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HABILIDADES SOCIAIS: SUA IMPORTÂNCIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES ATENDIDAS NO SERVIÇO DE CONVIVÊNCIA E FORTALECIMENTO DE VÍNCULOS Associação Municipal de Apoio Comunitário – AMAC 2012 2 SUMÁRIO 1- Prefácio.................................................................................................... 3 2- Apresentação........................................................................................... 4 3- Objetivos.................................................................................................. 5 4- As habilidades sociais............................................................................... 6 5- As habilidades sociais e a educação social.............................................. 9 6- As habilidades sociais de processo....................................................... 10 7- A automonitoria...................................................................................... 11 8- O treinamento de habilidades sociais..................................................... 13 9- O Método Vivencial Del Prette & Del Prette............................................ 18 10- A Lei da Igualação................................................................................ 25 11- As habilidades sociais e suas relações com crianças e adolescentes.26 12- Civilidade............................................................................................... 29 13- Fazer amizades..................................................................................... 30 14- Empatia................................................................................................. 32 15- Autocontrole e expressividade emocional............................................. 33 16- Assertividade......................................................................................... 37 17- Solução de problemas interpessoais.................................................... 41 18- Habilidades sociais acadêmicas........................................................... 44 19- Considerações finais............................................................................. 46 20- Organizadores deste trabalho..............................................................48 21- Referências bibliográficas.....................................................................49 3 1- PREFÁCIO: Na sociedade contemporânea as relações interpessoais estão cada vez mais difíceis, sendo que, em alguns contextos, elas se agravam. No meio educacional, educadores convivem com novos valores e interesses manifestados por seus educandos e isto vem lhes causando surpresa e, em determinadas ocasiões, assombros, haja visto a grande variedade destes novos comportamentos, que modificam a maneira tradicional de relacionamento entre educador e educando. As dificuldades de aceitação e entendimento do novo, por parte do educador, podem ser expressas por algumas atitudes negativas a eles atribuídas, frente à situações inesperadas no contato com os educandos, como por exemplo, retraimento, silêncio e omissão, repulsa, manifestações agressivas, intolerância, preconceito e medo. Cabe ressaltar que nem todos os educadores adotam comportamentos negativos na lida com a novidade, alguns conseguem receber com mais naturalidade – ou com mais preparo psicológico – as novas formas de relacionamento com os educandos da contemporaneidade, o que torna a sua adaptação a esta nova realidade mais efetiva, gradual e menos sofrida. A arte de educar é complexa e permeada por detalhes importantes que podem ajudar ou complicar ainda mais este ato sublime, cabendo constante reflexão por parte dos educadores no sentido de avaliar em que caminho percorrem, o da facilitação e proteção ou o do agravamento de conflitos. Conflito, este sim é inevitável. Em se tratando principalmente de relacionamento interpessoal dentro dos processos de educação sempre haverá conflitos, de interesse, de opiniões, de ideias, de gostos, de desgostos, quaisquer que sejam, eles estarão sempre presentes. O educador social, dentro dos programas e projetos sociais lidará sempre com conflitos, pois é uma vertente que inclusive define a sua atuação na educação não formal, fazendo por necessária a sua presença. Esta presença intencional e compromissada, que justifica todo o investimento na busca de ferramentas socioeducativas que sejam capazes de auxiliar nos processos de ajuda desencadeados pelo trabalho estruturado desta educação não formal. O uso consciente dos conhecimentos expostos através do movimento das habilidades sociais, que vem se alargando no Brasil – mas em contextos ainda restritos, que possuem nuances de sofisticação – pode ser uma metodologia fundamental na mudança de paradigmas antigos, por muitas vezes ultrapassados, para uma atuação mais emancipatória do sujeito, instigadora do protagonismo individual e coletivo, capaz realmente de impulsionar o indivíduo para caminhos positivos ainda – ou nunca – explorados por ele. Uma literatura consistente e com arcabouços sólidos justifica e conforta o empenho de quem desejar se aprimorar na arte dos relacionamentos interpessoais em situações de conflito. As formas de encontro ao longo da vida são infinitas, com variadas nuances. As aproximações são inevitáveis. As habilidades sociais ou a falta delas... Quer queiramos ou não, conviveremos com estas características enquanto pudermos nos manifestar no mundo. Prazer, dor ou desafio? Só experimentando. Vivendo. Leandro Barros Ribeiro Mediador-tutor do GEHS 4 2- APRESENTAÇÃO: O conteúdo deste material é o resultado dos trabalhos realizados pelo Grupo de Estudos em Habilidades Sociais (GEHS) do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de 6 a 17 anos da Associação Municipal de Apoio Comunitário (AMAC), através dos encontros realizados ao longo do ano de 2012, algumas vezes com a participação somente dos Mediadores do GEHS e, outras vezes, também com todos os seus integrantes. Paralelamente, foi feito um levantamento bibliográfico sobre os conteúdos relativos às habilidades sociais mais importantes para serem estimuladas em crianças e adolescentes. O GEHS apresenta “Habilidades sociais: sua importância para crianças e adolescentes atendidas no serviço de convivência e fortalecimento de vínculos”, um material de estudo e de apoio operacional para os educadores sociais que atuam nas diversas Oficinas Socioeducativas. Este documento importante refere-se ao conhecimento teórico básico necessário sobre as habilidades sociais, funcionando como referência de consulta para a teorização, elaboração e aplicação de atividades variadas, como exposições orais, dinâmicas, jogos e vivências junto aos educandos atendidos. Destacamos que a Comissão Especial para a elaboração deste documento, formada pelos Mediadores do GEHS, aprimorou as pesquisas referentes à temática em questão, apoderando- se de conhecimentos específicos para uma relação de boa qualidade entre os educadores sociais e os educandos, de forma que esta interação competente também melhore a qualidade das relações dos educandos entre si. Esta Comissão continuou contando com a orientação da pesquisadora Professora Doutora Zilda Aparecida Pereira Del Prette, da Universidade Federal de São Carlos, São Paulo. Mediante a orientação, a Comissão compilou, adaptou e elaborou uma nova fonte de direcionamento, como instrumento para facilitar o trabalho do educador na sua tarefa de lidar, de maneira adequada, com as demandas das situações interpessoais das crianças e adolescentesnas diversas Unidades Socioeducativas. Torna-se importante salientar que a principal referência teórico-prática do GEHS é a obra construída pelos doutores Almir e Zilda Del Prette, da Universidade Federal de São Carlos, a UFSCAR. Conforme afirma Murta (2011, p. 83) “o impacto sobre a qualidade de vida da população, derivado do conhecimento científico, será tanto maior quanto maior for a disseminação ou a transferência deste conhecimento para a comunidade”. Dessa forma, este material busca contribuir neste propósito e é a consolidação de mais um trabalho do Grupo de Estudos em Habilidades Sociais, do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos de 6 a 17 anos da AMAC, visando garantir o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) em suas unidades de atuação. Mediadores do GEHS Novembro de 2012 5 3- OBJETIVOS: - Fornecer informações mais detalhadas sobre as habilidades sociais mais importantes na infância e adolescência, de forma que os educadores sociais possam ajudar seus educandos na tarefa diária de lidar com os desafios e demandas atuais da sociedade contemporânea, como por exemplo: o confrontamento com realidades adversas, violências exibidas nos meios de comunicação, o incentivo ao consumismo, falta de tolerância às diferenças e opiniões divergentes na família, na escola e na comunidade. - Ajudar os educadores sociais a compreenderem as diferentes relações que os educandos apresentam nos diversos ambientes sociais que frequentam, ou seja, em alguns contextos as crianças e adolescentes não se deparam com o estabelecimento de muitas regras e limites, o que pode vir a ser um fato complicador na adaptação a programas e projetos sociais baseados em procedimentos específicos (regras de convivência, horários, respeito ao espaço do outro, etc.). - Possibilitar ao educador social trabalhar questões importantes, tais como: respeito, expressividade emocional, amizade, tolerância, solidariedade, convivência cotidiana agradável e outras, para a construção de um repertório mais elaborado de habilidades sociais no grupo, capazes de tornar mais harmoniosas as relações dos educandos com outros colegas e adultos. - Facilitar a compreensão da competência social na infância como fator de proteção para um desenvolvimento satisfatório da criança e do adolescente, uma vez que esta aumenta a capacidade dos mesmos para lidar com dificuldades e privações. - Propiciar ao educador social o entendimento de que é de suma importância que ele procure adotar nas suas próprias condutas pessoais, os conhecimentos adquiridos sobre as habilidades sociais, buscando sempre um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas. - Incentivar a adaptação de procedimentos existentes na literatura especializada para a realidade local das Unidades de Atendimento, como forma de aproximação com a cultura dos educandos atendidos, atentando-se para o que diz Murta (2011): São justificadas as modificações nas atividades dos programas de habilidades sociais, adaptando-se à cultura local. Contudo, as mudanças não podem perder de vista os objetivos das atividades e os princípios éticos que as fundamentam. Deve-se propor uma “adaptação embasada”, ou seja, guiada pelos ingredientes críticos do programa, e não uma reinvenção livre, negligente em relação a estes mesmos ingredientes (p. 100). 6 4- AS HABILIDADES SOCIAIS: Michael Argyle entendia as habilidades sociais como o mecanismo de interação entre as pessoas, situando-as no campo da comunicação (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 24). Habilidades sociais são diferentes classes de comportamentos sociais que fazem parte do repertório de um indivíduo e contribuem para a competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais pessoas, de acordo com as demandas do ambiente (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005). As habilidades sociais, ou seja, o conjunto dos desempenhos apresentados pelo indivíduo diante das demandas de uma situação interpessoal e que contribuem para a competência social, podem ser aprendidas e as demandas para o seu desempenho variam em função do estágio de desenvolvimento do indivíduo e de variáveis situacionais e culturais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 1999). Segundo Knight (2000), habilidades sociais são comportamentos que podem expressar atitudes, desejos, opiniões ou direitos de uma forma adequada à situação, respeitando a expressão desses comportamentos nos outros (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 176). HABILIDADES SOCIAIS Há três modos gerais para conduzir as relações interpessoais. O primeiro é considerar somente a si mesmo, desconsiderando os outros... O segundo é sempre colocar os outros antes de você... O terceiro é a regra de ouro... Considerar a si mesmo e também os outros. (Joseph Wolpe). Tais habilidades, no contexto socioeducativo, em projetos sociais, são fundamentais para o bom relacionamento entre os educadores sociais e seus educandos, normalmente crianças e adolescentes em situação de extrema vulnerabilidade socioeconômica. 7 Na dinâmica das interações, as habilidades sociais fazem parte dos componentes de um desempenho social competente (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004). A competência social qualifica, portanto, a proficiência de um desempenho (realização natural e espontânea de alguns comportamentos) e se refere à capacidade do indivíduo de organizar pensamentos, sentimentos e ações em função de seus objetivos e valores, articulando-os às demandas do ambiente (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004). Na infância e na adolescência, as práticas educativas da família e da escola, juntamente com a experiência de convivência com os colegas, são as principais condições para a aquisição e o aperfeiçoamento das habilidades sociais e da competência social. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 19) Se, ao longo do tempo, as condições de estimulação social do indivíduo forem favoráveis, as habilidades sociais entram em um círculo virtuoso de aprender-fortalecer- aperfeiçoar. Se as condições de estimulação social do indivíduo forem desfavoráveis, as habilidades sociais entram em um círculo de enfraquecer-extinguir-desaprender, com alta probabilidade de serem substituídas por comportamentos problemáticos (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 44). Caballo (2008) relata alguns fatores que impedem a atuação de maneira socialmente hábil de um indivíduo, sendo os seguintes: 1 – as respostas hábeis não estão presentes no repertório do indivíduo, ou seja, este pode nunca ter aprendido o comportamento apropriado ou poder ter aprendido um comportamento inapropriado; 2 – o indivíduo sente muita ansiedade nas interações, o que o impede de responder de maneira socialmente adequada; 3 – a pessoa está sempre auto-avaliando-se negativamente, havendo também pensamentos auto-derrotistas; 4 – o indivíduo fica temeroso pelas conseqüências do comportamento hábil; 8 5 – falta de motivação para atuar apropriadamente em determinada situação; 6 – o indivíduo não sabe fazer leituras do ambiente onde está, não sabendo discriminar adequadamente as situações nas quais determinada resposta provavelmente seria efetiva; 7 – a pessoa não está segura de seus direitos ou não crê que tenha o direito de responder apropriadamente; 8 – o indivíduo está localizado em ambiente que apresenta obstáculos restritivos ao comportamento correto, ou seja, tais obstáculos impedem o indivíduo de se expressar apropriadamenteou até mesmo punem a manifestação do comportamento que seria socialmente adequado. Crianças com dificuldades de aprendizagem, associadas a problemas socioemocionais e de relacionamento, constituem um desafio ao qual educadores precisam responder de algum modo (LOPES; DEL PRETTE, 2011a, p. 145). Se o rendimento acadêmico e as dificuldades de aprendizagem podem comprometer o funcionamento socioemocional, a intervenção sobre este pode também ser efetiva para reverter este quadro, ou, pelo menos, amenizá-lo. No Brasil, alguns estudos mostraram que a promoção de habilidades sociais em crianças com dificuldades de aprendizagem gerou ganhos estatisticamente significativos em leitura e escrita, além de melhorias no repertório de comportamentos sociais (LOPES; DEL PRETTE, 2011a, p. 147-148). Com crianças, os programas para desenvolvimento das habilidades sociais têm visado principalmente a reduzir problemas de comportamento e de aprendizagem, via fortalecimento do repertório de habilidades sociais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 67-68). HABILIDADES SOCIAIS ESTILOS DE DESEMPENHO SOCIAL Reações não habilidosas passivas Reações habilidosas Reações não habilidosas ativas 9 Problemas de comportamento concorrentes efetivamente competem ou bloqueiam a aquisição ou o desempenho de determinada habilidade social. Os problemas de comportamento concorrentes podem ser (GRESHAM, 2011, p. 23): a) externalizantes (desobediência, agressão, coerção) b) internalizantes (ansiedade, isolamento social, depressão). As relações do facilitador (educador) com o grupo e a forma como lida com as interações entre os participantes (educandos) são condições que podem ampliar ou comprometer a efetividade do programa. As habilidades do facilitador são reconhecidas como condição de efetividade de programas de treinamento de habilidades sociais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 67). Pesquisas vêm mostrando que programas estruturados de treinamento de habilidades sociais, conduzidos em pequenos grupos, constituem uma alternativa efetiva ou potencialmente efetiva junto a crianças, adolescentes, adultos e idosos, podendo ser incluídos no rol da PPBE (Práticas Psicológicas Baseadas em Evidência), ou pelo menos, no contexto desse movimento (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 75). 5- AS HABILIDADES SOCIAIS E A EDUCAÇÃO SOCIAL: A educação social é uma importante área de atuação de inúmeras pessoas preocupadas com o desenvolvimento de outros indivíduos que estejam passando por situações de desconforto vivencial, privações ou vulnerabilidades em variados contextos. O engajamento intencional destes determinados atores sociais no propósito de proporcionar melhores condições de vida – principalmente socioafetivas – para populações específicas situadas em condições de conflito, é um fator marcante e decisivo para a existência das ações próprias da educação social. Esta educação social é a manifestação prática dos estudos da pedagogia social, ou seja, é a aplicação das técnicas, metodologias, dinâmicas geradas nos diálogos desta recente ciência, atuando principalmente com formas de educação fora e além da escola (CALIMAN, 2010). Algumas características são básicas das atividades da educação social, sendo aquelas voltadas para o cuidado e ajuda, encaixando-se no âmbito da assistência social e também da educação, por isso sendo chamadas de socioeducativas, ou seja, que respondem às necessidades específicas de determinados setores da sociedade, conforme os mencionados acima, procurando orientar sujeitos e grupos socialmente em situação de risco, a buscarem mudanças pessoais e comunitárias, rumo a uma condição de vida melhor (CALIMAN, 2010). 10 A pedagogia social, movimentada pela ação dos educadores sociais, está concentrada nos processos de socialização dos indivíduos, no crescimento da identidade, da personalidade humana, nos vários contextos onde ela se insere e os condicionamentos que tais contextos impõem à formação de atitudes, valores e crenças. Pode-se observar inúmeras convergências entre os propósitos da Educação Social e os do movimento das Habilidades Sociais. O enfoque socioeducativo, com a ênfase do educador nas habilidades sociais educativas, torna-se incisivo para que seja alcançado sucesso nos propósitos mais amplos almejados pelos projetos sociais, quer sejam o protagonismo infanto-juvenil e a conquista dos direitos de cidadania. O conhecimento técnico-operacional do educador pode ser aprendido, pode ser adquirido através de treinamento. A capacidade de ensinar e promover desenvolvimento pessoal de outrem, não é uma simples obra divina ou do acaso. O educador pode marcar sua presença nos projetos onde atua através de sua ação prática, proposital, e não pela simples ocupação de espaço nas salas e espaços disponíveis. Quando se tem o foco na qualidade da intervenção e na busca constante do refinamento das propostas, a probabilidade de sucesso aumenta consideravelmente. Esta qualidade sendo “entendida como propriedade de um trabalho fundado numa visão crítica da realidade e capaz de intervir na transformação da sociedade em que vivemos” (LAURO, 2008, p. 21). Para uma melhora efetiva de seu trabalho socioeducativo, o educador deve priorizar a qualidade de sua relação interpessoal com seus educandos. Tal procedimento profissional vai acarretar, por consequência, mais aceitação de suas propostas por parte das crianças e adolescentes e diminuição dos conflitos interpessoais, deles mesmos com os educandos e dos educandos entre si. 6- AS HABILIDADES SOCIAIS DE PROCESSO: De acordo com Ferreira; Lopes & Del Prette (2011), no início de um programa de treinamento em habilidades sociais, deve-se focar nas Habilidades Sociais de Processo, que são pré-requisitos para o aprendizado de outras habilidades sociais posteriores. Tais habilidades sociais de processo podem ser descritas nos comportamentos de: 1 – observar comportamentos; 2 – descrever comportamentos; 3 – elogiar; 4 – apresentar feedback; 11 5 – fazer e responder perguntas; 6 – expressar sentimentos positivos em relação aos demais participantes. Torna-se muito importante também, no início do treinamento de habilidades sociais, nas conversas e atividades junto aos educandos, discutir sobre quando, onde e como devem ser utilizadas as habilidades sociais, nos seus mais variados comportamentos e contextos, de acordo com a “leitura do ambiente social” ou dos “sinais sociais” que vão sendo captados pelo indivíduo, nas diversas situações em que é exposto na vida cotidiana (FERREIRA; LOPES & DEL PRETTE, 2011). 7- A AUTOMONITORIA: Outra questão importante, no início dos treinamentos e atividades organizadas para a estimulação em habilidades sociais, é mencionar a respeito da automonitoria. De acordo com Del Prette & Del Prette (2004) a automonitoria é um processo pelo qual as pessoas observam e registram pensamentos sobre si mesmas em suas interações com o meio ambiente. Conceituando formalmente, temos a referência: Considerando as interações com o ambiente social, podemos conceber a automonitoria como uma habilidade metacognitiva e afetivo-comportamental pela qual a pessoa observa, descreve, interpreta e regula seus pensamentos, sentimentos e comportamentos em situações sociais (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004, p. 62). Ao monitorar o seu próprio comportamento, o indivíduo aumenta a probabilidade de alcançar uma boa competência social (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004). Segundo Del Prette & Del Prette (2004) quando a pessoa não tem uma habilidade de automonitoria bem desenvolvida,ela pode correr o risco de: a) responder de maneira automática a alguns estímulos, por exemplo, estando com fome ingerem o primeiro alimento que encontram; sentindo raiva intensa, descarregam em uma pessoa não responsável pelo seu estado; b) não ser capaz de identificar e nomear seus sentimentos e pensamentos ou descrever o modo como agiram em determinada situação social. Da mesma maneira, Del Prette & Del Prette (2004) demonstram que aquelas pessoas que aprenderam a monitorar a si próprias: 12 a) são geralmente conscientes de suas emoções, pensamentos e comportamentos; b) conhecem suas potencialidades e pontos vulneráveis; c) planejam metas pertinentes aos seus recursos disponíveis; d) alteram seu desempenho quando isso se faz necessário. Existem quatro requisitos para o desempenho da habilidade de automonitoria, de acordo com Del Prette & Del Prette (2004): 1 – controle da impulsividade, ou seja, controlar e não ceder totalmente a impulsos momentâneos que façam agir sem pensar; 2 – observação do outro; 3 – introspecção, ou seja, observação ou exame que se faz sobre o que ocorre no seu íntimo, seus pensamentos e sentimentos; 4 – reflexão sobre o assunto, meditação. Essa habilidade, portanto, possibilita (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004): a) melhora no reconhecimento das emoções próprias e do outro; b) experiência direta da relação emoção-pensamento-comportamento; c) maior probabilidade de sucesso no enfrentamento de situações complexas; d) análise e compreensão mais acuradas dos relacionamentos; e) melhora na autoestima e na autoconfiança; f) ajuda a outras pessoas na solução de problemas interpessoais. Ferreira, Lopes & Del Prette (2011) defendem que seja realizado junto às crianças, o treino de automonitoria, ou seja, aprender a observar, descrever e regular o próprio comportamento. 13 8- O TREINAMENTO DE HABILIDADES SOCIAIS: O Treinamento de Habilidades Sociais (THS) tem sua origem nas obras de Michael Argyle, na Inglaterra, principalmente com seus trabalhos publicados no livro: “The psychology of interpersonal behavior”, de 1967 (DIAS et al, 2010). Foi Argyle, em meados do século XX, quem cunhou a expressão “Treinamento de Habilidades Sociais”, que representa a aplicação dos conhecimentos reunidos no que ele designou como “modelo das habilidades sociais”. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 24). Na América do Sul, o THS disseminou-se primeiramente em países como o Chile e Colômbia. No Brasil, o primeiro estudo foi de Almir Del Prette, em 1978, com o artigo: “O treino assertivo na formação do psicólogo. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 30, p. 53-55, 1978” (DIAS et al, 2010). O treinamento em habilidades sociais pode ser definido como um “enfoque geral dirigido a incrementar a competência da atuação em situações críticas da vida” (GOLDSMITH; McFALL, 1975 apud CABALLO, 2008) ou como: (...) uma tentativa direta e sistemática de ensinar estratégias e habilidades interpessoais aos indivíduos, com a intenção de melhorar a sua competência interpessoal individual em tipos específicos de situações sociais (CURRAN, 1985 apud CABALLO, 2008, p. 181). O treinamento de habilidades sociais se faz na relação interpessoal (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011b), sendo um método e não uma técnica. Este método encontra-se entre os mais potentes e frequentemente utilizados para o tratamento dos problemas psicológicos, para a melhoria da efetividade interpessoal e para a melhoria geral da qualidade de vida (CABALLO, 2008). O treinamento em habilidades sociais interessa-se pela mudança do comportamento social (CABALLO, 2008), ensinando aos indivíduos como trabalhar de forma construtiva com os outros e estabelecer relações mais satisfatórias (LANDAU & PAULSON, 1977 apud CABALLO, 2008). O treinamento de habilidades sociais é um fator de proteção para o indivíduo. 14 Fator de proteção: toda e qualquer influência que modifica, melhora ou altera respostas individuais a determinados riscos de desadaptação (Poletto & Koller, 2006). Fator de risco: todo e qualquer evento negativo de vida que ao quando presentes no contexto aumentam a probabilidade do indivíduo apresentar problemas físicos, psicológicos e sociais (Poletto & Koller, 2006). A exposição aos fatores de risco pode afetar negativamente o desenvolvimento da criança e do adolescente, trazendo problemas, sobretudo, de comportamento. Nesse modelo teórico das habilidades sociais, Michael Argyle reservou um papel importante para o comportamento não verbal e o paralinguístico, explicitando suas relações na interação social. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 25). Um programa de THS é um conjunto de atividades planejadas que estruturam processos de aprendizagem, mediados e conduzidos por um coordenador (facilitador), visando a (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 20): a) ampliar a frequência e/ou melhorar a proficiência (realização espontânea, natural) de habilidades sociais já aprendidas, mas ainda deficitárias; b) ensinar habilidades sociais novas que sejam significativas; 15 c) diminuir ou extinguir comportamentos concorrentes (anti-sociais) com as habilidades sociais. Também poderia ensinar ao participante, por exemplo, a cuidar de si, a pedir o que deseja, a se proteger dos pedidos pouco razoáveis e das críticas, bem como a ser capaz de se abrir com os outros (BAKKER, BAKKER-RABDAU & BREIT, 1978; RIMM & MASTERS, 1974; SCHINK e cols, 1979 apud CABALLO, 2008). Em resumo, a essência do THS consistiria em tentar aumentar o comportamento adaptativo e prossocial, ensinando as habilidades necessárias para uma interação social satisfatória, com a finalidade de conseguir a satisfação interpessoal (CABALLO, 2008). O THS é um conjunto articulado de técnicas e procedimentos de intervenção orientados para a promoção de habilidades sociais relevantes para as relações interpessoais (Del Prette e Del Prette, 1999). O método de treinamento de habilidades sociais utiliza várias técnicas, várias intervenções e arranjos de diferentes procedimentos, oriundas dos vários modelos conceituais existentes no passado, como por exemplo (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011b): - exposição oral e dialogada; - discussão de assuntos e temas; - arranjos de grupos; - dinâmicas de grupo; - jogos cooperativos; - simulações práticas de desempenho, com representações de papéis (Role playing); - simulações práticas de desempenho, com inversões de papéis (Role reversal); - vivências (Método Vivencial, de Almir Del Prette e Zilda Del Prette) Caballo (2008) explica que um treinamento de habilidades sociais deve, em seu desenvolvimento, possuir alguns elementos fundamentais: 1 – treinar habilidades, ensinar comportamentos específicos, praticados e integrados ao repertório do indivíduo; 2 – reduzir a ansiedade do indivíduo em situações problemáticas, ensinando técnicas de relaxamento e novos comportamentos mais adequados; 3 – modificar, a longo prazo, valores, crenças, cognições e/ou atitudes do indivíduo, que não estejam contribuindo para o seu desenvolvimento interpessoal; 16 4 – treinar a solução de problemas, ensinando o indivíduo a perceber os parâmetros situacionais relevantes, processar estes sinais captados, selecionar respostas mais adequadas às situações e emiti-las de maneira correta, ou seja, executar de maneira que possa maximizar a probabilidade de atingir o objetivo que impulsionou a comunicação interpessoal. Segundo Bandura (1987) a Autoeficácia Social (AS) são crenças que uma pessoatem sobre sua capacidade para responder de maneira adequada às demandas interpessoais específicas (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 182). Atualmente se considera a autoeficácia como um dos fatores mais influentes na explicação do funcionamento do comportamento humano (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 183) Algumas pesquisas têm evidenciado que as intervenções com os programas de habilidades sociais produzem impacto na autoeficácia social, aumentando a força da percepção da eficácia social dos participantes, bem como uma modificação destas crenças após a intervenção (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 183) Del Prette & Del Prette (2011a) relatam que existem dois tipos de treinamento em habilidades sociais: a) treinamento instrucional, com discussões em grupo (somente teórico); b) treinamento vivencial, baseado em técnicas de grupo com características lúdicas. Ferreira, Lopes & Del Prette (2011) nomeiam as seguintes qualificações necessárias ao facilitador de um treinamento de habilidades sociais: a) motivação em querer fazer parte de um projeto de THS; b) passar por treinamento teórico-prático; c) perpassar pela seguinte seqüência de treinamento: c.1) membro participante da vivência; c.2) observador da vivência; c.3) ajudante do aplicador da vivência; c.4) aplicador da vivência. d) deve ter em si, habilidades sociais bem trabalhadas; e) ter consciência de que os indivíduos se inspiram em modelos; f) não reproduzir comportamentos negativos dos integrantes do grupo; g) possuir bom manejo de turma (grupo); 17 h) ser ótimo observador; i) gostar de estudar; j) aceitar desafios. Caballo (2008) ainda mencionando sobre este assunto, diz que o facilitador deve fomentar a motivação do indivíduo para participar do treinamento, dando ênfase considerável na indução de atitudes positivas, entusiastas, com relação a esta participação, antes de começar com os procedimentos do treinamento propriamente dito. Argyle (1980) destaca três habilidades sociais importantes para o educador em sala de aula, que também podem ser transportadas para a atuação do facilitador de um grupo de treinamento: 1 – suscitar a motivação; 2 – manter a disciplina; 3 – transmitir informação, conhecimentos e habilidades. O comportamento do facilitador faz parte de um conjunto de variáveis importantes que afetam a eficácia do treinamento em habilidades socais (CALLAO, 2011). Sobre a efetividade de um treinamento em habilidades sociais, Del Prette & Del Prette (2006, p. 97) comentam que “dificilmente um programa de treinamento de habilidades sociais em grupo deixa de atingir a maior parte dos objetivos a que se propõe em relação a todos ou, pelo menos, à maioria dos participantes”. Em relação à competência profissional, as Práticas Psicológicas Baseadas em Evidência enfatizam a necessidade de que o profissional compreenda, atualize constantemente e integre o conhecimento produzido na literatura à sua prática, o que implica avaliar com rigor os procedimentos utilizados. Deve avaliar sistematicamente a sua própria prática (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 62). Caballo (2008) também comenta que o treinamento de habilidades sociais em grupo faz um uso mais econômico do tempo disponível, permite que os participantes que recebem o treino possam praticar com as outras pessoas, proporciona uma maior categoria de feedbacks, causa menos timidez nos indivíduos, permite que membros mais adiantados no treinamento possam ajudar e incentivar membros mais recentes e desenvolve situações sociais reais, em vez das simuladas, como geralmente acontece nas sessões individuais. Um programa de treinamento de habilidades sociais não é somente uma sequência de vivências ou outras técnicas, mas uma sequência de objetivos, que podem ser 18 formulados e reformulados, de acordo com a observação do facilitador que o conduz (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011b). Os programas de habilidades sociais possuem implicações e contribuições potenciais no planejamento de práticas culturais comprometidas com a sobrevivência e com a qualidade de vida das pessoas na complexa sociedade contemporânea (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 22). 9- O MÉTODO VIVENCIAL DEL PRETTE & DEL PRETTE: A metodologia vivencial aponta para alternativas de intervenção que se caracterizam como não estanques, com linguagem acessível, regidas por uma lógica pedagógica clara e com resultados imediatos, sendo facilmente registrados pela observação dos participantes (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006). Esta metodologia fomenta a criatividade – tanto do educando como do educador – sem descaracterizar sua finalidade educativa. A base motivacional está no caráter lúdico e na possibilidade de ligação dos objetivos de desenvolvimento socioemocional e também acadêmico (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005). Sobre o uso de atividades lúdicas no treinamento de habilidades sociais, Del Prette & Del Prette (2005, p. 100) explicam que: Há várias décadas, os estudiosos da aprendizagem e do desenvolvimento vêm enfatizando a importância dos jogos e das brincadeiras como recursos para o ensino e para os processos terapêuticos, embora a efetividade do uso sistemático dos jogos e brincadeiras ainda careça de investigação empírica. Isso não obstante, em todas as tradições culturais, os jogos são utilizados com objetivos educacionais distintos como socialização, transmissão de valores e desenvolvimento de autonomia. De acordo com Del Prette & Del Prette (2006, p. 148), o uso de vivências no treinamento de habilidades sociais constitui uma estratégia que permite criar, naturalmente, demandas para emissão de habilidades sociais, facilitando o uso de contingências apropriadas à aquisição e manutenção desse repertório. As vivências constituem um recurso útil para programas de formação, permitindo a aprendizagem de habilidades sociais dentro de um quadro lúdico que estabelece ocasião para os participantes lidarem com seus déficits interpessoais (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 194). 19 A metodologia de vivências se ancora na perspectiva das modernas teorias sobre a inteligência (GERK-CARNEIRO, 2003; GARDNER, 2000 apud DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006), quando enfatizam várias experiências, por exemplo: o movimento, o raciocínio, a memória, a imaginação, a emoção e a interação (inteligências intra e interpessoal, que são a base da inteligência emocional ou social). Del Prette & Del Prette (2006, p. 149) defendem que, no método vivencial, “a maior ênfase recai sobre a qualidade da interação social do educador com seus educandos e dos educandos entre si”. Ela requer, e ao mesmo tempo promove o desenvolvimento socioemocional dos educandos, suas habilidades de convivência e um ambiente saudável entre eles (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006). 20 O conceito de vivência, de acordo com Del Prette & Del Prette (2005, p. 101) é o seguinte: Vivência é uma atividade de grupo, estruturada de modo análogo (simulação; reprodução fiel de uma situação real) ou simbólico (situações que não existem fielmente na realidade; fantasias; normalmente lúdicas) a situações cotidianas, que cria oportunidades para desempenhos específicos, permitindo que o facilitador avalie os comportamentos observados e utilize as contingências (possibilidade de acontecimentos) pertinentes para fortalecer e/ou ampliar o repertório de habilidades sociais dos participantes. A adoção de procedimentos orientados por esta vertente pode contribuir para a prevenção de problemas socioemocionais nas crianças e paraa redução de desajustes escolares mais discretos – educandos considerados tímidos ou agressivos. Del Prette & Del Prette (2006, p. 148) contudo, alertam para o fato de que, “crianças que manifestam acentuado repertório de comportamentos anti-sociais ou que apresentem evidentes quadros de depressão, devem ser encaminhados para o atendimento de um psicólogo”. Segundo Del Prette & Del Prette (2004, p. 106-107): Tanto pelo conteúdo quanto pela forma, as vivências devem, portanto, propiciar desempenhos e experiências interpessoais significativas que articulam, simultânea ou alternadamente, demandas cognitivas, emocionais e comportamentais, criando oportunidade de observação, descrição e feedback por parte do terapeuta ou facilitador e também pelos demais participantes. Os objetivos da vivência devem sempre ser explicitados e esclarecidos. As pessoas que não estiverem no grupo executor das vivências (GV), devem estar no grupo de observação (GO). Nas vivências, as pessoas devem sair melhores do que quando entraram (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011b). Ferreira, Lopes & Del Prette (2011) também explicam que, na aplicação das vivências, o facilitador deve inclusive fornecer e mediar consequências, ou seja, intervir e dar feedback imediato, no exato momento em que as situações pertinentes acontecerem. 21 Dias (2010) alerta para o fato de que as vivências utilizadas para o treinamento de habilidades sociais não devem ser confundidas com as dinâmicas de grupo ou com o psicodrama. Del Prette & Del Prette (2011b) explicam que as vivências extrapolam o grupo, indo para toda a vida, para o desenvolvimento da pessoa. Del Prette & Del Prette (2004, p. 107) comentam: Concebidas como um método de aprendizagem de habilidades sociais em grupo, as vivências não se confundem com o psicodrama ou a dinâmica de grupo, mesmo que o psicodrama tenha como foco a dramatização através do role-playing e a dinâmica de grupo seja de natureza grupal. O método vivencial, tal como o utilizamos no THS, não se caracteriza como instrumento ou conjunto de procedimentos destinados a exacerbar a emocionalidade e promover a catarse, nem como recurso para identificar conflitos inconscientes. O método vivencial, dos doutores Almir e Zilda Del Prette, propicia a superação de déficits comportamentais e a promoção de novas e importantes habilidades sociais, por desenvolver um ambiente de apoio mútuo entre os integrantes do grupo. Para a aplicação de vivências, alguns aspectos devem ser considerados, de acordo com Dias (2010): 1 – estarem adequadas às demandas do grupo, em relação aos objetivos e nível de complexidade; 2 – atentar para o envolvimento e participação dos membros do grupo; 3 – fortalecer os comportamentos de cooperação entre os membros do grupo; 4 – oportunizar comportamentos de observação e auto-observação; 5 – oportunizar a aprendizagem por meio de modelação, ou seja, através do que pode servir de exemplos; 6 – garantir a distribuição relativamente igual de atenção aos participantes. 7 – conduzir diferentes tipos de vivências, com habilidades semelhantes, em termos de objetivo, para garantir a generalização. 8 – os facilitadores devem atender aos requisitos: 8.1 – ter qualificação na área; 8.2 – ter conhecimentos sobre os princípios da aprendizagem; 8.3 – participação no planejamento do programa de treinamento; 8.4 – conhecer o grupo de participantes ou a clientela; 8.5 – ter respeito aos princípios éticos. 22 No caso específico do método vivencial, a atuação do facilitador deve mediar interações entre os participantes e promover empatia, confiança, comprometimento, cooperação e coesão no grupo. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 66). O perfil dos facilitadores influencia o resultado do treinamento. Pessoas socialmente habilidosas, solidárias, encorajadoras e éticas favorecem positivamente todo o processo. (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2011a, p. 140) Na condução das vivências, deve-se favorecer que todos os membros participem da atividade (seja no grupo de vivência ou no grupo de observação); os participantes devem ter igualdade de oportunidades no decorrer das atividades; deve-se aproveitar todo o potencial da vivência, motivando e incentivando a aprendizagem gradual de novos comportamentos (DIAS, 2010). Na seleção das vivências que serão utilizadas em um grupo, durante um programa de treinamento em habilidades sociais, torna-se fundamental considerar (DIAS, 2010): a) as necessidades e potencialidades gerais do grupo de participantes; b) as necessidades e potencialidades específicas de cada indivíduo; c) a complexidade das tarefas propostas na vivência; d) deve-se iniciar com atividades mais simples e gradualmente passar para as mais complexas; e) avaliar sempre os avanços comportamentais dos participantes. Todo o grupo, através da observação do que ocorre nas sessões, pode aprender novas habilidades sociais, refletir sobre o seu comportamento em situações sociais específicas e procurar remover comportamentos que não estejam favorecendo a sua competência social. Estrutura de um encontro do grupo que está passando por um treinamento de habilidades sociais (sessão) de acordo com o Método Vivencial Del Prette & Del Prette: 23 Etapa Inicial Etapa Central Etapa Final Relaxamento/Aquecimento Discussão sobre as Tarefas de Casa Introdução ao tema da sessão Aplicação da Vivência Feedback sobre a sessão Novas Tarefas de Casa Sorteio de brindes/Destaques Em relação às Tarefas de Casa, que são utilizadas no Treinamento de Habilidades Sociais, pode-se dizer, segundo Pereira & Del Prette (2011a, p. 220): As tarefas de casa são selecionadas em função dos objetivos das sessões e das dificuldades dos participantes. A tarefa de casa é uma técnica comportamental muito utilizada nesse tipo de programa, que possibilita o aperfeiçoamento e a generalização das habilidades treinadas para outros ambientes, e ainda permite a avaliação de como o ambiente natural está reagindo aos novos desempenhos. O alinhamento das tarefas de casa com os objetivos de ensino da sessão e com as necessidades específicas dos participantes permite que as habilidades sociais aprendidas sejam testadas e vivenciadas no ambiente natural dos participantes (PEREIRA & DEL PRETTE, 2011a, p. 223). De acordo com Del Prette & Del Prette (2005) tarefas de casa são “exercícios interpessoais” que devem ser propostos, desde o início do programa de treinamento, em uma sequência que instigue a experimentação de diferentes desempenhos sociais, em vários contextos e com diferentes interlocutores. As tarefas para casa são uma parte fundamental e essencial do treinamento de habilidades sociais, constituindo o veículo pelo qual as habilidades aprendidas nas sessões de treinamento são praticadas no ambiente real, isto é, são generalizadas na 24 vida diária do indivíduo (CABALLO, 2008). Cada sessão de um programa de THS começa e termina com uma discussão sobre as tarefas para casa, que são traçadas especificamente para atingir os objetivos do treinamento. Os principais objetivos da utilização das tarefas de casa, no THS são (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2005): 1 – avaliar e fortalecer as aquisições ocorridas na sessão; 2 – promover e avaliar a generalização dessas aquisições para outros ambientes e interlocutores; 3 – facilitar aquisições adicionais relacionadas ao treinamento, em particular a aprendizagem de regular o próprio comportamento, ou seja, a automonitoria. De acordo com Del Prette & Del Prette(2005) alguns fatores podem dificultar a realização das tarefas de casa, por parte do participante do grupo de treinamento, que devem ser superados, como por exemplo: a) a falta de oportunidade para realizá-las; b) esquecimento; c) incompreensão do enunciado da tarefa; d) a crença na impossibilidade de realização da tarefa proposta. Ressalva-se novamente a importância das habilidades sociais de processo (como observar, prover feedback positivo, relatar problemas, oferecer apoio, elogiar etc.) para favorecer a coesão do grupo; despertar a percepção de aceitação e pertencimento; promover a análise das dificuldades; fortalecer o vínculo de amizade e, assim, aumentar a probabilidade de criar contingências reforçadoras aos seus participantes (PEREIRA & DEL PRETTE, 2011a, p. 223). As habilidades de elogiar e agradecer elogio, bem como as expressões de contentamento dirigidas ao colega por sua participação em alguma atividade ou ainda 25 pelos progressos nos desempenhos sociais, tanto dentro quanto fora do grupo, são muito importantes no treinamento (PEREIRA & DEL PRETTE, 2011a, p. 223). 10- A LEI DA IGUALAÇÃO: As habilidades sociais são comportamentos específicos exibidos em situações igualmente específicas que são julgados como competentes no cumprimento da tarefa social (GRESHAM, 2011b, p. 19). Os comportamentos sociais, em si mesmos, não devem ser considerados como “socialmente habilidosos” se não se levar em conta seu impacto sobre o julgamento de agentes sociais em um determinado ambiente social (GRESHAM, 2011b, p. 19-20). A competência social é um termo avaliativo baseado em julgamentos (de acordo com determinados critérios) de que o indivíduo desempenhou adequadamente a tarefa social. Esses julgamentos são feitos por agentes sociais com quem o indivíduo interage em ambientes naturais (escola, casa, comunidade) (GRESHAM, 2011b, p. 19). As habilidades sociais são altamente contextuais e, em última análise, baseadas em julgamento (GRESHAM, 2011b, p. 20). Segundo McFall, a competência social não necessariamente implica desempenhos excepcionais, ela somente indica que um dado desempenho social foi adequado (GRESHAM, 2011b, p. 19). De acordo com Gresham (1983;1986), as habilidades sociais são definidas também, como comportamentos sociais que ocorrem em situações específicas que resultam em desfechos sociais importantes (GRESHAM, 2011b, p. 21). Desfechos socialmente importantes são aqueles que fazem a diferença na adaptação do indivíduo tanto às expectativas da sociedade como às demandas comportamentais de ambientes específicos nos quais ele funciona (GRESHAM, 2011b, p. 21). 26 Parker e Asher (1987) mostraram que crianças com dificuldades em relacionamentos com colegas apresentavam com frequência um padrão de comportamento que pode ser descrito como antissocial e agressivo, envolvendo repetidas violações das normas escolares (GRESHAM, 2011b, p. 21). Na ausência de intervenções efetivas é provável que esse padrão de comportamento continue e se transforme em formas mais perniciosas e resistentes de comportamento não adaptativo (GRESHAM, 2011b, p. 21-22). A Lei da Igualação (HERRNSTEIN, 1961, 1970) afirma que a frequência relativa de um dado comportamento está associada à sua taxa relativa de reforçamento, ou seja, a taxa de resposta corresponde à taxa de reforçamento (GRESHAM, 2011b, p. 23). A Lei da Igualação afirma que comportamentos com maiores taxas de reforçamento se repetem mais do que os comportamentos reforçados com taxas menores. Isto quer dizer que se um comportamento agressivo é reforçado mais vezes do que um comportamento prossocial, o comportamento agressivo tende a ser desempenhado com mais frequência (GRESHAM, 2011b, p. 24). Maag (2005) sugeriu que um modo de diminuir “problemas de comportamento concorrentes” é ensinar comportamentos positivos substitutos, que façam alcançar, positivamente, os mesmos objetivos que o indivíduo possuía (GRESHAM, 2011b, p. 24). 11- AS HABILIDADES SOCIAIS E SUAS RELAÇÕES COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES: Dias (2010) relata que algumas habilidades sociais atuam como pré-requisitos para outras habilidades mais complexas, devendo-se, no treinamento, iniciar por habilidades mais simples para depois aprimorar ou promover aquelas mais complexas. De acordo com Ferreira, Lopes & Del Prette (2011) o treinamento em habilidades sociais para crianças, através da utilização do Método Vivencial, deve respeitar a seguinte metodologia: 1 – explorar as habilidades sociais de processo e a automonitoria; 2 – trabalhar as habilidades sociais da menos complexa para a mais complexa. Como forma de exemplos possíveis para a discussão sobre habilidades sociais com crianças, pode-se citar: discussão em grupo, perguntas diretas, uso de sorteios, uso de cartões coloridos, discussão em dupla, divisão em subgrupos com tarefas específicas, solicitação de resolução da situação antes de apresentar as reações, 27 formulação de perguntas dos próprios participantes uns para os outros etc (LOPES; DEL PRETTE, 2011a, p. 151). As relações humanas devem ser discutidas nos projetos sociais, principalmente através de vivências, dinâmicas, conversas dirigidas sobre as opiniões dos educandos ou outra alternativa pedagógica competente. Temas relativos ao cotidiano vivenciado pelos educandos no contexto comunitário dos projetos sociais devem ser abordados, socioeducativamente provocados, intencionalmente, pelos educadores sociais. Valores como respeito mútuo, aceitação das diferenças e busca de desenvolvimento coletivo precisam ser reforçados no ambiente educativo. Conforme explica Kolyniak Filho (2010, p. 60): Todas as atitudes dos alunos em jogos (colaboração, solidariedade, violência, desrespeito) devem ser discutidas pelo seu sentido ético, assim como se deve chamar a atenção para a beleza dos movimentos individuais e grupais, não só para os resultados. Pode se supor que o processo de THS focalizado em habilidades significativas no cotidiano dos educandos, com alta probabilidade de consequências positivas para todos, poderia ter impacto na melhora da qualidade das relações entre crianças, destas com educadores e no seu desenvolvimento socioemocional como um todo. Também se pode, em longo prazo, avaliar seus desdobramentos para o ambiente familiar. (LOPES; DEL PRETTE, 2011a, p. 166). De acordo com Bandura (1987), mesmo quando uma pessoa aprendeu um comportamento novo ou um conhecimento específico, pode não desempenhá-lo devido a vários fatores, tais como expectativas de resultados negativos ou presença de um ambiente não reforçador ou punitivo para esses comportamentos (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 184). Ainda segundo Bandura (1987), mesmo que o indivíduo tenha adquirido o conhecimento, é provável que o desempenho não apareça até que a situação forneça os incentivos necessários (OLAZ; MEDRANO; CABANILLAS, 2011a, p. 184). Devido a estas condições expostas, o educador social deve ficar atento a todo e qualquer comportamento adequado das crianças, consequenciando-o positiva e imediatamente (reforçar os comportamentos positivos). (LOPES; DEL PRETTE, 2011a, p. 168). 28 A comunicação não verbal tem importância fundamental na comunicação humana. A linguagem verbal apoia-se na linguagem corporal. As emoções se expressam fundamentalmente através dos sinais emitidos socioculturalmente pelo corpo. A comunicação corporal assume uma importância fundamental nas mais variadas situações sociais, desde o mais elementar cumprimento entre as pessoas,passando pelas atitudes que expressam amizades, hostilidade, liderança ou submissão, até as atitudes e movimentos que se encontram e fazem parte de toda uma dinâmica psicossexual (ALVES, 2007, p. 54). O processo ensino-aprendizagem depende, em grande parte, da interação professor-aluno, conforme relata Alves (2007, p. 115): Neste relacionamento, a atividade do professor é fundamental. Ele deve ser, antes de tudo, um facilitador da aprendizagem, criando condições para que a criança explore seus movimentos, manipule materiais, interaja com seus companheiros e resolva situações-problema. O material de trabalho do educador é seu educando, portanto ele não deve preocupar-se apenas em preparar o ambiente com cartazes, painéis, faixas, mas também a si mesmo. É necessário que ele conheça seu educando, tornando-se seu amigo (ALVES, 2007). O treinamento de habilidades sociais serve como ferramenta para a organização e o desenvolvimento afetivo, motor, social e intelectual do indivíduo em formação, 29 acreditando que este é um ser ativo, capaz de se conhecer cada vez mais e de se adaptar às diferentes situações e ambientes. O exercício, o treino das relações interpessoais pode fazer com que a criança se desenvolva mentalmente, aumentando o seu repertório cognitivo e motor, podendo cada vez mais explorar com qualidade o mundo exterior, fazendo experiências concretas, adquirindo várias noções básicas - e paulatinamente específicas - que permitirão que ela tome mais conhecimento consciente do mundo que a rodeia. Através da sua competência social ampliada e devidamente explorada, expandida, emocionalmente a criança conseguirá todas as possibilidades para descobrir o mundo, interagir mais satisfatoriamente com ele, tornar-se feliz com suas escolhas, adaptar-se ao que desejar, ser livre, se proteger, ser produtivo e importante para este mundo, tornar outras pessoas melhores, dominar sua própria consciência, manifestar-se devidamente através de seu corpo, crescer, emancipar-se com equilíbrio e bom senso. De acordo com o direcionamento do Grupo de Estudos em Habilidades Sociais da AMAC (2012), mediante reflexão sobre a significância cultural e situacional das habilidades sociais mais importantes para seus educandos, propõe-se que estas sejam trabalhadas na seguinte ordem de planejamento e estimulação: a) Civilidade; b) Fazer amizades; c) Autocontrole e expressividade emocional; d) Empatia; e) Assertividade; f) Solução de problemas interpessoais. g) Habilidades sociais acadêmicas. 12- CIVILIDADE: “Pedir desculpas às vezes dá uma chance para as pessoas e para a gente. Mesmo se você não tem intimidade com as pessoas deve pelo menos falar um bom dia”. (Curumim Santa Luzia – Rayane Cristina - 10 anos) São regras mínimas de relacionamento aceitas e/ou valorizadas em uma determinada subcultura. (...) O exercício das habilidades sociais de civilidade pode constituir, assim, estratégia básica de auto-apresentação e o critério inicial para aceitação em determinado grupo (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.136). Frequentemente se observam episódios de interação que são rapidamente interrompidos porque uma das pessoas (ou ambas) falhou para estabelecer o que 30 popularmente tem sido designado como bom contato social (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.137). As habilidades de cumprimentar, despedir-se, agradecer e oferecer / compartilhar são observadas em todas as culturas. (...) A dificuldade da criança no desempenho dessas habilidades pode resultar tanto no desconhecimento das normas e padrões adotados pelo grupo do qual pretende participar como seu próprio grupo, devido a modelos inadequados, isolamento social e convivência restrita a um tipo de cultura (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.137-138). As habilidades de civilidade mais importantes são (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.139): - Cumprimentar pessoas; - Despedir-se; - Usar locuções como: por favor, obrigado, desculpe, com licença; - Fazer e aceitar elogios; - Responder perguntas; - Chamar o outro pelo nome; - Seguir regras ou instruções. As crianças que apresentam esses desempenhos são rapidamente reconhecidas de forma positiva, tanto pelos colegas como pelos adultos (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.139). 13- FAZER AMIZADES: “Fazer amizade é criar uma convivência que me ajude em tudo: a brincar, a sorrir, a amar, a me sentir bem e que o outro se preocupe comigo”. (Curumim Santa Rita) Fazer e manter amizades têm sido consideradas habilidades importantes na vida social. Pessoas sem amigos encontram mais dificuldades para enfrentar os reveses da vida, abrigando durante mais tempo as frustrações, mesmo as comuns, relacionadas ao estudo, ao trabalho ou às relações amorosas. As pesquisas mostram que crianças com pelo menos um amigo íntimo tornam-se mais saudáveis que aquelas que não conseguem sequer um relacionamento desse tipo (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004, p.98). 31 A amizade se caracteriza pela reciprocidade equilibrada de sentimentos positivos e negativos e de atitude voltada para o bem-estar e a felicidade do outro. Essa relação se funda na transparência, verificando-se o frequente exercício de revelar-se ao amigo, tido como confidente. Geralmente as interações entre os amigos são de natureza cooperativa ao invés de competitiva, estabelecendo-se a crítica franca, trocada de forma construtiva (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2004, p.98-99). FUNÇÕES DA AMIZADE (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.220): Criar um contexto de cooperação, reciprocidade e manejo de conflitos, no qual as habilidades sociais básicas são adquiridas e elaboradas; Constitui uma fonte de aprendizagem e de informação sobre si (autoconhecimento) e sobre o mundo; Constitui um recurso emocional e cognitivo para o enfrentamento de situações estressantes e a resolução de problemas além de fonte de prazer e de redução de tensão; Fornece modelo para a aprendizagem e o exercício de padrões de relacionamento que serão requeridos posteriormente. Os relacionamentos na infância ocorrem mediante três condições facilitadoras. São elas (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.222): Contato social: “Pais e professores precisam facilitar os contatos sociais entre as crianças, criando oportunidades de encontros monitorados ou livres em que elas se observem, se explorem e aprendam, umas com as outras, certos padrões (jargões, trejeitos, expressões, signos) aceitos na subcultura do grupo”. Atração Física: “O atendimento às regras básicas de higiene e autocuidado, além de saudável, aumenta a atratividade da criança”. Semelhança de Preferência: “A atração é geralmente maior entre pessoas que concordam em pontos relevantes, do que entre aquelas que concordam apenas em coisas triviais. (...) A semelhança de preferência facilita a escolha de assuntos para conversas e atividades, ampliando, também, as oportunidades de cooperação. Além disso, contribui para validar a visão de mundo que a criança vai desenvolvendo”. HABILIDADES IMPORTANTES PARA FAZER E MANTER AMIZADES A habilidade de fazer amizade é composta de componentes ligados as habilidades de civilidade e empatia. São eles: Fazer perguntas pessoais; Responder perguntas, oferecendo informação livre (auto-revelação); Aproveitar as informações livres oferecidas pelo interlocutor; Sugerir atividade; Cumprimentar, apresentar-se; Elogiar, aceitar elogios; Oferecer ajuda, cooperar; Iniciar e manter conversação (enturmar-se); 32 Identificar e usar jargões apropriados. 14-EMPATIA: “É saber sentir os sentimentos do próximo. É saber contribuir, ouvir e demonstrar interesse pelos outros. É compreender os outros e se colocar no lugar do outro”. (Curumim Benfica – Lorena da Silva de Paula - 14 anos) As habilidades empáticas se caracterizam pela expressão afetiva de compreensão e compartilhamento com a experiência positiva ou negativa do interlocutor, ou seja, colocam em foco as necessidades o outro. (...) quando as pessoas precisam negociar interesses e necessidades pessoais, a empatia é um complemento importante da assertividade, gerando maior equilíbrio na relação (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.150). Enquanto classe de habilidades sociais, a empatia pode ser definida como a “capacidade de compreender e sentir o que alguém sente em uma situação de demanda afetiva, comunicando-lhe adequadamente tal compreensão e sentimento” (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.150). Este conceito de empatia comporta três tipos de componentes ou dimensões: o afetivo, o cognitivo e o comportamental. Nessas dimensões, algumas subclasses são consideradas como fundamentais para o aprimoramento e o exercício da empatia em relação ao interlocutor, tais como (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.150-151): - observar, prestar atenção, ouvir o outro; - demonstrar interesse e preocupação pelo outro; - reconhecer/ inferir sentimentos do interlocutor; - compreender a situação (assumir perspectiva); - demonstrar respeito às diferenças; - expressar compreensão pelo sentimento ou experiência do outro; - oferecer ajuda; - compartilhar. Os componentes cognitivo, afetivo e comportamental funcionam de forma integrada, regidos pela preocupação em oferecer apoio, conforto e consolo a alguém que está vivendo uma experiência estressante ou, se a situação vivida é de alegria e satisfação, compartilhar tais sentimentos. Em ambos os casos, a empatia tem o efeito de validar os sentimentos daquele que está vivendo uma experiência negativa ou positiva, 33 melhorando-lhe a autoestima, facilitando a comunicação, ampliando as trocas e fortalecendo os vínculos de amizade (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.151). A definição de empatia comporta, portando, três componentes: a) O COGNITIVO (adotar a perspectiva do interlocutor, ou seja, interpretar e compreender seus sentimentos e pensamentos); b) O AFETIVO (experimentar a emoção do outro, mantendo controle sobre ela); c) O COMPORTAMENTAL (expressar compreensão e sentimentos relacionados às dificuldades ou êxito do interlocutor). Pessoas que exercitam a empatia são vistas como sensíveis, calorosas e amigáveis, produzindo resultados positivos na relação com as demais. “(...) há evidências de que as respostas empáticas podem tornar-se cada vez mais elaboradas quando há condições que facilitam o desempenho desses comportamentos” (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.154). 15- AUTOCONTROLE E EXPRESSIVIDADE EMOCIONAL: “Conversar um com o outro ao invés de brigar, controlar a si mesmo”. (Curumim São Benedito – Nicoli Santos – 11 anos) “Demonstrar a emoção, compartilhar suas emoções com os outros.” (Curumim São Benedito – Wendel - 12 anos) Vivemos em uma sociedade complexa que dispõe de uma tecnologia extraordinária. (...) Todavia, “apesar de todo esse avanço, pouco sabemos sobre nossas emoções e sobre como lidar com elas” (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.114). SOBRE AS EMOÇÕES A maioria das pessoas não lida bem com as emoções. Em grande parte isso acontece porque a educação não as preparou para o exercício da racionalidade, negligenciando os aspectos ligados ao sentimento. (...) É possível planejar melhor esse tipo de aprendizagem das emoções, proporcionando às crianças formas adequadas de lidar com suas próprias emoções, tanto quanto com a racionalidade (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.114). 34 Quando uma pessoa vive experiência similar àquela em que houve demanda emocional, as lembranças podem ser ativadas ocorrendo, então, alta probabilidade de que elas se comportem de maneira parecida com a ocasião anterior. Pode-se dizer, em uma perspectiva da neuropsicologia, que a lembrança de eventos precipitadores similares “conta”, para o organismo, como ele reagiu anteriormente e induz reações semelhantes (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.118). ALGUMAS HABILIDADES COMPONENTES DA CLASSE AUTOCONTROLE E EXPRESSIVIDADE EMOCIONAL (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.118): Reconhecer e nomear as emoções próprias e dos outros; Falar sobre emoções e sentimentos; Expressar emoções (positivas e negativas); Acalmar-se, lidar com os próprios sentimentos, controlar o próprio humor; Lidar com sentimentos negativos (vergonha, raiva, medo); Tolerar frustrações; Mostrar espírito esportivo. Ao falar sobre seus sentimentos em determinada situação, a criança fornece pistas sobre seu comportamento e as condições em que ela ocorreu, além de sinalizar quanto a prováveis condições relacionadas ao seu comportamento atual e futuro (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.119). Para ajudar as crianças a lidarem com as emoções, eles precisam rever os procedimentos que vêm utilizando, compreender as expressões emocionais como oportunidade de troca de intimidade e confidências, e, em alguns casos, recorrer à ajuda de um psicólogo (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.119). Seguem abaixo alguns passos a serem seguidos para se lidar com as emoções (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.120-121): - Identificar a emoção (raiva, alegria,vergonha, desespero, etc); - Conversar (o diálogo é importante, todavia é melhor ouvir a criança); - Validar o sentimento (aceitar o sentimento da criança, mesmo que este pareça exagerado); - Auxiliar a identificação de emoções (ajudar a criança a descobrir o que está sentindo); - Revisitar o assunto (procurar o melhor momento para verificar se a criança já superou tal sentimento); 35 - Promover atividades facilitadoras (incentivar a criança a participar de atividades que ajude-a a se expressar emocionalmente, tais como, teatro, dança, leitura de contos e poesias, entre outras). A identificação das emoções, em si e nos outros, juntamente com a adequada leitura dos sinais sociais do ambiente (momento, contexto, consequências prováveis) são condições necessárias para a criança se decidir pelo controle ou pela expressão adequada de uma emoção (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006, p.121). A expressão social de sentimentos positivos e da raiva também são habilidades sociais destacadas pelos autores. Considera-se relevante abordá-las aqui: - Expressar raiva: Muitas emoções negativas, como a raiva, o desagrado e a decepção são particularmente difíceis de serem expressas sem afetar a qualidade dos relacionamentos. (…) Para evitar sintomas orgânicos, prevenir problemas de relacionamentos ou mesmo garantir a autenticidade de uma relação, é importante a expressão adequada dos sentimentos negativos de raiva, desagrado e desgosto. Ela não se confunde com o mero desabafo e deve, sempre que possível, ser acompanhada de pedido de mudança de comportamento daquele que, intencionalmente ou não, gera esse sentimento. Quando reafirmamos a importância da expressão adequada de raiva, não estamos fazendo a apologia de seu livre extravasamento. (…) Permitir o afluxo da raiva e a sua expressão pode, simplesmente, desenvolver um ciclo que é auto-reforçador pelo alívio que traz e/ou pelo efeito que gera no ambiente. O alívio, ou, como preferem alguns, a catarse, atua como um reforçador intrínseco, ou seja, teoricamente aumenta a probabilidade de novas expressõesdesse tipo. Por outro lado, dar vazão à raiva estimula certas áreas do cérebro, dificultando ainda mais o autocontrole. (...) Para evitar o mero desabafo, a expressão da raiva deve envolver, portanto, um automonitoramento que provê condições para o controle dessa emoção e favorece o desenvolvimento de maior tolerância à frustração. Objetivando o controle dos sentimentos, a sabedoria popular recomenda a estratégia de “contar até dez”, evitando sua expressão no momento de máxima excitação emocional. - Expressão de sentimento positivo: As demandas de afetividade são próprias das relações em que a expressividade emocional é indispensável para satisfação e/ou manutenção de um compromisso estabelecido ou em vias de se estabelecer. Elas fazem parte do cotidiano de qualquer pessoa saudável, contribuindo decisivamente para a qualidade de vida, o equilíbrio emocional e a harmonia entre as pessoas. Estas são, certamente, as habilidades que mais dependem dos componentes não verbais e exigem 36 menor complexidade dos verbais. Elas estão relacionadas com valores e atitudes das pessoas e são as que mais requerem coerência entre sentimento, pensamento e ação. (…) Em nossos programas observamos que muitos participantes mostram-se capazes de contradizer, defender-se, criticar, mas apresentam grande dificuldade de manifestar aprovação genuína, amor e compaixão. Como contraponto, temos enfatizado uma atenção maior à expressão de afeto positivo, especialmente às habilidades sociais empáticas, como as envolvidas em fazer amizade, expressar solidariedade e cultivar o amor. - Fazer amizades: Fazer e manter amizades têm sido consideradas habilidades importantes na vida social. Pessoas sem amigos encontram mais dificuldades para enfrentar os reveses da vida, abrigando durante mais tempo as frustrações, mesmo as comuns, relacionadas ao estudo, ao trabalho ou às relações amorosas. (…) A amizade se caracteriza pela reciprocidade razoavelmente equilibrada de expressão de sentimentos positivos e negativos de atitude voltada para o bem-estar e a felicidade do outro. Essa relação se funda na transparência, verificando-se o frequente exercício de revelar-se ao amigo, tido como confidente. Isso é possível devido a uma disposição (tácita) normativa, própria dessa relação, à aceitação e à interdependência que geram a ajuda mútua. Geralmente as interações entre os amigos são de natureza cooperativa ao invés de competitiva, estabelecendo-se a crítica franca, trocada de forma construtiva. - Expressar a solidariedade: A solidariedade é uma característica do desenvolvimento evolutivo do homem e está ligada à sua sobrevivência. (…) Ela é atualmente defendida como elemento importante para relações saudáveis. Radicalizando, a não solidariedade poderia ser considerada um desvio, com o qual corre-se riscos como, por exemplo, o da psicopatologia social, que vai da indiferença com a sorte do outro às reações de racismo e agressão coletiva. (...) O exercício humano da solidariedade desdobra-se em um conjunto de habilidades que se funda na identificação com o outro, enquanto integrante de uma vida interdependente, na compreensão das contingências a que cada um está sujeito e na disposição para oferecer ajuda. - Cultivar o amor: O sentimento de amor é um dos mais referidos no cotidiano das pessoas. As muitas formas de amor (maternal, filial, sexual, platônico, à natureza, à humanidade, à arte, aos amigos, etc) geram demandas diferenciadas de expressão desse sentimento. Embora pareça natural ao ser humano, algumas pessoas relatam dificuldade em traduzir experiências subjetiva de amor em expressão de carinho ou cuidado. Essa expressão não se restringe à comunicação verbal, mas também à gestualidade e principalmente ao carinho físico (toque). A habilidade de tocar é muito 37 importante para o relacionamento amoroso. As dificuldades em dar e receber carinho podem estar associadas e diversos fatores tais como crenças, preconceitos, ansiedade associada a experiências mal sucedidas nessa área ou, ainda, a restrições na aprendizagem prévia de dar receber afeto positivo. (…) A demonstração de amor se diferencia entre culturas, grupos e pessoas, embora, em geral, seja facilmente decodificada nos pequenos gestos, expressões e ações singulares pelos quais esse sentimento se traduz. (…) Na educação para o amor, é importante desenvolver a sensibilidade, a auto-escuta dos próprios sentimentos, a disponibilidade e preocupação com o outro, bem como formas variadas de expressão de carinho. As experiências com os programas de THS vêm mostrando que o desenvolvimento da sensibilidade e das formas de expressão de amor acontece como produtos paralelos da experiência dos grupos, com os participantes tornando-se mais afetivos entre si e com as demais pessoas com quem se relacionam (DEL PRETTE & DEL PRETTE, 2006). 16- ASSERTIVIDADE: A assertividade foi inicialmente estudada no contexto de um movimento bastante forte nos Estados Unidos, na década de 1970, denominado Assertividade ou Treinamento Assertivo (BRAZ; DEL PRETTE, 2011, p. 233). Originalmente, segundo Alberti e Emmons (1986), o conceito de assertividade incluiria os comportamentos de agir conforme os próprios interesses, defender posições sem ansiedade, expressar sentimentos de maneira honesta e tranquila e exercer os próprios direitos sem negar os direitos dos outros (BRAZ; DEL PRETTE, 2011, p. 234). O conceito de assertividade, desde sua origem, está relacionado com o exercício de direitos interpessoais (BRAZ; DEL PRETTE, 2011, p. 234). O conceito de assertividade foi ampliado e redefinido (Hargie, Saunders, Dickson, 1994), onde em um extremo estariam localizadas as respostas não assertivas e num outro extremo, as respostas agressivas. Situadas num ponto intermediário desse mesmo contínuo, estariam as respostas assertivas (BRAZ; DEL PRETTE, 2011, p. 234). Sob o conceito de habilidades assertivas, a literatura mais recente reúne um conjunto de subclasses: recusar pedidos abusivos, emitir opiniões, discordar, lidar com críticas, solicitar mudança de comportamento, expressar raiva ou desagrado, fazer pedidos (BRAZ; DEL PRETTE, 2011, p. 235). 38 A respeito da ASSERTIVIDADE, vale saber que existem quatro tipos de comportamento: passivo, agressivo, agressivo-passivo e assertivo. Cada um deles tem vantagens e desvantagens dependendo do momento em que for manifesto. Os quatro tipos de comportamento: Passivo = Ansioso por evitar o confronto, mesmo à custa de si próprio, costuma ficar muito preocupado com a opinião dos outros a seu respeito. Ainda, geralmente, espera que as pessoas compreendam o que ele deseja. Agressivo = Ansioso por vencer, custe o que custar. Demonstra-se muito mais preocupado com os próprios desejos do que com os dos outros. Agressivo-Passivo = Apresenta comportamento misto, com elementos de agressividade e passividade. Ansioso em acertar contas sem correr riscos de confronto. Assertivo = Ansioso por defender seus direitos, mas ao mesmo tempo, capaz de aceitar que as outras pessoas também tenham os seus. Uma mesma pessoa pode ter os quatro comportamentos, ainda que certamente exista uma tendência maior de as pessoas agirem de determinada forma em circunstâncias "normais", ou seja, o indivíduo tende a adotar um determinado estilo com mais freqüência. Esta constatação nos confirma a idéia de que podemos mudar um comportamento se percebemos que ele não está valendo a pena, isto é, não satisfaz as nossas necessidades, expectativas e objetivos pessoais. Sim, podemos desenvolver a nossa assertividade. Assertividade, portanto, é a habilidade social de
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