitada, o capital da sociedade é dividido em 
quotas. Cada sócio, ao entrar na sociedade, adquire uma ou 
mais quotas. É como se ele trocasse dinheiro (ou outros bens) 
pela participação na empresa. Isto tem uma consequência 
interessante: como a sociedade limitada é uma pessoa 
autônoma, com seus próprios direitos e obrigações, as dívidas 
que ela vier a assumir não atingirão o patrimônio pessoal do 
sócio. 
Caso a sociedade limitada venha a falir de maneira lícita (não 
fraudulenta), o sócio perderá apenas o investimento que fez, ou 
seja, as quotas. Algo semelhante acontece em relação aos 
acionistas de uma sociedade anônima. O percentual de quotas 
adquiridas por cada sócio irá ditar o poder que cada um terá para 
influir nos destinos da empresa. Afinal, isto se reflete nas 
votações das assembleias ou reuniões da sociedade. 
No que toca à sociedade anônima (também chamada de 
“companhia”), o seu objeto normalmente se relaciona a um 
grande empreendimento, como a exploração mineral, a execução 
de grandes obras de engenharia, etc. Neste caso, seus 
fundadores precisam de um meio eficiente para atrair sócios e 
grandes volumes de capital. Uma forma de fazer isto, após 
cuidadosa divulgação das finalidades da empresa e de sua 
viabilidade, é a oferta de ações na Bolsa de Valores. 
Existem diferentes tipos de ações e, em muitas sociedades 
anônimas, as ações preferenciais podem ser privadas do direito 
a voto nas assembleias. 
 
 
Qualquer que seja o objeto ou finalidade de uma sociedade 
empresária, esta deve obrigatoriamente se registrar na Junta 
Comercial do Estado em que estiver sediada. É uma 
necessidade para que ela possa surgir como pessoa, assim 
como ajuda a oferecer maior segurança para as pessoas que 
irão contratar com ela. Lá ficará arquivado o seu contrato social 
(ser for uma sociedade limitada) ou o seu estatuto (se for uma 
sociedade anônima). 
Assim, qualquer pessoa interessada poderá se informar sobre 
quem são seus sócios (no caso da sociedade limitada), qual o 
seu endereço, quem tem poderes para tomar decisões em nome 
da empresa e quais são estes poderes. Se é verdade que a 
sociedade empresária “nasce” pelo registro na Junta Comercial, 
isto não é o bastante para que ela inicie as operações. De acordo 
com o SEBRAE: 
Para uma micro ou uma pequena empresa 
exercer suas atividades no Brasil, é preciso, 
entre outras providências, ter registro na 
prefeitura ou na administração regional da 
cidade onde ela vai funcionar, no estado, na 
Receita Federal e na Previdência Social. 
Dependendo da atividade pode ser 
necessário também o registro na Entidade 
de Classe, na Secretaria de Meio-Ambiente 
e outros órgãos de fiscalização. 
(SEBRAE. Guia prático para o registro de 
empresas. Disponível em: 
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebr
ae/artigos/Guia-pr%C3%A1tico-para-o-
registro-de-empresas>. Acesso em: 24 fev. 
2015). 
No caso de uma sociedade anônima “aberta” (como é o caso de 
uma S/A que negocia títulos em Bolsa de Valores), será 
necessárioainda obter registro junto à Comissão de Valores 
Mobiliários (CVM), que é uma autarquia vinculada ao Ministério 
da Fazenda. 
A nova sociedade empresária precisará recolher tributos a partir 
do seu nascimento. Para tanto estará obrigada a obter um 
número de CNPJ (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). Este 
procedimento é feito exclusivamente pela Internet, no site da 
Receita Federal. 
Nas últimas décadas diferentes governos têm se empenhado 
para simplificar todo este processo, como meio de estimular as 
pessoas a empreender. No Estado do Paraná é totalmente 
possível um empresário individual obter seu registro de 
Microempreendedor individual (MEI) e começar a operar em 
menos de 48 horas. 
Quadro comparativo entre Sociedade Limitada e Sociedade 
Anônima 
 SOCIEDADE 
LIMITADA 
SOCIEDADE ANÔNIMA 
Legislação 
básica 
Código Civil, arts. 
1.052 a 1.087. 
Lei 6.404/76 (dispõe 
sobre as sociedades por 
ações) 
Identificação O nome 
comercial deve 
vir acrescido da 
palavra “limitada” 
por extenso ou 
abreviada (Ltda.). 
A sociedade anônima 
será designada por uma 
denominação (exemplo: 
Petrobras) acompanhada 
das expressões 
“companhia” ou 
“sociedade anônima”, 
 
 
escritas por extenso ou 
abreviadamente. Todavia, 
é vedada a utilização da 
abreviação "Cia" ao final 
da denominação. 
Capital Social É dividido em 
quotas, de valor 
igual ou em 
valores 
desiguais. 
É dividido em ações. 
Todas as ações 
ordinárias têm direito a 
voto. As preferenciais 
podem ser privadas do 
voto. 
Estrutura 
básica da 
sociedade 
Assembleia ou 
Reunião, 
Administração e 
Conselho Fiscal 
(este último 
quase sempre 
facultativo). 
Assembleia-Geral, 
Conselho Fiscal, Diretoria 
e Conselho de 
Administração. Em alguns 
casos o Conselho de 
Administração pode ser 
facultativo. 
Estrutura do 
capital 
Capital dividido 
em quotas, todas 
elas com direito a 
voto. 
Capital dividido em ações. 
Podem existir ações sem 
direito a voto. 
 
Sugestão de leitura 
MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. São 
Paulo: Atlas, 2010, p.5/6. (texto “Dona Maria cozinha bem...”) 
SÍNTESE 
Você viu ao longo desta rota que o Estado, assim como as 
sociedades empresariais, são criações da mente humana, 
reflexos da Modernidade. São um retrato do mundo que 
construímos, dentre os vários mundos que a raça humana 
poderia ter construído. Para serem aceitos, filósofos e juristas 
“quebraram a cabeça”, justificando a utilidade destas estruturas. 
Foram questionadas no princípio e, em maior ou menor grau, 
sempre serão. 
Os Estados têm perfis diferentes. Isto é visível quando 
comparamos as nações contemporâneas. Alguns buscam intervir 
pouco nas atividades econômicas, outros são mais reguladores, 
outros ainda participam diretamente da economia, como 
produtores e prestadores de serviço. Não existe uma fórmula 
universal. Cada sociedade têm as suas instituições, os seus 
valores e crenças. Assim, cada uma delas tem que optar por uma 
estrutura que lhe seja o mais natural possível. 
No caso do Brasil, que vivencia uma economia de mercado, 
temos uma tradição mais intervencionista do que países como os 
Estados Unidos ou a Grã-Bretanha, apesar da Constituição 
Federal de 1988 restringir a participação do estado na economia. 
Vivemos períodos de ajustes, buscamos facilitar o surgimento de 
novas empresas. Há muito ainda o que se fazer. Mas todo 
empreendedor deve compreender que o campo de batalha onde 
ele atua é influenciado por antigos ecos, pelas ideias com as 
quais grandes pensadores moldaram a ideia de Modernidade. 
 
REFERÊNCIAS 
BENETTI, Daniela Vanila Nakalski. Proteção às patentes de 
medicamentos e comércio internacional. In: BARRAL, Welber; 
PIMENTEL, Luiz Otávio. Propriedade Intelectual e 
Desenvolvimento. Florianópolis: Fundação Boiteux, 2006. 
BNDES. Disponível em: 
<http://www.bcb.gov.br/Pre/composicao/bndes.asp>. 
 
 
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2010. 
COELHO, Fábio U. Curso de direito comercial: direito de 
empresa. Vol. 1. São Paulo: Saraiva, 2013. 
FRIEDMAN, Milton. Capitalismo e Liberdade. Rio de Janeiro, 
LTC, 2014. 
HACK, Érico. Noções preliminares de Direito Administrativo e 
Tributário. Curitiba: Intersaberes, 2013. 
KAUTSKY, John. Karl Kautsky: Marxism, Revolution, and 
Democracy, New Jersey: Transaction Publishers, 1994. 
LIMA, Gerson. Economia, Dinheiro e Poder Político. Curitiba: 
IBPEX, 2008 
MACHIAVEL, Nicolau. Le Prince et autres textes. Paris: 
Gallimard, 1980. 
MAMEDE, Gladston. Manual de Direito Empresarial. São 
Paulo: Atlas, 2010. 
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. São 
Paulo: Best Seller, 1999. 
SEBRAE. Guia prático para o registro de empresas. 
Disponível em: 
<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/Guia-
pr%C3%A1tico-para-o-registro-de-empresas>. Acesso em: 24 
fev. 2015. 
SILVA, de Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: 
Forense, 1991. 
STRECK, Lenio L.; MORAIS, José L. B. de. Ciência Política e 
Teoria Geral do Estado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 
2001.

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